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domingo, 25 de julho de 2021

Adolpho Bloch - Televisão: Aconteceu, Virou Manchete Global.


                    “A vida só é digna de ser vivida quando se faz algo pela vida em vida”. Adolpho Bloch            

         

           Adolpho Bloch nasceu em Jitomir, a 120 quilômetros de Kiev, capital da Ucrânia, no dia 8 de outubro de 1908, filho de Joseph e Ginda Bloch, de origem judaica. Seu pai era dono de uma litotipografia e orientou os três filhos homens, Adolfo, Arnaldo e Bóris, nas artes gráficas. Ainda criança, Adolpho trabalhou como auxiliar na produção de folhetos de propaganda para a Revolução Russa de 1917, além de imprimir papel-moeda para o governo provisório de Aleksandr F. Kerenski. Em função da instabilidade política gerada pela revolução socialista e das crescentes perseguições aos judeus em Jitomir, a família mudou-se para Kiev, onde Adolpho, além de trabalhar vendendo libretos de ópera, passou a frequentar uma escola comercial. Lá foram novamente vítimas de pogroms, ataques de cossacos aos judeus. As dificuldades financeiras aumentaram com a desapropriação, pelo governo, da litotipografia de Joseph. Em meados de 1921, os Bloch decidiram emigrar. A partir de um contato com um tio residente na Bahia, passaram pela Itália, onde permaneceram dois meses no porto de Nápoles vivendo com grandes dificuldades, e em dezembro embarcaram na terceira classe do navio Red’Itália rumo ao Brasil. O intuito inicial da viagem era juntar algum dinheiro e conseguir vistos para os Estados Unidos da América. Chegando ao Rio de Janeiro no início de 1922, a família estabeleceu-se em Aldeia Campista, na Zona Norte, optando por permanecer no Brasil.

Com os poucos recursos que trouxe da Rússia, Joseph Bloch estabeleceu uma pequena gráfica, com máquinas impressoras manuais, para a qual Adolfo trabalhava procurando encomendas no comércio. Estudando à noite no Colégio Pedro II, já nessa época começou a frequentar redações de jornais da cidade do Rio de Janeiro, onde travou contato com jornalistas e escritores. Seu primeiro grande negócio, que tornou reconhecida a gráfica dos Bloch, foi a impressão massiva de papel de seda especial para embalar laranjas para exportação. Com os rendimentos daí provenientes, comprou sua primeira casa, em Copacabana. Depois da morte do pai, assumiu com os dois irmãos o comando da gráfica. Em 1931, naturalizou-se brasileiro. Em 1939, inaugurou a primeira sede própria da gráfica, na rua Frei Caneca. Na mesma ocasião, iniciou as obras de construção de um parque gráfico em Parada de Lucas. Em 1951, teve a ideia de criar uma revista semanal ilustrada do tipo Paris-Match, uma revista semanal de língua francesa. Ela cobre as principais notícias nacionais e internacionais, com recursos de estilo de vida de celebridades. Adolpho Bloch comprou máquinas, instalando a redação na sede da rua Frei Caneca, no centro do Rio de Janeiro. Enfrentou a resistência de todos, inclusive dos irmãos, que consideravam impossível competir com a revista O Cruzeiro, dos Diários Associados, lídereres do mercado editorial com tiragem semanal média de cerca de 500 mil exemplares. Em 26 de abril de 1952, foi para as bancas o primeiro número da revista Manchete, que, embora enfrentasse dificuldades em seus primeiros anos, reunia uma equipe de jornalistas e escritores notáveis, como Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Sérgio Porto, Oto Lara Resende, Fernando Sabino, entre outros.

Na tarde de 20 de abril de 1960 iniciaram as cerimônias de inauguração com a entrega da chave da cidade para o presidente. À zero hora do dia 21 de abril de 1960, durante uma missa solene, Brasília foi declarada inaugurada em um clima de emoção e euforia, e o presidente e vários entre o público foram às lágrimas. Pelas ruas os candangos expressavam sua alegria. Às 8h da manhã foi dado o Toque de Alvorada pela banda dos Fuzileiros Navais e minutos depois Juscelino hasteou a bandeira nacional diante do Palácio do Planalto. Em seguida Brasília iniciou suas atividades como capital, quando o presidente recebeu os cumprimentos das delegações diplomáticas. Às 9h30min foram instalados os Três Poderes, às 10h15 min, na Catedral de Brasília ainda inacabada, o Núncio Apostólico instalou a Arquidiocese de Brasília, e às 11h30min foi realizada a primeira sessão solene do Congresso Nacional. Ao fim da sessão Juscelino foi carregado nos ombros pelos parlamentares como um herói. À tarde a população se reuniu no Eixo Rodoviário Sul para assistir a um desfile militar, com a passagem do Fogo Simbólico da Unidade Nacional. As comemorações se repetiram e só encerraram oficialmente na noite de 23 de abril, com a representação de uma alegoria escrita por Josué Montello, que foi encenada com a participação de militares em parada, jovens da sociedade carioca, tratores e um helicóptero descendo do firmamento, e inúmeros figurantes portando ferramentas de trabalho, personificando os candangos. A tônica da peça, narrava a fundação das três capitais brasileiras. Foi o contraste entre o velho e a adesão decidida ao novo, resgatando figuras históricas e para melhores dias, contra um cenário colorido por fogos de artifício e diante do aplauso frenético da população.


Adolpho Bloch representou um dos grandes incentivadores do governo do presidente Juscelino Kubitschek (JK), defendendo especialmente a construção da nova capital. Foi graças à divulgação por ele promovida que o slogan “50 anos em cinco” (cf. Benevides, 1976), retirado de um discurso de campanha de Juscelino, se tornou famoso como símbolo do governo JK, entre 1956 e 1961. Sua eleição foi marcada pelo plano de ação “Cinquenta anos em cinco”, marca do desenvolvimentismo, já que o ideal era trazer ao Brasil o desenvolvimento econômico e social. Segundo JK, se com outros governantes este processo levaria cinquenta anos, com ele levaria apenas cinco. Trouxe diversas empresas estrangeiras para o país, entre elas, as automobilísticas Chrysler e Ford através do Grupo Executivo da Indústria Automobilística, já que ele queria incentivar o comércio de carros, além de televisões e outros bens de consumo duráveis. Em resumo, procurou alinhar a economia brasileira à economia norte-americana. Foi também o primeiro a abrir um escritório jornalístico no Planalto Central, para onde enviou uma dupla de repórteres. Apostando no desenvolvimentismo do programa de metas de Juscelino e publicando reportagens sobre a construção de Brasília, a Manchete aumentou sua tiragem e seu volume de publicidade e, com a decadência de O Cruzeiro, tornou-se a primeira revista brasileira. Aproveitando a situação favorável, Bloch reequipou seu parque gráfico e criou novas revistas, como Fatos e Fotos, Jóia, Pais & Filhos, Ele & Ela, Desfile, Amiga, Sétimo Céu e outras. 

A densidade de Manchete com o programa das metas de JK fez com que o já então ex-presidente se aproximasse do editor, justamente no momento em que a política dava uma reviravolta e JK era cassado e obrigado a se exilar, sendo seu nome proibido de receber menção na imprensa. Adolpho não tomou conhecimento da proibição e continuou a dar ampla cobertura e corajosa defesa a JK. Com o nascimento da primeira neta de Juscelino, em Portugal, Adolpho foi convidado a ser padrinho de batismo. Em 1968, inaugurou a nova sede da sua editora, na Praia do Russel (zona sul do Rio), com três prédios projetados por Oscar Niemeyer. Tornou-se amigo íntimo de Juscelino Kubitschek e, quando este foi cassado e exilado pelo regime militar golpista de 1º de abril de 1964, dois meses depois desconsiderou a proibição que seu nome recebesse menção na imprensa, continuando a promover publicamente a defesa do ex-presidente da República, de quem editaria as memórias em três volumes. Embora mantivesse fidelidade a JK, Bloch apoiou a ideologia do “Brasil Grande” promovida pelo regime militar instaurado em 1964. Em novembro de 1968, inaugurou a nova sede de sua editora na praia do Russel, Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, projetada pelo comunista Oscar Niemeyer, onde funcionariam, as redações do grupo, as emissoras de FM/AM, o Museu de Arte Brasileira e o Teatro Adolfo Bloch, inaugurado em 1973. 

Do saguão do prédio da Manchete sairia, em 22 de agosto de 1976, o enterro do ex-presidente Juscelino Kubitschek. A história social de Brasília, a capital do Brasil, localizada no Distrito Federal, iniciou-se com as primeiras ideias da capital brasileira no centro do território nacional. A necessidade de interiorizar a capital do país parece ter sido sugerida pela primeira vez em meados do século XVIII, ou pelo Marquês de Pombal, ou pelo cartógrafo italiano a seu serviço Francesco Tosi Colombina. A ideia foi retomada pelos Inconfidentes, e foi reforçada logo após a chegada da corte portuguesa ao Rio de Janeiro em 1808, quando esta cidade era a capital do Brasil. A primeira menção ao nome de Brasília para a futura cidade apareceu em um folheto anônimo publicado em 1822, e desde então seus sucessivos projetos apareceram propondo a interiorização. A primeira Constituição da República, de 1891, fixou legalmente a região onde deveria ser instalada a capital, mas foi somente possível ocorrer em 1956, com a eleição de Juscelino Kubitschek, através de uma aliança política formada por seis partidos, Juscelino foi eleito Presidente da República em 3 de outubro de 1955, com 35,68% dos votos válidos, a menor votação de todos os presidentes eleitos de 1945 a 1960. Assim teve início a efetiva construção da cidade, inaugurada ainda incompleta em 21 de abril de 1960 após um apertado cronograma de trabalho, seguindo o plano urbanístico de Lúcio Costa e orientação arquitetural de Oscar Niemeyer. Os edifícios mais complexos, como os palácios e a catedral, seguiram os projetos estruturais elaborados pelo engenheiro Joaquim Cardozo. 

A partir desta data histórica iniciou-se a transferência dos principais órgãos da administração pública federal para a nova capital, e na abertura da década de 1970 estava em pleno funcionamento. No desenrolar de sua história social e política, Brasília, como capital nacional, e Distrito Federal testemunhou uma série de eventos e palco de grandes manifestações populares. Planejada para 500 mil habitantes em 2000, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística ela possuía nesta data 2,05 milhões, sendo 1,96 milhões na área de zona urbana e cerca de 90 mil na área de zona rural. Este é apenas um dos paradoxos que colorem a história de Brasília. Concebida como um exemplo de ordem e eficiência urbana, como uma proposta de vida moderna e otimista, que deveria ser um modelo de convivência harmoniosa e integrada entre todas as classes, Brasília sofreu na prática importantes distorções e adaptações em sua proposta “idealista primitiva”, permitindo um crescimento desordenado e explosivo, segregando as classes subalternas para a periferia e consagrando o Plano Piloto para o uso e habitação das elites sociais e políticas, além da organização urbana não ter-se revelado tão convidativa para convívio social e familiar como imaginaram seus idealizadores, pelo menos para os primeiros de seus habitantes, que estavam habituados a tradições diferentes. Controversa desde o início, custou aos cofres públicos uma fortuna, jamais calculada exatamente, o que esteve provavelmente entre as causas das crises financeiras nacionais dos anos seguintes à sua construção. O projeto foi combatido como uma insensatez por muitos, e por muitos aplaudido como uma resposta visionária e grandiosa ao desafio da modernização brasileira. 

A construção de Brasília teve um impacto social e político importante na integração da região Centro-Oeste à vida econômica e social do Brasil, mas enfrentou e, como todas as grandes cidades, mesmo planejadas, ainda enfrenta atualmente sérios problemas de habitação, emprego, saneamento, segurança e outros. Por outro lado, a despeito das polêmicas em seu redor, consolidou definitivamente sua função como capital e tornou-se o centro político da vida na nação, e tornou-se também um ícone internacional a partir de sua consagração como Patrimônio da Humanidade em 1987, reconhecida por autores como um dos mais importantes projetos urbanístico-arquitetônicos da história. A partir de um relato verbal de Capistrano de Abreu a respeito de escritos e mapas adquiridos pela Biblioteca Nacional e pelo Arquivo Público Mineiro no leilão da biblioteca do Conde de Linhares, parece que a originalidade da ideia da interiorização da capital se deve a Francesco Tosi Colombina, cartógrafo italiano a serviço da Coroa portuguesa, que visitou Goiás em 1749 e elaborou um mapa do Brasil, quando se realizavam as negociações para o Tratado de Madri de 1750. Mas há indícios de que o Marquês de Pombal tenha sido o mentor da ideia, tendo Colombina realizado a expedição a seu mando. 

O marquês também foi o responsável pela transferência em 1763 da primeira capital do Brasil, até então Salvador, para o Rio de Janeiro. Documentadamente, porém, a primeira sugestão de se mudar a capital para o interior partiu dos Inconfidentes mineiros, que pretendiam levá-la para São João del-Rei, “por ser mais bem situada e farta em mantimentos”, e associavam a mudança ao regime republicano. Anos depois, assim que a corte portuguesa se estabeleceu no Brasil, em 1808, o almirante britânico Sidney Smith recomendou ao príncipe regente Dom João a transferência da sede de governo para o interior, alegando motivos estratégicos. Na mesma época o diplomata Strangford, sugeriu que se mudasse a capital para o sul, para localizá-la em uma região de clima ameno e mais salubre. Em 1809 a Imprensa Régia fez circular um documento alegadamente de William Pitt, primeiro-ministro do Reino Unido, onde ele recomendava a construção de uma Nova Lisboa no Brasil central, sob argumentos semelhantes. Entretanto, muitos pesquisadores consideram o documento apócrifo. No ano seguinte o desembargador Antônio Rodrigues Veloso de Oliveira apresentou memorial ao príncipe aconselhando a mudança, e a partir de 1813 Hipólito José da Costa, em repetidos artigos publicados no Correio Braziliense, reivindicou a interiorização da capital do Brasil, a ser instalada no vasto Planalto Central.


Historicamente no decorrer das dpecadas de 1930 a 1970, a política econômica governamental foi estatizante ou privatista, nacionalizante ou internacionalista, desenvolvimentista ou estabilizadora, conforme a constelação política dominante e a natureza dos dilemas econômicos existentes na ocasião. Nos anos de 1964, após a deposição do Presidente João Goulart, a política econômica do governo adquiriu nova sistemática e orientação, relativamente ao que se fazia nos anos 1961-1963. Aliás, pode-se mesmo dizer que a política econômica governamental dos anos 1964-1970 adquiriu nova sistemática e orientação relativamente a todas as outras políticas econômicas adotadas pelos governos do país. Sob vários aspectos as diretrizes governamentais, após 1964, corresponderam a um aperfeiçoamento de tendências e realizações efetivadas nas décadas anteriores. Essas diretrizes exprimiram uma das tendências do sistema econômico-político brasileiro. 

Devido aos acentuados desequilíbrios econômicos, sociais e políticos gerados na década de 1950, e acentuados nos anos 1961-63, a política econômica dos governos militares de Castello Branco, Costa e Silva e Garrastazu Médici teve principalmente os seguintes objetivos: estabilização financeira; “racionalização” do sistema produtivo, desde o mercado de capitais até as relações sociais de produção; e reintegração do subsistema econômico brasileiro no sistema capitalista mundial. Isto é, a forma pela qual o poder público foi levado a interferir nos destintos níveis da economia brasileira teve por finalidade controlar (ou eliminar) certos tipos de desequilíbrios e pontos de estrangulamento internos e externos. Entenda-se, entretanto, que a modernização conservadora (política) racionalização taylorista-fordista do subsistema econômico era uma condição necessária tanto para a integração no sistema mundial como para a retomada do crescimento nacional. Vale lembrar neste aspecto é praticamente impossível pensar em Carnaval e não se lembrar das transmissões da Rede Manchete, certo? Então relembre na lista a seguir algumas das proezas que a emissora dos Bloch fazia na démarche da folia e ao longo do ano também): 1 – Durante o Carnaval, toda a programação da Manchete se voltava aos festejos, com a transmissão dos desfiles, debates, programas especiais e telejornais. 

O restante das atrações da grade praticamente parava. 2 – Para esquentar a galera de foliões, só a Manchete exibia os desfiles completos das escolas de samba vencedoras dos anos anteriores, geralmente ao longo do sábado. 3 – Durante todo o ano tinha Carnaval na Manchete, com os programas Feras do Carnaval e Esquentando os Tamborins. As atrações eram exibidas, por exemplo, em programetes antes do Jornal da Manchete e das novelas das emissoras, além de algumas edições especiais com maior duração. 4 – Só a rede Manchete tinha a transmissão do Paulo Stein. O narrador, que comandava o futebol da emissora, acabou se especializando na cobertura carnavalesca e virou referência no setor de mídia, junto com o saudoso Fernando Vannucci, que fazia a locução na rede Globo. Era uma saudável competição de mercado televisiva. 5 – Só a Manchete começava a transmissão dos desfiles às 18horas no domingo e na segunda-feira e exibia todas as escolas de samba para todo o Brasil. A rede Globo, continua até os dias de hoje, cortando a primeira escola de cada dia para não prejudicar a sua grade. 6 – Só a TV Manchete fazia uma apuração paralela, levando ao público as imagens televisas de forma inédita como ocorre em 1992, para confirmar os resultados do Carnaval. 

As brigas e discussões eram similares às que vemos nos debates de futebol, já que se tratam de duas paixões nacionais. 7 – Além dos desfiles, todo mundo esperava a transmissão dos concursos de fantasia no final da manhã e na parte da tarde, como o do extraordinário Hotel Glória, no Rio de Janeiro, principalmente para ver os luxuosos trajes de Clóvis Bornay. 8 – Também eram exibidos os principais bailes do Rio de Janeiro, cujas beldades focalizadas faziam a alegria dos marmanjos. 9 – Só o canal tinha o Botequim do Samba ou Botequim da Manchete (dependendo do ano), onde, nos intervalos dos desfiles, as estrelas do Carnaval soltavam a voz e tomavam todas ao vivo. Nesse ponto, o Camarote Globeleza, da Globo, ficava bem atrás. 10 – Vez ou outra, aparecia alguém mais alegrinho no Botequim, fazendo a alegria da galera: pena que ainda não existiam as redes sociais para registrar. 11 – Só a Manchete tinha um telejornal próprio para a época, que era o Jornal do Carnaval - o nome mudava conforme o tema da cobertura. 12 – Todo mundo carnavalesco ficava esperando o comercial que anunciava a Revista Manchete especial do Carnaval para ver quais beldades da época estavam na capa. 13 – Só na rede Manchete que o eterno Abelardo Barbosa, o Chacrinha, na até então trabalhando na rede Globo de televisão, foi entrevistado ao vivo em 1987 e disse que “achou o desfile do caralho”. As celebridades falavam o que queriam, na lata (cf. Castro, 2021).

Adolpho Bloch (Rede Manchete) e
Roberto Marinho (Rede Globo de Televisão)
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Paulo Stein começou a trabalhar no Jornal dos Sports em 1968, onde ficou até 1969. Foi repórter e pauteiro do O Estado de S. Paulo de 1969 a 1978. No rádio trabalhou na Tupi de 1971 a 1976 e na Nacional de 1976 a 1981. Foi colunista do jornal O Fluminense entre 1978 e 1981. Na televisão, foi narrador, diretor de esportes e apresentador do programa Bola na Mesa na TV Bandeirantes Rio de Janeiro de 1977 a 1982. Em 1983, foi para a Rede Manchete onde foi diretor de esportes e, além da cobertura esportiva, se consagrou também nas transmissões de carnaval, que na emissora narrou de 1984 a 1998, sendo o primeiro locutor que transmitiu do Sambódromo Carioca e também no de Manaus. Narrou o carnaval de São Paulo por vários anos e o de Salvador, em 1993. Em 1996, Stein foi para a RecordTV, mas voltou em 1997 para a Manchete, onde também participou da cobertura da Copa do Mundo de 1998. Paulo Stein esteve na Manchete até 1999, quando foi colocado à disposição em novembro daquele ano pela RedeTV!, que comprou a emissora do grupo Bloch em maio. Além disso, escreveu para as revistas Manchete, Fatos & Fotos, Manchete Esportiva e Placar. Foi também professor de telejornalismo e radialismo. Deu aulas na Faculdade Pinheiro Guimarães de 1993 a 1996. Foi diretor de redação entre 2000 e 2001 do site MeDeiBem. 

Em 2001, passou a integrar a equipe da TVE Brasil onde apresentou o EsporTVisão. Entre 2008 e 2010, passou a integrar a equipe da ESPN Brasil atuando como apresentador do programa Bate-Bola 2.ª edição, na sede carioca da emissora. Em 2011, passa a integrar a equipe do SporTV e Premiere, dos quais saiu em 2019, não retornando mais ao vídeo. Em 2009, depois de 11 anos fora das transmissões do carnaval carioca, comandou a transmissão do desfile para a Liga das Escolas de Samba do Grupo de Acesso, na CNT do Rio de Janeiro, que é uma emissora de televisão brasileira sediada na cidade do Rio de Janeiro, capital do estado homônimo. Opera no canal 9 e é uma emissora própria e geradora da CNT, juntamente à CNT Curitiba e à CNT Tropical. Era concebida como uma possibilidade dependente da forma pela qual a economia do Brasil fosse absorvida no “capitalismo mundial integrado”, sob a hegemonia dos Estados Unidos da América (EUA). Essa reorientação das relações da sociedade civil (classes sociais) entre o Estado (sociedade política) e a economia (setor produtivo), conforme ela se exprimia nas diretrizes da política econômica governamental, concretizou-se em várias normas e técnicas de ação postas em prática pelo poder público. 

Antes a efetivação do projeto social aconteceu na presidência de Juscelino Kubitschek, que assumiu o governo em 1956, mas desde a campanha eleitoral anterior ele firmara sua disposição de cumprir o que determinava a lei constitucional, no célebre comício na cidade goiana de Jataí, a 5 de abril de 1955, tendo sido este o ponto de partida. Em 15 de março de 1956 o presidente criou a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). O engenheiro Israel Pinheiro foi indicado como presidente da companhia, o arquiteto Oscar Niemeyer como diretor técnico, que imediatamente começou a elaborar projetos para os primeiros edifícios, como o Catetinho, o Palácio da Alvorada e o Brasília Palace Hotel Ele também foi o organizador de um concurso público para a criação do projeto urbanístico do núcleo da cidade, o chamado Plano Piloto. Em 12 de março de 1957 iniciou-se a seleção dos projetos no Ministério da Educação, no Rio de Janeiro. No dia 16 foi apresentado como vencedor o plano de Lúcio Costa, em votação unânime. O júri do concurso foi composto por Israel Pinheiro, presidente, sem direito a voto; Oscar Niemeyer, pela Novacap; Luiz Hildebrando Horta Barbosa, pelo Clube de Engenharia; Paulo Antunes Ribeiro, pelo Instituto de Arquitetos do Brasil; William Holford, da Universidade de Londres; André Sive, professor de urbanismo em Paris e conselheiro do Ministério de Reconstrução da França, e Stamo Papadaki, da Universidade de Nova Iorque. Contudo, desde logo o concurso foi criticado. O presidente do IAB, Paulo Ribeiro, alegando ter sido colocado à parte da escolha, não assinou o relatório final, e retirou-se, dando um voto em separado. Marcos Konder, convidado por Niemeyer, se recusou a participar, considerando os prazos curtos e o Edital com uma regulamentação irregular. Alguns participantes também manifestaram seu desagrado.

O Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) é uma instituição fundada em 26 de janeiro de 1921 com o objetivo de fomentar a discussão da arquitetura e urbanismo e divulgar a profissão do arquiteto perante a sociedade brasileira. É a entidade profissional dos arquitetos mais antiga no país e a única representante no Brasil da União Internacional de Arquitetos, órgão máximo profissional e cultural dos arquitetos no mundo. O IAB atua através de órgãos estaduais e em conselhos referentes a assuntos relativos aos profissionais arquitetos e a sociedade, com ênfase nas questões que envolvem a formação do arquiteto e na divulgação da atividade deste profissional. O IAB organiza, desde a década de 1940 o Congresso Brasileiros de Arquitetos e, em conjunto com a Fundação Bienal, o IAB é responsável pela organização da Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo. Fundado no Rio de Janeiro em 26 de janeiro de 1921, vale lembrar que o IAB é a mais antiga das entidades brasileiras dedicadas à arquitetura, ao urbanismo e ao exercício da profissão. O IAB não tem fins lucrativos e seus dirigentes não são remunerados. O IAB adotou o modelo federativo de organização e conta com Departamentos autônomos em todos estados do país, que possuem, por sua vez, núcleos locais nos municípios de maior relevância. A entidade é liderada pela Direção Nacional, responsável pela articulação e coordenação dos Departamentos, pelas ações de abrangência nacional e internacional. A instância política é o Conselho Superior, composto por representantes dos Departamentos e pelos Conselheiros Vitalícios, ex-presidentes da entidade.

Em 1921, ano em que o Rio de Janeiro presencia outra expansão urbana, durante o governo de Epitácio Pessoa, presidente da república entre 1919 e 1922, o período de governo foi marcado por revoltas militares que acabariam na chamada Revolução de 1930, a qual levou Getúlio Vargas ao governo central. Foi deputado federal em duas conjunturas, ministro da Justiça, do Supremo Tribunal Federal, procurador-geral da República, senador três vezes, chefe da delegação brasileira junto à Conferência de Versalhes e juiz da então Corte Permanente de Justiça Internacional, mas também com a nova organização das estruturas sociais, nasce o Instituto Brasileiro de Architectura. A entidade foi criada no dia 26 de janeiro, após reunião de 27 arquitetos e engenheiros na Escola Nacional de Belas Artes. A agitação crescente em torno das artes e da política brasileira abriu portas para um período de efervescência, que gerou a Semana de Arte Moderna de 1922 e o Manifesto Surrealista. Diante de tantas transformações, o Instituto, com apenas um ano de trajetória, viu seus membros se dividirem. Mas a cisão não durou muito tempo: em 1925, os dois grupos se fundem no Instituto Central de Arquitetos, presidido por Fernando Nereu de Sampaio, cujo objetivo principal era a consolidação e união da classe. O período entre 1931 e 1942 é marcado por produções emblemáticas da arquitetura brasileira: o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, de Oscar Niemeyer; o Grande Hotel de Ouro Preto; a Avenida Presidente Vargas; os prédios Decó, em Copacabana, Rio de Janeiro; e o Park Hotel, de Lúcio Costa, em Friburgo (RJ), entre outras. Durante seis mandatos sucessivos, de 1936 a 1943, Nestor Egydio de Figueira mantém-se na presidência do IAB, encerrando a fase dos presidentes fundadores e abrindo campanha pela eleição de grandes nomes da arquitetura.

Desde a década de 1960 quando surgiram os Especiais do Festival de Música Popular Brasileira, pela TV Record, até o final da década de 1980, a televisão brasileira foi marcada pelo sucesso dos espetáculos transmitidos; apresentando os novos talentos, registravam índices recordes de audiência. No Festival conheceu Chico Buarque, mas acabou desistindo de gravá-lo devido “à impaciência com a timidez do compositor”. Elis Regina participou do especial intitulado: “Mulher 80”, pela Rede Globo de Televisão, num desses momentos marcantes para os telespectadores. O programa exibiu uma série de entrevistas e musicais cujo tema dizia respeito à condição da mulher brasileira e a discussão do papel feminino na sociedade de então, abordando esta temática no contexto da música nacional e da inegável preponderância das vozes femininas, entre elas: Maria Bethânia, Fafá de Belém, Zezé Motta, Marina Lima, Simone, Rita Lee, Joanna, Elis Regina, Gal Costa e as participações especiais das atrizes Regina Duarte e Narjara Turetta, que protagonizaram o seriado Malu Mulher. A antológica interpretação de “Arrastão” de Edu Lobo e Vinícius de Moraes, no Festival, escreveu um novo capítulo na história social da música brasileira, inaugurando a MPB - Música Popular Brasileira e apresentando uma Elis Regina ousada com uma interpretação inesquecível, encenada pouco depois de completar apenas 20 anos de idade e coroada com o reconhecimento do Prêmio Berimbau de Ouro. 

O Troféu Roquette Pinto veio na sequência, elegendo-a a Melhor cantora do ano. Fã incondicional de Ângela Maria, a quem prestou várias homenagens, Elis Regina impulsionava uma carreira não menos gloriosa, possibilitando o lançamento do primeiro Long Play individual, “Samba eu canto assim” (CBD, selo Philips). Pioneira, em 1966 lançou o selo Artistas, “registrando o primeiro disco independente produzido no Brasil”, intitulado “Viva o Festival da Música Popular Brasileira”, gravado durante o festival. Rede Tupi foi uma rede de televisão aberta brasileira. Sua matriz e geradora, a TV Tupi de São Paulo, inaugurada em 18 de setembro de 1950 pelo jornalista Assis Chateaubriand, foi a primeira emissora de TV a operar no país. Pertencia aos Diários Associados, que, detendo vários jornais e rádios, era um dos maiores conglomerados de mídia do Brasil. Outros canais viriam a ser inaugurados pelo grupo econômico em algumas localidades do país, formando futuramente uma das primeiras redes nacionais. Durante a década de 1950, a Tupi era o canal de maior audiência do Brasil, seguido pela RecordTV/TV Rio (Rede das Emissoras Unidas) e pela TV Paulista. 

A partir da década de 1960, o canal perderia a liderança de audiência para a RecordTV e posteriormente o segundo lugar para a TV Excelsior, ocupando então o terceiro lugar. Em 1967, foi superado em audiência pela TV Globo, assumindo o quarto lugar de audiência no restante da década. Durante a década de 1970, devido a extinção da TV Excelsior, passa novamente a ocupar o terceiro lugar, sendo superado pela Rede Globo, em primeiro lugar desde 1969, e pela RecordTV, em segundo lugar. Em 1972, havia 64 estações geradoras de televisão no país. A maioria se limitava a retransmitir a programação dos três grandes grupos geradores: Globo, Record e Tupi. Em 18 de julho de 1980, devido a problemas administrativos e financeiros, a Tupi saiu do ar com parte de suas concessões cassadas pelo Governo Federal. Os ativos da emissora foram adquiridos pelo Grupo Silvio Santos (proprietários do SBT), pelo Grupo Bloch (Rede Manchete, que seria extinta em 1999 e teria as suas concessões adquiridas pela RedeTV!) e pelo Grupo Abril (que operaria a MTV Brasil de 1990 até 2013, substituindo-a pela Ideal TV e então vendendo a sua concessão em 2015 a Spring Comunicação, que fundaria em 2020 a Loading, no entanto a venda de concessão foi anulada em 2020.

Com o fim da Rede Tupi em 1980, o governo federal decidiu licitar duas novas redes de televisão. Todos sabemos que Silvio Santos ganhou uma das redes e imediatamente as colocou no ar. Mas pouca gente sabe que esse era o menor dos pacotes, formado por canais do Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Belém (PA) e Porto Alegre (RS). O maior conglomerado, formado por emissoras do Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG), Recife (PE) e Fortaleza (CE) ficou com o Grupo Bloch. Ao contrário do Grupo Silvio Santos, que já possuía o Centro de Televisão da Vila Guilherme e uma emissora funcionando plenamente (TVS Rio), os Bloch tiveram que construir toda a infraestrutura do zero. Não havia estúdios, equipamentos, transmissores, antenas, artistas, diretores, funcionários...precisaram de 2 anos e US$ 50 milhões só para colocarem a rede no ar. A construção da sede e as suas configurações certamente merecerá um capítulo a parte, nas próximas postagens. Por hora, é bom frisar que o novo prédio foi construído do lado da Editora Manchete, com o mesmo padrão, dando um resultado final de ampliação do prédio antigo. O novo prédio era moderno, todos os equipamentos comprados colocavam a TV Manchete como a emissora com maior capacidade tecnológica da América do Sul. Em 1983, A TV Manchete era única emissora do hemisfério sul que possuía um departamento de computação gráfica (Manchete Computer Graphic).

Ainda teve grande êxito com o espetáculo “Transversal do Tempo”, em 1978, de um clima extremamente político e tenso; com o “Essa Mulher” em 1979, sob a direção de Oswaldo Mendes, que estreou no Anhembi em São Paulo e excursionou pelo Brasil no lançamento do disco homônimo; com o samba “Saudades do Brasil”, em 1980, sucesso de crítica e público pela originalidade, tanto nas canções quanto nos números com dançarinos amadores, direção de Ademar Guerra e coreografia de Márika Gidali (“Ballet Stagium”); e finalmente o último espetáculo, “Trem Azul”, em 1981, direção de Fernando Faro. Data desta época a frase: “Neste país só duas cantam: Gal e eu”. Elis Regina sai do Inferno para o Paraíso. Ao Inferno, ela chega ao ser metaforicamente “enterrado” no “Cemitério dos Mortos-Vivos do Caboco Mamadô” – para onde o cartunista Henfil, no semanário O Pasquim, mandava pessoas que, na opinião dele, colaboravam com a ditadura militar golpista no início da década de 1970.  Ao Paraíso, Elis ascende ao liderar um grupo de artistas: Fagner, Belchior, Gonzaguinha, João Bosco, Jards Macalé e Carlinhos Vergueiro, e outros, que fazem vários shows para levantar dinheiro para o Fundo da Greve do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, no ABC paulista, em 1979.

Essa vivência política é um lado pouco conhecido na vida pessoal e artística de Elis Regina que, aos 18 anos, foi sozinha para o Rio de Janeiro, aonde chegou a morar num quarto-e-sala na Rua Barata Ribeiro, 200, em Copacabana, um prédio tipo “balança-mas-não cai”, celebrizado com a peça teatral: “Um Edifício Chamado 200”, de Paulo Pontes. Dirigido por Carlos Imperial, “Um Edifício Chamado 200” é também um filme brasileiro de 1973, baseado em peça homônima de Paulo Pontes e José Renato. Alfredo Gamela é um carioca de 20 anos, que vive num pequeno apartamento num edifício “treme-treme” de Copacabana com sua amante Karla e, embora não tenha dinheiro, gosta de aparentar que é um homem rico. As mulheres descobrem que Gamela vive num mundo de mentira, mas ele supera as dificuldades momentâneas. E o arguto sociólogo Herbert de Souza, o famoso Betinho, indiretamente, teve a ver com um dos motivos sociais para a passagem de Elis do “Inferno para o Paraíso”: a gravação, em março de 1979, de uma das músicas politicamente mais engajadas da MPB, “O Bêbado e a Equilibrista”. De João Bosco e Aldir Blanc, a música foi uma espécie de hino de um dos mais importantes movimentos sociais e políticos da história do Brasil: a luta pela Anistia (que não foi) ampla, geral e irrestrita. Contudo, o plano urbanístico de Brasília, diferentemente de outros criados para cidades já existentes, foi um todo integralmente planejado desde o início. O Relatório do Plano Piloto de Brasília explicitava as intenções que “Brasília deve ser concebida não como um simples organismo capaz de preencher satisfatoriamente, sem esforço, as funções vitais próprias de uma cidade moderna qualquer, não apenas como urbis, mas como civitas, possuidora dos atributos inerentes a uma Capital”.

A arquitetura da nova capital foi confiada a Oscar Niemeyer. Um dos mais originais e brilhantes discípulos da estética modernista de Le Corbusier, Niemeyer buscou a criação de formas claras, leves, simples, livres, nobres e belas, sem considerar apenas seu aspecto típico funcional.  Durante o governo estadual do brigadeiro Faria Lima, de 1975 a 1979, Bloch foi nomeado presidente da Fundação dos Teatros do Estado do Rio de Janeiro (Funterj). No desempenho dessa função, promoveu a restauração dos teatros Municipal e João Caetano e construiu, em tempo recorde, o Teatro Villa-Lobos. Em 1978, recebeu o título de doutor honoris causa, em cerimônia realizada pelo Instituto Weizmann de Ciência, em Israel, do qual era colaborador. No mesmo ano, em homenagem aos seus 70 anos, foi publicado, por iniciativa de amigos, um livro com artigos que escrevera para a revista Manchete na década de 1970, intitulado O pilão. Um segundo volume desse livro seria editado dez anos depois. Em 12 de setembro de 1982, data em que o ex-presidente Juscelino completaria 79 anos, inaugurou em Brasília o Memorial JK, projetado por Oscar Niemeyer e construído, sob seu comando, a partir de doações. Em junho de 1983, inaugurou a Rede Manchete de Televisão, com estações próprias nas importantes cidades de São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Recife e Fortaleza, além outras 40 afiliadas pelo território nacional. Menos de dez anos depois a rede estaria mergulhada em graves dificuldades econômico-financeiras, a tal ponto que, em junho de 1992, devido ao acúmulo de dívidas, 49% de suas ações foram vendidas. O comprador foi Hamilton Lucas de Oliveira, do grupo Indústria Brasileira de Formulários (IBF), que seria acusado de comprar a empresa “num acerto com o esquema de corrupção que envolveu o ex-tesoureiro do presidente Fernando Collor de Melo, Paulo César Farias”.  

 A Indústria Brasileira de Formulários representou a indústria gráfica que produzia formulários, folhas matriciais e produtos gráficos em geral, era reconhecida principalmente por imprimir ingressos, passagens de avião, bilhetes de loteria e outros formulários. Em 1990, a empresa comprou o Diário Comércio e Indústria, publicadora responsável pelos jornais DCI e Shopping News e pela revista semanal Visão. O DCI pertenceu a Hamilton Lucas de Oliveira até o ano de 2002, quando foi vendido para as Organizações Sol Panamby, de Orestes Quércia. Em 1991, Hamilton faz seu primeiro investimento em uma emissora de televisão ao comprar 40% das ações da TV Jovem Pan, tal fato social foi divulgado pela imprensa, tendo o Jornal do Brasil indagado na matéria intitulada: “Por que, afinal, um grupo sem nenhuma experiência com empresas jornalísticas estaria entrando nesse ramo de negócio num momento econômico difícil?”. Os planos de Hamilton eram de declarar a falência da emissora para que seu valor de mercado despencasse e assim, pudesse comprar as ações dos demais sócios e ter poder maior ou total sobre a programação do canal. Em 1993, com as investigações do escândalo PC Farias e a descoberta de um cheque de 300 mil dólares para a empresa de Hamilton Lucas, resultando na abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar possíveis fraudes na emissora. A CPI concluiu tecnicamente que houve prática de sonegação fiscal, dívidas previdenciárias e enriquecimento ilícito da parte de Hamilton Lucas e Tuta.  

A IBF também fechou um acordo com a Bloch Editores em 1992 para administrar a Rede Manchete de Televisão. Nesta conjuntura econômica, o grupo Bloch sofria uma grave crise financeira. Durante sua administração, a IBF transferiu a sede da emissora para São Paulo, além de ter problemas por não cumprir com obrigações trabalhistas, atrasar salários dos funcionários e descumprir cláusulas contratuais. Em abril de 1993 por determinação da justiça, a Bloch Editores retomou o comando da emissora. Nos anos seguintes, o empresário travou uma disputa judicial contra os donos da Manchete para tentar retomar o controle do canal, tendo causado problemas para a Bloch Editores quando esta buscava um comprador para a emissora em 1998. Em dezembro deste mesmo ano, a Justiça do Rio de Janeiro determinou que a Manchete pertencia aos Bloch e condenou Hamilton Lucas ao pagamento de 6,5 milhões de reais como indenização por danos morais a eles. Em abril de 1999, Hamilton consegue uma nova liminar na justiça para impedir a venda da emissora para o grupo TeleTV. Esta liminar foi derrubada por um juiz em 6 de maio do mesmo ano, permitindo que a emissora fosse finalmente vendida para Amilcare Dallevo Júnior e Marcelo de Carvalho. Em julho do mesmo ano, a Bloch Editores pede concordata preventiva e declara em seu pedido, além de motivos econômicos, que “o descumprimento de obrigações contratuais pelo grupo Hamilton Lucas de Oliveira” teria colaborado evidentemente para a ruína financeira da poderosa empresa. Em 1999, Hamilton Lucas de Oliveira foi condenado a quatro anos e dois meses de prisão, além do pagamento de 240 salários mínimos por sonegação fiscal e pelo não pagamento de contribuições previdenciárias dos funcionários da IBF entre os meses de março e outubro de 1992. Em abril de 2002, a 8ª Turma do Tribunal Regional Federal reduziu sua pena para três anos de prisão e o pagamento de 180 salários mínimos. Após diversos recursos e processos ocorridos nos anos seguintes, em fevereiro de 2016, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki decidiu manter uma pena de quatro anos e seis meses em regime semiaberto contra o empresário pela apropriação indébita de recursos previdenciários.

Teori Zavascki foi o Ministro indicado ao Supremo Tribunal Federal pela presidente Dilma Rousseff (PT), Relator da Operação Lava-Jato na Corte, que no telefonema de Jucá e Machado onde se falava em “estancar a sangria” da operação foi tratado como um homem que “não tinha ligação com ninguém, um cara fechado, um burocrata”; que sofreu ameaças junto com sua família, que estava prestes a retirar o sigilo de mil delações em duas semanas, morreu hoje na queda de um avião. Coincidentemente o fato ocorreu na região onde também caiu o helicóptero do deputado Ulysses Guimarães. E agora, a relatoria da operação Lava-Jato no Supremo irá para o substituto de Teori que será indicado pelo presidente golpista Michel Miguel Elias Temer Lulia (PMDB), citado 43 vezes na Operação Lava-Jato. O afastamento definitivo de Dilma Rousseff da Presidência da República é sem dúvida o capítulo mais vergonhoso e criminoso da história política brasileira. Dilma Rousseff foi acusada de praticar uma manobra contábil nas contas públicas, as chamadas “pedaladas fiscais”. Contra ela não foram levantadas e demonstradas quaisquer suspeitas de enriquecimento ilícito aproveitando-se do cargo em benefício próprio. Politicamente, se ela cometeu “crime de responsabilidade”, também o fizeram e deveriam perder o cargo 16 políticos dos 27 atuais governadores brasileiros, que utilizam o mesmo artifício (truque) político-administrativo de contabilidade pública para “fechar” a utilização de vebas de compras e contas em seus Estados.

Operação Lava Jato foi uma investigação criminal em andamento pela Polícia Federal do Brasil, que deflagrou sua fase ostensiva em 17 de março de 2014, cumprindo mais de cem (100) mandados de busca e apreensão, de prisão temporária, de prisão preventiva e de “condução coercitiva”, visando apurar um esquema de “lavagem de dinheiro” que movimentou de 10 a 20 bilhões de reais em propina. É a 16º moeda mais negociada no mundo. É a segunda mais negociada na América Latina e quarta mais negociada nas Américas. Estima-se que hoje existam mais de oito milhões de moedas perdidas do real. Ao final de dezembro de 2016, a Lava Jato obteve um acordo de leniência com a empreiteira Odebrecht que proporcionou o maior ressarcimento da história mundial. Os valores ultrapassam 6 bilhões de reais, a serem pagos pelo grupo econômico Odebrecht e pela Braskem. A Odebrecht e Braskem assinaram acordos de leniência com a Suíça e com os Estados Unidos, que também aparentemente investigam o escândalo de corrupção, para suspender ações judiciais contra as empresas nestes países. Os acordos foram assinados no âmbito da “Operação Lava Jato”.

Esta dimensão da esfera política nada tem a ver com corrupção, supostamente o principal motivo. É tudo oportunismo político sujo, golpista. O plano do conspirador e vice-presidente Michel Temer foi revelado através de um vazamento de áudio no noticiário noturno da rede Globo. O ângulo era criar um falso clima “positivo” no sentido do “impeachment”, com M. Temer já atuando como presidente-golpista e posicionando-se como o portador pródigo de “boas notícias”. Naquela quarta-feira do dia 11 de julho de 2016, parte significativa do Brasil “parou” para acompanhar a votação no Senado sobre a admissão do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Ao todo, 80 parlamentares tiveram direito a voto, destes, 55 se declararam favoráveis à abertura das investigações, e consequentemente ao afastamento compulsório de Dilma Rousseff. Um levantamento feito pelo Jornal do Brasil demonstra estatisticamente que, dos 55 senadores que se declararam favoráveis ao processo, 34 respondem ou já responderam algum tipo de problemas judiciais: Ataídes Oliveira (PSDB-TO), Cassio Cunha Lima (PSDB-PB), Ciro Nogueira (PP-PI), Dario Berger (PMDB-SC), Eduardo Amorim (PSC-CE), Ivo Cassol (PP-RO), Marta Suplicy (PMDB-SP), Paulo Bauer (PSDB-SC), Romero Jucá (PMDB-RR), Valdir Raupp (PMDB-RO), Zezé Perrella (PDT-MG). As teorias sociais que envolvem as especulações em torno da morte do ministro Teori Zavascki ganham força na história com fatos recentes vividos por ele e sua família. Em março de 2016, antes da farsa que culminou com o “impeachment” da presidente Dilma Rousseff (PT), Zavascki foi hostilizado por manifestantes “Anti-PT” depois de contestar uma decisão política do juiz federal Sergio Moro.

Naquela conjuntura política o ministro decidiu que a investigação política de escutas telefônicas que envolviam Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT) deveria ser enviada ao Supremo. Na noite de 22 de março, um grupo foi à casa de Zavascki em Porto Alegre (RS) e pendurou na fachada do prédio uma faixa de “Teori traidor”. Em maio, Francisco Prehn Zavascki, filho do ministro, “escreveu no Facebook que sua família estava sofrendo ameaças”. No mês seguinte ao post do filho na rede social, o ministro confirmou a ameaça durante um evento no Rio de Janeiro, mas minimizou seu conteúdo afirmando: - “Não tenho recebido nada sério”. Zavascki ocupava a função de ministro do STF desde 29 de novembro de 2012 e, desde 19 de março de 2016, também atuava como ministro substituto do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele era o Relator da Operação Lava Jato no STF e seria o responsável por decidir se a corte vai homologar ou não o acordo de delação premiada de 77 executivos da Odebrecht, esperada para fevereiro. A ex-presidente Dilma Rousseff afirmou em nota que “perdemos um grande brasileiro”. Ela citou que teve “o privilégio de indicá-lo para ministro do STF, com ampla aprovação do Senado”, e disse que Zavascki: - “desempenhou esta função com destemor como um homem sério e íntegro”.

Etnograficamente o acidente ocorreu próximo à Ilha Rasa, a dois quilômetros da cabeceira da pista do aeroporto, no litoral da bela Paraty. O avião modelo Beechcraft C90GT decolou do aeroporto chamado Campo de Marte, em São Paulo, e caiu no mar provavelmente por volta das 13h30, momento em que pouco chovia em Paraty. O aeroporto da cidade não está equipado para pousos por meio de instrumentos, o que pode dificultar aterrissagens de aeronaves em momentos de baixa visibilidade. Também não há torre de controle ou estação meteorológica no local. O avião, cuja capacidade é de oito passageiros, era de propriedade do hotel Emiliano, um luxuoso empreendimento com sedes em São Paulo e no Rio de Janeiro. De acordo com informações empíricas da Folha de S. Paulo, as horas após a queda da aeronave foram movimentadas no hangar do Campo de Marte onde o bimotor era guardado. Por volta das 19horas, diz o jornal, “um funcionário chegou ao local dizendo ser o responsável pelas câmeras de segurança e recolheu computadores do hangar”. Minutos depois, membros da Aeronáutica e da Polícia Federal também estiveram no local em busca das imagens do circuito interno. O perfil reservado do ministro, avesso a holofotes, foi tema de conversa entre o senador Romero Jucá (PMDB-RR) e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado. Nessa conversa, frequentemente lembrada em discussões “conspiratórias” nas redes sociais, gravada em março e divulgada em maio de 2016, Jucá sugere que apenas uma “mudança” no governo federal – que, segundo ele, seria resultado de “pacto” nacional, “com o Supremo, com tudo” - poderia “estancar essa sangria” provocada pela Operação Lava Jato. Em outro momento da conversa, Sérgio Machado afirma que o ideal seria buscar um elo com Zavascki. - “Um caminho é buscar alguém que tem ligação com o Teori, mas parece que não tem ninguém”, ao que Jucá responde: - “Não tem. É um cara fechado, foi ela (Dilma) que botou. Um cara... burocrata. Da... ex-ministro do STJ”. Com a morte inusitada de Zavascki, a relatoria da Lava-Jato pode ser designada ao ministro que o substituirá na Corte, ser escolhido por Michel Temer, citado nas investigações. A presidenta do STF ministra Cármen Lúcia pode abrir uma exceção.

Enfim, Relator da operação “Lava Jato” no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Teori Zavascki estava responsável pelos processos que envolvem o esquema de corrupção da Petrobras desde março de 2014, quando começaram a chegar à mais alta corte do país os primeiros recursos contra decisões do juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos casos na primeira instância. Ao longo dos dois anos em que relatou a Lava Jato, Teori tomou decisões polêmicas e inéditas, como a ordem de prisão do então senador Delcídio do Amaral por tentativa de obstrução da Justiça. O magistrado também surpreendeu o país ao determinar o afastamento de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) do comando da Câmara dos Deputados e do mandato parlamentar. Em maio do ano passado, o ministro afastou Eduardo Cunha do mandato e da presidência da Câmara. O afastamento havia sido solicitado pela PGR cinco meses antes “sob a alegação de que o peemedebista estava atrapalhando as investigações da Lava Jato”. Além de julgar os recursos contra decisões de Moro, era competência do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), por exemplo, autorizar as operações da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público que envolvia pessoas com foro privilegiado, como políticos e autoridades do Judiciário. Além disso, cabia ao relator analisar pedidos de habeas corpus dos presos da operação Lava Jato. Teori ainda era responsável por homologar os acordos de delação premiada que envolvia pessoas com foro. No momento, o caso mais importante que ainda aguardava sua homologação era a “delação premiada” de 77 executivos do Grupo Odebrecht.  O ato para reconhecer oficialmente a validade jurídica dos acordos estava previsto para o início de fevereiro, quando Teori retornaria do recesso do Judiciário. Porém, segundo juízes auxiliares do magistrado, a intenção era antecipar para o final de janeiro a homologação dos acordos de dirigentes da empreiteira. Com o aval de Teori Zavascki, a Procuradoria Geral da República (PGR) poderia iniciar novas investigações com base contida nos depoimentos apresentados.

Rede Manchete, reconhecida como TV Manchete representou uma rede de televisão comercial brasileira fundada na cidade do Rio de Janeiro pelo jornalista e empresário ucraniano naturalizado brasileiro Adolpho Bloch. Fazia parte do Grupo Bloch, conglomerado de comunicação que publicava a revista Manchete através da Bloch Editores, sendo que o nome dado para a emissora de televisão refere-se a esta revista. Com equipamento sofisticado e inicialmente buscando um público de classe alta, a Manchete tornou-se conhecida pela sua programação baseada no jornalismo ágil, na cobertura do esporte nacional e internacional, apresentando grandes eventos esportivos como a Copa do Mundo de futebol e os jogos olímpicos, além de coberturas especiais como a do carnaval, que virou a sua marca registrada. Na teledramaturgia, a Manchete fez história com a primeira novela fora da Rede Globo a liderar a audiência do horário nobre desde 1970, feito concretizado com a exibição da novela Pantanal, de Benedito Ruy Barbosa, em 1990. Foi produzida pela Rede Manchete e exibida entre 27 de março e 10 de dezembro de 1990, em 216 capítulos. Sucedeu Kananga do Japão e antecedeu A História de Ana Raio e Zé Trovão na faixa das 21h30. Escrita por Benedito Ruy Barbosa, teve direção de Carlos Magalhães, Roberto Naar e Marcelo de Barreto e direção geral de Jayme Monjardim. Contou com a participação de Cristiana Oliveira, Cláudio Marzo, Marcos Winter, Ittala Nandi, José de Abreu, Elaine Cristina, Sérgio Reis e Ewerton de Castro nos papéis principais. Em 2016, a Veja elegeu Pantanal como a quarta melhor novela da televisão, atrás de Roque Santeiro (1985-86), na terceira posição, e de Vale Tudo (1988-89) e Avenida Brasil (2012), empatadas em 1º lugar.

Na ocasião, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) manifestou interesse na compra da rede. Alegando que Hamilton Lucas de Oliveira não cumprira a cláusula do contrato que previa o pagamento das dívidas da empresa, Bloch requereu na justiça a anulação da venda à IBF. Em abril, obteve liminar que lhe permitiu retomar o controle da emissora, dando início a uma disputa judicial pela posse integral da rede. No mês seguinte, o Banco do Brasil começou “a investigar suas contas e as acusações de que teria emitido grande número de cheques sem fundo e duplicatas frias”. Embora conseguisse normalizar a folha de pagamentos da TV Manchete, Bloch continuou a enfrentar sérias dificuldades para equilibrar receita e despesa, o que gerava constantes problemas na programação da rede. Em maio de 1995, a emissora teve equipamentos de estúdio arrestados pelo Banco do Brasil como garantia do pagamento de dívidas. Em 19 de novembro de 1995, Adolfo Bloch faleceu de embolia pulmonar e disfunção da válvula mitral, aos 87 anos de idade, ao submeter-se a uma cirurgia cardíaca no Hospital da Beneficência Portuguesa, em São Paulo. Foi casado com Luci Mendes e com a apresentadora Ana Bentes. Não teve filhos. Seu sucessor nos negócios foi o sobrinho Pedro Jaques Kapeller, que ocupava a vice-presidência das empresas Bloch. Entre os muitos títulos honoríficos que recebeu, figuram a Legião de Honra da França, a Ordem do Mérito Militar, a Ordem do Mérito do Congresso Nacional, a Ordem Nacional do Mérito Industrial e a Ordem do Mérito Judaico. Obteve os prêmios de Benemérito da Comunicação Social (1971), Prêmio Mascate (1977), Empresário Nacional (1983), Personalidade Brasil-Israel (1982) e Publicitário do Ano (1987). Além de programação comunicativa própria, a rede televisiva é lembrada pelo público por ter transmitido produções como tokusatsu, uma das formas mais populares de entretenimento japonês. No Brasil, o tokusatsu começou a ser exibido na década de 1950 nos cinemas e na década de 1960 na televisão, porém atingiu a sua popularidade no país durante as décadas de 1980 e 1990 (e animes), abrindo as portas para estes gêneros na televisão brasileira.

Apesar de ser um termo japonês, também se refere as séries que seguem a mesma linha de produção e conceito ao redor do mundo. Sendo assim a origem do tokusatsu é japonesa, mas existem tokusatsu chinês, tokusatsu coreano, tokusatsu francês, tokusatsu brasileiro, tokusatsu norte-americano etc. O entretenimento tokusatsu lida frequentemente com ficção científica, fantasia, terror ou super-heróis, mas alguns filmes e programas de televisão em outros gêneros podem também ser considerados como tokusatsu. Os tipos mais populares de tokusatsu incluem filmes de monstros kaiju, como a série de filmes do Godzilla e Gamera; séries de TV sobre super-heróis, como as franquias Kamen Rider e Metal Hero; e dramas mecha como Giant Robo. Alguns programas de televisão tokusatsu combinam vários desses subgêneros, por exemplo, as franquias Ultraman e Super Sentai. Em 1985, com dois anos de existência, os prejuízos de retorno de investimento e comercialização da Rede Manchete eram evidentes. Em 1988, Adolpho Bloch quis vender a emissora pelo valor de 200 milhões de dólares. Na década de 1990, o deputado Paulo Octávio (PRN), em sociedade com o empresário João Carlos Di Genio, fez uma proposta de compra pelo mesmo valor, mas não se concretizou. Em junho de 1992, a IBF assumiu 49% das ações, mas em abril de 1993 teve a gestão cassada. Adolpho Bloch recebeu de volta o encargo da rede nacional, com os salários dos funcionários atrasados seis meses e greve recém organizada e mobilizada.

Pedindo um tempo aos empregados, ele conseguiu, em quatro meses, normalizar o pagamento da folha. Porém, o esforço de caixa continuou repercutindo na programação. Sem receber seus salários desde dezembro de 1992, os funcionários entraram em greve no início de 1993 e, em março, chegaram a ocupar a sede da emissora, paralisando por algumas horas a programação. No dia 10 de maio de 1999, a Rede Manchete colocava um ponto final na sua conturbada trajetória. Foi neste dia que a emissora de Adolpho Bloch encerrou as suas transmissões, sendo sucedida pela TV!, que se tornaria a RedeTV! em novembro do mesmo ano de 1999.  Sua primeira novela foi Antonio Maria, de 1985, escrita e dirigida por Geraldo Vietri. No entanto, seu primeiro sucesso no segmento foi sua sucessora, Dona Beija, protagonizada por Maitê Proença. Escrita por Wilson Aguiar Filho, o folhetim se destacou pelo bom texto e pelas cenas programadas de nudez. São lendárias as cenas da personagem-título cavalgando nua. A sensualidade seria uma constante na produção de teledramaturgia da Rede Manchete, que exibia estrategicamente suas novelas num horário mais tardio. Outras produções em teledramaturgia da Manchete também se destacaram no decorrer dos anos 1980, como Corpo Santo, Helena, Kananga do Japão e Carmem, esta última assinada por Gloria Perez e protagonizada por Lucélia Santos. O maior sucesso da história da emissora viria em 1990: Pantanal, de Benedito Ruy Barbosa. A saga da família Leôncio e a história de Juma (Cristiana Oliveira), a “moça que virava onça”, fez a audiência da Manchete ir às alturas, chegando aos 30 pontos no Ibope, anteriormente reconhecido como Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística, uma empresa de pesquisas de mercado, opinião e política.

No entanto, outras novelas da Manchete chamaram a atenção, como A História de Ana Raio e Zé Trovão e Xica da Silva, outro sucesso. Brida, sua última produção, também entrou para a história, mas não por um bom motivo: com problemas financeiros, a emissora interrompeu a produção da obra, exibindo um último capítulo no qual um locutor narrava os desfechos dos personagens. A Manchete também fez história na programação infantil. Foi a emissora que revelou Xuxa Meneghel e Angélica, que apresentaram, em fases distintas, o Clube da Criança. Além disso, o canal exibiu infantis como Lupu Limpim Clapá Topô, Dudalegria, A Turma do Arrepio e Clube do Seu Boneco, entre muitos outros. Mas a maior marca da emissora nesta seara foi mesmo a exibição de desenhos e séries japoneses, como Jaspion, Changeman, Solbrain, Winspector, Patrini, Os Cavaleiros do Zodíaco, Shurato, Sailor Moon e Yu Yu Hakusho, entre tantos outros. O canal também tinha um jornalismo expressivo, visto em programas como Jornal da Manchete, Manchete Esportiva, Programa de Domingo, Repórter Manchete, entre outros. Pela emissora, passaram nomes como César Filho, Clodovil, Márcia Peltier, Claudete Troiano, Lucinha Lins, Ferreira Neto, Roberto D’Ávila, Otávio Mesquita, Sérgio Mallandro, Luiz Bacci, Tiririca, Virgínia Novick, inclusive os irmãos Sandy e Junior, que apresentavam o Sandy & Jr Show nas noites agradáveis de sábado.

Bibliografia geral consultada.

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quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Paulo Freire – Educação & Saberes Diferentes, Locução na Vida Social.

                                                                                                    Ubiracy de Souza Braga*
                                                                                              À Maria Leurimar de Alencar
                      “Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes”. Paulo Freire

                        
Paulo Reglus Neves Freire ingressou para a Universidade do Recife em 1943, para cursar a Faculdade de Direito, mas também se dedicou aos estudos de Filosofia da Linguagem. Apesar disso, nunca exerceu a profissão e preferiu trabalhar como professor numa escola de 2º grau lecionando Língua Portuguesa. Em 1946, Paulo Freire foi indicado ao cargo de diretor do Departamento de Educação e Cultura do Serviço Social no Estado de Pernambuco, onde iniciou o trabalho com analfabetos pobres, fato social e político que levou para o resto de sua vida. Em 1961 tornou-se diretor do Departamento de Extensões Culturais da Universidade do Recife e, no mesmo ano, realizou junto com sua equipe as primeiras experiências da chamada “alfabetização popular” que levariam à constituição do Método Paulo Freire. Seu grupo de trabalho foi responsável pela alfabetização de 300 cortadores de cana num tempo recorde de apenas 45 dias, pois  resgatava neles a coragem, a vontade e a capacidade intelectual transformadora para participarem do mundo de forma crítica e consciente. Esse brasileiro foi Paulo Freire, educador pernambucano, filósofo, escritor, político e militante de causas sociais. - “Ele elaborou uma teoria do conhecimento e procurou o sentido da educação, centrando suas análises na relação social entre educação e vida, reagindo às pedagogias tecnicistas. A educação, para ser transformadora, precisa estar centrada na vida.
Em resposta aos eficazes resultados, o governo brasileiro que, sob a popularidade revolucionária do presidente João Goulart, empenhava-se na realização das reformas de base aprovou a multiplicação dessas primeiras experiências através do Plano Nacional de Alfabetização, que previa a formação de educadores em massa e a rápida implantação de 20 mil núcleos, reconhecidos como os “círculos de cultura” pelo país. Em 1964, meses depois de iniciada a implantação do Plano Nacional de Alfabetização, ocorre a reação elitista através do golpe político-militar de 1° de abril de 1964 que extinguiu essa iniciativa democrático-popular. O educador Paulo Freire foi “encarcerado como traidor da nação por 70 dias”. Em seguida passou por um breve exílio na Bolívia e trabalhou no Chile por cinco anos para o “Movimento de Reforma Agrária da Democracia Cristã” e para a “Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação”. Em 1967, durante o exílio chileno, publicou no Brasil seu primeiro livro: “Educação como Prática da Liberdade”, baseado fundamentalmente na tese “Educação e Atualidade Brasileira”, com a qual concorrera, em 1959, à cadeira de História e Filosofia da Educação na Escola de Belas Artes da Universidade do Recife, capital de Pernambuco.  




         O seu livro foi bem recebido, e Paulo Freire foi convidado para ser professor Visitante da Universidade de Harvard em 1969. No ano anterior, ele havia concluído a redação de seu mais famoso livro: “Pedagogia do Oprimido”, que foi publicado em várias línguas como o espanhol, o inglês (em 1970), inclusive em hebraico (em 1981). Em razão do preconceito político entre o pensamento obscuro da ditadura militar e o socialismo cristão de Paulo Freire, sua publicação foi postergada no Brasil até 1974, quando o general Geisel assumiu a presidência do país e iniciou o lento processo de abertura política. Depois de um ano em Cambridge, Freire mudou-se para Genebra, na Suíça, trabalhando como consultor educacional do Conselho Mundial de Igrejas. Durante esse tempo, atuou como consultor em reforma educacional em diversas colônias portuguesas na África, particularmente na Guiné-Bissau e em Moçambique. A Guerra Ultramar tornou-se reconhecida como o conflito pró-Independência entre as colônias portuguesas Angola, Guiné-Bissau e Moçambique e a metrópole Portugal. Após a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1945, as colônias passaram a reivindicar a independência política e econômica dos seus países. A partir da década de 1960, ocorreram movimentos sociais a favor da Independência das colônias. Criaram-se em Angola três grupos armados que lutariam para libertar o país da exploração colonial.
            Cada grupo mantinha diferentes posições políticas entre eles, porém todos tinham em comum a luta pela independência de Angola e as divergências quanto a qual dos três grupos iria assumir o poder. O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) constituiu um desses grupos. A proposta política do grupo era de orientação marxista e a luta armada era o único meio para abolir os laços coloniais de Angola. O segundo grupo era a União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita): liderada por Jonas Savimbi, o grupo tinha uma proposta política anticomunista. Em 1972, surgiu o terceiro grupo chamado de Frente Nacional para a Libertação de Angola (FNLA): com Holden Roberto como principal líder, este grupo tinha o apoio financeiro dos Estados Unidos da América (EUA). No ano de 1965, Guiné-Bissau também iniciou o processo de luta contra a política colonial portuguesa. Surgiu então o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), liderado por Amílcar Cabral. Em Moçambique, no ano de 1962, a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) iniciou a luta pela independência do país.
           Os movimentos de Independência das colônias portuguesas africanas ganharam força a partir do fim da ditadura Salazarista em Portugal (1932-1968), que mantinha uma forte política colonial. Com a Revolução dos Cravos (derrubada da ditadura Salazarista), a política colonial portuguesa tomou outros rumos e Guiné-Bissau conquistou sua independência em 1974. Moçambique se tornou Independente em 1975. Com a Anistia em 1979, Paulo Freire pôde retornar ao Brasil, mas só o fez em 1980. Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT) na cidade de São Paulo, e atuou como supervisor para o programa do partido para alfabetização de adultos de 1980 até 1986. Quando o Partido dos Trabalhadores (PT) venceu as eleições municipais paulistanas de 1988, iniciando-se a gestão de Luiza Erundina (1989-1993), Freire foi nomeado secretário de Educação da cidade de São Paulo. Exerceu esse cargo de 1989 a 1991. Dentre as marcas positivas de sua passagem e administração pela secretaria municipal de Educação está a criação do Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA), um modelo democrático de programa público de apoio comunitário de Educação de Jovens e Adultos adotado por prefeituras e instâncias de governos regionais no Brasil.
 

  Paulo Freire foi um dos mais completos e célebres educadores brasileiros de todos os tempos, mormente o antropólogo Darcy Ribeiro, ambos com atuação e reconhecimento internacionais pelo conjunto de sua obra. Conhecido principalmente pelo método de reflexão para a alfabetização de adultos, ele desenvolveu e dissimulou um pensamento pedagógico assumidamente político (cf. Jorge, 1979; Monteiro, 1986). Para Freire, o objetivo primacial da educação é de fato poder conscientizar o aluno. Daí seu significado em relação às grandes parcelas de homens e mulheres desfavorecidas da sociedade. Poder levá-las a compreender, sentir e revelar sua situação política de oprimidas e agir em favor da sua libertação. O principal livro de Freire intitula-se justamente “Pedagogia do Oprimido”. Ipso facto para o leitor atento suas categorias e conceitos sustentam o conjunto de sua obra. Na “Pedagogia do Oprimido” encontramos hic et nunc vários aspectos que remetem diretamente à Phänomenologie des Geistes (1807),  de Hegel, na homologia representada pela relação dialética entre senhor e escravo (cf. Kowarzik, 1983) exposta no âmbito do desenvolvimento fenomenológico.
Contudo, é comum associar três aspectos no âmbito da formação de Paulo Freire. Foi influenciado por três correntes de pensamento contemporâneo: o personalismo, o marxismo e o catolicismo. Inicialmente ele adota um pensamento personalista até uma proposição que dialoga com o marxismo. Sob a influência personalista, a liberdade para Freire é definida como “o ligar-se ao Criador”. Todavia, o exílio aproxima Paulo Freire do marxismo ocidental, e sua ideia tradicional de ligação-individual com o Criador é substituída pela ideia de que a ligação indivíduo-Criador tem que ser necessariamente mediatizada pelo coletivo dos homens. No livro: “Pedagogia do Oprimido”, propõe um método de alfabetização dialético, se diferenciando do chamado “vanguardismo” na esfera de influência dos intelectuais tradicionais da educação da década de 1950. Sempre defendeu o diálogo com os mais simples, não só como método. Como um modo de ser e pensar realmente democrático.
Sua prática e didática fundamentavam-se na crença de que o educando assimilaria o objeto de estudo fazendo uso de uma prática dialética com a realidade, em contraposição à por ele denominada “educação bancária”', tecnicista e alienante: o educando criaria sua própria educação, fazendo ele próprio o caminho, e não seguindo um já previamente construído; libertando-se de chavões alienantes, o educando seguiria e criaria o rumo do seu aprendizado, mas conhecido como “Método Paulo Freire”, que aproxima o aluno do conteúdo, pela utilização de palavras conhecidas pelo mesmo. Propõe e estimula a inserção do adulto iletrado no seu contexto social e político, na sua realidade, promovendo o despertar para a cidadania plena e transformação social. É a leitura da palavra, proporcionando a leitura do mundo. Suas ideias nasceram no contexto do nordeste brasileiro a partir da década de 1950, onde metade dos seus 30 milhões de habitantes eram analfabetos, com predomínio do colonialismo e todas as vivências impostas por uma realidade de opressão, imposição, limitações e muitas necessidades. Inicialmente o método só era usado na alfabetização, mas logo se estendeu para outras áreas. Avalia-se que o método exprimia ideais cristãos.
        Foi o brasileiro mais homenageado da história social e política: obteve 29 títulos de doutor honoris causa de universidades da Europa e América; e recebeu diversos galardões como o prêmio da UNESCO de Educação para a Paz em 1986.  Em 13 de abril de 2012 foi sancionada a lei 12.612 que declara o educador Paulo Freire Patrono da Educação Brasileira. Vale lembrar que o marxismo ocidental refere-se ao conjunto de análises produzidas por vários teóricos marxistas e críticos do marxismo oficial - a interpretação vigente na União Soviética e nos países do Leste Europeu. O uso do termo “ocidental”, para distinguir uma vertente do marxismo, aparece pela primeira vez no ensaio: “Estado atual do problema de Marxismo e Filosofia”, mais conhecido como "Anticrítica", de Karl Korsch, no qual o autor delimita um grupo de comunistas partidários da Terceira Internacional, dentre os quais são nomeados expressamente apenas György Lukács e ele próprio. O texto responde às críticas que Karl Korsch recebera dos marxistas  tanto da vertente leninista como da referida vertente “ocidental” - ao seu ensaio, intitulado: “Marxismo e Filosofia”, publicado em 1923. A expressão “marxismo ocidental” seria recuperada bem mais tarde, por Maurice Merleau-Ponty, no título de um dos capítulos do seu livro: “Les Aventures de la Dialectique”, de 1955. Merleau-Ponty, entende que essa dimensão do marxismo começa com “Marxismus und Philosophie”, de Korsch, e de “Geschichte und Klassbewusstsein”, de Gyorgy Lukács, também de 1923.
 Somente Hegel, insistimos neste aspecto, definiu o princípio da realidade como uma Ideia lógica, realizando a interpretação do ser das coisas um ser puramente lógico e chegando assim a um panlogismo consequente que apresenta ainda, um elemento dinâmico-irracional, existente no método dialético. Nisto se distingue o panlogismo hegeliano do neokantismo, que eliminou este elemento e instituiu assim um puro panlogismo. O idealismo apresenta-se, para sermos breves, em duas formas principais: como idealismo subjetivo ou psicológico e como idealismo objetivo e lógico. Mas estas diversidades no plano analítico movimentam-se no âmbito de uma concepção fundamental. Esta é justamente a tese idealista de que o objeto do conhecimento não é “menos que nada”, mas algo ideal, se quisermos concordar com a tese idealista na interpretação sociológica de Slavoj Žižek. A ideia de um objeto independente da consciência é contraditória, pois, no momento em que pensamos no amor, fazemos dele um conteúdo de nossa consciência. Porém, se analiticamente afirmamos que o objeto existe fora da nossa consciência, contradizemo-nos com isso a nós próprios. Portanto não há objetos reais extra-conscientes, mas a experiência sobre a realidade acha-se contida na consciência.
 
 Queremos dizer com isso que se levarmos a sério a percepção central da dialética hegeliana de que toda reflexão, e isso significa também toda investigação científica do objeto, no campo da filosofia e da realidade pressupõe inevitavelmente categorias lógicas. Não poderemos deixar de reconhecer que a Fenomenologia do Espírito implica uma grande descoberta, numa forma típica de lógica, a qual se legitima a si mesma, e que pressupõe aquelas outras formas de consciência e sua destruição em um sentido histórico-psicológico. Assim como objeto histórico-sociológico, não em um sentido teórico de validade para Hegel, segundo o qual “o objetivo de uma introdução à filosofia só poderia aclarar esses pontos de vistas objetivo da filosofia”. A filosofia também tem a tarefa de conduzir a consciência ainda não formada filosoficamente pelo caminho que a ela conduz, e lhe facilitar o elemento, que não lhe é dado imediatamente, no qual ela se movimenta como ciência pura, em que a forma pronta da filosofia hegeliana está dada com a “Lógica” e a “Enciclopédia”. Somente aqui ausência de pressupostos, fundamentação última do método foram realizados de maneira pura.   
Todo conhecer, todo aprender, toda visão, toda ciência, inclusive toda atividade, não possui nenhum outro interesse além do aquilo que “é em si”, no interior, manifestar-se desde si mesmo, produzir-se, transformar-se objetivamente. Nesta diferença se descobre toda a diferença na história do mundo. Os homens são todos racionais. O formal desta racionalidade é que o homem seja livre. Esta é a sua natureza. Isto pertence à essência do homem. O europeu sabe de si, é objeto de si mesmo. A determinação que ele conhece é a liberdade. Ele se conhece a si mesmo como livre. O homem considera a liberdade como sua substância. Se os homens “falam mal de conhecer é porque não sabem o que fazem”. Conhecer-se, converter-se a si mesmo no objeto (do conhecer próprio) e o fazem relativamente poucos. O homem é livre somente se sabe que o é. Pode-se também em geral falar mal do saber, mas somente este saber libera o homem. O conhecer-se é no espírito a existência.
O saber que, de início ou imediatamente, é nosso objeto teórico, não pode ser nenhum outro senão o saber que é também imediato: - saber do imediato ou do assente. Devemos proceder também de forma imediata ou receptiva, nada mudando assim na maneira como ele se oferece e afastando-se de nosso apreender conceitual. O conteúdo concreto da certeza sensível faz aparecer imediatamente essa certeza como o mais rico conhecimento e até como um conhecimento de riqueza infinda, para o qual é impossível achar limite; nem fora, se percorrermos o espaço e o tempo onde se expande, nem dentro, se penetrarmos nele pela divisão no interior de um fragmento tomado dessa plenitude. Entrementes, a certeza sensível como a mais verdadeira, pois do objeto nada ainda (Hegel-Žižek) deixou de lado, mas o tem em toda a sua plenitude, diante de si.
Ao afirmar a simultaneidade entre o mundo e a consciência, Paulo Freire está se referindo ao mundo humano. Sendo o jogo dialético das relações homem-mundo o ponto de partida da reflexão freireana acerca da consciência, somente pode ser nessa ação dialética que ocorre a tomada de consciência do mundo pelo homem. Pode voltar-se sobre si mesma e ser consciente de sua consciência, não se constituindo simples reflexo da realidade, mas tendo a possibilidade de se constituir reflexão crítica sobre seus próprios atos e na superação de suas contradições. O homem pode assim transcender a sua atividade dando sentido ao mundo. O homem, em verdade, se projeta pela síntese da relação dialética consciência-mundo, uma relação complexa na qual a realidade vivenciada pelo homem tem o poder de condicioná-lo, mas não determiná-lo, tendo a possibilidade de, refletindo criticamente, atuar sobre essa realidade e modificá-la, terminando por modificar a si mesmo através da própria consciência.
No entanto, há relações sociais ainda em jogo, se bem atendemos no puro ser que constitui a essência dessa certeza, e que ela enuncia como sua verdade. Uma certeza sensível efetiva não é apenas essa pura imediatez, mas é um exemplo da mesma. Entre as diferenças sem conta que ali evidenciam, achamos em toda parte a diferença-capital, a saber: que nessa certeza ressaltam logo para fora do puro ser dos dois “estes”, analisados e já mencionados: um este, como Eu; outro, como um este imaginário objeto de pensamento prenhe de uma explicação histórica, teórica e metodológica.  Refletindo sobre essa diferença, resulta tanto um como outro não estão na certeza sensível apenas de modo imediato, mas, mediatizados. Portanto, Eu tenho a certeza por meio de outro, da coisa; e essa está igualmente na certeza mediante outro, mediante o Eu. Essa diferença entre a essência e o exemplo, entre a imediatez e a mediação, quem faz não somos nós apenas, mas a encontramos na própria certeza sensível; e deve ser tomada na forma em que nela se encontra, e não como nós acabamos de determina-la. Na certeza sensível, um momento é oposto como o “essente” simples e imediato, ou como a essência: o objeto. O outro momento, porém, é posto como o “inessencial” e o mediatizado, momento que nisso não é “em-si”, mas por meio do Outro: o Eu, um saber, que sabe o objeto só porque ele é; saber que pode ser ou não. Mas o objeto é o verdadeiro e a essência: ele é, tanto faz que seja conhecido ou não. Permanece mesmo não sendo conhecido – enquanto o saber não é, se o objeto não souber que pode ser. Trata-se assim da singularidade imediata de apreensão do objeto concreto do saber. 
O tempo hegeliano é igualmente contínuo comparativamente como o espaço, pois ele é a negatividade abstratamente referindo-se a si e nesta abstração ainda não há nenhuma diferença real. No tempo, diz-se, tudo surge e [tudo passa] perece, se se abstrai de tudo, a saber, do recheio do tempo e igualmente do recheio do espaço, fica de resto o tempo vazio como o espaço vazio – isto é, são então postas e representadas estas abstrações de exterioridade, como se elas fossem por si. Mas não é o que no tempo surja e pereça tudo, porém o próprio tempo é este vir-a-ser, surgir e perecer, o abstrair essente, o Kronos que tudo pare, e que seu parto destrói [devora]. – O real é bem diverso do tempo, mas também essencialmente idêntico a ele nesta relação. Ipso facto, a dimensão do real é limitado, e o outro para esta negação está fora dele, a determinidade é assim nele exterior a si, e daí a contradição de seu ser; a abstração opera nessa exterioridade de sua contradição e a inquietação da mesma é o próprio tempo. Por isso o finito é transitório e temporário, porque ele não é, como o conceito nele mesmo, a negatividade total, mas tem esta em si, como sua essência universal, entretanto – diferentemente da mesma essência – é unilateral, e se relaciona à mesma [essência] como à sua potência.
Bibliografia geral consultada.
JORGE, Jacintho Simões, A Ideologia de Paulo Freire. São Paulo: Editora Loyola, 1979; PAIVA, Vanilda, Paulo Freire y el Nacionalismo Desarrollista. 1ª edición. México: Ediciones Extemporáneos, 1982; SCHMIED-KOWARZIK, Wolfdietrich, “A Dialética do Diálogo Libertador de Freire”. In: Pedagogia Dialética: de Aristóteles a Paulo Freire. São Paulo: Editora Brasiliense, 1983; FREIRE, Paulo, A Importância do Ato de Ler: Em três artigos que se completam. São Paulo: Editora Cortez, 1989; CINTRA, Benedito Eliseu Leite, Paulo Freire entre o Grego e o Semita: Educação: Filosofia e Comunhão. Tese Doutorado. Campinas: Faculdade de Educação. Universidade Estadual de Campinas, 1992; PELANDRÉ, Nilcéa Lemos, Efeitos a Longo Prazo do Método de Alfabetização Paulo Freire. Tese de Doutorado em Letras/Linguística. Programa de Pós-Graduação em Letras/Linguística.  Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 1998; OLIVEIRA, Paulo César de, Conscientização e Liberdade na Filosofia da Educação de Paulo Freire. Tese de Doutorado em Filosofia. Roma: Pontifícia Università San Tommaso D`Aquino de Roma, 2002; FREIRE, Ana Maria Araújo, Paulo Freire: Uma História de Vida. Indaiatuba: Villa das Letras, 2006; PELANDRÉ, Nilcea Lemos, Ensinar e Aprender com Paulo Freire: 40 horas 40 anos depois. 3ª edição. Florianópolis: Editora da Universidade Federal de Santa Catarina, 2009; LEMOS, Silvania Donadio Villela, A Atualidade do Pensamento de Paulo Freire na Educação de Jovens e Adultos no Século XXI. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2010; STRECK, Danilo, REDIN, Euclides, ZITKOSKI, Jaime José (Orgs.), Dicionário Paulo Freire. 2ª edição rev. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2010; FERREIRA, Geraldo da Aparecida, Entre a Memória e a Autobiografia: Narrativas de Cyro dos Anjos e de Darcy Ribeiro. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários. Faculdade de Letras. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2013;  GONÇALVES, Marco Antônio, “A Reeducação do Antropólogo: A Pedagogia da Antropologia”. In: TOSTA, Sandra Pereira & ROCHA, Gilmar (Org.), Diálogos Sem Fronteira: História, Etnografia e Educação em Culturas Ibero-americanas. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014; pp 149-164; GADOTTI, Moacir, Alfabetizar e Conscientizar: Paulo Freire. 50 Anos de Angicos. São Paulo: Instituto Paulo Freire, 2014; MARINHO, Andrea Rodrigues Barbosa, Paulo Freire e a Conscientização. Tese de Doutorado. São Paulo: Universidade Nove de Julho, 2015; DICKMANN, Ivo, A Formação de Educadores Ambientais: Contribuições de Paulo Freire. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2015;  entre outros.
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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).