terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Legado Bowieano: Multidão, Estratégia Artística & Cinematografia.

                                Ubiracy de Souza Braga*
 
                                       Eu sempre tive uma necessidade repulsiva de ser algo mais do que humano”. David Bowie
 

A influência de David Bowie é única, musical e socialmente na arte e no cinema. Como escreveu o biógrafo David Buckley, “ele penetrou e modificou mais vidas do que qualquer outra figura comparável”. De fato, grande é sua influência no mundo da música entre artistas e bandas mais antigas e a nova geração, e, além de ter auxiliado movimentos sociais como a “libertação gay” e a recriação de uma nova juventude independente, introduziu novos modos de se vestir na cena musical e tem uma carreira prestigiada no cinema. Em 2002, ficou em 29º lugar na lista popular 100 Greatest Britons e já vendeu mais de 136 milhões de álbuns ao longo de sua carreira. A Inglaterra, local de nascimento de Shakespeare e dos Beatles, abriga a capital, Londres, um centro financeiro e cultural globalmente influente. Também na Inglaterra, ficam o neolítico Stonehenge, as termas romanas de Bath e as centenárias universidades de Oxford e Cambridge. Foi premiado no Reino Unido com 9 certificações de Álbum de Platina, 11 de Ouro e 8 de Prata, e, nos Estados Unidos, 5 de Platina e 7 de Ouro. Em 2004, além disso, a famosa revista Rolling Stone colocou-o na 39ª posição em sua lista tradicional dos “100 Maiores Artistas do Rock de Todos os Tempos” e em 23º lugar na lista dos “Melhores Cantores de Todos os Tempos”. David Bowie nasceu como David Robert Jones em Brixton, Londres, em 8 de janeiro de 1947. Sua mãe, Margaret Mary “Peggy”, descendia de irlandeses e trabalhava como arrumadeira de cinema, enquanto seu pai, Haywood Stenton “John” Jones, era oficial de promoções da Barnardo`s. Brixton é um distrito de Londres. É capital “não-oficial da comunidade britânica de afro-caribenhos”.

Os moradores de Brixton são de origem variada, indo desde pessoas que residem no local há gerações até recém-chegados atraídos por novos projetos de reurbanização. Brixton é uma comunidade multiétnica, com cerca de 24% da população composta de descendentes de africanos ou caribenhos. Geograficamente, Brixton está situada ao Sul de Londres, e parte do borough de Lambeth. Faz divisa com Stockwell, Clapham Common, Streatham, Camberwell, Tulse Hill e Herne Hill. A família vivia no número 40 da Stansfield Road, próximo da fronteira das zonas londrinas situando-se a sul de Brixton e Stockwel. Mas para o que nos interessa, é que Brixton é um distrito de Londres, no borough de Lambeth. É capital não-oficial da comunidade britânica de afro-caribenhos. Atualmente, os moradores de Brixton são de origem variada, indo desde pessoas que residem no local há gerações até recém-chegados atraídos por novos projetos de reurbanização. Brixton é uma comunidade multiétnica, com cerca de 24% da população composta de descendentes de africanos ou caribenhos. Um vizinho lembrou que “Londres na década de quarenta era o pior lugar possível, e o pior lugar possível para uma criança nascer”. Bowie frequentou a Stockwell Infants School até seis anos de idade, adquirindo reputação de um garoto motivado psicologicamente com talento para cantar e, gritar solenemente nas memórias do filme: “Merry Christmas, Mr. Lawrence” (1983).

A multidão representa a aglomeração de pessoas que estão próximas fisicamente e tem um mesmo objetivo. Os indivíduos são anônimos e não há diferenciação de classe social, cor, privilégios, cargos, etc., porém a integração social de seus indivíduos é convencional. Público é aquele grupo de pessoas que se reúnem por um mesmo objetivo e que também estão próximas fisicamente. Sua maior característica é a capacidade de interagir entre si e com a fonte que originou a interação do público, como os aplausos no caso de uma peça teatral. As pessoas nesse caso estão reunidas intencionalmente, como por exemplo, o público de um “showmício”, expressão inventada no Brasil, ou de uma partida de futebol. A massa ocorre sem o estabelecimento de contato físico e as pessoas estão impedidas de emitir qualquer tipo de crítica, sendo passivas com o que lhes é imposto. Sua reunião é de modo espontâneo e a principal forma de comunicação social é a partir dos meios de comunicação em massa. O sociólogo David Riesman (1909-2002) tornou-se imprescindível no estudo e compreensão das sociedades industriais do século XX. Seu livro mais reconhecido, “A Multidão Solitária”, causou tanto impacto que conquistou leitores em paralaxe, quer dizer, que representa o deslocamento aparente de um objeto de interpretação da realidade, por conta da mudança do ponto de vista do observador dos círculos acadêmicos. Argumentava que a sociedade estava em transição de um estágio “orientado para dentro” para um estágio de desenvolvimento histórico e socialmente “orientado para o outro” antes influenciado pelos pais e autoridades divinas, passando “a depender da aprovação de seus pares”.

                                    

O sociólogo norte-americano antecipou não só a emergência de um culto à juventude, expressivamente estudada de Karl Mannheim (1893-1947) à Zygmunt Bauman, na modernidade e à distorção ideológica entre o domínio da política nas redes de entretenimento, ao descrever um eleitorado que se mantém talvez informado, mas indiscutivelmente passivo. O crítico Jonathan Yardley inclui a “A Multidão Solitária” numa cadeia de livros que, durante os anos 1950, situaram a classe média norte-americana sob um autoexame minucioso. O livro de Riesman tornou-se tema de aulas e reuniões sociais. Seu título citado na canção “I Shall Be Released”, de Bob Dylan. David Riesman escreveu ainda “Faces in the Crowd” e “On Higher Education”, entre outras obras.   Contudo, desde tempos imemoriais não há nada que o homem mais tema do que o contato, como categoria antropológica, com o desconhecido, pois evita o contato com o que lhe é estranho. À noite ou no escuro, o pavor ante o contato inesperado pode intensificar-se até o pânico. O medo do ladrão não se deve unicamente a seu propósito de roubar, mas representa também o temor ante seu toque súbito, inesperado, saído da escuridão. A mão transformada em garra é o símbolo que sempre se emprega para representar esse medo. Trata-se aí de uma questão que, em boa parte, manifesta-se no duplo sentido da palavra “agarrar” (“angreifen”). Nesta encontram-se contidos ao mesmo tempo tanto o contato inofensivo quanto o ataque perigoso, e algo deste último sempre ecoa primeiro.

O substantivo “agressão” (“Angriff”) viu-se reduzido ao sentido negativo da palavra: à maneira como nos movemos em meio aos muitos transeuntes, nos restaurantes e transportes de massa ditada por esse medo em torno de si e que foram transmitidas por esse temor do contato social. Curiosamente somente na massa é “possível ao homem libertar-se do temor do contato”. Tem aí a única situação na qual esse temor transforma-se no seu oposto. E é da massa densa que se precisa para tanto, aquela na qual um corpo comprime-se contra o outro, densa inclusive em sua constituição psíquica, de modo que não atentamos para quem é que nos “comprime”. Tão logo nos entregamos à massa não tememos o seu contato. Na massa ideal, todos são iguais. Nenhuma diversidade contra, nem mesmo a dos sexos. Quem quer que nos comprima é igual a nós mesmos. Subitamente, tudo se passa então como que no interior de um único corpo. Talvez essa seja uma das razões pelas quais a massa busca concentrar-se de maneira tão densa: ela deseja libertar-se tão completamente quanto possível do temor individual do contato. Quanto mais energicamente os homens se apertam uns contra os outros, produzindo o que na literatura antropológica se denominou “fricção interétnica” tanto mais seguros eles se sentirão de não se temerem mutuamente. Essa inversão do temor, segundo Canetti (1995), “é característica da massa”. O alívio que nela se propaga alcança uma proporção notavelmente alta quando a massa se apresenta em sua densidade máxima.

O que muda comparativamente a esses traços gerais de comportamento refere-se à hierarquia e o poder que criaram para si as posições fixas e tradicionais. A partir da maneira como as pessoas se apresentam dispostas uma ao lado da outra, pode-se facilmente deduzir a diferença de prestígio entre elas. Sabemos o que significa quando uma pessoa se encontra sentada num plano mais elevado, tendo todas as demais em pé a circundá-la. Ou quando está em pé, e as demais sentadas ao seu redor; quando alguém aparece de súbito, e as pessoas reunidas levantam-se; quando alguém se ajoelha diante de outra pessoa; quando não se convida aquele que acabou de entrar a sentar-se. Já uma enumeração indiscriminada de exemplos como esses demonstram a quantidade de configurações mudas que o poder tem como significado e apresenta. Seria necessário investiga-las, definindo com maior exatidão o seu significado social e político. Durante um culto religioso numa igreja, os fiéis ajoelham-se muitas vezes de forma repetitiva; estão acostumados pelo ritmo das vozes em coro, e mesmo aqueles que o fazem com prazer não atribuem significado a esse gesto frequente. Na religião é preciso rezar, mesmo sem vontade, dependemos da graça de Deus. Há uma ideia que deve se lembrar de que sua oração não pode ser movida simplesmente por uma questão de gosto.

Mudando-se em 1953 para um subúrbio próximo, em Bromley, a família o enviou à Burnt Ash Junior School. Sua voz estridente foi considerada adequada no coral da escola, onde ele demonstrou uma capacidade musical acima da média. Aos nove anos de idade, foi introduzido ao método educativo de escutar sons e dançar, constituindo um ponto de partida do novo método não será a escola, nem a sala de aula, mas a realidade social mais ampla  e sua dança agradou os professores, que a achavam “vividamente artística” e sua postura surpreendente para uma criança. Neste mesmo ano, seu interesse pela música cresceu quando o pai trouxe discos de vinis de uma coleção norte-americana com músicas cantadas por Frankie Lymon and the Teenagers (1954), The Platters (1952), Fats Domino (1928), Elvis Presley (1949-1962) e Little Richard (1947-1979). Ao ouvir Little Richard cantar o single “Tutti Frutti”, David Bowie comparativamente diria mais tarde que ele religiosamente: - “Tinha escutado a voz de Deus”.
David Bowie estudou arte, música e desenho, incluindo layout e typsetting. Depois de Terry Burns, seu meio-irmão por parte de mãe, apresentá-lo ao jazz moderno, o seu entusiasmo por instrumentistas como Charles Mingus e John Coltrane levou sua mãe a lhe dar um saxofone alto em 1961. Não demorou em que recebesse aulas de música. Em 1962, metido numa briga por conta de uma garota, recebeu um ferimento grave na escola, quando o amigo George Underwood lhe deu um forte soco no olho esquerdo usando um grande anel no dedo. Os médicos temiam que ele viesse a perder parcialmente a visão; foi forçado a ficar fora da escola para uma série de operações durante uma internação de quatro meses. O dano não pôde ser totalmente reparado — deixando-o com a percepção deficiente e com a pupila permanentemente dilatada. Tempos depois iria se tornar a marca pessoal do artista. Apesar da briga violenta, Underwood e Bowie continuaram amigos, e mais tarde George Underwood passou a cuidar da parte artística dos álbuns e da extraordinária carreira de Bowie. Seu fascínio pelo estilo poético bizarro reforçou-se com o encontro com o dançarino Lindsay Kemp, como disse o próprio Bowie: - “Ele vivia em suas emoções, foi uma influência maravilhosa”.
             Sua vida cotidiana era a coisa mais teatral que eu já tinha visto. Era tudo o que eu pensava sobre boemia. Entrei para o circo”. Kemp, por sua vez, lembrou: “Eu não o ensinei a ser um artista mímico, mas a botar para fora o que ele era. Eu o ativei para liberar o anjo e o demônio que estava em seu interior”. Estudando artes dramáticas com Lindsay Kemp, do teatro avant-garde e da mímica à commedia dell`arte, Bowie ficou imerso na criação de personagens para apresentar ao mundo. Satirizando a vida numa prisão britânica, a canção de 1967 “Over the Wall We Go” tornou-se um single na voz de Paul Nicholas; outra composição de Bowie, chamada “Silly Boy Blue”, foi realizada por Billy Fury no ano seguinte. Bowie começou a namorar Hermione Farthingale quando ela foi escalada junto a ele por Kemp para um minueto poético; logo ambos os amantes se mudaram juntos para um apartamento londrino. Tocando violão, ela formou um grupo artístico com David Bowie e o baixista John Hutchinson entre setembro de 1968 e inícios de 1969, quando Bowie e Farthingale rompiam, mas o trio dava um pequeno número de concertos combinando folk, beat music, poesia e mímica.                  

             A música Angie dos Rolling Stones é um pedido de desculpas à esposa de Bowie, Ângela.  David Bowie conheceu Angela Barnett em abril de 1969. Casar-se-iam dentro de um ano. O impacto da moça sobre ele foi imediato, e o envolvimento dela em sua carreira teve longo alcance, deixando o empresário Kein Pitt em influência limitada. Estabelecido como artista solo após “Space Oddity” sentia falta de algo: “uma banda em tempo livre para apresentações e gravações - pessoas enfim com as quais ele poderia se relacionar pessoalmente”. A lacuna se fortaleceu quando teve uma rivalidade artística com Marc Bolan (1947-1977), na época seu guitarrista de estúdio. Mas uma banda foi devidamente montada: John Cambridge, baterista que Bowie conheceu no Arts Lab, foi convivado por Tony Visconti, que tocaria no baixo, e Mick Ronson na guitarra elétrica. Após uma breve e desastrosa manifestação sob o nome de Os Hype, o grupo sofreu nova reconfiguração, agora apresentando Bowie como artista solo. O trabalho inicial do grupo ficou marcado por um desentendimento acalorado entre Bowie e Cambridge sobre o estilo do segundo de tocar bateria; a discussão chegou ao ápice quando Bowie protestou: “Você está fudendo meu álbum”. Cambridge deixou o grupo e foi substituído por Mick Woodmansey. Pouco tempos depois Bowie viu-se forçado a pagar indenização a Pitt, e por isso o demitiu, substituindo-o por Tony Defries.
            Em sua empreitada musical seguinte, Bowie desafiou, nas palavras do biógrafo David Buckley, “a crença central da música rock de sua época" e "criou provavelmente o maior culto da cultura popular”. Vestido com um traje notável, seus cabelos tingidos de vermelho, e o rosto e os lábios fortemente maquiados, Bowie inaugurou a apresentação de Ziggy Stardust com os “The Spiders from Mars” — Ronson, Bolder e Woodmansey — num pub chamado Toby Jug em Tolworth, em 10 de fevereiro de 1972. A apresentação foi um sucesso e levou-o ao estrelato; Ziggy e os Spiders from Mars viajaram pelo Reino Unido ao longo dos próximos seis meses e propagaram um “culto a Bowie” que “era único, sua influência durou mais tempo e tem sido mais criativa do que talvez quase todas as forças dentro da cultura pop”. Combinando elementos do hard rock de “The Man Who Sold the World” com o rock mais leve e experimental de Hunky Dory, o disco “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” (1972) foi lançado em junho. E “Starman”, divulgada como canção principal do álbum, fez com que o Reino Unido focasse todos seus olhos em Bowie: ambos o single e o LP atingiram o topo rapidamente. O álbum, que permaneceria nas paradas por dois anos, logo se juntou ao Hunky Dory, que agora fazia seis meses de idade. Ao mesmo tempo, as canções “John, I’m Only Dancing” e “All the Young Dudes”, escrita e produzida para Mott the Hoople, tornaram-se um grande sucesso a começar pelo seu país. A “Ziggy Stardust Tour” continuou pelos Estados Unidos da América.
                O biógrafo Chritopher Sandford (1998) comenta: “Ao longo dos anos, a maioria dos roqueiros britânicos tentaram, de uma forma ou de outra, tornarem-se negros por extensão. Poucos tinham se sucedido tão bem como Bowie”. A levada do álbum, que o cantor chamou de “plastic soul”, constituiu uma mudança radical no estilo que, inicialmente, alienou muitos de seus devotos do Reino Unido. Young Americans trouxe a primeira canção de Bowie a atingir no ranking a primeira posição nos EUA, “Fame”, escrita em parceria com John Lennon, que também contribuiu com backing vocals, e Carlos Alomar. Distinguindo-se como um dos primeiros artistas brancos a aparecer no programa de variedades norte-americano Soul Train, Bowie cantou “Fame” e “Golden Years”, seu single de outubro. O disco foi um sucesso comercial nos Estados Unidos da América e no Reino Unido e, aproveitando tal prestígio, as gravadoras relançaram “Space Oddity” de 1969, que então veio a ser a primeira canção do artista a atingir a primeira posição no Reino Unido, meses depois de “Fame” alcançar o mesmo nos Estados Unidos da América.
           O lançamento de “Station to Station” em janeiro de 1976 foi seguido em fevereiro por uma turnê de três anos e meio pela Europa e América do Norte. Apresentando todas as faixas do disco, também destacou as canções do álbum, incluindo a dramática e longa canção-título “Station to Station”, as baladas “Wild Is the Wind” e “Word on a Wing”, além dos funks “TVC 15” e “Stay”. A banda que tocou no disco e na turnê consistia do guitarrista Carlos Alomar, baixista George Murray, e baterista Dennis Davis-que continuariam como unidade estável e criativa pelos próximos anos da década. A turnê logrou êxito, mas foi cercada por controvérsias político-ideológicas negativas. 
            Em 1980, foi lançado o álbum “Scary Monsters” (and Super Creeps), trazendo a canção “Ashes to Ashes”, que alcançou o primeiro lugar nas paradas. A canção revisitava o personagem Major Tom de "Space Oddity". O videoclipe da canção foi um dos mais caros e também um dos mais inovadores de todos os tempos. Embora esse disco utilizasse princípios estabelecidos pela trilogia de Berlim, foi considerado pelos críticos como muito mais direto musical e liricamente. Ele teve contribuições de guitarristas como Fripp, Pete Townshend, Chuck Hammer e Tom Verlaine. Com “Ashes to Ashes” atingindo o topo das paradas britânicas, Bowie abriu uma apresentação de três meses no Teatro Broadway em 24 de setembro, estrelando na peça “O Homem Elefante”. Em 1981, Bowie encontrou-se com a banda Queen e ambos realizaram um single, “Under Pressure”, retratando a pressão social. Bowie atingiu novo pico de popularidade e sucesso comercial em 1983 com o disco “Let`s Dance”, que também o fez cativar uma nova audiência. Coproduzido por Nile Rodgers da banda “Chic”, o álbum ganhou disco de platina no Reino Unido e nos Estados Unidos da América.
Seus três singles principais tornaram-se um dos vinte maiores sucessos nestes países, e sua faixa-título alcançou a primeira posição. “Modern Love” e “China Girl” alcançaram a segunda posição no Reino Unido, como escreve o biógrafo David Buckley, “foram totalmente absorventes e ativaram arquétipos fundamentais no mundo pop”.  O vídeo clipe para “Let`s Dance”, com sua narrativa em torno do jovem casal de aborígenes, tinha como público alvo a juventude, e China Girl, com sua cena que depois foi parcialmente censurada de um namoro nu na praia, homenageando o filme: “A Um passo da Eternidade”, foi sexualmente provocante o bastante para que garantisse sua alta frequência na MTV. Em 1983, Bowie surgia como um dos artistas de videoclipes mais importantes da época. “Let`s Dance” seguiu-se com uma turnê mundial chamada “Serious Moonlight Tour”, durante o qual Bowie recebia contribuições de Earl Slick na guitarra e Frank e George Simms no backing vocal. A viagem musical durou seis meses e foi extremamente popular. Em “Tonight” (1984), outro álbum dançante, trouxe Tina Turner cantando com Bowie na faixa-título, que foi escrita com o amigo Iggy Pop. O disco também trazia covers, como “God Only Knows” dos Beach Boys (1966), e a canção “Blue Jean”, baseada no curta-metragem “Jazzin` for Blue Jean”, garantiu a Bowie o Grammy Award for Best Short Form Music Video.
          David Bowie compôs a trilha sonora de Omikron em 1999, um jogo de computador em que ele e a esposa Iman também aparecem como personagens. O álbum “hours”, lançado neste mesmo ano, e contendo algumas faixas regravadas do jogo, trazia uma canção, “What`s Really Happening?”, musicada com Reeves Gabrels, com letra escrita pelo vencedor do concurso via internet “Cyber Song Contest”, disponível no site oficial de Bowie; o vencedor foi o fã Alex Grant. Utilizando instrumentos tradicionais e um som pesado, o disco marcou o fim dos experimentos de Bowie com a música eletrônica. Em 2000, ele iniciou um álbum que chamaria “Toy”, com novas versões de algumas de suas primeiras canções e mais três novas músicas, mas o projeto nunca foi lançado. Em vez disso, Visconti continuou trabalhando em estúdio com Bowie e, um ano depois, o resultado das gravações foi um álbum inteiramente de canções originais: “Heathen”, de 2002. Sua filha com Iman, Alexandria Zahra Jones, nasceu em 15 de agosto.
Em outubro de 2001, Bowie abriu o Concerto para a Cidade de Nova Iorque, evento de caridade em benefício às vitimas dos Ataques de 11 de setembro, com uma versão minimalista e misteriosa da canção “América” de Simon and Garfunkel, que se seguiu com “Heroes”, tocada com uma banda. Em 2002, “Heathen” foi lançado e, durante o segundo semestre do ano, ele realizou a turnê “Heathen Tour” em cidades europeias e da América do Norte. Sua abertura ocorreu no Meltdown, festival anual de Londres, e, por isso, naquele mesmo ano, Bowie foi apontado diretor artístico do evento. Entre os artistas que selecionou para o festival estavam Philip Glass, Television e The Polyphonic Spree. Além de canções, a turnê também trazia materiais de Low.
Em 2003, lançou “Reality”, disco com humor e melancolia, que reflete sobre toda sua carreira e que, na faixa-título, proclame e ordena: “Acertei, errei/estou de volta ao começo/procurei um sentido e não cheguei a nada/Hey garoto, bem-vindo à realidade”. A Reality Tour o fez viajar pela Europa, EUA, Canadá, Nova Zelândia, Austrália e Japão, com uma audiência estimada em 722.000 mil, arrecadando uma quantia superior a qualquer outra turnê de 2004. Apresentando-se em Oslo, Noruega, em 18 de junho, foi atingido no olho por um pirulito atirado por um fã e, uma semana depois, enquanto se apresentava no palco do Hurricane Festival em Scheeßel, Alemanha, sentiu fortes dores no peito, e a apresentação foi interrompida. Foi diagnosticada uma séria obstrução numa artéria e ele passou por uma angioplastia de emergência em Hamburgo. As 14 apresentações restantes da turnê foram canceladas. Até agora, “Reality” foi seu último disco de inéditas até o lançamento de “The Next Day” em 8 de março de 2013,e a turnê foi a última em que ele se apresentou.
Recuperado da cirurgia cardíaca, diminuiu sua produção musical pela primeira vez em vários anos. Apareceu de vez em quando nos palcos e nos estúdios. Em 2004, cantou “Changes” num dueto com Butterfly Boucher para a animação cinematográfica Shrek 2. Durante o ano de 2005, que se seguiu calmo em sua agenda, gravou vocais em “(She Can) Do That”, em coautoria com Brian Transeau, para o filme “Stealth”. Retornou aos palcos em 8 de setembro, junto ao Arcade Fire, num evento televisionado nos EUA chamado Fashion Rocks, e tocou com a banda canadense pela segunda vez uma semana depois, durante o CMJ Music Marathon. Contribuiu com vocais na canção “Province” dos TV on the Radio no álbum Return to Cookie Mountain, gravou um comercial da XM Satellite Radio com Snoop Dogg, e participou com o amigo de longa data Lou Reed, do álbum “No Balance Palace” (2005) da Kashmir. 
         David Bowie foi premiado com o Grammy Lifetime Achievement Award em 8 de fevereiro de 2006, que só é concedido a “músicos que, durante suas vidas, deram contribuições criativas de importância artística excepcional no campo da gravação”. Em abril, anunciou: “Estou dando um tempo a turnês e discos”. Em 29 de maio, contudo, fez uma aparição surpresa no concerto de David Gilmour no Royal Albert Hall de Londres. O evento foi filmado e, logo em seguida, foi lançada uma seleção das canções em que ele participou. Sua última apresentação nos palcos se deu em novembro do mesmo ano, quando cantou ao lado de Alicia Keys no Black Hall, um evento beneficente de Nova Iorque para a organização Keep a Child Alive. Em 2007, Bowie foi escolhido para a curadoria do High Line Festival, selecionando músicas e artistas do evento de Manhattan, e participou do álbum de 2008, “Anywhere I Lay My Head”, de Scarlett Johansson, exclusivamente de regravações de Tom Waits. Para os 40 anos de aniversário do primeiro pouso na Lua e também o também para o aniversário de seu primeiro sucesso, “Space Oddity”, a EMI lançou faixas individuais da gravação original da canção em 2009, num concurso que convidava os fãs a criaram um remix

O reconhecido Reality Tour, álbum duplo com cenas ao vivo de sua turnê de 2003, foi lançado em janeiro de 2010. Em 8 de Janeiro de 2013, foi confirmado pela página do artista um lançamento de “The Next Day”. O primeiro single, “Where Are We Now” foi disponibilizado à venda para download no mesmo dia. Em 2015 foi anunciado que lançaria “Blackstar” influenciado pelo krautrock, assim como seu material passado. O “The Times” ainda prognosticou que o álbum será provavelmente o trabalho mais bizarro produzido por Bowie. Em 8 de janeiro de 2016 lançou o álbum Blackstar, cujo nome é representado socialmente através de apenas uma estrela negra, estilizado como negroide. É seu vigésimo sétimo álbum de estúdio, considerado pela crítica como uma obra-prima. é o vigésimo quinto e último álbum de estúdio, lançado em 8 de janeiro de 2016, no sexagésimo nono aniversário do músico e dois dias antes de sua morte. Sua doença não tinha sido revelada ao público até então. Coprodutor Tony Visconti descreveu o álbum como um canto do cisne planejado de Bowie e um “presente de despedida” para seus fãs antes de sua morte. Após o lançamento, o álbum foi recebido com aclamação da crítica e sucesso comercial, no topo das paradas em vários países após a morte de Bowie, e transformou-se no único álbum de Bowie no topo do Billboard 200 nos Estados Unidos da América. O álbum permaneceu na posição do número 1 nas paradas de sucesso britânicas por três semanas.  O disco contém sete faixas com influências de jazz. Duas delas são o single Blackstar, lançado em 20 de novembro de 2015, e a canção Sue (Or in a Season of Crime), parte da coletânea Nothing Has Changed (2014). A revista portuguesa Blitz considerou Blackstar como sendo o melhor álbum internacional de 2016.

Bibliografia geral consultada.

JACQUES, Elliott, Teoria Generale della Burocrazia. Turim: Edizione Isedi, 1979; ADORNO, Theodor, Dialética do Esclarecimento: Fragmentos Filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985; CHAUÍ, Marilena, Repressão Sexual. Essa nossa (des) conhecida. 10ª edição. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987; GIDDENS, Anthony, As Consequências da Modernidade. São Paulo: Editora da Unesp, 1991; RIESMAN, David, A Multidão Solitária. São Paulo: Editora Perspectiva, 1995; CANETTI, Elias, Massa e Poder. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1995; TREMLETT, George, David Bowie: Living on the Brink. Londres: Carroll and Graf, 1997; SANDFORD, Christopher, Bowie: Loving the Alien Paperback. Londres: Da Capo Press Editors, 1998; WELCH, Chris, David Bowie: We Could Be Heroes: The Stories Behind Every David Bowie Song. Londres: Da Capo Press Editors, 1999; BUCKLEY, David, Strange Fascination - David Bowie: The Definitive Story. London: Editor Virgin, 2000; PEGG, Nicholas, The Complete David Bowie. London: Reynolds & Hearn Editors, 2004; WALDREP, Shelton, Phenomenology of Performance, The Aesthetics of Self-Invention: Oscar Wilde to David Bowie. Minnesota: University of Minnesota Press, 2004; RAMOS, Isabel Patrícia da Silva Fidalgo Batista, O Eu e o Outro: Dr. Jekyll Vs Mr. Hyde - David Bowie Vs Ziggy Stardust. Dissertação de Mestrado em Estudos Ingleses. Lisboa: Universidade Aberta, 2005; DURKHEIM, Émile, Da Divisão do Trabalho Social. 4ª edição. São Paulo:  Editora Martins Fontes, 2010; SPITZ, Marc, Bowie. A Biografia. São Paulo: Editora Benvirá, 2010; DIDI-HUBERMAN, Georges, O Que Nós Vemos, O Que Nos Olha. Porto: Dafne Editora, 2011; RODRIGUES, Sandro Eduardo, Modulações de Sentidos na Experiência Psicotrópica. Tese de Doutorado. Departamento de Psicologia. Instituto de Ciências Humanas e Filosofia. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2014; YARCK, Bianca Tulio, A Cenografia em Exposições Itinerantes: Um Estudo de Caso da Exposição “David Bowie Is”. Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização em Cenografia. Curitiba: Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2016; COURTINE, Jean-Jacques; HAROCHE, Claudine, História do Rosto: Exprimir e Calar as Emoções: (do século 16 ao século 19). Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2016; entre outros.

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Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais do Centro de Humanidades da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

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