Nascimento da 1ª Televisão Operária da História Sindical Brasileira.
Ubiracy de Souza Braga
“O real se faz conhecer àquele que trabalha através do fracasso”. Christophe Dejours
A
invenção da primeira televisão, é da autoria de Philo Farnsworth (1906-1971),
um jovem rapaz norte-americano. Apesar de ser atribuída muitas vezes a invenção
a Vladimir Zworykin, a primeira televisão funcional foi desenvolvida por Philo
Farnsworth. Após ter desenvolvido o projeto funcional, a RCA que detinha o
império nas comunicações rádio, queria também deter o monopólio da televisão.
Este foi um problema para a RCA, pois não tinha investigadores com capacidades
para desenvolver um projeto como este, até encontrar um cientista genial, que
já estaria a desenvolver um projeto semelhante, mas que apresentava demasiados
problemas na transmissão de imagem. Historicamente, começa um processo
judicial, para se saber a quem pertencia a patente da primeira televisão, e a
RCA com os seus excelentes advogados conseguiram atrasar o processo de
desenvolvimento de Philo Farnsworth, que tratando-se de um investigador com
poucos recursos financeiros, começou a atrasar o seu projeto tecnológico. Só ao
fim de meses o tribunal atribuí a primeira patente de Philo Farnsworth no ano
de 1922.
Como
Philo Farnsworth não tinha dinheiro para investir, depois de ter começado a se
refugiar no álcool, e tendo a sua patente não renovada na década de 1940, a RCA
conseguiu ter acesso livre aos registos de Philo, e é dessa forma que, após a
criação da NBC, a patente da 1ª televisão é atribuída a Vladimir
Zworykin, que tinha também ele feito uma patente em 1923. Ele registra a
patente do tubo iconoscópico, para a transmissão de imagens. Este dispositivo
foi o precursor das câmeras televisivas. O primeiro sistema semimecânico de
televisor analógico foi demonstrado por John Logie Baird, em 26 de janeiro de
1926, em Londres, e em fevereiro de 1928, imagens em movimento foram
transmitidas por Baird de Londres para New York. Esse sistema era composto de
um disco giratório perfurado, no qual luzes de néon se ascendiam por detrás;
respondendo ao sinal da estação de rádio que capturava as imagens através de
disco idêntico. Os ruídos provocados pelo aparelho dificultavam a emissão
sonora, mas mesmo assim, foi o primeiro aparelho a reproduzir imagens em
movimento com 32 linhas de resolução.
O
primeiro serviço analógico foi a WGY em Schenectady, Nova Iorque, inaugurado em
11 de maio de 1928. Os primeiros televisores eram rádios com um dispositivo que
consistia num tubo de néon com um disco giratório mecânico ou disco de Nipkow,
que produzia “uma imagem vermelha do tamanho de um selo postal”. O primeiro
serviço de alta definição apareceu na Alemanha em março de 1935, mas estava
disponível apenas em 22 salas públicas. Uma das primeiras grandes transmissões
televisivas foi a dos Jogos Olímpicos de Berlim de 1936. O uso do
televisor aumentou enormemente depois da 2ª guerra mundial (1940-1945) devido
aos avanços tecnológicos surgidos com as necessidades da guerra global e à
renda adicional disponível, os televisores na década de 1930 custavam o equivalente
a sete mil dólares, na cotação de 2001, e havia pouca programação disponível. A
primeira transmissão em cores ocorreu comercialmente em 1954, na rede
norte-americana NBC. Um ano antes o governo dos Estados Unidos aprovou o
sistema de transmissão em cores proposto pela rede CBS, mas quando a RCA
apresentou um novo sistema que não exigia alterações nos aparelhos antigos em
preto e branco, a CBS abandonou sua proposta em favor da nova.
Christophe
Dejours é doutor em Medicina, especialista em medicina do trabalho e em
psiquiatria e psicanalista. É considerado o pai da psicodinâmica do trabalho. A
psicodinâmica do trabalho é uma abordagem científica, desenvolvida em França na
década de 1980, pelo expert que tem pesquisado a vida psíquica no
trabalho há mais de 30 anos, tendo como objeto de pensamento o sofrimento
psíquico e as estratégias de enfrentamento utilizadas pelos trabalhadores para
a superação e transformação do trabalho em fonte de prazer. Em sua pesquisa o
inicio da história da psicodinâmica do trabalho se dá no decorrer dos anos 1970
do século XX, na França, muito próxima na época da psicopatologia do trabalho.
Em meados dos anos 1990 seus estudos começam a investigar o tema do “sofrimento
no trabalho” aliviando a relação causal precedente utilizada pelos
psicopatologistas do trabalho. A dimensão de preocupação posterior é problematizar
o sofrimento gerado na relação homem-trabalho: quando o trabalho é fonte de
sofrimento, está nas raízes de possíveis descompensações psicossomáticas.Dejours então se torna um pioneiro que vai
formular a nova ciência, tratada como “análise do sofrimento psíquico
resultante do confronto dos homens com a organização do trabalho”. Dejours, em
definição posterior, entende que se trata da “análise psicodinâmica dos
processos intrassubjetivos e intersubjetivos mobilizados pela situação de
trabalho”. O sofrimento passa a ser o centro da análise que, articulada às
exigências da organização do trabalho, revela os modos de subjetivação, principalmente,
da classe trabalhadora.
A utilização da força de trabalho representa o próprio trabalho. Para representar seu trabalho em mercadorias, ele tem de representa-lo, sobretudo, em valores de uso, em coisas que sirvam para satisfazer as necessidades de alguma espécie. É um valor social de uso particular, um artigo determinado, que o capitalista faz o trabalhador produzir. A produção de valores de uso, ou bens, não muda sua natureza geral por se realizar para o capitalista e sob seu controle. Por isso, o processo de trabalho deve ser considerado de início independente de qualquer forma social determinada. O trabalho é um processo entre o homem e a Natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a Natureza. Ele põe em movimento as forças naturais pertencentes à sua corporalidade, braços e pernas, cabeça e mão, a fim de apropriar-se da matéria natural numa forma útil para a sua própria existência.
É neste sentido que opera a centralidade do trabalho numa forma que pertence ao homem com exclusividade. Uma abelha, dizia Marx, executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha envergonha mais de um arquiteto com a construção de favos de suas colmeias. Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ela construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo em cera. No fim do processo de trabalho obtém-se um resultado que já no início deste existiu na imaginação do trabalhador, idealmente. Além do esforço dos órgãos que trabalham, é exigida a vontade orientada a um fim, que se manifesta como atenção durante todo o tempo de trabalho. E isso tanto mais quanto menos esse trabalho, pelo próprio conteúdo e pela espécie e modo de execução, atrai o trabalhador, quanto menos ele aproveita como jogo de suas próprias forças físicas e espirituais. Temos assim o trabalho constituindo a atividade orientada a um fim, ou trabalho propriamente, seu objeto e seus meios de trabalho.
Elizeu Marques da Silva, diretor-geral da TVdosTrabalhadores (TVT), falecido em 24 de maio de 2013, aos 62 anos em São Paulo, vítima de complicações cardiorrespiratórias, foi um cinegrafista dentre pioneiros dos registros audiovisuais de manifestações de vida dos trabalhadores da Região do ABC Paulista. É uma região tradicionalmente industrial do estado de São Paulo, parte da Região Metropolitana de São Paulo, porém com identidade própria. A sigla vem das três cidades que, originalmente, formavam a região, sendo: Santo André (A), São Bernardo do Campo (B) e São Caetano do Sul (C). Às vezes, Diadema (D) é incluído na sigla apesar de ser considerada por muitos uma cidade que não deveria ser integrada ao grupo, pois, diferente das outras cidades, não representa nenhum santo. A sigla foi dada em ordem alfabética no ato de suas fundações, devido a influência da religião católica na região, fato este que deu a origem da sigla “ABC” Paulista, a região dos 3 santos de São Paulo. É relativamente comum encontrar também a sigla que também inclui os municípios de Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. O ABC é balizado historicamente por ser o primeiro centro histórico da indústria automobilística brasileira. A região é sede de diversas montadoras, como Mercedes-Benz, Ford, Volkswagen e General Motors, entre outras.
A presença de indústrias competitivas desse porte fez com que a região fosse o berço do movimento sindical contemporâneo no Brasil. As greves dos operários foram fortes no final da década de 1970, o que resultaria na fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), no início da década seguinte. Esta força sindical concentrada na região do ABC tomou dimensões gigantescas e, mesmo com seu caráter importante para defender os trabalhadores brasileiros, também teve uma contribuição negativa; considerando que muitas plantas industriais deixaram de se instalar ou migraram a outras regiões. Precisamente há 40 anos, no dia 14 de março de 1973, a Fiat Automóveis dava o primeiro passo para se instalar no Brasil, em Minas Gerais e a Ford, dentre outras, e toda a rede de fornecedores que abastecem estas megaindústrias. Este caráter político e social também se refletiu nas artes e cultura da região, principalmente no teatro. Grupos e espetáculos foram criados nesta época, refletindo bem sua realidade. Esta crescente manifestação cultural acabou germinando em grupos de teatro que ainda hoje são atuantes. São Bernardo do Campo conta com a maior população estimada do ABC, 833.240 habitantes, de acordo com as estimativas de 2018 do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística. Na cidade está localizada mais de 70% da represa Billings, e parques circundantes à represa, como Estoril, localizado próximo do Riacho Grande e acesso pela Rodovia Caminho do Mar.
Elizeu Marques nascido em junho de 1950 na Vila Alpina, capital paulista, cursou ferramentaria no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), foi operário, diretor de base do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e militante ativo nas greves e mobilizações realizadas no final da década de 1970 e início dos anos 1980. A ideia dos metalúrgicos registrarem em vídeo sua história social e política começou com as greves do final dos anos 1970 e início dos anos 1980 e tomou forma em 1983 quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT), então diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, voltou de uma viagem à Europa com uma câmera doméstica. Ainda na década de 1980, Elizeu teve contribuições valiosas como cinegrafista, sendo um dos responsáveis pelas gravações de imagens históricas sobre os trabalhadores, com registros em vídeo de manifestações e assembleias, além de documentários, vídeos educacionais e telejornais. Em 1984, passou a ser um trabalhador voluntário no Sindicato dos Metalúrgicos da região do ABC, em decorrência da demissão da empresa Forjaria São Bernardo.
Atuou como assessor da entidade para no ano seguinte iniciar atividades no recém-inaugurado departamento de vídeo, o embrião do que representa a TV dos Trabalhadores. O que era uma ideia transformou-se numa emissora de televisão, a TVT. Elizeu narrou essa história na Tribuna, às vésperas da inauguração da pioneira TVT, em 5 de agosto de 2010. - Gravamos eventos e ações do Sindicato porque sempre nos preocupamos em registrar a história que fazíamos. Em 1984 criamos um departamento de vídeo e por meio de um convênio com uma entidade holandesa conseguimos uma câmara profissional, uma ilha de edição e montamos nosso primeiro vídeo móvel. O que nos interessava era registrar a história social, mas não mostrá-la. Montamos um caminhão com o vídeo móvel e criamos um telejornal de oito minutos com notícias da categoria, que exibíamos todos os dias nas fábricas. Achávamos que não deveríamos depender de ninguém para nosso trabalho. Sermos nós os donos do traquejo, da forma e da linguagem mais apropriada para se comunicar com os trabalhadores.
Em 1987 - afirma - fizemos o pedido ao governo federal para a concessão do canal. Após a saída de Lula da direção do Sindicato, assumiu a diretoria de base de 1981 a 1983, quando o mandato foi cassado pela ditadura militar após a chamada “Greve do Arrastão” - protesto contra os arrochos salariais estabelecidos pelo então general-presidente João Batista de Figueiredo. - “Os trabalhadores eram presos um dia antes de a greve geral começar”. Esta é uma das principais lembranças que Josimar Alves Bezerra, o Banana, supervisor de operações na TVT, tem do movimento que estourou em 1983, quando ele trabalhava na Mercedes, em São Bernardo. Naquele ano, em plena ditadura militar no Brasil, trabalhadores de todo o País decidiram enfrentar o regime de exceção e convocar greve geral contra a política de arrocho imposta pelo governo. Os trabalhadores estavam revoltados contra o decreto que limitava a reposição da inflação sobre os salários em 80%, enviado ao Congresso Nacional pelo general presidente, João Batista Figueiredo. Os primeiros a protestarem foram os petroleiros de Campinas e Paulínia, que paralisaram suas atividades no início de julho. Em 1990 passa a coordenar a seção de vídeos da TVT que, nas conjunturas de greves, tinha como principal objetivo gravar e registrar etnograficamente a memória de mobilização dos trabalhadores.
A TV dos Trabalhadores entrou no ar com a data histórica que marca a estreia da primeira emissora de televisão outorgada aos trabalhadores com a presença do presidente sindicalista Luiz Inácio Lula da Silvia, ministros, prefeitos, parlamentares, dirigentes sindicais, empresários e 1.700 trabalhadores da base do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, fundador e mantenedor da Fundação Sociedade, Comunicação, Cultura e Trabalho. A entidade sem fins lucrativos recebeu a outorga da TV em outubro de 2009, após 23 anos de luta e do primeiro pedido oficial feito ao Ministério das Comunicações e intermediado pelo então deputado constituinte Lula. O carro-chefe é um jornal ao vivo de 30 minutos, intitulado SeuJornal, que já vem sendo exibida de segunda a sexta-feira. Integram a grade outras sete produções envolvendo serviços, debates, documentários, cooperativismo, entrevistas e destaques do mundo do trabalho. Para garantir o restante da programação, foram firmadas parcerias com a TV Brasil (pública) e as TVs Câmara e Senado, que fornecerão noticiário nacional, reportagens especiais e documentários sobre a questão tópica do processo de trabalho. Equipe constituída com 70 profissionais é responsável pela produção da programação própria da TVT. Segundo Valter Sanches, foi investido R$ 1 milhão na compra de equipamentos. O custo mensal da programação da TVT está estimado em R$ 400 mil.
O que nos diz esta imagem do ponto de vista comunicativo? A Rede TVT, ou a TV dos Trabalhadores, não era a única emissora de TV do país com acesso às dependências da sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo durante a vigília do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mas era a única bem-vinda ao local. De acordo com informações do coordenador da Rede TVT, Paulo Salvador, a emissora vai processar por uso indevido do link a Rede Globo,Band, Estadão e Folha, entre vários outros veículos. O caso aconteceu durante as transmissões da vigília do ex-presidente Lula e da missa em homenagem à Dona Marisa. De acordo com informações do coordenador da Rede TVT, Paulo Salvador, a emissora vai processar por uso indevido do link a Rede Globo, Band, Estadão e Folha, entre vários outros veículos. O caso aconteceu durante as transmissões da vigília do ex-presidente Lula e da missa em homenagem à Dona Marisa. - “Foi pouco ético e é claro que isso tem direitos autorais. Vamos colocar o nosso Departamento Jurídico pra estudar o assunto. Estamos capturando todas as imagens e vamos tomar as providências. Não pediram nem autorização, coisa que eles costumam fazer, mas desta vez nos ignoraram completamente e colocaram o link no ar”, disse o coordenador do evento. - “O que acontece é que temos uma solidariedade impressionante do pessoal da base. Eles nos ajudam, abrem espaço, carregam equipamento. As pessoas estão encontrando na gente uma fonte autêntica das informações. Pelos informes que nós temos de Ibope, nós passamos a Globo na manhã deste sábado”, acrescentou Paulo Salvador.
Por conta disto, o seu sinal foi usado indevidamente por quase todas as grandes empresas de comunicação do país, incluindo a Rede Globo, Band, Estadão e Folha de S. Paulo, sem autorização alguma para isso. A reprodutora Globo News ficou ao vivo com o link da TVT praticamente toda a manhã de sábado, além de fazer várias chamadas em outros horários durante todo o episódio. De acordo com a postagem do editor de vídeo da emissora, Ricardo Bazan, além de usarem o “link” de forma indevida, alguém da Globo ligou e pediu: - “Olá, aqui é da Globo, vocês podem tirar essa tarja da imagem? Está atrapalhando a nossa transmissão”. Paulo Salvador ainda ressaltou: - “todos eles estavam lá com equipamentos poderosos. Nós não tivemos nenhum acesso privilegiado. Eles estavam com uma parafernália grande, inclusive com helicópteros e preferiram usar o nosso conteúdo, então isso contempla a qualidade do nosso trabalho. Em tempos de internet estamos viabilizando uma TV aberta contra todos os prognósticos. Nós não nos chamamos de TV Alternativa, mas de TV substitutiva” (Cf. Costa, 2018).
Por ser educativa, a emissora não pode veicular publicidade nem ter patrocínios, mas apenas apoios culturais. Para poder habilitar-se legalmente à concessão, o Sindicato fez um aporte financeiro de R$ 15 milhões com recursos próprios, aprovado em assembleia em 2007, na conta da Fundação. Sanches e Sérgio Nobre afirmaram que o Sindicato ira buscar apoios culturais e novos parceiros para a TVT ainda este ano. - “Vamos fazer dessa emissora uma grande rede nacional”, afirmou o presidente do Sindicato. A outorga da emissora foi feita em outubro do ano passado em decreto assinado pelo presidente Lula e pelo então ministro das Comunicações, Hélio Costa. Além do Canal 46 UHF, a Fundação também teve outorgada, no ano passado, mais uma emissora UHF, em São Caetano, e duas emissoras de rádio, uma em São Vicente e outra em São Caetano. A Fundação foi criada em 10 de setembro de 1991, sem fins lucrativos, para produzir e divulgar programas de TV de conteúdos educativo, cultural, informativo e recreativo, em todo o território nacional. A emissora é presidida pelo dirigente do Sindicato Valter Sanches, metalúrgico na Mercedes-Benz, e dirigida por conselho composto por 40 membros eleitos em assembleia a cada três anos, que tem como representação diversas categorias de sindicatos filiados à Central Única dos Trabalhadores, como as representações sindicais dos Metalúrgicos e Químicos do ABC, Bancários de São Paulo e do ABC, Petroleiros, Professores e Jornalistas de São Paulo.
A televisão pública, segundo Gabriel Priolli Jr., no artigo: “A TV pública é importante?”, nascida formalmente educativa, de fato veio como uma tentativa de reequilibrar o cenário televisual, para dar ao público o que a TV comercial sonegava: informação e, sobretudo, educação, considerados produtos televisivos de prestígio, mas de baixa ou nenhuma lucratividade. E já veio com forte viés estatal, porque o Decreto-Lei 236, que a instituiu em 28 de fevereiro de 1967 e segue em vigor, faculta a possibilidade de requerer outorgas de radiodifusão educativa apenas a governos, fundações e universidades. Nos últimos 40 anos, os três níveis de governo, as fundações públicas e as universidades federais conquistaram a maior parte das outorgas educativas. A missão de reequilibrar o sistema televisual, entretanto, não foi cumprida pela TV educativa. Para o jornalista, cronicamente carente de recursos e apoio político, limitada por uma legislação canhestra, presa à concepção equivocada de uma teleducação receosa de divertir enquanto ensina, a TV educativa nunca conseguiu seduzir o grande público, a ponto de rivalizar com a TV comercial nos índices de audiência. Colecionou êxitos, alguns enormes, como “Vila Sésamo”, “Rá-Tim-Bum”, “Vox Populi”, “Roda Viva”, mas limitou-se, em geral, a uma audiência dita “periférica”, raramente superior a 5% do universo de telespectadores, o que comprometeu o seu desenvolvimento.
A Fundação firmou uma parceria com a Associação dos Canais Comunitários do Estado de São Paulo - ACESP para retransmissão da programação da TVT em 27 emissoras comunitárias nas sete cidades do ABC, constituído pelas cidades de Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra – canal 48) e nas seguintes praças: Atibaia, Bragança Paulista, Cubatão, Guarulhos, Itapetininga, Mogi das Cruzes, Osasco, Peruíbe, Ribeirão Preto, São José dos Campos, Jacareí, São José do Rio Preto,Valinhos, Limeira, Americana, Rio Claro, Sumaré, Hortolândia, Mogi Mirim, Mogi Guaçu, Itapetininga e São Paulo (capital). Outra parceria foi firmada com Nova Geração de Televisão, a Rede NGT, por seis meses, para retransmitir a programação da TVT a diversas regiões do Estado de São Paulo e em geral do Brasil. São mais de 240 pontos de abrangência em todo o País. Na Grande São Paulo, por exemplo, são 26; na região de Bauru, mais 26; na Grande Rio de Janeiro, 16; em Minas Gerais, 87, sendo 17 no sul-sudeste; na região do Cariri, no estado do Ceará, 24. A população total dessas regiões é de 40 milhões de habitantes e 12 milhões de domicílios com televisores, segundo dados estatísticos da NGT, reconhecida como Rede NGT ou NGT é uma rede de televisão aberta brasileira inaugurada no dia 8 de outubro de 2003 pelo industrial Marco Antônio Bernardes Costa. No
início da década de 2000, o empresário Manoel Antônio Bernardi Costa adquire as
concessões dos canais 48 UHF da cidade de Osasco, no estado de São Paulo, em
nome da Fundação de Fátima, e 26 UHF do Rio de Janeiro, capital do estado
homônimo, em nome da Fundação Veneza, ambas, de caráter educativo, pertencentes
até então à UniTV, e que se tornariam matrizes da Nova Geração de Televisão. A
empresa fabricante de antenas Mecatrônica, de propriedade de Manoel, ficou
responsável por bancar os custos da futura rede.
Em
24 de abril de 2003, a sede da emissora, localizada no bairro Butantã, na
capital paulista, que recebeu o nome Espaço 48, foi aberta para visitação do
público. Sua estrutura foi montada por cerca de cem designers e decoradores
coordenados por Regina Fronterotta e Ricardo Rangel, sendo este último, também,
diretor geral da NGT.Com transmissão a
partir de São Paulo pela Torre Cásper Líbero, localizada no Edifício Gazeta, na
Avenida Paulista, que também retransmitia o sinal da TV Gazeta, a rede entrou
no ar em 8 de outubro de 2003, exibindo oito horas de programação terceirizada
em caráter experimental. Os documentários que compunham sua grade eram
produzidos pelo canal educativo STV e pelos canais de TV paga argentinos
Infinito e FashionTV, pertencentes à programadora Claxson, a qual a NGT firmou
uma parceria. No início de 2006, passou a exibir apenas programação própria,
baseada em variedades, jornalismo, filmes e esportes, através de uma parceria
com a TV Esporte Interativo. Entre 2010 e 2011, o canal fechou uma parceria com
a E+ Entretenimento para exibir séries e filmes em sua grade. Entre 2011 e
2013, a NGT firmou uma parceria com a TV Diário de Fortaleza para a
retransmissão de algumas atrações da emissora cearense na grade nacional da
rede. Em 25 de maio de 2015, a produtora independente Medialand licenciou seu
conteúdo para exibição na rede. Em 14 de junho de 2017, parte da programação
diária da NGT é arrendada à TV Plenitude, emissora da Igreja Apostólica
Plenitude do Trono de Deus. O arrendamento foi encerrado em 17 de abril de
2018. De fato, a TVT dos Trabalhadores está inovando o processo comunicativo global, no caso brasileiro, e claro, do ponto de vista da globalização, ao colocar oito metalúrgicos na equipe de reportagem, com a participação social de representantes das entidades do movimento social. Nelma Salomão, diretora de jornalismo da emissora, explica que um dos conceitos da programação da TV dos Trabalhadores é estar aberta à participação social. – “Esse será um dos nossos diferenciais. A participação de pessoas comuns produzindo conteúdo vem da necessidade de termos a visão desse lado da vida cotidiana, como a dos trabalhadores”. O coordenador de base por São Bernardo do Sindicato, Moisés Selerges será um dos repórteres trabalhadores e define sua participação como um elo entre a categoria e a emissora. - “O trabalhador não se vê na TV conforme a sua realidade. Não há um programa que discuta nossos direitos”. Ele compara sua afirmação com o comum da novela “Nunca vimos um personagem dizendo que precisa dormir cedo porque tem de trabalhar no dia seguinte”.
Vale lembrar que o primeiro pedido de concessão de canais de rádio e televisão para os trabalhadores via Sindicato foi feito em setembro de 1987. A entidade participou de quatro concorrências de concessão de radiodifusão e foi preterida em todas, apesar de ter cumprido todos os requisitos exigidos por lei. Em 1992, houve mais uma negativa, à época já em nome da Fundação Sociedade Comunicação, Cultura e Trabalho. Em abril de 2005, a Fundação conseguiu a concessão do canal educativo 46 UHF, com sede no município de Mogi das Cruzes da Grande São Paulo, com aprovação do Congresso Nacional. Na ocasião, o presidente Lula assinou o decreto da concessão na abertura do 16º Congresso Continental da Confederação Internacional das Organizações Sindicais Livres - Organização Regional Interamericana de Trabalhadores (CIOSL-ORIT), que reuniu representantes das principais centrais sindicais de 29 países das Américas. No ato, Lula lembrou que era deputado constituinte quando levou o deputado federal e presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Vicentinho (PT), para conversar com o ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães (ACM), no governo do vice-presidente José Sarney, e pedir pela primeira vez a concessão.
Durante seu governo, no qual teve Antônio Carlos Magalhães (ACM) como um poderoso Ministro das Comunicações, foram distribuídas mais de mil concessões públicas de rádio e televisão, basicamente comerciais e sem licitação. A administração de José Sarney distribuiu 1.028 concessões de emissoras de rádio (AM e FM) e de televisão (30,9% dos canais existentes na época) - sendo que em apenas um mandato, José Sarney assinou um número de concessões superado apenas pela soma das permissões autorizadas por todos os presidentes brasileiros entre 1934 e 1979. A grande distribuição de concessões de radiodifusão representou uma política pública adotada em troca de apoio (favores) no Congresso nacional, inclusive para o maranhense José Sarney obter um ano a mais na vice-presidência da República. A própria família Sarney detém concessões deste tipo econômico e social por todo o estado do Maranhão, além de jornais impressos. - “O fato de Lula, um operário metalúrgico, ser o presidente da República foi determinante para que o Sindicato/Fundação conseguissem a concessão da TVT e as demais outorgas”. Em 2016, existiam tecnologicamente
em operação ao redor de todo o território brasileiro 545 estações geradoras e
13.630 retransmissoras, que compõem as redes de televisão de
estações geradoras e emissoras independentes.
Bibliografia geral consultada.
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