Quebrar a Cabaça - Representação & História Mítica do Sertão.
Ubiracy de Souza Braga
“As desventuras que mais atingem os homens são aquelas que são escolhidas por eles”. Sófocles
Sófocles representou na vida social um dramaturgo grego, um dos mais importantes escritores de tragédia ao lado de Ésquilo e Eurípedes, dentre aqueles cujo trabalho sobreviveu. Suas peças retratam personagens nobres e da realeza. Também
aperfeiçoou a cenografia e aumentou o número de elementos do coro de 12 para
15, porém esse número pode variar de acordo com o poeta que define a tragédia.
Sua concepção teatral foi inovadora e elevou o número de atores de dois para
três. Suas primeiras peças foram escritas depois que as de Ésquilo e antes que
as de Eurípedes. De acordo com a Suda, uma enciclopédia do século X, Sófocles
escreveu 123 peças durante sua vida, mas apenas sete sobreviveram em uma forma
completa. Por quase 50 anos, Sófocles foi o mais celebrado dos dramaturgos nos
concursos dramáticos da cidade-estado de Atenas, que aconteciam durante as
festas religiosas Lineana e Dionísia. Sófocles no processo disciplinar de seu
tempo competiu em cerca de 30 concursos, venceu 24 e, talvez, nunca ficou
abaixo do segundo lugar; em comparação, Ésquilo venceu 14 concursos e foi
derrotado por Sófocles várias vezes, enquanto Eurípides ganhou apenas quatro destas extraordinárias competições.
A
“cabaça” por sua reprodutibilidade técnica foi uma das primeiras plantas
cultivadas, não apenas para uso na alimentação, mas para ser utilizada como um
recipiente de água. A cabaça pode ter sido levada da África para a Ásia, Europa
e nuestras Américas no curso da migração humana, ou por sementes que flutuaram
através dos oceanos dentro da cabaça. Provou-se que estava no chamado “Novo
Mundo” antes da invasão de Colombo em 1492. Origina-se do árabe “kara bassasa”,
“abóbora lustrosa”, designação popular dos frutos das plantas dos gêneros
Lagenaria e Cucurbita. Outros nomes incluem “porongo” ou “poranga”, do quíchua
“poronco”, que significa “vaso de barro com o gargalo estreito e comprido”,
através do espanhol rio-platense, “cuia” do tupi guarani antigo (e) kuîa,
“jamaru” do tupi “yama'ru” etc. O “porongo” é utilizado no estado do Rio Grande
do Sul e países vizinhos, continental, Argentina e Uruguai, para se fabricar a
cuia, recipiente usado para servir o chimarrão, bebida feita pela infusão da
erva-mate. A cabaça também é utilizada para fins de ornamentação de residências
e festas folclóricas. O termo “cabaço” é transfigurado para referir-se à
virgindade mítica. E no caso masculino para “alguém novato, simplório ou
ingênuo”.
Não
queremos perder de vista que a virgindade religiosa, ou virgindade sacra,sagrada virgindade ou santa virgindade, são conceitos
importantes na tradição cristã, especialmente no que diz respeito à Virgem Maria
que ocupa um lugar central no dogma cristão católico e ortodoxo. Votos de
castidade e celibato são necessários para entrar na vida monástica ou no
sacerdócio. A sagrada virgindade e a perfeita castidade considera a Igreja
Católica, quando consagrada ao serviço de Deus, um dos mais “preciosos
tesouros” deixados por Cristo à sua Igreja. Afirma ainda a Doutrina da Igreja
Católica que a santa virgindade é mais excelente que o matrimônio, isto no
Concílio de Trento. Sobre o tema afirma João Paulo II na “Exortação Apostólica
Familiaris consortio” (n° 16): - Permanecendo no celibato, o homem pode
entregar a Deus um coração indiviso, segundo o modelo do seu Filho, Jesus
Cristo, que ao Pai entregou o amor exclusivo e total do seu coração. “- É então
que o homem conquista o supremo cume, o vértice do testemunho cristão: Tornando
livre de modo singular o coração humano (...) a virgindade testemunha que o
Reino de Deus e a sua justiça são aquela pérola que devemos preferir a qualquer
outro valor”.
Úteis
em casa e no singular método e processo de trabalho, mágicos nos ritos de
passagens, próprios pra fazer música e arte, prontos pra brincar, estes frutos
são também bons pra pensar as relações míticas dos homens com os meios em que
vivem, com os mundos onde nascem veem e representam e os encontros e desencontros
destes homens. Os índios tem uma grande influencia no uso da cabaça, como
recipiente para água, cuia para servir ou guardar alimentos preparados,
pequenas taças de uso ritual e na confecção de alguns instrumentos sonoros. A
cabacinha com quatro furos; a buzina, na qual completa o gomo de taquara. No
cinto de algodão, sob a forma de “sininhos sem badalos” que se chocam uns
contra os outros. É também usado na cintura por corredores, amarrado abaixo do
joelho ou socado contra o chão pelos cantores. É utilizado no cotidiano, como
instrumento de trabalho e recipiente para líquidos e alimentos, na música, nos
rituais, nas festas e brincadeiras, no artesanato tradicional e nas recriações
de artesãos urbanos. Entrecascas desses frutos multiformes constituem tanto
objetos de uso corriqueiro do dia a dia, quanto os suportes de expressões que
distinguem e identificam indivíduos e grupos étnicos da sociedade brasileira,
num universo misto de referências culturais. Além disso, dão nomes a cidades,
rios, praias, serras e lagoas de Norte a Sul, e estão amplamente presentes na
tradição oral no Brasil.
Nascido na capital cearense
passou a infância em Senador Pompeu. Helder Catunda Gomes é formado em Administração
de Empresas e mestre de tae-kwon-do.
Iniciou sua carreira no cinema em 1991, quando fez suas primeiras participações
como dublê de lutas em filmes de
artes marciais, em Los Angeles, Califórnia. Estreou como diretor de cinema com
o curta-metragem “Cine Holiúdy - O artista contra o caba do mal” (2004); “Sunland Heat - No Calor da Terra do Sol”
(2004), gravado na cidade de Fortaleza, o filme teve participação de atores
norte-americanos; “Cadáveres” é um filme de terror, lançado diretamente para home-vídeo,
em 2008. O longa-metragem foi dirigido por Halder Gomes e Gerson Sanginitto, e
escrito por Najla Ann Al-Doori e Andrew Pletcher. O filme, de título pela
sequência de “Cadáveres”, de 2006, não tem nenhuma ligação com o longa-metragem
original. E, finalmente, “As Mães de Chico Xavier” é um filme de 2011 dirigido
por Glauber Filho e Halder Gomes, com roteiro dos diretores baseado no livro: “Por
Trás do Véu de Isis”, de Marcel Souto Maior, é o romance da escritura, constituindo-se uma
reportagem realizada durante anos, incluindo a biografia de Chico Xavier, pelo impressionismo
jornalístico em busca de evidências empíricas como prova da autenticidade das
comunicações mediúnicas. A experiência concreta serviu de embrião para o longa-metragem
“Cine Holliúdy”, que foi o filme brasileiro aclamado pela indústriacultural com
melhor média de público por sala em 2013. Assinou o roteiro de “Área Q”
(2011), dirigido pelo cearense Gerson Sanginitto. Presentemente seus filmes foram
exibidos oficialmente em 25 países.
O
filme Shaolin do Sertão (2016) dirigido por Halder Catunda Gomes, inclui a
participação do elenco da comédia cearense, com destaque ao notório humorista
Falcão, que representa um pseudomestre chinês, colocando citações também
pseudos-filosóficas como: - “A partir da meia noite, a tendência é amanhecer”. Vale lembrar que em 2013, Halder Gomes cativou
a audiência nacional com uma história regionalista falada em “cearês” que, ao baixo
custo de um R$ 1 milhão, levou cerca de 500 mil pessoas ao cinema. A história social se passa na década de 1980,
época em que os chamados brucutus
fizeram tanto sucesso quanto aos “Backstreet Boys” fez nos anos 1990. Quando
comparativamente numa espécie de “UFC do Sertão”, um lutador em decadência
decide criar desafios nas pequenas cidades do Ceará e anuncia um evento, junto
com o Prefeito para enfrentar alguém da cidade em que Aluízio faz pão, o
Shaolin decide que é hora de buscar a ajuda milenar de um antigo guerreiro
chinês chamado Chinês, que por incrível que pareça é interpretado por Falcão, o
cantor do nordeste. Em um retorno para a televisão, em 2012 Falcão estreou um talk show, Leruaite, na TV Ceará. Ele é o apresentador e a cada programa convida uma personalidade diferente. Falcão entrevistou nomes como Raimundo Fagner e o ex-governador Ciro Gomes. O programa também é composto pela banda Num Tô Nem Vendo, formada por músicos portadores de deficiência visual. No mesmo ano, foi considerado um dos 30 cearenses mais influentes do ano, de acordo com uma enquete realizada pela revista Fale! Em 2013, Falcão participou do longa-metragem Cine Holliúdy que narra a história de Francisgleydisson, um cearense que quer montar um cinema em sua cidade. Falcão interpretou o cego Isaías, um cego que ia “ver” o filme no cinema.
Shaolin,
traduzido do chinês, significa “espessa floresta da montanha Shaoshi”, a
montanha Shaoshi é uma das duas que formam o monte Song ou “jovem floresta”. O
templo Shaolin foi construído em 495 pelo imperador Xiaowen da dinastia Wei do
Norte (386-557) para abrigar o mestre indiano Batuo (Buddhabhadra), que veio a
ser o primeiro abade do mosteiro. Nesta época, muitas pessoas se converteram ao
budismo, não tanto pela religião em si, mas para fugir das obrigações para
com o imperador, pois as leis permitiam, aos convertidos, seguir apenas a Buda
e à espiritualidade. Já existiam traços de marcialidade entre os monges
budistas. Esses traços se tornaram fato em 520 com a chegada do monge indiano
Bodhidharma, também conhecido como Ta Mo, em chinês e Daruma Taishi em japonês.
Bodhidharma passou nove anos meditando na caverna do pico Wuru, atrás do
mosteiro. Visando a fortalecer os monges, que estavam debilitados devido às
longas horas meditando, Bodhidharma “lhes ensinou exercícios que se tornariam a
arte marcial do kung fu de Shaolin e as técnicas de
meditação que viriam a constituir a escola ch’an
de budismo.
Baseado
nestes princípios Aloisio decide defender a honra individual e coletiva dos
habitantes da cidade enfrentando o tal desafiante, contando com a ajuda de
piolho (Igor Janssen) e do primo dele, o fanho
Jesus (Haroldo Guimarães), que irão a cidade de Quixeramobim a procura do
mestre Chinês (Falcão) para que o habilite com suas técnicas milenares de Kung
Fu. O longa-metragem se destaca com a captura das imagens e fotografia
colocando em evidência o sertão de Quixadá com a representação de seus
monólitos, pertencendo geograficamente à mesorregião dos sertões cearenses e à
microrregião do sertão de Quixeramobim. É a maior do sertão central, com uma
população de 100.000 habitantes. Apenas uma definição é consenso quanto à
origem do nome Quixadá. É uma palavra derivada de alguma das línguas indígenas
faladas no território cearense antes do (des)cobrimento; há grandes
controvérsias. Ideologicamente se diz que o sertão não é tão belo quanto às
praias que fazem o Ceará tão (des)conhecido.
Índia Tupinambá: criança e cabaça.
Originalmente,
a região foi habitada pelos índios Jenipapo-Canindé (cf. Saraiva de Souza, 2001) pertences ao grupo dos
Tapuias, resistindo à invasão portuguesa no início do século XVII, sendo
aparentemente pacificados em 1705, quando Manuel Gomes de Oliveira e André
Moreira Barros ocuparam as terras quixadaenses. Estes grupos indígenas
resistiram até 1760, pois os conflitos entre índios e colonos, ocasionados pelo
desenvolvimento da pecuária desde 1705, praticamente extinguiram essas tribos.
A colonização da área compreendida pelo município de Quixadá através da
penetração pelo rio Jaguaribe, seguindo seu afluente o rio Banabuiú e depois o
rio Sitiá, cujo objetivo principal era a conquista de terras para a pecuária de
corte e leiteira. A primeira escritura pública da região foi a do Mosteiro
Beneditino, hoje Casa de Repouso São José, na Serra do Estêvão, onde hoje é o
distrito de Dom Maurício, em 1641.
Manuel
da Silva Lima, alegando ter descoberto “dois olhos d'água”, obteve uma
sesmaria. Essas terras, inicialmente de Carlos Azevedo, eram o “Sítio Quixedá”
adquirido por compra conforme escritura de 18 de dezembro de 1728. Oito anos
depois, José de Barros, construiu casas de morada, capela e curral, lançando
assim as bases da atual cidade de Quixadá, sendo considerado, portanto, o
legítimo fundador da cidade. A fazenda prosperou e se transformou em distrito
do município de Quixeramobim. A partir do século XIX, com a estrada de ferro
que ligava o Cariri à Fortaleza ocorreu a urbanização do município,
influenciada pela produção de algodão exportado para a Inglaterra, que nesta
época vivia a segunda fase da Revolução Industrial. Desde sua emancipação até
hoje, teve cinquenta e três governos municipais, sendo Laurentino Belmonte de
Queiroz, o primeiro gestor no período de crises de 1871 a 1873.
A
2ª revolução industrial é vista como apenas uma fase da Revolução Industrial já
que, de um ponto de vista sócio tecnológico, não houve uma clara ruptura entre
as duas. Na verdade a chamada 2ª revolução industrial representou um
aprimoramento e aperfeiçoamento das tecnologias da primeira etapa
industrialista. Ainda, é argumentável que ela se divide no meio no século XIX,
com o crescimento de estradas de ferro, os navios a vapor e invenções cruciais
como o processo de Bessemer e o processo de produção de aço de Siemens com o
forno Siemens-Martin, que resultaram no barateamento do aço, transporte rápido
e menores custos e difusão da produção industrial. Nos Estados Unidos da América (EUA) a 2ª
revolução industrial é comumente associada com a eletrificação de Nikola Tesla,
Thomas Alva Edison e George Westinghouse e com o gerenciamento de métodos e técnicas
de trabalho racionais de Frederick Taylor, considerado o pai da administração e um dos primeiros sistematizadores da disciplina científica da administração de empresas.
Na
película tendo como background o
processo migratório, a seca etc., Aloisio decide defender a honra individual (os
sonhos) e coletiva (os mitos, os ritos, os símbolos) da cidade enfrentando o
tal desafiante, contando com a ajuda de piolho (Igor Janssen) e do primo dele,
o fanho Jesus (Haroldo Guimarães), que irão a cidade de Quixeramobim a procura
do mestre Chinês (Falcão) para que o habilite com suas técnicas milenares de
Kung Fu. O longa-metragem se destaca nas imagens e fotografia colocando em
evidência o sertão de Quixadá com seus monólitos, pertencendo à mesorregião dos
sertões cearenses e à microrregião do sertão de Quixeramobim. É a maior do
sertão central, com uma população em torno de 100.000 habitantes. Apenas uma
definição é consensual na parca historiografia cearense quanto à origem do nome
Quixadá. É uma palavra derivada das línguas indígenas no
território cearense antes do “descobrimento” (1500); há controvérsias.
Ideologicamente se diz que o sertão não é tão belo quanto às praias que fazem o
Ceará (des) conhecido. A cultura cearense, assim como em todo o sertão nordestino, é de base essencialmente ibérica com influências indígenas e africanas. Em diversas áreas do interior cearense, os cordéis, assim como os repentistas e poetas populares, especialistas no improviso de rimas, ainda estão presentes e ativos, seguindo uma tradição que remonta aos trovadores e poetas populares da Idade Média lusitana. Outra forte influência portuguesa se encontra na grande importância das festas religiosas nas cidades de todo o interior, particularmente as festas de padroeiro, que estão entre as principais festividades da cultura cearense, abarcando não só cerimônias religiosas, mas também danças, músicas e outras formas de entretenimento, numa complexa mistura de aspectos sagrados e profanos.
Uma
atividade narrativa, mesmo que seja multiforme e não mais unitária, continua,
portanto se desenvolvendo onde se trata de fronteiras e de relações com o
estrangeiro. Fragmentada e disseminada, ela não cessa de efetuar operações de
demarcação. Os relatos são animados por uma contradição que neles representa a
relação entre a fronteira e a ponte, isto é, entre um espaço (legítimo) e sua
exterioridade (estranha). A região vem a ser, portanto o espaço criado por uma
interação. Daí se segue que, num mesmo
lugar, há tantas “regiões” quantas interações ou encontros entre programas.
Deste modo, se introduz uma contradição dinâmica entre cada delimitação e sua
mobilidade. Segundo a fenomenologia de Michel de Certeau, o relato não se cansa de colocar fronteiras.
Multiplica-as, mas em termos de interações entre personagens e movimentos:
coisas, animais, e seres humanos. Resultam de um trabalho da distinção a partir
de encontros. A junção e a disjunção são aí indissociáveis. Dos corpos em
contato, qual deles possui a fronteira que os distingue? Nem um nem o outro.
Então, ninguém? – Chamado cada um, este anti-herói é também Ninguém, Nemo, ou o Everyman
inglês se torna o Nobody ou o Jedermann alemão se torna Niemand. No entanto, mesmo neste teatro
humanista, ele ainda ri. E nisto é sábio e louco ao mesmo tempo, lúcido e
ridículo, no destino que se impõe e reduz a nada a isenção que
almeja. O filme repete a estratégia que garantiu o sucesso de Cine
Holliúdy (2012): regionalismo linguístico; cenário ambientado no sertão de
Quixadá; trilha sonora marcada por cantores nordestinos, com faixas de Raimundo
Fagner e Reginaldo Rossi; atores e personalidades de destaque no cenário
regional, como Tirullipa, Falcão, Karla Karenina, Camilla Uckers, Bráulio Bessa,
Denis Lacerda, além do rememorado Trapalhão, Dedé Santana, Marcos Veras e Bruna
Hamú. O elenco ainda repete a dose dupla que fez sucesso no primeiro longa-metragem
de Halder, Edmilson Filho e Haroldo Guimarães, e revela Igor Jansen, destaque
como intérprete do menino Piolho. A trama utiliza recursos clássicos da
narrativa cinematográfica, descrevendo a trajetória do herói “cabeça chata” com
o auxílio do vilão Toni Tora Pleura (Fábio Goulart), da mocinha Anesia (Bruna
Hamú), do pai da mocinha (Dedé Santana), além do plano de fundo que tem como
escopo a disputa política de coronéis e da população interiorana. Em 2019 o filme foi adaptado para série de televisão brasileira produzida e exibida pelo serviço de streaming Globoplay, cujo lançamento da primeira temporada ocorreu em 30 de abril de 2019. A primeira temporada estreou na Rede Globo em 7 de maio de 2019 em 10 episódios na série de Marcio Wilson e Claudio Paiva, inspirada no filme homônimo Cine Holliúdy de 2013. Edmilson Filho interpreta o protagonista na série. Escrito por Halder Golmes e direção conjunta de Patricia Pedrosa, Halder Gomes e Renata Porto D’Ave. Vale lembrar em análise comparada que o humor moleque dos “humoristas do Ceará” (cf. Silva Neto, 2015), já acusado pelos mais civilizados ou educados de ser apelador ou picante, pode ser resguardado pelo fato de ter como fonte o “popular local”, a essência da alma cearense. É possível agir como moleque fazendo gaiatices ou sendo “fulêro” nos dias atuais sem muita culpa ou ressaca moral já que, na verdade, este é um comportamento visto como importante para aqueles que pretendem ser “cearenses autênticos”. E ainda, seguindo o raciocínio de Cas Wouters (1998), este “humor moleque” que ainda pode ser encontrado na piada “pesada” ou de “mal gosto” só poderia acontecer nessas sociedades onde chega o processo de informalização que libera os impulsos e as emoções mais contidas no exercício do convívio em coletividade. Assim, a “cultura moleque cearense” que não está restrita aos humoristas locais, mas está difusa em um imaginário e memória coletivos orientando práticas ou condutas humorísticas no cotidiano e mesmo propagandeada como uma marca ou característica definidora da identidade cearense pelos meios de comunicação e governos do Ceará na promoção turístico-cultural, encontraria no processo de informalização a sua evasão no meio social contemporâneo. A molecagem, neste sentido, não seria o contrário da civilização dos comportamentos. Mas parte dos avanços e recuos do processo civilizador descrito por Norbert Elias. Contar uma piada picante e por vezes preconceituosa seria um momento de distensões. Das tensões provocadas por uma sociedade vigilante. E mais vigilante legalmente no que dito e escrito politicamente correto.
Bibliografia geral consultada.
ABREU, Alexandre Veloso de, Do Sertão ao Ílion: Uma comparação entre Grande Sertão:
Veredas e Ilíada. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em
Letras. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2005; SILVA,
Márcio Inácio da, Nas Telas da Cidade: Salas de Cinema e Vida Urbana na
Fortaleza dos anos de 1920. Dissertação de Mestrado em História. Programa de Pós-Graduação em História Social.
Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2007; BAECQUE, Antoine de,
Cinefilia: Invenção de um Olhar, História de uma Cultura, 1944-1968. São
Paulo: Editor Cosac Naify, 2010; MAGALHÃES, Luiz Ricardo, Sertão Planaltino:
Cultura, Religiosidade e Política no Cadinho da Modernização (1950-1964).
Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História. Faculdade de
História. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2010; BASTOS, Moira Anne
Bush, Poética da Cabaça: Fruto de Tradição, Arte e Comunicação.
Dissertação de Mestrado em Artes. São Paulo: Instituto de Artes da Universidade
Estadual Paulista, 2010; SOARES, Ednalda, Miguilins no Sertão da Cabaça
Azul: Incandescência, Infância e Devaneios Poéticos em Mutum. Dissertação
de Mestrado em Ciências Sociais. Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais.
Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2011; GUEDES, Paulo
Henrique Marques de Queiroz, No Íntimo do Sertão: Poder Político, Cultural e
Transgressão na Capitania da Paraíba (1750-1800). Tese de Doutorado.
Programa de Pós-Graduação em História. Recife: Universidade Federal de Pernambuco,
2013; COLAÇO, Douglas, A Unidade de Perspectivas entre a Geografia e a Cartografia Medievais: Paralelos com as Artes Visuais. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Geografia. Francisco Beltrão: Universidade Estadual do Oeste do Paraná, 2015; SILVA NETO, Francisco Secundo da, A Gênese da Cultura Moleque
Cearense: Análise Sociológica da Interpretação e Produção Culturais. Tese
de Doutorado. Programa de Pós-graduação
em Sociologia. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2015; PEREIRA, Paul
Kennedy Gondim, Clube de Cinema de Fortaleza: Sociabilidade Intelectual e
Cultura cinematográfica na Cidade de Fortaleza (1948-1963). Dissertação de
Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Fortaleza: Universidade
Federal do Ceará, 2017; entre outros.
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