Amedeo Modigliani - Notas Sobre Arte, Paixão e Morte.
Ubiracy
de Souza Braga*
“Il futuro dell`arte è nel volto di una donna!”. Amedeo Modigliani
Para meu grande amor Giuliane de
Alencar Braga
Amedeo Modigliani nasceu em uma família judia, em Livorno, Itália. Seu trisavô materno, Solomon Garsin, emigrara de Túnis para Livorno no século XVIII. Os Garsin eram originários da Espanha, onde haviam sido expulsos (cf. Fucs, 2008), no final do século XV, transferindo-se para Túnis. Depois para Livorno, onde nasceu o bisavô materno de Amedeo Mogigliani, Giuseppe Garsin - filho de Salomon Garsin e de Régine Spinoza. Já a família paterna, os Modigliani, era provavelmente oriunda de Modigliana, perto de Forli, na região da Romagna. Antes de se estabelecerem em Livorno, teriam vivido em Roma, onde exploravam uma casa de penhores. Segundo Jeanne Modigliani, certo Emanuele Modigliani teria sido encarregado pelo governo pontifical de fornecer o cobre necessário às emissões extraordinárias de moedas dos dois ateliês pontificais. Posteriormente, não obstante uma “lei racídica”, na interpretação de Pierre Bourdieu, (1998) dos Estados Pontifícios que proibia a posse de terras por judeus, Emanuele teria adquirido um vinhedo nas encostas do Albani, sendo, logo em seguida, obrigado pelas autoridades a se desfazer da vinha. Inconformado, ele teria então deixado Roma, com toda a sua família, para se instalar em Livorno, em 1849. Naquele mesmo ano, Giuseppe Garsin, depois de reveses nos negócios, decide deixar Livorno e segue, com a mulher, Anna Moscato com o filho, Isaac, para Marselha onde foi bem-sucedido. Amedeo tinha apenas dez anos quando o avô faleceu, em 1894. Abalado por essa perda, o menino fechou-se em si mesmo, adoecendo algum tempo depois e não sendo aprovado nos exames escolares. Sua vida é marcada pelos estigmas: da pobreza, doenças, alcoolismo que se em consomem drogas e turbulentas aventuras amorosas.
Amedeo Modigliani nasceu em uma família judia, em
Livorno, Itália. Seu trisavô materno, Solomon Garsin, emigrara de Túnis para
Livorno no século XVIII. Os Garsin eram originários da Espanha, onde haviam
sido expulsos (cf. Fucs, 2008), no final do século XV, transferindo-se para
Túnis. Depois para Livorno, onde nasceu o bisavô materno de Amedeo Mogigliani,
Giuseppe Garsin - filho de Salomon Garsin e de Régine Spinoza. Já a família
paterna, os Modigliani, era provavelmente oriunda de Modigliana, perto de
Forli, na região da Romagna. Antes de se estabelecerem em Livorno, teriam
vivido em Roma, onde exploravam uma casa de penhores. Segundo Jeanne Modigliani, certo Emanuele Modigliani
teria sido encarregado pelo governo pontifical de fornecer o cobre necessário
às emissões extraordinárias de moedas dos dois ateliês pontificais.
Posteriormente, não obstante uma “lei racídica” (cf. Bourdieu, 1998) dos
Estados Pontifícios que proibia a posse de terras por judeus, Emanuele teria
adquirido um vinhedo nas encostas do Albani, sendo, logo em seguida, obrigado
pelas autoridades a se desfazer da vinha. Inconformado, ele teria então deixado
Roma, com toda a sua família, para se instalar em Livorno, em 1849. Naquele
mesmo ano, Giuseppe Garsin, depois de reveses nos negócios, decide deixar
Livorno e segue, com a mulher, Anna Moscato com o filho, Isaac, para Marselha
onde foi bem-sucedido. Amedeo tinha apenas dez anos quando o avô faleceu, em
1894. Abalado por essa perda, o menino fechou-se em si mesmo, adoecendo algum
tempo depois e não sendo aprovado nos exames escolares. Sua vida é marcada
pelos estigmas, da pobreza, doenças, alcoolismo que se em consomem drogas e
turbulentas aventuras amorosas.
Desnecessário dizer que, pari pasu convive com a paixão que desperta em todos ao seu redor
e, é constantemente admirado pelo seu espírito incomum. Modigliani não é
rotulado felizmente como pertencendo a nenhum movimento de sua época (cf. Carco, 1924; W. George, 1925; Wlammik,
1925; Salomon, 1926; Scheiwiller, 1927; Thieme-Becher, 1930; Venturi, 1930;
Guzzi, 1931; Guerrisi, 1932) e, por outro lado, também não representa uma continuidade
das escolas anteriores, ele é único.
Declara-se influenciado pelos clássicos e, vive a busca incessante na arte
através da “Beleza” em sua “Forma Pura”. Chamam atenção suas figuras de pescoços alongados, influência das máscaras africanas, a qual utiliza para ressaltar as
diferenças de caráter. Ao mesmo tempo, uma de suas poesias preferidas
intitula-se “Beleza”, de Charles Baudelaire. O conceito de paixão, segundo
Lebrun, abrange dois significados distintos. O primeiro e, mais utilizado
decorre da palavra grega pathos,
compreendido como “patológico”, onde o apaixonado “é um ser passivo, dominado
pela paixão”, que na visão dos estoicos precisa ser extirpada. Para eles, a
paixão, é uma doença que leva o homem a atos incontroláveis. Pathos, no sentido mais profundo e
abrangente significa força, seja na representação
da política em Maquiavel através das lentes de Fritz Lang,
seja na da filosofia, comparativamente, em
Nietzsche nas lentes de Pinchas Perry.
“Nel 1906 si stabilì a Parigi,
dove fu a contatto dei gruppi d`avanguardia e specialmente dei fauves. Nel 1909
conobbe C. Brâncuşi, la cui amicizia fu molto importante anche per
l`orientamento, pur se di breve durata, che M. ne ebbe verso la scultura e
verso l'arte arcaica e l`arte negra. Nel 1918 cominciò ad aggravarsi lo stato
tubercolotico che lo portò alla morte, due anni dopo, nell`ospedale della
Charité di Parigi. La sua breve vita fu misera e tormentata; le sue opere,
vendute per pochi soldi sotto l`assillo del bisogno, raggiunsero, dopo la sua
morte, prezzi altissimi e furono molto ricercate da gallerie pubbliche e da
collezionisti di Europa e d`America”.
Neste caso o ser humano aprende a conviver com as
paixões. Razão e paixão são componentes do seu ser, são elementos constitutivos
de sua saúde mental. Como lembra Lebrun, na voz de Hegel: “Nada de grande se
faz sem paixão”. Preocupada e esperando que a arte conseguisse tirá-lo da
apatia em que se encontrava, sua mãe permite que ele tenha aulas de desenho. No
liceu onde estudavam, os professores percebiam sua forte inclinação para essa
área. Na infância, Amedeo sofreu de diversas doenças graves - pleurisia, tifo e
tuberculose -, que comprometeram sua saúde pelo resto da vida e cujo tratamento
forçava-o a constantes viagens, até sua mudança definitiva para Paris, em 1906.
Também por causa da saúde precária não recebeu educação formal. Voltou-se para
o estudo da pintura, iniciado na cidade natal, que prosseguiu em Veneza e
Florença. Teve uma estreita relação com sua mãe, que lhe deu aulas até que ele
completasse dez anos. Depois começou a desenhar e pintar precocemente, antes
mesmo de ir para a escola. Com quatorze anos, durante uma crise de febre tifoide,
quando ele delirava falava que queria acima de tudo ver as pinturas no Palazzo
Pitti e nos Uffizi, em Florença.
“I suoi primi quadri risentono
dell`influenza di Picasso, di Toulouse-Lautrec. Nel 1908 espose agli
Indépendants opere nettamente ispirate a Cézanne. Ma dello stesso anno è il
Violoncellista, primo quadro in cui comincia ad esprimersi la sua personalità
in maniera autonoma. Le sculture che espose agli Indépendants nel 1912, teste
allungate dalla bellezza angolosa e secca, mostrano anche un allargamento delle
sue esperienze verso l`arte arcaica e l`arte negra. Dal 1913, lasciata la
scultura, si dedicò esclusivamente alla pittura, dipingendo ritratti e nudi. La
sua prima mostra personale avvenne nel 1918 presso la Galleria Weil, ma i suoi
quadri (tra i quali Nudo con collana di corallo, Nudo rosso) furono giudicati
indecenti e di conseguenza fu ordinata la chiusura dell`esposizione. La sua
ricerca stilistica ebbe di mira la perfetta unità di ritmi lineari e
coloristici: il segno, estremamente sensibile, mira a trasfigurare l'immagine
secondo una musicale sequenza di curve, il colore è intenso, smaltato,
prezioso, una umanità profonda traspare dalla ricercata deformazione della
figura (unico e insistente tema della pittura di M., studiato in inquadrature
ravvicinate e con taglio modernissimo), dalla tensione delle linee, dai
semplici e tuttavia audacissimi accordi del colore. Assai notevoli, per la
purissima ritmica del segno, sono i suoi numerosi disegni”.
“Sou Modigliani, judeu”. É desta maneira que o bravo
pintor italiano se apresentava. Orgulhava-se de sua herança cultural e, apesar
de não ser praticante, jamais negou a identidade judaica, dependente do ciclo
de vida, de passagens na vida pessoal. Tornou-se símbolo de pintor boêmio. Criando-se,
após sua morte verdadeiro mito (cf. Chaplin, 1995) em torno de sua vida (cf.
Krystof, 1997), trágico e curto (cf. Cohen, 2014). Modigliani é um modelo do
que foi a vida de centenas de artistas emigrados em Paris (cf. Bourdieu, 1979),
tempo do grande anti-semitismo, o artista mergulhou em sua identidade. A chave visual para o judaísmo autoconsciente de Amedeo Modigliani, diz que Mason Klein, curador de Modigliani Unmasked, uma exposição no Museu Judaico de Nova York, é um pequeno esboço chamado “Autorretrato com Barba”. Atraídos à capital mundial das artes no início do século XX. Ele chegou à
cidade ainda em 1903 ou, provavelmente em 1906, logo aderiu às novas ideias em arte. Ao longo de
mais de uma década trabalhou num quase completo isolamento. Sua arte foi desprezada
por tolos círculos da crítica especializada. A crítica de arte diz respeito a análises e juízos de
valor. Surge no século XVIII, num ambiente caracterizado pelos salões
literários e artísticos. Acompanha as exposições periódicas, o surgimento de um
público e o desenvolvimento da maledeta
imprensa. Neste período ele troca Florença por Veneza, em cuja “Scuola Libera
di Nudo Academia di Venezia” se inscreveria com o intuito de aperfeiçoar e
aprofundar sua formação, uma vez que esta escola de arte se concentrava principalmente
na elaboração do seu nu “au naturel” e não na composição acadêmica formal.
Gostava de circular pelas ruelas da cidade, olhar oras a fio os mosaicos da
Igreja de São Marcos ou as telas elegantes de Carapaccio expostas nas Gallerie.
Para os colegas e seus poucos amigos, era apenas um diletante, um moço erudito
que frequenta museus para afugentar o tédio. A história da arte e agora no
âmbito cinematográfico comprova o contrário (cf. Cohen, 2014).
“La Scuola Libera del Nudo offre l`opportunità agli artisti e agli
studenti delle Accademie di Belle Arti di esercitarsi nella composizione della
figura umana e di indagare le sue forme e i suoi rapporti proporzionali. La
pratica del disegno dal vero alla Scuola
Libera del Nudo si basa su un notevole numero di ´ore di posa` dei modelli
viventi, sia maschili sia femminili. Durante tale pratica vengono indagati
tutti gli aspetti tecnici, grafici e pittorici della rappresentazione del nudo”.
Amedeo Modigliani e Jeanne Hébuterne logo começam um
relacionamento amoroso (cf. Alberoni, 1979). O caso provocou uma crise na
família da jovem artista. Os seus pais eram católicos fervorosos e considerava
inadmissível uma união amorosa antes do casamento. Apesar disso, Jeanne rompe a
dominação paterna e muda-se para o apartamento-atelier de Modigliani. Juntos,
os trabalhos de Hébuterne mostram uma rápida evolução. Os seus desenhos
tornam-se mais simplificados e dinâmicos, uma influência clara de Modigliani
sobre os seus trabalhos. Ao contrário, porém, da obra de seu companheiro,
Jeanne desenvolve uma técnica muito mais emocional e imaginativa. Inclinada ao
fauvismo e ao expressionismo. Durante esse período, Modigliani viveu na
completa miséria, vendendo desenhos nos cafés para ter o que comer. Por falta
de dinheiro teve de abandonar a escultura, sua grande paixão, e voltar-se para
pintura, por ser mais barata. Jeanne Hébuterne conheceu Modigliani ele
era um artista maduro, pintando sob a influência do “geometrismo cubista” e
do “primitivismo africano”.
Após 1° de agosto de 1914, entre o círculo de artistas
de Paris, os que foram poupados do serviço militar experimentaram primeiro o
sentimento de desamparo, mas em seguida tentaram, lentamente, tirar o melhor
partido da situação. Modigliani que, à eclosão do conflito bélico, parece ter
sido um voluntário entusiástico para frente de batalha, não tardou a ser
rejeitado por razões de saúde e esteve entre aqueles que viveram os anos da
guerra em Paris. Depois da sua fase de escultor, dedica-se inteiramente à sua
criação junto dos pincéis, paletas, tintas e cavaletes, por volta de 1914, e a
sua arte vai se construindo cada vez mais de maneira independente das correntes
artísticas em voga em sua época. A
concretização de sua poética pessoal foi distanciando sua produção mais e mais
das outras tendências. Modigliani foi forjando de forma consistente e
consciente o seu próprio estilo e trajetória artística, que lhe valeu a fama de
grande artista solitário. À parte a série de nus de 1917 e algumas paisagens,
Modigliani dedica-se inteiramente ao retrato. Seus retratos para além do
caráter do modelo transmitem com perfeição o “sentido da vida”.
Mais que retratos, são composições poéticas de extrema
elegância, delicados, e podem ser divididos em dois grupos: retratos de amigos
e conhecidos, muitas vezes identificáveis pela inscrição dos nomes, e retratos
de modelos anônimos, estilizados em diversos tipos. Os primeiros “Modiglianis”
inconfundíveis são retratos de Jacques Lipchitz e da esposa Berthe, de Max
Jacob, de Jean Cocteau e do pintor lituano Chain Soutine, nomes sempre
relacionados às vanguardas parisienses e a Modigliani. Como
outros pintores e artistas do seu tempo, viveu a experiência da extrema
pobreza. Por meio dos companheiros de arte, conheceu o poeta polaco Leopold
Zborowski, que se tornaria seu melhor e mais devotado amigo, além de
incentivador e marchand. Em 1917,
Zborowski consegue para Modigliani uma exposição individual na Gallerie Berthe
Weill. Organizada pelo poeta polonês Leopold Zborowski, amigo e marchand de Modigliani, uma exposição individual na Gallerie Berthe Weill deveria acontecer entre os dias 3 e 30 de dezembro, mas acabou durando apenas um dia por causa do escândalo. Nu Couché - uma dessas pinturas. A exposição durou um dia, pois se transformou num escândalo
devido aos nus expostos na vitrine da galeria. Jeanne Hébuterne nasceu em 6 de abril de 1898 em Arras,
norte da França, seu pai Achille Casimir Hébuterne trabalhava como chefe de
perfumaria da loja de departamentos Bon Marché. Era um ardente admirador de
Pascal, sempre lia fragmentos de sua
obra, enquanto a família “descascava batatas para o jantar, isso sempre irritou
a Jeanne”. Seu irmão, André Hébuterne (1894-1992), ao escolher a arte como
profissão, causou a primeira ruptura na quase invencível respeitabilidade dos
seus pais. Quando Jeanne seguiu seu irmão nas trilhas da arte, escolheu estudar
na Academia Colarossi, na rua Grande Chaumière. Desde pequena mostrou aptidão
para a pintura e para o desenho. Possuía estilo próprio, genialidade e beleza e
criava suas próprias roupas. Ao
contrário de seu companheiro, Amedeo Modigliani, a obra da pintora Jeanne
Hébuterne (cf. Alberoni, 1979) permanece ainda hoje praticamente desconhecida
(cf. Xenakis, 1984). Só foi redescoberta recentemente, na década de 1980,
enquanto que a de Modigliani despertou interesse dos meios de arte desde sua
morte, em 1920. A pintura de Hébuterne acabou ofuscada pela do marido. O seu
nome hoje é mais lembrado em associação com o de Modigliani do que pelos seus
méritos próprios como artista. Há dezenas de casos similares, como o das
pintoras impressionistas Berthe Morisot ou Mary Cassatt, mais lembradas pelas
suas relações com os impressionistas homens. A da escultora simbolista Camille
Claudel, lembrada como “a amante de Rodin”. Como a pintora expressionista
Gabriele Münter, primeira esposa de Vassili Kandinski. Da fotógrafa surrealista
Dora Maar. Da pintora Françoise Gilot, ambas ex-companheiras de Pablo Picasso. Da
expressionista abstrata Lee Krasner, esposa de Jackson Pollock.
Quando nos referimos ao filme: “Modigliani, Paixão pela Vida”, não se trata
apenas da representação (Εκπροσώπηση) biográfica de um pintor.
Ou muito menos de um romance entre este e sua amadaJeanne
Hébuterne. E menos ainda se nos aproximarmos em torno da busca de um olhar
sensível. É um filme intimista como esse
olhar vê e o que ele vê. Assinalado pela provação mais dramática, mais
laboriosa possível. Seu admirável domínio da cor é completado por um aparente
despojamento da figura, em que muitos quiseram ver a marca de sua inclinação
para a escultura. Nos últimos anos da vida, pinta quase só retratos e nus
femininos. A sensualidade de suas figuras tem como representação movimento
e alongamento que o pintor lhes dá do ponto de vista da técnica de pintura. Tem o raro dom “em
si” e uma empatia “para si” entre o espectador e os seus retratos, que se estabelece em conformidade com o processo de conscientização artística, mas a empatia envolve três componentes: afetivo, cognitivo e reguladores de emoções. O componente afetivo baseia-se na partilha e na compreensão de estados emocionais de outros. O componente cognitivo refere-se à capacidade de deliberar sobre os estados mentais de outras pessoas. A regulação das emoções lida com o grau das respostas empáticas. Isto é, parte da perspectiva referencial que é pessoal a ela, consciente das próprias limitações em acurácia, sem confundir a si mesmo com o outro na relação.
Pelo
despojamento, pela estilização, Amedeo Modigliani atinge, em suas melhores e magníficas obras, a
uma monumentalidade penetrada de um
sereno hieratismo. Seus retratos de crianças, em particular, representam um conteúdo de emocionante
simplicidade. Entretanto, a graça às vezes pode se converter em maneirismo, e a
monumentalidade em rigidez. Alguns estudiosos já observaram que algumas das
deformações elegantes de Modigliani produzem uma impressão de gratuidade, senão
de monotonia. É o preço que se paga porque revolucionou o mundo das artes como
um cometa. Dançando sobre as mesas, embriagado de paixão pela vida. Inspirado
pelo amor e consumido pela obsessão. Ele é um gênio criativo que viveu e absorveu a
charmosa Paris do início do século 20 com uma atração incontrolável pela
beleza. Sempre com a mesma intensidade, o judeu Modigliani amou a católica Jeanne
Hébuterne e odiou o genial, mas autoritário
Pablo Picasso.
Em vida Amedeo
não vende muitas obras. Fez uma exposição individual, porém não foi bem aceito
em virtude da repercussão negativa sobre a liberdade artística “causada por
seus nus expostos na vitrine da galeria de Berthe Weil em 1917”. Lá
permaneceram por somente um dia. Vendia por alguns vintens: a) desenhos admiráveis, b) executados com
segurança desconcertante, e por alguns francos, c) retratos e nus que hoje
galerias, colecionadores milionários e museus disputam por cifras astronômicas.
Viveu uma vida sacrificada, sem o dinheiro suficiente para o sustento. Talvez
por isso, como em geral os gênios fazem, se entregava por inteiro ao trabalho,
ao sabor da bebida e às drogas. Viveu intensamente, sua alma era ampla. Sofreu
como poucos. Teve inúmeros amores, mas nenhum tão forte quanto sua musa Jeanne
Hébuterne. Moça muito jovem, oriunda de
uma família católica conservadora, a quem Modigliani conhece em uma aula de
desenho. Com ela desposa e tem uma filha.
“Berthe Weill était assez éclectique pour
avoir lancé et promu des peintres aussi différents dans leur art que Picasso,
Raoul Dufy, Suzanne Valadon ; c'est elle qui a découvert Picasso et vendu ses
premières toiles à Paris dès 1900, des courses de taureaux. Elle a exposé aussi
bien Braque qu` Emilie Charmy, Derain, Othon Friesz, Gleizes, Goerg, Gromaire,
Marie Laurencin, Lhôte, ´Lautrec`, Marquet, Matisse, Metzinger, Modigliani,
Pascin, Odilon Redon, Utrillo, Vlaminck, Valloton et combien, combien d´autres!
Si elle estimait un peintre talentueux, elle n`hésitait pas à l`exposer, bien
souvent gratuitement. Berthe Weill disait admirer les jolies femmes. De là
peut-être, une partie de l`intérêt accordé à Van Dongen, à Modigliani et à son
cher Pascin qui, tous prenant la moralité bourgeoise à contre-pied, avaient
fait oeuvre de désacralisation de la femme, en la représentant dans sa réalité
humaine”.
A família de Jeanne Hébuterne não aceitava sua relação afetiva com o
pintor por causa de sua origem judaica e também por sua condição financeira e
hábitos boêmios. A reprovação do relacionamento culminou em o pai da moça
colocá-la filha em internato longínquo a fim de impedir o pintor de vê-la. A
partir desse episódio, Modigliani, alcoolizado e com o ego ferido, inscreve-se
no Salão anual de arte, evento que reunia artistas sem expressividade, porém buscava vencer o certame para ganhar o
prêmio em dinheiro, para assim conseguir trazer Jeanne e pequena filha de
volta. Sua inscrição no salão inspira seu rival, Picasso, a participar também.
Como numa narrativa mítica, sai do salão de arte vitorioso, apoteótico. Porém,
como todo herói romântico, tem um fim trágico. A grande musa de Amedeo Midigliani foi
Jeanne Hébuterne, com quem teve uma filha, Jeanne, em 1918. Complicações na
saúde fazem o pintor viajar para o sul da França com a esposa e a filha, a fim
de recuperar-se. Retorna a Paris ao final de 1918. Na noite de 24 de janeiro de
1920, aos 35 anos, Modigliani morre de tuberculose. Foi sepultado no famoso
Cemitério do Père-Lachaise, em Paris. No dia seguinte, Jeanne, grávida de nove meses, suicida-se, atirando-se do 5° andar de um
edifício.
Père
Lachaise não é apenas reconhecido o maior cemitério de Paris, mas também um dos
mais famosos do mundo. Localizado no 20º distrito, todos os anos ele atrai
centenas de milhares de visitantes que querem ver os túmulos de pessoas famosas.
Ele abrange também três memoriais da Primeira Guerra Mundial. Chamado
sucessivamente de “Champ-l’Evêque”, “Mont-aux-Vignes” e depois “Mont-Louis”, o
terreno foi ocupado no século XVII por François d’Aix de La Chaise, conhecido
como Père La Chaise, confessor do rei Luis XIV, apelidado de “o Grande” e “Rei
Sol”, foi o Rei da França e Navarra de 1643 até à sua morte. Com a morte do
padre jesuíta, seu irmão, o Conde de La Chaise passou a dar muitas festas no
local, o que contribuiu para a sua expansão e progressivo embelezamento. Nesta
época, havia uma lei de 1765 que proibia cemitérios na cidade. Por conseguinte,
foi o então cônsul Napoleão Bonaparte que decretou: “todo cidadão tem o direito
de ser enterrado, independentemente de sua crença ou raça”. Assim, Alexandre
Théodore Brongniart foi o encarregado da concepção do cemitério, que foi
inaugurado em 1804. Entre as pessoas lá enterradas, pode-se citar
principalmente: Guillaume Apollinaire, François Arago, Honoré de Balzac, Henri
Barbusse, Alexandre Théodore Brongniart, Maria Callas, Frédéric Chopin,
Alphonse Daudet, Eugène Delacroix, Jean de la Fontaine, Paul Eluard, Félix
Faure, Molière, Yves Montand, Jim Morrison, Jean Moulin, Edith Piaf, Marcel
Proust, Marie Trintignant, Oscar Wilde.
Nascido
em 1° de agosto de 1961, em Glasgow, e criado em Gorbals, Michael Davis é um
diretor de cinema, produtor e roteirista escocês. Davis ficou acamado com asma
durante sua infância. Quando superou a condição, trabalhou como preparador
físico do time de futebol Celtic F. C., um clube de futebol da Escócia sediado
na cidade de Glasgow, que compete na Scottish Premiership, a mais alta
divisão do futebol escocês, nunca tendo descido de divisão. O nome oficial do
clube é The Celtic Football Club e até 1994 o nome completo era The Celtic
Football and Athletic Company Ltd., onde conheceu e fez amizade com o cantor
Rod Stewart, um fervoroso torcedor do Celtic. Quando Davis se mudou para Los
Angeles para começar a carreira de roteirista, Stewart o apresentou a pessoas
do showbusiness para dar um começo à sua carreira. O primeiro grande
crédito de Davis decorreu como roteirista de Love in Paris, também
chamado comercialmente de Another 9½ Weeks, constituindo, sem exageros
de repetição, uma sequência lógica e habitual de 9½ Weeks. Em 1999, ele
fez sua estreia na direção com The Match, a comédia romântica com tema
de futebol filmada na Escócia.
Em
2004, dirigiu o extraordinário Modigliani, uma biografia do artista
Amedeo Modigliani. Em 2013, Davis escreveu, produziu e dirigiu um
curta-metragem, Haunting Charles Manson, e no ano seguinte, uma versão
em longa-metragem do mesmo filme. Em 1967, vale lembrar o Celtic tornou-se o
primeiro clube britânico a conquistar a Liga dos Campeões, que até então só
havia sido conquistada por equipas italianas, portuguesas e espanholas, sendo
esta a sua maior conquista. Nesta temporada o Celtic ganhou todas as
competições que disputou: o Campeonato Escocês, a Taça da Escócia, a Taça da
Liga Escocesa, a Liga dos Campeões e a Taça de Glasgow. O Celtic continua a ser
o único clube escocês a ter chegado à final e é o único a ganhar o troféu com
um time composto totalmente de jogadores pratas-da-casa; todos os jogadores
ainda eram escoceses e nascidos num raio de 30 milhas do Celtic Park. Em 1970 o
Celtic chegaria novamente a uma final da Liga dos Campeões, tendo sido batido
pelo Feyenoord no prolongamento.
Título:
Modigliani. Ano produção: 2004. Dirigido por Mick Davis. Estreia: 12 de
Dezembro de 2004 (Brasil). Duração: 128 minutos. Gênero: Biografia. País de Origem: Estados Unidos da América. Bibliografia geral consultada.
ALBERONI, Francesco, Innamoramento e amore. 1ª edizione. Milano: Editor Garzanti,
1979, pp.148 e ss.; SAINT-MARTIN, Monique de, “Une
Grande Famille”. In: Actes de la
Recherche en SciencesSociales,
n° 59, pp. 4-21, 1980; XENAKIS, Françoise, Zut!
On A Encore Oublie Madame Freud. Paris: Hachette, 1984; CHAPLIN, Patrice, Jeanne Hébuterne y Modigliani. Un amor trágico. Barcelona: Salvat Editores, 1995; KRYSTOF, Doris, Amedeo Modigliani – 1884-1920. A Poesia do
Olhar. São Paulo: Editora Taschen, 1997; Idem, Amadeo Modigliani. São Paulo: Editora Paisagem, 2007; GALLAND, Maria Garcia Sol, Modigliani. Barcelona: Instituto Monsa, 2005; POLETTI, Federico, El Siglo XX - Vanguardias. Coleção Los Siglos del Arte. Barcelona:
Electa, 2006; FUCS, Tribunal da História.1ª
edição. Rio de Janeiro: Editora Imago, 2008; PARISOT, Christian, Modigliani. Porto Alegre, L&PM Editores, 2009;
GAY, Peter, Modernismo: Fascínio da
Heresia - De Baudelaire a Beckett e mais um pouco. São Paulo: Editora Companhia das
Letras, 2009; PARISOT, Christian, Modigliani ritratti dell`anima. Roma: Modigliani Intitut, 2010; ARGAN, Giulio Carlo, A Arte Moderna na Europa: de Hogarth a Picasso. São Paulo:
Companhia das Letras, 2010;MAGALHÃES, Ana Gonçalves, Pintura Italiana do Entreguerras nas Coleções Matarazzo e as Origens do Acervo do Antigo MAM: Arte e Crítica da Arte entre Itália e Brasil. Tese de Livre Docência. Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, 2014; MORAIS, Leonardo David de, “Pintura em Verso: Imagens Poéticas e Picturais em Paranoia, de Roberto Piva”. In: Revele. Belo Horizonte, n° 9, pp. 96-115, out. 2015; FRANCK, Dan, Paris Boêmia. Porto Alegre: L&PM Editores, 2015; entre outros.
________________
*Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará.
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