quarta-feira, 20 de março de 2019

João Doria Jr. - Elite Social, Política & Liberais Pró-Limpeza Social.

                                                                                                                     Ubiracy de Souza Braga
                                                                                             
                Doria chama mais de 30 milhões de brasileiros de vagabundos”. Ivan Longo

            Conheça a história das três gerações de 'Joões Dorias' que ...
          
            Limpeza social é um termo da sociologia que se refere à eliminação de elementos sociais “indesejáveis”, como criminosos, pois palavra vem do termo latino crimen, ou delito, antimoralistas e sem-teto, considerado como a violação de uma norma penal - lei penal, não punível pela lei ou por um estado ou outra autoridade quando os fatos não são praticados por dolo ou negligência, mas sejam determinados por uma ilegalidade ou transgressão aos direitos de outrem. Se a ilegalidade for cometida pelo próprio e contra ele mesmo, ou contra terceiros, e aquele reagir a essa ilegalidade ou promover a reação contrária de terceiros, só ele é o responsável, e por isso punido por todos os fatos seguintes em razão da autoria, pois a pessoa que dá início a todos os fatos em sequência até ao fim do crime, acontecimento, catástrofe ou monstruosidade. O termo se popularizou no final da década de 1980, quando organizações clandestinas começaram a praticar a chamada “limpeza social” em vários países latino-americanos. O direito é um poder, mas um poder de legitimidade e não da suposta ilegalidade, daí que, por lei, o consentimento na prática de um crime punível, contra o próprio ou contra terceiros, é sempre também um crime punível. Porque a lei proíbe a prática de qualquer crime punível e seja por que motivo for.

O termo “crime” não tem, no direito penal moderno, qualquer definição simples e universalmente aceite. A visão mais popular é que o crime é uma categoria criada pela lei, devido a ignorância ou até como meio de garantir negócios ilegais escondidos pelos agentes do estado sombra. Em outras palavras, algo é um crime se declarado como tal pela lei pertinente e aplicável. Uma definição proposta é que um crime é um ato nocivo não apenas para um indivíduo, mas também para uma comunidade, sociedade ou o estado. Tais atos são então proibidos e puníveis por lei. O comportamento criminal é definido pelas leis de jurisdições particulares e, por vezes, há grandes diferenças mesmo dentro dos países sobre quais tipos de comportamento são proibidos. A conduta que é legal em um país ou jurisdição pode ser criminosa em outra e a atividade que equivale a uma infração trivial em uma jurisdição pode constituir um crime grave em outros lugares. A mudança dos tempos e atitudes sociais podem levar a mudanças no Direito penal de modo que o comportamento que antes era criminoso pode tornar-se legal por exemplo, o aborto, outrora proibido, exceto nas circunstâncias mais incomuns, é legal em muitos países. Elitista, para o que nos interessa, é um termo comumente referido enquanto relação social, cujo sentido é dado, implicitamente, como óbvio, daí não ser compreendido na prática como “suspostamente carecendo de qualquer explicação”. 

          O problema teórico é que diferentes autores em sociologia e teoria política tomam o termo de formas muito distintas. Contudo, o uso mais rigoroso desse conceito, dando-lhe tratamento teórico, histórico e analítico ao mesmo tempo mais preciso, rigoroso e complexo, pode demonstrar-se bastante útil para ao menos com relação a três fins: 1) Como termo para designar grupos políticos tradicionais que dominam determinadas regiões, ou, por derivação de interesses, seu governo; 2) Como termo tomado na sua acepção clássica, platônica e aristotélica, de “governo dos ricos” ou, por extensão, como o “grupo dos ricos”. Trata-se de um uso que não se distingue completamente do primeiro significado; 3) Como um grupo minoritário dotado de poder político no âmbito das organizações, principalmente, mas não só de caráter representativo, ou de representação seu próprio governo. Essa concepção da classe política é importante na construção de um conceito descritivo de oligarquia porque é ela que permite pensar nos oligarcas como um grupo de poder específico e na oligarquia como a forma de predomínio desse grupo, que se distingue dos demais não por sua origem de classe, mas pelo papel organizacional específico que desempenha.
         Na concepção do pensamento político grego clássico de Platão e Aristóteles, o conceito de oligarquia aparece no âmbito da discussão sobre formas de governo, sendo pelos dois autores definido e reconhecido como o governo dos ricos. Tão importante é a análise teórica no âmbito da riqueza, isto é, tendo em vista a definição do governo oligárquico, que Aristóteles chega a afirmar que é possível uma oligarquia na qual os governantes sejam uma minoria de ricos. Ipso facto que oprime uma maioria de pobres, que os legitimam em suas assembleias, muito embora se deva reconhecer que tal situação não é improvável, já que usualmente os ricos é que são minoritários. É isto que fez com que na tipologia criada por Aristóteles, dividindo as formas de governo entre boas e más, o critério numérico acabasse por prevalecer na sua especificação: divididas as formas em boas ou más, teríamos os governos geridos por um (monarquia, tirania), poucos (aristocracia, oligarquia) ou muitos (república, democracia). A oligarquia seria a forma “depravada” do governo de poucos (cuja forma boa é a aristocracia), já que é improvável que os ricos sejam os mais numerosos.           
      A pesquisa teórica sobre a elite no partido foi desenvolvida justamente na organização partidária que tinha como finalidade democratizar na sociedade alemã, o partido socialdemocrata, onde o consenso e a pública declaração afastava a hipótese adiantada pelo inquiridor. Robert Michels demonstrou que a necessidade de organização e burocratização suscitou o aparecimento de uma camada de dirigentes autoritários que despertaram nas massas sentimentos favoráveis e que chegaram a considerar a sua qualidade de representantes como propriedade particular. Por outro lado, a mídia interage neste século como partido político, populariza o voto do eleitor, cultua o personalismo através da individualização das referências e da veiculação das imagens nas imagens de TV, nas primeiras páginas dos jornais consumidos pelos leitores. Contemporâneo de Vilfredo Pareto e Robert Michels, Gaetano Mosca é um dos exponentes elitistas. Na sua análise política sobre o poder partidário critica a tripartição aristotélica das formas de governo: monarquia, oligarquia e democracia e sustenta só haver uma forma de governo exercida por uma única classe política, a oligarquia.



Vale lembrar que Sir Charles Spencer Chaplin, reconhecido como Charlie Chaplin (1889-1977), foi um ator, diretor, produtor, comediante, dançarino, roteirista e músico britânico. E um dos atores mais famosos da chamada “Era do Cinema Mudo”, notabilizado pelo uso de mímica e da “comédia pastelão”. Atuou, dirigiu, escreveu, produziu e financiou seus próprios filmes, sendo fortemente influenciado por um antecessor, o comediante francês Max Linder (1883-1925), a quem ele dedicou um de seus filmes. Sua carreira no ramo do entretenimento durou mais de 75 anos, desde suas primeiras atuações quando ainda era criança nos teatros do Reino Unido durante a Era Vitoriana quase até sua morte aos 88 anos de idade. Sua vida pública e privada abrangia adulação e controvérsia. Juntamente com Mary Pickford, Douglas Fairbanks e D. W. Griffith, Chaplin fora co-fundador da United Artists, uma Companhia fundada em 5 de fevereiro de 1919. D. W. Griffith nasceu em La Grange, Oldham County, Kentucky, filho de Jacob “Roaring Jake” Griffith, um colono do Confederate Army e herói da importantíssima Guerra Civil Americana.

Começou sua carreira como um próspero dramaturgo, mas não conseguiu sucesso global. Depois se tornou ator. Encontrando seu caminho no cinema, em pouco tempo dirigia um grande corpo de trabalho, levando Charles Chaplin a chama-lo de “o professor de todos nós”. Chaplin foi um ator, diretor, produtor, comediante, dançarino, roteirista e músico britânico. Um dos atores mais famosos da era do chamado “cinema mudo”, notabilizado pelo uso de mímica e da “comédia pastelão”, sendo influenciado por seu antecessor, o comediante francês Max Linder (1883-1925), um extraordinário ator de cinema francês da chamada “era do cinema mudo”, o pai da primeira geração de comediantes do cinema norte-americano, a quem ele dedicou um de seus filmes. Seu principal e mais famoso personagem historicamente foi o típico The Tramp, reconhecido internacionalmente como Charlot, na Europa, e igualmente reconhecido como Carlitos, ou “O Vagabundo”, entre nós, em análise comparada no caso do brasileiro.

Consiste em um andarilho pobretão que possui todas as maneiras refinadas e a dignidade de um gentleman, usando “um fraque preto esgarçado, calças e sapatos desgastados e mais largos que o seu número, um chapéu-coco ou cartola, uma bengala de bambu e – sua marca pessoal – um pequeno bigode-de-broxa”. Foi também um talentoso jogador de xadrez e chegou a enfrentar o campeão estadunidense Samuel Reshevsky. Em 2008, em uma resenha do livro: Chaplin: A Life, Martin Sieff escreve: - “Chaplin não foi apenas ´grande`, ele foi gigantesco”. Em 1915, ele “estourou” um mundo dilacerado pela guerra trazendo da comédia, risos e alívio enquanto ele estava se dividindo ao meio pela Primeira grande Guerra. Durante os próximos 25 anos, através da Grande Depressão e da infeliz ascensão do nazismo, ele permaneceu no emprego. Ele foi maior do que qualquer um. É duvidoso que algum outro indivíduo tenha dado mais entretenimento, prazer e alívio para tantos seres humanos quando eles mais precisavam. O termo Sétima Arte, para designar o cinema, foi estabelecido por Ricciotto Canudo no “Manifesto das Sete Artes”, em 1911, embora tenha sido publicado apenas em 1923.

Por sua inigualável contribuição ao desenvolvimento da Sétima Arte, Chaplin é o mais homenageado cineasta de todos os tempos, sendo ainda em vida condecorado pelo governo britânico: “Cavaleiro do Império Britânico”, pelo governo francês: “Légion d`Honneur”, pela Universidade de Oxford: Doutor Honoris Causa e pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos da América com o Óscar especial “pelo conjunto da obra”, em 1972. Além de atuar, Chaplin dirigiu, escreveu, produziu e eventualmente compôs a trilha sonora de seus próprios filmes, tornando-se uma das personalidades mais criativas e influentes em sua progênie da era do “cinema mudo”. Chaplin foi fortemente influenciado por um antecessor, como vimos o comediante francês Max Linder, a quem ele dedicou um de seus filmes. Era canhoto, nasceu no dia 16 de abril de 1889, na East Street, Walworth, Londres, Inglaterra. Seus pais eram artistas de music-hall. Seu pai, Charles Spencer Chaplin, era vocalista e ator, e sua mãe, Hannah Chaplin, era cantora e atriz. Chaplin aprendeu a cantar com seus pais, os quais se separaram antes dele completar três anos de idade. Após a separação, Chaplin foi deixado aos cuidados de sua mãe, que estava mais instável emocionalmente. O censo de 1891 demonstra que a mãe morava com Charlie e seu “meio-irmão” Sydney, na Barlow Street, Walworth. Um problema de laringe finda a carreira da mãe de Chaplin.

Considera que, em cada sociedade, existem apenas duas classes: os governantes, que são as elites que detêm o poder, e os governados, isto é, o resto da sociedade, e neste sentido, a governabilidade da elite política no poder é organizada de tal modo que mantém num processo de longo prazo, “a própria posição, tutelando seus próprios interesses, para isso utilizando até mesmo os meios públicos à sua disposição”. Não por acaso interpreta um conjunto de práticas e saberes sociais representados em torno da democracia, o parlamentarismo, o socialismo sejam somente utopias ou teorias políticas construídas para “legitimar e manter um poder que sempre está em mãos de poucos homens”. Enfim, o elitismo é uma categoria social de interpretação sociológica ou da teoria política que sustenta analiticamente que o poder: a) só se reproduz por vias democráticas quando a oligarquia permite o ingresso dos membros de qualquer classe social; b) existe uma reprodução do poder pela via aristocrática, mas a substituição ocorre sempre no interior da elite. Enfim, c) essa troca dependerá também da situação do Estado. Numa condição de guerra, por exemplo, o ingresso na classe política será facilitado para os generais, comandantes, etc. Gaetano Mosca foi senador durante o período de governo liberal e, sendo o cargo vitalício, também durante a ascensão do fascismo, ideologia com a qual não concordava aparentemente, o que o fez refletir “sobre o valor daquele parlamentarismo tão criticado nas suas primeiras obras”.
Ipso facto Gaetano Mosca se ocupou exclusivamente das chamadas elites políticas, embora não utilizasse o termo elite, mas, classe política. A recusa do termo elite se justifica na medida em que o seu significado pode conduzir à ideia de que aqueles que estão no poder sejam “in partibus infidelium”, ou, “nelle terre dei non credenti: os elementos melhores da sociedade”. Tais minorias governantes são formadas por indivíduos que “se distinguem da massa dos governados por certas qualidades que lhes dão certa superioridade material, intelectual ou mesmo moral. Em outras palavras, esses indivíduos devem ter algum requisito, verdadeiro ou aparente, fortemente valorizado na sociedade em que vivem” - ou então devem ser os herdeiros daqueles dotados dessa característica.  Em Gaetano Mosca, existem dois casos recorrentes da de governabilidade da vida política, os quais são somente fenômenos aparentes, pois em sua explicação existe um só homem no comando. No entanto, a elite se deixa destituir pela massa movida pelo descontentamento. A autocracia se baseia numa classe política, e quem está no comando do governo não pode ir contra a classe política que constitutivo do princípio da organização. Por mais que a “massa” possa acreditar que pode destituir uma elite, surgirá uma restrita classe, pois sem classe política não se governa.
              Embora se reconheça que, em muitos casos e em muitas situações, os partidos políticos manifestam tendências oligárquicas, a interpretação de Robert Michels foi criticada porque ela apresenta como “lei” um fenômeno que pode verificar-se em algumas circunstâncias históricas, pode ser uma tendência em outras, ou pode até nem apresentar-se de fato em outros casos ainda. O modo de funcionamento dos partidos políticos não é uniforme. Ele pode variar segundo os tempos históricos e os lugares e espaços é por isso difícil, a propósito, encontrar uma regra entre métodos que seja válida universalmente. Quando o nível de participação social for elevado e o envolvimento político dos cidadãos intenso, a delegação e o controle sobre ela serão acumulados e específicos e os partidos políticos serão levados a colocar um questionamento político que tenha em conta as exigências e as necessidades mais gerais dos próprios associados e simpatizantes. Ao contrário, quando ocorre um baixo nível de participação social e uma situação de não mobilização tornarão menos controlável a delegação favorecerá a cristalização das estruturas políticas permitindo que estas funcionem como filtro de questionamentos particulares e setoriais. Em resumo, a possibilidade de os partidos políticos serem instrumento de democracia está dependente, comparativamente, do controle direto e da participação social das massas do ponto de vista local, regional e nacional, como tem sido visto nesta conjuntura política eleitoral fascista no Brasil.  
Em uma versão mais amena da tese elitista de Robert Michels sobre a “lei de ferro da oligarquia”, Robert Dahl concorda que as políticas dos Estados não resultam da articulação dos desejos da maioria da população, mas da constante satisfação dos desejos de um número relativamente pequeno de grupos de interesse. Assim, “regras que são apoiadas apenas por uma minoria rica e educada” - dinheiro e conhecimento sendo recursos políticos importantes - e contestadas pelo restante dos eleitores têm certamente mais probabilidade de perdurar do que regras que são apoiadas por uma maioria pobre e não educada e contestadas pelo restante dos eleitores. Do mesmo modo, regras intensamente apoiada por uma minoria e fracamente rejeitada pelo restante têm maior probabilidade de durar do que regras fracamente apoiada por uma maioria e intensamente rejeitada por uma minoria. Admite que a apatia do eleitorado em geral é não só inevitável mas até mesmo desejável, contribuindo para a estabilidade do sistema. Melhor dizendo, “em certas circunstâncias um sistema democrático pode ser altamente estável se uma parte substancial do eleitorado meramente aceita-o”. 
Interessados nas formas manifestas individuais e coletivas de comportamento e interesse políticos - em contraste com a desorganização, ignorância e apatia da maioria – estes pensadores concluíram pela impossibilidade da democracia no sentido político clássico, negando qualquer significado efetivo a expressões como, por exemplo, “interesse público” e “bem comum”. Segundo Robert Dahl, alguns requisitos sociais devem ser garantidos no âmbito da democracia, a saber: liberdade de organização; liberdade de expressão; direito de voto; elegibilidade para cargos públicos; direito de disputar o poder; fontes alternativas de informação; eleições livres e idôneas. Para Huntington, tal definição é vista no discurso de Gettysburg - “o governo do povo, pelo povo e para o povo” - carece de sentido, tanto do ponto de vista empírico e analítico. Assim, “a democracia tem um significado útil somente se definida em termos institucionais. A instituição chave é a escolha dos líderes por meio de eleições competitivas”. Para Sartori, “a democracia como é na realidade, não é a democracia como deveria ser. A democracia é antes de tudo e acima de tudo, um ideal”.
Vale lembrar que o discurso de Gettysburg - mutatis mutandis - é o mais famoso discurso do presidente dos Estados Unidos da América, Abraham Lincoln. Foi proferido na cerimónia de dedicação do Cemitério Nacional de Gettysburg, na tarde do dia 19 de novembro de 1863, quatro meses depois da vitória na batalha de Gettysburg, decisiva para o resultado da Guerra de Secessão. Em apenas 272 palavras, ditas em menos de dois minutos, Lincoln invocou os princípios da igualdade da Declaração de Independência e definiu o final da Guerra Civil como um novo nascimento da Liberdade que iria trazer a igualdade entre todos os cidadãos, criando uma nação unificada em que os poderes dos estados não se sobrepusessem ao “governo do povo, pelo povo, para o povo”. A importância do Discurso de Gettysburg é comprovada pela sua recorrência na cultura norte-americana. Além de estar gravado no Memorial de Lincoln em Washington, DC, o discurso é estudado nas escolas, sendo frequentemente mencionado nos meios de comunicação de massa e em obras de cultura popular.
João Agripino da Costa Doria Junior, reconhecido como João Doria Jr., é um empresário, jornalista, publicitário e político brasileiro, filiado ao PSDB desde 2001, que é o atual governador de São Paulo. Tornou-se reconhecido por ser entrevistador em talk-shows, palestrante e organizador de eventos empresariais. Ingressou na vida pública como secretário de Turismo de São Paulo e presidente da Paulistur (1983–86), no governo de Mário Covas, e presidente da Embratur (1986-88), no governo do vice-presidente não eleito José Sarney, ambas estatais da área social do turismo. Não teria outro cargo público até se tornar prefeito de São Paulo, trinta anos mais tarde. Em 2001, Doria filiou-se ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), partido fundado em 1988 e com o qual afirma sempre ter pari passu identificação ideológica e política.
Costuma citar o cargo de presidente da Paulistur, na prefeitura de Mário Covas, ainda nos anos 1980, como prova de que seria um “tucano de raiz”, embora só tenha se filiado ao partido em 2001. Entretanto, seus rivais dentro do partido “descobriram que ele votou em Fernando Collor de Mello, em 1989, quando Covas também era candidato a presidente”. Covas teria flagrado Doria usando uma camiseta “collorida” ainda no 1° turno das eleições. Também presidiu o Conselho Nacional de Turismo (1986-1988). Em 2007, juntamente com alguns empresários e personalidades, liderou o “Cansei”, um movimento político conservador criado por setores de oposição ao então governo trabalhista de Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT). Em 20 de março de 2016, venceu as prévias do PSDB para ser o candidato do partido a concorrer à Prefeitura de São Paulo nas eleições municipais de 2016. Em 2 de outubro foi eleito prefeito da cidade de São Paulo extraordinariamente no 1° turno, fato inédito na história política da cidade desde as eleições municipais de 1992. Em 15 meses após a sua posse, não assumiu um “compromisso público” de cumprir o seu mandato  renunciou ao cargo público para se candidatar às eleições ao governo do Estado. Venceu a disputa no 2° turno contra Márcio França, do Partido Socialista Brasileiro (PSB). 
João Doria Júnior se elegeu para a prefeitura de São Paulo em 2016 afirmando ser um gestor, e não um político. Seu pai não poderia dizer o mesmo. Nascido em 1919, o baiano de Salvador João Agripino da Costa Doria era deputado federal do Partido Democrata Cristão (PDC) quando o regime militar assumiu o controle sobre o Brasil, em 1º de abril de 1964. Ele foi cassado nove dias depois, perdeu os direitos políticos por dez anos e optou por deixar o país. Com a ajuda de Ulysses Guimarães, o deputado entrou na embaixada da Tchecoslováquia em Brasília com a esposa Maria Sylvia Vieira de Moraes Dias e os dois filhos, João Doria Junior, de seis anos, e Raul, de um ano. Dali todos seguiram para o Rio de Janeiro, onde pegaram um voo para a França. A família viveu em Paris entre 1964 e 1966. Enquanto o pai estudava psicologia na vetusta Universidade Sorbonne, sustentava a todos vendendo, um a um, os quadros de sua coleção de pinturas de Di Cavalcanti, que Maria Sylvia havia arrancado das molduras e levado consigo para a Europa. - “Estudei numa escola pública que era ao lado da minha casa”, lembra o prefeito eleito de São Paulo.
Na perspectiva de uma democratização - rara, nestes tempos difíceis, de tipo fascista, - de condição para uma nova estética urbana, duas redes retêm particularmente a atenção sociológica: os gestos e os relatos. Ambos se caracterizam como cadeias de operações sociais feitas sobre e com o léxico das coisas. De dois modos distintos, um tático e outro linguístico, os gestos e os relatos manipulam e deslocam objetos, modificando-lhes as repartições e os empregos. São bricolagens, de acordo com o modelo reconhecido ao mito do etnólogo Claude Lévi-Strauss. Inventam colagens casando citações de passados com extratos de presentes para fazer deles séries: processos gestuais, itinerários narrativos, onde os contrários simbolizam. Os gestos são verdadeiros arquivos da cidade, se entendermos “arquivos” o passado selecionado e reempregado em função de usos presentes. Refazem diariamente a paisagem urbana. Esculpem nele mil passados que talvez já sejam inomináveis e que menos ainda estruturam a experiência da cidade. As histórias sem palavras do andar, do vestir-se, de morar ou do cozinhar trabalham os bairros com ausências; traçam aí memórias e solicitudes que não têm mais lugar - infâncias, tradições genealógicas, eventos sem data.
           Este é também o “trabalho” dos relatos urbanos. Nos cafés, nos escritórios, nos imóveis eles insinuam espaços diferentes. Acrescentam à cidade visível as “cidades invisíveis” de Ítalo Calvino. Eles criam outra dimensão, sempre mais fantástica e delinquente, terrível ou legitimadora. Por isso torna a cidade “confiável”, atribuindo-lhe uma profundidade ignorada a inventariar e abrindo-a a viagens do olhar. São as chaves da cidade: elas dão acesso ao que ela é, mítica. Habitar é narrativizar. Fomentar ou restaurar esta narratividade é, portanto também uma tarefa de restauração. É preciso despertar as histórias que dormem nas ruas que jazem de vez em quando num simples nome, dobradas neste dedal como as sedas da feiticeira. Jamais talvez uma sociedade se tenha beneficiado de uma mitologia tão rica. Mas a cidade é o teatro de uma guerra dos relatos, como a cidade grega era o campo fechado de guerras contra os deuses. Entre nós, os grandes relatos da televisão ou da publicidade esmagam ou atomizam os pequenos relatos de rua ou de bairro. É urgente que a restauração venha em socorro desses últimos. Já o faz registrando e difundindo as que se contam no padeiro, no café ou em casa. Mas isto é feito arrancando-as de seus lugares, relatos de palavras nos bairros ou imóveis restituiriam aos relatos os solos onde podem desabrochar.
Em São Paulo, historicamente, as vilas foram as que mais disseram respeito à tradição paulistana de auto-abastecimento, recém-saída do mercado da escravidão. Com o Ecletismo, houve uma racionalização do espaço existente ao redor da casa, no sentido de se definir uma posição para cada um dos complementos da construção principal. Os parques e os jardins, utilizados para o lazer familiar, ficavam sempre em posição fronteira ou lateral, relegando-se aos fundos, os elementos sociais que diziam respeito aos serviços. Os bairros dos Campos Elíseos, da Consolação, da Liberdade e de Santa Cecília permaneceram como áreas mistas. Modificou-se a noção de morar da classe dominante. A casa individualizou-se, passando a expressar o êxito econômico e profissional do proprietário, bem como o seu grau de cosmopolitismo. Ela tornou-se o refúgio das lutas pela vida e local de privacidade, ao mesmo tempo em que devia proporcionar afastamento físico daquelas áreas e certa alienação cultural quanto às tensões e aos conflitos sociais. As camadas mais ricas procuraram viver isoladamente, mesmo sem haver pandemia social.  
Higienização técnica é o ato ou efeito de higienizar, de tornar higiênico ou limpo um ambiente, local ou superfície. É também reconhecido por “sanitização” ou “desinfecção”. É um dos métodos materiais mais indicados porque é responsável pela eliminação de micro-organismos vivos, como ácaros e bactérias que vivem no ar e na poluição das sociedades globalizadas, sendo um dos causadores de doenças e alergias respiratórias. Em 2006, movimentos sociais denunciaram a prática de limpeza social promovida pelo governo do prefeito Gilberto Kassab (DEM) em São Paulo. Foi prefeito da cidade de São Paulo por duas vezes entre 2006 e 2012: a primeira vez assumiu como prefeito após a renúncia do titular José Serra (PSDB) em 31 de março de 2006, para se candidatar ao governo do Estado de São Paulo, e a segunda vez, em 2009, após ter sido reeleito em 2° turno nas eleições de 2008. Atualmente é Secretário da Casa Civil do Estado de São Paulo. De acordo com as denúncias, estava em curso um processo que, apesar de ser chamado de “revitalização” do Centro urbano da capital paulista, se tratava de uma estratégia de “higienização” ou “limpeza social”, uma vez que as populações pobres estariam sendo expulsas do Centro sem “alternativa de moradia”. A mesma denúncia já havia sido feita no governo do seu antecessor José Serra. No ano seguinte, a Pastoral do Povo de Rua acusou “a prefeitura de São Paulo de promover uma política de limpeza social contra os sem-teto do Centro da capital paulista”.
Durante as prévias do PSDB, João Doria Jr. foi acusado, por adversários de dentro do próprio partido, de abuso do poder econômico, com primícias de compra de votos de filiados e intimidação da militância favorável aos seus adversários nas prévias. O advogado de Doria, no entanto, afirmou que o PSDB “foi o único pagador de todas as despesas relacionadas às prévias partidárias”. João Doria Jr. foi o candidato com o maior patrimônio econômico declarado. De acordo com declarações enviadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pelo candidato, o seu patrimônio é de 179,7 milhões de reais.  Em 3 de setembro, começou a atacar o Partido dos Trabalhadores (PT) em sua propaganda eleitoral, com anúncios parodiando o bordão “Pergunta lá”, da rede de postos Ipiranga. O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) determinou a suspensão dos anúncios, acatando os pedidos do Partido dos Trabalhadores, que alegou escárnio, e da Ipiranga, que alegou “uso indevido do conceito” veiculado em sua campanha publicitária. Uma das propostas que foi o carro-chefe de sua campanha foi a de programar o “Corujão da Saúde”, que segundo o candidato, do ponto de vista clínico de atendimento utilizaria horários ociosos da rede particular de hospitais que seriam usados para zerar a fila de exames da cidade em até 90 dias. Principal programa de saúde da gestão João Doria, o “Corujão da Saúde” utilizou, em 2017, hospitais particulares conveniados com o município para fazer exames entre as 22 horas e 8 horas.
No dia 11 de setembro de 2017, a Prefeitura de São Paulo divulgou a lista com o nome dos 37 hospitais e clínicas particulares que fizeram parte da inciativa. Mas, diferente do que foi anunciado, nem todas as unidades sabiam que integravam o programa da prefeitura. O pedido aos hospitais particulares foi feito baseado na Lei de Acesso à Informação (LAI), que regulamenta o direito civil de qualquer cidadão ter acesso a informações negligenciadas do poder público, incluindo entidades que têm convênio com a administração pública. A reportagem do jornal O Globo (17/07/2018) revelou que 11 hospitais não participaram do “Corujão da Saúde”. O Instituto Suel Abujamra não respondeu às perguntas, desrespeitando a LAI e sujeito as punições previstas na lei. A proposta recebeu críticas na propaganda de Marta Suplicy que disse ser contra o agendamento de exames clínicos durante o período da madrugada. A candidata chegou a usar expressão desumana durante o horário eleitoral. Outra medida que se tornou “carro-chefe” da campanha e gerando discussão foi o retorno dos antigos limites de velocidade das rodovias estaduais marginais Pinheiros e Tietê, esta, apesar de controversa foi amplamente defendida por todos os candidatos, exceto Fernando Haddad (PT), tendo em vista que reduziram em seu governo as velocidades máximas.
Para o advogado e coordenador do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), Ariel de Castro Alves, as ações higienistas da gestão Doria contra os moradores de rua configuram atos de "gritante crueldade", as apreensões de pertences infringem a lei, e a utilização de jatos d'água pode inclusive ser enquadrada como “prática de tortura”. - “É um ato gritante de crueldade, de violação aos direitos humanos. Um atentado contra a dignidade dessas pessoas. Vai contra a Constituição Federal brasileira, configura crime de abuso de autoridade. Retirar os pertences dessas pessoas configura o crime de furto e também pode se configurar a prática de tortura, porque são agentes investidos de funções do poder público que estão submetendo pessoas a um intenso sofrimento físico e psicológico”, diz Castro Alves, em entrevista à repórter Ana Flávia Quitério, para o Seu Jornal, da TVT – TV dos Trabalhadores. Trata-se de um veículo de comunicação social educativo que tem compromisso político com a democracia, com o fortalecimento da cidadania e com a justiça social.
          Ipso facto a TV Sindical dos Trabalhadores, reconhecida pela sigla TVT, é uma emissora de televisão brasileira concessionada em Mogi das Cruzes, porém sediada em São Bernardo do Campo, cidades do estado de São Paulo. Opera no canal 44 UHF digital, e é afiliada à TV Brasil. Pertence a Fundação Sociedade, Comunicação, Cultura e Trabalho, que também mantém a Rádio Brasil Atual. Seus estúdios estão localizados no Centro de São Bernardo do Campo, e seus transmissores na Serra do Itapeti em Mogi das Cruzes. A TVT, primeira emissora de televisão outorgada a um sindicato de trabalhadores, entrou no ar no dia 23 de agosto de 2010, às 19horas. A emissora é uma geradora e foi outorgada em outubro de 2009 à Fundação Sociedade Comunicação Cultura e Trabalho, entidade cultural sem fins lucrativos, criada e mantida pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e pelo Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região. Em abril de 2014, o Ministério das Comunicações oficializou a outorga da transmissão da TV e canal digital aberto (44 UHF) para a Grande São Paulo. Em setembro de 2017 anunciou a contratação de José Trajano, para a apresentação do programa Papo com Zé Trajano. Em janeiro de 2018, contratou Juca Kfouri para apresentar o programa Entre Vistas.
  Equipes de limpeza contratadas pela prefeitura utilizaram jatos de água, na Praça da Sé, para acordar moradores de rua. Ao contrário do que diz o prefeito higienista João Doria (PSDB), que primeiro afirmou hipocritamente tratar-se de um caso isolado, e, em vídeo nas redes sociais, classificou reportagem da CBN que revelava a situação como uma “mentira”, o presidente do “Movimento Estadual da População em Situação de Rua”, Róbson César Correia de Mendonça, afirma que essas ações ocorrem constantemente. – “Eles falam que é um caso isolado. O prefeito falou que foram molhados os cobertores. Não foi (só) o cobertor. Foi molhada a pessoa, mesmo. Estavam pessoas ali embaixo dos cobertores. Foi isso que aconteceu. Acho isso uma falta de respeito, de sensibilidade, um total desrespeito ao ser humano”, denuncia Róbson Correia de Mendonça. Uma equipe de limpeza urbana da Prefeitura de São Paulo joga água em cobertores de moradores de rua como prática de terror, antes de ato em que os chamados “sem-teto” lembram-se do assassinato de sete pessoas entre os dias 19 e 22 de agosto de 2007. Os jatos d'água foram “disparados durante limpeza da Praça da Sé e, segundo os atingidos, são práticas comuns no Centro da cidade”.
  O morador que tem a sua barraca e outros objetos recolhidos deveria receber um comprovante de identificação (“contra-lacre”) para depois recuperar o material no depósito da prefeitura, mas Robinson denuncia também que, raramente, esse contra-lacre é entregue e, assim, os moradores de rua não conseguem recuperar seus pertences. A psicóloga e educadora Luana Bottini, que foi coordenadora de Políticas para População em Situação de Rua na gestão de Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT) avalia que a diferença entre os tratamentos dados pela atual gestão e a anterior é o diálogo, ou a falta dele, no caso do político elitista do Partido Social Democrático Brasileiro (PSDB). Ela menciona a alteração promovida pela administração do prefeito João Doria, em decreto que proibia a Guarda Civil Metropolitana de recolher colchões e cobertores da população de rua. - “No dia 20 de janeiro, ele fez um decreto, sem dialogar com ninguém, sem ouvir o comitê. Desde que Doria foi eleito, o comitê da população em situação de rua pediu para dialogar com ele, e o prefeito nunca recebeu, nunca ouviu”.
    Seis demissões feitas por João Doria (PSDB) desde o início do seu mandato têm em comum alguma reclamação ou desacordo com as diretrizes da atual gestão. O último caso reconhecido foi o afastamento, em 16 de novembro, do então prefeito regional da Casa Verde, Paulo Cahim. O gestor foi demitido após reclamar da falta de verbas para as enchentes. Na ocasião, a Prefeitura publicou uma nota alegando que Cahim tinha demonstrado conformismo diante das dificuldades, em lugar de empenho e criatividade na superação dos desafios, como exige a atual administração municipal de seus colaboradores. Além do caso de Cahim, há outros cinco episódios que demonstram como Doria não está aberto a críticas dentro de sua equipe e não aceita a exposição dos problemas da cidade por seus subordinados. Em outro caso recente, o afastamento do chefe de gabinete da Secretaria Especial de Comunicação da prefeitura, Lucas Tavares, também foi motivado em parte por uma reclamação do subordinado sobre a zeladoria da cidade. No áudio que vazou para a imprensa, Tavares chamava a cidade de “queijo suíço”. Os demais sofrem críticas dos funcionários e denúncias sobre desvios de conduta na administração pública municipal. Entenda as circunstâncias das demissões.


     Levantamento realizado pelo jornal O Estado de S. Paulo, a partir de dados da Secretaria da Fazenda Municipal, mostra que a atual gestão gastou pouco mais da metade da verba (56%) destinada à manutenção do sistema de drenagem de chuvas,  como boca de lobos, bueiros, córregos e piscinões. Segundo a reportagem, o valor de 84,2 milhões de reais é o menor dos últimos 4 anos, corrigido pela inflação. Em relação à verba de enchentes, a execução foi de 12%. Após a demissão de Cahim, Doria mandou um alerta aos demais prefeitos regionais para que não reclamem, trabalhem, dando a entender que as demissões não parariam por ali, se necessárias. A fala do tucano se assemelha à declaração do presidente Michel Temer (PMDB), “não fale em crise, trabalhe” em seu primeiro discurso à frente do cargo. Motivo parecido ocasionou a demissão do chefe de gabinete da Secretaria Especial de Comunicação da prefeitura, Lucas Tavares em novembro. O episódio se concretizou após o vazamento de um áudio obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo no qual Tavares afirmava que ia “botar para dificultar” os pedidos da imprensa via Lei de Acesso à Informação.
          No áudio, Tavares deixa clara a intenção de fazer com que jornalistas desistam de suas apurações, principalmente as que requeriam dados sobre os buracos nas ruas da cidade de São Paulo. “… buraco é sempre matéria por motivos óbvios – a cidade parece um queijo suíço, de fato -, e a gente está com problema de orçamento…”, alegou, expondo questões da atual gestão. Após a demissão, Tavares disse à imprensa que “cometeu o equívoco de ser informal”. Já o prefeito João Doria negou que o chefe de gabinete seguisse orientações da Prefeitura e que as declarações foram de ordem pessoal. Vale lembrar que em 1990, apenas 13 países haviam adotado leis nacionais de direito de acesso à informação. Em 2008, de acordo com estudo patrocinado pela UNESCO, mais de 70 leis nacionais sobre o já haviam adotadas. Neste cenário, a partir 2006, em razão de debates ocorridos no Conselho da Transparência Pública e Combate à Corrupção e estudos do Ministério da Justiça, a Controladoria-Geral da União enviou à Casa Civil propostas para normatização do tema no país. Estas propostas resultaram no envio, pela Presidência, da Mensagem nº 316, de 13 de maio de 2009, ao Congresso, na qual constou como anexo o Anteprojeto da Lei de Acesso à Informação.
          Recebido pela Câmara dos Deputados, o texto do anteprojeto foi convertido no Projeto de Lei nº 5.228, de 2009 passando a tramitar apensado ao Projeto de Lei nº 219, de 2003, após requerimento do Deputado Reginaldo Lopes. O direito a informação pública está ligado diretamente à noção de democracia. O direito está associado a ideia de que todo cidadão tem de pedir e receber informação que está sob controle de órgãos públicos. Portanto, para que o fluxo de ideias e informações seja garantido, é essencialmente importante que os órgãos públicos facilitem aos cidadãos o acesso a dados estatísticos nas instituições de interesse público governamental. O acesso às informações públicas possibilita uma participação ativa da sociedade nas ações governamentais e, consequentemente, traz inúmeros ganhos. Em dezembro de 2011, a Diretoria de Prevenção da Corrupção da Controladoria-Geral da União (CGU), publicou o Diagnóstico sobre Valores, Conhecimento e Cultura de Acesso à Informação Pública no Poder Executivo Federal Brasileiro. A pesquisa constata a percepção política de que a relação entre o Estado e Sociedade ainda é paradoxalmente distante, porém que ocorreu movimento de aproximação nos últimos 20 anos. Os servidores contemplados na pesquisa afirmam que seu trabalho caracteriza-se principalmente por compromisso e responsabilidade para com a sociedade e que o Estado é o guardião da informação, mas esta pertence à sociedade.
          Entretanto, foram identificadas preocupações sobre mau uso das informações, vantagens para grupos de interesse bem-situados, uso político das informações e solicitações excessivas ou infundadas, que podem gerar desperdício de tempo, energia e pessoal para os órgãos públicos. Os principais aspectos políticos positivos identificados foram a transparência da administração pública, combate à corrupção, maior credibilidade da administração pública e a aproximação do cidadão às práticas administrativas. A maioria dos servidores participantes do Diagnóstico percebia a viabilidade de implantação de uma política de amplo acesso à informação no Governo Federal. 66,5% afirmou que seu setor organizacional possuía sistema eletrônico de protocolo e tramitação de documentos. Contudo, 61,5% afirmou que seu setor nunca ou raramente promove cursos e treinamentos sobre gestão de documentos e/ou segurança da informação. Os principais demandantes da informação, na percepção desses servidores, seriam primeiramente jornalistas, cidadãos e a própria administração pública. O Diagnóstico conclui com o levantamento das numerosas medidas de transformação cultural, organizacional e operacional necessárias para a implantação da Lei. Evidencia-se entre essas medidas foco em extinguir a cultura de que a informação é disponibilizada à mercê do servidor, através da automatização informatizada dos serviços de publicação.
Bibliografia geral consultada.
MORIN, Edgar, Jesus e as Estruturas de seu Tempo. São Paulo: Edições Paulinas, 1981; ELIAS, Norbert, A Busca da Excitação. Lisboa: Difusão Europeia do Livro, 1992; GRYNSZPAN, Mário, Ciência Política e Trajetórias Sociais: Uma Sociologia Histórica da Teoria das Elites. Tese de Doutorado. Departamento de Antropologia. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1994; ESCOHOTADO, Antonio, Aprendiendo de las Drogas: Usos y Abusos, Prejuicios y Desafios. 1ª edição. Barcelona: Editorial Anagrama, 1995; GEREMEK, Bronislaw, Os Trilhos de Caim, Vagabundos e Miseráveis na Literatura Européia, 1400-1700. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1995SUCUPIRA, Fernanda, “Movimentos Reagem à Política de Limpeza Social no Centro de São Paulo”. In: Repórter Brasil, 25 de janeiro de 2006; CHIAVERINI, Tomás, Cama de Cimento - Uma Reportagem sobre o Povo das Ruas. Rio de Janeiro: Livros Ediouro, 2007; MENEZES, Eduardo Silveira de, Audiovisual Alternativo: A Experiência da TV dos Trabalhadores (TVT). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação. Porto Alegre: Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2011; SOBRINHO, Afonso Soares de Oliveira, “São Paulo e a Ideologia Higienista entre os Séculos XIX e XX: A Utopia da Civilidade”. In: Sociologias. Porto Alegre. Ano 15, n° 32, 2013, pp. 210-235; RIOS, Flavia Mateus, Elite Política Negra no Brasil: Relação entre Movimento Social, Partidos Políticos e Estado. Tese de Doutorado. Departamento de Sociologia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2014;  PAMPLONA, Patrícia, “Decreto de Doria Permite Retirada de Cobertores de Moradores de Rua”. In: https://www1.folha.uol.com.br/2017/01/22; CORREA, Victor Trottmann, O Campo do Conhecimento em Administração Pública no Brasil: Uma Análise Histórica a partir do seu Contexto e Caráter Multifacetado. Tese de Doutorado. Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade. Ribeirão Preto: Universidade de São Paulo, 2017; FRASER, Suzanne, O Futuro da Dependência: Crítica e Composição. In: Platô: Drogas & Política. São Paulo, vol. 1, n° 1, pp. 53-71, 2017; LACERDA, Marina Basso, Neoconservadorismo de Periferia: Articulação Familista, Punitiva e Neoliberal na Câmara dos Deputados. Tese de Doutorado.  Programa de Pós-Graduação em Ciência Política. Centro de Ciências Sociais: Instituto de Estudos Sociais e Políticos. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2018; FRANZON, Davi Jose, A Eleição de João Doria Junior: A Ascensão do Partido de Modelo Empresarial? Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais. Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2018; Artigo: “Lei sancionada por Doria institui o dia de oração pelas autoridades da nação em SP”. In:  https://g1.globo.com/sp/sao-paul/2019/08/01/; entre outros.       

sexta-feira, 15 de março de 2019

Masculinidade - Teoria da Ideologia & Degradação Social de Rapazes.

  Ubiracy de Souza Braga

 É degradante que um homem deseje a mãe de seus próprios filhos”. Nelson Rodrigues


        Nelson Falcão Rodrigues (1912-1980) foi um escritor, jornalista, romancista, teatrólogo, contista e cronista de costumes e de futebol brasileiro. É considerado o mais influente dramaturgo do Brasil. Nascido no Recife, Pernambuco, mudou-se em 1916 para a cidade do Rio de Janeiro. Quando maior, trabalhou no jornal A Manhã, de propriedade de seu pai, Mário Rodrigues. Foi repórter policial durante longos anos, de onde acumulou uma vasta experiência para escrever suas peças a respeito da sociedade. Sua primeira peça foi A Mulher sem Pecado (1941), que lhe deu os primeiros sinais de prestígio dentro do cenário teatral. O sucesso veio com Vestido de Noiva (1943), que trazia, em matéria de teatro, uma renovação nunca vista nos palcos brasileiros. A consagração se seguiria com vários outros sucessos, transformando-o no maior dramaturgo brasileiro do século XX, apesar de suas obras terem sido, quando lançadas, tachadas por críticos como obscenas, imorais e vulgares. Em 1962, começou a escrever crônicas esportivas, deixando transparecer toda a sua paixão por futebol. Politicamente, gostava de se intitular como um reacionário. Chegou a apoiar o regime militar brasileiro e elogiar o governo do general Garrastazu Medici (1969-1974). No final da vida, após ter seu filho preso e torturado, revisou seus posicionamentos e militou pela anistia ampla, geral e irrestrita aos presos políticos. Religiosamente, era católico tradicionalista, chegando a dizer: “sou inteiramente a favor de Lefebvre. Eu acho que a Igreja de Cristo é a Igreja de Lefebvre”, fundador da Fraternidade Sacerdotal de São Pio X. A discussão sobre as relações sociais de gêneros perpassou o campo fisiológico e chegou aos ditames das regras e papéis culturalmente estabelecidos pela sociedade de classes do século XIX.

A identidade sexual e identidade de gênero do homem vitoriano, estava intrinsecamente ligada à representação do seu papel na sociedade aristocrática e industrial. Os traços que os descrevem, voltava-se para a forma de se vestir, a forma de andar, a maneira social de se comportar, a entonação de voz, etc., assim como era ressaltado a forma física, a musculatura, os contornos do corpo masculino, sua elegância, vigor físico e beleza, e por fim, as qualidades psicológicas do homem como a agilidade, a coragem, a distinção, a bravura, o heroísmo. A sociedade masculinista burguesa, dado essa premissa, construía, a outra imagem de homem, e como consequência vieram às duras provas pelas quais o homem deveria enfrentar, como as lutas, material e psíquica como um dos componentes do comportamento masculino. Exemplos de personagens másculos ecoavam através da arte vitoriana, representada, sobretudo na literatura, pintura e escultura. Nos círculos ressaltavam-se com eloquência, quem representava a perfeição ideal de beleza masculina, como o ideal de virilidade.

A experiência e o reconhecimento socialmente reproduzidos e acumulados historicamente pelas gerações precedentes são apropriados pelos sujeitos através das relações sociais que lhes fornecem as mediações complexas das ações humanas. A identidade de gênero pode ser compreendida dentro deste dinamismo como uma das particularidades da identidade do sujeito. No limite, a imaginação é reduzida pelos autores contemporâneos àquela concepção de sensação de uma imagem remanescente ou repetida e consecutiva do imaginário individual (o sonho) e coletivo (os mitos, os ritos, os símbolos). Desvalorizado para explicar “conexões imaginativas”, capaz de estimular a criatividade no âmbito da teoria social, sem perder a conexão de sentido com o imaginário individual e coletivo, que pode cometer o erro de reduzir a imaginação a um puzzle de significados de um ponto de vista distorcido da realidade. Para adquirir esta forma de visão é necessário analisar sua sociedade onde vive de uma maneira externa procurando diminuir a sua própria influência na análise uma vez que consigo é carregado de valores culturais obtidos ao longo de sua vida. É olhar para as coisas de maneira diferente da que estamos habituados na vida cotidiana.



            Daí que deste ponto de vista, não estamos longe de admitir que o lugar de análise em que o raciocínio sociológico constrói suas pressuposições é diferente do espaço lógico do raciocínio experimental. O espírito, dizia Hegel, não pode conhecer-se diretamente. É preciso que negue previamente, de certo modo, que saia de si e se torne “estranho a si mesmo”, exteriorizando-se e produzindo sucessivamente todas as formas do real – quadros do pensamento, natureza, história; e depois que reverta à origem, alcançando assim o conhecimento verdadeiro, a filosofia do espírito absoluto. Afastando-se de si, exteriorizando-se, para voltar depois a si mesma, a Ideia triunfa do que a limitava, afirmando-se na negação das suas negações sucessivas. Hegel definiu o princípio da realidade como uma Ideia lógica, fazendo do ser das coisas um ser puramente lógico e chegando assim a um panlogismo consequente que apresenta ainda, um elemento dinâmico-irracional, existente no que é próprio ao método dialético. O idealismo apresenta-se, para sermos breves, em duas formas principais: como idealismo subjetivo ou psicológico e como idealismo objetivo e lógico. Mas estas subjetividades culturais no plano analítico movimentam-se no âmbito de uma concepção fundamental. Essa diferença da essência e o exemplo, entre a imediatez e a mediação, quem faz não somos nós apenas, mas a encontramos na própria certeza sensível; e deve ser tomada na forma em que nela se encontra, e não como nós acabamos de determina-la. Na certeza sensível, um momento é oposto como o essente simples e imediato, ou como a essência: o objeto na sua humanidade.
O outro momento, porém, é posto como o inessencial e o mediatizado, momento que nisso não é “em-si”, mas por meio do Outro: o Eu, um saber, que sabe o objeto só porque ele é; saber que pode ser ou não. Mas o objeto é o verdadeiro e a essência: ele é, tanto faz que seja conhecido ou não. Permanece mesmo não sendo conhecido - enquanto o saber não é, se o objeto não souber que pode ser, assim da singularidade de apreensão do objeto.  O outro momento, porém, é posto como o inessencial e o mediatizado, momento que nisso não é “em-si”, na démarche da consciência, mas por meio de Outro: o Eu, um saber, que sabe o objeto só porque ele é; saber que pode ser ou não. Mas o objeto é o verdadeiro e a essência: ele é, tanto que seja conhecido ou não. Permanece mesmo não sendo conhecido - enquanto o saber não é, se o objeto não é. O objeto, portanto deve ser examinado, para vermos se é de fato, na certeza sensível mesma, aquela essência que ela lhe atribui; e se esse seu conceito - de ser uma essência - corresponde ao modo imediato de visibilidade como se encontra na certeza sensível. Nós não temos de refletir sobre o objeto, nem indagar o que possa ser em verdade; mas apenas através da ideia de formação em “considerá-lo como a certeza sensível o tem nela”. 
O tempo, como a unidade negativa do ser-fora-de-si, é igualmente um, sem mais nem menos, abstrato, ideal. O tempo é como o espaço uma pura forma de sensibilidade ou do intuir, é o sensível, mas, assim como a este espaço, também ao tempo não diz respeito a diferença de objetividade e de uma consciência subjetiva contra ela. Quando se aplicam estas determinações de espaço e tempo, então seria aquele a objetividade abstrata, do tempo, porém a subjetividade abstrata. O tempo é o mesmo princípio que o Eu=Eu da autoconsciência pura; mas é o mesmo princípio ou o simples conceito ainda em sua total exterioridade e abstração – como o mero vir-a-ser intuído, o puro ser-em-si como simplesmente um vir-fora-de-si. O tempo é igualmente contínuo como o espaço, pois ele é a negatividade abstratamente referindo-se a si e nesta abstração ainda não há nenhuma diferença real. No tempo social, diz-se, tudo surge e tudo passa e perece, se se abstrai de tudo, do recheio do tempo e do recheio do espaço, fica de resto o tempo vazio comparativamente como na interpretação do espaço vazio – isto é, são então postas e representadas estas abstrações de exterioridade, como se elas fossem existentes por si.
Mas não é o que no tempo surja e pereça tudo, porém o próprio tempo é este vir-a-ser, surgir e perecer, o abstrair essente. O real de análise é bem diverso do tempo, mas também essencialmente idêntico a ele. O real é limitado, e o outro para esta negação está fora dele, a determinidade é assim nele exterior a si, e daí a contradição de seu ser; a abstração opera nessa exterioridade de sua contradição e a inquietação da mesma é o próprio tempo. Por isso o finito é transitório e temporário, porque ele não é, como a representação do conceito nele mesmo, a negatividade total, mas tem esta em si, como sua essência universal, entretanto – diferentemente da mesma essência – é unilateral, e se relaciona à mesma essência como à sua potência. Mas tais conceitos, para Hegel, na sua identidade conseguem livremente existente para si, Eu=Eu, é “em si” e “para si” a absoluta negatividade e liberdade. Por isso o tempo não é potência dele, nem ele está no tempo nem é algo temporal. Mas ele é muito mais a potência do tempo, como sendo este apenas esta negatividade como exterioridade. Só o natural, é, enquanto é finito, sujeito ao tempo; o verdadeiro, na constituição da ideia, o espírito que é eterno.  

O que poderia ser mais objetivo do que o funcionamento no plano teórico-ideológico (discursivo) e prático da ideologia? Embora se constitua uma surpresa para muitos, a verdade é que em nossa cultura liberal-conservadora, quer a percebamos ou não, o sistema ideológico socialmente estabelecido e dominante funciona de modo a representar ou desvirtuar suas próprias regras sociais de seletividade, preconceito, discriminação e distorção sistemática como as noções sobre normalidade, objetividade e a maldita imparcialidade científica presente nas universidades. Compreensivelmente, a ideologia dominante tem uma grande vantagem na determinação do que pode ser considerado um critério legítimo de avaliação do conflito, já que controlam efetivamente as instituições culturais e políticas da sociedade, o sistema tem dois pesos e duas medidas, movidos pela ideologia e viciosamente tendencioso, é evidente em toda parte: mesmo entre aqueles que se orgulham em dizer que representam a nossa (sua) qualidade de vida capaz de medir as condições de sociais e políticas  de um ser humano representando as condições que contribuem para o bem físico e espiritual dos indivíduos em sociedade. Nas últimas décadas do século XIX-XX, os intelectuais se intimidaram em admitir a essência de classe social em suas teorias e posturas ideológicas. 

ideologia não é ilusão nem muito menos superstição religiosa de indivíduos mal orientados, mas uma forma específica de consciência social, materialmente ancorada e sustentada. Como tal, não pode ser superada exclusivamente nas sociedades de classes. Sua persistência se deve ao fato dela ser constituída objetivamente e constantemente reconstituída como consciência prática inevitável das sociedades de classe, relacionada com a articulação de conjuntos de valores e estratégias rivais que tentam controlar o metabolismo social em todos os seus principais aspectos. Mas que se entrelaçam conflituosamente e se manifestam no plano da consciência, na grande diversidade de discursos ideológicos relativamente autônomos, que exercem influência sobre os processos materiais mais tangíveis. O metabolismo social é um dado utilizado para a compreensão dos processos sociais e se nesse dado momento houve a existência de sustentabilidade. Esse conflito tampouco será resolvido no domínio da “razão teórica” isolada, independente do nome da “moda sociológica” que lhe seja dado. É por isso que o estruturalmente mais importante conflito – cujo objetivo é manter ou, negar o modo dominante de controle social nos limites das relações de produção estabelecidas em que os homens se tornam conscientes (conflito) e o resolvem pela luta.

Em outras palavras, as diferentes formas ideológicas de consciência social têm implicações práticas de longo alcance. Em todas as suas variedades como na arte e na literatura, assim como na filosofia e na teoria social, independentemente de sua vinculação sociopolítica a posições progressistas ou conservadoras. É esta orientação prática que define também o tipo social de racionalidade apropriado ao discurso ideológico e inscreve, por assim dizer, a questão da racionalidade ideológica como inseparável do reconhecimento das limitações objetivas dentro das quais são formuladas as estratégias alternativas a favor ou contra a reprodução de determinada ordem social. Não é questão de conformidade ou não conformidade a algum conjunto de regras predeterminado de normas lógicas. As ideologias são determinadas pela época em dois sentidos. Primeiro, enquanto a orientação conflituosa das várias formas de consciência social prática permanecer a característica mais proeminente dessas formas de consciência, na medida em que as sociedades forem divididas em classes. Em outras palavras, a consciência social prática de tais sociedades não podem deixar de ser ideológica – isto é, idêntica à ideologia – em virtude do caráter insuperável antagônico das estruturas sociais.

Segundo, na medida em que o caráter específico do conflito social fundamental, que deixa sua marca indelével nas ideologias conflitantes em diferentes períodos históricos, surge do caráter historicamente mutável – e não em curto prazo – das práticas produtivas e distributivas da sociedade e da necessidade correspondente de se questionar radicalmente a continuidade da imposição das relações socioeconômicas e políticas que, anteriormente viáveis, tornam-se cada vez menos eficazes no curso do desenvolvimento histórico. Desse modo, os limites de tal questionamento são determinados pela época, colocando em primeiro plano as novas formas de desafio ideológico em íntima ligação com o surgimento de meios de satisfação das exigências fundamentais sociais. Sem se reconhecer a determinação das ideologias como a consciência prática das sociedades de classe, a estrutura interna permanece completamente ininteligível. É neste sentido que devemos diferenciar três posições ideológicas fundamentalmente distintas, com sérias consequências para os tipos de conhecimento compatíveis com cada uma delas. A primeira apoia a ordem estabelecida com uma atitude acrítica, adotando e exaltando a forma vigente do sistema dominante – por mais que seja problemático e repleto de contradições – como o horizonte absoluto da própria vida social.

A segunda, exemplificada por pensadores radicais como Rousseau, revela acertadamente as irracionalidades da forma específica de uma anacrônica sociedade de classes que ela rejeita a partir de um ponto de vista. Mas sua crítica é viciada pelas próprias contradições de sua própria posição social – igualmente determinada pela classe, ainda que seja historicamente evoluída. E a terceira, contrapondo-se às duas posições sociais anteriores, questiona a viabilidade histórica da própria sociedade de classe, propondo, como objetivo central de sua intervenção prática consciente, a superação de todas as formas de antagonismo de classe. Apenas o terceiro tipo de ideologia pode tentar superar as restrições associadas com o conhecimento prático dentro do horizonte da consciência social dividida, sob as condições da sociedade dividida em classes. A questão prática, permanece a mesma. Mas sugere como “resolver pela luta” o conflito fundamental relativo ao direito estrutural de controlar o “metabolismo social” como um todo. O quadro categorial das discussões teóricas, de acordo com a história social e política não pode ser determinado significativamente por meio de escolhas arbitrárias. Na verdade, a ideologia não é ilusão nem superstição religiosa de indivíduos mal orientados, mas uma forma específica de consciência social, materialmente ancorada e sustentada.

Como tal, não pode ser superada nas sociedades de classe. Sua persistência se deve ao fato de ela ser constituída objetivamente e constantemente reconstituída, como consciência prática inevitável das sociedades de classe, relacionada com a articulação de conjuntos de valores e estratégias rivais que tentam controlar o metabolismo social em todos os seus principais aspectos. Os interesses sociais que se desenvolvem ao longo da história e se entrelaçam conflituosamente manifestam-se, no plano da consciência social, na grande diversidade de discursos ideológicos relativamente autônomos (mas, é claro, de modo algum independentes), que exercem forte influência sobre os processos materiais mais tangíveis do metabolismo social. Compreensivelmente, o conflito mais fundamental na arena social refere-se à própria estrutura social que proporciona o quadro regulador das práticas produtivas e distributivas de qualquer sociedade específica. Esse conflito tampouco será no domínio legislativo da “razão teórica” isolada, independentemente do nome da moda que lhe seja dado. É isso estruturalmente o mais importante no conflito – cujo objetivo é manter ou, ao contrário, negar o modo dominante de controle sobre o metabolismo social dentro dos limites das relações estabelecidas – encontra suas manifestações necessárias nas formas ideológicas [orientadas para a prática] em que os homens se tornam conscientes desse conflito sócia e o resolvem pela luta.

Neste sentido, o que determina a “natureza da ideologia”, acima de tudo, é o imperativo de se tornar praticamente consciente do conflito social fundamental – a partir dos pontos de vista mutuamente excludentes das alternativas hegemônicas que se defrontam em determinada ordem social – com o propósito de resolvê-lo pela luta. Em outras palavras, as diferentes formas ideológicas de consciência social têm (mesmo se em graus variáveis, direta ou indiretamente) implicações práticas de longo alcance em todas as suas variedades, na arte, na literatura, assim como na filosofia e na teoria social, independente de sua vinculação sociopolítica a posições progressistas ou conservadoras. É esta orientação prática que define o tipo de racionalidade apropriado ao discurso ideológico. A racionalidade ideológica é inseparável do reconhecimento das limitações dentro das quais são formuladas as estratégias alternativas a favor ou contra a reprodução de determinada ordem social. As ideologias são determinadas pela consciência em dois sentidos. Primeiro, enquanto a orientação conflituosa das várias formas de consciência prática permanecer a característica mais proeminente dessas formas de consciência, na medida em que as sociedades forem divididas em classe. 

Em outras palavras, a consciência social prática de tais sociedades não pode deixar de ser ideológica – isto é, idêntica à ideologia – em virtude do caráter insuperavelmente antagônico de suas estruturas sociais. Segundo, na medida em que o caráter específico do conflito social fundamental, que deixa sua marca indelével nas ideologias conflitantes em diferentes períodos históricos, surge do caráter historicamente mutável – e não em curto prazo – das práticas produtivas e distributivas  e da necessidade correspondente de se questionar radicalmente a continuidade da imposição das relações socioeconômicas e político-culturais que, antes se tornaram viáveis, mas em determinada conjuntura tornam-se cada vez menos eficazes no curso histórico. O dicionário Oxford elegeu como a palavra do ano de 2018, um termo não muito animador do ângulo da diversidade social e da diferença: “tóxico” e a segunda “masculinidade”. 

As duas juntas ficaram em terceiro lugar, sendo assim classificada como a expressão comunicativa daquele ano. Metodologicamente o verbete é selecionado devido ao seu potencial duradouro, enquanto efeito de poder, e, claro, o significado cultural. A palavra ou expressão que é julgada como um efeito de poder, especificamente relacionado ao ethos, tem um potencial duradouro como termo de significado e representação no âmbito da fenomenologia cultural. Etnograficamente “masculinidade tóxica” representa uma descrição estreita e repressiva da masculinidade, que a designa como definida por violência, sexo, status e agressão. Ipso facto, é o ideal cultural de masculinidade, onde a força bruta é tudo, enquanto em contraposição, as emoções representam, assim, uma fraqueza. Alguns dos efeitos sociais de poder determinada da masculinidade tóxica estão na supressão de sentimentos, como ocorre frequentemente na política, com o encorajamento da violência, falta de incentivo em procurar ajuda terapêutica, até questões mais graves como estupro. 
A eternidade não será, nem foi, mas ela é hegeliana. A duração é também diferente da eternidade nisto, que ela é apenas um relativo suprassumir do tempo; mas a eternidade é duração infinita, isto é, não relativa, porém em si refletida. O que não está no tempo é o sem-processo; o péssimo e o mais perfeito não estão no tempo, mas duram. O péssimo, o da pior qualidade, porque ele é uma universalidade abstrata, assim espaço, assim tempo mesmo, o Sol, os elementos concretos, rochas, montanhas, a natureza inorgânica em geral, também obras dos homens, pirâmides; sua duração não é vantagem. O duradouro é mais altamente cotado do que o breve transitório; mas toda florescência, toda bela vitalidade tem morte cedo. Mas também o mais perfeito dura, não só o universal sem-vida, inorgânico, mas também o outro universal, o concreto em si, o gênero, a lei, a ideia, o espírito. Pois devemos decidir se algo é o processo total ou apenas um momento de apropriação do processo. O universal como lei é processo em sim mesmo e somente como processo; mas não é parte do processo, nem está no processo, mas contêm seus dois lados e é ele próprio sem-processo. Pelo fenômeno a lei entra no tempo enquanto os momentos do conceito têm a aparência da independência; mas as diferenças excluídas portam-se como reconciliadas e retomadas à paz.
A noção de desenvolvimento passa a ser central depois dessa concepção e, para o bem ou para o mal até os dias de hoje. Mesmo a idéia de progresso, que implicava que o depois pudesse ser explicado em função do antes, encalhou, de certo modo nos recifes do século XX, ao sair das esperanças ou das ilusões que acompanharam a travessia do mar aberto pelo fabuloso séc. XIX. Esse questionamento refere-se a várias ocorrências distintas entre si que não atestam um progresso moral da humanidade, e sim, uma dúvida sobre a história como portadora de sentido, dúvida renovada, essencialmente no que se refere ao seu método, objeto e fundamentalmente nas grandes dificuldades não só em fazer do tempo um princípio de inteligibilidade, como ainda em inserir aí um princípio de identidade. A história, isto é, uma série de acontecimentos reconhecidos como acontecimentos por muitos. Acontecimentos que podemos pensar que importarão aos olhos dos historiadores de amanhã. E por mais consciente tal problematização, de nada pode nesse caso vincular a algumas circunstâncias sociais. Algumas imagens, como se fosse a cada dia menos verdadeiro, dizem que os homens fazem a história, mas não sabem que a fazem, talvez em condições determinadas.

        Desde Hegel a diferença dos sexos passou a fundar a diferença de gêneros masculino e feminino que, de fato, historicamente a antecedera. O sexo autonomizou-se e ganhou o estatuto de fato social originário. Revolucionários, burgueses, filósofos, moralistas, socialistas, sufragistas e feministas, todos estavam de acordo em especificar as qualidades morais, intelectuais e sociais dos humanos, partindo-se da diferença de gênero entre homens e mulheres. A ideia, o espírito está “acima do tempo”, tal é o próprio conceito do tempo; é eterno, em e para si, não é rompível no tempo porque ele não perde o lado reconhecendo um lado do processo. No indivíduo, como tal, é de outro modo, neste sentido que está de um lado o gênero; a vida mais bela é a que une perfeitamente o universal e sua individualidade em uma figura: Gestalt. Mas também então o indivíduo está separado do universal, e assim é um lado do processo, a alterabilidade; após este momento mortal ele cai no tempo. É neste sentido que a interpretação hegeliana compreende que “o [que é] medíocre dura e, afinal, governa o mundo; mas também pensamentos tem esta mediocridade, com eles a doutrina o mundo existente, apaga a vitalidade espiritual, transforma-o em hábito, e assim dura. A duração consiste justamente em que ela permanece na falsidade, não consegue seu direito, não dá a sua honra ao conceito, nela não se representa como processo a verdade”.
A busca das mulheres por igualdade e independência moral, especialmente forte na Inglaterra, representou o desafio mais efetivo à oposição social dos homens. Esse desafio incluía uma crítica efetiva da sexualidade masculina, centrada no duplo padrão de comportamento moral que se esperava de homens e mulheres. Com a saída das mulheres do espaço privado para o público, como decorrente das duas guerras mundiais, da industrialização e do movimento feminista que ora tentava se firmar, o resultado foi uma verdadeira avalanche de pesquisas, discussões e redefinições de papéis sociais cujo  gênero foi tomado como ponto de partida para a discussão, e herdeiro dos genders studies. Na medida em que o movimento feminista propunha uma rediscussão acerca dos novos papéis sociais estabelecidos pela norma sexual e moral burguesa, tanto para homens quanto para mulheres, e na medida em que esta discussão passou a ser tomada sob o ponto de vista feminino, passou-se a ficar mais delimitada e fortalecida a representação da mulher enquanto ser social. Inaugurava-se, portanto os estudos sobre gênero, onde os estudos sobre homens representou um impulso diretamente decorrido do avanço dado pelas mulheres na conquista de cidadania e de direitos civis, na ordem pública e privada, na ordem moral e sexual, e que passaram a propor novamente, uma forma de ver o homem, bastante distinto daquele ordenamento em que os vitorianos duramente apregoavam.
 Um bom exemplo desse tempo social está na origem etimológica da família Brontë que pode ser delineada até ao clã irlandês Ó Pronntaigh, que se traduz literalmente para filho de Pronntach, de tradição de escribas e homens da literatura em Fermanagh, o que é relacionado com a palavra bronnadh. O pai das irmãs, Patrick Brontë, nascido Brunty, decidiu mudar o seu sobrenome. Não se sabe ao certo o motivo para fazê-lo existindo várias teorias a respeito. Ele pode tê-lo feito para esconder as suas origens humildes. Como homem de letras, ele estaria familiarizado com o grego clássico e é possível que se tenha baseado na palavra grega βροντή (“trovão”) para escolher o seu nome. Um ponto de vista, apresentado pelo biógrafo Clement King Shorter, em 1896, é que ele adaptou o seu nome para se associar com o Almirante Horatio Nelson, também Duque de Brontë. É difícil separar a carreira de Shorter como autor e crítico de seu passatempo como colecionador de manuscritos, livros e outros materiais relacionados com seus escritores preferidos. Era um ávido colecionador, em especial sobre os trabalhos das irmãs Brontë. Essa coleção e investigação levou aos seus mais reconhecidos trabalhos, incluindo dois livros sobre Charlotte e família. Prova dramática desta influência é a imitação do Duque de Wellington na forma como se vestia. 
           Os Brontës foram uma família literária do século XIX associada à aldeia de Thorton, localizada no West Riding of Yorkshire, Inglaterra. As irmãs, Charlotte (1816-1855), Emily (1818-1848) e Anne (1820-1849) são escritoras e poetisas bem conhecidas do público no processo de massificação da literatura. À semelhança sobre o preconceito de muitas escritoras de seu tempo, inicialmente elas publicaram os seus poemas e romances sob os pseudônimos masculinos: Currer, Ellis e Acton Bell. Seus livros tiveram bastante sucesso assim que foram publicados. Jane Eyre, de Charlotte foi o primeiro romance a ser publicado, seguido de Wuthering Heights, de Emily e The Tenant of Wildfell Hall, de Anne. As três irmãs e o seu irmão Branwell eram próximos e na infância desenvolveram as suas imaginações através das histórias que ouviam da empregada e da criação de reconhecidos “mundos imaginários” que desenvolveram através do domínio literário na escrita. O que em certo sentido remete-nos ao termo utopia que vem do grego e tem como significado οὐ (“não”) and τόπος (“lugar”), ou seja “não lugar”. A palavra foi criada por Sir Thomas More, em 1516, no livro Utopia. A obra descreve uma sociedade fictícia numa ilha do Oceano Atlântico. A Utopia representava um lugar com um sistema político, social e jurídico perfeitos. Todo o conceito fantasioso de Utopia tornou-se um termo usado tanto na literatura, como na política internacional para descrever  um ideal de vida perfeito, mas pouco realista, impossível de ser atingido. Pois Charlotte ocupava o seu “tempo livre” desenvolvendo com realismo em seu “mundo imaginário” de Angria, que tinha criado de forma familial, através de correspondência fática com o seu irmão.
Bibliografia geral consultada.

SIQUEIRA, Elton Bruno Soares de, A Crise da Masculinidade nas Dramaturgias de Nelson Rodrigues, Plinio Marcos e Newton Moreno. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2007; MÉSZÁROS, István, Marx: A Teoria da Alienação. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1981; Idem, O Poder da Ideologia. São Paulo: Boitempo Editorial, 2004; Idem, A Educação para Além do Capital. São Paulo: Boitempo Editorial, 2008; SCALA, Jorge, Ideologia de Gênero. O Neototalitarismo e a Morte da Família. São Paulo: Editora Katechesis, 2011; VIGARELLO, Georges; CORBAIN, Alain; COURTINE, Jean-Jacques (dir.), Histoire de la Virilité. 3 Volumes. Paris: Éditions Du Seuil, 2011; GÓMEZ ETAYO, Elizabeth, Nem Anjos, Nem Demônios: Homens Comuns. Narrativas de Masculinidades e Violência de Gênero. Tese de Doutorado. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2011; OLIVEIRA, Fábio Araújo, Historicização e Institucionalização das Masculinidades no Brasil. Tese de Doutorado em Linguística. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2015; RADAELLI, Particia Barth, Nelson Rodrigues e Seus Múltiplos: Uma Estrutura Performática. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Cascavel: Universidade Estadual do Oeste do Paraná, 2016; OLIVEIRA, Fernanda Hamann de, O Paradoxo do Sujeito em Nelson Rodrigues. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica. Instituto de Psicologia. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2016;  OLIVEIRA, André Luís de, Relações Fraternas e Crise da Masculinidade no Teatro de Nelson Rodrigues. In: Revista Água Viva. Volume 2, número 2, ago./dez., 2017; CASTRO, Ricardo Gonçalves, Redimindo Masculinidades: Representações e Significados de Masculinidades e Violência na Perspectiva de uma Teologia Pastoral Amazônica. Tese de Doutorado. Departamento de Teologia. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2018; MAGALHÃES, Rosânia Alves, A Representação das Masculinidades em Textos de Lygia Bojunga. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários. Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia, 2019; entre outros.  

terça-feira, 12 de março de 2019

Zé do Caixão - Precursor Cinematográfico & Criador do Horror Brasileiro.


                                                                                                     Ubiracy de Souza Braga*

                               Mephistopheles is not your name. I know what you`re up to just the same”. Sting

        
           
            A literatura de “terror” é um gênero literário e é comum que as obras ligadas ao “horror” sejam confundidas com as de terror, pois tanto nas livrarias e bibliotecas como na imaginação de parte dos leitores e dos críticos, ficam na mesma seção de identificação da obra. A verdade é que as duas possuem uma enorme diferença sociológica. O gênero de terror ou horror na literatura tem a intenção de atemorizar ou assustar os seus leitores, através da inclusão de sentimentos de horror e terror. Em suas diversas manifestações de vida, é natural a existência de assustadora forma de estranhamento. O terror pode ser tanto sobrenatural, como não sobrenatural. Comumente sua ameaça central por trás de uma obra de ficção de terror pode ser interpretada como uma metáfora para os grandes medos da sociedade. As antigas origens do gênero foram reformuladas no século XVIII como “terror gótico”, com a publicação de “O Castelo de Otranto” (1764) de Horace Walpole, um aristocrata e romancista inglês que inaugurou um novo gênero literário, o romance gótico, com a publicação desta obra. Neste caso marcou a primeira vez na literatura em que um romance moderno incorporou elementos do sobrenatural ao invés de utilizar tradicionalmente elementos do realismo.
Na realidade, a primeira versão foi publicada disfarçadamente como um romance medieval italiano que fora supostamente descoberto e posteriormente republicado por um fictício tradutor. Uma vez revelado seu estratagema, como sendo autor contemporâneo, muitos o consideraram anacrônico, reacionário ou simplesmente como portador de mau gosto, mas o mesmo, contraditoriamente, provou-se popular imediatamente. De fato, a literatura de terror, encontrada, por exemplo, em muitos dos contos de Edgar Allan Poe, volta-se para a criação de um clima de comunicação como suspense cuja explicação sociologicamente nada possui de sobrenatural, registrado pela primeira vez entre 1520-1530, que em geral designa o contrário do que é considerado natural; o que não admite - ou é suposto não admitir - explicação científica. Designa aquilo que, em princípio, é ou ocorre fora da ordem natural, à parte das leis naturais que regem os fenômenos ordinários, ou aquilo que é superior à natureza, sendo essencialmente psicológica no sentido hitchcockiano (1899-1980). É, por exemplo, o caso de “O barril de Amontillado”, do referido autor. Nada existe ali de sobrenatural: é apenas o relato da vingança de Montresor, que empareda vivo ao desafortunado Fortunato. O livro “Cujo”, do consagrado escritor Stephen King, traduzido no Brasil como “Cão Raivoso”, representa a história, metaforicamente evidenciada pelo título, de uma família, aterrorizada por um cão da raça São Bernardo chamado Cujo, quando ele é mordido por um morcego portador de hidrofobia.


  

            Um dos mais populares escritores de terror contemporâneo é o Stephen King, reconhecido por ter escrito as famosas obras “Carrie”, “O Iluminado”, “It”, “Misery” e muitas outras. Tendo iniciado o seu trabalho na década de 1970, King conseguiu atrair uma enorme audiência, motivo este que fez com que a U.S. National Book Fundation o premiasse em 2003. Brian Lumley, James Herbert, Dean Koontz, Clive Barker, Ramsey Campbell e Peter Straub também são reconhecidos autores de horror contemporâneo populares. Sequências de livros best-selling de tempos contemporâneos estão relacionadas com ficção de horror, como a fantasia urbana de lobisomens Kitty Norville de Carrie Vaughn, e a ficção gótica e erótica da escritora Anne Rice. O conto de fadas A Bela Adormecida ganha uma nova interpretação nada inocente. Em Os desejos da Bela Adormecida, primeiro da trilogia erótica, a princesa condenada a dormir por cem anos depois de furar o dedo em uma roca de fiar enfeitiçada se torna vítima de um segundo feitiço: seu coração e seu corpo estão sob controle do príncipe que a despertou, que a declara sua “escrava sexual” e a leva para a corte de sua mãe, a rainha Eleanor, um universo simbólico que mistura prazer, dor e subserviência sadomasoquistas que num continuum se expandem além do gênero de terror em si.                
        Por seu lado, a literatura de horror contém indissociavelmente elementos do sobrenatural, muitas vezes associados a componentes típicos da ficção científica. É o caso de Frankenstein, no qual um cientista representado por um médico decide criar um ser - um Novo Prometeu - unindo partes retiradas de cadáveres e usando a eletricidade como fluido vital. Mas ela também recorre ao folclore e à cultura tradicional, no caso de Drácula e Carmilla, à religião: “Aprisionado com os faraós”, de Lovecraft, isto é, ao sobrenatural - ou mesmo a supostos poderes latentes no ser humano: leia-se o conto “O Estranho Caso do Sr. Waldemar” (Poe), no qual o dito Sr. Waldemar, prestes a morrer, é mesmerizado e permanece vivo enquanto dura o transe. A ideia de escapar à morte é recorrente na literatura de horror; além do óbvio Frankenstein, temos “Vento frio”, de Lovecraft, cujo personagem principal, mesmo estando morto, consegue se manter vivo mediante sistema de refrigeração instalado em seu apartamento. Também de Lovecraft, existe “O caso de Charles Dexter Ward”, com a ideia da reencarnação premeditada. Temos que ter em mente que se sofremos, é porque fizemos alguém sofrer. E a respeito de males cometidos em vidas passadas, muitos dizem: Por que e como vou pagar um erro que eu teria feito numa encarnação passada, se eu não me lembro dele? Mas é o Mestre dos mestres que ensinou que ninguém deixará de pagar todas as suas faltas até o último centavo (são Mateus 5: 26; e são Lucas 12: 59), o que quer dizer que as penas não duram para sempre, pois pago o último centavo, não vamos pagar mais nada, sim, pois a lei divina é justa e perfeita.
 
José Mojica Marins nasceu na cidade de São Paulo em 13 de março de 1936. Quando tinha três anos, sua família mudou-se para os fundos de um cinema na Vila Anastácio. O pai de Mojica passou a ser gerente do cinema. Depois que ganhou uma Câmera V-8, aos 12 anos, Mojica não mais parou de fazer cinema, essa era a sua vida. Muitos de seus filmes artesanais feitos nessa época eram exibidos em cidades pequenas, cobrindo assim os custos de produção. Autodidata, montou uma escola de interpretação para amigos e vizinhos e quando tinha 17 anos, depois de vários filmes amadores, fundou com ajuda de amigos, a Companhia Cinematográfica Atlas. Especializado em terror escatológico, criou uma escola de atores (1956), onde na década seguinte, montaria uma sinagoga (1964), no bairro de Brás, onde fazia experiências com atores amadores, usando insetos para medir sua coragem. Depois da fundação de sua escola, sua carreira profissional passou a ficar cada vez mais próxima. Entre perdas e danos, tentou realizar o filme “Sentença de Deus” por três vezes, mas o filme ficou como inacabado. Semiprofissional, o filme “Sentença de Deus” é experimental no sentido genuíno e revela os primeiros passos de José Mojica Marins na arte do cinema.
Contudo, em sua carreira revela-o como um cineasta, ator, roteirista de cinema e televisão mais reconhecido como Zé do Caixão, seu personagem mais famoso. Embora Mojica atue principalmente como diretor do chamado “cinema de terror”, teve trabalhos experimentais anteriores cujos gêneros variavam entre faroestes, dramas, aventura, dentre outros, incluindo filmes do gênero pornochanchada, no Brasil. Mojica Marins do ponto de vista técnico-metodológico desenvolveu um estilo próprio, como diretor que, inicialmente desprezado pelo ressentimento, passou a ser reverenciado pela expressão cult no circuito internacional. A moda ou o zelo dos literati nos faria atualmente dispensar o especialista, ou relega-lo à categoria subalterna de simples observador. Ipso facto José Mojica Marins é considerado um dos expoentes do cinema nacional inspiradores, comparativamente, do movimento marginal no cinema brasileiro que se propagou pelo país entre meados de 1968 e 1973, tendo como principais produtoras a Boca do Lixo em São Paulo e a Belair Filmes no Rio de Janeiro.
Zé do Caixão e Tim Burton.
 Não queremos perder de vista que ganhar dinheiro dentro da ordem econômica moderna é, enquanto for feito legalmente, segundo Max Weber o resultado e a expressão de virtude e de proficiência em uma vocação; e estas virtude e proficiência são, os verdadeiros alfa e ômega da ética de Franklin. Esta ideia peculiar da responsabilidade na vocação, tão familiar e, na realidade tão pouco importante, é a mais característica da ética social da cultura capitalista, e, em certo sentido, sua base. É uma obrigação que o indivíduo deve sentir e realmente sente com relação ao conteúdo de sua atividade profissional, não importando no que ela consiste e se ela aflora como uma utilização de seus poderes pessoais ou apenas de suas possessões materiais como capital. O capitalismo não pode mais do que fazer uso de homens de negócios que pareçam inescrupulosos em suas relações com outras pessoas, menos ainda uso do trabalho que praticam a doutrina do liberum arbitrum indisciplinado.                     
            Em quase todos seus filmes, com exceção de Encarnação do Demônio, José Mojica Marins foi dublado. E por uma simples razão. Na década de 1960, diversos filmes nacionais necessitavam serem dublados, e por motivos técnicos associados à nitidez de som nas tomadas externas e até realçar uma melhor interpretação. Algumas vezes, curiosamente, o próprio ator dublava o seu personagem, mas em outras ocasiões necessitava de um profissional qualificado para um melhor desempenho. Na Odil Fono Brasil, lhe mostraram vários filmes, para que escolhesse um dublador. Mojica ficou particularmente impressionado com a voz usada para dublar o ator italiano Mario Carotenuto: - A voz de Laercio Laurelli que dublou a voz de Zé do Caixão em “À Meia-Noite Levarei Sua Alma”, “Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver” e “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”; enquanto “O Ritual dos Sádicos”, “Finis Hominis”, “Quando os Deuses Adormecem” foram dublados por Araken Saldanha, na Academia Internacional de Cinema (AIC), com unidades em São Paulo e no Rio de Janeiro, reconhecidas pela sua excelência técnica de dublagem; já “Exorcismo Negro” e “Delírios de um Anormal” tiveram a voz de João Paulo Ramalho na AIC.
           Segundo Carreiro (2013), no Brasil, a prática de dublagem era uma imposição orçamentária, e não apenas às produções independentes, como aquelas levadas a cabo por Mojica. Historicamente nos anos 1950, qualquer longa-metragem filmado fora das dependências da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, um importante estúdio de arte cinematográfica que distribuiu filmes entre 1949 e 1954. Fundada em São Bernardo do Campo, pelo produtor italiano Franco Zampari e pelo industrial Francisco Matarazzo Sobrinho em 4 de novembro de 1949 (cf. Martins, 1973), a companhia produziu e coproduziu mais de 40  longas-metragens e precisava recorrer ao som pós-sincronizado (cf. Jung, 1991). O orçamento minguado, portanto, constituiu um limite da prática estilística de Mojica relacionado ao som passou a finalizar a parte do som dos seus filmes na empresa AIC e foi “forçado”, por assim dizer, a mudar de dublador. Ipso facto, Araken Sladanha fez o trabalho nos filmes Ritual dos Sádicos, Finis Hominis e Quando os Deuses Adormecem (1972), enquanto João Paulo Ramalho fez a voz do diretor em Exorcismo Negro (1974) e Delírios de um Anormal (1977). A voz real de Mojica só seria utilizada em filmes do diretor no longa-metragem Encarnação do Demônio. Mojica também possuía outro motivo para utilizar a dublagem em seus filmes: ele sabia que sua dicção era ruim, e obviamente o público tinha dificuldade de entender o que ele falava, problema que se acentuava do ponto de vista tecnológico na salas mal equipadas de projeção brasileiras dos anos 1960, como já observamos; enfim, tinha consciência de que falava um português trôpego, cheio de erros de gramática e concordância verbal.            
                   Em 1958, concluiu A Sina do Aventureiro, com apenas duas pessoas que não eram da escola de atores de Mojica Marins, mas que depois vieram a ter aulas, Ruth Ferreira e a Shirley Alvez. Trata-se de um típico representante do “faroeste caboclo”, vertente prolífica, que está sendo retomada pela historiografia do cinema brasileiro. Insere-se, portanto, na tradição mais ampla dos filmes que tem como escopo as cenas rurais de aventura, território que compreende nomes tão heterogêneos quanto significativos como Eric C. Kerrigan, Amilar Alves, Luiz de Barros, Humberto Mauro, Eurides Ramos, Antoninho Hossri, Victor Lima Barreto, Carlos Coimbra, Wilson Silva, Osvaldo de Oliveira, Reynaldo Paes de Barros, Edward Freund, Ozualdo Candeias, Tony Vieira e Rubens Prado. Para lançar o filme A Sina do Aventureiro, Marins contou com a ajuda solidária dos irmãos Valancy, que eram proprietários do Cine Coral, em São Paulo, aonde o filme permaneceu em cartaz por um longo tempo. O realizador do filme, Mojica Marins explicou, posteriormente, como ocorreu o sucesso do filme. Depois de aceitar a proposta de Augusto de Cervantes, de realização de um filme que agradasse aos padres, Mojica criou a história de Meu Destino em Tuas Mãos e procurou Ozualdo Candeias para fazer o roteiro - que não foi creditado. As tragédias familiares que se tem tornado frequentes são apresentadas pelo cineasta com requintes de maldade. A direção de Mojica deixou o filme ainda mais cru e violento.
O filme narra o drama de cinco crianças pobres que vivem infelizes com suas respectivas famílias. Cansados de abuso e desprezo, fogem de casa e saem pelas estradas, acompanhados do violão e da cantoria de Carlito (vivido por Franquito), o mais velho deles. O jovem Franquito, o “garoto da voz de ouro”, foi uma aposta para embarcar no estrondoso sucesso de Pablito Calvo, astro-mirim de Marcelino, pão e vinho (1955). Mojica compôs três das dez canções interpretadas por Franquito. “Meu Destino em Tuas Mãos” foi realizado com o dinheiro da venda dos long plays de Franquito, uma raridade por ser um dos primeiros filmes a ter disco com todas as músicas lançado pela gravadora Copacabana. O filme, apesar de ter agradado os padres, contudo, não teve repercussão nacional caindo no esquecimento. Mais tarde o produtor Nelson Teixeira Mendes contratou Mojica para ser ator no filme O Diabo de Vila Velha, um bang-bang. Como condição, Mojica negociou levar o pai, que estava doente, para o Paraná, onde o filme seria realizado. Após discussões com o diretor Ody Fraga, este veio a se afastar e Mojica finalmente assumiu a direção do filme, aonde demonstrou afinidade eletiva com o gênero faroeste, que já havia exercitado em A Sina do Aventureiro e ao qual voltaria em D` Gajão Mata para Vingar.
            Mojica Marins criou um personagem popular sem basear-se em nenhum mito do horror reconhecido mundialmente como coração das trevas onde habita uma espécie de estadia no inferno ou de descida ao reino dos mortos. Zé do Caixão, seu personagem reconhecido, foi criado por ele em 11 de outubro de 1963, como sabemos, “após ser atormentado por um pesadelo no qual um vulto o arrastava até seu próprio túmulo”. Segundo o próprio diretor, o nome “Zé do Caixão” veio de uma lenda de um ser que viveu há milhões de anos no planeta Terra que se transformou em luz e depois de anos esta luz voltou a Terra. A primeira aparição do personagem foi no filme “À Meia-Noite Levarei Sua Alma” (1963). Desde então, ele apareceu em diversos filmes, ganhou popularidade e tem sido retratado em diversas outras mídias. Zé do Caixão é um personagem amoral e niilista que se considera superior aos outros e os explora para atender seus objetivos. Zé do Caixão é um “descrente obsessivo”, um personagem humano, que não crê em Deus ou no diabo.  
O cruel e sádico agente funerário Zé do Caixão é temido e odiado pelos habitantes da cidade. O tema principal da saga do personagem é sua obsessão pela continuidade do sangue: ele quer ser o pai da criança superior a partir da “mulher perfeita”. Sua ideia de uma mulher perfeita não é exatamente física, mas alguém que ele considera intelectualmente superior à média, e nessa busca ele está disposto a matar quem cruza seu caminho.  Quanto à concepção visual do Zé do Caixão fica evidente a inspiração do personagem clássico Drácula, interpretado por Bela Lugosi na versão da década de 1930, dos estúdios Universal. Entretanto, Mojica assimilou aos trajes negros e elegantes do personagem características psicológicas profundas e enraizadas nas tradições culturais brasileiras. Além disso, as unhas grandes foram claramente inspiradas no personagem-título de “Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens”. A idéia do personagem surgiu em um sonho. Raramente mencionada nos filmes, o nome verdadeiro Zé do Caixão é Josefel Zanatas. Marins explica o nome em uma entrevista para o Portal Brasileiro de Cinema: - “Eu fui achando um nome: Josefel - “fel” por ser amargo - e achei também o Zanatas legal, porque de trás para frente dava Satanás”.
Por falta de um ator, pois não havia quem se submetesse à caracterização do personagem, Mojica se transformou em “Zé do Caixão” que naquele período, estava de barba, por causa de uma promessa de família. Com o tempo o nome do personagem passou a confundir-se com o do próprio autor e lhe trouxe politicamente sua fama. Com dificuldade, pois os atores não confiavam, nem acreditam em Mojica, que realizou as filmagens de “À Meia Noite Levarei Sua Alma”, com apenas atores de sua escola de teatro. É o filme que marca a sua maturidade como diretor relacionando-se perfeitamente com o domínio da linguagem cinematográfica, pois, há um conjunto requintado trabalho de construção de espaços/tempos diferenciados para Zé do Caixão, e esse é o modo como o filme logra distinguir este personagem dos outros. Após a etapa de montagem com Luiz Elias, Mojica Marins iria atrás do distribuidor que havia levado “A Sina do Aventureiro” que estava em São Paulo e havia ido à “Boca do Lixo”. Após assistir o filme montado, o distribuidor passou a divulgar o filme que já era tido como um grande sucesso. Na mesma época, relançou “A Sina do Aventureiro” e teve um retorno lucrativo. Ele havia feito amizade como um cineasta cubano que realizava filmes pornográficos e pediu a Mojica que acrescentasse mais dez minutos de cenas mais fortes - onde Mojica colocou algumas cenas de erotismo de algumas moças. Mojica teve seus títulos lançados na Europa e nos Estados Unidos, onde participou de mostras, festivais e recebeu prêmios.

  No Brasil, Mojica não conseguiu o mesmo sucesso e reconhecimento. Existem poucos títulos de seus filmes disponíveis no mercado, o que tornou sua obra pouco conhecida. Sua participação na mídia se dá quase sempre de maneira cômica, fato que teve que abraçar por necessidades financeiras. Atualmente, tem participação num programa de entrevistas chamado “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”, no Canal Brasil, um programa de televisão brasileiro de entrevistas apresentado por José Mojica Marins e exibido pelo Canal Brasil. Normalmente é dividido em quatro partes: A primeira, com uma reportagem, a segunda com duvidas de internautas sobre assuntos paranormais e a terceira uma entrevista com celebridade convidada e a ultima, onde Zé do Caixão lança sua famosa praga. Zé Do Caixão tem uma filha chamada Liz Vamp.  Em 2009 interpretou um personagem diferente no longa-metragem de Cesar Nero, em vez de Zé do Caixão, o nome de seu personagem era Dark Morton, porém o visual do personagem era idêntico ao do personagem Zé do Caixão, com a tradicional cartola e capa preta. No Carnaval Carioca de 2011, foi homenageado e participou do Desfile da vice-campeã, Escola de Samba Unidos da Tijuca. Atualmente possui uma quadra comercial localizada na Avenida Francisco Bicalho, no bairro do Santo Cristo, próximo à Rodoviária Novo Rio. Possui 4 títulos de campeã do Grupo Especial do carnaval carioca, conquistados respectivamente nos anos de 1936, 2010, 2012,  e 2014.
           Em 2012, prefaciou o livro 3355 “Situações Que Você Deve Saber Para Não Morrer Como Nos Filmes de Terror”, do escritor Gerson Couto. Em 2013 aparece na capa do disco “Expulsos do Purgatório”, curiosamente o ano 13, da lendária banda dos músicos punks “Excomungados” e nos encartes com os membros integrantes, sendo que o vocalista Pekinez Garcia, que toca nu inspirado no personagem principal do filme Finis Hominis já foi internado duas vezes em hospícios e, segundo uma lenda urbana, o vocalista teria sido amaldiçoado pelo intérprete Zé do Caixão. Em 2014, José Mojica Marins ficou por quase um mês internado no Incor – Instituto do Coração, em São Paulo, “onde passou por um cateterismo cardíaco planejado de desobstrução de uma artéria que estava com bloqueio”. Na ocasião, ele foi submetido a uma angioplastia, que é o procedimento técnico para desobstruir vasos entupidos, e colocou três stents, tubo inserido para normalizar a passagem de sangue dentro da artéria. Por conta disso, o intérprete de Zé do Caixão passou a fazer três diálises por semana.  Em 2015, o famoso canal por assinatura Space fez uma minissérie biográfica sobre Mojica intitulada Zé do Caixão, com o cineasta interpretado pelo fabuloso ator Matheus Nachtergaele.
             Zé do Caixão se tornou tão famoso que o personagem se confunde com o criador. Considerado o pai do cinema de terror brasileiro, estrela de seis filmes e premiado internacionalmente, Zé é obra de José Mojica Marins, ator e cineasta que morreu na tarde desta quarta-feira, 19 de fevereiro, aos 83 anos, em São Paulo, em decorrência de uma broncopneumonia. Marins estava internado há cerca de 20 dias no hospital Santa Maggiore, desde que contraiu uma infecção que evoluiu para pneumonia. Ele deixa sete filhos, 12 netos e uma carreira que o coloca entre os cineastas mais notórios da história. O diretor norte-americano Tim Burton, autor da cinegrafia Edward Mãos de Tesoura, O Estranho Mundo de Jack, Alice no País das Maravilhas e outros filmes mundialmente famosos, consolidou o reconhecimento internacional de Mojica ao classificá-lo como “a maior descoberta do gênero na década de 90”. Nos Estados Unidos, ganhou a alcunha de Coffin Joe. “Seus filmes ficaram na minha mente como pesadelos, mas bons pesadelos” disse o diretor quando encontrou Zé do Caixão numa exposição organizada pelo Museu da Imagem e Som (MIS), em São Paulo, em 2016. Para o ator Matheus Natchtergaele, o cineasta era o “Carlitos” brasileiro. - “Assim como Chaplin e seu Carlitos, Mojica e Zé do Caixão habitam nosso imaginário mais profundo”, escreveu o intérprete do cineasta na série Zé do Caixão
Bibliografia geral consultada.

SILVER, Jonathan Derick, Hollywood`s Dominance of The Movie Industry: How did it rise and how has it been maintained? Tese de Doutorado. Department of Advertising, Marketing and Public Relations. Australia: Queensland University of Technology, 2007; SENADOR, Daniela Pinto, Das Primeiras Experiências ao Fenômeno Zé do Caixão: Um Estudo sobre o Modo de Produção e a Recepção dos Filmes de José Mojica Marins entre 1953 e 1967. Dissertação de Mestrado. Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2008; BRAGANÇA, Klaus Berg Nippes, O Estilo Horrível: Análise dos Mecanismos de Produção de Encanto em Quatro Filmes de Horror de José Mojica Marins. Dissertação de Mestrado. Programa de Mestrado em Comunicação e Cultura Contemporânea. Faculdade de Comunicação. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2008; SOARES, Fabiano Pereira de Lourenço, Zé do Caixão - A Falsa Subversão. Monografia de Conclusão de Curso de Jornalismo. Escola de Comunicação. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2009; CANEPA, Laura Loguercio, Medo de que: Uma História do Horror nos Filmes Brasileiros. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Multimeios. Instituto de Artes. Campinas: Universidade de Campinas, 2008; SILVA, Luciano Henrique Ferreira da, O Gênero de Horror nos Quadrinhos Brasileiros: Linguagem, Técnica e Trabalho na Consolidação de uma Indústria - 1950/1967. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia. Curitiba: Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2012; CARREIRO, Rodrigo, “O Problema do Estilo na Obra de José Mojica Marins”. In: Galáxia. São Paulo, n° 26, pp. 98-109, dez. 2013; SANTOS, Janaina de Jesus, Produções Discursivas do Horror: Materialidade Fílmica e Memória na Trilogia de Zé do Caixão. Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências e Letras. Araraquara: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2014; ORLANDI, Aline Cristina Sola, Entre Lobos e Lobisomens: Feminismo, Pornografia e Gótico nos Contos de Ângela Carter. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências e Letras. Araraquara: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2016; MARRA, Fernanda, “O Animal Cordial: Uma Rasura da Razão”. In: Revista Lusófona de Estudos Culturais, vol. 6, nº 1, 2019, pp. 189-199; BUTCHER, Pedro, Hollywood e o Mercado de Cinema Brasileiro: Princípio (s) de uma Hegemonia. Tese de Doutorado em Cinema. Instituto de Arte e Comunicação Social. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2019; entre outros.

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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do Curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).