terça-feira, 12 de março de 2019

Zé do Caixão - Precursor & Criador do Horror Brasileiro.


                                                                                                     Ubiracy de Souza Braga*

                               Mephistopheles is not your name. I know what you`re up to just the same”. Sting

        
           
            A literatura de “terror” é um gênero literário e é comum que as obras ligadas ao “horror” sejam confundidas com as de terror, pois tanto nas livrarias e bibliotecas como na imaginação de parte dos leitores e dos críticos, ficam na mesma seção de identificação da obra. A verdade é que as duas possuem uma enorme diferença sociológica. O gênero de terror ou horror na literatura tem a intenção de atemorizar ou assustar os seus leitores, através da inclusão de sentimentos de horror e terror. Em suas diversas manifestações de vida, é natural a existência de assustadora forma de estranhamento. O terror pode ser tanto sobrenatural, como não sobrenatural. Comumente sua ameaça central por trás de uma obra de ficção de terror pode ser interpretada como uma metáfora para os grandes medos da sociedade. As antigas origens do gênero foram reformuladas no século XVIII como “terror gótico”, com a publicação de “O Castelo de Otranto” (1764) de Horace Walpole, um aristocrata e romancista inglês que inaugurou um novo gênero literário, o romance gótico, com a publicação desta obra. Neste caso marcou a primeira vez na literatura em que um romance moderno incorporou elementos do sobrenatural ao invés de utilizar tradicionalmente elementos do realismo.
Na realidade, a primeira versão foi publicada disfarçadamente como um romance medieval italiano que fora supostamente descoberto e posteriormente republicado por um fictício tradutor. Uma vez revelado seu estratagema, como sendo autor contemporâneo, muitos o consideraram anacrônico, reacionário ou simplesmente como portador de mau gosto, mas o mesmo, contraditoriamente, provou-se popular imediatamente. De fato, a literatura de terror, encontrada, por exemplo, em muitos dos contos de Edgar Allan Poe, volta-se para a criação de um clima de comunicação como suspense cuja explicação sociologicamente nada possui de sobrenatural, registrado pela primeira vez entre 1520-1530, que em geral designa o contrário do que é considerado natural; o que não admite - ou é suposto não admitir - explicação científica. Designa aquilo que, em princípio, é ou ocorre fora da ordem natural, à parte das leis naturais que regem os fenômenos ordinários, ou aquilo que é superior à natureza, sendo essencialmente psicológica no sentido hitchcockiano (1899-1980). É, por exemplo, o caso de “O barril de Amontillado”, do referido autor. Nada existe ali de sobrenatural: é apenas o relato da vingança de Montresor, que empareda vivo ao desafortunado Fortunato. O livro “Cujo”, do consagrado escritor Stephen King, traduzido no Brasil como “Cão Raivoso”, representa a história, metaforicamente evidenciada pelo título, de uma família, aterrorizada por um cão da raça São Bernardo chamado Cujo, quando ele é mordido por um morcego portador de hidrofobia.


  

            Um dos mais populares escritores de terror contemporâneo é o Stephen King, reconhecido por ter escrito as famosas obras “Carrie”, “O Iluminado”, “It”, “Misery” e muitas outras. Tendo iniciado o seu trabalho na década de 1970, King conseguiu atrair uma enorme audiência, motivo este que fez com que a U.S. National Book Fundation o premiasse em 2003. Brian Lumley, James Herbert, Dean Koontz, Clive Barker, Ramsey Campbell e Peter Straub também são reconhecidos autores de horror contemporâneo populares. Sequências de livros best-selling de tempos contemporâneos estão relacionadas com ficção de horror, como a fantasia urbana de lobisomens Kitty Norville de Carrie Vaughn, e a ficção gótica e erótica da escritora Anne Rice. O conto de fadas A Bela Adormecida ganha uma nova interpretação nada inocente. Em Os desejos da Bela Adormecida, primeiro da trilogia erótica, a princesa condenada a dormir por cem anos depois de furar o dedo em uma roca de fiar enfeitiçada se torna vítima de um segundo feitiço: seu coração e seu corpo estão sob controle do príncipe que a despertou, que a declara sua “escrava sexual” e a leva para a corte de sua mãe, a rainha Eleanor, um universo simbólico que mistura prazer, dor e subserviência sadomasoquistas que num continuum se expandem além do gênero de terror em si.                
        Por seu lado, a literatura de horror contém indissociavelmente elementos do sobrenatural, muitas vezes associados a componentes típicos da ficção científica. É o caso de Frankenstein, no qual um cientista representado por um médico decide criar um ser - um Novo Prometeu - unindo partes retiradas de cadáveres e usando a eletricidade como fluido vital. Mas ela também recorre ao folclore e à cultura tradicional, no caso de Drácula e Carmilla, à religião: “Aprisionado com os faraós”, de Lovecraft, isto é, ao sobrenatural - ou mesmo a supostos poderes latentes no ser humano: leia-se o conto “O Estranho Caso do Sr. Waldemar” (Poe), no qual o dito Sr. Waldemar, prestes a morrer, é mesmerizado e permanece vivo enquanto dura o transe. A ideia de escapar à morte é recorrente na literatura de horror; além do óbvio Frankenstein, temos “Vento frio”, de Lovecraft, cujo personagem principal, mesmo estando morto, consegue se manter vivo mediante sistema de refrigeração instalado em seu apartamento. Também de Lovecraft, existe “O caso de Charles Dexter Ward”, com a ideia da reencarnação premeditada. Temos que ter em mente que se sofremos, é porque fizemos alguém sofrer. E a respeito de males cometidos em vidas passadas, muitos dizem: Por que e como vou pagar um erro que eu teria feito numa encarnação passada, se eu não me lembro dele? Mas é o Mestre dos mestres que ensinou que ninguém deixará de pagar todas as suas faltas até o último centavo (são Mateus 5: 26; e são Lucas 12: 59), o que quer dizer que as penas não duram para sempre, pois pago o último centavo, não vamos pagar mais nada, sim, pois a lei divina é justa e perfeita.
 
José Mojica Marins nasceu na cidade de São Paulo em 13 de março de 1936. Quando tinha três anos, sua família mudou-se para os fundos de um cinema na Vila Anastácio. O pai de Mojica passou a ser gerente do cinema. Depois que ganhou uma Câmera V-8, aos 12 anos, Mojica não mais parou de fazer cinema, essa era a sua vida. Muitos de seus filmes artesanais feitos nessa época eram exibidos em cidades pequenas, cobrindo assim os custos de produção. Autodidata, montou uma escola de interpretação para amigos e vizinhos e quando tinha 17 anos, depois de vários filmes amadores, fundou com ajuda de amigos, a Companhia Cinematográfica Atlas. Especializado em terror escatológico, criou uma escola de atores (1956), onde na década seguinte, montaria uma sinagoga (1964), no bairro de Brás, onde fazia experiências com atores amadores, usando insetos para medir sua coragem. Depois da fundação de sua escola, sua carreira profissional passou a ficar cada vez mais próxima. Entre perdas e danos, tentou realizar o filme “Sentença de Deus” por três vezes, mas o filme ficou como inacabado. Semiprofissional, o filme “Sentença de Deus” é experimental no sentido genuíno e revela os primeiros passos de José Mojica Marins na arte do cinema.
Contudo, em sua carreira revela-o como um cineasta, ator, roteirista de cinema e televisão mais reconhecido como Zé do Caixão, seu personagem mais famoso. Embora Mojica atue principalmente como diretor do chamado “cinema de terror”, teve trabalhos experimentais anteriores cujos gêneros variavam entre faroestes, dramas, aventura, dentre outros, incluindo filmes do gênero pornochanchada, no Brasil. Mojica Marins do ponto de vista técnico-metodológico desenvolveu um estilo próprio, como diretor que, inicialmente desprezado pelo ressentimento, passou a ser reverenciado pela expressão cult no circuito internacional. A moda ou o zelo dos literati nos faria atualmente dispensar o especialista, ou relega-lo à categoria subalterna de simples observador. Ipso facto José Mojica Marins é considerado um dos expoentes do cinema nacional inspiradores, comparativamente, do movimento marginal no cinema brasileiro que se propagou pelo país entre meados de 1968 e 1973, tendo como principais produtoras a Boca do Lixo em São Paulo e a Belair Filmes no Rio de Janeiro.
Zé do Caixão e Tim Burton.
 Não queremos perder de vista que ganhar dinheiro dentro da ordem econômica moderna é, enquanto for feito legalmente, segundo Max Weber o resultado e a expressão de virtude e de proficiência em uma vocação; e estas virtude e proficiência são, os verdadeiros alfa e ômega da ética de Franklin. Esta ideia peculiar da responsabilidade na vocação, tão familiar e, na realidade tão pouco importante, é a mais característica da ética social da cultura capitalista, e, em certo sentido, sua base. É uma obrigação que o indivíduo deve sentir e realmente sente com relação ao conteúdo de sua atividade profissional, não importando no que ela consiste e se ela aflora como uma utilização de seus poderes pessoais ou apenas de suas possessões materiais como capital. O capitalismo não pode mais do que fazer uso de homens de negócios que pareçam inescrupulosos em suas relações com outras pessoas, menos ainda uso do trabalho que praticam a doutrina do liberum arbitrum indisciplinado.                     
            Em quase todos seus filmes, com exceção de Encarnação do Demônio, José Mojica Marins foi dublado. E por uma simples razão. Na década de 1960, diversos filmes nacionais necessitavam serem dublados, e por motivos técnicos associados à nitidez de som nas tomadas externas e até realçar uma melhor interpretação. Algumas vezes, curiosamente, o próprio ator dublava o seu personagem, mas em outras ocasiões necessitava de um profissional qualificado para um melhor desempenho. Na Odil Fono Brasil, lhe mostraram vários filmes, para que escolhesse um dublador. Mojica ficou particularmente impressionado com a voz usada para dublar o ator italiano Mario Carotenuto: - A voz de Laercio Laurelli que dublou a voz de Zé do Caixão em “À Meia-Noite Levarei Sua Alma”, “Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver” e “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”; enquanto “O Ritual dos Sádicos”, “Finis Hominis”, “Quando os Deuses Adormecem” foram dublados por Araken Saldanha, na Academia Internacional de Cinema (AIC), com unidades em São Paulo e no Rio de Janeiro, reconhecidas pela sua excelência técnica de dublagem; já “Exorcismo Negro” e “Delírios de um Anormal” tiveram a voz de João Paulo Ramalho na AIC.
           Segundo Carreiro (2013), no Brasil, a prática de dublagem era uma imposição orçamentária, e não apenas às produções independentes, como aquelas levadas a cabo por Mojica. Historicamente nos anos 1950, qualquer longa-metragem filmado fora das dependências da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, um importante estúdio de arte cinematográfica que distribuiu filmes entre 1949 e 1954. Fundada em São Bernardo do Campo, pelo produtor italiano Franco Zampari e pelo industrial Francisco Matarazzo Sobrinho em 4 de novembro de 1949 (cf. Martins, 1973), a companhia produziu e coproduziu mais de 40  longas-metragens e precisava recorrer ao som pós-sincronizado (cf. Jung, 1991). O orçamento minguado, portanto, constituiu um limite da prática estilística de Mojica relacionado ao som passou a finalizar a parte do som dos seus filmes na empresa AIC e foi “forçado”, por assim dizer, a mudar de dublador. Ipso facto, Araken Sladanha fez o trabalho nos filmes Ritual dos Sádicos, Finis Hominis e Quando os Deuses Adormecem (1972), enquanto João Paulo Ramalho fez a voz do diretor em Exorcismo Negro (1974) e Delírios de um Anormal (1977). A voz real de Mojica só seria utilizada em filmes do diretor no longa-metragem Encarnação do Demônio. Mojica também possuía outro motivo para utilizar a dublagem em seus filmes: ele sabia que sua dicção era ruim, e obviamente o público tinha dificuldade de entender o que ele falava, problema que se acentuava do ponto de vista tecnológico na salas mal equipadas de projeção brasileiras dos anos 1960, como já observamos; enfim, tinha consciência de que falava um português trôpego, cheio de erros de gramática e concordância verbal.            
                   Em 1958, concluiu A Sina do Aventureiro, com apenas duas pessoas que não eram da escola de atores de Mojica Marins, mas que depois vieram a ter aulas, Ruth Ferreira e a Shirley Alvez. Trata-se de um típico representante do “faroeste caboclo”, vertente prolífica, que está sendo retomada pela historiografia do cinema brasileiro. Insere-se, portanto, na tradição mais ampla dos filmes que tem como escopo as cenas rurais de aventura, território que compreende nomes tão heterogêneos quanto significativos como Eric C. Kerrigan, Amilar Alves, Luiz de Barros, Humberto Mauro, Eurides Ramos, Antoninho Hossri, Victor Lima Barreto, Carlos Coimbra, Wilson Silva, Osvaldo de Oliveira, Reynaldo Paes de Barros, Edward Freund, Ozualdo Candeias, Tony Vieira e Rubens Prado. Para lançar o filme A Sina do Aventureiro, Marins contou com a ajuda solidária dos irmãos Valancy, que eram proprietários do Cine Coral, em São Paulo, aonde o filme permaneceu em cartaz por um longo tempo. O realizador do filme, Mojica Marins explicou, posteriormente, como ocorreu o sucesso do filme. Depois de aceitar a proposta de Augusto de Cervantes, de realização de um filme que agradasse aos padres, Mojica criou a história de Meu Destino em Tuas Mãos e procurou Ozualdo Candeias para fazer o roteiro - que não foi creditado. As tragédias familiares que se tem tornado frequentes são apresentadas pelo cineasta com requintes de maldade. A direção de Mojica deixou o filme ainda mais cru e violento.
O filme narra o drama de cinco crianças pobres que vivem infelizes com suas respectivas famílias. Cansados de abuso e desprezo, fogem de casa e saem pelas estradas, acompanhados do violão e da cantoria de Carlito (vivido por Franquito), o mais velho deles. O jovem Franquito, o “garoto da voz de ouro”, foi uma aposta para embarcar no estrondoso sucesso de Pablito Calvo, astro-mirim de Marcelino, pão e vinho (1955). Mojica compôs três das dez canções interpretadas por Franquito. “Meu Destino em Tuas Mãos” foi realizado com o dinheiro da venda dos long plays de Franquito, uma raridade por ser um dos primeiros filmes a ter disco com todas as músicas lançado pela gravadora Copacabana. O filme, apesar de ter agradado os padres, contudo, não teve repercussão nacional caindo no esquecimento. Mais tarde o produtor Nelson Teixeira Mendes contratou Mojica para ser ator no filme O Diabo de Vila Velha, um bang-bang. Como condição, Mojica negociou levar o pai, que estava doente, para o Paraná, onde o filme seria realizado. Após discussões com o diretor Ody Fraga, este veio a se afastar e Mojica finalmente assumiu a direção do filme, aonde demonstrou afinidade eletiva com o gênero faroeste, que já havia exercitado em A Sina do Aventureiro e ao qual voltaria em D` Gajão Mata para Vingar.
            Mojica Marins criou um personagem popular sem basear-se em nenhum mito do horror reconhecido mundialmente como coração das trevas onde habita uma espécie de estadia no inferno ou de descida ao reino dos mortos. Zé do Caixão, seu personagem reconhecido, foi criado por ele em 11 de outubro de 1963, como sabemos, “após ser atormentado por um pesadelo no qual um vulto o arrastava até seu próprio túmulo”. Segundo o próprio diretor, o nome “Zé do Caixão” veio de uma lenda de um ser que viveu há milhões de anos no planeta Terra que se transformou em luz e depois de anos esta luz voltou a Terra. A primeira aparição do personagem foi no filme “À Meia-Noite Levarei Sua Alma” (1963). Desde então, ele apareceu em diversos filmes, ganhou popularidade e tem sido retratado em diversas outras mídias. Zé do Caixão é um personagem amoral e niilista que se considera superior aos outros e os explora para atender seus objetivos. Zé do Caixão é um “descrente obsessivo”, um personagem humano, que não crê em Deus ou no diabo.  
O cruel e sádico agente funerário Zé do Caixão é temido e odiado pelos habitantes da cidade. O tema principal da saga do personagem é sua obsessão pela continuidade do sangue: ele quer ser o pai da criança superior a partir da “mulher perfeita”. Sua ideia de uma mulher perfeita não é exatamente física, mas alguém que ele considera intelectualmente superior à média, e nessa busca ele está disposto a matar quem cruza seu caminho.  Quanto à concepção visual do Zé do Caixão fica evidente a inspiração do personagem clássico Drácula, interpretado por Bela Lugosi na versão da década de 1930, dos estúdios Universal. Entretanto, Mojica assimilou aos trajes negros e elegantes do personagem características psicológicas profundas e enraizadas nas tradições culturais brasileiras. Além disso, as unhas grandes foram claramente inspiradas no personagem-título de “Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens”. A idéia do personagem surgiu em um sonho. Raramente mencionada nos filmes, o nome verdadeiro Zé do Caixão é Josefel Zanatas. Marins explica o nome em uma entrevista para o Portal Brasileiro de Cinema: - “Eu fui achando um nome: Josefel - “fel” por ser amargo - e achei também o Zanatas legal, porque de trás para frente dava Satanás”.
Por falta de um ator, pois não havia quem se submetesse à caracterização do personagem, Mojica se transformou em “Zé do Caixão” que naquele período, estava de barba, por causa de uma promessa de família. Com o tempo o nome do personagem passou a confundir-se com o do próprio autor e lhe trouxe politicamente sua fama. Com dificuldade, pois os atores não confiavam, nem acreditam em Mojica, que realizou as filmagens de “À Meia Noite Levarei Sua Alma”, com apenas atores de sua escola de teatro. É o filme que marca a sua maturidade como diretor relacionando-se perfeitamente com o domínio da linguagem cinematográfica, pois, há um conjunto requintado trabalho de construção de espaços/tempos diferenciados para Zé do Caixão, e esse é o modo como o filme logra distinguir este personagem dos outros. Após a etapa de montagem com Luiz Elias, Mojica Marins iria atrás do distribuidor que havia levado “A Sina do Aventureiro” que estava em São Paulo e havia ido à “Boca do Lixo”. Após assistir o filme montado, o distribuidor passou a divulgar o filme que já era tido como um grande sucesso. Na mesma época, relançou “A Sina do Aventureiro” e teve um retorno lucrativo. Ele havia feito amizade como um cineasta cubano que realizava filmes pornográficos e pediu a Mojica que acrescentasse mais dez minutos de cenas mais fortes - onde Mojica colocou algumas cenas de erotismo de algumas moças. Mojica teve seus títulos lançados na Europa e nos Estados Unidos, onde participou de mostras, festivais e recebeu prêmios.

  No Brasil, Mojica não conseguiu o mesmo sucesso e reconhecimento. Existem poucos títulos de seus filmes disponíveis no mercado, o que tornou sua obra pouco conhecida. Sua participação na mídia se dá quase sempre de maneira cômica, fato que teve que abraçar por necessidades financeiras. Atualmente, tem participação num programa de entrevistas chamado “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”, no Canal Brasil, um programa de televisão brasileiro de entrevistas apresentado por José Mojica Marins e exibido pelo Canal Brasil. Normalmente é dividido em quatro partes: A primeira, com uma reportagem, a segunda com duvidas de internautas sobre assuntos paranormais e a terceira uma entrevista com celebridade convidada e a ultima, onde Zé do Caixão lança sua famosa praga. Zé Do Caixão tem uma filha chamada Liz Vamp.  Em 2009 interpretou um personagem diferente no longa-metragem de Cesar Nero, em vez de Zé do Caixão, o nome de seu personagem era Dark Morton, porém o visual do personagem era idêntico ao do personagem Zé do Caixão, com a tradicional cartola e capa preta. No Carnaval Carioca de 2011, foi homenageado e participou do Desfile da vice-campeã, Escola de Samba Unidos da Tijuca. Atualmente possui uma quadra comercial localizada na Avenida Francisco Bicalho, no bairro do Santo Cristo, próximo à Rodoviária Novo Rio. Possui 4 títulos de campeã do Grupo Especial do carnaval carioca, conquistados respectivamente nos anos de 1936, 2010, 2012,  e 2014.
           Em 2012, prefaciou o livro 3355 “Situações Que Você Deve Saber Para Não Morrer Como Nos Filmes de Terror”, do escritor Gerson Couto. Em 2013 aparece na capa do disco “Expulsos do Purgatório”, curiosamente o ano 13, da lendária banda dos músicos punks “Excomungados” e nos encartes com os membros integrantes, sendo que o vocalista Pekinez Garcia, que toca nu inspirado no personagem principal do filme Finis Hominis já foi internado duas vezes em hospícios e, segundo uma lenda urbana, o vocalista teria sido amaldiçoado pelo intérprete Zé do Caixão. Em 2014, José Mojica Marins ficou por quase um mês internado no Incor – Instituto do Coração, em São Paulo, “onde passou por um cateterismo cardíaco planejado de desobstrução de uma artéria que estava com bloqueio”. Na ocasião, ele foi submetido a uma angioplastia, que é o procedimento técnico para desobstruir vasos entupidos, e colocou três stents, tubo inserido para normalizar a passagem de sangue dentro da artéria. Por conta disso, o intérprete de Zé do Caixão passou a fazer três diálises por semana.  Em 2015, o famoso canal por assinatura Space fez uma minissérie biográfica sobre Mojica intitulada Zé do Caixão, com o cineasta interpretado pelo fabuloso ator Matheus Nachtergaele.
             Zé do Caixão se tornou tão famoso que o personagem se confunde com o criador. Considerado o pai do cinema de terror brasileiro, estrela de seis filmes e premiado internacionalmente, Zé é obra de José Mojica Marins, ator e cineasta que morreu na tarde desta quarta-feira, 19 de fevereiro, aos 83 anos, em São Paulo, em decorrência de uma broncopneumonia. Marins estava internado há cerca de 20 dias no hospital Santa Maggiore, desde que contraiu uma infecção que evoluiu para pneumonia. Ele deixa sete filhos, 12 netos e uma carreira que o coloca entre os cineastas mais notórios da história. O diretor norte-americano Tim Burton, autor da cinegrafia Edward Mãos de Tesoura, O Estranho Mundo de Jack, Alice no País das Maravilhas e outros filmes mundialmente famosos, consolidou o reconhecimento internacional de Mojica ao classificá-lo como “a maior descoberta do gênero na década de 90”. Nos Estados Unidos, ganhou a alcunha de Coffin Joe. “Seus filmes ficaram na minha mente como pesadelos, mas bons pesadelos” disse o diretor quando encontrou Zé do Caixão numa exposição organizada pelo Museu da Imagem e Som (MIS), em São Paulo, em 2016. Para o ator Matheus Natchtergaele, o cineasta era o “Carlitos” brasileiro. - “Assim como Chaplin e seu Carlitos, Mojica e Zé do Caixão habitam nosso imaginário mais profundo”, escreveu o intérprete do cineasta na série Zé do Caixão
Bibliografia geral consultada.

SILVER, Jonathan Derick, Hollywood`s Dominance of The Movie Industry: How did it rise and how has it been maintained? Tese de Doutorado. Department of Advertising, Marketing and Public Relations. Australia: Queensland University of Technology, 2007; SENADOR, Daniela Pinto, Das Primeiras Experiências ao Fenômeno Zé do Caixão: Um Estudo sobre o Modo de Produção e a Recepção dos Filmes de José Mojica Marins entre 1953 e 1967. Dissertação de Mestrado. Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2008; BRAGANÇA, Klaus Berg Nippes, O Estilo Horrível: Análise dos Mecanismos de Produção de Encanto em Quatro Filmes de Horror de José Mojica Marins. Dissertação de Mestrado. Programa de Mestrado em Comunicação e Cultura Contemporânea. Faculdade de Comunicação. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2008; SOARES, Fabiano Pereira de Lourenço, Zé do Caixão - A Falsa Subversão. Monografia de Conclusão de Curso de Jornalismo. Escola de Comunicação. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2009; CANEPA, Laura Loguercio, Medo de que: Uma História do Horror nos Filmes Brasileiros. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Multimeios. Instituto de Artes. Campinas: Universidade de Campinas, 2008; SILVA, Luciano Henrique Ferreira da, O Gênero de Horror nos Quadrinhos Brasileiros: Linguagem, Técnica e Trabalho na Consolidação de uma Indústria - 1950/1967. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia. Curitiba: Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2012; CARREIRO, Rodrigo, “O Problema do Estilo na Obra de José Mojica Marins”. In: Galáxia. São Paulo, n° 26, pp. 98-109, dez. 2013; SANTOS, Janaina de Jesus, Produções Discursivas do Horror: Materialidade Fílmica e Memória na Trilogia de Zé do Caixão. Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências e Letras. Araraquara: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2014; ORLANDI, Aline Cristina Sola, Entre Lobos e Lobisomens: Feminismo, Pornografia e Gótico nos Contos de Ângela Carter. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências e Letras. Araraquara: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2016; MARRA, Fernanda, “O Animal Cordial: Uma Rasura da Razão”. In: Revista Lusófona de Estudos Culturais, vol. 6, nº 1, 2019, pp. 189-199; BUTCHER, Pedro, Hollywood e o Mercado de Cinema Brasileiro: Princípio (s) de uma Hegemonia. Tese de Doutorado em Cinema. Instituto de Arte e Comunicação Social. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2019; entre outros.

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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do Curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).

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