“No soy el presidente pobre; pobres son los que quieren más”. José Mujica
José Alberto Mujica Cordano, reconhecido
popularmente como Pepe Mujica, nascido em Montevidéu, em 20 de maio de 1935, é
um agricultor e político uruguaio tendo sido presidente da República Oriental
do Uruguai entre 2010 e 2015. Desde que deixou a presidência, em março de 2015,
ocupa o cargo de senador da República. Mujica é descendente de bascos, cuja
origem é a cidade de Múgica, que chegaram ao Uruguai em 1840, filho de Demétrio
Mujica Terra e Lucy Cordano, nasceu no bairro Paso de la Arena, em Montevidéu A
família de sua mãe era composta por imigrantes italianos. Seu sobrenome
Cordano, de seu avô Antonio, é originário da província de Gênova, a mesma
região de onde veio a família Giorello, de sua avó Paula. Seu pai era um
pequeno agricultor que foi à falência pouco antes de sua morte, em 1940. Mujica
estudou na escola pública do bairro onde nasceu.Mujica é um nobre ateu. É casado desde 1970 com a ex-militante Lucía Topolansky.Seu tio materno, Ángel Cordano, era
nacionalista e teve uma grande influência sobre a formação política de Mujica.
Em 1956, conhece o deputado nacionalista Enrique Erro por meio de sua
mãe. Então começou a militar para o Partido
Nacional aonde chegou a ser secretário geral da juventude.
Nas eleições de 1958, triunfa o populismo herrerista (cf. Laclau, 2005; Chavez,
2005) e Erro foi designado ministro do Trabalho, sendo acompanhado por Mujica
nessa conjuntura. Em 1962, Erro e Mujica abandonam o Partido Nacional para
criar a Unión Popular, junto ao Partido Socialista do Uruguai e um pequeno
grupo chamado Nuevas Bases. Nessas
eleições, coloca Emilio Frugoni como candidato a presidente da República, que
chega apenas aos 2,3 % dos votos válidos. Nos anos 1960 integrou-se ao Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros
(cf. Aldrighi, 2001; Cabrera, 2006; Pernas, 2013), participando de operações de
treinamento da guerra de guerrilha, enquanto trabalhava em sua chácara, até
refugiar-se num período de quinze anos clandestinidade. Durante o governo de
Jorge Pacheco Areco, a violência aumentou progressivamente. O Poder Executivo
utilizou-se do princípio constitucional das “Medidas Prontas de
Seguridad” para fazer frente às guerrilhas, com a crescente oposição de
sindicatos e grêmios frente a suas políticas econômicas.
Existem em Montesquieu, implícita ou
explicitamente, duas ideias de síntese possíveis. Uma seria a influência
predominante do regime político, e a outra, o espírito geral de uma nação. Em
relação à primeira questão – a influência predominante das instituições políticas –
pode-se hesitar entre duas interpretações. Trata-se de uma influência
predominante no sentido causal do termo ou de uma influência predominante com
relação ao que interessa ao analista, com relação aos nossos valores, isto é,
com relação à hierarquia da importância que estabelecemos entre diferentes
aspectos da vida coletiva. O espírito geral de uma nação é o que mais contribui
para manter esse sentimento ou princípio, indispensável à continuidade do
regime. O espírito geral de uma naçãonão pode ser comparado à vontade criadora de uma pessoa ou coletividade.
Para analisar esses problemas, será melhor tomar como ponto de partida uma
noção central de L`Esprit des Lois, a
saber, a própria noção de lei. Afinal, a grande obra de Montesquieu se chama L´ Esprit des Lois, e é na análise da noção,
ou das noções de Lei que encontramos a resposta para os problemas que
formulamos da política à sociologia.
Montesquieu introduz o conceito de
Lei no início de sua obra fundamental, L´
Esprit des Lois, para escapar a uma
discussão viciada que dentro da tradição jurídica de seu período, ficaria
limitada a discutir as instituições e as leis quanto à legitimidade de sua
origem, sua adequabilidade à ordem natural e a perfeição de seus fins. Uma
discussão fadada a confundir, nas leis, concepções de natureza política, moral
e religiosa. Definindo lei como “relações necessárias que derivam da natureza
das coisas”, ele estabelece uma mediação com as ciências empíricas rompendo com
a tradicional submissão da política à teologia. Montesquieu está formulando, em
termos de análise comparativa, que é possível encontrar uniformidade,
constâncias na variação dos comportamentos e formas de organizar os homens,
assim como é possível encontra-las nas relações entre os corpos físicos. Também
as leis que regem os costumes e as instituições são relações que derivam da
natureza das coisas e sustentam as bases conceituais na
interpretação do fato à política e sociologia
Durante
a ditadura de 1973-1985, Luís Alberto Lacalle inicia uma ação opositora a mesma.
Vai convocando a nascentes figuras da política, cria o Conselho Nacional Herrerista, que comparece nas eleições internas
de 1982. Logo, nas eleições de 1984, conquista duas cadeiras no Senado sendo o
próprio Lacalle y Francisco Mario Ubillos. En 1987, o também senador Dardo
Ortiz se une a Lacalle, e entre ambos refundam o setor com o nome de
herrerismo. Nas eleições de 1989, vencidas por Lacalle, o setor conquista os
primeiros lugares en las preferencias eleitorais brancas, obtendo 6 assentos no
Senado e 24 deputados. É de destacar que dois dos mais importantes senadores
del herrerismo nessa instancia, haviam sido também os principais senadores de
Por la Patria en 1971: Dardo Ortiz y Walter Santoro. No curso dos anos 1990, se
afirma uma nova época política o herrerismo, com ideias de livre mercado e privatização.
De cara aos comícios de 1994, houve um desgaste importante, a “Confluencia
Herrero-Wilsonista”, liderado por Alberto Volonté e Walter Santoro; coligados
com Proposta Nacional, compareceram sob o nome de “Manos a la Obra”.
Por
sua parte, o herrerismo apresentou como candidato presidencial Juan Andrés
Ramírez e teve duas listas ao senado, uma encabeçada por Luís Alberto Heber e a
outra por Ignácio de Posadas. O Partido Nacional teve 29,8% de los votos, dos
que 12,5 % foram ao herrerismo, e perdeu em um virtual triplo empate com o
Partido Colorado. Em 1999, Lacalle volta a comparecer como candidato
presidencial; nas eleições de outubro, o Partido Nacional teve uma má votação,
mas por sua vez o herrerismo recuperou posições. Obteve cinco dos senadores:
Lacalle, Luís Alberto Heber, Julia Pou, Juan Chiruchi y Guillermo García Costa.
Alberto de Herrera foi continuado por seu neto, Luís Alberto Lacalle. Tanto
Herrera como Lacalle foram defensores de um conjunto de ideias políticas e
filosóficas. Pelo caminho do nacionalismo curiosamente Herrera chegou ao
anti-imperialismo. Neste campo não reduziu seu ideário a mera formulação de uma
visão crítica teórica ao imperialismo, senão que assumiu politicamente, com
todos os riscos que isso implicava uma atividade de militância assim como de
investigação profunda do processo, encontrando as raízes econômicas do mesmo.
A bendita militância foi posta de relevo em sua ação diplomática, em sua produção
histográfica, em suas intervenções parlamentarias e em sua ação política
cotidiana. Sua particular vocação acerca deste tema lhe provocou vários atritos
com seus políticos contemporâneos. Em 2004, como Lacalle perdeu a postulação à
candidatura única do partido, não se postulou a cargos eletivos; y e nas
eleições de outubro o herrerismo obteve três assentos no Senado para Heber,
Penadés y Chiruchi. Durante os primeiros anos da administração de Tabaré
Vázquez, Lacalle se manteve relativamente afastado dos quadros de direção do
herrerismo, se bem que sua presencia mediática foi constante. Se falou muito da
eventual postulação presidencial de Luís Alberto Heber, Juan Chiruchi y Carmelo
Vidalín, sendo que este incluso abandonou o herrerismo para explorar um caminho
eleitoral proprio. Hasta que, graças a uma boa figuração nas enquetes, Lacalle
voltou a encabeçar a coluna eleitoral herrerista de cara nas eleições internas
de 2009; sendo assim, em julho de 2008 anunciou o lançamento do movimento
Unidad Nacional, integrado também com o setor da Correntada Wilsonista.
Quanto à administração Pacheco Areco
as primeiras medidas foram a dissolução de partidos políticos e organizações
vinculados à esquerda, tais como o Partido Socialista, a Federación Anarquista
Uruguaya, o Movimiento Revolucionario Oriental, o Movimiento de Acción Popular Uruguaya
e o Movimiento de Izquierda Revolucionario, e o fechamento dos jornais Época e El Sol, acusados de serem subversivos. O uso do poder
discricionário contra os setores populares, os trabalhadores e os estudantes
foi a principal ação política do governo. O presidente, a fim de conter o
processo inflacionário no Uruguai, começou a seguir cada vez mais as diretrizes
impostas pelo Fundo Monetário Internacional, pois o país estava filiado ao FMI
desde 1949. Para tanto, era necessário restringir os direitos dos trabalhadores
e seus benefícios salariais, situação essa rejeitada pela população. Os
trabalhadores uruguaios já haviam alcançado um alto nível de consciência de classe, e não estavam dispostos
a permitir a perda de seus direitos. O uso generalizado e intensivo de medidas
de exceção, chamadas “Medidas Prontas de Seguridad”, que restringiam as
liberdades individuais durante, no máximo, 30 dias, foi um dos traços mais
retrógrados dessa administração; com seu uso constante e ilegal, começou
intensa criminalização das manifestações pacíficas de contestação ao regime.
Previstas na constituição uruguaia, tais medidas de exceção já haviam sido
utilizadas, mas foi neste governo que houve a banalização do seu uso.
Nas
lutas armadas, há evidências de que foi ferido por seis tiros e preso quatro
vezes, mas em duas oportunidades, fugiu da prisão de Punta Carretas. No total,
Mujica passou quase 15 anos de sua vida na prisão. Seu último período de
detenção durou 13 anos (1972 e 1985). Foi um dos dirigentes Tupamaros que a ditadura militar tomou
como refém. Os reféns seriam executados caso sua organização retornasse às
ações armadas. Nessa condição, pautada pelo isolamento e por duras condições de
detenção, Mujica permaneceu onze anos. Entre os reféns também se encontravam
Eleuterio Fernández Huidobro, ex-ministro de Defesa Nacional, e o líder e
fundador do MLN-Tupamaros, Raúl Sendic, cujo filho Raúl Fernando Sendic foi
vice-presidente da República no segundo mandato de Tabaré Vásquez, mas
renunciou e quem assumiu a vice-presidência foi a esposa de Mujica, Lúcia
Topolansky. Após o retorno a democracia, foi libertado, beneficiado pela Lei
n.º 15.737 de 8 de março de 1985, que decretou anistia aos delitos políticos
cometidos a partir de 1 de janeiro de 1962.
Alguns
anos após a abertura democrática criou, junto a outras lideranças do MLN e
outros partidos de esquerda, o Movimiento
de Participación Popular (MPP), dentro da reconhecida Frente Ampla. Nas
eleições de 1994, foi eleito deputado por Montevidéu. Sua presença na arena
política foi chamando a atenção das pessoas e, nas eleições de 1999, foi eleito
senador. Nesse ano, foi publicado o livro: Mujica,
de Miguel Ángel Campodónico. Em 1° de março de 2005, o presidente da República
Tabaré Vázquez, o designou ministro da Agricultura. Seu vice-ministro foi
Ernesto Agazzi, que assumiu o cargo em 3 de março de 2008, quando Mujica o
deixou para ser pré-candidato à presidência da República.Em 28 de junho de 2009, houve eleições
internas para escolher o candidato a presidência da República Oriental del
Uruguay nas Eleições, pela Frente Ampla,
onde José Mujica venceu com 52,02% dos votos totais. Antes das eleições, Mujica
recebeu o apoio ideológico do Kirchnerismo,
sociologicamente um termo usado para se referir à filosofia política e aos
simpatizantes do falecido Néstor Kirchner, presidente da Argentina de 2003 a
2007, e de sua esposa, Cristina Fernández de Kirchner, presidente do país no
período de 2007 a 2015. Embora os Kirchners sejam membros do Partido
Justicialista, o original, maior e oficial partido peronista, fundado por Juan
Perón em 1947, o movimento social peronista em si é amplo e muitos de seus
membros se opõem assimetricamente aos kirchneristas. Contudo, após as eleições,
Danilo Astori aceitou completar a chapa como candidato a vice-presidente da República.
Em
setembro de 2009, foi publicado o livro: “Colóquios de Pepe”, do jornalista
Alfredo García, com várias entrevistas gravadas de José Mujica, com seu pensamento
libertário, ideias e frases de efeito. Na narrativa emerge e dimensão simbólica
de um ex-guerrilheiro, desalinhado, ignorante, contraditório, perigoso, herói,
genial, coerente, sábio, simples, confiável. Essas definições e muitas outras são dadas
continuamente a José Mujica, popularmente conhecido como “El Pepe”. Sem dúvida,
ele é o político com maior representação nos meios massivos de comunicação nos
últimos anos. Homem de respostas rápidas e frases explosivas, que instigam os
repórteres. Mas como se articula seu pensamento político? Em busca de respostas a essa pergunta, o autor
manteve, durante quatro meses, longas conversas, frente a frente, com o homem
por trás do personagem político. Não houve temas proibidos, não existiram limites
nem exigências, mas liberdade e pura franqueza. A conversação reflete as preocupações
e o raciocínio crítico de um homem que conserva intacta a curiosidade da
criança, a sabedoria do camponês e o senso comum do veterano que viveu tantas
transformações na modernidade. Este livro representa uma jornada ao interior do
pensamento social e político do ex-presidente uruguaio, quando revela seus
sonhos, suas obsessões, suas angústias, seus projetos políticos e seus ideais
como um homem público libertário.
Em
25 de outubro de 2009, José Mujica venceu as eleições com metade do total de
votos válidos, o que o validou disputar o segundo turno contra Luís Alberto
Lacalle em 29 de novembro. Nesse dia foi eleito presidente da República do
Uruguai com porcentagem superior aos 52% dos votos válidos. A primeira lei que
chamou a atenção do mundo foi a “descriminalização do aborto”. A segunda lei
progressista aprovada foi a do “matrimônio igualitário”, de abril de 2013. A
terceira lei que fez voltar à modernidade contemporânea os olhos severos do
mundo, tendo como escopo o Uruguai, foi a “legalização da maconha”, cujas
características da legislação a fazem única
no mundo. A única fronteira terrestre do
Uruguai é com o Estado brasileiro do Rio Grande do Sul, no norte, sendo a
segunda menor fronteira do Brasil com outro país latino-americano. A Colônia do
Sacramento, o mais antigo assentamento europeu no Uruguai, foi fundada pelos
portugueses em janeiro de 1680. Em 1777, com o Tratado de Santo Ildefonso, a
colônia tornou-se uma possessão espanhola. A cidade de Montevidéu foi fundada
pelos espanhóis no século XVIII “como uma fortaleza militar”. O Uruguai
conquistou sua Independência do Império do Brasil entre 1810 e 1828, após
guerras que envolveram Espanha, Portugal, Argentina, além do próprio Brasil. O
Uruguai é reembolsado pela Organização
das Nações Unidas (ONU) pela maioria dos seus gastos militares, visto que a
maior parte desses gastos é implantada nas forças de paz da ONU. O país é uma
democracia constitucional, onde o presidente cumpre o papel de chefe de Estado
e chefe de governo. O país é reconhecido internacionalmente por ser pioneiro em
medidas de foro político relacionadas com direitos civis e democratização da
sociedade.
Quando nos referimos à positividade
das leis e particularmente nesta formação
espacial, um status social de
condição básica para a viabilização da reprodução. As diferenciações entre os
lugares tomam-se expressão de diferentes formações econômicas e sociais
representativas de modos de produção específicos. Queremos dizer com isso que a
passagem da idade teológica para a idade metafísica, e depois para a idade
positiva, não se opera simultaneamente. A lei dos três estados só tem um
sentido rigoroso quando combinada com a classificação das ciências. A ordem
segundo a qual são ordenadas as diversas ciências nos revela que a inteligência
se torna positivas nos vários domínios como na matemática, na física, na
química, e consequentemente na biologia. A combinação da lei dos três estados,
no sentido comtiano, com a classificação das ciências tem por objetivo comprovar
que a maneira de pensar triunfou na
matemática, na astronomia, na física, na química e na biologia deve se impor á
política, levando á constituição de uma ciência positiva da sociedade, a
sociologia em sua progênie. Mas essa combinação não tem unicamente por objeto
demonstrar a necessidade de criar a sociologia. A partir de certa concepção de
ciência, a biologia, intervém uma reviravolta decisiva em termos de metodologia: as ciências deixam de ser
analíticas para serem necessárias e essencialmente, sintéticas. Essa inversão,
segundoAron (1967), irá dar fundamento
à concepção sociológica da unidade histórica.
A modernidade
é inerentemente globalizante. Ela tanto germina a integração como a
fragmentação. Nela desenvolvem-se as diversidades como também as disparidades.
A dinâmica das forças produtivas e das relações de produção, em escala local,
nacional, regional e mundial, produz interdependências e descontinuidades,
evoluções e retrocessos, integrações e distorções, afluências e carências,
tensões e contradições. É altíssimo o custo social, econômico, político e
cultural da globalização do capitalismo, para muitos indivíduos e coletividades
ou grupos e classes sociais subalternos. Em todo o mundo, ainda que em
diferentes gradações, a grande maioria é atingida pelas mais diversas formas de
fragmentação. A realidade é que a globalização do capitalismo implica na
globalização de tensões e contradições sociais, nas quais se envolvem grupos e
classes sociais, partidos políticos e sindicatos, movimentos sociais e
correntes de opinião pública, em todo o mundo. Além disso, enquanto totalidade
histórico-social em movimento, o globalismo tende a subsumir histórica e
logicamente não só o nacionalismo e o tribalismo, mas também o imperialismo e o
colonialismo, através das relações entre eventos locais e distantes
correspondentemente alongadas.
Do
ponto de vista da memória e da história foi em 1907, o primeiro país a
legalizar o divórcio e, em 1932, o segundo país das Américas a conceder às
mulheres o direito ao voto. O Uruguai tem uma tradição de mais de um século
como um país de leis de vanguarda na América Latina, como pioneiro a aprovar o
divórcio décadas antes de toda a região. Oito anos mais tarde, antecipando o
sindicalismo corporativista concedeu a jornada de trabalho de oito horas. Em
1932, tornou-se o segundo país das Américas a conceder o direito de voto às mulheres,
sendo que o primeiro foi os Estados Unidos da América (EUA). Exatamente um
século depois da aprovação do divórcio, o Uruguai se tornou, em 2007, o
primeiro Estado latino-americano a conceder a união civil entre pessoas do
mesmo sexo e também a permitir a adoção homoparental de criança por
homossexuais e bissexuais é a sigla referente às Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis, Transexuais ou Transgêneros (LGBT). Em uso desde os anos 1990, o
termo é uma adaptação de que era utilizado para substituir o termo “gay” para
se referir à comunidade no fim da década de 1980. Isto pode ocorrer na forma de
uma adoção conjunta por um casal gay de ambas pessoas do mesmo sexo, assim como
coadoção por um dos parceiros de um casal de pessoas do mesmo sexo do filho
biológico ou adotivo do cônjuge e ainda a adoção por uma única pessoa do grupo
social LGBT.
A
adoção homoparental é legal atualmente em 24 países: África do Sul, Andorra,
Argentina, Áustria, Bélgica, Brasil, Canadá, Colômbia, Dinamarca, Espanha, EUA,
França, Holanda, Irlanda, Islândia, Israel, Luxemburgo, Malta, Noruega, Nova
Zelândia, Portugal, Reino Unido, Suécia e Uruguai. A adoção homoparental é,
contudo, proibida pela maioria dos países, embora muitos debates nas diversas
jurisdições ocorram para o permitir. Como o assunto muitas vezes não é
especificado por lei (ou julgado inconstitucional), a legalização, muitas vezes
é feita através de pareceres judiciais. Uma das preocupações ideológicas manifestadas
por aqueles que se lhe opõem é saber se casais de pessoas do mesmo sexo “têm a
capacidade de ser pais adequados”. Outra posição contrária, de fundo religioso
católico “defende que mesmo que o direito dos adultos a adotar exista, ele não
se pode sobrepor ao direito das crianças a ter um pai e uma mãe”.
Desenvolveu-se um consenso entre as comunidades de bem-estar médico,
psicológico, político e social de que as crianças criadas em núcleos
homoparentais provavelmente serão tão bem ajustadas ou desajustadas como
aquelas criadas por pais heterossexuais. A pesquisa empírica de apoio a esta
conclusão é aceita sociologicamente além do forte debate científico no campo da
psicologia do desenvolvimento.
Em
abril, o país avançou mais ainda nas leis civis e aprovou o chamado “casamento
gay”. Ainda no apoio à união homossexual, o Parlamento abriu as portas para a
adoção de crianças por casais gays em 2009. Em 2010, na esteira destas medidas o
governo decretou o fim da restrição à entrada de homossexuais nas Forças
Armadas. Em 2013, o país se tornou a segunda nação latino-americana a aprovar o
casamento entre pessoas do mesmo sexo e o primeiro do mundo a legalizar o
cultivo, a venda e o consumo de cannabis,
também reconhecida por vários nomes populares, referentes a várias drogas
psicoativas e medicamentos derivados de plantas do gênero cannabis, o que levou a revista britânica The Economist a classificar o Uruguai como o país do ano de 2013,
pela promoção de “reformas inovadoras que não se limitam apenas a melhorar um
país, mas que, se imitadas, poderiam beneficiar o mundo”. A tradicional Reader's Digest, revista mensal criada
em 1922 por Lila Bell Wallace and DeWitt Wallace em Chappaqua, Nova York, também
classificou o Uruguai como o nono país “mais habitável e verde” do mundo e o
primeiro na América. Está entre os países mais desenvolvidos no continente, com
um dos maiores Produto Interno Bruto per capita, e o 1º em qualidade de vida na América Latina,
quando a desigualdade social e econômica é considerada.
Em
seu discurso de despedida em 27 de fevereiro de 2015, José Mujica rememorou que
a “luta que se perde é a que se abandona”. E ele nunca abandonou seus ideais.
Não bastou o tempo de militância, ou o período em que foi detento no presídio
que hoje ironicamente, dá lugar ao suntuoso shopping Punta Carretas, em
Montevideo, de onde participou da fuga mais marcante e extraordinária da
história carcerária mundial, junto a 105 guerrilheiros Tupamaros e outros cinco
presos comuns. A façanha entrou para o reconhecido Guinness Book e ficou conhecida como “O Abuso”. Pepe fugiu e
continuou fugindo para não se tornar um político que investe apenas em suas
próprias opiniões. Tanto é que declarou diversas vezes nunca ter experimentado
maconha, mas aprovou a liberação de seu uso no país, citando o extraordinário Albert Einstein, que
dizia que “não há maior absurdo que pretender mudar os resultados repetindo
sempre a mesma fórmula”. E, mudando a fórmula, promete lidar com o narcotráfico
no país. Durante seu governo o Estado assumiu a regulação estatal da produção,
venda, distribuição e consumo de maconha, em dezembro de 2013.
Foram
estabelecidos limites para cultivo e venda comercial de maconha, bem como registros de
consumidores e clubes de fumadores. A nova lei tornou o Uruguai o primeiro país
do mundo com um regulamento tão abrangente. Talvez
por isso o ex-tupamaro tenha sido considerado pela revista americana Foreign Policy como um dos 100
pensadores mais importantes de 2013, ao redefinir o papel da esquerda no mundo.
No mesmo ano, o Uruguai foi eleito pela boa novidade da revista britânica The Economist como o “país do ano”. Mas
não é preciso muita atenção para compreender que o sucesso das medidas criadas
por Mujica vai além do carnaval e vem ganhando o mundo. Tendo como exemplo seu
país, a Comissão de Drogas da África do Oeste declarou que a descriminalização destas deve ser um
assunto de saúde pública, enquanto o Ministério de Justiça da Jamaica aprovou a
descriminalização do uso religioso, científico e medicinal da maconha. A
Comunidade dos Países do Caribe, politicamentenão ficou atrás e concordou prontamente em criar uma Comissão
para revisar a política estatal de repressão às drogas na região e realizar as
reformas sociais que forem necessárias.
O
direito ao aborto, por fim, foi uma conquista dos eleitores do ex-tupamaro.
Hoje, mulheres podem decidir interromper uma gravidez até a 12ª semana de
gestação. Antes de partir para o procedimento, porém, deverão passar por
acompanhamento médico e psicológico (terapia) e terão a opção de desistir da
decisão a qualquer momento que achar necessário. Para o ex-presidente uruguaio,
a conquista é uma forma de poupar vidas. Antes da lei que permitia o aborto ser
promulgada, aproximadamente 33 mil procedimentos do gênero eram realizados
anualmente no país. Mas, no primeiro ano em que a lei esteve em vigor, este
número caiu consideravelmente para 1/5, ou seja, 6.676 abortos legais foram
realizados de forma clínica segura, sendo que apenas 0,007% destes apresentou
algum tipo de complicação leve. Nesse ano, houve apenas uma vítima fatal em
casos de interrupção de gravidez quando realizou o procedimento de maneira
clandestina, com a ajuda de uma agulha de tricô, o que demonstra apesar da
legalização, que abortos clandestinos continuam ocorrendo na banda oriental. Mujica
sabe e afirma ser contra o aborto, mas o considera politicamente um problema de
saúde pública.
Outra
lei progressista do ex-presidente foi a legalização do casamento gay nos pampas
uruguaios. Mas, exibindo seus cabelos brancos, ri ao ser perguntado sobre suas
ideias modernas: - “O casamento homossexual é mais velho que o mundo. Tivemos
Júlio Cesar, Alexandre O Grande. Dizer que é moderno, por favor, é mais antigo
do que nós todos. É um dado de realidade objetiva, existe. Para nós, não
legalizar seria torturar as pessoas inutilmente.”, disse em entrevista ao
jornal carioca O Globo. Mesmo quem é contra as medidas criadas pelo governo há
que se render aos dados estatísticos. Nos últimos anos o país do Maracanazo viu
uma queda nas taxas de pobreza em zonas rurais e pode orgulhar-se de que seu
país fosse a nação latino-americana com menores taxas em situação de
indigência. Subiram os salários e os abonos, enquanto o nível de desemprego se
tornou o menor da história social do país que já foi reconhecido “como a Suíça
da América Latina”. No Uruguai não existe reeleição e, apesar dos progressos, José
Mujica deixou a presidência, mas seguirá como o senador mais votado nas
eleições, cargo que Pepe continuará exercendo sem nenhuma gravata, com o mate
debaixo do braço e as respostas mais prováveis e tranquilas na ponta da língua.
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“Eu poderia e deveria ter feito mais para
soar o alarme e reunir apoio”. Kofi
Annan (1994)
Kofi
Atta Annan nasceu em Cumasi, em 8 de abril de 1938 e faleceu em Berna, em 18 de
agosto de 2018. Foi um diplomata ganês e entre 1º de janeiro de 1997 e 31 de
dezembro de 2006, o sétimo secretário-geral da Organização das Nações Unidas,
tendo sido laureado com o Nobel da Paz em 2001. Annan e as Nações Unidas foram correceptores
do Prêmio Nobel da Paz de 2001 pela criação do Fundo Global de Luta contra
Aids, Tuberculose e Malária para ajudar países em “desenvolvimento” em seus
esforços para cuidar de seu povo. Annan nasceu no distrito de Kofandros de
Cumasi, Gana, a qual era colônia britânica da Costa do Ouro. Ele foi irmão
gêmeo, o que dá uma posição de respeito na cultura de Gana. Sua irmã gêmea,
Efua Atta, que morreu em 1991, compartilhava seu nome do meio Atta, que em fanti
e acã significa justamente gêmeo. Annan e sua irmã nasceram em uma das
famílias aristocráticas de seu país; tanto seus avós e seu tio eram chefes
tribais. Na tradição antroponímica de acã, algumas crianças são nomeadas de
acordo com o dia da semana em que nasceram, e/ou em relação a quantas crianças
as precederam. Kofi em acã é o nome que corresponde a sexta-feira. De 1954 a
1957, Annan frequentou o colégio elitista Mfantsipim, um internato metodista em
Cape Coast fundado na década de 1870. Annan disse que o colégio o ensinou “que
o sofrimento em qualquer lugar preocupa pessoas em todo lugar”. Em 1957, o ano
em que Annan graduou-se em Mfantsipim, Gana tornou-se independente do Reino
Unido.
Em
1958, Annan começou a estudar economia na Faculdade de Ciência e Tecnologia de
Cumasi, atual Universidade Kwame Nkrumah de Ciência & Tecnologia de Gana.
Ele recebeu uma doação da Fundação Ford, possibilitando-o completar seus
estudos de graduação no Macalester College em St. Paul, Minnesota, Estados
Unidos da América, em 1961. Em seguida, fez uma licenciatura em Relações
Internacionais no Graduate Institute of International and Development Studies
em Genebra, Suíça, de 1961 a 1962. Após alguns anos de experiência de trabalho,
ele estudou no MIT Sloan School of Management (1971–72) no programa Sloan
Fellows e obteve o diploma de Master of Science. Annan era fluente em
inglês, francês, kru, outros dialetos de acã, e outras línguas africanas. Em
1962, Kofi Annan começou a trabalhar como Diretor de Orçamento para a
Organização Mundial da Saúde, uma agência das Nações Unidas (NU). De 1974 a
1976, ele trabalhou como Diretor de Turismo em Gana. No final dos anos 1980,
Annan voltou a trabalhar para as Nações Unidas, onde foi nomeado
secretário-geral Adjunto em três posições consecutivas: Gestão dos Recursos
Humanos e Coordenador para as Medidas de Segurança do Sistema das Nações Unidas
(1987–1990); Subsecretário-Geral para Planeamento de Programas, Orçamento e
Finanças e de Controlador (1990–1992); e Operações de Manutenção da Paz de março
de 1993 a dezembro de 1996.
A partir das pesquisas
antropológicas de Levis Henry Morgan, lidas e anotadas por Marx, formulou Friedrich
Engels a teoria antropológica do Estado, na obra: Der Ursprung der Familie,
des Privateigentums und des Staats, cujos pressupostos não estavam em sua
reflexão anterior, nem de forma sistêmica e embasada na história e na
antropologia. A sua importância na literatura científica de diversos países ocorre
porque antropólogos se valeram da análise marxista para entender sociedades não
capitalistas e sociedades camponesas. Não só a escola estruturalista francesa,
da segunda metade do século XX, com Godelier e Meillaseux são exemplos. Mas
também, no período de origem da Antropologia como admite Leslie White (1959).
Este influenciou a geração de antropólogos coerentes com o marxismo, como
Marshal Sahlins, antes de seu “acerto de contas” no ensaio: Cultura e Razão
Prática, Erick Wolf e Elman Service. No
prefácio à primeira edição (1884), Friedrich Engels enfatiza três aspectos: a)
As páginas seguintes vêm a ser, de certo, a execução de um testamento; b) A ordem social em que vivem os homens de determinada
época ou determinado país está condicionada por essas duas espécies de
produção: pelo grau de desenvolvimento do trabalho,
de um lado, e da família, de outro;
c) O grande mérito de Morgan é o de ter descoberto e restabelecido em seus
traços esse fundamento pré-histórico da nossa história escrita e o de ter
encontrado, nas uniões gentílicas dos índios norte-americanos, a chave para
decifrar importantíssimos enigmas, ainda não resolvidos, da história antiga da
Grécia, Roma e Alemanha. Sua obra não foi trabalho de um dia. Levou cerca de 40
anos elaborando seus dados, até conseguir dominar inteiramente o assunto. O volumoso tomo de
Bachofen estava escrito em alemão, isto é, na língua da nação que menos se
interessava, então, pela pré-história da família contemporânea. Por isso
permaneceu ignorado. O sucessor imediato de Bachofen nesse terreno entrou em
cena em 1865, sem jamais ter ouvido falar dele. Esse sucessor foi J. F. Mac
Lennan, o polo oposto de seu predecessor.
A
República de Ruanda é um país sem costa marítima localizado na região dos
Grandes Lagos da África centro-oriental, fazendo fronteira com Uganda, Burundi,
República Democrática do Congo e Tanzânia. Ruanda recebeu uma atenção
internacional considerável devido ao genocídio ocorrido em 1994, no qual cerca
de 800 mil pessoas foram mortas. Desde então, o país viveu uma grande
recuperação social e, hoje em dia, apresenta um modelo de desenvolvimento que é
considerado exemplar para países em desenvolvimento. Em 2009, uma reportagem da
rede de notícias CNN classificou Ruanda como tendo a história de maior sucesso
do continente, tendo alcançado estabilidade, crescimento da economia (a renda
média triplicou nos últimos dez anos) e integração internacional. Em 2007, a
revista Fortune publicou um artigo intitulado: Why CEOs Love Rwanda.
A capital, Quigali, é a primeira cidade africana a ser galardoada com o Habitat
Scroll of Honor Award, em reconhecimento de sua “limpeza, segurança e
conservação do modelo urbano”. Em 2008, Ruanda tornou-se o primeiro país a
eleger uma legislatura nacional na qual a maioria dos membros eram mulheres.
Ruanda aderiu à Commonwealth of Nations em 29 de novembro de 2009, seu 54º
membro, fazendo do país historicamente “um dos apenas três membros sem um
passado colonial britânico”. A população é predominantemente jovem e rural, com
densidade entre as mais altas nações na África. Os
ruandeses são provenientes de apenas um grupo cultural e linguístico, o Banyarwanda,
embora dentro deste grupo há três subgrupos: os hútus, tútsis e
os tuás. Antropologicamente os tuás são pigmeus que habitam a
floresta, descendentes dos habitantes de Ruanda. Todavia, estudiosos discordam
sobre as origens e as diferenças entre os hútus e tútsis; alguns
acreditam que as diferenças são derivadas de antigas castas sociais dentro de
um único povo, enquanto outros acreditam que os hútus e tútsis chegaram ao país
separadamente e de diferentes locais.
O cristianismo é a maior religião do país
e a língua principal é o quiniaruanda, falado pela maioria dos
ruandeses, com o inglês, francês e o suaíli como línguas oficiais. Ruanda tem
um sistema presidencialista de governo. O presidente atual é Paul Kagame, da Frente
Patriótica Ruandesa (RPF), que assumiu o cargo em 2000. Ruanda hoje tem
baixo nível de corrupção em comparação com os países vizinhos, embora as
organizações de direitos humanos relatam supressão de grupos de oposição, a
intimidação e as restrições à liberdade de expressão. O país tem sido governado
por uma hierarquia administrativa desde os tempos pré-coloniais. Há cinco
províncias delineadas por fronteiras estabelecidas em 2006. O Ruanda é um dos dois
únicos países com maioria feminina no parlamento nacional. Embora próximo da
Linha do Equador, o país possui um clima temperado fresco, devido a sua alta
elevação. O terreno consiste principalmente de planaltos gramíneos e colinas
suaves. A vida selvagem, incluindo raros gorilas-das-montanhas,
resultou no turismo tornando-se um dos maiores setores da economia do país.
Ao
invés do místico genial, temos aqui um árido jurisconsulto; em lugar de uma
exuberante e poética fantasia, as plausíveis combinações de um arrazoado de
advogado. Mac Lennan encontra em muitos povos selvagens, bárbaros e até
civilizados, dos tempos antigos e modernos, uma forma de matrimônio em que o
noivo, só ou assistido por seus amigos, deve arrebatar sua futura esposa da
casa dos pais, simulando um rapto com violência. Este costume deve ser vestígio
de um costume anterior, pelo qual os homens de uma tribo obtinham mulheres
tomando-as realmente de outras tribos, pela força. Mas como teria nascido esse
“matrimônio por rapto”? Enquanto os homens puderam encontrar mulheres
suficientes em sua própria tribo, não tiveram motivo para semelhante
procedimento. Por outro lado, e com frequência não menor, encontramos em povos
não civilizados certos grupos (que em 1865 ainda eram muitas vezes
identificados com as próprias tribos) no seio dos quais era proibido o
matrimônio, vendo-se os homens obrigados a buscar esposas – e as mulheres,
esposos – fora do grupo; enquanto isso, outro costume existe, em outros povos,
pelo qual os homens de determinado grupo só devem procurar suas esposas no seio
de seu próprio grupo.
Mac Lennan chama as primeiras de
tribos “exógamas”; e as segundas, de “endógamas” e, de imediato, sem maior
investigação, estabelece uma antítese bem definida entre as “tribos” exógamas e
endógamas. E, ainda quando as suas próprias investigações sobre a exogamia lhe
evidenciam que, em muitos casos, senão na maioria, ou mesmo em todos, essa
antítese só existe na sua imaginação, nem por isso deixa de toma-la como base
para toda a sua teoria. De acordo com ela, as tribos exógamas não podiam tomar
mulheres senão de outras tribos, o que apenas podia ser feito mediante rapto, dada
a guerra permanente entre as tribos, característica do estado selvagem. De onde
provém a exogamia? Em sua opinião, as ideias de consanguinidade e incesto
nascidas mais tarde nada têm a ver com ele. Sua causa poderia ser o costume
entre eles de matar as crianças do sexo feminino logo após seu nascimento.
Disso
resultaria um excedente de homens em cada tribo, tomada separadamente, tendo
como consequência imediata a posse de uma mesma mulher, em comum, por vários
homens, isto é, a poliandria. Daí decorria, por sua vez, que a mãe de uma
criança era conhecida, mas não o pai; por isso, a ascendência era contada pela
linha materna, e não paterna pelo direito paterno. E da escassez de mulheres no
seio da tribo, atenuada, mas não suprimida pela poliandria, advinha, ainda,
outra consequência, que era precisamente o rapto sistemático de mulheres de
outras tribos. Para Mac Lennan, como a exogamia e a poliandria procedem de uma
só causa, do desequilíbrio numérico entre os sexos, comparativamente devemos
considerar que, “entre todas as raças exógamas, existiu primitivamente a
poliandria”. O mérito de Mac Lennan consiste na difusão geral e
a importância do que ele chama de exogamia. Sobre a existência
de grupos exógamos, não o descobriu e muito menos o compreendeu.
Memorial do genocídio em Rwanda.
Além
disso, também Levis Henry Morgan observara e descrevera perfeitamente o mesmo
fenômeno, em 1847, em suas cartas sobre os iroqueses, e em 1851 na Liga dos
Iroqueses, ao passo que a mentalidade do advogado de Mac Lennan causou confusão
ainda maior sobre o assunto do que a causada pela fantasia mística de Bachofen
no terreno do direito materno. Outro mérito de Mac Lennan consiste em ter
reconhecido como primária a ordem de descendência baseada no direito materno,
conquanto, também aqui, conforme reconheceu mais tarde, Bachofen se lhe tenha
antecipado. Mas, também neste ponto, ele não vê claro, pois fala, sem cessar,
“em parentesco apenas por linha feminina” (“kinship through females only”),
empregando continuamente essa expressão, exata apara um período anterior, na
análise de fases posteriores de desenvolvimento, em que, se é verdade que a
filiação e o direito de herança continuam a contar-se exclusivamente segundo a
linha materna, o parentesco por linha paterna também está reconhecido e
expresso na estreiteza de critério do “jurisconsulto”, que forja um termo
jurídico socialmente fixo e continua aplicando-o, sem modifica-lo.
Não
obstante, sua teoria foi acolhida na
Inglaterra com grande aprovação e simpatia. Mac Lennan foi considerado por
todos como o fundador da história da família e a primeira autoridade na
matéria. Sua antítese entre as “tribos” exógamas e endógamas continuou sendo a
base reconhecida das opiniões dominantes, apesar de certas exceções e
modificações admitidas, e se transformou nos antolhos que impediam ver
livremente o terreno explorado e, por conseguinte, todo progresso decisivo. Em
face do exagero dos méritos de Mac Lennan , que ficou em voga na Inglaterra e,
seguida a moda inglesa, em toda a parte, devemos assinalar que, ratifica Friedrich
Engels, com sua antítese de “tribos” exógenas e endógamas, baseada na mais pura
confusão, ele causou um prejuízo maior do que os serviços prestados em suas
pesquisas etnográficas.
Imediatamente
depois, em 1871, apareceu em cena Lewis Henry Morgan com documentos novos e,
sob muitos pontos de vista, decisivos. Convencera-se que o sistema de
parentesco próprio dos iroqueses, e ainda em vigor entre eles, era comum a
todos os aborígenes norte-americanos, que estava difundido em todo o
continente, ainda quando em condição formal com os graus de parentesco que
resultam do sistema conjugal ali imperante. Incitou, então, o governo federal
americano a que recolhesse informes sobre os sistemas de parentesco dos demais
povos, de acordo com um formulário e quadros elaborados por ele mesmo. Morgan
publicou os dados coligidos e as conclusões que deles tirou em seu “Sistema de
Consanguinidade e Afinidade da Família Humana” em 1871, levando, assim, a
discussão para um campo infinitamente mais amplo. Tomou como ponto de partida
os sistemas de parentesco e, reconstituindo as formas de família a eles
correspondentes, abriu novos caminhos à investigação e criou a possibilidade de
se ver muito mais longe na pré-história da humanidade. A aceitação desse método
reduzia a pó as frágeis definições de Mac Lennan.
Kofi
Annan nasceu no distrito de Kofandros de Kumasi, Gana, uma colônia britânica da
Costa do Ouro. Ele foi irmão de Efua Atta, que morreu em 1991, mas compartilhava
seu nome do meio Atta, que em “fanti” e “akan” significa justamente gêmeo.
Annan e sua irmã nasceram em uma das famílias aristocráticas de seu país; tanto
seus avós e seu tio eram chefes tribais. De 1954 a 1957, Annan frequentou o
colégio elitista Mfantsipim, um internato metodista em Cape Coast fundado na
década de 1870, onde aprendeu o que o colégio lhe ensinou “que o sofrimento em
qualquer lugar preocupa pessoas em todo lugar”. Em 1957, ano em que se graduou
em Mfantsipim, Gana tornou-se independente do Reino Unido. Em 1958, estudou
economia na Faculdade de Ciência e Tecnologia de Kumasi, atual Universidade
Kwame Nkrumah de Ciência e Tecnologia de Gana, através de bolsa da Fundação
Ford, possibilitando-o completar seus estudos de graduação no Macalester
College em St. Paul, Minnesota (EUA), em 1961. Estudou Relações Internacionais
no Graduate Institute of International and Development Studies em Genebra
(1961-62). Após alguns anos de experiência de trabalho, ele estudou no MIT
Sloan School of Management (1971–72) no programa “Sloan Fellows” obtendo o
diploma de Master of Science (M Sc.).
Annan era fluente em inglês, francês, kru, outros dialetos de akan, e algumas
línguas africanas. Kofi Annan foi o primeiro negro a ocupar o cargo de
secretário geral da Organização das Nações Unidas.
Na década de 1960, durante o
processo de descolonização do pós-Segunda Guerra, o território ruandês foi
deixado pelos belgas. Em quase meio século de dominação, ódio entre as duas
etnias transformara aquela região em “uma bomba prestes a explodir”. Cercados
por uma série de problemas, a maioria hutu passou a atribuir todas as mazelas
da nação à população tutsi. Pressionados pelo revanchismo, os tutsis
abandonaram o país e formaram imensos campos de refugiados em Uganda. Mesmo
acuados, os tutsis e alguns hutus moderados se organizaram politicamente com o
intuito de derrubar o governo do presidente Juvenal Habyarimana e retornar ao
país. Esta mobilização deu origem à Frente
Patriótica Ruandense (FPR), liderada por Paul Kagame. Na década de 1990,
vários incidentes demarcavam a clara insustentabilidade da relação entre tutsis
e hutus. O ponto alto dessa tensão ocorreu no dia 6 de abril de 1994, quando um
atentado derrubou o avião que transportava o presidente Habyarimana. A ação foi
atribuída aos tutsis ligados ao FPR. Na capital da Ruanda (Kigali), membros da
guarda presidencial organizaram as primeiras perseguições contra os tutsis e
hutus moderados que formavam o grupo de oposição política no país.
Em abril de 1994, o presidente hutu ruandês Juvénal Habyarimana (1937-1994) foi morto num atentado contra o avião em que viajava. No dia seguinte, o genocídio começou. Sem apresentar provas, as lideranças hutus acusaram os tutsis pelo assassinato do presidente e conclamaram a população a iniciar a matança. As milícias hutus avançaram contra vilarejos e cidades por todo o país, matando os que viam pela frente. Postos de controle foram estabelecidos nas ruas. Pessoas identificadas como membros da minoria tutsi eram sumariamente executados. O massacre sistemático no país contra os tutsis causou um deslocamento maciço da população para os campos de refugiados situados nas áreas de fronteira, em especial com o Zaire, hoje República Democrática do Congo e Uganda. Em agosto de 1995, tropas do Zaire tentaram forçar o retorno desses refugiados para Ruanda. Catorze mil pessoas foram então devolvidas a Ruanda, enquanto outras 150.000 refugiaram-se nas montanhas.Mais de 500 000 pessoas foram massacradas entre 7 de abril e 15 de julho de 1994 outras fontes estatísticas de até 1 milhão de pessoas teriam sido mortas. Um grande número de mulheres foram estupradas. Muitos dos 5 000 meninos nascidos dessas violações foram assassinados.
Juvénal
Habyarimana representou o terceiro presidente da República de Ruanda, cargo que
ocupou mais tempo do que qualquer outro presidente do país, até o momento, de
1973 até 1994. Durante seu mandato de 20 anos, favoreceu o seu próprio grupo
étnico, os hutus, e apoiou a maioria hutu no vizinho Burundi contra o governo
tutsi. Ele foi apelidado de Kinani, uma palavra Kinyarwanda que
significa “invencível”. Habyarimana foi descrito pelos críticos como um
ditador, que citam o fato de ser reeleito por unanimidade, com 98,99% dos votos
em 24 de dezembro de 1978, 99,97% dos votos em 19 de dezembro de 1983, e 99,98%
dos votos em 19 de dezembro de 1988. Durante o seu governo, Ruanda tornou-se um
Estado totalitário em que os dirigentes do partido tendido à extrema-direita
chamado Movimento Republicano Nacional por Democracia e Desenvolvimento
exigiam que as pessoas cantassem e dançassem em bajulação ao presidente em
concursos de massas de animação política. Embora no país, em geral, a pobreza
cresceu um pouco menos durante o mandato de Habyarimana, a grande maioria dos
ruandeses permaneceu em situação de extrema pobreza. Em 6 de abril de 1994, ele
foi morto quando seu avião, transportando também o presidente do Burundi,
Cyprien Ntaryamira, foi derrubado perto do Aeroporto Internacional de Kigali.
Seu assassinato inflamou as tensões étnicas na região e ajudou a desencadear o
genocídio de Ruanda.
Kofi Annan: Nobel da Paz em
2001.
Em 1962, Kofi Annan começou a
trabalhar como Diretor de Orçamento para a Organização
Mundial da Saúde, uma agência das Nações Unidas (ONU). De 1974 a 1976, ele
trabalhou como Diretor de Turismo em Gana. No final dos anos 1980, Annan voltou
a trabalhar para as Nações Unidas, onde foi nomeado secretário-geral Adjunto em
três posições consecutivas: Gestão dos Recursos Humanos e Coordenador para as
Medidas de Segurança do Sistema das Nações Unidas (1987-1990);
Subsecretário-Geral para Planeamento de Programas, Orçamento e Finanças e de
Controlador (1990-1992); e Operações de Manutenção da Paz (março de 1993 a dezembro
de 1996). O Genocídio em Ruanda ocorreu em 1994 enquanto Annan dirigia a
Operações de Manutenção da Paz. Em 2003 o ex-general canadense Roméo Dallaire,
que foi comandante da força da Missão de Assistência das Nações Unidas para
Ruanda, afirmou que Annan foi excessivamente passivo em sua resposta ao
genocídio iminente. Em seu livro: “Shake Hands with the Devil: The Failure of
Humanity in Rwanda” (2003), o general Dallaire declarou que Annan reteve as
tropas das Nações Unidas de intervir para resolver o conflito, e de fornecer
mais apoio material e logístico. Dallaire afirmou que Annan falhou em fornecer
respostas “aos seus repetidos faxes pedindo acesso a um depósito de armas; tais
armas poderiam ter ajudado Dallaire a defender os quase extintos Tutsis”. Em
2004, dez anos depois do genocídio Annan disse: - “Eu poderia e deveria ter
feito mais para soar o alarme e reunir apoio”. Annan serviu como
subsecretário-geral desde março de 1994 a outubro de 1995. Foi nomeado
Representante Especial do Secretário-Geral para a ex-Iugoslávia antes de
retornar às suas funções em abril de 1996.
O
genocídio só terminou quando a Frente
Patriótica Ruandesa derrotou o governo e se instalou definitivamente no
poder. Até os dias atuais, o massacre deixa um profundo legado de violência em
Ruanda. O país segue enfrentando problemas étnicos e religiosos, ao mesmo tempo
em que sofre com dificuldades econômicas seguida de corrupção, gerando extrema
pobreza entre a população. Muitos hutus
ajudaram os tutsis a escapar das perseguições. Um caso notório foi o do gerente
do Hotel Mille Collines, em Kigali, que foi responsável pela salvação de 1 268
tutsis e hutus, abrigando-os no hotel. Paul Rusesabagina ficou mundialmente
conhecido ao ser retratado no filme “Hotel Ruanda” sobre o massacre.
Rusesabagina, residente na Bélgica, afirma que, se não forem tomadas decisões
contra o tribalismo em Ruanda, o genocídio poderá voltar a ocorrer, agora pelas
mãos dos tutsis, governantes do país desde o fim da matança.
Hotel
Rwanda é um filme de 2004 dirigido por Terry George e estrelado por Don
Cheadle, Nick Nolte, Joaquin Phoenix, Desmond Dube e Sophie Okonedo. O filme é
uma coprodução da Itália, Reino Unido e África do Sul, e relata a história real
de Paul Rusesabagina, que foi capaz de salvar a vida de 1268 pessoas durante o
genocídio de Ruanda em 1994. Logo depois das primeiras exibições, sua história
foi imediatamente comparada com a de Oskar Schindler. A história se passa em
Kigali, capital da Ruanda em 1994, no que ficou conhecido por Genocídio de
Ruanda. Paul Rusesabagina (Don Cheadle) é gerente do Hotel des Mille Collines,
propriedade da empresa belga "Sabena". Relata um período de aumento
da tensão entre a maioria hutu e a minoria tutsi, duas etnias de um mesmo povo
que ninguém sabe diferenciar uma da outra a não ser pelos documentos. Tudo
começa quando o presidente de Ruanda morre em um atentado, como retaliação, após
assinar um acordo de paz. Imediatamente os hutus entram em guerra aos tutsis,
dando início a matança genocida destes últimos.
Neste
instante, Paul tenta proteger sua família, mas com o iminente massacre
generalizado, compra favores para proteger seus vizinhos que haviam pedido
abrigo em sua casa na primeira noite de atrocidades. Com a continuidade da
tensão e mortes de governantes, os turistas partem enquanto que no hotel,
aumentam a quantidade de vítimas que procuram abrigo e proteção. As forças da
ONU fazem a segurança do mais novo “hotel de refugiados”. Pela compra de
favores dos militares e da milícia Interahamwe, Paul consegue manter o hotel a
salvo. O Coronel Oliver (Nick Nolte) é um personagem fictício que representa os
militares canadenses no comando das forças de paz da Missão de Assistência das Nações Unidas para Ruanda (UNAMIR), que
tentam proteger vidas mesmo sem poder contar com de tropas treinadas para a
guerra. Em 8 de novembro de 1994, através da resolução
955 do Conselho de Segurança da ONU, foi criado o Tribunal Pénal International pour le Rwanda (TPIR) pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas
para julgamento dos responsáveis pelo genocídio e outras violações (como
estupro) das leis internacionais acontecidas no território nacional de Ruanda
em 1994, causado por oficiais e cidadãos ruandenses entre 1 de janeiro e 31 de
dezembro de 1994.
Em 1995, o tribunal foi sediado em Arusha, na Tanzânia e a
partir de 1998 suas atividades foram expandidas. A ONU determinou ao tribunal
que completasse suas investigações até 2004, todas as atividades de julgamento
em 2008 e encerrasse os trabalhos em 2010. O Tribunal tem jurisdição sobre genocídio,
crimes contra a humanidade e crimes de guerra, que são definidos como violações
de artigos relativos a genocídios cometidos em conflitos internos pela
Convenção de Genebra. Em dezembro de 2008, o Tribunal condenou à prisão
perpétua os três principais dirigentes do governo de etnia hutu que massacrou
800 mil tutsis em 1994, Theoneste Bagosora, Aloys Ntabakuze e Anatole
Nsengiyumva. Contudo, a Corte Penal Internacional é competente para julgar
somente os crimes cometidos após a sua criação, em 1º de julho de 2002. Vários
ministros foram considerados culpados de participação no
genocídio Em 2011, antigos chefes militares foram considerados culpados de
genocídio quando se calcula em torno de 800 mil mortes nos combates.
Em
julho de 2002, o mundo passou a contar com um tribunal capaz de julgar os
responsáveis pelos mais graves crimes de guerra e crimes contra a humanidade do
mundo. Passados 16 anos a lista de países que se encontram sob uma investigação
no Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia, mão por acaso, tem
apenas representantes do continente africano. De forma geral, as investigações
se referem a graves violações aos direitos humanos e ao direito internacional
humanitário em situações de conflito armado, tais como genocídios, ataques à população
civil, crimes sexuais em contexto de guerra, recrutamento de crianças,
execuções sumárias e desaparições forçadas. O fato de todos os nove casos de
oito países, pois a República Centro-Africana tem dois casos na corte se
referirem a Estados do continente desperta acusações de “seletividade” e
“neocolonialismo” em alguns setores. A crítica política mais comum, segundo Charleaux
(2016) é a de que a corte reproduz uma lógica de dominação segundo a qual os
países ricos do norte condenam os países pobres do sul.
Em
junho de 2015, Gwende Mantashe, secretário-geral do Congresso Nacional Africano
(CNA), partido que governa a África do Sul desde 1994, disse que o Tribunal
Penal Internacional “é perigoso” e que as nações africanas deveriam
“retirar-se” do Estatuto de Roma - o tratado aos quais os países aderem, aceitando
a jurisdição do tribunal. A declaração foi feita logo após a visita a
Johanesburgo do presidente sudanês, Omar al-Bashir. Ele estava de passagem pela
África do Sul para participar de uma reunião de cúpula da União Africana.
Bashir foi o primeiro presidente em exercício acusado pelo Tribunal Penal
Internacional, em 2009, por “genocídio”, e pesa ainda contra ele “uma ordem
internacional de captura”. As autoridades sul-africanas, entretanto, se negaram
a entregar Bashir, garantindo ao presidente sudanês as prerrogativas de
proteção conferidas pela “Convenção de Viena Sobre Relações Diplomáticas de
1961” - que protege pessoal diplomático, assim como suas instalações e veículos
em território estrangeiro. Naquela conjuntura, o governo sul-africano anunciou
que pediria a revisão das cláusulas do Estatuto de Roma que tratam do
“consentimento de entrega” de uma pessoa com mandato de captura. Em nota
oficial, o CNA denunciou a “seletividade” da corte: “São os países africanos e
da Europa do leste que continuam injustificadamente a suportar o peso das
decisões do tribunal”, dizia o texto, fazendo referência também à Geórgia e à
Ucrânia, países do leste europeu cujos casos estão sob “análise preliminar” da
corte, mas não foram integralmente acolhidos.
A adesão ao tribunal é
espontânea, mas a jurisdição da corte deve obedecer ao princípio da
“complementariedade”. Segundo esse princípio, cabe ao próprio Estado a primazia
de julgar seus criminosos. O TPI tem, então, papel complementar, caso o Estado
em questão não possa ou não queira realizar esse tipo de julgamento. A
presidenta eleita Dilma Rousseff lamentou a morte do diplomata ganês,
ex-secretário-geral da ONU e Nobel da Paz, Kofi Annan, morto neste sábado (18-08),
aos 80 anos. - “É com pesar que recebo a notícia da morte de Kofi Annan. O
mundo perde um líder comprometido com a paz mundial e a busca de soluções para
o futuro da humanidade. O Brasil também perde um interlocutor e amigo. Meus
sentimentos à família, admiradores e ao povo de Gana e da África”. O perfil do
ex-presidente Lula, no Twitter, também divulgou nota de pesar. – “O mundo
perdeu @KofiAnnan. Tive a felicidade de ser presidente durante seu mandato e
testemunhei sua dedicação para a harmonia entre os povos. Minha solidariedade
especialmente ao povo africano pela triste perda de um líder inspirador, que
será lembrado por sua jornada pela paz”. Em 2001, recebeu o Prêmio Nobel da Paz
pela criação do Fundo Global de Luta contra AIDS, Tuberculose e Malária,
destinados a colaborar com os países em desenvolvimento. Marcou o comando da ONU
por investigações de assédio sexual e desvios de recursos envolvendo
funcionários da entidade.
Bibliografia
geral consultada.
MARCHAL,
Roland, “La Cause des Armes au Mozambique: Anthropologie d une Guerre Civile”.
In: Cultures & Conflits, 1990; MATTELART,
Armand, Histoire de l´Utopie Planetaire -
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