terça-feira, 4 de setembro de 2018

Maria Lata d`Água - Conversão & Nudez da Memória do Carnaval.

                                                                                                     Ubiracy de Souza Braga

  Eu prefiro Maria lata d’água, para a conversão de muitos”. Maria Mercedes Duarte

                     
             Nascida em Minas Gerais, Maria Mercedes Duarte, seu nome de batismo, mais  reconhecida como Maria Lata D`Água, mudou para o Rio de Janeiro aos 11 anos de idade e se tornou um dos destaques do carnaval carioca. Foi passista em diversas escolas, desfilou por 45 anos na Rua Marquês de Sapucaí e é a mulher que inspirou a marchinha “Lata d’água na cabeça”, de Luís Antonio e Candeias Júnior.  Começou no carnaval carioca em 1949, desfilando pelo Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, frequentemente referida apenas como Salgueiro, é uma das mais tradicionais escolas de samba do Rio de Janeiro. Originária do Morro do Salgueiro, é sediada na Rua Silva Teles, nº 104, no bairro do Andaraí, onde funciona a Vila Olímpica do Salgueiro. Foi fundada em 5 de março de 1953, a partir da fusão de duas escolas de samba do Morro do Salgueiro, a “Depois Eu Digo” e a “Azul e Branco”. Azul e Branco foi uma tradicional escola do Rio de Janeiro, situada no Morro do Salgueiro.  A agremiação foi campeã do concurso oficial de escolas de samba (1933). O enredo “Triunfo ao samba”, não obteve classificação tanto no desfile oficial, quanto no desfile extraoficial.
          Também não foi julgada em 1935, quando desfilou com o enredo “Uma manhã no Salgueiro, o berço do samba”. Em 1953, fundiu-se com a escola Depois eu Digo, da mesma localidade, para fundar o Acadêmicos do Salgueiro. - “Passei minha infância no Arraial de Baixo aqui em Diamantina, aos sete anos eu já carregar água na cabeça, não tinha encanada, aos 13 anos sai de casa fui tentar a vida no Rio, de diversas formas. Um dia me convidaram para trabalhar num circo, em Nova Iguaçu (RJ), para encher linguiça até os grandes artistas chegarem, mas eles não chegaram. O circo estava cheio e o patrão não sabia o que fazer. Disse que poderia dançar com uma lata d´água na cabeça. Não aceitaram inicialmente, mas com necessidade acabaram aceitando. No final, tudo deu certo”. Foi um sucesso, logo após foi convidada a participar no programa de televisão do Chacrinha, de grande repercussão e audiência nacional, consagrando-a definitivamente como Maria Lata D´água. Vieram os convites para desfilar no Carnaval, convidada a desfilar na Escola de Samba Salgueiro, que não aceitou que saísse com a lata na cabeça, mas foi a Portela, outra escola carioca que a manteve como passista, mas desta vez como a Maria Lata D´água, por 45 anos. Como passista participou de desfiles de escolas de samba de várias apresentações na Europa, onde viveu 30 anos, ao casar-se com um suíço, retornava ao seu país para o tão esperado desfile de carnaval. Começou a sua vida artística trabalhando em circo e boates, fazendo show com  as cantoras Marlene, Emilinha Borba e outros artistas.
             Do ponto de vista antropológico, o carnaval é um ritual de reversão, no qual os papéis sociais são invertidos e as normas de comportamento social são suspensas. A letra da música foi escrita pelos compositores Luís Antonio e Jota Júnior, em 1952, mas reconhecida na voz da cantora Marlene, narra a história social de Maria Mercedes Chaves Roy. Nascida em Diamantina, em Minas Gerais, a menina, que chegou a capital fluminense aos 11 anos de idade, viveu nas ruas dos 13 aos 16 anos e foi prostituta até os 33. Ícone do Carnaval carioca, Maria sambou pela primeira vez com uma lata d'água na cabeça aos 18 anos. – “Saía dançando na avenida apenas nas pontas dos dedos. Ajoelhava e sentava no chão, esticava as pernas sentava nos pés, como uma bailarina, equilibrando a lata apenas com o pescoço. Não deixava cair nenhuma gota de água para fora!”. Foram ao todo 45 anos de desfiles na Avenida Marquês de Sapucaí por inúmeras escolas, entre elas Salgueiro, Portela, Estácio de Sá, Padre Miguel e Beija-Flor.
Marlene, nome artístico de Victória Bonaiutti de Martino (1922-2014), foi uma cantora e atriz brasileira, reconhecida como a Artista mais Artista das Artistas do Brasil. Tendo gravado mais de quatro mil canções em sua carreira, Marlene foi um dos maiores mitos do rádio brasileiro em sua época de ouro. 
         Sua popularidade nacional também resultou em convites para o cinema, onde fez onze filmes depois de Corações sem Piloto, de 1944 e para o teatro onde trabalhou em cinco peças após Depois do Casamento, em 1952, tendo também trabalhado em cinco revistas depois de Deixa Que Eu Chuto (1950). Suas atividades internacionais incluíam turnês pelo Uruguai, Argentina, Estados Unidos da América, onde se apresentou no Waldorf-Astoria Hotel e no Hilton Palmer House (Chicago). Na França apresentou-se por quatro meses e meio no Olympia em Paris, a convite de Édith Piaf, sendo a primeira cantora brasileira a pisar nesse palco sagrado da música. Compositora bissexta, teve seu samba-canção A Grande Verdade em parceria com Luís Bittencourt gravado por Dalva de Oliveira, em 1951. Nasceu e cresceu no bairro paulistano da Bela Vista, um reconhecido reduto de ítalo-brasileiros. Seus pais eram Vittorio Bonaiutti e Antonietta De Martino, ambos imigrantes italianos, e Victória era a mais nova de três filhas. Ela herdou o nome do pai, que morreu sete dias antes de seu nascimento. Sua mãe não se casou novamente, e criou sozinha as filhas, dando aulas de alfabetização no Instituto de Surdos e Mudos de São Paulo e como costureira. Devota da Igreja Batista, internou a filha mais nova no Colégio Batista Brasileiro, cujas mensalidades foram dispensadas em troca de serviços prestados ao colégio, como arrumação dos quartos. Marlene estudou ali dos nove aos quinze anos, destacando-se nas atividades esportivas, assim como no coro juvenil da igreja.
            Ao deixar o colégio, foi cursar contabilidade na Faculdade do Comércio, situada na Praça da Sé. Na mesma época, emprega-se como secretária, durante o dia, num escritório comercial. É quando começa a participar de uma federação de estudantes, recém formada, a qual passa a dispor de um espaço na Rádio Bandeirantes, a Hora dos Estudantes, programa em que seria cantora. Foi quando seus colegas estudantes, por eleição, escolheram seu nome artístico, em homenagem à atriz alemã Marlene Dietrich. Em 1952, casou-se com o ator Luís Delfino, com quem contracena no filme Tudo Azul. Formaram o famoso “Casal 20”. Tiveram um programa intitulado: Marlene, Meu Bem, era um programa diferente, pois apesar de no começo ser um programa de rádio, já possuía cenários. Após um tempo o programa também a ser veiculado na TV Record, com grande sucesso. O casal adotou uma criança que lhes fora apresentada durante um programa na rádio Nacional, tudo televisionado pela TV Rio. Sérgio Henrique Bonaiutti dos Santos, o pequeno era noticiado como uma criança loira, de olhos azuis, parecia um príncipe, porém Marlene e Delfino nunca expuseram fotos da criança na mídia. Após onze anos de matrimônio, o casal se separou, o desquite foi muito comentando na época. Ainda na década de 1960, Marlene se casou novamente, mas com o empresário Paulo Barros. Sérgio Bonaiutti tem uma filha, chamada Ágatha Nogueira Bonaiutti.
        Victória acabou deixando o curso de contadora em segundo plano, priorizando sua atividade artística. Então, em 1940, ela estreou como profissional na Rádio Tupi de São Paulo. Tudo isto, contudo, fez escondida da família, que, por razões religiosas e sociais vigorantes na época, não poderia admitir uma incursão no mundo artístico. O nome artístico esconderia sua verdadeira identidade até ser descoberta faltando aulas por causa de seu expediente na rádio, o que resultou num castigo exemplar da parte de sua mãe. Mas ela já estava decidida a seguir carreira. Em 1942, foi contratada pelo Cassino Império, no Recife. Em 1943, partiu para o Rio de Janeiro, onde, após ser aprovada no teste com Vicente Paiva, passou a cantar no Cassino Icaraí, em Niterói. Ali permaneceu por dois meses até conhecer Carlos Machado, que a convidou para o Cassino da Urca, contratando-a como vocalista de sua orquestra. Em 1946, houve a proibição dos jogos de azar e o consequente fechamento dos cassinos por decreto do presidente Eurico Gaspar Dutra. Marlene, então, mudou-se com a orquestra de Carlos Machado para a Boate Casablanca. Dois anos depois, tornou-se artista do Copacabana Palace a convite de Caribé da Rocha, que a promoveu de crooner a estrela da casa.
          Passou a atuar também na Rádio Mayrink Veiga e, no ano seguinte, na Rádio Globo. Nesse ínterim, já se tinha dado sua estreia no disco, pela Odeon, em meados de 1946, com as gravações dos sambas Suingue no morro (Amado Régis e Felisberto Martins) e Ginga, ginga, moreno (João de Deus e Hélio Nascimento). Mas foi no carnaval do ano seguinte que Marlene emplacou seu primeiro sucesso, a marchinha Coitadinho do papai (Henrique de Almeida e M. Garcez), em companhia dos Vocalistas Tropicais, campeã do concurso oficial de músicas carnavalescas da Prefeitura do Distrito Federal. E foi cantando esta música que ela estreou no programa César de Alencar, na Rádio Nacional, com grande sucesso, em 1948. Marlene se tornaria uma das maiores estrelas da emissora, recebendo de César, o slogan: “Ela que canta e dança diferente”. Ainda nesse ano, foi contratada pela gravadora Continental, estreando com os choros: Toca, Pedroca (Pedroca e Mário Morais) e Casadinhos (Luís Bittencourt e Tuiú), este cantado em duo com César de Alencar. Marlene esperou o fim de seu contrato com o Copacabana Palace para abandonar os espetáculos nas boates, dedicando-se ao rádio, aos discos e, e em sua trajetória artística, posteriormente, ao cinema e ao teatro.
         Em 1955, esteve na Argentina, gravando o filme: Adios Problemas. Porém Marlene não ficou parada no tempo. Na década de 1960, participou dos famosos festivais, teve música censurada (Pirambeira, de Hermínio Bello de Carvalho e Maurício Tapajós) e ela mesma foi censurada devido sua dança ter sido considerada sensual durante uma apresentação. Também apresentou programas musicais nas TV`s Rio e Record. Em 1968, o show Carnavália, ao lado de Nuno Roland, Blecaute e Eneida, foi sucesso de crítica e público no Teatro Casa Grande, relembrando aos desavisados, que Marlene era “a artista mais artista dos artistas”, como dizia José Messias. Em 1969, continuou a gravar compositores da nova geração, que resultou no show É a Maior, Milton Nascimento, Marcos Valle, Arthur Verocai (também assinava os arranjos e tocava guitarra), entre outros. Na década de 1970, participou de peças de teatro: Botequim, O Quarteto, Ópera do Malandro, além de antológicos shows como: Te Pego Pela Palavra. Em 1972, “puxou” o samba-enredo da escola de samba carioca Império Serrano, homenageando Carmen Miranda, foi a campeã do Carnaval. Participou também do famoso Projeto Pixinguinha, ao lado de João Bosco, Gonzaguinha, Carlinhos Vergueiro, Antônio Adolfo e Wanda Sá. Em 1977, apresentou o programa Levanta Poeira, na TV Globo, tendo com Leny Andrade, Emílio Santiago, Nara Leão, entre personalidades do mundo artístico e da música popular brasileira.
        Na Antiguidade, historicamente, os povos consideravam o inverno como um “reino de espíritos” que precisavam ser expulsos para que clima do verão voltasse. O carnaval, analogamente pode assim ser considerado como um rito de passagem da escuridão para a luz, do inverno ao verão: uma celebração de fertilidade, a primeira festa de primavera do Ano Novo. Entre os antigos egípcios havia as festas de Ísis e do boi Ápis; entre os hebreus, a festa das sortes; entre os gregos antigos, as bacanais; na Roma Antiga, as lupercais, as saturnais. Festins, músicas estridentes, danças, disfarces e licenciosidade formavam o fundo destes regozijos. Os gauleses tinham festas análogas, especialmente a grande festa do inverno que é marcada pelo adeus à carne e a partir dela se fazia um período de abstinência e jejum, como o seu próprio nome em latim “carnis levale” o indica. Outros estudiosos compreendem a origem do nome romano para a festa do “Navigium Isidis” (“navio de Isis”), onde a imagem de Ísis era levada à praia “para abençoar o início da temporada de velejamento”. O festival era um grande e caloroso desfile de máscaras que seguia um barco de madeira decorado, representando a origem dos carros alegóricos dos carnavais modernos e contemporâneo propriamente dito.


Emília Savana da Silva Borba, nasceu no Bairro da Mangueira, na cidade do Rio de Janeiro em 31 de agosto de 1923. Era filha de Eugênio Jordão Borba e Edith da Silva Borba. Ainda menina e contrariando um pouco a vontade de sua mãe, apresentava-se em diversos programas de auditório e de calouros. Ganhou seu primeiro prêmio, aos 14 anos, na Hora Juvenil, da Rádio Cruzeiro do Sul. Cantou também no programa Calouros de Ary Barroso, obtendo a nota máxima ao interpretar “O X do Problema”, de Noel Rosa. Logo depois, começou a fazer parte dos coros das gravações da Columbia. Formou, na mesma época, uma dupla com Bidu Reis (Edila Luísa Reis), chamada As Moreninhas. A Dupla se apresentou em várias rádios, durante cerca de um ano e meio. Logo depois, a dupla gravou para a “Discoteca Infantil” um disco em 78 RPM com a música “A História da Baratinha”, numa adaptação de João de Barro. Desfeita a dupla, Emilinha passou a cantar sozinha e foi logo contratada pela Rádio Mayrink Veiga, recebendo de César Ladeira o slogan “Garota Grau Dez”. Em 1939, foi convidada por João de Barro para participar da gravação da marcha Pirulito cantada por Nilton Paz, sendo que no disco seu nome não foi creditado, apenas o do cantor. Em março do mesmo ano grava, pela Columbia e com o nome de Emília Borba, seu disco solo em 78 RPM, com Benedito Lacerda e seu conjunto, com o samba-choro: Faça o mesmo, de Antônio Nássara e Eratóstenes Frazão e o samba: Ninguém escapa de Eratóstenes Frazão. Também em 1939, foi levada por sua madrinha artística, a famosa Carmen Miranda, de quem sua mãe era camareira, para fazer um teste no Cassino da Urca (RJ). Por ser menor de idade resolveu alterar sua idade para alguns anos a mais. Além disso, Carmen Miranda emprestou-lhe um vestido e sapatos plataforma. Aprovada por Joaquim Rolla proprietário do Cassino da Urca, contratada, passou a se apresentar como “crooner”, tornando-se logo em seguida uma das principais atrações daquela casa de espetáculos. 

Ainda em 1939, atuou no filme Banana da Terra, de Alberto Bynton e Rui Costa. Esse filme contava com um grande elenco: Carmen Miranda, Aurora Miranda, Dircinha Batista, Linda Batista, Almirante, Aloísio de Oliveira, Bando da Lua, Carlos Galhardo, Castro Barbosa, Oscarito e Virgínia Lane, a “Vedete do Brasil”. Em 1940, gravou com Radamés Gnattali e sua orquestra os sambas “O Cachorro da Lourinha” e “Meu Mulato Vai ao Morro”, da dupla Gomes Filho e Juraci Araújo. Nesse ano, apareceu nos filmes Laranja da China, de Rui Costa e Vamos Cantar, de Leo Marten. No ano seguinte, assinou contrato com a Odeon, gravadora onde sua irmã, a cantora Nena Robledo, casada com o compositor Peterpan já era contratada. Com o nome de Emilinha Borba, lançou os sambas “Quem Parte leva Saudades”, de Francisco Scarambone, e “Levanta José”, de Haroldo Lobo e Valdemar de Abreu. Gravou ainda um segundo disco na Odeon com o samba “O Fim da Festa”, de Nelson Teixeira e Nelson Trigueiro, e a marcha “Eu Tenho Um Cachorrinho”, de Georges Moran e Osvaldo Santiago. Em 1942, foi contratada pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, desligando-se meses depois. Em setembro de 1943, retornou ao cast da Emissora, firmando-se a partir de então, e durante os 27 anos que lá permaneceu contratada, como a “Estrela Maior” da emissora PRE-8, a líder de audiência. Enquanto naquela emissora, Emilinha atingiu o ápice de sua carreira artística, tornando-se a “cantora mais querida e popular do país”. 

Teve participação efetiva em todos os seus programas musicais, bem como, foi a “campeã absoluta em correspondência” por 19 anos de pesquisa naquela emissora de 1946 à 1964.  O apelido lata d`água ganhou fama porque fazia suas apresentações dançando com uma lata d’água na cabeça. O sucesso de suas apresentações era tanto, que fez com que Maria Lata D’Água assinasse um contrato no inicio da década de 1950, com a rede Globo de televisão para participar do programa do popular apresentador Abelardo Barbosa - Chacrinha. Em entrevistas concedidas, Maria Lata D’Água rememora. - “Um dia me convidaram para trabalhar num circo, em Nova Iguaçu (RJ), para encher linguiça até os grandes artistas chegarem, mas eles não chegaram. O circo estava cheio e o patrão não sabia o que fazer. Disse que poderia dançar com uma lata d’água na cabeça. Ele não concordou. Tinha outra Maria da Bahia, que dançava igual. Eu disse que fazia melhor. Ele pediu show de 2 horas e, no fim, deu certo. Até que um dia me convidaram para sair numa escola de samba”. Maria Lata D’Água desfilou em inúmeras escolas cariocas, mas a sua preferida era a Portela. Foi lá que ela desfilou por mais tempo. Morou na Suíça durante 30 anos, mas todo ano voltava para desfilar na Portela. Em 1952, ganhou uma justa homenagem. Os compositores Luís Antônio e J. Júnior compôs a música “Lata d’água”, em homenagem à célebre passista da Portela. Enquanto a sociedade civil se prepara para a grande festa secular do Brasil, as igrejas evangélicas se organizam para dedicar os quatro dias do feriado a um momento de grande espiritualização e adoração a Deus. O retiro espiritual é uma atividade evangélica que proporciona tempo aos participantes para olhar os principais pontos da vida, o que está bem, o que está mal e como melhorar. Retiros podem ter diversos formatos e duração, uma forma comum tem dois dias de duração (final de semana) e é realizado em uma casa de retiro, um local que permite contato com a natureza e tranquilidade. São ministradas palestras por sacerdote e leigos, há atividades como Santa Missa, Terço e Via Sacra, entre outras práticas de piedade. Milhares de jovens encontram-se na contramão daquilo que que eles façam no carnaval e se unem em encontros cristãos, com direito a pregação, louvor e oração. 

E porque diversão não é pecado, os cada vez mais populares acampamentos evangélicos de carnaval reservam espaço na agenda para várias brincadeiras, atividades esportivas, shows, passeios e mergulhos na piscina, para afastar o calor. A Igreja Renascer em Cristo é uma das inúmeras denominações que, todos os anos, organiza um retiro para os jovens do ministério. Outras igrejas seguem a mesma ideia privatista e promovem acampamentos durante o feriado de carnaval, tudo como parte da estratégia de evangelização em uma festa tão tradicional e popular entre os “não crentes”. Vários jovens levam convidados para os acampamentos e muitas pessoas têm sido edificadas pela pregação da palavra e atuação do Espírito Santo nos acampamentos das igrejas. Várias outras igrejas seguem a mesma ideia e promovem acampamentos durante o feriado de carnaval, tudo como parte da estratégia de evangelização em uma festa tão tradicional e popular entre os “não crentes”. O objetivo é afastar jovens das festas de carnaval, promovendo série de eventos conferências e retiros religiosos.


Imagem do processo de conversão.
Gradualmente, a autoridade eclesiástica começou a perceber que o resultado desejado não poderia ser alcançado através da proibição das tradições, o que acabou levando a um grau de cristianização da festividade. Os festivais passaram então a fazer parte da liturgia e do ano litúrgico. Embora formando uma parte integrante do calendário cristão, particularmente em regiões católicas, muitas tradições carnavalescas se assemelham àquelas do período pré-cristão. Acredita-se que o carnaval italiano seja em parte derivado das festividades romanas antigas da Saturnália e da Bacchanalia. As Saturnálias, por sua vez, podem ser baseadas nas festas dionisíacas da Grécia Antiga e em festivais orientais. Enquanto desfiles medievais como o Corpus Christi sancionado pela Igreja, o carnaval também representava uma manifestação da cultura folclórica medieval. Muitos costumes locais do carnaval podem derivar de rituais pré-cristãos locais, tais como os ritos elaborados que envolvem figuras mascaradas no Fastnacht, carnaval antecipado no sudoeste da Alemanha. Evidências ainda são insuficientes para estabelecer uma origem direta da Saturnália ou outras festas antigas com o carnaval.
Maria Lata D’Água não desfila desde 1991, quando ingressou na Igreja Canção Nova, uma comunidade católica fundada em 1978, que tem como reflexão ideológica a Renovação Carismática Católica. O tempo passou, porém quem disse que Maria Lata D’Água ainda não tem samba no pé? Em um vídeo editado no site da igreja “Comunidade Canção Nova” é possível conferir com gratidão o seu rebolado. Devido ao engajamento litúrgico, Maria Lata D’Água faz apresentações em cultos ecumênicos, carregando a lata na cabeça ao som de músicas gospel, mas demonstrando o mesmo samba no pé de outrora. A grande diferença, comparativamente, à sua inserção como sambista, diz respeito à substituição simbólica que antes na lata, ao invés do nome e da bandeira carnavalesca da escola de samba tem as frases “Jesus é vida”, “Jesus te ama” “Jesus é amor”. E dentro, ao invés da pureza água, Maria Lata D’Água leva um terço que é visto orgulhosamente ao público no final de sua apresentação. 
A Renovação Carismática Católica (RCC) é um movimento social da Igreja Católica Apostólica Romana surgida nos Estados Unidos da América (EUA) em meados da década de 1960 e espalhada por todo o mundo, pela influência do Movimento Carismático da Igreja episcopal protestante, dentro de um pensamento ecuménico, porém mantendo os dogmas do Catolicismo Romano. A prática ideológica baseia-se na experiência pessoal com Deus, pela força do Espírito Santo e de seus dons, a fim de que todos se tornem discípulos de Jesus Cristo. O movimento oferece uma abordagem inovadora às formas tradicionais de doutrinação e dos ritos da Igreja, mas sem desviar-se da Doutrina da Igreja Católica como muitos o fazem e permanecendo fiel a todos os preceitos católicos romanos. Existem mais de 100 milhões de membros espalhados pelo mundo ocidental comumente ideologizado “católicos carismáticos”. Em termos de doutrina segue a Bíblia, o Catecismo da Igreja Católica e todas as demais diretrizes da Igreja Católica, entre ela os dogmas já fixados no catolicismo romano como, por exemplo, a crença na intercessão dos santos e a honra a Maria, a mãe de Jesus.
É preciso compreender, em primeiro lugar, que a experiência religiosa de não homogeneidade do espaço constitui uma experiência primordial, que corresponde a uma fundação do mundo. Não se trata de uma especulação teórica, mas de uma experiência religiosa primária, que precede toda a reflexão sobre o mundo. O espaço é um lugar praticado e a rotura operada no espaço é que permite a constituição do mundo, porque é ela que descobre o “ponto fixo”, o centro de toda a orientação futura posta em termos de emancipação do ser e da alma. Quando o sagrado se manifesta por uma hierofania qualquer, não só há rotura na homogeneidade do espaço, como também revelação de uma realidade absoluta, que se opõe à não realidade da imensa extensão envolvente. A manifestação do sagrado funda ontologicamente o mundo. Na extensão homogênea e infinita onde não é possível nenhum ponto de referência, e onde, portanto, nenhuma orientação pode efetuar-se, a hierofania revela um “ponto fixo” absoluto, um “centro”. Nessa experiência do espaço profano ainda intervêm valores que, de algum modo, lembram a não homogeneidade específica da experiência religiosa do espaço

 Existem locais privilegiados, qualitativamente diferentes dos outros: a paisagem natal ou os sítios dos primeiros amores, ou certos lugares na primeira cidade estrangeira visitada na juventude. Esses locais guardam mesmo para o homem mais francamente não religioso, uma qualidade excepcional: são os “lugares sagrados” do seu universo privado, como se neles um ser não religioso tivesse tido a revelação de outra realidade, diferente daquela de que participa em sua existência cotidiana. Uma função ritual análoga é transferida para o limiar das habitações humanas, e é por essa razão que este último goza de tanta importância. Numerosos ritos acompanham a passagem do limiar doméstico: reverências ou prosternações, toques devotados com a mão etc. No interior do recinto sagrado, o mundo profano é transcendido, torna-se possível a comunicação com os deuses; consequentemente, deve existir uma “porta” para o alto, por onde os deuses podem descer a Terra e o homem pode subir simbolicamente ao céu. Enfim, na história do samba não poderemos dizer que é um gênero musical pertencente a um local específico ou de uma determinada comunidade. Por um lado, os historiadores do samba e do carnaval, destacam a influência da casa das “tias” na definição estética do samba. A casa da Tia Ciata ou Tia Aceata representava um ponto de encontro dos grandes sambistas que viriam a surgir nas primeiras décadas do século XX.
         Em grande parte, eles eram negros das camadas médias e populares que se agrupavam para festejar, brincar e tocar em conjunto. Entre tais sambistas podemos destacar os personagens históricos Donga, Mauro Almeida, João Baiana, Caninha, Sinhô e Pixinguinha. Vale lembrar que o samba também incorporou outros músicos, compositores e intérpretes que não representavam a ideia sociológica “do negro habitante do morro”. O célebre sambista Noel Rosa, o poeta da vila, foi nascido e criado em Vila Isabel. O que determina a escolha de um ponto de vista sobre o sujeito e o mundo são os objetivos pragmáticos. Deixamos de lado a posse de uma teoria fundada em exigências lógicas ou achados empíricos incontestáveis. Poder, interesse, dominação, realidade material, são indispensáveis à análise que nos habituaram a aceitar como verdadeira, pela força ou pela persuasão dos costumes. Para efeitos da ação, só existem eventos descritivos. A descrição preferida do intérprete será a mais adequada às suas convicções morais e não a mais iluminada pela Razão. Política é regulação da existência coletiva, poder decisório, disputa por posições de mando no mundo, confrontos entre mil formas. 
Violência em última análise. Assim, é também diferente da produção simbólica porque se exercita sobre o interesse dos agentes sociais, quando não sobre o seu próprio corpo. Não produz mensagens, discursos cotidianos, produzem obediências, obrigações, submissões, controles. Poder, na modernidade, é uma relação social de mando e obediência. São decisões tomadas politicamente que se impõe a todos num dado território ou unidade social. Todavia, convertem-se em atividades coercitivas, administrativas, jurídico-judiciárias e deliberativas. Eis a grande questão: o processo político diz respeito a pergunta: - Quem pode o quê sobre quem? A mesma pulsão escópica frequenta a ficção que cria leitores, que muda de legibilidade a complexidade urbana. Não é mais suficiente para compreender as estruturas de poder deslocar para os dispositivos e os procedimentos técnicos uma multiplicidade humana, capaz de transformar, disciplinar e depois gerir, classificar e hierarquizar todos os desvios concernentes à aprendizagem, saúde, justiça, forças armadas ou trabalho. Na política contemporânea o que faz andar são relíquias de sentido e às vezes seus detritos, os restos invertidos de grandes ambições. Nome que no sentido preciso da memória deixaram de ser próprios. 
Nesses núcleos simbolizadores se esboçam e talvez se fundem três funcionamentos distintos (mas conjugados) das relações políticas entre práticas espaciais e significantes: o crível, o memorável e o primitivo. Na Pavuna, samba de grande sucesso no carnaval de 1930, foi composto por Almirante, um ex-militar e radialista que se consolidou como um dos grandes nomes da história do samba. Além desses nomes podemos também fazer referência ao legado deixado por Mário Reis, Carmen Miranda e Francisco Alves. O que podemos constatar é que o samba é uma invenção radiante da cultura urbana carioca e conta em suas ações sociais com a interferência de diferentes sujeitos históricos. O simples fato social da casa da Tia Ciata se encontrar em uma praça, local de encontro de diferentes pessoas, colabora com a ideia de que o samba não respeitou os condicionamentos sociais ou o problema da exclusão racial. Podemos subsumir o samba não é nem do morro, nem da cidade.  Maria Lata D’Água era mineira e o hábito da lata na cabeça vem da infância difícil que teve em Diamantina. Quando veio para o Rio de Janeiro, nos anos 1940, logo demonstrou sua habilidade: dançar com desenvoltura equilibrando a lata na cabeça. No Brasil, a taxa de desperdício de água está em 37%. A meta para 2033 é reduzir o índice para 31%. Estejamos atentos!
          Henrique Foréis Domingues foi um cantor, compositor e radialista carioca, também conhecido por Almirante. Seu codinome na Era de Ouro do rádio era: “a mais alta patente do Rádio”. Pioneiro da música popular no país, começou sua carreira musical em 1928 no grupo amador Flor do Tempo formado por alunos do Colégio Batista, do bairro da Tijuca, Rio de Janeiro. Compunham o grupo, além de Almirante, cantor e pandeirista, os violonistas Braguinha (João de Barro) Alvinho e Henrique Brito. Em 1929, convidados a gravar um disco na Parlophon (subsidiária da Odeon) admitem mais um violonista, do bairro vizinho de Vila Isabel, um jovem talento chamado Noel Rosa. O grupo então é rebatizado para Bando de Tangarás, nome inspirado numa lenda do litoral paranaense, a “dança dos tangarás” que conta a história de um grupo de passáros (os tangarás) que se reúne para dançar e cantar alegremente. O bando se desfez em 1933, mas Almirante continuou sua carreira como cantor, interpretando sambas e músicas de carnaval, muitas de grande sucesso e hoje clássicos da música popular brasileira, como “O Orvalho Vem Caindo” (Noel Rosa/Kid Pepe), “Yes, Nós Temos Bananas” e “Touradas em Madri” (João de Barro/Alberto Ribeiro), entre outras. Autor de uma das mais famosas músicas carnavalescas, “Na Pavuna”, possuía enorme biblioteca e discoteca sobre música brasileira.
Bibliografia geral consultada. 
WASSERMAN, Maria Clara, “Desde que o Samba é Samba: A Questão das Origens no Debate Historiográfico sobre a Música Popular Brasileira”. In: Rev. bras. Hist. Volume 20, n° 39. São Paulo, 2000; LE GOFF, Jacques, História e Memória. 5ª edição. Campinas: Editora da Universidade de Campinas, 2003; SOUSA, Ronaldo José de, Carisma e Instituição: Relações de Poder na Renovação Carismática Católica do Brasil. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Campina Grande: Universidade Federal de Campina Grande, 2004; PEREIRA, Reinaldo Arruda, Igreja Batista da Lagoinha: Trajetória e Identidade de uma Corporação Religiosa em Processo de Pentecostalização. Tese de Doutorado em Ciência da Religião. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2011; VANIER, Jean, Comunidade, Lugar do Perdão e da Festa. 8ª edição. São Paulo: Editoras Paulinas, 2011;  JESUS, José Soares de, A Renovação Carismática Católica e a Elaboração da Identidade Religiosa dos seus Seguidores: Desafios e Limites dentro do Catolicismo. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião. Recife: Universidade Católica de Pernambuco, 2012; SCHERER, Karine Pagliosa, A Renovação Carismática Católica na Condição Pós-Moderna e na Hipomodernidade: As Características dos seus Sujeitos ante as Novas Tendências dos Tempos Atuais. Tese de Doutorado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciência da Religião. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2013; BINS, Rejane Maria Dias de Castro, A Eclesialidade das Novas Comunidades: As Novas Comunidades como uma Forma de Autorrealização da Igreja. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Teologia. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. 2015; MARTINS, Marcos da Costa, Da Conversão do Exótico: Viagens, Festas e Relatos no Século XVI. Tese de Doutorado. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2016; MARCHESAN TAUIL, Rafael, Intelectuais e Política no Brasil: Da Teoria do Populismo à Reconciliação com a Tradição Republicana na Interpretação de Francisco Weffort. Tese de Doutorado. Programa de pós-graduação em Ciência Política. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2017; ALBANO, Fernando, O Espírito no Mundo: Pneumatologia Pentecostal em Diálogo com Paul Tillich. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Teologia. São Leopoldo: Faculdades EST - Escola Superior de Teologia, 2017; BRAGA, Ubiracy de Souza, “A Nudez da Memória”. In: Jornal O Povo. Fortaleza, 07/09/2018; entre outros.

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