domingo, 27 de agosto de 2017

Criança Esperança - Pirâmide Social & Trapézio na Formação.

                                                                                          Ubiracy de Souza Braga

Pra pedir dinheiro até ator global vira atendente de telemarketing”. Todyone   

        
                      
            O telemarketing representa o termo que designa a promoção de vendas e serviços por telefone. Com o tempo, passou a designar também serviços de cobrança e outros, como atendimento ao consumidor e suporte técnico por telefone. Estes serviços são feitos por empresas especializadas em trabalhos de divulgação e de orientação aos clientes em vários segmentos do mercado e utilizam em suas operações, grandes ambientes denominados call centers ou centrais de atendimento, chamadas de serviço de atendimento ao cliente (SAC)), permitindo variantes como por exemplo, serviço de atendimento ao telespectador (SAT). Na década de 1980, o serviço se expandiu para outras áreas, inclusive a política, quando o consultor em marketing Mauro Ferreira o introduziu pela primeira vez, isto aconteceu mais precisamente na campanha para vereador e prefeito do Rio de Janeiro em 1988. A partir daí foi-se desenvolvendo e se tornou em uma das mais poderosas estratégias políticas e de venda. O telemarketing se tornou um sistema impopular, porque entra em contato com o telefone dos clientes de maneira, muitas vezes, inoportuna e desnecessária do ponto de vista do cliente. 
         Além disso, a maioria das ligações é feita aleatoriamente por máquinas, que nem sempre conectam o operador a tempo pra falar com o possível cliente. Por isso, em segundos a ligação cai, logo depois de causar a perturbação. A Agência Nacional de Telecomunicações, a Anatel, informa que estudos de mercado estimam que ao menos um terço das ligações indesejadas no Brasil tem por objetivo a venda de serviços de telecomunicações. Dessa forma, a Anatel exigiu das empresas de telefonia uma solução para o problema, criando, assim o “Não me perturbe” - um cadastro nacional para o bloqueio de ligações de telemarketing das empresas de telecomunicações. Para não receber mais as ligações de telemarketing de operadoras de telefonia, basta acessar https://naomeperturbe.com.br/ e cadastrar os números do seu celular e do telefone fixo para não receber mais esses telefonemas. O telemarketing tem sido utilizado eficazmente para potenciar negócios e impactar diretamente o consumidor. De entre as principais vantagens para as empresas utilizarem o telemarketing enquanto meio de comunicação com o seu consumidor atual ou prospecto destacam-se as seguintes atividades.
      Interatividade: O telemarketing constitui um meio muito pessoal e interativo; Flexibilidade: As ações de telemarketing tem uma flexibilidade muito grande porque pode servir para, num determinado momento, potenciar uma campanha, e no momento seguinte para incentivar os consumidores a ir ao ponto de venda; Rapidez: A qualquer momento uma estratégia pode ser modificada, uma vez que as informações sobre a implementação das ações chegam rapidamente; Optimização: Num só contacto podem ser recolhidas muitas informações sobre um cliente e as suas necessidades e preferências; Controle: As operações de telemarketing são relativamente fáceis de controlar e de implementar, se devidamente alicerçadas num sistema informático; Alvo: O fornecedor de serviços de telemarketing adapta facilmente o conteúdo e o preço dos seus serviços consoante a segmentação desejada; Cobertura:  Pode atingir distâncias continentais em segundos, pois permite uma cobertura larga e controlada; Comodidade: Tanto para o comprador quanto para o vendedor; Custo; Vender por Telemarketing tem custo mais flexíveis já os custos de comissões, estrutura e logística são menores que num ponto de venda físico; Rapidez: Um operador de telemarketing pode efetuar mais contatos que um vendedor num mesmo período de tempo social.
                                            

          Toda organização é uma construção histórica e social. A origem das formas de organizar, das estruturas administrativas e da direção capitalista está estreitamente relacionada à evolução dos sistemas de cooperação. O mestre artesão é libertado do trabalho manual passando a diretor quando a quantidade de mais-valia produzida induz. As formas de cooperação na manufatura, analisadas por Marx, gênese das estruturas administrativas contemporâneas e da função dirigente imposta pelo caráter antagônico do processo capitalista de produção, orientam-se pela apropriação de mais-valia. O estudo das estruturas administrativas das organizações e suas relações técnicas com a produção não explicam profundamente o significado destas relações por trás das organizações. Para isso, as estruturas administrativas e a função autoritária devem ser analisadas como primícias do desenvolvimento das forças produtivas. Da necessidade de reprodução ampliada do capital e da necessidade de dominação expressa nos mercado global da informação e comunicação social que se impõe como necessidade das redes inseridas no processo de globalização e não do trabalho.
O programa assistencialista “Criança Esperança” surgiu da simbolização do ator Renato Aragão que durante a seca no Ceará, em 1985, resolveu ajudar seus conterrâneos e pediu auxílio à rede Globo onde trabalha. No ano seguinte, em 1986, a Globo resolveu fixar o projeto social em sua grade anual, mas voltado para crianças e com um nome diferente, durante o programa comemorativo dos 20 anos de Os Trapalhões, por isso, o especial teve nome “20 Anos Trapalhões - Criança Esperança”. No início, a rede Globo de Televisão constituiu afinidade eletiva com o Fundo das Nações Unidas Para a Infância (UNICEF), em que possibilitou que a rede do Sr. Roberto Marinho pudesse exibir shows anuais ao vivo. Naquele ano foi realizado um Programa Especial dos Trapalhões com nove (9) horas de duração também contemplando o domingo. O objetivo era publicitar a opinião pública sobre “a situação da infância no Brasil”. A partir de 1987, surge a ideia do “Programa Especial para solicitar contribuições financeiras que viessem a ser repassadas para entidades com trabalho voltado para crianças em vulnerabilidade social”. A burocracia é uma forma de organização social onde a hierarquia de autoridade se sobrepõe à divisão técnica e social do trabalho. 
O surgimento de novas técnicas de racionalização do trabalho social, possibilitou o desenvolvimento de novas especializações e concomitantemente criaram-se interdependências organizacionais através da necessidade da cooperação, resultando na ampliação do sistema burocrático. Desenvolveu-se a tecnologia avançada associada à organização autocrática, monística, hierárquica de uma era mais simples. Mas o que precisamos ressaltar é que a representação dessa necessidade de cooperação não surgiu como decorrência do avanço tecnológico. A associação da tecnologia dita avançada a uma organização autocrática, hierárquica, de uma era desenvolvimentista mais simples, responde também a uma necessidade política. Evidencia-se uma necessidade de controle social da força de trabalho em que o uso moderno de burocracia, como organização institucionalizada, representa outra resposta a uma necessidade real que transforma a esfera de ação técnica em política.           
          Em 2013, o Mesão da Esperança cresceu e costurou a programação da rede Globo durante o dia. No sábado - 31 de agosto - de 08h às 23h30, os apresentadores Alex Escobar, Ana Furtado, André Marques, Glenda Kozlowski, Glória Maria, Sandra Annenberg, Tadeu Schmidt, Tiago Leifert e Zeca Camargo, comandaram cerca de 200 artistas que se revezaram para atender às ligações dos telespectadores. Conduzido por Flávio Canto, Dira Paes, Lázaro Ramos e Leandra Leal, o show empresarial da campanha “Criança Esperança 2016” reuniu talentos da música nacional, promovendo encontros inéditos. O cantor sertanejo Luan Santana foi o primeiro a se apresentar nos Estúdios da rede Globo, no Rio de Janeiro. Também passaram pelo palco Carlinhos Brown, Michel Teló, Marcelo Jeneci, Ana Carolina e Anitta, entre outros. Além das apresentações musicais, vídeos exibidos durante o espetáculo levantaram o debate e a reflexão social sobre questões em torno do racismo, violência, educação e gênero. A Campanha Criança Esperança no decorrer de 30 anos, “vem criando oportunidades de desenvolvimento para crianças, adolescentes e jovens”. Em 2016, são apoiados 62 projetos sociais em várias regiões do Brasil, além dos três Espaços Criança Esperança, localizados nas cidades do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco. As listas completas dos projetos encontram-se no site desta campanha.
                 
            Nestes dias tivemos uma aparente festa pela solidariedade na campanha “Criança Esperança 2017” da rede Globo de televisão com a UNESCO que atua na defesa dos direitos da criança de adolescente. A apresentadora Simone Castro e o repórter cinematográfico Josivan Gomes foram ao Rio de Janeiro conferir os bastidores de toda essa mega produção. A festa “Criança Esperança” representou um dia em que toda a programação da Rede Globo ficou voltada para o projeto, transmitindo os bastidores. E o Programão traz a cobertura completa do famoso “Mesão da Esperança”, quando  artistas, desportistas e famosos “se juntam em uma corrente de amizade e atendem às ligações dos doadores”. Além da troca de experiências com profissionais de TV e web, de várias emissoras afiliadas. A equipe da Rede Clube produziu flashes para a programação durante todo o fim de semana, entradas ao vivo e reportagens para os telejornais locais. “Criança Esperança” é uma campanha nacional de mobilização social que ideologiza a conscientização em prol dos direitos da criança e do adolescente, promovida pela rede Globo de Televisão, inicialmente em parceria com a UNICEF e atualmente com a UNESCO. O projeto social é uma das mais bem-sucedidas marcas econômicas relacionadas a programas  dirigidos às crianças carentes em todo o mundo ocidental. Anualmente, são realizados os shows que incentivam as doações feitas pelos telespectadores e por várias instituições, além disso, é claro, com a participação dos atuais “mobilizadores do Criança Esperança”.           
Historicamente, vale lembrar, o grande mérito de Lewis Morgan, afirma Friedrich Engels, é o de ter descoberto e restabelecido em seus traços essenciais esse fundamento pré-histórico da nossa história escrita e o de ter encontrado, nas uniões gentílicas dos índios norte-americanos, a chave para decifrar importantíssimos enigmas, ainda não resolvidos, da história da Grécia, Roma e Alemanha. Sua obra não foi trabalho de um dia, como ocorre na modernidade através de survey`s. Levou cerca de 40 anos elaborando seus dados. O estudo da história da família começa, de fato, em 1861, com o “Direito Materno”, de Bachofen. Nesse livro o autor formula as seguintes teses, resumidamente: 1. Primitivamente, os seres humanos viveram em promiscuidade sexual; 2. Estas relações excluíam toda possibilidade de estabelecer, com certeza, a paternidade; 3. Em consequência desse fato, as mulheres, como mães, como únicos progenitores conhecidos da jovem geração, gozavam de grande apreço e respeito, chegando ao domínio feminino absoluto; 4. A passagem para a monogamia incidia na transgressão de uma lei religiosa antiga, em que devia ser castigada, ou cuja tolerância se compensava com a posse da mulher por outros homens. Bachofen encontrou as provas dessas teses em trechos da literatura clássica por ele reunidos com zelo singular.
            O sucessor imediato de Bachofen nesse terreno entrou em cena em 1865, sem jamais ter ouvido falar dele. Esse sucessor foi J. F. Mac Lennan, o polo oposto de seu predecessor. Ao invés do místico genial, temos aqui um árido jurisconsulto; em lugar de uma exuberante e poética fantasia, as plausíveis combinações de um arrazoado de advogado. Mac Lennan encontra em muitos povos selvagens, bárbaros e até civilizados, dos tempos antigos e modernos, uma forma de matrimônio em que o noivo, só ou assistido por seus amigos, deve arrebatar sua futura esposa da casa dos pais, simulando um rapto com violência. Este costume deve ser vestígio de um costume anterior, pelo qual os homens de uma tribo obtinham mulheres tomando-as realmente de outras tribos, pela força. Mas como teria nascido esse “matrimônio por rapto”? Enquanto os homens puderam encontrar mulheres suficientes em sua própria tribo, não tiveram motivo para semelhante procedimento. Por outro lado, e com frequência não menor, encontramos em povos não civilizados certos grupos que em 1865 ainda eram muitas vezes identificados com as próprias tribos no seio dos quais era proibido o matrimônio, vendo-se os homens obrigados a buscar esposas – e as mulheres, esposos – fora do grupamento social; outro costume existe, pelo qual os homens só devem procurar suas esposas no seio de seu próprio grupo.
       Além disso, também Morgan observara e descrevera perfeitamente o mesmo fenômeno, em 1847, em suas cartas sobre os iroqueses, e em 1851 na Liga dos Iroqueses, ao passo que a mentalidade do advogado de Mac Lennan causou confusão ainda maior sobre o assunto do que a causada pela fantasia mística de Bachofen no terreno do direito materno. Outro mérito de Mac Lennan consiste em ter reconhecido como primária a ordem de descendência baseada no direito materno, conquanto, também aqui, conforme reconheceu mais tarde, Bachofen se lhe tenha antecipado. Mas, também neste ponto, ele não vê claro, pois fala, sem cessar, “em parentesco apenas por linha feminina” (“kinship through females only”), empregando continuamente essa expressão. Exata apara um período anterior, na análise de fases posteriores de desenvolvimento e verdade que a filiação e o direito de herança continuam a contar-se segundo a linha materna. O parentesco por linha paterna também já está reconhecido e se expressa na estreiteza de critério do jurisconsulto, que forja um termo jurídico socialmente fixo e continua aplicando-o, sem modifica-lo.                           
Não obstante, sua teoria foi acolhida na Inglaterra com grande aprovação e simpatia. Mac Lennan foi considerado por todos como o fundador da história da família e a primeira autoridade na matéria. Sua antítese entre as “tribos” exógamas e endógamas continuou sendo a base reconhecida das opiniões dominantes, apesar de certas exceções e modificações admitidas, e se transformou nos antolhos que impediam ver livremente o terreno explorado e, por conseguinte, todo progresso decisivo. Em face do exagero dos méritos de Mac Lennan, que ficou em voga na Inglaterra e, seguida a moda inglesa, em toda a parte, devemos assinalar que, ratifica o genial Friedrich Engels, com sua antítese dialética de “tribos” exógenas e endógamas, baseada na mais pura confusão, ele causou um prejuízo maior do que os serviços prestados em suas próprias pesquisas.
Imediatamente depois, em torno de 1871, apareceu Morgan com documentos novos e, sob muitos pontos de vista, decisivos. Convencera-se que o sistema de parentesco próprio dos iroqueses, e ainda em vigor entre eles, era comum a todos os aborígenes dos Estados americanos, quer dizer, estava difundido em todo o continente, ainda quando em condição formal com os graus de parentesco que resultam do sistema conjugal ali imperante. Incitou, então, o governo federal norte-americano que recolhesse informes sobre os sistemas de parentesco dos demais povos, de acordo com um formulário e quadros elaborados por ele mesmo. Morgan publicou os dados coligidos e as conclusões que deles tirou em seu “Sistema de Consanguinidade e Afinidade da Família Humana” em 1871, levando, assim, a discussão para um campo infinitamente mais amplo. Tomou como ponto de partida os sistemas de parentesco e, reconstituindo as formas de família a eles correspondentes, abriu novos caminhos à investigação e criou a possibilidade de se ver muito mais longe na pré-história da humanidade. A aceitação desse método reduzia a pó as frágeis definições de Mac Lennan.
O descobrimento da primitiva gens do direito materno, como etapa anterior à gens de direito paterno dos povos civilizados, tem, para a história primitiva, a mesma importância que a teoria da evolução de Darwin para a biologia e a teoria da mais-valia, enunciada por Marx, para a economia política. Essa descoberta permitiu a Morgan esboçar, pela primeira vez, uma história da família, onde pelo menos as fases clássicas da sua evolução, em linhas gerais, são provisoriamente estabelecidas, tanto quanto permitem os dados. Evidentemente, iniciou-se uma nova era no estudo da pré-história da etnologia. Em torno da gens de direito materno, gravita, toda essa ciência; desde seu descobrimento, sabe-se em que a direção encaminhar as pesquisas e o que estudar, assim como de que modo devem ser classificados os resultados. Por isso, fazem-se nesse terreno, progressos muito mais rápidos que antes de aparecer o ensaio de Morgan, “Ancient Society”. Reconstituindo retrospectivamente a história da família, chega, de acordo com a maioria de seus colegas, à conclusão de que existiu uma época primitiva em que imperava, no seio da tribo, o comércio sexual promíscuo, de modo que cada mulher pertencia igualmente a todos os homens e cada homem a todas as mulheres.
           No século XIX, já se havia feito menção a esse estado primitivo, mas apenas de modo geral; Johann Bachofen foi o primeiro; um dos seus maiores méritos, fato essencial que o levou a sério e procurou seus vestígios ou indícios nas tradições históricas e religiosas. Em segundo lugar quando nos referimos historicamente à infância podemos nos referir a esta etapa da vida como uma abstração, como um conjunto de fatores sociais que instituem determinadas posições que incluem a família, a escola, pai, mãe, entre outros que colaboram para que haja determinados modos de pensar e viver a infância. A respeito disso, basta verificarmos que desde o século XII até início do século XX, a sociedade vem criando conceitos e modelos para infância, além de mecanismos que a valorizem, principalmente a infância pobre e desvalida, pois de acordo com a obra de Ariès, o sentimento sobre a infância se dá nas camadas mais nobres da sociedade. Resgatar a história social da criança brasileira é vis-à-vis rememorar com o passado e presente que se intui, e que não se pode ignorar através das tragédias que atravessaram a vida de milhares de meninos e meninas adolescentes. O abandono de bebês, a venda de crianças escravas separadas de seus pais, a vida em instituições que significavam mera sobrevivência, as violências cotidianas que não excluem os abusos sexuais, as doenças, queimaduras e fraturas que sofrem no trabalho escravo persistente e operário, são fatores sociais graves à memória por mais de três séculos a história da infância no Brasil.
                                      
As organizações usam da imagem e de sua simbolização para criar um discurso, no qual, os atores sociais integrantes do contexto organizacional (cf. Touraine, 1984), possam se identificar e sintam-se parte do espetáculo organizacional. Surgem modelos de gestão caracterizados pela linguagem simbólica e pela disseminação de imagens. A sociedade do espetáculo e do hiper-espetáculo permeia as literaturas das ciências sociais contemporâneas. Guy Debord, por outro lado, é pioneiro na explicação do “espetáculo” como uma forma de sociedade em que a vida real é fragmentada, se já não é um truísmo, sociologicamente, onde os indivíduos passam a contemplar e a consumir mercadologicamente as imagens de quase tudo o que lhes falta em sua existência real. A realidade torna-se imagem e as imagens tornam-se aparentemente realidade. A unidade que falta ao indivíduo recupera-se no plano da imagem. Enquanto, a primeira fase do domínio da economia sobre a vida caracterizava-se pela conspícua degradação do ser em ter, no espetáculo chegou-se ao reinado soberano do aparecer social. As relações entre os homens são mediadas pelas coisas e subsumidas diretamente pelas imagens. Nos dias 19 e 20 de agosto, toda a programação da rede Globo é dedicada ao programa empresarial Criança Esperança, chamada de “Maratona da Esperança”.
Um time de “mobilizadores” sociais esteve à frente do chamado “Mesão da Esperança” para comandar as entradas (ao vivo) em toda a programação da rede Globo. No sábado, Ana Paula Araújo, Zeca Camargo, Fernanda Gentil, Fabiana Karla, Angélica, Luciano Huck, Sandra Annenberg, Monica Iozzi, Maria Julia Coutinho e Fátima Bernardes, “ancoraram” as participações nas edições especiais do É De Casa, Globo Esporte, Estrelas, Caldeirão do Huck, além das novelas e dos telejornais. No domingo, Patrícia Poeta, Ana Furtado, Ana Maria Braga, Fernanda Lima, Claudia Leitte e Regina Casé apresentam os flashes, a partir do Esporte Espetacular e outros apresentaram até o Fantástico. Uma noite de reflexão e celebração à união. A noite de sábado foi marcada pelo tradicional show “Criança Esperança”, ao vivo, após a ideologia da novela “A Força do Querer”, diretamente dos Estúdios Globo, com direção de Raoni Carneiro e artística de Rafael Dragaud. O time de “mobilizadores” formado por artistas globais: Leandra Leal, Dira Paes, Flávio Canto e Lázaro Ramos foram os apresentadores do espetáculo, que teve como tema “Sua Esperança Não Está Sozinha”, contrariando Paulo Coelho quando se refere ao ator em encontros no palco. Vídeos nevrálgicos à sociedade brasileira como ética, família, violência, diversidade, conduziram a sonoridade estética e filantrópica abaixo da linha do Sul do Equador nas representações musicais.
Bibliografia geral consultada.
LLOYD, Geoffrey Ernest Richard, Le Temps Dans la Pensée Grecque. Paris: Editeur Organisation des Nations Unies, 1972; TOURAINE, Alain, Le Retour de l`acteur. Essai de Sociologie. Paris: Éditions Fayard, 1984; LANDIM, Leilah, Para Além do Mercado e do Estado? Filantropia e Cidadania no Brasil. Rio de Janeiro, 1993; FERNANDES, Rubens Cesar, Privado Porém Público: O Terceiro Setor na América Latina. 2ª edição. Rio de Janeiro: Editora Relume Dumará, 1994; PEREIRA, Custódio, Captação de Recursos (Fund Raising): Conhecendo Melhor Porque as Pessoas Contribuem. São Paulo: Editor Mackenzie, 2001; DEL PRIORE, Mary, História da Infância no Brasil. 4ª edição. São Paulo: Editor Contexto, 2004; GOMES, Ana Ângela Farias, A Midiatização do Social: Globo e Criança Esperança Tematizando a Realidade Brasileira. Tese de Doutorado em Ciências da Comunicação. São Leopoldo: Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2007; SOUZA, Alessandro Souza de, Manifestações do Público Receptor sobre Ações de Responsabilidade Sociocomunicacional: Um Estudo de Caso a partir das Comunidades do Projeto Criança Esperança no Orkut. Dissertação de Mestrado em Comunicação. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação. São Leopoldo: Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2009; CARDOSO, Ercio do Carmo Sena, Televisão e Conexão Social Dimensões Significativas de uma Campanha. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Belo Horizonte: Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, 2011; SANTOS, Vitória Brito, Ela se Juntou com um Cara! Um Estudo sobre Casamento de Crianças no Brasil. Comunicação e Direitos Humanos. Programa de Pós-Graduação em Diversidade Cultural e Inclusão Social. Dissertação de Mestrado. Novo Hamburgo: Universidade Feeevale, 2017; FERREIRA, Eveline Andrade, Políticas Educacionais na Escola: O Papel Mediador dos Diretores. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Centro de Educação. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará, 2017; MITRAUD, Francisco Silva, Comunicação, Consumo e Mobilizações Contemporâneas. Representações Midiáticas da Multidão em Contextos de Resistência. Tese de Doutorado. Escola de Propaganda e Marketing em Comunicação e Práticas de Consumo. São Paulo: Escola Superior de Propaganda e Marketing, 2017; entre outros.    

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Mar de Fogo - Cinema, Tradição & Sabedoria Histórica Sioux.

                                                                                     Ubiracy de Souza Braga
 
                          “Não aponte apenas o caminho, seja o guia”. Sabedoria Sioux
 

Durante o processo civilizatório da América do Norte, vários povos indígenas entraram em contato com os colonizadores franceses, espanhóis e ingleses. Entre as  culturas instaladas naquela região, emergem os índios Sioux. A origem do termo tem a ver com a expressão “serpente” e era o termo costumeiramente utilizado pelas tribos inimigas que conheciam esta instigante civilização, que se auto-intitula como Dakota.  A civilização Sioux (ou Dakota) é bastante diversificada, e ainda se subdivide em outros três grandes grupos: os tétons, yanktons e santees. Dentro de cada uma dessas divisões temos a presença de outras tribos entre as quais se destacavam os hunkpapas, os oglalas e brulés. O povo Sioux, ou Dakota, que é como se autodenomina, também reconhecido como Lakota, Teton, Titunwan (moradores da pradaria) e Teton Sioux referido à serpente ou inimigo é um povo que, desde tempos imemoriais, através da política do reconhecimento étnico se dá quando o grupo étnico se apresenta culturalmente diferente, numa conjuntura multicultural habitando as planícies localizadas entre os rios Missouri e Missouri, o segundo mais longo curso de água dos Estados Unidos, perdendo a primeira posição para o rio Missouri, que é afluente do Mississippi. Considerados juntos, formam a maior bacia hidrográfica da América do Norte. Quando medido da nascente do Missouri, o comprimento total do conjunto Missouri-Mississippi é de aproximadamente 6270 km na região nordeste dos Estados Unidos da América.
Massacre de Wounded Knee (cf. Liggett, 1998) foi um genocídio de nativos  ocorridos em 29 de dezembro de 1890, perto de Wounded Knee Creek (“Čhaŋkpé Ópi Wakpála”) na Reserva Indígena de Pine Ridge, pertencente ao povo Dacota, no estado da Dakota do Sul, Estados Unidos da América. Etnograficamente representou a última batalha sangrenta das Guerras Indígenas. No dia anterior, um destacamento de 7º Regimento de Cavalaria dos EUA, comandado pelo Major Samuel M. Whitside interceptou um grupo composto por índios Miniconjou e 38 Hunkpapa que eram liderados pelo chefe tribal Spotted Elk, perto de Porcupine Butte, e acompanhou-o por 8 km a oeste até Wounded Knee Creek, onde eles fizeram um acampamento. O restante do 7º Regimento de Cavalaria chegou liderado por James W. Forsyth, e cercou o acampamento com o apoio de quatro canhões Hotchkiss. Na manhã de 29 de dezembro, as tropas entraram no acampamento para “desarmar” os Lacotas. Durante o processo de desarmamento dos Lacotas, ocorreu o caso de um nativo chamado Black Coyote que estava relutante em abrir mão de seus rifles, alegando que ele tinha pago preço muito caro por essas armas.


Segundo o plano original, Custer teria de encontrar os índios rebeldes, mandar um aviso para o forte, esperar pela chegada de outras duas colunas do Exército e, só então, avançar. Mas Cabelos-longos, como era chamado pelos índios, transbordava de ambição. Em depoimento ao jornalista John Finerty, que, em 1890 publicou o livro War-Path and Bivouac (Em Pé de Guerra e Bivaque), o general John Gibbon afirmou ter alertado Custer para que aguardasse por reforços. E o comandante teria dito: “Não, eu não esperarei”. A vitória sobre os índios seria sua glória pessoal. “Ele era implacável. Mudava de opinião o tempo todo e sempre achava que estava certo. Nunca pedia palpite a seus oficiais. A nós, restava obedecer”, relatou James Horner, cabo da 7ª Cavalaria e um dos sobreviventes do massacre, também em depoimento a Finerty. A controversa briga sobre os rifles de Black Coyote intensificou-se e um tiro foi disparado, o que resultou em um tiroteio provocado pela 7ª Cavalaria de forma indiscriminada por todos os lados do local, matando homens, mulheres e crianças, bem como alguns dos seus próprios companheiros soldados. Os poucos guerreiros Lacota que ainda tinham armas começaram a atirar em resposta para os soldados que os atacavam, que rapidamente foram reprimidos pelas armas dos indígenas. Alguns Lacotas sobreviventes fugiram, mas cavaleiros dos Estados Unidos por vingança perseguiram e mataram muitos nativos que estavam desarmados.
           O campo de batalha foi designado, em 15 de outubro de 1966, local do Registro Nacional de Lugares Históricos e em 21 de dezembro de 1965, um Marco Histórico Nacional. Vale lembrar que a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas (2007) afirma ainda que todas as doutrinas, políticas e práticas baseadas na superioridade de certos povos ou indivíduos ou que eles defendem por motivos de origem nacional ou diferenças os direitos raciais, religiosos, étnicos ou culturais são racistas, cientificamente falsos, legalmente inválidos, moralmente condenáveis ​​e socialmente injustos. Reafirmando que, no exercício de seus direitos, os povos indígenas devem estar livres de todas as formas de discriminação. Preocupado com o fato de que os povos indígenas sofreram injustiças históricas como resultado, entre outros, da colonização e do desaparecimento de suas terras, territórios e recursos, o que os impediu de exercer, em particular, seu direito ao desenvolvimento de acordo com suas próprias necessidades e interesses. Reconhecendo a necessidade urgente de respeitar e promover os direitos intrínsecos dos povos indígenas, derivados de suas estruturas e culturas políticas, econômicas e sociais, de suas tradições espirituais, história e filosofia, especialmente os direitos históricos inalienáveis sobre suas terras, territórios e recursos. Reconhecendo a necessidade urgente de respeitar e promover os direitos dos povos  afirmados em tratados, acordos e outros acordos construtivos com os Estados, etc.
           Diante de milhões de anos uma linhagem de animais se deslocou para os desertos da península arábica e, posteriormente, pelo Egito, chegou aos desertos do Norte da África. Esse animal se destacou devido a sua grande resistência, velocidade, agilidade e eficiência nas guerras chamando a atenção de reinos e povos que buscaram aprimorar e manter pura as raças. As tribos beduínas do deserto foram as grandes responsáveis pela domesticação e seleção genética das qualidades e da preservação da pureza racial do Cavalo Árabe. Durante séculos, cavalos árabes viveram no deserto em estreita associação com os humanos. Para abrigo e proteção contra roubo, as igrejas de guerra prezadas eram às vezes mantidas na barraca de seus donos, perto das crianças e da vida familiar diária. Apenas os cavalos com uma disposição naturalmente boa foram autorizados a se reproduzir, com o resultado de que os árabes de hoje tenham um bom temperamento que, entre outros exemplos, os torna uma das poucas raças onde as regras da Federação Equestre dos Estados Unidos relativas à Fédération Équestre Internationale é a instituição internacional que dirige as associações de esportes equestres. A FEI foi fundada em 1921, e sua sede fica localizada na cidade de Lausanne, na Suíça. Ingmar De Vos da Bélgica é a presidente da instituição desde 2014, que permite que menores exibam garanhões em quase todas as classes, incluindo aqueles limitados a “pilotos” menores de 18 anos.
 
                   
             Por outro lado, o árabe também é classificado como uma raça “de sangue quente”, uma categoria que inclui outros cavalos refinados e espirituosos criados para a velocidade, como o Akhal-Teke, e o Thoroughbred. Como outros tipos de sangue quente, a sensibilidade e a inteligência dos árabes possibilitam o aprendizado rápido e uma maior comunicação com seus donos e montadores. Por ter grande resistência e possuir capacidade de galope o cavalo árabe é utilizado em corridas que ocorrem em desertos. Um exemplo desse esporte acontece no deserto da Jordânia. Onde são 120 km para serem percorridos, aliás, cavalgados no deserto de Wadi Rum, sul da Jordânia, no International Endurance Race. Essa competição reúne cavaleiros do Oriente Médio que buscam o mesmo objetivo. No entanto, sua inteligência também lhes permite aprender maus hábitos tão rápido quanto os bons e eles não toleram práticas de treinamento ineptas ou abusivas. Algumas especialistas constatam que é mais difícil treinar um cavalo de “sangue quente”. No outro extremo do espectro, os mitos românticos às vezes são contados sobre cavalos árabes que lhes dão características quase divinas.
Na representação fílmica: “Mar de Fogo” (2004), dirigido por Joe Johnston, uma estrada de cerca de 3 mil milhas de comprimento, foi durante anos, um trecho no deserto árabe que só os cavalos de linhagem nobre conseguiam cruzar. Em 1890, o Sheik Riyash, interpretado pelo experiente Omar Sharif, indicado ao Oscar pelo famoso “Lawrence da Arábia”, de 1962, convida o cowboy Frank Hopkins - Viggo Mortensen também indicado ao Oscar por “Senhores do Crime” (2008) e reconhecido pela trilogia “O Senhor dos Anéis” - para um desafio único. Em 1958, Boris Pasternak publicou seu mais conhecido trabalho no mundo ocidental: o romance Doctor Zhivago. O livro não pôde ser publicado na então União Soviética, devido às críticas feitas ao regime comunista na obra. Os originais do livro foram contrabandeados para fora da chamada “Cortina de Ferro” e editados na Itália, tornando-se rapidamente, através do consumo, em um verdadeiro best-seller, fazendo de Pasternak ganhador do Nobel de Literatura.
Os índios Dakota fazem parte de uma confederação de Sete Tribos Sioux, a Grande Nação Sioux ou os Sete Fogos do Conselho e fala o idioma Dacota, um dos três principais dialetos da língua Sioux. O nome Sioux, relacionado com a expressão “serpente” lhes foi dado por serem considerados ótimos de guerra. Os Sioux eram grandes agricultores e caçadores. Plantavam o milho e caçavam grandes animais, como  os  búfalos e os bisões, dos quais compartilhavam a carne entre todas as famílias da aldeia. Os ossos usavam para fazer artesanato e fabricar armas. Já o couro, era utilizado para a confecção de roupas e tendas. No início dos anos 1800, os Sioux constituíam uma civilização numerosa e complexa, com mais de 170 tribos reconhecidas. Com a Independência dos Estados Unidos, em 4 de julho de 1776, houve grande conflitos com os índios Dakota que resistiram por um longo tempo. Hoje, porém, vivem em pequenos grupos nos estados norte-americanos de Dakota do Norte e Dakota do Sul.
            Para ser um Chefe Sioux era preciso ter no mínimo 50 anos de idade. Eles sabiam que as pessoas mais vividas são naturalmente mais experientes e sábias. O verdadeiro chefe era dotado de compaixão e fidelidade ao grupo, muitas vezes em sacrifício da própria individualidade, isto é, individualidade humana na perspectiva da totalidade. Tudo está ligado, como o sangue que une uma família. Todas as coisas estão ligadas. O que acontece à Terra recai sobre os filhos da Terra. Não foi o homem que teceu a trama da vida. Ele é só um fio dentro dela. Tudo o que fizer à teia estará fazendo à si mesmo. Mas, de toda a rica história dos índios povo Sioux, o mais fascinante é a filosofia de vida que levavam os integrantes das tribos. Dotada de um sábio conhecimento, eles usam exemplos simples, triviais em sua relação de apropriação da natureza, mas extremamente valiosos e fundamentais que nos fazem ampliar a consciência, através da observação empírica de fatos sociais e de aspectos culturais que designam excesso ou falta sob a forma de sobrevivência em nossa vida.
Uma das maiores contribuições dos Sioux para as gerações presentes e futuras foi sua filosofia, expressada em versos, poemas, frases e citações diversas, em especial sobre a relação do ser humano com a nossa única morada, o planeta Terra.  Os Sioux deixaram consolidada parte de seus ensinamentos em um Código de Conduta, conhecido através das “20 Leis dos Sioux”, em que se destacam principalmente, a caridade, o amor, o respeito às crenças dos outros, especialmente objetos religiosos e sagrados, isso é proibido, a honestidade como o grande teste para a sua herança do universo, a natureza como parte da nossa família terrena, os pensamentos maus causam doenças da mente, do corpo e do espírito. A ignorância, o convencimento, a raiva, o ciúme e avareza, originam-se de uma alma perdida, portanto, ore para que eles encontrem o caminho do Grande Espírito. Enfim, procure conhecer-se, por si próprio. Não permita que outros façam seu caminho por você. É sua estrada, e somente sua. Outros podem andar ao seu lado, mas está claro que ninguém pode andar por você. Finalmente, trate os convidados em sua morada com muita consideração - sirva-os o melhor alimento, a melhor cama e trate-os de forma admirável com respeito e honra.         
Entretanto, pelo fato de ser um livro proibido pelo governo de Moscou, Pasternak foi impedido de receber o Nobel e acabou sendo obrigado a devolver a honraria. Entretanto, Pasternak não viveu para ver seu livro adaptado para as telas. Ele morreu em 1960. Encontra-se sepultado no Cemitério Peredelkino, Moscou na Rússia. A proibição da publicação de Doutor Jivago dentro da União Soviética vigorou até 1989 quando a política de Abertura de Mikhail Gorbatchev liberou a publicação da obra.  Neste ano, os russos puderam conhecer a saga de Jivago. Em 1965, Doutor Jivago ganhou uma adaptação para o cinema, com Omar Shariff, no papel principal. O filme ficou famoso também por sua bela trilha sonora, “Lara`s Theme”.  Frank Hopkins, que foi um grande montador do cavalaria do exército dos Estados Unidos, aceitou o convite para montar Hidalgo, o cavalo mais rápido do sheik (Omar Shariff), em uma disputa contra alguns dos cavalos mais hábeis e velozes do mundo. Em sua compreensão essa disputa, fora do individualismo possessivo “deixa de ser apenas por seu orgulho para se tornar também uma questão de sobrevivência”. Frank Hopkins, encarnado por um Viggo Mortensen é também um mestiço de índio e branco que sofre um trauma ao ver uma tribo de Sioux exterminada. Os mitos do chamado “Velho Oeste” agora se torna um verdadeiro circo caricato, afeito às lendas ordinárias, como o filme deixa claro. Após o massacre dos índios em Wounded Knee, pelo qual Frank se sente em parte responsável, ele é um homem amargurado e entregue à bebida que sobrevive através de exibições a cavalo num circo itinerante.

       A masculinidade de Hopkins, alcoólatra e decadente, cavalga seu adorado e cativante mustang Hidalgo em apresentações patéticas com Buffalo Bill. Isso até receber um convite para participar de uma competição no deserto do Oriente Médio, organizada pelo sheik Riad. Será a primeira vez que um estrangeiro tentará o prêmio, e cavalgando um animal mestiço contra os puros-sangues árabes, o que aparentemente representa uma ofensa aos muçulmanos. Frank com seu mustang Hidalgo precisam enfrentar os perigos do chamado “mar de fogo”, como é conhecido o deserto árabe. O mustang é um mito, mas também uma necessidade americana. Robusto, miscigenado e cavalgando livre pelas planícies, é uma negação politica da tragédia do processo civilizatório norte-americano, traduzido em massacres contra os índios e segregação racial. O filme Mar de Fogo, narra a história social real de um impávido e, sobretudo, invencível cavaleiro de maratonas.  
Ao chegar à Arábia, percebe que vai enfrentar não apenas tempestades de areia, nuvens de gafanhotos e areias movediças, mas também um grupo de trambiqueiros astutos que farão tudo para ganhar a corrida. É então que entram na história social diversos elementos estranhos. Entre eles está a improvável atração romântica entre o caubói e a filha de um xeique (Omar Sharif), (do árabe sheikh, com origem no persa shāh, significa rei ou soberano), que quase arranca os testículos de Frank por ele apenas dirigir a palavra a sua filha. Há também um príncipe (Said Taghmaoui) que prefere morrer a perder, além de um rebelde (Silas Carson) que não passa de um ladrão de cavalos. A visibilidade do filme é extraordinária, filmado no Marrocos um dos países mais bonitos do continente africano e vários locais na região no oeste norte-americano, Johnston e a diretora de fotografia Shelly Johnston conferiram às paisagens desérticas aparentemente uma beleza silenciosa, ágil e encantadora. Mesmo que a história ficcional não passe necessariamente no país, se bem que o Marrocos representa tanta diversidade de paisagens e belezas naturais que possibilita a representação de diversos países. Segundo o jornal Le Soir o país recebe produções norte-americanas, representando 41%, seguido pelos britânicos com 33% e pelos franceses com 10%. A Arábia reconhecida como península Arábica ou Árabe, é uma península no sudoeste da Ásia e situada ao nordeste da África na placa árabe.  
Bibliografia geral consultada.
COLOMBRES, Adolfo, Por la Liberación del Indígena: Documentos y Testimonios, Compilación del Proyecto Marandú. Buenos Aires: Ediciones Del Sol, 1975; BROWN, Dee, Enterrem Meu Coração na Curva do Rio. Uma História India do Oeste Americano. 9ª edição. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1981; McDONNELL, Janet, The Dispossession of the American Indian 1887-1934. Bloomington: Indiana University Press, 1991; BENATTI, José Heder; ALENCAR, José Maria, Os Crimes contra Etnias e Grupos Étnicos: Questões sobre o Conceito de Etnocídio. Os Direitos Indígenas e a Constituição. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1993; LIGGETT, Lorie, Wounded Knee Massacre - An Introduction. Bowling Green State University, 1998; THOMSON, Sinclair, Cuando sólo Reinasen los Indios. Política Aymara en la Era de la Insurgencia. La Paz: Ediciones Aruwiyri, 2007; Declaración de las Naciones Unidas sobre los Derechos de los Pueblos Indígenas - Resolución Aprobada por la Asamblea General, 13 de septiembre de 2007; GINOT, Isabelle; MICHEL, Marcelle, La Danse au XXe Siêcle. Paris: Éditions Larousse, 2008; CAMPOS, Daniel Vasconcelos, Irracionalidade e Destino no Pensamento de Max Weber. Tese de Doutorado em Filosofia. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Departamento de Filosofia e Metodologia da Ciência. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2013; LACERDA, Rosane Freire, Volveré, y Seré Millones: Contribuições Descoloniais dos Movimentos Indígenas Latino-Americanos para a Superação do Mito do Estado-Nação. Tese de Doutorado. Faculdade de Direito. Brasília: Universidade de Brasília, 2014; Artigo: “Michael Blake, Vencedor do Oscar por Dança com Lobos, morre aos 69 anos”. In: http://g1.globo.com/pop-arte/cinema/noticia/2015/05/SILVA, Liana Amin Lima da, Consulta Prévia e Livre Determinação dos Povos Indígenas e Tribais na América Latina: Re-existir para Co-existir. Tese de Doutorado. Curitiba: Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 2017; DIAS, Thiago Cancelier, O Língua e as Línguas: Aldeamentos e Mestiçagens entre Manejos de Mundo Indígenas em Goiás (1721-1832). Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em História. Faculdade de História. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2017; entre outros. 

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Antiliberalismo - A Questão Pragmática & Discursiva no Brasil.

                                                                                                    Ubiracy de Souza Braga
 
Conciliando os recíprocos interesses das colônias e metrópoles”. José da Silva Lisboa 

        
            
Na linguagem teórica, as palavras e expressões funcionam como conceitos teóricos. Em sua periodização histórica, teórica e ideológica as palavras e expressões funcionam de forma distinta, porque se referem à concepção de uma determinada teoria da história. A dificuldade própria da terminologia teórica consiste, pois, em que, por detrás do significado usual da palavra, é preciso sempre discernir o seu significado conceptual, que é sempre diferente do significado usual corrente nas fontes, nas atas, nos documentos oficiais, no âmbito da formação discursiva. Na sua significação mais geral deve nos permitir a compreensão que tem por efeito o conhecimento de um objeto: a narrativa da história. É assim que a história abstrata criticada por Marx ou a história em geral não existem, no sentido do termo, mas a história real, ou “como efetivamente ocorreu” (“essen Sie tatsächlich, es passierte”), concreta e singular que enformam a experiência acumulada da humanidade.  Neste sentido a História como ofício teórico e metodológico do historiador analisa os processos, personagens e fatos sociais, econômicos e políticos para poder compreender e demarcar um determinado período histórico de formação e da gênese da cultura ou mesmo processual da civilização. 
Metodologicamente a tradição clássica do Manifesto Comunista de 1848 concebe o Estado como um “aparelho repressivo”, uma “máquina de repressão”, ou, “comitê executivo da classe dominante” que permite a configuração das classes no poder assegurar a sua dominação sobre a classe operária, extorquindo desta última a mais-valia. O Estado é, antes de tudo, o “Aparelho de Estado”, termo que compreende não somente o “aparelho especializado”, mas também o exército que intervém como força repressiva de apoio em última instância, o Chefe de Estado, o Governo e a Administração, definindo o Estado como força de execução e de intervenção repressiva a serviço das frações da classe dominante. A rejeição hegeliana parte da própria negação de “estruturas hegelianas” em Marx, onde a totalidade expressiva de Hegel cede lugar, na análise crítica de Louis Althusser, ao “todo-estruturado”. É um todo “sobredeterminado” (“uberdeterminierung”) com níveis de análise e instâncias relativamente autônomas. Na configuração social das esferas de ação há diferente da lógica dialética, “todos parciais”, sem prioridade de um “centro”. Na análise do econômico opera-se a rejeição da “unicausalidade econômica” e das lutas sociais e políticas atribuindo-se as instâncias, então determinadas do discurso como o político e ideológico, o peso de instâncias decisivas, dominantes em ser determinantes. Mas no uso cotidiano da linguagem, o conceito de civilização é, muitas vezes, despido de seu caráte originalmente processual, pois se compararmos o desenvolvimento da humanidade, deparamos-nos com um amplo processo de civilização humana. 



O nacionalismo representa uma tese ideológica (cf. Alzira, 1975) surgida historicamente após a revolução clássica francesa. Em sentido estrito, consubstanciaria um sentimento de valorização marcado pela proximidade e identificação com uma nação. Costuma diferenciar-se do ideário do patriotismo devido à sua definição mais estreita. Ipso facto, entendemos que o patriotismo é considerado mais uma manifestação amorosa aos símbolos do Estado, inclusiva ao Hino e a Bandeira, suas instituições e/ou representantes. O nacionalismo apresenta uma definição política, sobretudo da preservação da nação enquanto entidade, por vezes na defesa de território delineado por fronteiras terrestres, mas, acima de tudo nos campos linguístico, cultural, etc., contra processos de destruição identitária ou transformação. O historiador Lord Acton, afirma que o patriotismo prende-se com os deveres morais que temos para com a comunidade política, enquanto que o nacionalismo está mais ligado à etnia. Foram os mais diversos movimentos sociais dentro do espectro político-ideológico que se apropriam do nacionalismo, seja como elemento programático, seja como forma de propaganda. 
Nomeadamente nos finais do século XIX em Portugal contra o “iberismo”. Ipso facto no século XX o nacionalismo permeou movimentos radicais autoritário/totalitário com o ideário em torno do fascismo, o nacional-socialismo na Alemanha, o saudosismo e o integralismo no Brasil e em Portugal (cf. Caetano, 1971), guardadas as proporções,  durante o Estado Novo no Brasil, analogamente à formação do Estado Novo em Portugal. A categoria Estado Novo representa o regime político autoritário, autocrata e corporativista de Estado que vigorou em Portugal durante 41 anos sem interrupção, desde a aprovação da Constituição de 1933 até o fim pela revolução de 25 de abril de 1974. A designação oficial de Estado Novo, criada, sobretudo por razões ideológicas e propagandísticas, serviu para assinalar a entrada num novo período político aberto pela chamada revolução de 28 de maio de 1926 que ficou marcado por uma concessão presidencialista, autoritária e antiparlamentar através do Estado. Neste sentido, o Estado Novo encerrou o período do liberalismo em Portugal, abrangendo nele não só a Primeira República, como também a experiência do Constitucionalismo monárquico.
Independentemente do modo como o regime de Salazar se via a si próprio, a questão gira em torno de saber em que características, essenciais ou secundárias, o Estado Novo diferiu do padrão fascista: existência ou não de movimento de massas, papel do partido único, estrutura, lugar e papel dos sindicatos e corporações no Estado, características e estilo de governação do chefe carismático, grau de autonomia do poder judicial, liberdades públicas, nível de repressão das oposições políticas, independência da Igreja Católica. Nos pontos citados, com efeito, há diferenças e semelhanças entre o Estado Novo e a dimensão política efetiva do fascismo: há diferenças flagrantes no papel atribuído ao movimento de massas e no estilo autoritário de governação do chefe; há semelhanças muito vincadas no papel e função do partido único e no lugar praticado dos sindicatos e das corporações na estrutura do Estado, assim como no cerceamento das liberdades públicas e no nível de repressão das oposições políticas.

No Brasil desde a queda da ditadura do Estado Novo, em 1945, e a ascensão do populismo que permeou os governos que se sucederam hic et nunc até o golpe de Estado de 1° de abril de 1964, a sociedade brasileira havia mudado substancialmente, tornando-se complexa e diversificada econômica e politicamente. A industrialização e o crescimento da população urbana, somados à legislação trabalhista varguista e ao fortalecimento de sindicatos, partidos políticos e movimentos sociais rurais e urbanos, favoreceram a mobilização e a radicalização em torno de propostas nacionalistas, anti-imperialistas, e de reformas de base, tais como a urgentíssima reforma agrária no Brasil. Os processos de transição política e consolidação democrática no Brasil podem ser considerados um excelente laboratório de Ciência Política, tanto pela longue durée, como pela variedade dos eventos que marcam tal período da história brasileira recente. Em 1945, o debate intelectual girava em torno da democratização. 
Foi o nacionalismo que forneceu, de fato, a trama da vida política, um nacionalismo sem nenhuma relação, á primeira vista, com o período 1925-40. A nação estava constituída em torno de seus interesses econômicos, de sua cultura e vontade política. Ela se experimenta a si mesma, afirmando-se dia a dia contra as nações dominantes. O sentimento de identidade é substituído pelo de confronto; o avento do povo como sujeito político liga-se à sua mobilização a serviço da soberania nacional. Dois episódios marcam simbolicamente a conjunção do nacionalismo com a participação popular: a campanha que culminou na criação da Petrobrás, a companhia nacional de petróleo, em outubro de 1953, e a emoção desencadeada pelo suicídio de Getúlio Vargas. A campanha “O petróleo é nosso” (cf. Cohn, 1968) propiciou a convergência de diversos setores nacionalistas que se colocavam contra o projeto inicial apresentado por Vargas. A morte selou, assim, a fusão do povo com a nação. O getulismo torna-se um mito (pessoa) quanto ideário fundador. Estes foram os anos articulados economicamente em torno do  amálgama do chamado desenvolvimentismo brasileiro (cf. Cardoso, 1977).            
Em 1953, os cariocas do grupo Itatiaia fundaram um instituto particular, Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política, o IBESP, tendo como secretário-geral Hélio Jaguaribe e do qual fizeram parte os economistas e sociólogos. Em 1955, a ele se agregaram Juvenal Osório Gomes e Nelson Werneck Sodré, militar de carreira, ligado à corrente nacionalista do general Newton Estillac Leal. Dos paulistas do grupo Itatiaia, só Roland Corbisier entrou para o novo Instituto. Esta irá publicar a revista Cadernos de Nosso Tempo entre 1953 e 1956 que irá elaborar um diagnóstico da sociedade brasileira. A morte de Getúlio Vargas e sua substituição provisória por Café Filho, sustentado pelos antigetulistas, transformou-se, com o novo nome do ISEB, num instituto oficial plenamente autônomo, mas vinculado ao Ministério da Educação e Cultura, graças ao apoio do titular desse Ministério, Cândido Motta Filho, sem ter jamais aderido ao Integralismo, foi um simpatizante deste movimento reacionário, tendo participado em 1932 da Sociedade de Estudos Políticos de São Paulo, primeira etapa para a origem da Ação Integralista. No ISEB se reencontra a maioria dos membros do IBESP.
Hélio Jaguaribe continuou como o verdadeiro dinamizador do Instituto, ainda que, devido às suas responsabilidades no setor privado, não ocupasse a sua direção, atribuída a Roland Corbisier. Foram criados os departamentos de filosofia, história, economia, sociologia e ciência política, colocados sob a responsabilidade de Álvaro Vieira Pinto, Cândido Mendes, Ewaldo Correia Lima, Guerreiro Ramos e Hélio Jaguaribe. Foi instituído um Conselho de Tutela, no qual participava Anísio Teixeira, Ernesto Luiz de Oliveira Júnior, Hélio Burgos Cabral, Hélio Jaguaribe, José Augusto de Macedo Soares, Nelson Werneck Sodré, Roberto Campos e Rolando Corbisier. Com a eleição de Juscelino Kubitschek, pareciam reunidas as circunstâncias “para fazer do ISEB uma peça essencial da nova administração”. Como é sabido, Roland Corbisier era pessoalmente ligado ao Presidente da República, e diversos membros do ISEB participaram individual e coletivamente da campanha. Porém o ISEB, segundo Daniel Pécault (1990) estava longe de ser homogêneo. Compreendia intelectuais que continuavam a tradição da década de 1930: Roland Corbisier, Guerreiro Ramos e Cândido Mendes; filósofos de formação, Álvaro Vieira Pinto; economistas, como Roberto Campos e Ignácio Rangel; um militar-historiador marxista Nelson Werneck Sodré; um cientista político como Hélio Jaguaribe, pari passu homem de negócios no cargo responsável pela página econômica do Jornal do Comércio.
Foram muito diferentes as suas carreiras políticas: Roland Corbisier originou-se do integralismo, próximos do qual também estiveram Álvaro Vieira Pinto e Guerreiro Ramos durante certo período; Nelson Werneck Sodré, que colaborou na revista Cultura Política durante o Estado Novo, inseriu-se na corrente nacionalista do exército e iria tornar-se um dos intelectuais mais destacados do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Hélio Jaguaribe era antes de tudo, um “desenvolvimentista”. A projeção do ISEB não advinha apenas de seus membros permanentes, mas decorreu também do prestígio e honra de numerosos conferencistas eventuais como Celso Furtado. Enfim, o ISEB provocou a desconfiança não só de muitos intelectuais paulistas que nele viam, à semelhança do grupo de Itatiaia, um ressurgimento do Integralismo (cf. Trindade, 1971) de intelectuais de direita (cf. Bobbio, 1999), que percebiam nele a aproximação entre getulistas e membros comunistas. O ISEB conservou-se, sobretudo até 1958, mais como um centro de estudos. Na visão do ministro Cândido Motta Filho, tratava-se de um Instituto Civil que devia, da mesma maneira que a Escola Superior de Guerra consagrar-se às ciências sociais “afim de aplicar as categorias e os dados dessas ciências à análise e compreensão crítica da realidade brasileira, buscando a elaboração de instrumentos teóricos que permitam estimular e promover o desenvolvimento nacional” (cf. Pécault, 1990: 110).
A construção da capital Brasília (DF), de um lado, e o lançamento da indústria automobilística confiada a firmas estrangeiras, de outro, revelam as oscilações de um governo que, lança as bases do que logo foi batizado como “capitalismo associado”. A partir de 1959-60, a cisão vai se exacerbando. Frente aos nacionalistas que, durante o governo João Goulart, acreditaram vencer com a concretização das “reformas de base”, a maior parte dos industriais, exportadores e grandes proprietários fundiários se organizam para influir sobre a opinião pública. Apoiados pela maioria dos grandes jornais estão na origem da criação, em 1959, de fundações ideológicas como o IBADE - Instituto Brasileiro de Ação Democrática e a ADEP - Ação Democrática Popular que propagavam o anticomunismo e financiavam as campanhas eleitorais de candidatos “confiáveis”. Na linguagem analítica da esquerda, a oposição entre os “nacionalistas” e “entreguistas” comandava então o sentido nacional da vida política. Tudo o que pretendiam os intelectuais orgânicos do ISEB era formular o “sentimento de massas”.   
A tese central do “nacionalismo desenvolvimentista” tem como representação social o desenvolvimento econômico e a consolidação da nacionalidade constituindo dois aspectos do mesmo processo emancipatório. O desenvolvimento dependeria, assim, de uma consciência nacional mobilizada em torno de uma vontade no plano global de desenvolvimento. Na esfera cultural, a retórica do início dos anos 1960, tanto de “direita” como de “esquerda”, para lembrarmo-nos da ciosa interpretação de Norberto Bobbio, foi demarcada pelo uso corrente das categorias sociais “povo” e “nação”, ou nacional- popular. Os movimentos de esquerda no caso emblemático do Centro Popular de Cultura (CPC), além do discurso anti-imperialista adotaram também uma postura vanguardista, baseada na premissa de que a autêntica cultura popular revolucionária é aquela produzida por artistas e intelectuais que optaram pelo povo - enquanto a cultura do povo era considerada arcaica e atrasada. A coleção Cadernos Brasileiros e a Revista Civilização Brasileira, editadas por Ênio Silveira, e a História Nova, organizada por Nelson Werneck Sodré, sugerem a intensa colaboração entre o ISEB e o CPC.
Do ponto de vista técnico o quadro administrativo do ISEB era formado por três órgãos: o Conselho Consultivo, de orientação geral composto por 50 membros, designados pelo MEC; o Conselho Curador, órgão de direção, com a assistência do Conselho Consultivo e composto por oito membros, também designados pelo MEC; a Diretoria Executiva, exercida por um Diretor eleito pelo Conselho Curador, além de cinco Departamentos. Com o golpe de 1964 é aberto um Inquérito Policial Militar do ISEB. Desse IPM foram destacados dois pontos que, na visão dos militares participantes do golpe, comprometiam politicamente o ISEB tomado como uma “organização determinada por Moscou”. Por um lado, publicou-se no Instituto folheto esclarecedor acerca da vigência do regime parlamentarista com o plebiscito realizado em 1961, a partir da renúncia de Jânio e que veio limitar os poderes decisórios de João Goulart. Por outro lado, o ISEB cometeu o erro de ter realizado cursos e conferências em entidades estudantis e sindicais - leiam-se subversivas. O primeiro ato de Ranieri Mazzilli foi sua extinção pelo Decreto n° 53884 de 13 de abril de 1964 (cf. Sodré, 1978).
A totalidade concreta instituição já é, portanto, fruto de um trabalho de abstração ou, se se prefere, fruto de um trabalho de produção de um objeto de pensamento. Mas a constituição de uma totalidade concreta é muito pouco para um trabalho teórico, segundo determinantes da própria teoria. Isto significa que, se se quiser fugir de uma terminologia essencialista, será necessário entender que uma proposição do tipo a escola é um sistema de reprodução da ideologia dominante refere-se à totalidade empírica escola, não mais a este ou aquele estabelecimento, totalidade esta cuja pertinência interpretativa se à sua análise em termos de aparelho ideológico de Estado – uma entidade teórica designa sempre uma propriedade que, se é observável, pode ser interpretada em termos de propriedades empíricas de uma totalidade, jamais em termos de totalidades enquanto tais. O engano de nomeá-las, multiplicando suas propriedades exaustivamente, levaria no máximo à elaboração de um extenso catálogo de nomes, uma confusão entre o plano de análise (teoria) e o plano da realidade, jamais à produção de conhecimento. Por onde surge a categoria da totalidade, desaparece o rigor científico.  
Três dias após o golpe político-militar de 1964, foi decretada a extinção do ISEB seguido da instauração um inquérito policial-militar (IPM) para apurar suas atividades. Diretores e professores do Instituto foram investigados extrajudicialmente e alguns de seus pensadores, como Álvaro Vieira Pinto tiveram que sair do país, compulsoriamente para o exílio. Entre o escol composto pelos membros do Iseb estavam: Hélio Jaguaribe, Roland Corbisier, Alberto Guerreiro Ramos, Nelson Werneck Sodré, Antonio Cândido, Wanderley Guilherme dos Santos, Cândido Mendes, Ignácio Rangel, Álvaro Vieira Pinto e Carlos Estevam Martins tendo como colaborador Celso Furtado, Gilberto Freyre e Heitor Villa Lobos. Entre os seus membros ilustres, em oposição assimétrica, podemos citar Miguel Reale e Sérgio Buarque de Holanda. Entre seus alunos mais destacados, inclui-se o ativista afro-brasileiro Abdias Nascimento. O ISEB surgira em 1955, por decreto do presidente da República, João Café Filho.
Criado e regulamentado por Juscelino Kubitschek, o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) projetou-se como centro formulador de uma ideologia desenvolvimentista no país. Também sobressaiu enquanto concepção de cultura como elemento impulsionador de transformações socioeconômicas e de fixação de identidades nacionais. Este Centro de Altos Estudos nascia com liberdade de opinião e de cátedra e se constituía, nos primeiros anos num quadro de pensadores heterodoxos. Sua origem institucionalizava um debate sobre o desenvolvimento econômico, político e social que já existia no Brasil desde a década de 1940, mas que a universidade, incipiente, aparentemente não perfazia. O instituto emergia dentro dos quadros orgânicos do Ministério da Educação, com uma função e com um conteúdo de sentido claro: deveria produzir pesquisas e análises que contribuíssem para a definição de um projeto nacional de desenvolvimento econômico, político e social. Os isebianos, reunidos na Rua das Palmeiras, no famoso bairro de Botafogo (RJ) promoveram vários cursos, conferências, seminários, pesquisas, publicaram livros sob divesos temas etc., durante seus quase nove anos de existência como agremiação. Existiu um pensamento político-ideológico isebiano e o Instituto pretendeu realizar um conjunto de práticas e saberes sociais em torno de intelectuais diversos que não expressavam, nem a mesma linguagem e nem  mesmo o “único receituário de orientação para suas opções políticas”.

O ISEB foi criado pelo Decreto nº 37.608, de 14 de julho de 1955, como órgão do Ministério da Educação e Cultura (MEC). O grupo de intelectuais que o criou tinha como objetivos o estudo, o ensino e a divulgação das ciências sociais, cujos dados e categorias seriam aplicados à análise e à compreensão crítica da realidade brasileira e deveriam permitir o incentivo e a promoção do desenvolvimento nacional. O ISEB foi um dos centros mais importantes de elaboração teórica de um programa do curso “Introdução aos Problemas Brasileiros”, promovido pelo ISEB no Rio de Janeiro em 14 de maio de 1959, reconhecido como “nacional-desenvolvimentista”. Criado ainda no governo Café Filho, o ISEB iniciou suas atividades políticas quando Juscelino Kubitschek assumia a presidência da República concomitantemente acelerava a industrialização, com a ampliação dos investimentos privados nacionais e estrangeiros, além do investimento de tradição estatal. Os intelectuais do ISEB apoiaram a política nacional de desenvolvimento por considerá-la muito próxima das idéias que vinham formulando. 
O Instituto não conseguiu sensibilizar os grupos mais representativos das ciências sociais no Brasil. Os cientistas sociais da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Brasil, depois UFRJ não atribuíram aos intelectuais do ISEB legitimidade para exercer o papel de analistas e formuladores de soluções para a sociedade, por os considerarem carentes de formação científica em sociologia, ciência política, economia, história e antropologia. De fato os “isebianos” eram percebidos como intelectuais de formação bacharelesca, desprovidos de instrumentos teóricos e metodológicos indispensáveis para o exame científico da sociedade. Portanto, a maioria dos integrantes do ISEB era de advogados com interesses intelectuais voltados basicamente para a filosofia política. A desconfiança em relação ao ISEB se manifestou também por parte de alguns jornais e associações empresariais, que identificavam os intelectuais do órgão como ligados aos movimentos de esquerda e aos comunistas.
Ao nível do pensamento social o “realismo” era a palavra-chave. No entanto, o horror à realidade ressurgia sem cessar. Revelar a realidade, desvendar sua coesão oculta, mostrar as solidariedades que a irrigam: todos, depois de Alberto Torres, embarcam nessa aventura. Alceu Amoroso Lima, católico, preconiza “a filosofia do realismo integral” para responder às questões conjunturais, conseguir “colocar cada coisa em seu lugar” e evitar que a “vida se baseie apenas no arbítrio das maiorias ocasionais”. Oliveira Vianna, teórico do corporativismo, faz a apologia do “país real”, aquele cuja unidade se constrói na história. Mas a história passada não basta para atestar a sua unidade. Melhor dizendo, as estruturas familiares, as relações cotidianas, as relações de favor e compadrio, os costumes mostram muito melhor o processo de criação dos laços sociais ocultos nas profundezas das mentalidades e das trocas sociais. As análises de Vianna sobre o sistema da fazenda escravagista ressaltavam o espírito da família que ele cria: - “Estes são como membros da família e quase sempre ligados ao fazendeiro por terna afetividade. Jamais conhecemos a aristocracia de casta”.
Os objetivos da marcha para a “realidade” são aparentemente claros. Consistem, num primeiro momento, em demonstrar que não existe o indivíduo isolado: ele está, já de início, inserido numa coletividade. Ficava, assim, anulada a validade das ideias políticas referentes ao individualismo. Num segundo momento, visam a destacar a interdependência entre aqueles que ocupam posições sociais desiguais; desse modo, caducavam quase todas as teorias fundamentadas na divisão de classes. Pretenderam, enfim, provar que existia uma unidade nacional de fato, que faltava apenas fortalecê-la pela via institucional. Mas não foram esses os únicos objetivos do “realismo”. É certo, por exemplo, que estas descrições permitem também mesclar a aspiração por um Estado moderno ao respeito pelas formas patriarcais, concebendo o Estado moderno como prolongamento da dominação patriarcal. O importante é a maneira e marca com que a realidade serviria de fundamento político e a identidade cultural nela enraizada. Pois fundamentava o nacional e sua evolução explica a diferenciação entre as elites políticas e culturais e a transformação social do bendito povo-nação.
Bibliografia geral consultada.
 
CARDOSO, Miriam Limoeiro, Ideologia do Desenvolvimento - Brasil: JK-JQ. Tese de Doutorado em Sociologia. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1977; TOLEDO, Caio Navarro de, ISEB: Fábrica de Ideologias. 1ª edição. São Paulo: Editora Ática, 1977; MEDEIROS, Jarbas, Ideologia Autoritária no Brasil, 1930-1945. Prefácio de Raymundo Faoro. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1978; SODRÉ, Nelson Werneck, A Verdade Sobre o ISEB. Rio de Janeiro: Editor Avenir, 1978; CODATO, Adriano Nervo, Elites e Instituições no Brasil: Uma Análise Contextual do Estado Novo. Tese de Doutorado. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2008; MARTINI, Renato Ramos, Álvaro Viera Pinto: Massas, Nacionalismo e Cultura na Realidade Nacional. Tese de Doutorado em Sociologia. Faculdade de Ciências, Letras e Artes. Araraquara: Universidade Estadual Paulista, 2008; TORGAL, Luís Reis, “Do Tradicionalismo Antiliberal ao “Nacionalismo Integral” e à “Terceira Via” dos ´Estados Novos`”. In: Historiæ. Rio Grande, 1 (1): 75-88, 2010; LOVATTO. Angélica, Os Cadernos do Povo Brasileiro e o Debate Nacionalista dos anos 1960: Um Projeto de Revolução Brasileira. Tese de Doutorado em Ciências Sociais. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2010; GARCIA, Lênin Tomazett, O Ciclo da Revolução Burguesa Tupiniquim e a Educação de Adultos no Brasil. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Educação.  Faculdade de Educação. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2015; RIBEIRO, Renato Ferreira, Nacional-desenvolvimentismo e Política Externa Brasileira: O Pensamento Político de San Tiago Dantas entre 1950 e 1960. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciência Política. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2016; COSTA, Alencar Cardoso da, Antiliberalismo e Autoritarismo nos Escritos de Carl Schmitt (1919-1933). Dissertação de Mestrado em História. Instituto de Ciências Humanas e Sociais. Cuiabá: Universidade Federal de Mato Grosso, 2016; RIBEIRO, Douglas Carvalho, As Raízes Antiliberais de Sérgio Buarque de Holanda: Carl Schmitt em Raízes do Brasil. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Direito. Faculdade de Direito. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2017; entre outros.