Sigmund Freud - Uma Interpretação Psicossociológica Crítica.
Ubiracy de Souza Braga
“Brincando pode-se dizer de tudo, até mesmo a verdade”. Sigmund Freud
Sigismund Schlomo Freud reconhecido profissionalmente como Sigmund Freud, foi um médico neurologista criador da
psicanálise. Freud, como se tornara conhecido, nasceu em uma família judaica,
em Freiberg in Mähren, na época pertencente ao Império Austríaco, atualmente, a
localidade é denominada Příbor, e pertence à República Tcheca. Freud iniciou
seus estudos pela utilização da técnica da hipnose no tratamento de pacientes
com histeria, como forma de acesso aos seus conteúdos mentais. Ao observar a
melhora dos pacientes tratados pelo médico francês Charcot, elaborou a hipótese
de que a causa da histeria era psicológica, e não orgânica, distanciando-se das
correntes positivistas que associavam a determinação biológica da espécie. Essa
hipótese serviu de base para outros conceitos desenvolvidos posteriormente por
Freud, como o do inconsciente. Fatos como a descrição de pacientes curados através
do diálogo por Josef Breuer e a morte do colega Ernst von Fleischl-Marxow (1846-1891) por
dose excessiva do antidepressivo da época, a cocaína, levaram-no ao abandono
das técnicas de hipnose e de drogas para criar um novo método chamado: a cura pela
fala, ou seja, a psicanálise, que utilizava a interpretação de sonhos e a livre
associação como vias de acesso ao inconsciente. Suas teorias sociais e seus
tratamentos terapêuticos foram controversos na aparentemente conservadora Viena do fim
do século XIX, e continuam a ser debatidos presentemente. Sua concepção de teoria é
de grande influência na psicologia e, além do contínuo sobre a
aplicação terapêutica no tratamento, também é, frequentemente, discutida e analisada
como obra de literatura e cultura geral nas humanidades.
Ernst
von Fleischl-Marxow estudou medicina na Universidade de Viena, Áustria. Iniciou
sua carreira científica como Assistente de pesquisa no laboratório de Ernst
Wilhelm von Brücke (1819-1892), e posteriormente como Assistente, na mesma
universidade, do eminente patologista Carl von Rokitansky (1804-1878). Porém,
um acidente durante a dissecação de um cadáver feriu seu polegar, que
infeccionou e teve que ser amputado, interrompendo suas atividades clínicas em
anatomopatologia. Assim, ele teve que recorrer à fisiologia, e voltou ao
laboratório de von Brücke em Viena depois de estudar durante um ano com Carl
Ludwig (1816-1895), outro famoso fisiologista da Universidade de Leipzig,
Alemanha, obtendo seu doutorado em medicina, em 1874. Na primeira fase de sua
carreira em neurofisiologia, Fleischl-Marxow dedicou-se à eletrofisiologia de
nervos e músculos, então um campo de pesquisa de crescente prestígio, após as
investigações pioneiras de Emil du Bois-Reymond (1818-1896), que havia
descoberto potenciais de ação dos axônios. Este campo beneficiou os
desenvolvimentos ocorridos nas ciências físicas, particularmente de
novos dispositivos que foram inventados para trabalhar com pequenos potenciais
e correntes elétricas.
Como
os tecidos biológicos têm níveis extremamente baixos de atividade elétrica (na
faixa dos microvolts), o progresso da neurofisiologia teve de esperar por eles.
Como muitos fisiologistas alemães de sua época, Fleischl-Marxow tinha bons
conhecimentos e habilidades em física, e inventou uma série de dispositivos
para fins de seus estudos, particularmente o reonome, uma espécie de reostato,
ou resistor variável usado para controlar com precisão a intensidade de um
estímulo elétrico. Ele também adaptou o eletrômetro capilar de Lippmann para
usá-lo na medição de fenômenos bioelétricos sutis. Da bioeletricidade dos
nervos, Fleischl-Marxow voltou sua atenção, a partir de 1876, para a atividade
elétrica global dos hemisférios cerebrais. Os neuroanatomistas já haviam
determinado na época que seu tecido nervoso também era composto por células (os
neurônios), com seus corpos localizados principalmente na substância cinzenta,
e por prolongamentos filamentares, os dendritos e os axônios. Assim, era
natural supor que eles também exibissem atividade elétrica. Importante
descoberta, no entanto, não tinha sido realizada, porque potenciais elétricos dessincronizados com diferentes polaridades, produzem um
potencial global cumulativo que é, na verdade, muito pequeno e difícil de
detectar com a gama de sensibilidade dos dispositivos de medição disponíveis.
Apesar
disso, Fleischl-Marxow conseguiu comprovar pela primeira vez que a “estimulação
periférica” de órgãos sensoriais, como a visão e a audição, era capaz de
provocar pequenas oscilações de potencial elétrico relacionadas a eventos na
superfície do córtex cerebral, relacionadas a projeção desses sentidos.
Estranhamente, porém, Fleischl-Marxow não publicou os seus resultados, optando
por depositá-los num cofre de banco, com instruções para revelá-los apenas em
1883. Enquanto isso, surgiram as primeiras publicações sobre o que mais tarde
seria chamado de eletroencefalograma, demonstradas de forma independente por
Richard Caton (1842–1926), na Grã-Bretanha, e Adolf Beck (1863–1942) na Polônia,
ambos utilizando animais de laboratório.
Em
1880, Fleischl-Marxow tornou-se professor titular da Universidade de Viena e
foi nomeado membro correspondente da Academia Austríaca de Ciências. Ele também
dedicou parte de sua pesquisa à óptica fisiológica, fazendo importantes
descobertas sobre a distribuição do nervo óptico na retina e as características
ópticas da córnea. Com seu crescente conhecimento especificamente em Física Óptica,
desenvolveu diversos instrumentos de medição óptica, o espectropolarímetro
e o hematômetro, um dispositivo utilizado para medir o conteúdo de
hemoglobina no sangue, que recebeu seu nome em sua homenagem, e que doravante, por
muitos anos encontrou ampla aplicação em medicina laboratorial e hematologia
diagnóstica. Durante muitos anos, Fleischl-Marxow trabalhou sob intenso
sofrimento pessoal, devido às complicações dolorosas crônicas de sua amputação.
Por conta disso, ficou viciado em morfina e heroína (um derivado sintético da
morfina, porém muito mais potente). Sigmund Freud, então neurologista vienense,
era um de seus amigos mais íntimos, e tinha dele a opinião mais elevada: - Um
homem muito distinto, por quem a natureza e a educação deram o seu melhor.
Rico,
treinado em todos os exercícios físicos, com a marca da genialidade em seus
traços energéticos, bonito, de bons sentimentos, dotado de todos os talentos e
capaz de formar um julgamento original sobre todos os assuntos, ele sempre foi
meu ideal e eu poderia não descansaria até que nos tornássemos amigos e eu
pudesse sentir pura alegria em sua habilidade e reputação. (apud em Ernest
Jones, A Vida e Obra de Sigmund Freud, Volume I, VI.). Freud estava
estudando as propriedades médicas da cocaína e estava convencido de que a
cocaína poderia ser usada não apenas como um leve euforizante , afrodisíaco e
analgésico , mas também como tratamento para viciados em morfina. Ele
recomendou isso ao seu amigo Fleischl-Marxow, que caiu ainda mais fundo no
abismo do vício. Devastado pela dor, pelo vício e pela doença, ele teve uma
recaída e começou a usar morfina novamente. Ernst von Fleischl-Marxow morreu em
22 de outubro de 1891, aos 45 anos. Sigmund
Freud falou dele, sem haver a necessidade de citar seu nome, no ensaio: Interpretação
dos Sonhos, analisando a injeção de Irma.
A
psicossociologia tem como representação abstrata do indivíduo o estudo de
problemas comuns à psicologia e à sociologia, particularmente a maneira como o
comportamento individual é influenciado pelos grupos aos quais a pessoa
pertence. Por exemplo, no estudo dos criminosos a psicologia estuda a
personalidade latente do criminoso moldada pela educação do criminoso. A
sociologia estuda o comportamento teórico e prático do próprio grupo num
processo de interação em geral: os métodos que o grupo criminoso usa para
recrutar membros e a maneira como o grupo muda ao longo do tempo.
Psicossociologia estuda o comportamento do criminoso, que é criado pelo
grupo que pertence: jovens que moram no quarteirão do bairro. Existem muitos
fatores sociais que podem afetar a psicologia dos outros. Um exemplo são as
chamadas “panelinhas sociais”. Se alguém é aceito em seu grupo desejado ou não,
isso muda a maneira como eles pensam sobre si mesmos e as pessoas ao seu redor.
Amizades em idades jovens enquanto crescem também têm muito a ver não apenas
com o desenvolvimento psicológico, mas também com habilidades e
comportamento social.
O mesmo vale para as leis comuns na sociedade.
Se o grupo de um indivíduo decide obedecer por eles ou não, isso afeta a visão
desse indivíduo sobre a lei e seu grupo como um todo. A maneira como as pessoas
podem agir ou falar dita a maneira como os outros as veem em uma sociedade. Por
exemplo, os indivíduos podem ver a autoridade de muitas maneiras diferentes,
dependendo de suas experiências e do que os outros lhes disseram. Por isso, com
base no conhecimento social de autoridade das pessoas, suas opiniões e ideias
são muito diferentes. Cada indivíduo tem
seu próprio processo de pensamento psicológico único e pessoal no qual eles
usam para analisar o mundo ao seu redor. As pessoas internalizam e processam
fatores sociológicos de maneira relativa ao seu processo de pensamento
psicológico. Essa relação é recíproca, pois a sociedade pode alterar e
transformar as maneiras que as pessoas pensam e, ao mesmo tempo, a sociedade
pode ser influenciada pelo pensamento psicológico exteriorizado dos indivíduos da própria sociedade. Devido a isso, pode-se antever como a psicologia é útil para ajudar o sociólogo a compreender e interpretar os efeitos dos fatos sociais no comportamento de um indivíduo numa sociedade
determinada.
Na verdade, inicialmente, a classe
médica em geral acaba por marginalizar as ideias de Freud; seu único confidente
durante esta época é o médico Wilhelm Fliess. Depois que o pai de Freud falece,
em outubro de 1896, segundo as cartas recebidas por Fliess, Freud, naquele
período, dedica-se a anotar e analisar seus próprios sonhos, remetendo-os à sua
própria infância e, no processo, determinando as raízes de suas próprias
neuroses. Tais anotações tornam-se a fonte etnográfica para a obra "A Interpretação dos
Sonhos". Durante o curso desta autoanálise, Freud chega à conclusão de que seus próprios
problemas eram devidos a uma atração por sua mãe e a uma hostilidade em relação
a seu pai. É o que constitui o famoso “complexo de Édipo”, que se torna o "coração", por assim dizer, da teoria de
Freud sobre a origem da neurose em todos os seus pacientes investigados. Nos
primeiros anos do século XX, são publicadas suas obras em que contém suas teses principais: “A Interpretação dos
Sonhos” e “A psicopatologia da vida cotidiana”. Nesta época, Freud já não
mantinha mais contato nem com Josef Breuer, nem com Wilhelm Fliess. No início,
as tiragens das obras não animavam Freud, mas logo médicos de vários lugares:
Eugen Bleuler, Carl Jung, Karl Abrahams, Ernest Jones, Sandor Ferenczi, demostram
respaldo às suas ideias e passam a compor o “Movimento Psicanalítico”.
Por sua
vida inteira, Freud teve uma posição financeira modesta, como Marx ou
Nietzsche. Josef Breuer foi, no início, um aliado de Freud em suas ideias e
também um aliado com patrocínio financeiro. Freud criou o termo “psicanálise”
para designar um método, uma teoria e uma técnica para investigar cientificamente
os processos inconscientes e de outro modo inacessíveis do psiquismo. Foi
com o decorrer das discussões de casos clínicos com Breuer que surgiram as
ideias que culminaram com a publicação dos primeiros artigos sobre a
psicanálise. O primeiro caso clínico relatado deve-se a Breuer e descreve o
tratamento dado sua paciente Bertha Pappenheim, chamada de “Anna O”, no livro e posteriormente no cinema, que demonstrava vários sintomas clássicos
de histeria. O método de tratamento consistia na chamada “cura pela fala”, ou “cura
catártica”, na qual o ou a paciente discute sobre as suas associações com cada
sintoma e, com isso, os faz desaparecer. Esta técnica tornou-se o centro de manejo das
técnicas de Freud, que também acreditava, cientificamente, que as memórias ocultas ou “reprimidas”
nas quais se baseavam os sintomas de histeria eram sempre de natureza sexual. Entertanto, Breuer não concordava com Freud, o que levou à separação de
ideias entre eles logo após a publicação dos casos clínicos em sociedades científicas.
Pelo
menos desde 1899, com a publicação do conspícuo ensaio A Interpretação dos
Sonhos, o austríaco Sigmund Freud se transformou num dos pensadores mais
polêmicos da história social e, portanto, clínica. Desacreditada inicialmente,
a psicanálise, o método e a técnica por
ele concebido para o tratamento dos problemas psíquicos e a compreensão da
mente humana, chegou a ser considerada a última palavra da ciência sobre a
questão. Há quem despreze (e não são poucos) essas novas posições psicológicas
e clínicas e defenda apaixonadamente as teorias de Freud cuja essência
considera-se correta e aparentemente inquestionável. Mais importante do que essa
discussão é descrever os fundamentos da doutrina psicanalítica e apresentar as
principais contribuições que ela refez à ciência, à filosofia, à antropologia e
à sociologia em seu surgimento. A psicanálise interpreta as manifestações da
psique, as tendências sexuais (ou libido), e as fórmulas morais e limitações
condicionantes do indivíduo. São
dois os fundamentos da teoria psicanalítica: 1) Os processos psíquicos são em
sua imensa maioria inconscientes, a consciência não é mais do que uma fração de
nossa vida psíquica total; 2) os processos psíquicos inconscientes são
dominados por nossas tendências sexuais reprodutivas. Nesse sentido, Freud
pretendeu descrever a vida humana tanto do ponto de vista pessoal e
individual, mas também pública e social, recorrendo a essas tendências sexuais
a que chamou de libido.
Com esse termo, o pai da psicanálise designou a “energia
sexual” de maneira mais geral e indeterminada. Assim, por exemplo, em suas
primeiras manifestações sociais, a libido liga-se as funções vitais: no bebê
que mama, o ato de sugar o seio materno provoca outro prazer além do de obter
alimento e esse prazer passa a ser buscado por si mesmo. Na abordagem psicanalítica fundada
por Sigmund Freud, o indivíduo se constitui como um ente à parte do social e
que compõe o nível de análise social. Freud refere-se aos aspectos que compõem
um estado instintivo humano e que acaba por se tornar inibido em prol da
convivência em comunidade. A inibição destes aspectos, que são instintivos,
consiste numa privação de características que são inatas aos homens, e, esta
própria privação, acaba por consistir em determinados descontentamentos. Neste
sentido, os homens em civilização ou civilizados demonstram-se descontentes na
busca de sua felicidade, pois seus instintos não são prontamente atendidos em
sociedade. No seu ensaio: “O mal-estar da civilização”, Freud elabora uma
discussão filosófico-social a partir de sua teoria psicanalítica. O autor
desenvolve a ideia pragmática segundo a qual, em sociedade, “não há avanço sem
perdas”. A ideia central que desenvolve nesta obra é a de que a civilização é
inimiga da satisfação dos instintos humanos. A sociedade modifica a natureza humana
individual, constitui o homem como membro da comunidade, adaptando-o a um
processo vital que torna o indivíduo um ente social.
Em 1923, no livro “O Ego e o Id”,
Freud expôs uma divisão da mente humana em três partes: 1) o ego que se
identifica à nossa consciência; 2) o superego, que seria a nossa consciência
moral, os princípios sociais e as proibições que nos são inculcadas nos primeiros
anos de vida e que nos acompanham de forma inconsciente a vida inteira; 3) o
id, isto é, os impulsos múltiplos da libido, dirigidos sempre para o prazer. A
influência que Freud exerceu em várias correntes da ciência, da arte, da
sociologia e da filosofia foi enorme. Mas não se deve deixar de dizer que
muitos filósofos, psicólogos e psiquiatras fazem sérias objeções ao modo como o
pai da psicanálise e seus discípulos apresentam seus conceitos: como
“realidades absolutas” e não como suportes ou “instrumentos” de explicação que
podem ser ultrapassados pela dinâmica científica e, em alguns casos, foram
mesmo. Em uma de suas últimas obras “O Mal-Estar na Civilização”, publicado em
1930, Freud descreve a história da humanidade como a “luta entre os instintos
de vida” (Eros) e “os da morte” (Tanatos), teoria cujo pioneirismo deu ao fator
sexual que era - até Freud - uma área de quase absoluta ignorância para a
ciência em geral e a filosofia. A psicanálise é o que se faz através da
conversação.
Em suas teorias, Freud afirma que os
pensamentos são desenvolvidos por processos diferenciados, relacionando tal
ideia à de que o nosso cérebro trabalha essencialmente no campo da semântica. A
mente desenvolve os pensamentos num sistema intrincado de linguagem baseada em
imagens, as quais são meras representações de significados latentes. Em
diversas obras Freud não só desenvolve sua teoria sobre o inconsciente da mente
humana, como articula o conteúdo do inconsciente ao ato da fala, especialmente
aos atos falhos. Para Freud, a consciência humana subdivide-se em três níveis analíticos:
consciente, pré-consciente e inconsciente. O primeiro nível de análise contém o
material perceptível; o segundo nível, o material latente, mas passível de
emergir à consciência com certa facilidade; e o terceiro nível contém o
material de difícil acesso, isto é, o conteúdo mais profundo da mente, que está
ligado aos instintos primitivos do homem. Os níveis de consciência estão
distribuídos entre as três entidades que formam a mente humana, ou seja, o Id,
o Ego e o Superego.
Segundo
Freud, o conteúdo do inconsciente é, muitas vezes, reprimido pelo Ego. Para
driblar a repressão, as ideias inconscientes “apelam” aos mecanismos definidos
por Freud em sua obra: “A Interpretação dos Sonhos”, como deslocamento e
condensação. Estes dois, mais tarde, seriam relacionados por Romain Jacobson à
metonímia e metáfora, respectivamente. Portanto, as representações de ideias
inconscientes manifestam-se nos sonhos como símbolos imagéticos, tanto
metafóricos quanto metonímicos. Aplicando o conceito à fala, o inconsciente
consegue expelir ideias recalcadas através dos chistes ou atos falhos. Freud
propõe que as piadas ou as “trocas de palavras por acidente” nem
sempre são inócuas. Antes, são mecanismos da fala que articulam ideias
aparentes com ideias reprimidas, são meios pelos quais é possível exprimir os
instintos primitivos. Semelhante à análise dos sonhos, a análise da fala seria
um caminho psicanalítico para investigar os desejos ocultos do homem e as
causas das psicopatologias. – “É na palavra e pela palavra que o inconsciente
encontra sua articulação essencial”. Deste modo, Freud cria uma inter-relação
entre os campos da linguística e da psicanálise, que será retomada por
estudiosos posteriores, como ocorre precisamente nos Séminaire de seu incontestavelmente maior intérprete: Jacques-Marie Émile Lacan (1901-1981).
Sua
primeira intervenção na psicanálise é para situar o Eu como instância de
desconhecimento, de ilusão, de alienação, sede do narcisismo. É o momento do “Estádio
do Espelho”. O Eu é situado no registro do Imaginário, juntamente com fenômenos
como amor e ódio. É o lugar das identificações e das relações duais.
Distingue-se do Sujeito do Inconsciente, instância simbólica. Lacan reafirma,
então, a divisão do sujeito, pois o Inconsciente seria autônomo com relação ao
Eu. E é no registro do Inconsciente que deveríamos situar a ação da
psicanálise. Esse registro é o do simbólico, é o campo da linguagem, do
significante. Claude Lévi-Strauss afirmava que “os símbolos são mais reais que
aquilo que simbolizam, o significante precede e determina o significado”, no
que é seguido por Lacan. Marca-se aqui a autonomia da função simbólica. Este é
o “Grande Outro” que antecede o sujeito, que só se constitui através deste – “o
inconsciente é o discurso do Outro”, “o desejo é o desejo do Outro”. O campo de
ação da psicanálise situa-se então na fala,
onde o inconsciente se manifesta, através de atos falhos, esquecimentos,
chistes e de relatos de sonhos, enfim, naqueles fenômenos que Lacan nomeia como
“formações do inconsciente”. A isto se refere o aforismo lacaniano “o
inconsciente é estruturado como uma linguagem”: biblioteca, escrivaninha e o célebre divã. Eis tudo o que se esperaria encontrar no ambiente de trabalho de Sigmund Freud: um aficionado por arqueologia. O local de trabalho era enobrecido por mais de 2 mil peças antiquíssimas: esculturas de porte médio ou menor, fragmentos de pintura em gesso, papiro e linho, recipientes e pedaços de vidro.
Uma curiosa imagem, não?
Havia objetos gregos,
romanos e asiáticos, mas Freud tinha especial predileção pela cultura egípcia,
que compreendia quase metade de sua coleção. Por quase meio século demonstrou-se
não um mero colecionador, mas aquele que conhecia profundamente a arte antiga. Mais
tarde afirmaria que, desde aquele primeiro contato com a extinta civilização
greco-romana, estudar culturas antigas lhe trouxe conforto e consolação ao
longo dos inúmeros dissabores de sua vida atribulada. Tinha
uma relação “desejante” com Roma: entre 1895 e 1898, tentou visitar a cidade
nada menos do que cinco vezes, mas uma irresistível inibição o fazia retroceder.
Na Interpretação dos Sonhos, ele analisou a imaginação, relacionando-a
com sua origem judaica e o antissemitismo. As obras de arte exerceram grande
influência na vida de Freud, mas nenhuma, talvez, como a estátua de Moises de
Michelangelo, exposta na Igreja de San Pientro in Vincolli na qual visitou por
vezes e chegou a dedicar um trabalho analítico somente para a obra. Nos tempos
de estudante identificava-se com Aníbal, general cartaginês de origem fenícia,
semítica, portanto contra Roma, inimiga figadal de Cartago. Como ocorria com aquele
general, Freud sentia-se inibido, constrangido a não penetrar em Roma. Com a publicação da obra viu-se livre do “estranhamento”,
tornando-se um visitante da cidade e de suas adoráveis antiguidades. Alienação
nas ciências sociais, é um conceito que designa indivíduos que estão alheios a
si próprios ou a outrem, tornando-se dependentes de atividades ou instituições
humanas, devido a questões econômicas, sociais ou religiosas. Desta forma,
refere-se também à diminuição da capacidade dos indivíduos em pensarem e agirem
por si próprios. Há quem defina a alienação como a falta de consciência por
parte do ser humano de que ele possui um grau de responsabilidade na formação
do mundo a seu redor, e vice-versa. Deste conceito filosófico-sociológico,
derivaram-se outros usos da palavra, como por exemplo, na psiquiatria, pode ser
usada como um sinônimo de loucura. No Direito, existem a alienação de um bem, a
alienação parental e a alienação fiduciária. Ainda que a alienação seja um
conceito a priori filosófico, existe o conceito de alienação mais propriamente dito originariamente na filosofia.
Bibliografia
geral consultada.
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Tese de Doutorado. Instituto de Psicologia. São Paulo: Universidade de São
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