sábado, 23 de fevereiro de 2019

A Questão Cultural - Método Halal & Mercado Global de Frango.


                                                                                                  Ubiracy de Souza Braga 

                  Deus é o maior - sob a benção de Alá, carne é exportada”. Said El Moutaqi


            No âmbito cultural Halal (“permitido”) é tudo aquilo que está em acordo com as jurisprudências islâmicas e desta forma pode ser consumido pelos muçulmanos. Na medida em que o alimento pode influenciar a alma, comportamento, saúde moral e física do ser humano, o Islam tornou obrigatório que os muçulmanos se preocupem em conhecer a origem daquilo que consomem. Sendo assim, o Islam os orienta a verificar se aquilo que consomem está em conformidade com as regras religiosas ou não. Tudo que está em conformidade é denominado de “Halal”. Um produto Halal pode se tornar Haram (“proibido”) com a adição de uma matéria-prima ou ação ilícita, seja por desconhecimento ou falta de planejamento. Um embutido acrescido de carne de porco (considerado impuro), por exemplo, fica proibido de ser consumido pelos muçulmanos. O mercado Halal é considerado um mercado em crescimento e com potencial. Os muçulmanos são cerca de 30% da população mundial e formam um dos maiores mercados de alimentos e bens de consumo do mundo inteiro. O segmento Halal não se limita aos produtos alimentícios. Inclui diversos domínios, relacionados a produtos farmacêuticos, cosméticos, ou serviços de turismo e financeiros. O que faz com que os consumidores de produtos e serviços Halal não se restrinja aos muçulmanos?
              Atualmente o selo de garantia “Halal” é um símbolo de qualidade, observância precisa, saúde e preservação dos recursos naturais, o que  contribui de forma ativa e intensa para o crescimento deste mercado colocando em prática os padrões estabelecidos entre as organizações e instituições Halal mundiais.  - “Em nome de Deus. Deus é o maior” (“Bismillah Allahu Akbar”). É isso que diz o abatedor de frango, todos os dias, antes de desferir o primeiro corte fatal, no frigorífico de aves da Languiru. É uma cooperativa bastante diversificada e uma das áreas de atuação é a avicultura. Tudo começa na granja de matrizes, onde o pintinho matriz (macho e fêmea), entra com um dia de vida. Lá é feita a recria, que leva em torno de 20 a 21 semanas, preparando a ave para entrar em posturaA frase serve como um ritual para abençoar a carne que será consumida pelos muçulmanos. Por mais cruel que o abate possa parecer, ao evocar o nome de Alá (o deus islâmico), o industriário agradece o alimento e pede perdão pelo sacrifício de uma vida, em nome do consumidor. Os muçulmanos consideram a carne sagrada, e por isso ela só pode ser consumida se passar por preceitos e normas ditadas pelo Alcorão (o livro sagrado). O termo Halal é a denominação que recebem os alimentos “adequados” para o consumo de acordo com a lei islâmica. No judaísmo os alimentos preparados de acordo com as leis judaicas são denominados Kosher ou Kasher. Essas regras estão detalhadas no Abate Halal, que em português significa claramente o que é lícito, o que é permissível. O abate virou exigência dos países muçulmanos e acabou sendo adotado como procedimentos técnicos rotinizados dos frigoríficos de aves e bovinos da região. O frango é processado para comercialização do produto pelo trabalhador especializado, com qualificação de um corte no pescoço, que atinge a traqueia, esôfago, artérias carótidas e jugular imediatamente.                               


O trabalhador que mata o animal passa por uma seleção: nos primeiros anos eram contratados apenas muçulmanos para o serviço, mas devido à produção em escala, foi estabelecido pelo Suna (responsável por ditar leis dos muçulmanos), que o seguidor da religião poderia ser substituído por judeus ou cristãos, que acreditam em Deus. Um dos fiscais desse processo no Vale do Taquari é o muçulmano Said El Moutaqi (45 anos). Ele se mudou do Marrocos para o Brasil há 25 anos, quando o Centro de Divulgação do Islã para a América Latina o designou para verificar do ponto de vista da qualidade industrial quais empresas do país poderiam exportar o produto. O Vale do Taquari acabou se tornando interessante para Moutaqi pela concentração e quantidade de frigoríficos. Um deles é representado pelo Frigorifico de Aves da Languiru, onde trabalha Said de forma terceirizada. Ele certifica “se o produto está de acordo com o sistema e o sela para a exportação” (cf. Luhmann, 2005). De acordo com as exigências das embaixadas dos países islâmicos, as carnes abatidas pelo sistema Halal são certificadas e rotuladas com selo de identificação específico. Só assim, o muçulmano entende que alguém da mesma religião acompanhou o procedimento de perto. E o fiscal garante: - “Todos os dias estou na produção para acompanhar o rigor do ritual”.           
O processo social e o método de trabalho e de produção em série integram-se ao ritual islâmico que começa a partir da seguinte cadeia de trabalho, na criação, sangria, separação, qualificação, devoção e finalmente a benção do animal, para em seguida fechar a cadeia de trabalho com a entrega do produto final aos supermercados. Criação: a ração usada para alimentar o animal não pode ter produtos suínos. Os muçulmanos não comem esse tipo de carne; sangria: deve ser feita com apenas um corte na traqueia, esôfago, artérias carótidas e jugular (sistema que menos provoca sofrimento ao animal); divisão material: tudo deve ser separado do processo material de abate comum; trabalhador: a preferência é por muçulmanos. O abate só pode ser feito por uma pessoa mentalmente sadia, que entenda a religião, seja judeu ou cristão; Deus: o abate é para Alá, e não deve ser devotado a outros deuses; direção: a sangria é direcionada à cidade sagrada de Meca, na Arábia Saudita; benção: a frase de benção deve ser dita todo o dia no primeiro abate de ave. As mulheres não podem participar do processo quando estiverem no período menstrual.
            Historicamente o frango popularizou-se no Brasil como símbolo do aumento do poder de compra promovido pelo plano populista de estabilização da economia reconhecido como Plano Real, que alçou o sociólogo Fernando Henrique Cardoso à presidência da República “quando o frango retomou o posto de fonte de baixo custo de proteína na mesa do trabalhador médio brasileiro”. O sentimento de identidade é substituído pelo de confronto; o evento do povo como sujeito político liga-se à sua mobilização a serviço da soberania nacional. E neste caso, por um preço, mesmo que momentaneamente como um truque, abaixo do praticado há 12 anos. Há redes de supermercados vendendo o produto, em promoções rápidas, a R$ 0,99 o kg, um centavo abaixo do preço do início do primeiro mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Na média, o preço desceu 30% nos últimos dois meses, de R$ 2,40 para cerca de R$ 1,60. Não é a toa o então presidente das República Fernando Henrique Cardoso admitiu, por ocasião dos festejos dos seis anos de estabilidade da economia brasileira, em 2000, que “a classe média foi quem pagou a conta do real”.  Os custos sociais dos serviços pessoais – empregado doméstico, cabeleireiro, manicure, serviços bancários - também passaram a fatiar uma parcela maior do orçamento das famílias medianas brasileiras a partir do Plano Real de estabilidade econômica. Em 18 anos, a alta é de 540%. A baixa é provocada pela superoferta no mercado interno, gerada pela mais-valia, analisada por Marx, das exportações. Nos últimos meses, os embarques recuaram mais de 30%, de 240 mil para 160 mil toneladas.
É neste sentido que na relação econômica estabelecida pelo binômio produção- consumo, tem como resultado a queda do consumo nos países importadores, por causa da gripe aviária, e do embargo à carne brasileira, inclusive de frango, imposta por alguns países depois da confirmação de focos de febre aftosa nos rebanhos bovinos de Mato Grosso do Sul e Paraná. É nesta região que um fazendeiro foi multado em R$ 1,5 milhão por desmatar ilegalmente 1,5 mil hectares, em uma fazenda às margens do Rio Negro, em Aquidauana, no Pantanal de Mato Grosso do Sul. De acordo com a Polícia Militar Ambiental (PMA), trabalhadores da fazenda usaram máquinas esteiras para derrubar várias árvores de grande porte. Este foi o maior desmatamento registrado pelos agentes da PMA, nos últimos dois anos. O pecuarista apresentou aos policiais uma autorização ambiental eletrônica, para a limpeza de pastagem. A licença ambiental, retirada pela rede mundial de computadores - internet, no site do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (IMASUL), “permite apenas a derrubada de arbustos com diâmetro abaixo de 32 centímetros e até 1,30 m de altura, com uso de roçadeiras e foices”. Ainda assim o picareta através do chamado “jeitinho” brasileiro burlou a Lei.
O Brasil é o maior exportador de frango do mundo e a União Europeia é seu principal comprador. O bloco é responsável por 7,5% do frango vendido pelo país ao exterior, em toneladas, e 11% em receita, segundo dados da ABPA. Desde a deflagração da operação “Carne Fraca” a União Europeia reforçou as medidas sanitárias contra o Brasil. É uma operação deflagrada pela Polícia Federal do Brasil, e teve início no dia 17 de março de 2017. Investiga as maiores empresas do ramo: JBS, dona das marcas Seara, Swift, Friboi Vigor, e a BRF, dona da Sadia e Perdigão, “acusadas de adulterar a carne que vendiam nos mercados interno e externo”. O escândalo da carne adulterada no Brasil envolve mais de trinta (30) empresas alimentícias do país, acusadas de comercializar carne estragada, mudar a data de vencimento, maquiar o aspecto e usar produtos químicos para buscar revenda de “carne estragada”, além de apontar agentes do governo acusados de liberar criminosamente estas carnes. Gravações registraram a interferência do então Ministro da Justiça do governo Michel Temer, Osmar Serraglio, cobrando de um dos chefes do esquema e principal alvo da investigação Daniel Gonçalves Filho, sobre a fiscalização em um dos frigoríficos envolvidos.
            O Brasil é o líder mundial em exportação de carne bovina e de frango, e o quarto exportador de carne suína. No ano de 2016 as vendas do setor representaram 7,2% do comércio global. A holding BRF, controladora de Sadia e Perdigão, possui no país quarenta e sete fábricas, e sozinha detinha 14% do mercado mundial de aves, exportando para 120 países; já a JBS, controladora das marcas Friboi, Seara, Swift e Pilgrim's Pride era considerado o maior frigorífero do mundo, enviando carnes para 150 países. Como impacto imediato o preço das ações destas duas empresas lideraram as perdas na Ibovespa no dia da operação: 7,25% a BRF e 10,59% a JBS; ambas já vinham de resultados ruins no ano de 2016, e avaliou-se que terão enormes dificuldades para conseguir reverter a quebra de confiança. Autoridades alertaram para a imagem que o escândalo pode causar na indústria nacional e seus possíveis impactos na economia.
As ações da JBS, na BM & F Bovespa fecharam o dia 17 de março em queda de mais de 11%, as BRF seguiram as da JBS e também caíram quase 8%. Somente neste dia, a JBS teve uma perda de valor de mercado de R$ 3,456 bilhões, enquanto a BRF teve uma perda de R$ 2,31 bilhões. O New York Times afirmou que o escândalo “lança dúvidas sobre a indústria do agronegócio no Brasil, na já afetada economia nacional, devido a outros escândalos”, além de mencionar o vínculo das propinas originadas no esquema, com o partido do presidente de mandato tampão Michel Temer (MDB) do Brasil. O jornal britânico Financial Times falou no mesmo tom do New York Times e também levantou dúvidas sobre o futuro da “indústria da carne” no Brasil. O também britânico The Telegraph citou as acusações de corrupção para manter a “carne podre” no mercado e seu vínculo com funcionários especializados do governo federal, também foi lembrado pelo jornal Washington Post. Segundo o ministro Blairo Maggi, a UE solicitou ao governo uma reunião de emergência para esclarecimentos sobre a operação policial e as investigações sobre as fraudes.           
O setor de frangos de corte começa a se desenvolver a partir de 1940. Até então era uma atividade artesanal e de pouca relevância econômica. A 2ª guerra mundial (1940-1945) teve um papel fundamental no desenvolvimento da avicultura. Os países envolvidos na guerra redirecionaram a produção de carnes vermelhas para os soldados em combate.  Viram-se obrigados a produzir carnes alternativas para o consumo imediato da população. Estes países deram início, portanto, a uma revolução técnica na produção de carne de frango ao desenvolverem pesquisas de novas linhagens e fórmulas de rações, além de medicamentos específicos para a avicultura. Este conjunto técnico de mudanças foi responsável pelo moderno setor avícola capaz de uma produção regular em escala globalizada e com índices elevados de produtividade. O aumento da produtividade na avicultura de corte pode ser observado a partir de três principais indicadores empíricos: 1) o índice de conversão alimentar: quantidade de ração, em kg necessário para produzir 1 kg de frango vivo; 2) o peso do animal para consumo, e 3) a idade de abate do frango.
A cadeia produtiva de frango de corte passou a ocupar posição de destaque na economia brasileira e mundial. A competitividade expressa por ganhos de produtividade e, consequentemente, no preço da carne de frango comparativamente as outras carnes. A cadeia de produção brasileira é uma das mais importantes do mundo. A oferta de frango tem acompanhando o crescimento da demanda interna e externa decorrente do aumento da competitividade e produtividades, mas também ecologicamente pelo aumento no nível de urbanização e renda da população, da diversificação das dietas e da mudança de hábitos alimentares. A avicultura brasileira ocupa a 3ª posição na produção mundial,  com um total de 12,6 milhões de toneladas de carne de frango em 2014, ficando atrás apenas dos Estados Unidos da América (EUA) com uma produção de 17,2 milhões de toneladas e da China comunista com uma produção de 13 milhões de toneladas. O estado do Paraná tem se destacado no contexto brasileiro. No que se refere a sua estrutura industrial avícola de abate e com base em uma estrutura cooperativa complexificada, mas consolidada no estado, com primazia para a região oeste do estado, sendo responsável pela produção 32,26% do total produzido em 2014.
O Brasil ocupa um lugar de destaca no cenário mundial de carne de frango, sendo atualmente o 3º maior produtor, 3º maior consumidor e o 1º maior exportador dessa importante fonte de proteína animal. Em relação ao abate de frango, a região Oeste do Paraná é a mais importante não só do estado, mas também da Região Sul e do Brasil. A importância da indústria avicultura nesta região pode ser verificada pelo significativo aumento do efetivo de rebanho de galos, frangos, frangas e pintos. Os estados da região sul do país por serem grandes produtores de soja e milho foram os que mais intensamente se inseriram nessa moderna avicultura, com operações em larga escala. Muito embora, outros estados em função da ampliação do mercado internacional também tenham apresentado modificações substanciais na sua estrutura produtiva, aumentado sua participação na produção nacional de frangos de corte. Em relação às empresas de abate e processamento de carne de frango no Brasil, observa-se que o setor é formado por empresas privadas nacionais e estrangeiras e por cooperativas.
As incertezas em relação às negociações com o mercado internacional estão preocupando a avicultura brasileira. A China, terceiro maior mercado de exportação do Brasil, recentemente impôs tarifas temporárias sobre o frango brasileiro, que também sofreu o impedimento de entrar na União Europeia. Alegando que produtores e processadores chineses estão sendo prejudicados por importações a preços de dumping, o governo do país asiático impôs tarifas à carne de frango brasileira, que podem variar de 18,8% a 38,4%. O anúncio da China afetou fortemente as expectativas da avicultura brasileira. A maior parte do volume de frango exportado pelo Brasil é comprada pela China. Em 2016, das 4,31 milhões de toneladas vendidas ao mercado internacional, 11,2%, representando em torno de 484,49 mil toneladas foram enviadas para a China comunista. Em 2017, o montante embarcado para o país asiático consumidor de frangos diminuiu ligeiramente, para 391,39 mil toneladas, 9,2% do volume total exportado. O deslistamento de frigoríficos que exportavam carnes de aves para o bloco europeu ainda tem etapas a serem superadas até que possa ser revertido. Segundo o Ministro da Agricultura, Blairo Maggi, o Brasil ainda não recebeu os relatórios com informações sobre o resultado da última missão realizada por técnicos europeus em janeiro passado.
Aliado às incertezas do mercado internacional, desde o início de 2018, a avicultura brasileira enfrenta ainda momentos difíceis como o aumento de preços dos principais insumos utilizados na atividade, como o milho e farelo de soja, e a recente greve dos caminhoneiros que gerou perdas ao setor estimadas em R$3,5 bilhões. As preocupações do setor com as incertezas relacionadas ao mercado externo procedem, afinal, o mercado doméstico não necessita absorver toda a produção de frangos de corte produzidos no Brasil. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), 34% de todos os frangos de corte produzidos no país são industrialmente destinados ao mercado internacional. Em maio, o Brasil exportou 314,36 mil toneladas de frango “in natura”, com aumento no mercado interno em torno de 33,36% em relação a abril/2018. Apesar do maior volume exportado e do dólar em patamares mais elevados, a receita em reais caiu 1,2% de abril para maio, para R $ 1,729 bilhão, devido aos menores preços pagos em dólar pela tonelada, que caíram 2%. Já nas três primeiras semanas de junho, segundo dados estatísticos do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, o Brasil exportou 127 mil toneladas de frango “in natura”, o que representa uma queda de 63% ante as 343,3 mil toneladas enviadas em análise comparada de igual intervalo reprodutivo do ano passado. 

A Arábia Saudita é um país que abrange a maior parte da Península Arábica, com litorais no Mar Vermelho e no Golfo Pérsico (Árabe). Conhecida como o local de nascimento do islamismo, a nação é sede das 2 mesquitas mais sagradas da religião: Masjid al-Haram, em Meca, destino da peregrinação anual Hajj, e Masjid an-Nabawi, em Medina, local de sepultamento do profeta Maomé. Riad, a capital, é uma metrópole repleta de arranha-céus. A Arábia Saudita é um país no deserto que abrange a maior parte da Península Arábica, com litorais no Mar Vermelho e no Golfo Pérsico (Árabe). A Arábia, também reconhecida como península Arábica, é uma península no Sudoeste da Ásia e situada ao Nordeste da África na placa árabe. De uma perspectiva geológica, é considerada um subcontinente asiático. É uma região majoritariamente de clima desértico. É a maior península do mundo, com 3 237 500 km². Reconhecida como local de nascimento do islamismo, a nação é sede das 2 mesquitas mais sagradas da religião: Masjid al-Haram, em Meca, destino da peregrinação Hajj, e Masjid an-Nabawi, em Medina, da região de Hejaz, na Arábia Saudita. Foi a terceira mesquita construída ao longo da história do Islão, que surgiu no começo do século VII e rapidamente se difundiu entras as tribos árabes, unindo-as em torno da mesma fé. É atualmente uma das maiores mesquitas do mundo e local de sepultamento do profeta Maomé. Riad, a capital, é metrópole repleta de arranha-céus.

A decisão da Arábia Saudita de descredenciar cinco (5) frigoríficos brasileiros que exportam para o país é uma retaliação ao governo de Jair Bolsonaro (PSL), em função da decisão de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém, afirmou em Davos o ex-secretário-geral da Liga Árabe, organização que reúne 22 países árabes, Amr Moussa. - “O mundo árabe está enfurecido (com o Brasil)”, disse Moussa, um dos diplomatas do Oriente Médio de maior influência na região. - “Essa é uma expressão de protesto contra uma decisão errada por parte do Brasil. Muitos de nós não entendemos o motivo pelo qual o novo presidente do Brasil trata o mundo árabe desta forma”. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o motivo alegado para o veto aos frigoríficos foram questões técnicas. Em reação, o presidente em exercício, o general Hamilton Mourão, disse que não haveria  embargo. – “A embaixada não está mudada ainda, o pessoal está se antecipando ao inimigo”. Há poucas semanas, a Liga Árabe decidiu aumentar a pressão sobre o governo de Jair Bolsonaro e aprovou, no Cairo, uma resolução pedindo que o Brasil “respeite o direito internacional” e que abandone a ideia retrógrada de mudar a embaixada para Jerusalém, o que significaria o reconhecimento da cidade como capital de Israel.
O entendimento é de que o reconhecimento de Jerusalém Ocidental como capital de Israel só deve ocorrer ao mesmo tempo em que Jerusalém Oriental for reconhecida como capital do Estado palestino. Por isso, os países mantêm suas embaixadas em Tel Aviv, a capital comercial de Israel. Até agora, desde a criação de Israel, a postura da diplomacia brasileira sempre foi de equilíbrio político entre os dois lados. Jair Bolsonaro confirmou que pretendia transferir a embaixada no início de novembro. Mas afirmou que a mudança ainda não estava definida. - “É uma guinada muito grande e mudará a maneira como o Brasil é visto no mundo diplomático como um todo, sobretudo no contexto da ONU”, disse à BBC News Brasil o cientista político Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais na Fundação Getúlio Vargas. Mas também e principalmente o temor de que, se levada adiante, a decisão unilateral possa afetar as exportações brasileiras para países árabes, que estão entre os principais importadores de carne bovina e de frango do Brasil, especialmente com o selo halal, que atesta técnica de abate conforme preceitos islâmicos. Estes países apoiam a Palestina no conflito milenar e poderiam reagir ao alinhamento do Brasil com Israel. Oliver Stuenkel acredita que o risco não é apenas de mero boicote, mas sim de medidas que levem a “menos acesso do produto brasileiro a esses mercados, como aumento de tarifas”.
Outra decisão anunciada foi o envio de uma “delegação de alto escalão” ao Brasil para lidar com a crise de exportação do produto e para informar ao novo governo de Jair Bolsonaro (PSL) sobre a necessidade de “cumprir o direito internacional” no que se refere à situação de Jerusalém – cidade que também é disputada pelos palestinos historicamente para ser a capital de seu Estado (cf. Sanz, 2018). O conselho da Liga Árabe ainda decidiu também há semanas comunicar aos embaixadores brasileiros nos diferentes países árabes sobre “qualquer ato que viole o status legal e histórico de Jerusalém”. De acordo com palestinos, o recado iria alertar que “Estados membros da Liga Árabe tomariam as medidas políticas, diplomáticas econômicas necessárias em relação a essa ação ilegal”. - “Eu acredito que tais medidas (como o descredenciamento dos frigoríficos) vão continuar”, disse Moussa. - “A única forma de evitar isso é se o Brasil desistir dessa ideia. Jerusalém é uma capital de dois Estados, não de um”.
Não queremos perder de vista que ao se batizar de novo nas águas do rio Jordão,  Bolsonaro demonstrou há dois anos sua aproximação da comunidade evangélica, um culto cristão que é reconhecido por seu apoio ao Estado de Israel e tem mais de 40 milhões de fiéis no Brasil, onde também vivem 100.000 judeus. Pouco depois que as urnas o transformaram no novo presidente eleito do maior país da América Latina, o militar da reserva ultradireitista confirmou que “cumprirá sua promessa eleitoral de transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém”. O primeiro-ministro israelense, Benjamim Netanyahu, felicitou Bolsonaro por ter seguido os passos do presidente Donald Trump, e da Guatemala, do cristão evangélico Jimmy Morales, os dois países que tiraram sua representação de Tel Aviv, onde as demais embaixadas permanecem. O Paraguai voltou atrás e endossou sua representação em Jerusalém depois da posse, em agosto, do novo presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez. - “É um passo histórico, justo e animador”, disse Netanyahu no Twitter. - “Israel é um Estado soberano e nós o respeitamos”, ratificava o eleito para reiterar seu compromisso de campanha de transferir a embaixada para a Cidade Santa. Bolsonaro questiona assim um consenso internacional de sete décadas quebrado por Donald Trump em dezembro ao reconhecer Jerusalém como capital do Israel. A comunidade internacional sustentou em sucessivas resoluções das Nações Unidas que o estatuto final da cidade, cuja parte oriental é reivindicada pelos palestinos como a capital de seu Estado, só pode ser estabelecido depois de acordo de paz definitivo entre ambas as partes envolvidas.

Os motivos e conteúdo de sentido alegados de descredenciamento de 33 frigoríficos brasileiros exportadores de frango halal foram “técnicos”, de acordo com a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira. Tudo começou com a informação da agência de notícias Reuters de que o Ministério de comércio da China teria aceitado uma proposta apresentada por exportadores brasileiros de carne de frango com o objetivo de encerrar uma disputa antidumping, que é um mecanismo de defesa comercial que poucos importadores de frango reconhecem ou compreendem. É muito frequente importadores se depararem com tal mecanismo apenas no momento de registro de suas Declarações de Importação, pois há cobrança extra de valores compensatórios. A entidade negou que a medida esteja relacionada com a possível mudança da embaixada do Brasil de Tel Aviv, em Israel, para Jerusalém, o que desagradaria aos países árabes. Desde a operação “Carne Fraca”, segundo a Câmara de Comércio, as inspeções técnicas aos frigoríficos brasileiros têm sido mais frequentes. Com a desabilitação de 33 unidades, apenas 25 continuam aptas a vender frango para o país. As que restaram são grandes plantas frigoríficas responsáveis por um “volume considerável” de exportação ao bloco importador árabe.
A entidade afirma que a situação, no entanto, é reversível, uma vez que as irregularidades identificadas pela autoridade sanitária saudita forem sanadas e uma nova missão sanitária do órgão for realizada. - “Nas próximas semanas, aproveitando uma visita já marcada anteriormente à Arábia Saudita, vamos levar a questão às autoridades de lá. Também discutiremos o assunto na semana que vem com a ministra Tereza Cristina”. A Avicultura Industrial questionou o órgão se medidas semelhantes poderiam ser adotadas pelos demais países que compõem a Liga Árabe. Conforme a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, isso vai depender do cenário existente em cada país em relação à segurança alimentar da população. Além disso, da capacidade interna de produzir alimentos ou externa, já que muitos fundos soberanos árabes têm participações em empresas de alimentos de todo o mundo. - “Uma das formas pelas quais esses países – carentes de solos aráveis – garantem o fornecimento de alimentos a sua população”. -“No caso da Arábia Saudita, temos notado que eles tem se esforçado para desenvolver sua indústria alimentícia interna e seus fundos soberanos atuando de forma expressiva para expandir capacidade produtiva”, informou a Câmara saudita. Segundo a entidade, o frango continua sendo extremamente importante na pauta de comércio do Brasil com o mundo árabe. O produto sozinho representa o segundo item da pauta, correspondendo a aproximadamente a um quinto de toda receita obtida com as exportações.
Bibliografia geral consultada.
MASTRANGELO, José, La Temática Religiosa nel Pensiero de G. W. F. Hegel. Tese de Doutorado em Teologia. Roma: Pontificia Universitas Lateranensis, 1972; KEPEL, Gilles, La Revanche de Dieu: Chrétiens, Juifs et Musulmans à la Reconquête du Monde. Paris: Éditions Seuil, 1991; ALVES FILHO, Eloy, O Processo de Produção Avícola: História e Transformações (Contribuição ao Estudo da Avicultura em MG 1980-1995). Dissertação de Mestrado em História Econômica. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa,1996; BRAGA, Ubiracy de Souza, “A Questão Israelense-Palestina: Histórias Míticas?”. In: Jornal O Povo. Fortaleza (Ce), 7 de outubro de 2006; MOUTAQI, Said El, Produção Mais Limpa na Gestão do Uso das Águas em Abatedouro de Aves no Vale do Taquari - RS. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Ambiental. Universidade de Santa Cruz do Sul, 2008; FASSARELLA, Luiza Meneguelli, Impactos das Medidas Técnicas e Sanitárias nas Exportações Brasileiras de Carne de Frango. Dissertação de Mestrado. Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2010; ESPÍNDOLA, Carlos José, “Trajetórias do Progresso Técnico na Cadeia Produtiva de Carne de Frango do Brasil”. In: Revista Geosul. Florianópolis, vol. 27, nº 53, pp. 89, jan./jul., 2012; MENDES, Paulo Vinícius da Costa, Cortisol Sanguíneo e Qualidade da Carcaça de Frangos Abatidos pelo Método Halal ou Insensibilidade por Eletronarcose. Tese de Doutorado em Medicina Veterinária. Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias. Campus de Jaboticabal: Universidade Estadual Paulista, 2015; KOSTIK, Andréia Cássia, Redes Sociais, Capital Social e Empreendedorismo: O Caso dos Exportadores Brasileiros de Frango Halal. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Administração. São Paulo: Universidade Paulista, 2016; DVOJATZKI, Pricila, Identificação e Avaliação de Projetos de Investimentos para Redução dos Índices de Condenações de Frango de Corte. Dissertação de Mestrado. Programa de Pòs-Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas. Pato Branco: Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2017; Artigo: “Conheça o processo de criação e abate de frango Halal, segue preceitos islâmicos”. In: https://g1.globo.com/economia/2018/11/18; CHADE, Jamil, “Veto a Frigoríficos é Retaliação ao Governo de Bolsonaro, diz Líder Árabe”. In: https://economia.estadao.com.br/22/01/2019;  entre outros. 

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