“Todo cearense é filho da Padaria Espiritual” . Selma Santiago
O
Dia do Panificador foi criado em homenagem à Santa Isabel de Portugal, reconhecida
popularmente como a “padroeira dos padeiros”. De acordo com a lenda, mito ou
oralidade durante o século XIV, Portugal enfrentava uma intensa crise e as
pessoas passavam muita fome. A crise do século XIV designa uma série de eventos
ocorridos ao longo dos séculos XIV e XV que deterioraram o crescimento e
prosperidade que a Europa havia desenvolvido desde o começo da Baixa Idade
Média. O colapso demográfico, a instabilidade política e as revoltas religiosas
estão na origem das crises que provocaram alterações profundas em todas as
áreas da sociedade. Para ajudar os menos afortunados, a rainha de Portugal,
Isabel de Aragão, distribuía anonimamente pães para os pobres. Certo dia, quando
a rainha se preparava para distribuir os pães, o rei D. Dinis I interceptou-a e
exigiu que ela demonstrasse “o que escondia no seu avental”. A rainha respondeu
que levava rosas, mas o rei não acreditou e pediu para que Isabel revelasse o
conteúdo misterioso. Ao abrir o avental, várias rosas caíram ao chão e começaram a gritar: “Milagre! Milagre”. A crise iniciou a
decadência das universidades e escolas medievais e, per se o
progresso científico que estava florescendo.
A
medicina quase desviou-se da prática metodológica para ceder às superstições e
medos que se deram per se com a Peste e a Grande Fome. A cultura de
higiene que havia se disseminado através dos monges herbalistas se extingue e a
medicina atribui a causa da peste à água que se tornou cada vez mais escassa em
seu estado potável devido às fortes chuvas. Logo, há redução no número de
banhos e o início de uma era de ensebamento no século XV. Causada por
diversos motivos políticos, a crise teve origem na escassez de novas terras a
serem ocupadas, fazendo com que a produção não crescesse, uma vez que no
sistema feudal uma maior produção significava a anexação de novas terras. Com a
produção estagnada e uma população maior, a fome se espalhou pela Europa. Além
disso, a destruição das florestas e do meio ambiente ocorrida durante o século
XII causou sérias mudanças climáticas, com severas chuvas. Em 1212, a jovem
Clara de Assis seguiu o exemplo de São Francisco de Assis dentro da clausura e
contemplação de pobreza evangélica, no Convento de São Damião, sob a orientação conjunta de Santa Clara e de São Francisco, e que contou sempre com a solidariedade dos Frades Menores.
A ordem depressa se estendeu por toda a Europa e constitui hoje, com cerca de 1 500 mosteiros em todos os continentes, a ordem de clausura mais numerosa em toda a Igreja. Em 2012 a ordem contava com cerca de 20 mil Clarissas em mais de setenta países. As Irmãs Clarissas chegaram a Portugal pouco depois da morte de Santa Clara, em 1254. A primeira comunidade instalou-se em Lamego, passando em 1259 para Santarém. A Europa devastada pela fome, estava mais vulnerável a doenças como a Peste negra. Para agravar a situação existiam constantes guerras, a mais conhecida foi a Guerra dos Cem Anos que causou uma grande queda demográfica. Como havia menos pessoas para trabalhar, os nobres impuseram uma maior carga de trabalho sobre os camponeses, e gerou revoltas populares como a Jacquerie e a camponesa de 1381.
A
revolta dos camponeses foi alimentada pela agitação econômica e social do
século XIV. A maioria dos ingleses trabalhava na economia rural que alimentava
as vilas e cidades do país e apoiava um extenso comércio internacional. Em
grande parte da Inglaterra, a produção era organizada em torno de feudos,
controlados por senhores locais, incluindo a nobreza e a Igreja e governada
através de um sistema de cortes senhoriais. Parte da população era de servos
sem liberdade, que trabalhavam nas terras de seus senhores por um período a
cada ano, embora o equilíbrio entre livres e não livres variasse em toda a
Inglaterra, e no Sudeste houvesse relativamente poucos servos. Alguns nascidos
sem liberdade e não podiam deixar seus feudos para trabalhar em outro lugar sem
o consentimento do senhor; outros aceitavam limitações à sua liberdade como
parte do contrato de posse de suas terras agrícolas. O crescimento da população
levou a pressão sobre as terras agrícolas disponíveis, aumentando o poder dos
proprietários.
Em 1348, a praga reconhecida como Peste Negra atravessou a Europa continental para a Inglaterra, matando rapidamente cerca de 50% da população. Após um período inicial de choque econômico, a Inglaterra começou a adaptar-se à mudança da situação econômica. A taxa de mortalidade entre os camponeses significava que a terra era relativamente abundante e a mão de obra era muito menor. Os trabalhadores podiam cobrar mais por seu trabalho e, na consequente competição por trabalho, os ordenados eram levemente elevados. Por sua vez, os ganhos dos proprietários de terras foram corroídos. O comércio e as redes comerciais e financeiras nas cidades se desintegraram. As autoridades responderam ao caos com uma legislação de emergência; a Portaria dos Trabalhadores aprovada em 1349 e o Estatuto dos Trabalhadores em 1351. Tentava-se fixar os ordenados aos níveis anteriores à praga, “tornando crime recusar o trabalho ou quebrar um contrato existente, aplicando multas àqueles que transgredissem”. O sistema foi aplicado inicialmente através de juízes especiais de trabalhadores e, a partir da década de 1360, através dos Juízes de Paz normais, tipicamente membros da nobreza. Embora, em teoria, essas leis se aplicassem aos trabalhadores que buscavam ordenados mais altos e aos empregadores tentados a oferecer mais que seus concorrentes aos trabalhadores, na prática eram aplicadas apenas a trabalhadores e, então, de maneira bastante arbitrária. A legislação foi reforçada em 1361, com as penas aumentadas para incluir marcas e prisões. O governo real não havia intervindo dessa maneira anteriormente, nem se aliado aos proprietários destas localidades de uma maneira tão óbvia ou impopular.
Nas décadas seguintes, aparentemente aumentaram as oportunidades econômicas para o campesinato inglês. Os trabalhadores assumiram empregos especializados que anteriormente lhes eram barrados e outros mudaram de empregador para empregador, ou tornaram-se empregados em famílias mais ricas. Essas mudanças foram intensamente sentidas no sudeste da Inglaterra, onde o mercado de Londres criou uma ampla gama de oportunidades para agricultores e artesãos. Os senhores tinham o direito de impedir que os servos deixassem seus feudos, mas quando os servos se viram bloqueados nas cortes senhoriais, muitos simplesmente saíram para trabalhar ilegalmente em outros feudos. Os ordenados continuaram a subir e, entre as décadas de 1340 e 1380, o poder de compra dos trabalhadores aumentou em cerca de 40%. À medida que a riqueza das classes subalternas aumentou, o Parlamento adotou novas leis em 1363 para impedir que consumissem mais, anteriormente acessíveis apenas à elite. Essas leis suntuárias se mostraram inexequíveis, mas as leis trabalhistas mais amplas continuaram a ser aplicadas com firmeza
Em Portugal a crise geral na ordem política amplificava os efeitos de poder que representavam demográfica e economicamente, mas também historicamente uma crise de sucessão de 1383-1385. D. Fernando faleceu, deixando como sua única herdeira, Beatriz, de Portugal, casada com João I de Castela. Se fosse nomeada para governar Portugal, o reino correria sérios riscos de perder a sua Independência, numa situação que não agradava a parte da população. Deste modo, as opiniões dividiram-se: por um lado o povo, a baixa nobreza e a burguesia que apoiavam o Mestre de Avis, que viria a tornar-se João I de Portugal e a Independência de Portugal, por outro, parte da nobreza e clero apoiavam Dona Beatriz. Depois de Mestre de Avis ter assassinado o Conde Andeiro e se ter autoproclamado Rei, tiveram lugar várias batalhas entre portugueses e castelhanos, sendo os exércitos portugueses comandados por D. Nuno Álvares Pereira e obtendo vitórias, como por exemplo, na Batalha dos Atoleiros. Mas só nas Cortes de Coimbra é que o Mestre de Avis, defendido por D. João das Regras, foi aclamado publicamente Rei de Portugal, D. João I, tendo assim proclamado o início à Dinastia de Avis.
A revolta camponesa de 1381, também chamada Revolta de Wat Tyler ou o Grande Levante, representou uma grande revolta em grande parte reconhecida da Inglaterra em 1381. O evento teve várias causas, incluindo tensões socioeconômicas e políticas geradas pela Peste Negra na década de 1340, os altos impostos resultantes do conflito com a França durante a chamada Guerra dos Cem Anos e a instabilidade na liderança local de Londres. O estopim da revolta foi a intervenção de um oficial real, John Brampton, em Essex, em 30 de maio. Suas tentativas de cobrar o imposto por cabeça não pago em Brentwood terminaram em um confronto violento, que se espalhou rapidamente pelo sudeste do país. Um amplo espectro da sociedade rural, incluindo muitos artesãos e oficiais de aldeia, levantou-se em protesto, queimando registros judiciais e abrindo as prisões. Os rebeldes exigiram redução na tributação, o fim no sistema de trabalho não livre da servidão e a remoção dos altos funcionários e cortes do rei. Inspirados pelos sermões do clérigo radical John Ball e liderados por Wat Tyler, um contingente de rebeldes de Kent avançou em Londres. Foram recebidos em Blackheath por representantes da realeza, que sem sucesso tentaram convencê-los a voltar para casa.
O
rei Ricardo II, então com 14 anos, retirou-se para a segurança da Torre de
Londres, mas a maioria das forças reais estava no exterior ou no norte da
Inglaterra. Em 13 de junho, os insurretos entraram na capital e, unidos por
muitas pessoas da cidade, atacaram as prisões, destruíram o Palácio Savoy,
incendiaram livros de direito e edifícios em Temple e mataram qualquer pessoa
associada ao governo real. No dia seguinte, Ricardo encontrou os rebeldes em
Mile End e aderiu à maioria de suas demandas, incluindo a abolição da servidão.
Enquanto isso, os revoltosos entraram na Torre de Londres, matando o Lorde
Chanceler e o Lorde Tesoureiro, que encontraram lá dentro. Em 15 de junho, o
rei deixou a cidade para encontrar Tyler e os rebeldes em Smithfield. A
violência eclodiu, e o grupo de Ricardo matou o líder. Ele neutralizou a
situação tensa por tempo suficiente para o prefeito de Londres, William
Walworth, reunir uma milícia da cidade e dispersar as forças rebeldes. Ricardo
imediatamente começou a restabelecer a ordem em Londres e rescindiu suas
concessões anteriores aos revoltosos.
A insurreição também se espalhou para a Anglia Oriental, onde a Universidade de Cambridge foi atacada e muitas autoridades reais foram mortas. A agitação continuou até a intervenção de Henrique Despenser, que derrotou um exército insurreto na Batalha de North Walsham, em 25 ou 26 de junho. Os problemas estendiam-se para o norte, até Iorque, Beverley e Scarborough e até Oeste de Bridgwater, em Somerset. O rei mobilizou 4 mil soldados para restaurar a ordem. A maioria dos líderes rebeldes foram rastreados e executados; até novembro, pelo menos 1 500 rebeldes foram mortos. A revolta dos camponeses tem sido amplamente estudada por acadêmicos. Os historiadores do final do século XIX usaram uma variedade de fontes de cronistas contemporâneos para reunir um relato do evento, e estas foram complementadas no século XX por pesquisas usando registros judiciais e arquivos locais. As interpretações da revolta mudaram ao longo dos anos. Outrora vista como um momento decisivo na história inglesa, os acadêmicos modernos têm menos certeza de seu impacto na história social e econômica subsequente. Ela influenciou fortemente o curso da Guerra dos Cem Anos, impedindo os parlamentos posteriores de aumentar impostos adicionais para pagar campanhas militares na França. A revolta tem sido utilizada na literatura socialista, inclusive William Morris, e continua a ser um símbolo político potente para a esquerda política, baseando os argumentos em torno da adoção do Imposto Comunitário posterior no Reino Unido durante os anos 1980.
Nos
jornais produzidos aos domingos pelo movimento, intitulado “O Pão”, era
proibido usar palavras ou citar nomes de animais estrangeiros, o que
demonstrava uma postura radicalmente nacionalista. Segundo o Estatuto da
Padaria Espiritual, o clero, a polícia e os alfaiates eram considerados
inimigos naturais dos “padeiros”. - “Todo cearense é filho da Padaria
Espiritual”, ressalta Selma Santiago. Por isso, durante o sarau literário,
poetas e músicos tiveram a chance de relembrar e divulgar produções literárias
cearenses. “Essa abertura é de fundamental importância e se soma ao movimento
dos Poetas da Praça do Ferreira, fundado há quase 27 anos”, acrescenta o poeta
Marcos Antônio de Abreu. A Padaria Espiritual prosseguiu ativa até dezembro de
1898. Entre os principais sócios, conhecidos como “amassadores”, estavam:
Rodolfo Teófilo, Antônio Sales, Capistrano de Abreu, Tibúrcio de Freitas,
Álvaro Martins e Temístocles Machado.
Em
torno do governador Manoel Inácio de Sampaio, ocorrido de 1813 a 1817,
reuniam-se poetas que formavam os Oiteiros. A estética em torno desse período
referia-se ao neoclassicismo, ou arcadismo, e entre esses versejadores estavam
Pacheco Espinosa, Costa Barros, Castro e Silva, e outros. Pelo fato de se terem
guardado apenas textos de louvor ao governante, afinal, eram manuscritos que
estavam no Palácio de governo, Silvio Júlio, em Terra e povo do Ceará
(1936), disse “horrores” desses poetas. Mas Dolor Barreira, principalmente em
sua História da literatura cearense (1948), compreendeu que, bem ou mal,
os versos dos Oiteiros “representavam o alvorecer das letras em nossa
Província”. Depois de um período um tanto incaracterístico, no que toca a
estilos literários, veio Juvenal Galeno, em 1856, com os Prelúdios poéticos, o que viria com mais força em seu livro principal, Lendas e Canções Populares (1865), aparecido no mesmo ano em que, no Rio de Janeiro, José de
Alencar publicava Iracema.
O ultrarromantismo ou bayronismo, teve, na década de 1870, suas vozes maiores com Joaquim de Sousa, que espalhava seus versos no Jornal da Mocidade (1876), e Barbosa de Freitas, cujos poemas musicados e cantados em serenatas, sendo populares por muitos anos. Em 1873, surgiu um grêmio que era mais filosófico do que literário, batizado por um de seus membros, menos por gracejo, e de fato pela influência que já se anunciava no processo de formação da intelligentzia, do russo: интеллигенция, do latim: intelligenstia de “Academia Francesa”. Erguia a bandeira do positivismo e contava com nomes de peso, como Rocha Lima, Tomás Pompeu, Capistrano de Abreu, João Lopes e outros. Combatiam o Romantismo, apesar de um deles, Araripe Junior que haveria de ser um dos grandes críticos realistas, escrever romances na escola de Alencar, entre outros, O Ninho do beija-flor (1874). Como não tinham lugar na imprensa conservadora alguns de seus componentes escreviam no jornal maçom Fraternidade.
NOVAIS, Fernando Azevedo, Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colinial. 4ª edição. São Paulo: Editora Hucitec, 1986; BERTAUX, Daniel e BERTAUX-WIAME, Isabelle, Mistérios da Baguete: Padarias Artesanais na França: como vivem e por que sobrevivem. São Paulo: Novos Estudos Cebrap, nº l9, l987; BARANDA, Nieves, “Matéria para el Espiritu. Tierra Santa, gran Relíquia de las Peregrinações”. In: Via Spiritus, nº 8, pp. 7-29; 2001; ALENCAR, Manoel Carlos Fonseca de, Adolfo Caminha e Rodolfo Teófilo: A Cidade e o Campo na Literatura Naturalista Cearense. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós- Graduação em História. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2002; BERNARDINO, Amós, Padeiros-Educadores: coisas que o tempo levou (1875-1900). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2005; CARDOSO, Gleudson Passos, Padaria Espiritual. Biscoito Fino e Travoso. 2ª edição. Museu do Ceará. Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, 2006; Idem, ´Bardos da Canalha. Quaresma de Desalentos`. Produção Literária de Trabalhadores em Fortaleza na Primeira República. Tese de Doutorado. Departamento de História. Instituto de Ciências Humanas e Filosofia. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2009; COSTA FILHO, Cicero João da, A Padaria Espiritual: Cultura e Política em Fortaleza no Final do Século XIX (1892-1898). São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2007; FERREIRA, Álvaro Mendes, Formas de Apreensão do Espaço em Portugal no Contexto da Expansão Ultramarina (séculos XV-XVI). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduaçao em História. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2010; BRITO, Luciana da Cruz, O Pão (1892-1896): Veículo de Divulgação Literária e Instrumento de Intervenção na Realidade Social Cearense. Tese de Doutorado em Letras. Faculdade de Ciências e Letras. Assis: Universidade Estadual Paulista, 2008; Idem, Impressões Norte-Americanas sobre Escravidão, Abolição e Relações Raciais no Brasil Escravista. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2014; FUNES, Eurípedes Antônio, “Negros no Ceará”. In: SOUZA, Simone (Org.), Uma Nova História do Ceará. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2015; entre outros.
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