segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Upgrade: As Cores do Amor – Economia & Sociologia da Celebridade.

                  Não se pode amar ou odiar quem não se conhece ainda”. Leonardo da Vinci

            

       Upgrade: As Cores do Amor (2024) representa um filme norte-americano de comédia romântica dirigido por Carlson Young e estrelado por Camila Mendes, Archie Renaux, Thomas Kretschmann, Grégory Montel, Lena Olin e Marisa Tomei. Em agosto de 2022, foi anunciado que Camila Mendes e Archie Renaux iriam estrelar o filme, que começou a ser produzido no Reino Unido. No mês seguinte, foi anunciado que Marisa Tomei e Lena Olin também foram escaladas para compor o elenco. É uma releitura moderna do clássico conto de fadas Cinderela e foi lançado no Amazon Prime Vídeo em 9 de fevereiro de 2024. Não queremos perder de vista que Cinderela é um dos contos de fadas mais populares da Humanidade. Sua origem tem diferentes versões teatrais. A versão mais reconhecida é a do escritor francês Charles Perrault, de 1697, baseada num conto italiano popular chamado La Gatta Cenerentola (“A gata borralheira”). A mais antiga é originária da China, por volta de 860. Semelhante à versão de Charles Perrault e a versão dos Irmãos Grimm. Nesta, porém, não há a figura da “fada-madrinha” e quem favorece a realização do desejo de ir ao baile são os pombos e a árvore que crescem no túmulo de sua mãe. Neste caso, Cinderela sabe palavras mágicas, usadas no imperativo, que auxiliam na transformação maravilhosa de seu pedido em realidade. 

          No final, as irmãs malvadas ficam cegas quando são atacadas por pombos que lhes furam os olhos. Segundo outras versões a figura da fada-madrinha na verdade é o espírito da falecida mãe da própria protagonista que trazia um vestido do céu para Cinderela usar no baile. Historicamente entre o liberalismo de David Hume e o dos Fisiocratas, encontra-se a distância socialmente que separa paradoxalmente a invenção da conformidade. Hume de um lado, os Fisiocratas de outro. Fisiocratas que viam a produção de bens e serviços como consumo do excedente agrícola, uma vez que a principal fonte de energia era o músculo humano ou animal e toda a energia derivada do excedente de produção agrícola. A unidade própria do nascente liberalismo econômico se tornaria essencialmente problemática. Apesar da relativa uniformidade das reivindicações, parece que o fosso se escava entre uma metafísica da ordem que impõe respeito a uma norma natural, limitadora por essência e instruída pela providência regida, em última instância, pela cumplicidade secreta entre finalismo e mecanicismo, e, de outro, a marcha hesitante de uma espontaneidade quase cega em seu princípio, e anônima em seus efeitos sociais, que exige que a norma, em sua variedade e contingência, seja construída, isto é, inventada, em função das circunstâncias historicamente condicionadas. Assim, a política econômica nacional é constituída sobre o modelo da gestão privada, historicamente, sendo que a representação da economia do universo é, do mesmo modo, construída na realidade a partir do modelo tecnológico da ação sobre a apropriação da natureza.

          Fisiocracia tem como representação uma teoria econômica desenvolvida por um grupo de economistas franceses do século XVIII, que acreditavam que a riqueza das nações era derivada unicamente do valor de “terras agrícolas” ou do “desenvolvimento da terra” e que produtos agrícolas deveriam ter preços elevados na economia. Suas teorias surgiram na França e foram mais populares durante a segunda metade do século XVIII. A fisiocracia talvez seja a primeira teoria bem desenvolvida da economia. A fisiocracia foi formada por filósofos, negociantes, médicos, editores e intelectuais franceses que, sobretudo durante a década de 1760, buscavam realizar um sistema de filosofia fundado na noção de ordem naturalizada e no chamado jusnaturalismo, isto é a existência de leis naturais. No sistema filosófico moderno elaborado pelos fisiocratas, a compreensão dos fenômenos econômicos e sua explicação passa a assumir um papel invariavelmente preponderante. O movimento foi liderado por François Quesnay (1694-1774), mas contava com figuras importantes como Victor Riquetti de Mirabeau (1715-1789), Anne Robert Jacques Turgot (1727-1781), Nicolas Baudeau, Pierre Samuel Du Pont de Nemours e Le Mercier de la Rivière. Esse movimento imediatamente precedeu a primeira escola moderna, a economia clássica, que se iniciou com a publicação da “mão invisível” de Adam Smith (1793-1790), em seu livro clássico, intitulado: A Riqueza das Nações, em 1776, um filósofo e economista escocês, que teve como cenário da modernidade para a sua vida o atribulado no chamado Século das Luzes, o século XVIII. A contribuição mais significativa dos fisiocratas tinha per se como primícias a sua ênfase humanamente possibilitada no trabalho produtivo como fonte de riqueza nacional.

                                                

Esse pensamento econômico é contrastante comparativamente em relação ao das escolas anteriores, em particular o mercantilismo, que muitas vezes focava na riqueza do governante, no acúmulo de ouro, ou no saldo da balança comercial. Enquanto a escola Mercantilista de economia dizia que o valor dos produtos da sociedade era criado seu ponto de venda, com o vendedor vendendo seus produtos por mais dinheiro do que estes tinham originalmente valido, a escola Fisiocrática de economia foi a primeira a ver o trabalho como a única fonte de valor. No entanto, para os fisiocratas, apenas o trabalho agrícola criava este valor nos produtos da sociedade. Todo o trabalho incipiente industrial e não agrícola eram, por assim dizer, “apêndices improdutivos” para o trabalho agrícola. Na época historicamente em que fisiocratas estavam formulando suas ideias sociais e econômicas, a economia era quase totalmente agrária. Esse talvez seja o motivo pelo qual realmente a teoria tenha considerado apenas o trabalho agrícola como sendo valioso. Fisiocratas viam a produção de bens e serviços como consumo do excedente agrícola, uma vez que a principal fonte de energia era o músculo humano ou animal, e toda a energia era derivada a partir do excedente de produção agrícola. O lucro na produção pré-capitalista representava apenas o contrato socialmente referente ao aluguel obtido pelo proprietário em que a produção agrícola estava ocorrendo como trabalho.

A percepção do reconhecimento dos Fisiocratas da importância fundamental do terreno foi reforçada no meio século seguinte, quando os combustíveis fósseis foram aproveitados pelo meio de trabalho e utilidade de uso da máquina a vapor. A produtividade aumentou consideravelmente. Ferrovias, e sistemas de abastecimento de água e saneamento a vapor, possíveis cidades de vários milhões de pessoas com valores da terra muitas vezes maior do que as terras produtivas agrícolas. Assim, enquanto os economistas modernos também reconhecem manufatura e serviços como produtivos e geradores de riqueza, os princípios econômicos estabelecidos pelos fisiocratas permanecem válidos. A Fisiocracia tem uma relevância importante em que toda a vida permanece dependente da produtividade do solo bruto e a capacidade do meio ambiente natural se renovar. O historiador David B. Danbom, autor e professor de história agrícola, na Universidade Estadual de Dakota do Norte por mais de quarenta anos explica: “Os fisiocratas condenavam as cidades pela sua artificialidade e elogiavam estilos mais naturais de vida. Eles celebravam os agricultores”. Eles se chamavam économistes, mas são geralmente referidos como fisiocratas para distingui-los das muitas escolas do pensamento econômico que os seguia. O Confucionismo, sistema desenvolvido a partir das ideais de Confúcio, foi adotado por fisiocratas como Quesnay. A Fisiocracia é uma filosofia de caráter agrário. No final da República Romana, a classe senatorial dominante não era autorizada a participar do setor bancário ou do comércio, mas dependia de seus latifúndios, grandes plantações, para a renda. 

Eles contornaram esta regra socialmente estabelecida por meio de procurações dos chamados “homens livres” que vendiam bens agrícolas excedentes. Após o declínio do Império Romano, a desurbanização levou à cessação do comércio e ao declínio da comercialização de produtos agrícolas na maior parte da Europa Ocidental. As economias centraram-se nas casas senhoriais agrícolas onde guerreiros-proprietários, a nobreza medieval, coletavam alugueis de seus servos na forma exploratória de parte da produção. Este foi o sistema econômico dominante até que o comércio começou a ser revivido no final da Idade Média, promovendo a ascensão da classe mercantil. Outra inspiração veio do sistema econômico da China, considerado o maior do mundo. A sociedade chinesa amplamente distinguiu quatro ocupações, com bolsas de estudo burocratas, que também eram proprietários agrários, na parte superior e na parte inferior comerciantes, porque eles não produziam bens, apenas distribuíam os produtos fabricados por terceiros. Líderes como François Quesnay (1664-1774) eram confucionistas ávidos que defendiam as políticas agrárias da China, uma nação muito populosa da Ásia Oriental cuja ampla paisagem abrange pradarias, desertos, montanhas, lagos, rios e mais de 14.000 km de litoral. A capital Pequim combina a arquitetura moderna com locais históricos, como o complexo de palácios da Cidade Proibida e a Praça da Paz Celestial. Xangai é um centro financeiro global repleto de arranha-céus. A emblemática Muralha da China corta a região norte do país de leste a Oeste. Alguns estudiosos têm defendido ligações concretamente com a escola agriculturalista, que promoveu o “comunismo utópico”. Quesnay defendia que a terra era a única fonte de riqueza, considerando a agricultura como fonte principal da riqueza do Estado.

Uma questão muito importante foi levantada a respeito das ideias abstratas, ou gerais, a saber, se são concebidas pela mente como gerais ou particulares. É evidente que, ao formar a maior parte de nossas ideias gerais, se não todas elas, fazemos abstração de todo e qualquer grau particular de quantidade e qualidade; e que um objeto não deixa de pertencer a uma espécie particular cada vez que ocorre uma pequena alteração em sua extensão, duração ou outras propriedades. Pode-se pensar, portanto, em tese que existe um claro dilema, decisivo para a determinação da natureza das ideias abstratas, a qual tem sido motivo de tanta especulação por parte dos filósofos. Como a ideia abstrata de Hume (2009) de homem de todos os tamanhos e todas as qualidades, conclui-se que ela só será capaz de fazer isso, se de fato poder representar ao mesmo tempo, abstratamente, todos os tamanhos e todas as qualidades possíveis, ou então se não representar nenhum tamanho ou qualidade particular. A primeira proposição tendo sido considerada absurda, porque implicaria uma capacidade infinita da mente, costumou-se inferir que a segunda seria a correta – e por isso se supôs que nossas ideias abstratas não representam nenhum grau particular de quantidade ou qualidade. A confusão que por vezes envolve as impressões procede somente de sua fraqueza e instabilidade, e não de uma capacidade que teria a mente de receber uma impressão que, em sua existência real, não possua um grau ou proporção particulares. Isso seria uma contradição em termos, e implicaria mesmo a mais absoluta das contradições, a saber, que é possível que uma mesma coisa seja e não seja.

           Pois uma das circunstâncias mais extraordinárias da presente questão é o fato de que, se por acaso formamos um raciocínio que não concorda com uma ideia individual produzida pela mente, e acerca da qual raciocinamos, o costume que a acompanha, reanimado pelo termo geral ou abstrato, sugere imediatamente qualquer outro indivíduo. Assim, se mencionamos a palavra triângulo e formamos a ideia de um triângulo equilátero particular que lhe corresponda, e se depois afirmamos que os três ângulos de um triângulo são iguais entre si, os outros casos individuais de triângulos escalenos e isósceles, que a princípio negligenciamos, imediatamente se amontoam à nossa frente, fazendo-nos perceber a falsidade dessa proposição, que, entretanto, é verdadeira em relação à ideia que havíamos formado. Se a mente nem sempre sugere tais ideias na ocasião apropriada, isso se deve a alguma imperfeição de suas faculdades, imperfeição esta que frequentemente gera raciocínios falsos e sofismas. Mas tal fato socialmente interpretado ocorre, sobretudo, no caso das ideias abstrusas (cf. Braga, 2020) e compostas. O costume é mais perfeito, e é raro cometermos esse tipo de erro. O costume, aliás, é tão perfeito nesses casos que se pode vincular a mesma ideia a diversas palavras diferentes, e emprega-la em diferentes raciocínios, sem qualquer perigo de erro. A ideia de um triângulo equilátero pode servir para uma figura regular, de um triângulo e de um triângulo equilátero. Uma ideia particular se torna geral quando a vinculamos a um termo que, por conjunção habitual, relaciona-se a outras ideias particulares, evocando-as na imaginação. Ao rejeitar a capacidade infinita da mente, supomos que ela pode atingir na divisão de suas ideias. Não há como fugir à evidência dessa conclusão.   

            A divisibilidade infinita do espaço implica a do tempo, como fica evidente pela natureza do movimento. Mas podemos aqui observar, seguindo a trilha aberta por David Hume (2009), que nada pode ser mais absurdo que “esse costume arraigado de atribuir uma dificuldade aquilo que pretende ser uma demonstração”. As demonstrações não são como as probabilidades, quer dizer, em que podem ocorrer dificuldades, e um argumento pode contrabalançar outro, diminuindo sua autoridade. Uma demonstração ou é irresistível, ou não tem força alguma no pensamento. Portanto, falar em objeções e respostas, em contraposição de argumentos numa questão como essa, é o mesmo que confessar que a razão humana é um simples jogo de palavras, ou que a pessoa que assim se exprime não está à altura desses assuntos. Há demonstrações difíceis de compreender, por causa do caráter abstrato de seu tema; nenhuma demonstração, porém, uma vez compreendida, pode conter dificuldades que enfraqueçam sua autoridade. É uma máxima estabelecida da metafísica que tudo que a mente concebe claramente inclui a ideia da existência possível, ou, em outras palavras, que anda que imaginamos é absolutamente impossível. Não poderia haver descoberta mais feliz na vida para a solução de todas as controvérsias em torno das ideias que as impressões sempre precedem as ideias, e que toda ideia contida na imaginação apareceu primeiro em uma impressão correspondente. As percepções deste tipo são todas tão claras e evidentes que não admitem discussão, ao passo que muitas ideias são tão obscuras que é quase impossível, mesmo para a mente que as forma, dizer qual é exatamente sua natureza e composição. Uma aplicação desse princípio, revela per ser algo mais sobre a natureza de nossas ideias de espaço e tempo. 

             O arquiteto divino aparece também como uma derivação conceitual do artesão. Em todo lugar em que surge uma vontade capaz de dar forma ao projeto que ela mesma concebeu, o arranjo mecânico dos elementos, sustentado pelo decreto inicial, compõe uma totalidade externa cuja finalidade escapa por natureza aos componentes para se transportar inteira para a mente do organizador. O lucro do negociante sugere o lucro da nação. A balança é sua imagem obrigatória. O produto artesanal sugere o produto divino: o relógio, divisor do tempo, a máquina se torna sua representação privilegiada. Equilíbrio, ajuste e adaptação dos meios aos fins se unem no trabalho de montagem que supõe ao mesmo tempo um projeto humano, um plano, um construtor, condicionando uma escolha entre as diferentes séries de objetos manufaturados. Sem dúvida, é por ter apreendido nessas falências a lógica da argumentação, que Hume sugere nos Diálogos, a “fábula de uma repartição de tarefas”. Seus personagens debatem uma série de ideias e argumentos cujos proponentes acreditam que através do qual poderemos vir a conhecer a natureza de Deus. Os artesãos divinos contra os que persistem em considerar a questão da divisão do trabalho como conveniência comandada pela providência divina, mais do que a solução do problema que tem sido colocado como sobrevivência para a espécie.

        Reconhecido pelo padrão demonstrado de que não há ideias inatas na vida e que todo o conhecimento vem da experiência rigorosamente ao nexo de causalidade e necessidade, David Hume em vez de tomar a noção de causalidade, como concedido, desafia-nos a considerar o que a experiência nos permite saber sobre a relação estabelecida entre causa e efeito, pois nada é mais usual e natural, para aqueles que pretendem oferecer ao mundo novas descobertas filosóficas e científicas que insinuar elogios ao seu próprio sistema de pensamento. O homem de discernimento e de saber percebe facilmente a fragilidade do fundamento, até mesmo daqueles sistemas bem aceitos e com maiores pretensões de conter raciocínios precisos e profundos. Isto é, alguns princípios acolhidos da confiança; consequências deles deduzidas de maneira defeituosa; falta de coerência entre as partes, e de evidência no todo – tudo isso se pode encontrar nos sistemas dos mais eminentes filósofos, e parece cobrir de opróbrio a própria filosofia, pois mesmo “a plebe lá fora é capaz de julgar, pelo barulho e vozerio que ouve, que nem tudo vai bem aqui dentro”.      Neste âmbito tampouco é necessário um conhecimento muito profundo para se descobrir a distância e imperfeição na sociedade moderna e contemporânea e que de fato, não há nada que não seja objeto de discussão e sobre o qual os estudiosos não manifestam opiniões contrárias. Se por um lado multiplicam-se as disputas, como se tudo fora incerto; e essas disputas são conduzidas da maneira mais acalorada, como se tudo fora certo na vida cotidiana.

        É daí que surge na opinião de David Hume, o preconceito comum contra todo tipo de raciocínio metafísico. Mesmo por parte daqueles que são doutos e que costumam avaliar de maneira justa todos os outros gêneros da literatura. E realmente nada, a não ser o mais determinado ceticismo, juntamente como um elevado grau de indolência, pode justificar tal aversão à metafísica. Pois se a verdade está ao alcance da capacidade humana, é certo que ela deva esconder em algum lugar muito profundo e abstruso. Não por acaso, devemos reunir nossos experimentos mediante a observação cuidadosa concernente da vida. Tomando-os tais aspectos como aparecem no curso habitual do mundo vivido, no comportamento dos homens em suas ocupações e prazeres. E criteriosamente reunidos e comparados, podemos estabelecer, com base neles, uma ciência, que não será inferior em certeza, mas superior em utilidade, a qualquer outra que esteja ao alcance da compreensão humana. Assim Hume sustenta que nossas ideias são imagens de nossas impressões, assim também podemos formar ideias secundárias, que são imagens das ideias primárias.  

Não se trata de uma exceção à regra, mas de uma explicação. As ideias produzem as imagens de si mesmas em novas ideias; mas como supomos que as primeiras são derivadas de impressões, continua sendo verdade que todas as nossas ideias simples procedem, mediata ou imediatamente, de suas impressões correspondentes. Esse é o primeiro princípio que Hume estabelece na ciência da natureza humana. Pois cabe notar que a presente questão, a respeito da anterioridade de nossas impressões ou ideias, é a mesma que produziu tanto barulho sob outra formulação, quando se discutiu se haveria ideias inatas, ou se todas as ideias derivam da sensação e da reflexão. A fim de provar que as ideias de extensão e de cor não são inatas, os filósofos nada mais fazem que mostrar que elas são transmitidas por nossos sentidos. Para provar que as ideias de paixão e desejo são inatas, eles observam que experimentamos previamente em nós mesmos essas emoções. A faculdade pela qual repetimos nossas impressões da primeira maneira se chama memória, e a outra, imaginação. Mas se examinarmos cuidadosamente esses argumentos, veremos que eles nada provam, senão que as ideias são precedidas por outras percepções mais vívidas, das quais derivam e as quais elas representam a existência.

Psicanalistas veem na história de Cinderela muito mais do que uma simples trama romântica. Por ter origem atemporal e ter surgido em várias civilizações diferentes, historicamente, a trajetória da protagonista traduziria uma espécie de “arquétipo fundamental”, traduzindo o anseio natural da psiquê humana em ser reconhecida de forma especial e elevada a uma existência superior. A literatura e o cinema, cientes disso, utilizaram-se de seu arco dramático para o desenvolvimento de inúmeras outras obras de apelo popular. Além das animações de Walt Disney, não é novidade que seu primeiro longa-metragem de animação foi Branca de Neve e os Sete Anões, de 1937. A produção, que lançou o legado da animação Disney é, sem dúvidas, um marco estilístico que sempre buscaram inspiração nos contos de fadas e que merece destaque o filme Uma linda mulher, protagonizado por Julia Roberts, e que foi sucesso de bilheteria nos anos 1990. Como vimos, a trama socialmente gira em torno de Ana Santos, uma estagiária ignorada no trabalho. Mas muito predestinada ao redor do mundo da arte de Nova York, Estados Unidos da América, cuja vida social e carreira mudam quando, por acaso, ela é transferida para a primeira classe em um longo voo para Londres. Sociologicamente falando, esta é uma experiência, repentina e de mudança de hábito, mais luxuosa e robusta na oferta de serviços a bordo entre as classes do avião. - Um verdadeiro hotel 5 estrelas no ar. O ponto principal deste tipo de acomodação é a atenção customizada e de alto nível.

Cinderela era filha de um comerciante rico. Depois que seu pai morreu, sua madrasta tomou conta da casa que era de Cinderela. Cinderela então, passou a viver com sua madrasta malvada, junto de suas duas filhas que tinham inveja da beleza de Cinderela e transformaram-na em um serviçal. Ela tinha de fazer todos os serviços domésticos e ainda era alvo de deboches e malvadezas. Seu refúgio era o quarto no sótão da sua própria casa e seus únicos amigos: os animais da floresta. Um belo dia, é anunciado que o Rei realizará um baile para que o príncipe escolha sua esposa dentre todas as moças do reino. No convite, distribuído a todos os cidadãos, havia o aviso de que todas as moças deveriam comparecer ao Baile promovido pelo Rei. A madrasta de Cinderela sabia que ela era realmente a mais bonita da região, então disse que ela não poderia ir porque não tinha um vestido apropriado para a ocasião. Cinderela, então, costurou um vestido com a ajuda de seus amigos da floresta. Passarinhos, ratinhos e esquilos a ajudaram a fazer um vestido de retalhos, mas muito bonito. Porém, a madrasta não queria que Cinderela comparecesse ao baile de forma alguma, pois sua beleza impediria que o príncipe se interessasse por suas duas filhas. Sendo assim, ela e as filhas rasgaram o vestido, dizendo que não tinham autorizado Cinderela a usar os retalhos que estavam sendo jogados no lixo. Entretanto, na narrativa, fizeram isso de última hora, para impedir que a moça tivesse tempo para costurar outro e seguir em frente.

Muito triste, Cinderela foi para seu quarto no sótão e ficou à janela, olhando para o Castelo na colina. Chorou, chorou e rezou muito. De suas orações e lágrimas, surgiu sua Fada-madrinha que confortou a moça e usou de sua mágica para criar um lindo vestido para Cinderela. Também surgiu uma linda carruagem e os amiguinhos da floresta foram transformados em humanos, cocheiro e ajudantes de Cinderela. Antes de sua afilhada sair, a Fada-madrinha lhe deu um aviso: a moça deveria chegar antes da meia-noite, ou toda a mágica iria se desfazer aos olhos de todos. Cinderela chegou à festa como uma princesa. Estava tão bonita, que não foi reconhecida a não ser pela madrasta, que passou a noite inteira dizendo para as filhas que achava conhecer a moça de algum lugar, mas não conseguia dizer de onde. O príncipe, prontamente a viu, aproximando-se a convidou para dançar. Cinderela e o príncipe dançaram e dançaram a noite inteira. Conversaram e riram como duas almas gêmeas e logo se perceberam feitos um para o outro. Acontece que a fada-madrinha tinha avisado que toda a magia só duraria até à meia-noite e um minuto. Quando o relógio badalou as doze batidas e um minuto, Cinderela teve de sair correndo. 

 Foi quando deixou um dos seus sapatinhos brilhantes de cristal na escadaria. O príncipe, muito preocupado por não saber o nome da moça, ou como reencontrá-la, pegou o pequeno sapatinho e saiu percorrendo os caminhos em sua busca no reino e em outras cidades. Muitas moças disseram ser a dona do sapatinho, mas o pé de nenhuma delas se encaixava no objeto. Quando o príncipe bateu à porta da casa de Cinderela, a madrasta trancou a moça no sótão da casa e deixou apenas que suas duas filhas experimentassem o sapatinho. Apesar das feiosas se esforçarem, nada do sapatinho de cristal servir. Foi quando um ajudante do príncipe viu que havia uma moça na janela do sótão da casa. Conquanto sob as ordens do príncipe, a madrasta teve de deixar Cinderela descer. A moça experimentou o sapatinho, mas antes mesmo que ele servisse em seus pés, o príncipe estupefato, já tinha dentro do seu coração a certeza impressionante de que por suposto havia reencontrado para o amor de sua vida. Cinderela e o príncipe se casaram em uma linda cerimônia, e anos depois se tornariam Rei e Rainha, famosos pelo coração e pelo senso de justiça. Cinderela e o príncipe foram felizes para todo o sempre.

Ana é uma estagiária jovem que sonha com uma carreira no mundo das artes enquanto tenta impressionar sua chefe exigente, Claire. Por causa do alto custo de vida em Nova York, Ana acaba morando com sua irmã Vivian e o namorado, Ronnie, egoísta que mormente implora para ela se mudar, ao invés de acolhê-la nessa fase de transição na vida cotidiana e profissional. Durante um leilão de arte no trabalho, Ana percebe um erro grave de digitação no catálogo e avisa Claire antes dele ser vendido. Devido esse feito, Claire convida Ana para uma viagem de trabalho a Londres “para servir como assistente de suas assistentes”. Suzette e Renee, as duas assistentes de Claire, sabotam a viagem de Ana ao esperar que todos embarquem no voo para informá-la de que reservaram para Ana uma passagem de voo econômica, em um voo que sairá quatro horas depois. Entretanto, bilheteira presencia os maus-tratos e faz o upgrade da passagem de Ana para a primeira classe. Enquanto estava na sala da primeira classe, um telefonema faz com que Ana derrame sua bebida em um rapaz rico chamado William. Os dois acabam sentados um ao lado do outro no voo e se dão bem, mas Ana tergiversa para William fazendo-o acreditar que ela é a diretora de arte do escritório de sua empresa em Nova York. Impressionado, ele apresenta Ana à sua mãe, Catherine, uma famosa celebridade britânica.

            O oportunismo crasso é evidente entre Suzette e Renee que continuam a sabotar e perturbar Ana, atribuindo-lhe um escritório em um porão em construção e um quarto em um hotel espelunca e mais barato. Ana recebe uma mensagem de voz informando que ela deixou seu laptop no carro de William. É uma deriva da aglutinação dos termos em inglês “lap” (colo) e “top” (em cima), que tem como significação “em cima do colo”, em contrapartida ao desktop que significa, literalmente, “em cima da mesa”. Naquela noite, ela vai até a casa de Catherine pegar seu laptop e se vê no meio de uma festa in partibus infidelium. Lá ela vê a extensa coleção de arte de Catherine, reconhece um pintor famoso e continua a enganar sobre ser diretora de uma casa de leilões de Nova York. Suzette e Renee têm a tarefa de conseguir ingressos de última hora para uma apresentação do “Sonho de uma Noite de Verão”, de Shakespeare, uma comédia escrita em meados de 1590, enquanto transferem tarefas para Ana. Desesperada para conseguir ingressos para impressionar Claire, Ana visita William, que treina uma liga de futebol em “situação de risco”. Sua carga horária de trabalho faz com que ela recuse um convite para almoçar, mas William lembra a ela que haverá uma festa naquela noite e que sua mãe, Catherine, quer que Ana compareça e que ele gostaria de marcar um Encontro.

Suzette é obrigada a admitir que não conseguiu os ingressos e fica ainda mais constrangida quando Ana aparece e entrega os ingressos para Claire. As tensões no ambiente aumentam à medida que Gerard, o diretor de arte do escritório de Paris, e Claire disputam o cargo de diretor-chefe da empresa. Ana comparece à festa com um vestido de grife que ela pegou “emprestado” de Claire. Quando de repente ela vê Claire chegar com Suzette e Renee, ela fica com medo de que sua mentira seja revelada e tenta fugir. Will vai atrás dela antes que ela vá embora e a leva para dançar em um bar local. No final da noite, Ana, envergonhada com o local onde está hospedada, faz com que William a deixe no hotel chique de Claire. Antes de ir embora, William confessa que está se apaixonando por ela. Na semana seguinte, Ana e William continuam a passar tempo juntos, ficando cada vez mais próximos. Ele diz a ela que sabe que o trabalho dela é importante e que combinou a transferência de seu trabalho para Nova York para que eles possam continuar o relacionamento. No escritório, Claire elogia o trabalho duro de Ana e garante que haverá uma promoção para ela no futuro. Renee interrompe a reunião para revelar que uma grande cliente acaba de desistir do próximo leilão. Quando é revelado que a cliente é Catherine, William, nesse mesmo momento, chega para surpreender Ana no trabalho e levá-la para almoçar. Ela o arrasta para fora do prédio e William desconfia com razão do comportamento dela, dizendo que não teve nada a ver com a decisão de sua mãe.

Ele questiona se Ana o estava usando apenas para garantir a venda da mãe e termina com ela. Quando Ana volta para o prédio, acaba sendo confrontada por Claire, que descobriu suas mentiras e seu relacionamento com a família de William. Ela é demitida e escoltada para fora do prédio. Ana visita Catherine e confessa a verdade. Em vez de ficar chateada, Catherine se orgulha de Ana por sua honestidade e boa atuação, e concorda em voltar ao leilão com a questão incondicional de que Ana seja quem cuidará da venda. Ana é recontratada e consegue vender a arte de Catherine por muito mais valor do que o esperado. Ela volta ao campo de futebol e pede desculpas a William, que diz que não gostava dela porque ela era rica, mas porque a achava uma pessoa honesta. Ana volta para Nova York e passados seis meses depois desta série de coincidências não tem mais notícias de William, mas, o melhor de tudo é que está prosperando. Ana dá uma festa para comemorar a inauguração de sua própria galeria de arte. No final da noite, depois que todos saíram, William chega com a mala e a surpreende dizendo que sentiu saudades e que irá ficar em Nova York. Os dois se beijam e acabam dormindo juntos.

Assim Hume sustenta que nossas ideias são imagens de nossas impressões, assim também podemos formar ideias secundárias, que são imagens das primárias. Não se trata de uma exceção à regra, mas de uma explicação. As ideias produzem as imagens de si mesmas que se reproduzem em novas ideias; mas como supomos que as primeiras são derivadas de impressões, continua sendo verdade que todas as nossas ideias simples procedem, mediata ou imediatamente, de suas impressões correspondentes. Esse é o primeiro princípio que Hume estabelece na ciência da natureza humana. Pois cabe notar que a presente questão, a respeito da anterioridade de nossas impressões ou ideias, é a mesma que produziu tanto barulho sob outra formulação, quando se discutiu se haveria ideias inatas, ou se todas as ideias derivam da sensação e da reflexão. A fim de provar que as ideias de extensão e de cor não são inatas, os filósofos nada mais fazem que mostrar que elas são transmitidas por nossos sentidos. Para provar que as ideias de paixão e desejo são inatas, eles observam que experimentamos previamente em nós mesmos essas emoções. A faculdade pela qual repetimos nossas impressões da primeira maneira se chama memória, e a outra, mormente imaginação. Mas se examinarmos cuidadosamente esses argumentos, veremos que eles nada provam, senão que as ideias são precedidas por outras percepções mais vívidas, das quais derivam e as quais elas representam.

Melhor dizendo, que as ideias da memória são muito mais vivas e fortes que as da imaginação, e que a primeira faculdade pinta seus objetos em cores mais distintas que todas as que possam ser usadas pela última. Ao nos lembrarmos de um acontecimento passado, sua ideia invade nossa mente com força de uma expressão, ao passo que, na imaginação, a percepção humana é fraca e lânguida, e apenas com muita dificuldade pode ser conservada firme e uniforme pela mente durante todo o período considerável de tempo. Temos aqui uma diferença sensível entre as duas espécies de ideias. Mas há uma outra diferença, não menos evidente, entre esses dois tipos de ideias. Embora nem as ideias da memória nem as da imaginação, nem as ideias vívidas nem as fracas possam surgir na mente antes que impressões correspondentes tenham vindo abrir-lhes o caminho, a imaginação não se restringe à mesma ordem na forma das impressões originais, ao passo que a memória está de certa maneira amarrada quanto a esse aspecto, sem nenhum poder de variação. É evidente que a memória preserva a forma original sob a qual seus objetos se apresentaram. A principal função da memória não é preservar as ideias simples, mas precisamente sua ordem e posição. Esse princípio se apoia em aspectos comuns e vulgares do dia a dia que podemos nos poupar o trabalho de continuar insistindo nele. 

Como a imaginação pode separar todas as ideias simples, e uni-las novamente da forma que bem lhe aprouver, nada seria mais inexplicável que as operações dessa faculdade, se ela não fosse guiada por alguns princípios universais, que a tornam, em certa medida, uniforme em todos os momentos e lugares. Fossem as ideias inteiramente soltas e desconexas, apenas o acaso as ajuntaria; e seria impossível que as mesmas ideias simples se reunissem de maneira regular em ideias complexas se não houvesse algum laço de união entre elas, alguma qualidade associativa, pela qual uma ideia naturalmente introduz outra. Esse princípio de união entre as ideias não deve ser considerado uma conexão inseparável, tampouco devemos concluir que, sem ele a mente não poderia juntar duas ideias – pois nada é mais livre que essa faculdade. Devemos vê-lo apenas como uma força suave, que comumente prevalece, e que é a causa pela qual, entre outras coisas, as línguas se correspondem de modo tão estreito umas às outras: pois a natureza de alguma forma aponta a cada um de nós as ideias simples mais apropriadas para serem unidas em uma ideia complexa. As qualidades não dão origem a tal associação, e que levam a mente, dessa maneira, de uma ideia a outra, são três, a saber: semelhança, contiguidade no tempo e espaço, e causa e efeito. Dois objetos podem ser considerados como estando inseridos nessa relação, seja quando um deles é a causa de qualquer ação ou movimento do outro, seja quando o primeiro é a causa da existência do segundo.

Pois como essa ação ou movimento não é senão o próprio objeto, considerado sob um certo ângulo, e como o objeto continua o mesmo em todas as suas diferentes situações, é fácil imaginar de que forma tal influência dos objetos uns sobre os outros pode conectá-los na imaginação. Podemos prosseguir com esse raciocínio, observando que dois objetos estão conectados pela relação causa e efeito não apenas quando produz um movimento ou uma ação qualquer no outro, no outro, mas também quando tem o poder de os produzir. Notemos que essa é a fonte de todas as relações de interesse e dever através dos quais os homens se influenciam mutuamente na sociedade que se ligam pelos laços de governo e subordinação. Um senhor é aquele que, por sua situação, decorrente quer da força quer de um acordo, tem o poder de dirigir, sob alguns aspectos particulares, as ações de outro homem. Um juiz é aquele que, em todos os casos litigiosos entre membros da sociedade, é capaz de decidir, com sua opinião a quem cabe a posse ou a propriedade de determinado objeto. Quando uma pessoa possui certo poder, nada mais é necessário para convertê-lo em ação que o exercício da vontade; e isso, em todos os casos, é considerável possível, e em muitos, provável – especialmente no caso da autoridade, em qua a obediência do súdito é um prazer e uma vantagem para seu superior. Está claro que, no curso de nosso pensamento socialmente e na constante circulação de nossas ideias, a imaginação individual e coletiva passa facilmente de uma ideia a qualquer outra que seja, por conseguinte semelhante a ela.

Assim como existe o nascimento de uma semiologia e sociologia da celebridade e até mesmo mais recentemente, uma economia da celebridade e tal qualidade, por si só, constitui um vínculo afetivo e uma associação suficiente para a fantasia. É também evidente que, com os sentidos, ao passarem de um objeto a outro, precisam fazê-lo de modo regular, tomando-os sua contiguidade uns em relação aos outros, a imaginação adquire, por um longo costume, o mesmo método de pensamento, e percorre as partes do espaço e do tempo ao conceber seus objetos. Quanto à conexão realizada pela relação de causa e efeito, basta observar que nenhuma relação produz uma conexão mais forte na fantasia e faz com que uma ideia evoque mais prontamente outra ideia que a relação de causa e efeito entre seus objetos. Para compreender toda a extensão dessas relações sociais, devemos considerar que dois objetos coincidentemente estão conectados na imaginação humana. Não somente quando um deles é imediatamente semelhante ou contíguo ao outro, ou quando é a representação da causa. Mas quando entre eles encontra-se inserido um terceiro objeto, que mantém com ambos alguma dessas notáveis relações. Dentre as três relações mencionadas, a de causalidade é a de maior extensão.

Considerados em si mesmos, todos os objetos que Hume chama de causas e efeitos são tão distintos e separados uns dos outros quanto de qualquer outra coisa na natureza. Assim, somente pela experiência e observação de sua união constante somos capazes de fazer essa inferência. E, assim mesmo, a inferência não passa de um efeito do costume sobre a imaginação. Portanto, sempre que observamos a mesma união, e sempre que a união age da mesma maneira sobre a crença e a opinião, temos a ideia de causas e de necessidade, ainda que às vezes possamos evitar essas expressões. Dessa união constante, ela forma a ideia de causa e também de efeito e, por sua influência, sente a necessidade. De fato, quando consideramos quão adequadamente as evidências naturais e morais se aglutinam, formando uma cadeia única de argumentação, não hesitaremos em admitir que têm a mesma natureza e derivam dos mesmos princípios. A experiência da mesma união tem o mesmo efeito produzido sobre a mente, quer os objetos unidos sejam motivos, volições e ações praticamente, quer sejam figuras e movimentos. Podemos mudar os nomes das coisas, mas sua natureza e sua operação sobre o entendimento nunca mudam.

O entendimento se exerce de dois modos diferentes, conforme julgue por demonstração ou por probabilidade; isto é, conforme considere as relações abstratas entre nossas ideias ou as relações entre os objetos, que só conhecemos pela experiência. Como o seu domínio próprio é o mundo das ideias, e como a vontade sempre nos põe no mundo das realidades, a demonstração e a volição parecem estar, por esse motivo, inteiramente separadas uma da outra. O raciocínio abstrato ou demonstrativo, portanto, só influencia nossas ações enquanto dirige nosso juízo sobre causas e efeitos. É evidente que, quando temos a perspectiva de vir a sentir dou ou prazer por causa de um objeto, sentimos, em consequência disso, uma emoção de aversão ou de propensão, e somos levados a evitar ou abraçar aquilo que nos proporcionará esses desprazeres ou essa satisfação. Também é evidente que tal emoção não se limita a isso; ao contrário, faz que olhemos para todos os lados, abrangendo qualquer objeto que esteja conectado como o originalmente pela relação de causa e efeito. É que o raciocínio tem lugar para descobrir essa relação, e conforme nossos raciocínios variam, nossas ações sofrem uma variação subsequente. É a propensão de dor ou prazer que gera a aversão ou propensão ao objeto.

Uma vez que a razão sozinha não pode produzir nenhuma ação nem gerar volição, inferimos que essa mesma faculdade é igualmente incapaz de impedir uma volição ou de disputar nossa preferência com qualquer paixão ou emoção. Essa é uma consequência exatamente necessária. A única possibilidade de a razão ter esse efeito de impedir a volição seria conferido um impulso em direção contrária à de nossa paixão; e esse impulso, se operasse isoladamente, teria sido capaz de produzir a volição. Nada pode se opor ao impulso da paixão, ou retardá-lo, senão um impulso contrário; e para que esse impulso contrário pudesse alguma vez resultar da razão, esta última faculdade teria de exercer uma influência original sobre a vontade e ser capaz de causar, bem como de impedir, qualquer ato volitivo. Mas se a razão não possui influência original, é impossível que possa fazer frente a um princípio dessa eficácia (simbólica) ou que possa manter a mente em suspenso (abstrata) por um instante sequer. Quando nos referimos ao combate entre paixão e razão, lembra Hume, “a razão é e deve ser, apenas a escrava das paixões, e não pode aspirar a outra função além de servir e obedecer a elas”. A razão, querendo extinguir as paixões, torna-se per se, singularmente a paixão de si própria.

Uma paixão é uma existência original ou, uma modificação de existência; não contém nenhuma qualidade representativa que a torne cópia de outra existência ou modificação. A princípio o que pode se pensar sobre esse ponto é que, uma vez que nada pode ser contrário à verdade ou à razão exceto o que se refira a ela de alguma maneira, e uma vez que somente os juízos de nosso entendimento o fazem, deve-se seguir que as paixões só podem ser contrárias à razão enquanto estiverem acompanhadas de algum juízo ou opinião. De acordo com esse princípio, que é tão evidente e natural, um afeto só pode ser dito contrário á razão em dois sentidos. Primeiro, quando uma paixão, como a esperança ou o medo, a tristeza ou a alegria, o desespero ou a confiança, está fundada na suposição da existência de objetos que existem realmente. Segundo, quando, ao agirmos movidos por uma paixão, escolhemos meios insuficientes para o fim pretendido, e nos enganamos em juízos de causas e efeitos. Quando uma paixão não está fundada em falsas suposições, nem escolhe meios insuficientes para sua finalidade objetivamente, o entendimento não pode justifica-la, e muito menos nem condená-la. Não é contrário à razão, diz Hume, eu preferir a destruição do mundo inteiro a um arranhão em meu dedo.

Não é contrário à razão que eu escolha minha total destruição só para evitar o menor desconforto de um índio ou de uma pessoa que me inteiramente desconhecida. Tampouco é contrário à razão eu preferir aquilo que reconheço ser para mim um bem menor a um bem maior, ou sentir uma afeição mais forte pelo primeiro que pelo segundo. Um bem trivial imaterial pode, graças a certas circunstâncias, produzir um desejo superior ao que resulta do prazer mais intenso e valioso. Uma paixão tem de ser acompanhada de algum juízo falso para ser contrária à razão; e de fato, não é propriamente a paixão que é contrária à razão, mas o juízo. As consequências disso são evidentes, pois é impossível que razão e paixão possam se opor mutuamente ou disputar o controle da vontade e das ações. Assim que percebemos a falsidade de uma suposição ou a insuficiência de certos meios, nossas paixões cedem à nossa razão e sem nenhuma oposição. Enfim, é por isso que toda ação da mente que opera com a mesma calma e tranquilidade é confundida com a razão por todos aqueles que julgam as coisas por seu primeiro aspecto e aparência. Quando alguma dessas paixões é calma e não causa nenhuma desordem na alma, é facilmente confundida com as determinações da razão, e supomos que procede da mesma faculdade que a que julga sobre a verdade a falsidade. Supomos que sua natureza e princípios são os mesmos porque suas sensações não são evidentemente diferentes.

Bibliografia Geral Consultada.

BAECHLER, Jean, Qu`est-ce que L’Idéologie? Paris: Collection de Poche de Idées Gallimard, 1976; BAUDRILLARD, Jean, Da Sedução. Rio de Janeiro: Editora papirus, 1992; ROMANO, Vicente, Desarrollo y Progreso: Por una Ecología de la Comunicación. Barcelona: Editorial Teide, 1993; WEBER, Max, Ensaios de Sociologia. Org. e Introdução de Hans Gerth e Charles Wright Mills. Revisão Técnica de Fernando Henrique Cardoso. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1974; Idem, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. 2ª edição revista. São Paulo: Editora Pioneira, 2003; ARON, Raymond, L`Opium des Intellectuelles. Paris: Editeur Hachette, 1991; Idem, O Marxismo de Marx. São Paulo: Editor Arx, 2005; HUME, David, Tratado da Natureza Humana. Uma Tentativa de Introduzir o Método Experimental de Raciocínio nos Assuntos Morais. 2ª edição revista e ampliada. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 2009; BALIEIRO, Marcos Ribeiro, Essa Mistura Terrena Grosseira: Filosofia e Vida Comum em David Hume. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Filosofia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2009; KIRALY, Cesar, Os Limites da Representação: Um Ensaio desde a Filosofia de David Hume. São Paulo: Giz Editorial, 2010; COMETTI, Jean-Pierre, Qu`est-ce que le Pragmatisme? Paris: Éditions Gallimard, 2010; LÖWY, Michael, A Jaula de Aço: Max Weber e o Marxismo Weberiano. 1ª edição. São Paulo: Boitempo Editorial, 2014; LILTI, Antoine, A Invenção da Celebridade (1750-1850). 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2018; OLIVEIRA, Juliana Michelli da Silva, A Vida das Máquinas: O Imaginário dos Autômatos em O Método de Edgar Morin. Tese de Doutorado. Faculdade de Educação. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2019; BRAGA, Ubiracy de Souza, “O Raciocínio Abstruso”. In: Jornal O Povo. Fortaleza, 11 de agosto de 2020; AZEVEDO, Thiago Vargas Escobar, As Sociedades e as Trocas. Rousseau, a Economia Política e os Fundamentos Filosóficos do Liberalismo. Tese de Doutorado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Filosofia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2020; VARGAS, Thiago, A Filosofia da Fisiocracia. Metafísica, Política, Economia. São Paulo: Discurso Editorial, 2021; ELLWOOD-HUGHES, Pip, “Upgraded Review: Camila Mendes Leads a New Take on Cinderella”. Disponível em:  https://entertainment-focus.com/2024/02/08/; entre outros.

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