“A filosofia hoje não está mais em posse de verdades metafísicas”. Jürgen Habermas
Os
traços obscuros têm muito mais em comum do que coisas que os diferenciam. O
conhecimento sobre esse núcleo obscuro, disse Ingo Zettler, pode ter um papel
crucial para os terapeutas que trabalham com pessoas com essas características,
um dos pesquisadores e professor de psicologia na Universidade de Copenhagen,
na Dinamarca. - Vemos isso, por exemplo, em casos de violência extrema,
descumprimento de normas, mentiras. O conhecimento sobre o fator D de
uma pessoa pode ser uma ferramenta útil para avaliar a probabilidade de que ela
volte e cometer o ato ou faça coisas ainda mais grave. O fator D é “a
tendência geral a maximizar a utilidade individual sem levar em conta ou
provocar de forma mal-intencionada a falta de utilidade para os outros, isso
tudo acompanhado de crenças que servem como justificativas”, diz o Relatório.
Dito de outro modo, o fator D é o “hábito de colocar nossos próprios
objetivos e interesses na frente dos de outras pessoas, sentindo até prazer
pelo fato de fazer mal aos outros”. Essa tendência costuma vir acompanhada de desculpas
ou justificativas que servem para evitar sentimento de culpa ou
vergonha. No estudo, que acabava de ser publicado na revista Psychological
Review, uma revista acadêmica bimestral revisada por pares que cobre a
teoria psicológica. Os pesquisadores perguntaram a mais de 2.500 pessoas até
que ponto se mostravam de acordo com afirmações como “às vezes vale a pena
sofrer um pouco para ver alguém sofrer o castigo que merece” e “sei que sou
especial porque todos dizem isso”. Também perguntaram aos membros participantes
sobre a questão da sua agressividade, impulsividade e comportamento egoísta ou
pouco ético.
Há mais de 100 anos Charles Spearman (1863-1945) afirmou que a inteligência humana é composta pelo chamado fator G. Segundo a teoria do psicólogo inglês, o fator G explica por que é provável que as pessoas que tiram notas altas em um tipo específico de provas também se saiam bem em outros testes. Um século depois, especialistas dizem que essa mesma tendência também pode ser usada para explicar a “malevolência” ou o “lado obscuro” das pessoas. E também lhe deram um nome. Trata-se do fator D. Uma nova pesquisa conduzida por uma equipe de psicólogos da Alemanha e da Dinamarca sugere que características psíquicas como egoísmo, rancor e sadismo têm um mesmo denominador comum. Ainda que nos pareça mais normalmente que uma pessoa seja egoísta e não um psicopata, o certo é que o estudo demonstra que todos os aspectos obscuros da personalidade humana estão relacionados e se baseiam numa mesma tendência. Em outras palavras, se você tem um desses traços psíquicos, é provavelmente normal que desenvolva os outros. Isso representa um significado, segundo os pesquisadores, que se uma pessoa exibe um comportamento maldoso, como por exemplo, o gosto por humilhar os outros, terá maior probabilidade de fazer outras coisas maldosas, como enganar, mentir ou roubar, o que não é incomum no cotidiano.
De todo modo a patologia nos apresenta um grande número de estados em que a delimitação do Eu ante o mundo externo se torna problemática, e nos faz lembrar a expressão de despedida de Gilles Deleuze (1925-1995) que tomamos de empréstimo, através das palavras, entre as palavras, que se vê e que se ouve: - “A vergonha de ser um homem: haverá razão melhor para escrever?”. Ipso facto, no prefácio à 2ª edição da obra Da Divisão do Trabalho Social, de Émile Durkheim (2010) lembra-nos da ideia que ficou na penumbra na primeira edição e que parece útil ressaltar e determinar melhor, pois ela esclarecerá melhor algumas partes do presente trabalho. Trata-se do papel que os agrupamentos profissionais estão destinados a desempenhar na organização social dos povos contemporâneos. Mas o que proporciona, particularmente excepcional gravidade a esse estado é o desenvolvimento desconhecido, que as funções econômicas adquiriram nos últimos dois séculos. Estamos longe do tempo em que eram desdenhosamente abandonadas às classes inferiores, pois diante delas, vemos as funções militares, administrativas, religiosas recuarem cada vez mais. Somente as funções científicas, adverte o sociólogo, que encetou sua obra magnífica em torno de dez anos de produção ininterrupta, de reconhecimento, estão em condição de disputar-lhes o lugar – e ainda assim, a ciência só tem prestígio na medida em que pode servir à prática, isto é, em grande parte, às “profissões econômicas”. É por isso que se pode dizer neste estágio de desenvolvimento que elas são essenciais meios de trabalho industriais.
Uma
forma de atividade generalizada que tomou lugar na vida social não pode,
evidentemente, permanecer tão desregulamentada, em seu desempenho e atividade,
sem que disso resulte os impactos sociais sobre a divisão técnica do trabalho e as mais
profundas perturbações. Mas sofrer no trabalho não é uma fatalidade. É, em
particular, como decorre e testemunhamos, uma fonte de desmoralização geral
real. Pois, precisamente porque as funções econômicas absorvem o maior número
disciplinar de cidadãos, para o pleno desenvolvimento da vida social, há uma
multidão de indivíduos, como dizia Freud, cuja vida transcorre quase toda no
meio industrial e comercial; a decorrência disso é que, como tal meio é pouco
marcado pela moralidade, a maior parte da existência transcorre fora de toda e
qualquer ação moral. A tese funcionalista expressa na pena de Émile Durkheim,
como uma espécie de antídoto da civilização, e que o sentimento do dever
cumprido se fixe fortemente em nós, é preciso que as próprias circunstâncias em
que vivemos permanentemente desperto. A atividade de uma profissão só pode ser
regulamentada eficazmente por “um grupo próximo o bastante dessa mesma
profissão para conhecer bem seu funcionamento, para sentir todas as suas
necessidades e poder seguir todas as variações destas”. O único grupo que
corresponde a essas condições é o formado pelos agentes da
mesma condição reunidos num mesmo corpo. E que a sociologia durkheimiana
conceitua de corporação ou grupo profissional. É na ordem econômica que o grupo
profissional existe tanto quanto a moral profissional. Não sem
razão, com a supressão das antigas corporações, não se fizeram mais do que
tentativas fragmentárias e incompletas para reconstituí-las em novas bases
sociais.
A teoria da personalidade - mutatis
mutandis - tem por objetivo organizar o conhecimento a respeito da
personalidade de tal maneira que a grande quantidade de informação gerada pela
pesquisa científica seja organizada de maneira sistemática e coerente e novas
hipóteses de trabalho possam ser geradas para uma posterior comprovação. A
personalidade tem como representação social uma construção pessoal que decorre
ao longo da nossa vida, e uma elaboração da nossa história social e política,
da forma que sentimos e interiorizamos as nossas experiências, acompanhamento e
a reflexividade na maturação psicológica. A personalidade é um processo ativo e
que intervém em diferentes fatores. Diversos autores se dedicaram à pesquisa da
personalidade, cada um com ênfases teóricas e metodológicas diferentes, o que
os levou muitas vezes a resultados felizes completamente distintos. A cultura é
o determinante subjacente da tomada de decisão humana. Geralmente determina a
atitude em relação à independência, agressão, competição e
cooperação. Cada cultura espera e treina seus membros para se
comportarem de maneira aceitável para o grupo. As primeiras teorias da personalidade surgiram
em um contexto clínico e com um fim muito prático: oferecer um fundamento
teórico para os transtornos mentais e seu tratamento.
As
teorias subsequentes, mesmo não tendo se originado em um contexto clínico,
oferecem também novas possibilidades para a psicoterapia. A capacidade de
determinada teoria de guiar e enriquecer a prática terapêutica é um dos
principais elementos para uma avaliação da relevância dessa teoria. Além de
descrever e explicar a estrutura, os processos dinâmicos, o desenvolvimento e
as possibilidades sociais de mudança da personalidade, uma teoria da
personalidade termina, por sua própria natureza, tocando e tendo de se
posicionar em outros temas da maior relevância que, no entanto, ultrapassam o
âmbito da psicologia da personalidade. Psicologia da personalidade ou
psicologia diferencial é a parte da psicologia que se dedica a descrever e
explicar as particularidades humanas duradouras, não patológicas e que
influenciam o comportamento dentro de uma determinada população. Personalidade tem como representação social o conjunto de características psicológicas que determinam os padrões de pensar,
sentir e agir, ou seja, a individualidade per se pessoal e social.
A formação da personalidade é
um processo gradual, complexo e único a cada indivíduo. Encontrar uma exata
definição para termo personalidade não é uma tarefa simples. O termo é usado na
linguagem comum - isto é, como parte da psicologia do senso comum, com
diferentes significados, e esses significados sociais costumam influenciar as
definições científicas do termo. A psicologia do senso comum ou da vida quotidiana
(Alltagspsychologie), representa um conjunto de crenças e convicções
sobre o comportamento e as experiências humanas, e não por acaso, muitas vezes
também é chamada de “psicologia ingênua” ou naive, é usada para indicar precisamente a conclusão de uma ideia: um sistema de convicções culturalmente transmitidas a
respeito do comportamento e das experiências pessoais humanas e suas causas
sociais. Em outras palavras, representa o conjunto de teorias e concepções
sociais que cada pessoa tem a respeito de como o ser humano funciona
socialmente. Essas teorias e convicções sociais na sociedade contemporânea estão profundamente arraigadas no ser
humano e servem de base racionalmente para as decisões que as pessoas tomam em seu no dia-a-dia.
Charles Edward Spearman (1863-1945) foi um psicólogo inglês reconhecido pelo seu trabalho na área da estatística, como um pioneiro da análise fatorial e pelo coeficiente de correlação de postos de Spearman. Ele também fez bons trabalhos de modelos da inteligência humana, incluindo a descoberta de que escores em testes cognitivos incompatíveis exibiam um fator geral único, batizado de fator “g”. Spearman tinha um perfil incomum para um psicólogo. Após 10 anos como um oficial do Exército Britânico, ele se demitiu para fazer um doutorado em psicologia experimental. Na Inglaterra a Psicologia era compreendida como uma área da Filosofia. Spearman escolheu estudar na Universidade de Leipzig sob a orientação de Wilhelm Wundt (1832-1920), talvez porque não tivesse qualificações convencionais e porque a Universidade de Leipzig tinha exigências de matrícula liberais. Ele começou em 1897 e, após uma interrupção quando ele foi convocado pelo Exército Britânico durante a Guerra da África do Sul, obteve o grau de doutor em 1906. A essa altura, já tinha publicado seu artigo notório sobre a Análise Fatorial da Inteligência (1904). Spearman encontrou-se com o psicólogo William McDougall (1871-1938) e impressionou-o a ponto de deixar Spearman sucedê-lo na extaoredinária University College London. O gratificante é que Spearman ficou até a sua aposentadoria, em 1931. Inicialmente foi Reader e chefe de pequeno laboratório de psicologia. Em 1911, foi promovido à Grote professorship of the Philosophy of Mind and Logic. Ipso facto seu título acadêmico mudou para Professor de Psicologia, em 1928, quando foi criado um Departamento de Psicologia.
Jürgen Habermas (2015) chama-nos atenção para o fato socialmente de que da mesma maneira que os desenvolvimentos internacionais não se ajustavam à concepção anticomunista, tampouco internamente a mobilização que tomara a sociedade na sequência do movimento de direitos civis, do protesto estudantil, da Nova Esquerda, do movimento feminista e das contraculturas escapistas, ajustava-se ao mundo intacto de uma dominação elitista isenta de ideologia. Com a problematização da pobreza em meados dos anos 1960, aconteceu uma fissura no retrato da sociedade de bem-estar social, de caráter psicológico e antes de tudo harmônico. Logo em seguida, mostraram-se também as consequências colaterais dos chamados programas de Estado de bem-estar social, postos em prática burocraticamente sob o governo Lyndon B. Johnson (1908-1973). Não obstante, onde eles funcionaram era tanto pior quanto; pois, nesse caso, ameaçavam o princípio formal de igualdade de oportunidade em favor de uma melhora coletiva de oportunidades iniciais para minorias étnicas ou mulheres. Todas essas tendências foram sintetizadas por McGovern, em uma aliança de coalização contra os sindicatos; existiam também os neoconservadores que até então não haviam rompido com o Partido Democrata, o último passo para o salto. Isto é, em 25 de abril de 1972, George McGovern venceu as primárias da cidade de Massachusetts, e o jornalista Bob Novak (1931-2009) telefonou para políticos democratas de todo o país, que concordaram com sua avaliação de que os votos de operários para McGovern não atendia o que ele realmente representava.
Lyndon
Johnson ascendeu à presidência após o assassinato de Kennedy em 22 de novembro
de 1963, completando o mandato de Kennedy e sendo eleito por conta própria com
uma grande margem na eleição de 1964. Johnson recebeu grande apoio dos
Democratas e, enquanto presidente, foi responsável por criar a legislação da “Grande
Sociedade”, que incluía leis que confirmavam os direitos civis, radiodifusão
pública, Medicare, Medicaid, proteção ambiental, auxílio a educação e sua “Guerra
a Pobreza”. Era reconhecido por sua personalidade autoritária e o “tratamento
Johnson”, sua coerção de políticos poderosos para avançar legislações. Durante
os primeiros anos de sua presidência, a economia cresceu e milhões de norte-americanos
saíram da pobreza, especialmente por causa dos seus projetos de estímulo
econômicos e sociais. Johnson adotou uma política externa voltada com o
anticomunismo. Ele escalou a participação norte-americana na Guerra do
Vietnã, indo de 16 mil soldados na região em 1963 para 550 mil no início de
1968, aumentando as fatalidades e diminuindo as chances de paz.
Os vietnamitas haviam proclamado sua Independência em 1945, após uma ocupação francesa e japonesa combinada, e antes da revolução comunista na China. Eles eram liderados por Hồ Chí Minh (1890-1969), um revolucionário, político, escritor, poeta e jornalista vietnamita. Também reconhecido por seu nome de batismo Nguyễn Sinh Cung e pelo pseudônimo Nguyen Ai Quoc, foi um revolucionário e estadista vietnamita. Ele serviu como primeiro-ministro do Vietnã do Norte de 1945 a 1955 e como Presidente de 1945 até sua morte em 1969. Ideológica e politicamente com formação tática e estratégica na guerra de guerrilha marxista-leninista, atuou como presidente e primeiro secretário do Partido dos Trabalhadores do Vietnã. Hồ Chí Minh nasceu na província de Nghệ An, no Vietnã Central. Ele liderou o movimento social de independência de Việt Minh de 1941 em diante. Inicialmente, era um grupo que atuava em todas as partes em células que lutavam pela independência do Vietnã, mas o Partido Comunista ganhou o apoio da maioria depois de 1945. Hồ Chí Minh liderou a República Democrática do Vietnã liderada pelos comunistas em 1945, derrotando a União Francesa em 1954 na Batalha de Điện Biên Phủ, foi uma fase decisiva da Guerra de Resistência Antifrancesa que opôs as forças estratégicas militares maquínicas da União Francesa e do Việt Minh, em Tonkin, entre o dia 13 de março e 7 de maio de 1954, finda a Primeira Guerra da Indochina com a divisão geograficamente e, sobretudo política do Vietnã, com os comunistas no controle social e político do Vietnã do Norte.
Hồ Chí Minh (1890-1969) foi uma figura chave no Exército Popular do Vietnã e o Việt Cộng durante a Guerra do Vietnã, que durou das décadas de 1955 a 1975. Ho deixou oficialmente o poder em 1965 devido a problemas de saúde e morreu em 1969. O Vietnã do Norte acabou vitorioso contra o Vietnã do Sul e aliados e o Vietnã foi oficialmente unificado em 1976. Saigon, a antiga capital do Vietnã do Sul, foi renomeada para cidade de Ho Chi Minh em sua homenagem. Os Estados Unidos da América na contramão da história, decidiram apoiar a França na sua reconquista de sua ex-colônia. O ex-imperador, Bao Dai (1926-1945), último do Vietnã fez de Saigon a capital do Estado do Vietname, em 1949, como chefe de Estado. Após o movimento Việt Minh ganhar o controle do Vietname do Norte, em 1954, tornou-se comum referir-se ao governo de Saigon como “Vietnã do Sul”. O governo passou a se chamar com a mudança radical na política de República do Vietname, quando Bao Daí foi deposto por seu primeiro-ministro, Ngo Dinh Diem, em 1955, mas em referendo fraudulento. Saigon foi combinada unidade administrativa reconhecida como Djo Thành Sai Gon (Capital Saigon). Na conclusão da Guerra do Vietname, em 30 de abril de 1975, a cidade ficou sob o controle do Exército do Povo do Vietnã. Entre as comunidades da diáspora vietnamita e particularmente os Estados Unidos que havia lutado contra os comunistas. Este evento político-ideológico é chamado pela mídia global de “Queda de Saigon”, enquanto a República Socialista do Vietname se refere a ela como a Libertação de Saigon. Em 1976, quando da unificação do Vietname do Norte e Vietname do Sul sob o regime vitorioso comunista, e a criação da República Socialista do Vietnã, a cidade de Saigon - incluindo a pequena cidade próxima de Cholon, a província de Gia Dịnh e dois bairros suburbanos de duas outras províncias vizinhas, foi renomeada na esfera política para Ho Chi Minh, em homenagem ao líder comunista Hồ Chí Minh, que veio a falecer em 1969.
Entretanto,
o antigo nome de Saigon, como é de interesse público, ainda é amplamente utilizado por muitos
vietnamitas, especialmente em contextos informais. O Vietnã reunificado sofreu
repressão interna e foi isolado devido à manutenção da chamada Guerra Fria e da
invasão vietnamita do Camboja. Em 1986, o Partido Comunista do Vietnã começou
as reformas do setor privado semelhantes às da China, tendo um crescimento
econômico e ligeira redução na repressão, apesar de ter um aumento de denúncias
de corrupção. Dia da Reunificação ou de nome oficial Dia da
Libertação Sul para a Reunificação Nacional (Giải phóng miền Nam, thống nhất
đất nước) é um feriado público no Vietname que marca o evento quando as forças
norte-vietnamitas e Việt Cộng capturaram Saigon, atual cidade de Ho Chi Minh a
30 de abril de 1975. Isto assinalou o fim da Guerra do Vietname, reconhecida em
vietnamita como Kháng chiến chống Mỹ cứu nước (Anti-American Resistance War for
National Salvation) ou Chiến tranh Việt Nam (“Guerra do Vietname”). Representou
o início do período de transição para a reunificação, que ocorreu durante as
eleições nacionais para a reunificação a 2 de julho de 1976, quando permitiram
que a República do Vietname do Sul e o Vietname do Norte organizassem
politicamente os dois países independentes, formando o Vietname dos tempos
modernos. Certas partes da comunidade vietnamita ultramarina denominam
politicamente de diversas formas: o dia como a “Queda de Saigon”, o “abril
Negro” (Tháng Tư Đen), o “Dia Nacional da Vergonha” (Ngày Quốc Nhục) ou last
but not least também reconhecido “Dia do Ódio” (Ngày Quốc Hận).
O
envolvimento gerou vários movimentos sociais antiguerra principalmente em
universidades de todo o país. Revoltas começaram a ocorrer em várias regiões e
o crime nas grandes cidades aumentou em 1965, e seus oponentes passaram a
exigir medidas de lei e ordem. O Partido Democrata dividiu-se em várias facções
e, após não ter ido bem na convenção de Nova Hampshire em 1968, Johnson não
conseguiu a indicação para tentar a reeleição, tendo que desistir da corrida
presidencial em 1968. O Republicano Richard Nixon (1913-1994) acabou por
sucedê-lo. Após deixar a presidência, ele voltou para sua cidade natal,
Stonewall, morrendo em 22 de janeiro de 1973. O legado de sua presidência
divide opiniões. Muitos historiadores argumentam que seu governo marcou o pico
do liberalismo americano após a Era do New Deal. Johnson é bem avaliado
por muitos estudiosos e historiadores devido as suas políticas domésticas e a
assinatura de diversas leis, incluindo de direitos civis, controle de armas e
seguridade social. Apesar dos avanços internos, muitos o desqualificam como um
bom presidente devido ao fiasco da guerra do Vietnã. Os liberais que se
tornaram neoconservadores não abandonaram simplesmente as bandeiras. Pelo
contrário, tentaram explicar os fatos que os inquietavam com a mobilização de
todos os seus talentos. Os neoconservadores buscam as causas da crise não no
modo de funcionar da economia e do aparelho estatal, mas nos problemas de
legitimação condicionados através da relação entre democracia e
cultura.
Richard
Nixon foi o único presidente dos Estados Unidos a renunciar. Divide com George W. Bush (2001-2009) o status de
governante mais impopular na história do país. Algo de semelhante se passou com
o tema da consciência. Nele, a ideologia mente duas vezes, dizendo a mesma
frase: a primeira quando mente, e a segunda quando diz a verdade. Ela mente
quando diz que a consciência determina a existência – é a mentira idealista,
que os profissionais da desmistificação são plenamente competentes para
desmascarar. E mente, como o segundo judeu, ao dizer a verdade, ainda que de um
modo deformado: ela aponta com clareza para a importância intrínseca da
consciência, mas o faz de uma forma estridente que os especialistas da suspeita
não acreditam no que ela afirma, e vão procurar a verdade não em Cracóvia, onde
de fato está, mas em Lanberg. A primeira mentira usa a técnica semelhante à que
Sigmund Freud chama de Verschiebung, deslocamento – desviar a atenção de
um tema conflitivo (as condições de existência) para um campo visto como
não-problemático (a consciência). E a segunda usa uma técnica nova, que
poderíamos chamar Verblendung, ou ofuscação – isto é, a cegueira
induzida por uma luz demasiado intensa. Pela primeira mentira, destinada ao
“pensamento ingênuo”, a ideologia escamoteia as condições de existência; pela
segunda, destinada ao pensamento crítico, ela escamoteia aquilo mesmo que ela
proclama – as estruturas da consciência, impedindo que elas sejam tematizadas
em sua vinculação com as condições de existência.
O
Complexo Watergate é um robusto conglomerado de escritórios e
apartamentos localizado em Washington. Tornou-se famoso após o assalto que
levou ao escândalo político reconhecido Caso Watergate (1972),
culminando com a renúncia do Presidente Richard Nixon. Todo o complexo foi
designado como um edifício no Registro Nacional de Lugares Históricos em
12 de outubro de 2005. Seu objetivo é ajudar aos proprietários e às
associações, como o National Trust for Historic Preservation, que deve
coordenar, definir e proteger os sítios históricos dos Estados Unidos.
Watergate situa-se na parte Noroeste de Washington, D.C., no bairro de Foggy
Bottom. Está limitado ao Norte pela Virginia Avenue, à leste pela New Hampshire
Avenue, ao Sul pela F Street, e à Oeste pela Rock Creek and Potomac Parkway.
Adjacente ao complexo está o Kennedy Center e a embaixada da Arábia Saudita. A
estação do metrô de Washington mais próxima é a Foggy Bottom-GWU. Foi
construído pela companhia Società Generale Immobiliare, a maior empresa
imobiliária e de construção civil da Itália. Foi fundada em Turim em 1862, mas
anos depois se mudou para Roma com a unificação da Itália e da Alemanha, em
1871. O grande objetivo era expulsar os austríacos do Norte e estabelecer um
estado italiano coeso. Depois da mudança, a empresa se interessou pela terra
pastoral de Roma e acabou comprando parte dela. Com a aquisição de 10 acres que
constituíam uma parte do extinto Canal de Chesapeake e Ohio, no início da
década de 1960 por 10 milhões de dólares. O conjunto arquitetônico
Watergate foi inaugurado na América em 1967.
Segundo Habermas eles se inquietam com a
suposta perda de autoridade das instituições basilares, especialmente no que
diz respeito ao controle e manutenção do sistema político. Esse fenômeno social
é exposto sugestivamente sob rubricas de ingovernabilidade, o decréscimo de
confiança, a perda da legitimidade e assim por diante. A inflação começa pela
“inflação” de expectativa se reivindicações, impulsionada pela concorrência
entre os partidos políticos, concomitantemente pelas mídias de massa, pelo
pluralismo de associações etc. Essa pressão das expectativas dos cidadãos
“explode” em uma ampliação drástica do volume de tarefas estatais. Os
instrumentos de controle da administração se sobrecarregam com isso. A
sobrecarga leva tanto mais às perdas de legitimidade quando o espaço de ação
estatal é estrangulado por blocos de poder pré-parlamentares, e quando os
cidadãos responsabilizam o governo pelas perdas econômicas perceptíveis. Isso é
tanto mais perigoso quanto mais a lealdade da população depende de comparações
materiais. No começo e no fim dessa espiral se encontram recursos culturais,
isto é: a assim chamada “inflação de reivindicações” e a falta de uma “disposição
para a anuência e a obediência”, suportada pela tradição histórica e pelo
consenso de valores e imunizada contra as oscilações funcionais.
As
propostas de terapia resultaram dessa análise. As burocracias estatais precisam
de desoneração. Para isso serve a retransferência dos problemas pontuais
que oneram os orçamentos públicos do Estado para o mercado. Uma vez que, ao
mesmo tempo, a atividade de investimento deve ser promovida, a redução do
volume de tarefas precisa estender-se aos serviços sociais públicos, aos gastos
consumptivos em geral. Nesse ponto, os estímulos para uma política econômica
orientada à oferta, que quer incentivar a atividade investidora por meio de
facilitações fiscais, se ajustam comodamente ao ideário neoconservador. A tese
de Habermas é a seguinte: quanto mais fortemente o Estado se retira do processo
econômico, por exemplo, por meio de uma privatização dos serviços públicos,
tanto mais ele pode se safar das exigências de legitimação que lhe resultam da
sua competência geral para os custos sociais inerentes de um capitalismo
suscetível a perturbações. Outras concepções visam imediatamente às causas
presumidas. Os neoconservadores recomendam um desacoplamento mais forte do
Executivo em relação à formação política mais ampla da vontade, em geral uma
moderação daqueles princípios democráticos que cravam o nível de legitimação em
uma altura demasiada. Enfim, é preciso
nomear um adversário responsável por essa sobre-excitação dos recursos
culturais – a “Nova Classe” dos intelectuais. Estes liberam por negligência ou
de propósito os conteúdos explosivos da modernidade cultural; eles são os
advogados de uma “cultura hostil”, desde a perspectiva das necessidades
funcionais do Estado e da economia. Assim, os intelectuais se apresentam como
os alvos mais visíveis da crítica neoconservadora.
Historicamente desde os dias de Friedrich Hegel (1807), entre os intelectuais alemães, a sensibilidade para o preço exigido pela modernização social do mundo da velha Europa foi talhada com mais profundidade do que comparativamente a Oeste. O discernimento sobre a dialética do progresso não impediu a formação esquerda, desde Marx, de apostar nas forças produtivas do mundo moderno, ao passo que os conservadores persistiram na rejeição e na melancolia. Nesse lado das frentes da guerra civil europeia, um “sim” diferenciado à modernidade só foi alcançado no nosso século XX. Ainda assim, os jovens conservadores prepararam esse passo a passo com um gesto heroico e muitas reticências – posteriormente, autores como Joachim Ritter, Ernest Forsthoff e Arnold Gehen, que percorrem o período do pré-guerra e o pós-guerra, efetuaram de fato esse passo e na forma de uma negociação, para ser exato. A negociação consistiu em que eles aceitaram a modernidade socialmente apenas sob as condições que excluíam um “sim” à modernidade cultural. O capitalismo industrial aparece no caminho que leva à sociedade pós-industrial, sob uma luz semelhante, e é preciso explicar como as injunções dessa sociedade podem ser compensadas per se – seja por meio de tradições substanciais, as quais não são vulneráveis, seja por meio da substância autoritária de um poder estatal soberano, seja por meio da substancialidade secundária das assim chamadas “legalidades objetivas” teoricamente bastante estimulantes, reelaboradas durante a “extraordinária” década dos anos 1950, precisamente, no curso de uma reconciliação conservadora com a modernidade social, que, ao mesmo tempo, não foi necessária pelo lado dos liberais norte-americanos.
O
filósofo Habermas pretende esboçar apenas três dessas linhas de argumentação,
pois a quarta linha de pensamento, etológica, seguida por Konrad Lorenz (1903-1989), ele a deixa por ora de lado,
já que ela leva antes à Nova Direita na França do neoconservadorismo alemão:
a) pela via de uma interpretação tão fascinante dos escritos de Hegel, Joachim
Ritter descreveu a “sociedade burguesa” moderna, proveniente da Revolução
Francesa, como o espaço de duas coisas, da emancipação e da cisão. A
desvalorização do mundo tradicional, a cisão das ordens de vida historicamente
transmitidas, é vista positivamente como a única forma em que os cidadãos do
mundo moderno podem obter e preservar sua liberdade subjetiva. Por outro lado,
a sociedade econômica moderna restringe os homens ao status de
suportes da produção e do consumo. Visto
que lhe é inerente a tendência de reduzir as pessoas à sua mera natureza
carencial, melhor dizendo, mediante a noção primária uma “socialização absoluta”,
que venha a negar seus próprios pressupostos históricos, aniquilaria também as
conquistas da liberdade subjetiva. No
modo da cisão, a liberdade só poderá ser assegurada contra esse perigo de uma
socialização total se os poderes desvalorizados da tradição, isto é, “como os
poderes da vida pessoal, da subjetividade e da procedência”, mantiverem,
contudo, a força para compensar as abstrações necessárias da sociedade
burguesa. Portanto, para se estabilizar, a modernidade social precisa tornar
presente a sua própria substância histórica; em outras palavras: uma substância
desesperada, nevrálgica, já que se trata da operação paradoxalmente de um tradicionalismo perceptivelmente esclarecido.
b) Uma outra saída é buscada pela doutrina conservadora do direito público, apoiada no conceito de soberania proposto por Carl Schmitt. No começo dos anos 1950 surgira uma discussão sobre a questão de qual peso caberia à cláusula do Estado de bem-estar social, estabelecida por nossa Lei Fundamental, para a interpretação constitucional. Ernest Forsthoff defendeu então a concepção segundo a qual as normas que definem o estatuto do Estado de direito da República Federal da Alemanha deveriam manter uma procedência absoluta sobre a cláusula que exigia o Estado de bem-estar social, a qual deveria ser entendida apenas como recomendação política. Essa questão da dogmática jurídica só se torna compreensível quanto ao seu conteúdo em termos de filosofia da história quando mantemos em vista a premissa, quando lembramos a interpretação de Hegel feita por Ritter: a sociedade que representa o substrato da democracia de massas do Estado de bem-estar social não é por si mesma capaz de estabilização e requer compensações. Todavia, Forsthoff não quer ver a dinâmica dessa sociedade represada pelo contrapeso de uma tradição retoricamente evocada, mas sim pelo Estado soberano. O Estado só poderá desdobrar a força necessária para estabilizar a modernidade social se for imune, em caso de urgência, aos motivos alegados em nome de interesses sociais. O guardião do bem comum precisa ter o poder político de não argumentar e, em vez disso, decidir. O político deveria permanecer avesso aos pontos de vista da justificação moral.
c)
Esta terceira linha formulada de argumentação é seguida por Arnold Gehen. Em sua
importante antropologia do começo dos anos 1940, ele acentuara a plasticidade
incrível e a vulnerabilidade da essência humana, que não se define por
instintos e, em virtude disso, depende da força regulamentadora de instituições
arcaicas e naturalizadas. Desse ângulo de visão, a demolição de instituições
sacrais, a perda da autoridade da Igreja, do Exército e do Estado, e mesmo o
desvanecimento de sua substância suprema, devem ser considerados o sinal de um
desenvolvimento patológico. Daí se aplica a crítica cultural rude que Gehlen
exerceu inicialmente, a pós a Guerra. Os espaços livres desinstitucionalizados
são minados pela energia psíquica de uma interioridade inflada, pela subjetividade
da vivência e pela reflexividade da fruição de si mesmo. Cada passo para a
emancipação para os indivíduos de controles automáticos da ação. Expõe-no sem
proteção a seus impulsos divagantes, sobrecarrega-o com a exigência de decisão,
faz dele tanto mais servo quanto mais se propalam os ideais de autodeterminação
e da autorrealização. Além do mais, a complexidade crescente da sociedade faz
estreitar as margens da ação responsável, ao passo que inunda pari passu o
interior com os estímulos provocantes, emoções e experiências de segunda mão.
Esse
tom se altera no curso dos anos 1950, quando Gehen se familiariza com uma tese
tecnocrática que lhe possibilita ver a sociedade moderna sob uma luz diferente.
Enfim, de acordo com essa ideia, a economia, a administração estatal, a técnica
e a ciência se vinculam no interior da jaula de ferro da modernidade, formando
as leis funcionais que parecem ininfluenciáveis e que agora assumem a liderança
no lugar das instituições demolidas. Em 1960, Gehen tentou comprovar essa tese
com o exemplo do desenvolvimento da pintura moderna. Entretanto, a arte
reflexiva tornou-se “incapaz de antagonismo”. Diante desse pano de fundo,
trona-se clara que a cena transformada nestes anos, com a renovação de uma
crítica militante da sociedade e de uma tradição de Esclarecimento mobilizada
em toda a sua amplitude, com um movimento antiautoritário, com a nova irrupção
da vanguarda nas artes plásticas e uma contracultura esteticamente inspirada,
despertou à vida tudo o que os teóricos conservadores acreditaram estar morto.
Segundo Habermas, teóricos como Ritter, Forsthoff e Gehen se conciliaram com a
modernidade social justamente na base de uma modernidade cultural paralisada.
Esa guinada em direção ao aspecto prático e polêmico explica por que os
neoconservadores alemães puderam caminhar na trilha que tomaram, não precisando
oferecer nada de absolutamente novo no plano teórico. Quando muito, é novo o
tipo de professor que cumpre corajosamente seu figurino nos fronts semânticos
da guerra civil.
De
acordo com Habermas, a doutrina neoconservadora que ao longo dos anos 1970 se
infiltrou no nosso cotidiano político por meio da imprensa, segue um caminho
simples: o mundo moderno se restringe ao progresso técnico e ao crescimento
capitalista; moderna e desejável é toda dinâmica social que remonta, em última
instância, aos investimentos privados; carecem de proteção também as reservas
motivacionais das quais se nutre essa dinâmica. Em contrapartida, são iminentes
os perigos provocados pelas mudanças culturais no mundo da vida, criando assim
curto-circuitos. Por isso, as reservas da tradição deveriam ser congeladas na
medida do possível. As propostas terapêuticas que penetraram a política do dia
a dia podem se resumir a três elementos. Em primeiro lugar: todos os fenômenos
que não se ajustam à imagem de uma modernidade pacificada por meio de
compensações, projetada por autores como Ritter, Forsthoff ou Gehlen, são
personalizados e moralizados, isto é, lançados na conta dos intelectuais de
esquerda; esses promoveriam uma revolução cultural a fim de assegurar sua
própria dominação, “o domínio sacerdotal da nova classe”. Em segundo lugar: os
conteúdos explosivos da modernidade cultural, dos quais se alimenta essa
revolução cultural, precisam ser desativados, de preferência declarando-os
coisa do passado. Na verdade, já alcançamos a margem da salvação representada
pela pós-história, pelo pós-Esclarecimento ou pela pós-modernidade – só os
retardatários, cativos da sonolência dogmática de um “humanitarismo”, não notaram
ainda a mudança no processo global de comunicação. Em terceiro lugar: as consequências
colaterais socialmente indesejadas de um crescimento econômico politicamente
sem direção são deslocadas para o plano de uma “crise espiritual e moral” e
precisam de compensação por meio do common sense incompto, da
consciência da história e da religião.
Jürgen
Habermas comenta essas três recomendações, de acordo com a sequência. Ad I) A crítica aos intelectuais, à
qual Arnold Gehlen dedicou o trabalho de uma década devida e que foi ampliada
por H. Schelsky na teoria da “Nova Classe”, bebe três fontes. De início, ele
mobiliza aqueles clichês que se amontoaram na “história de um palavrão”, desde
o dia da campanha contra o capitão judeu Alfred Dreyfus (1894). Dietz Bering
investigou essa história, e seu estudo agregou um catálogo de termos curtos e
grossos que vai desde “abstrato”, “abstruso” e “sedicioso”, passa por
“decadente”, “formalista”, “suspenso no ar”, “critiqueiro”, “mecanicista”,
“oportunista”, “parasitário”, “radical”, “alheio à raça”, “revolucionário”,
“mordaz”, “sórdido”, “desalmado”, autocrático”, “sem substância”, e chaga a
“estiolado”, “alheio ao mundo”, “desenraizado”, “desagregador”, “indisciplinado”
e cínico. Para quem atravessou por esse catálogo com seus quase mil registros,
a crítica mais recente aos intelectuais não pode dizer muto de novo. Em segundo lugar, a firmação de uma dominação
sacerdotal dos intelectuais se apoia em determinadas tendências. Assim, por
exemplo, nas sociedades pós-industriais cresce a parcela das profissões
acadêmicas e, de maneira geral, aumenta a importância do sistema científico e
educacional. No entanto, das profissões intelectuais, Schelsky seleciona apenas
os professores e os publicistas, os padres e os assistentes sociais, os
pesquisadores das ciências humanas e os filósofos, para estilizá-los em uma classe
exploradora constituída pelos mediadores do sentido – ao passo que os demais
fazem o trabalho. Essa construção ocidental não combina com ninguém – a não ser
com os próprios intelectuais neoconservadores. Mas nem sequer eles creem nela.
Richard Löwenthal critica convincentemente os curtos-circuitos dos quais a
concepção da “Nova Classe” é tributária: - A primeira equiparação falsa é
aquela entre um setor social e uma classe. A segunda equiparação falsa é aquela
entre influência e poder. A terceira equiparação falsa é aquela entre uma
erupção quialista da fé, é o proeminente quialismo, ou milenarismo, que
é a crença em um reinado visível de Cristo em glória na Terra, com os santos
ressuscitados, por mil anos, antes da ressurreição geral e do julgamento, suportada
por esperanças escatológicas e, por isso, necessaria, de curta duração, e
uma religião capacitada para formar em longo prazo o cotidiano
socialmente.
O
terceiro elemento é o vínculo idealista dos intelectuais com as crises do
sistema educacional. As reformas educacionais, forçadas por mudanças
estruturais, adiadas na Alemanha por um longo tempo, ocorreram, de fato, em uma
época em qua a política educacional se encontrava sob a influência de objetivos
liberais e moderadamente de esquerda. E, de fato, só a própria práxis
reformista provocou a tomada de consciência plena dos perigos da juridificação
e da burocratização, inclusive dos perigos de uma cientificização da
pedagogia, ipso facto de um âmbito de atividade insatisfatoriamente
profissionalizado. Mas os neoconservadores falseiam essas consequências não
intencionadas, atribuindo-as aos propósitos de uma revolução cultural; e
conseguiram fazer dessas consequências colaterais, sentidas a contragosto, um
pretexto para mobilizar ressentimentos das camadas médias, visto que a campanha
contra os intelectuais oferecia o elo de ligação para produzir uma conexão
fatal entre a crítica social, a reforma educacional e o terrorismo de esquerda.
As análises biográficas efetuadas nesse meio-tempo sobre carreiras de
terroristas dissolveram no nada essa alucinação. De resto, esses autores
apressados estariam se perguntando o que será que viria à tona caso se fizesse
a tentativa de explicar queiramos ou não, a condição e possibilidade do terrorismo de direita nos moldes da responsabilidade
objetiva, os quais continuam e encontrar ressonância apenas no âmbito infeliz da dominação
stalinista.
Ad
2) A tese do esgotamento da modernidade cultural se refere a todos os
três componentes: às ciências tecnicamente bem-sucedida, à arte de vanguarda e
à moral universalista, conceituados por Jean-Jacques Rousseau e Immanuel Kant. Para
Jürgen Habermas em consideração à ciência, a mensagem é simples. Se o progresso
científico se tornou “desinteressante do ponto de vista da política de ideias”,
se a solução dos problemas científicos não toca mais de modo algum nos nossos
problemas vitais, não se pode esperar mais nada, para o cotidiano, das culturas
de especialistas encapsulados – fora as inovações técnicas e as recomendações
em termos de técnicas sociais. Após o Esclarecimento, os conhecimentos
científicos só devem ser usados ainda para o progresso técnico e, quando muito,
para o planejamento econômico e administrativo. A força orientadora da ação é
concedida apenas às ciências históricas que presentificam as tradições e
asseguram as continuidades teorias e convicções com meios narrativos. Isso
explica a valorização das ciências do espírito que procedem em termos
narrativos e, ao mesmo tempo, a desconfiança em relação à história como ciência
social e uma desvalorização significativamente da sociologia, em geral das ciências sociais
fecundas para a realização de diagnósticos. Isso não passaria pela cabeça dos
neoconservadores norte-americanos, pelo fato de que seus porta-vozes são
quase exclusivamente sociológicos.
Desta
perspectiva, torna-se compreensível igualmente a resistência contra as reformas
escolares, que desembocam na absorção de matérias das ciências sociais nos
planos de ensino. No entanto, a esse surto das ciências sociais na configuração
dos planos de ensino, que ocorrera nos Estados Unidos da América algumas
décadas antes, seria possível reagir com maior serenidade caso fosse lembrado o
conflito disputado no final do século XIX entre os defensores das Humaniora
e das Realien, as ciências naturais. De resto, a tese do
pós-Esclarecimento é tudo, menos convincente. Certamente, as imagens
metafísicas e religiosas do mundo se decompuseram. As ciências empíricas não
oferecem nenhum substituto para elas. Mas já o alto nível de sínteses
científicas popularizadas testemunha que os conhecimentos cosmológicos sobre a
origem e o desenvolvimento do universo, que os conhecimentos biomédicos sobre o
mecanismo da transmissão hereditária, que principalmente os conhecimentos
antropológicos e etológicos sobre a história natural do comportamento humano e
a evolução genética de nossa espécie, que os conhecimentos
psicológicos sobre o desenvolvimento da
consciência moral, de seus afetos e impulsos, que a psicologia das doenças
mentais, que os conhecimentos sociológicos sobre o surgimento e o desdobramento
das sociedades modernas – que tudo isso continua a afetar a autocompreensão dos
sujeitos agentes.
Esses
conhecimentos alteram também os standards da discussão de problemas
vitais, para os quais as próprias ciências empíricas não têm uma resposta
pronta. Finalmente, seria preciso perguntar aos neoconservadores, que gostariam
assim de colocar a ciência à distância, como é que eles mesmo querem comprovar
suas respostas bastantes eloquentes sobre a lastimada crise de orientação - se
não é com argumentos que devem resistir ao exame científico. Desta perspectiva
se explica a precedência das instituições de controle despolitizadas, em geral
a estilização de uma pretensa concorrência entre a divisão dos poderes e a
democracia. Em ambos os casos, as argumentações desembocam na ideia de que a
ordem estatal deve ser desonerada do conflito democrático de opiniões a
respeito das finalidades político-sociais. O elemento prático-moral, do qual a
política deve ganhar distância, é uma democratização dos processos de decisão
que coloca a ação politica sob os pontos de vista controversos da justiça
social, em geral das formas de vida desejáveis. Vale lembrar que a atualidade no
âmbito do pensamento social e dessas reflexões está ao alcance da mão em uma
situação na qual se trata da questão de princípio. Isto é, sobre qual medida de
injustiça social estamos dispostos a acatar para recolocar em marcha um
crescimento econômico inalterado em seus mecanismos de propulsão, em vista da
crise financeira dos orçamentos domésticos. Esse mecanismo pró-capitalista
requer que a distribuição dos locais de trabalho suceda apenas
segundo o mercado de trabalho, mesmo no caso de o exército industrial de
reserva formado pelos desempregados crescer cada vez mais.
Ad 3) Finalmente, a despedida programática da modernidade cultural deve criar espaço para uma consciência saudável da tradição. Tão logo a modernidade cultural feche as portas todas as comportas abertas para a práxis cotidiana, tão logo as culturas de especialistas sejam isoladas suficientemente da prática cotidiana, os poderes permanecentes do common sense, da consciência histórica e da religião se veem em seu direito. O parto do pós-Esclarecimento carece, no entanto, do auxílio neoconservadores. Estes se concentram na “coragem para educar”, ou seja, em uma política educacional que talhe a educação escolar fundamental de acordo com as habilidades elementares e as virtudes secundárias como diligência, disciplina e asseio. Ela se concentra, ao mesmo tempo, na “coragem de encarar o passado”, na escola, na família e no Estado. Os neoconservadores veem sua tarefa, na mobilização dos passados em relação aos quais é possível comportar-se com anuência e, por outro lado, na neutralização moral de outros passados que poderiam provocar tão somente crítica e rejeição. Walter Benjamin mencionou “a empatia com o vencedor” como uma característica do historicismo. Gustav Heinemann (1899-1976), que, no espírito de Benjamin, havia exortado adoção dos vencidos, dos insurgentes e dos revolucionários derrotados, teve de ouvir que essa orientação pelo ideal do próprio passado seria uma “fixação da imaturidade”.
Enfim, no lugar de imperativos econômicos e administrativos, as assim chamadas coerções econômicas, que monetarizam e burocratizam cada vez mais os âmbitos da vida, que transformam cada vez mais as relações em mercadorias e em objetos de administração - no lugar do foco real da crise da sociedade, eles colocam o fantasma de uma cultura subversivamente transbordante. Essa análise falsa explica também que, para os neoconservadores, quando têm de escolher, o mundo da vida, mesmo o familial, de modo algum é tão sagrado como o alegam. Enquanto os democratas cristãos não têm nenhuma inibição em encher a Alemanha com cabos de televisão privada, os social-democratas, em questões de política para as mídias, são antes os guardiões da tradição. Nós temos de lidar cuidadosamente com a substância de formas de vida comprovadas, na medida em que não foram ainda destruídas pela dinâmica de crescimento da modernização social. Pergunta-se somente quem cuida dessas reservas em caso de urgência. A cultura política da Alemanha estaria pior se não tivesse aceitado e assimilado, nas primeiras décadas depois da guerra, estímulos provenientes da cultura política da América do Norte. A Alemanha se abriu sem reservas ao Ocidente pela primeira vez; nós nos apropriamos então da teoria política do esclarecimento, compreendemos a força do pluralismo que marca as mentalidades e que foi suportado inicialmente em sua origem teológica por seitas religiosas, travamos conhecimento com o espírito democrático-radical do neopragmatismo norte-americano, de Charles Peirce a George Herbert Mead e John Dewey. Os neoconservadores alemães se desviam dessas tradições, eles bebem de outra fonte. Eles recorrem a um constitucionalismo alemão que da democracia não reteve tempo muito mais do que o Estado de direito; recorrem aos motivos do eclesiasticismo estatal luterano que se enraíza em uma antropologia pessimista; recorrem aos motivos de um jovem conservadorismo cuja herança só conseguiram levara diante em uma negociação inconvicta com a modernidade.
Bibliografia Geral Consultada.
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