quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Søren Kierkegaard - Pessoa & Nomes da Liberdade Cristã.

                                                                                     Ubiracy de Souza Braga

A morte é a angústia de quem vive, e a solidão é o fim de quem ama”. Vinicius de Moraes

                      
            Normalmente pseudônimo é um nome inventado por um escritor ou um poeta  que não queira ou não podia assinar suas próprias obras literárias ou políticas. Sob o aspecto técnico-jurídico, o pseudônimo é tutelado pela Lei quando tenha adquirido a mesma importância no nome oficial, nas mesmas modalidades que defendem o direito ao nome. Pode ser um apelido ou sigla utilizado por um grupo com um propósito em particular, escondendo seu nome original de nascimento. Na história social alguns pseudônimos famosos e seus respectivos representantes são: Allan Kardec ou Hippolyte Léon Denizard Rivail, Buddha ou Siddhartha Gautama, Mahatma Gandhi ou Mohandas Karamchand Gandhi, Madre Teresa ou Agnes Gonxha Bojaxhiu, Osho ou Rajneesh Chandra Mohan, Caravaggio ou Michelangelo Merisi, Donatello ou Donato di Niccolò di Betto Bardi, Picasso ou Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Ruiz y Picasso, Caligula ou Gaius Julius Caesar Augustus Germanicus, Al Capone ou Alphonse Gabriel Capone, Coco Chanel ou abrielle Bonheur Chanel, para ficarmos nestes belos exemplos.
Ipso facto, historicamente por trás de curiosos pseudônimos, o filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard evitou o reconhecimento nominal usando os mais diversos pseudônimos com inúmeros significados: Victor Eremita, Johannes de Silentio, Constantin Constantio, Hilarius Bogbinder, Anti-Climacus. Reconhecido por levar uma vida solitária e isolada, Kierkegaard foi um dos fundadores da filosofia existencialista. A sua obra teológica incide sobre a ética cristã e as instituições da Igreja. Ele escreveu muitos de seus Discursos de Edificação sob seu próprio nome e os dedicou ao indivíduo único que pode querer descobrir o significado de suas obras. Notavelmente, ele escreveu: - “A ciência e o método escolar querem ensinar que o objetivo é o caminho. O cristianismo ensina que o caminho é tornar-se subjetivo, tornar-se um sujeito”. Embora os cientistas possam aprender sobre o mundo pela observação, Kierkegaard negou enfaticamente que essa observação poderia revelar o funcionamento interno do mundo do espírito. Na vertente psicológica explora as emoções e sentimentos dos indivíduos quando confrontados com as escolhas pessoais que a vida oferece. O Desespero Humano é um livro escrito em 1849 sob o pseudônimo Anti-Climacus. Trata o conceito de desespero de Kierkegaard, comparado ao conceito cristão de pecado. Muitos destes termos utilizados  demonstram uma conexão inegável com os conceitos utilizados mais tarde por Sigmund Freud.
        Como parte do seu método filosófico, inspirado por Sócrates e pelos diálogos socráticos, a obra inicial de Kierkegaard foi escrita com vários pseudônimos que representam, cada um deles os seus pontos de vista metodológicos distintivos (cf. Ellenberger, 1977; Roos, 2007; Santos, 2014) e que interagem socialmente uns com os outros em complexas formas de diálogos. Este método de interpretação permitiu-lhe apresentar pontos de vista distintos e interagir socialmente com os outros em um diálogo complexo. Ele explorou problemas  complexos a partir de diferentes pontos de vista, cada um sob um pseudônimo diferente. O termo pecado, por exemplo, é utilizado em contexto religioso para descrever qualquer desobediência à vontade de Deus; mas em especial, qualquer desconsideração deliberada de leis divinas. Vale lembrar desde sua fundação, que a igreja é vista como um local de auxílio aos seus membros mais necessitados. O apóstolo Tiago, exorta para que a igreja olhe, vele, assista às pessoas que estão carentes de assistência, de ajuda, como os órfãos e as viúvas em suas necessidades.

Tiago, o Justo, morto em 62 d.C., reconhecido como Tiago de Jerusalém, ou ainda Tiago, irmão do Senhor, foi uma importante pessoa nos primeiros anos do Cristianismo. Tiago é chamado de “o Justo” por causa de sua retidão e religiosidade. O nome também nos ajuda a distingui-lo de outras importantes figuras da igreja antiga de mesmo nome, como Tiago Maior (filho de Zebedeu) e Tiago Menor. Com exceção de um punhado de referências nos Evangelhos, as principais fontes de sua vida são os Atos dos Apóstolos, as Epístolas paulinas, o historiador Flávio Josefo, Eusébio de Cesaréia e o autor cristão Hegésipo. Acredita-se que ele seja o autor da Epístola de Tiago no Novo Testamento, o primeiro dos Setenta Apóstolos e o autor do Decreto Apostólico de Atos 15. Na Epístola aos Gálatas, Paulo de Tarso o descreve em sua visita a Jerusalém, onde ele encontrou com Tiago e esteve com Simão Pedro. Durante o ministério terreno de Jesus, Tiago é contado entre os irmãos que não criam em seu nome como o Messias. Vindo a crer e fazer parte do grupo dos Apóstolos após ter visto pessoalmente a aparição de Jesus ressuscitado.

Tiago, o Justo, era o líder do movimento cristão em Jerusalém nas décadas seguintes à morte e ressurreição de Jesus, recebendo essa honraria em consenso dos Apóstolos, por ser da família de Jesus e descendente de Davi. Embora informação sobre a sua vida seja escassa e ambígua, diversas fontes primitivas citam-no como sendo irmão de Jesus. Historiadores já interpretaram isto de diversas maneiras, como sendo irmão num “sentido espiritual”, ou literalmente, significando que Tiago era mesmo um parente de Jesus - meio-irmão, irmão de criação, primo, outro parente e mesmo irmão de sangue. A mais antiga liturgia cristã sobrevivente, a chamada Liturgia de São Tiago, o chama de “irmão de Deus” (Adelphotheos), por conta da tradição Católica, Ortodoxa e Luterana. Muitas discussões discorrem pelas vertentes cristãs a respeito de seu grau de parentesco com Jesus. A afirmação bíblica e histórica predominante, é de que era irmão de Jesus, no sentido literal, pois era chamado de filho de José. 

                  
 Søren Kierkegaard, que viveu de 1813 a 1855, na Dinamarca, país que, como quase toda a Europa, estava nessa época sob o “império da influência cultural” de Hegel de quem se pode dizer que teria sido o autor do mais amplo sistema de compreensão da totalidade que se produziu na filosofia. Filho de um próspero comerciante e de uma empregada doméstica, Kierkegaard recebeu desde cedo formação religiosa luterana. A autoridade da Bíblia, da qual Lutero acreditava retirar a autoridade de sua concepção e vocação, favorecia em seu conjunto uma interpretação tradicionalista. Especialmente o Antigo Testamento, embora não fizesse referência alguma à mortalidade secular nas profecias originais, e só apresentassem alguns rudimentos e indícios dela, expressa um pensamento religioso muito parecido com essa orientação a qual “cada um deve preocupar-se com seu próprio sustento e deixar os ateus correr sozinhos atrás do lucro”. Em 1830, ingressou no curso de teologia e filosofia da Universidade de Copenhagen, interrompido com a morte de seu pai, em 1838. Conheceu Regine Olsen, em 1837, com quem viveu uma história amorosa fabulosa. Foi uma jovem dinamarquesa, reconhecida por ter sido noiva do filósofo dinamarquês. Ambos se conheceram em 1837, quando Regine tinha apenas 14 anos, e ficaram noivos no período de setembro de 1840 a outubro de 1841, até que Kierkegaard rompeu o noivado por inquietações filosóficas e religiosas pessoais.

Na última versão do Ranking QS das melhores Universidades do Mundo, publicado em 10 de setembro, a Universidade de Copenhague figura na 45ª posição – a mais alta dos países nórdicos. Com o novo ranking, a Universidade dinamarquesa subiu 6 posições desde o ano passado e alcançou a melhor posição de todos os tempos. A segunda Universidade dinamarquesa do ranking é a Universidade de Aarhus, na posição 91ª. Outras Universidades nórdicas no top 100 são: Universidade Lund, na Suécia (67), Universidade de Helsinki (69), Universidade Uppsala (79) e a Universidade de Oslo (89). QS World University Rankings são classificações universitárias anuais publicadas pela Quacquarelli Symonds (QS), do Reino Unido. A editora originalmente lançou seus rankings em publicação conjunta com a Times Higher Education (THE) entre 2004 e 2009 sob o nome Times Higher Education-QS World University Rankings, mas essa colaboração foi encerrada em 2010, com a retomada da publicação pela QS, utilizando a metodologia pré-existente e nova cooperação entre a Thomson Reuters e a Times Higher Education World University Rankings. Atualmente, os rankings da QS compreendem tanto tabelas classificativas mundiais quanto regionais, que são independentes e diferentes umas das outras devido a diferenças nos critérios e ponderações utilizadas para gerá-los. É uma das três classificações internacionais de universidades mais influentes e amplamente observadas, juntamente com o Times Higher Education World University Rankings e a Classificação Acadêmica das Universidades Mundiais. 

Logo após tê-la pedido em casamento, Kierkegaard desistiu de casar-se. Para justificar o rompimento, elaborou um complexo integrado de fatos sociais, que incluíam suas crises depressivas e um histórico familiar de infortúnios e desgraças. Com o pretenso objetivo de salvar a reputação de Regine, fez com que parecesse à sociedade ter sido ela que propôs o rompimento do noivado. Fugiu então para Berlim, onde ficaram seis meses. Após o rompimento do noivado com Kierkegaard, Regine Olsen noivou com um antigo pretendente, Johan Schlegel, alto funcionário do Estado, casando com o mesmo em 1847. Em 1855, acompanhou seu marido, nomeado governador das Índias Ocidentais Dinamarquesas, posteriormente as Ilhas Virgens Americanas. Voltaram para a Dinamarca em 1860, coincidentemente cinco anos após a morte de Kierkegaard. Em 1896 morre Schlegel e, no ano seguinte, Regine se muda para Frederiksberg, a fim de morar com o irmão mais velho, num distrito de Copenhague, na ilha da Zelândia. É o menor município da Dinamarca Juani, mas o quinto município mais populoso e de maior densidade populacional. Localiza-se como um enclave no município de Copenhaguen, a capital nacional. Frederiksberg é um dos tres municípios que não pertencem a nenhum condado da Dinamarca, embora disponha de privilégios. Como atração turística, destaca-se o Palácio de Frederiksberg. Regine morreu em 1904, e tanto ela como Schlegel foram enterrados perto do túmulo de Kierkegaard, no Cemitério Assistens, em Copenhague. Do ponto de vista filosófico o existencialismo é o nome dado à corrente filosófica iniciada no séc. XIX pelo filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard. Como o próprio nome diz, o conjunto de doutrinas existencialistas tem escopo na existência, isto é, na condição de existência humana. O termo foi cunhado somente no século XX por Gabriel Marcel, filósofo francês, em meados de 1940. O existencialismo francês do pós-guerra ficou popularizado em razão da obra de Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Albert Camus. 
 O tema da existência humana foi trabalhado por diversos pensadores, mas é Kierkegaard que faz das perguntas existenciais o foco de sua pesquisa filosófica. Escreveu sobre a aparente falta de sentido da vida, da busca de sair desse tédio e sobre a realização de escolhas livres. Assim, o homem, em sua liberdade, escolhe para definir sua natureza. Influenciado por Kierkegaard, o filósofo alemão Martin Heidegger (cf. Webber e Webber, 2018) desenvolveu sua ideia de Dasein, o termo principal na filosofia existencialista de Heidegger. Seu primeiro e mais conhecido livro, Ser e Tempo (1927), embora inacabado, é uma das obras filosóficas centrais do século XX. Em sua primeira divisão, Heidegger tentou se afastar das questões ônticas sobre os seres para as questões ontológicas sobre o Ser, e recuperar a questão filosófica mais fundamental: a questão do Ser, do que significa para algo ser. Heidegger abordou a questão através de uma investigação sobre o ser que tem uma compreensão do Ser, e faz a pergunta sobre ele, a saber, o Ser Humano, que ele chamou de Dasein (“estar lá”). Heidegger argumentou que o Dasein é definido por Care, seu modo de ser-no-mundo engajado e preocupado em oposição a pensadores  como Descartes, que localizou a essência do homem em nossas habilidades de pensamento. O homem não é um ser abstrato ou substância, mas existência presente, Dasein (“Ser-aí”).  Na sua obra Ser e tempo, Heidegger se põe a questão filosófica do ser. Que é ser? Heidegger afirma que o ser humano é um ente destacado: o ser humano é capaz de questionar o ser, possui uma compreensão do ser. Este ente é o homem, que Heidegger chama de ser-aí, o homem enquanto um ente que existe imediatamente no mundo. Para investigar o ser-aí, enquanto possui sempre uma compreensão de ser, impõe-se uma analítica existencial, que tem como tarefa explorar a conexão das estruturas existenciais que definem a existência do ser-aí.  Grande parte do pensamento de Heidegger consiste em ter ele problematizado o ser-em da existência humana. O homem não é, primeiramente, para depois criar relações com um mundo. Ele é homem na exata medida de seu ser-em, isto é, na exata medida em que possui um mundo ou abre o sentido de um mundo. Não existe anterioridade entre esses dois movimentos na ontologia heideggeriana.

            Em 1841, Søren Kierkegaard concluiu o curso universitário com uma tese sobre a influência do filósofo grego Sócrates sobre a vida cotidiana, intitulada: Sobre o Conceito de Ironia. A partir daí, Kierkegaard tornou-se um filósofo e um escritor prolífico. Escreveu centenas de textos, a maioria ensaios, sobre variados assuntos, entre os quais ataques à filosofia de G. W. F. Hegel e escritos sobre ética, estética e política. Entre seus primeiros manuscritos estão: Temor e Tremor, A Repetição e A Alternativa. Os pensamentos e ideias de Søren Kierkegaard como têm ocorrido com importantes pensadores na história da filosofia, da teologia e na sociologia das emoções, não foi sistematizado numa única obra acabada, mas disseminaram-se num conjunto de ideias em prefácios, ensaios, sátiras, novelas, resenhas e sermões de inspiração cristã. Subsequentemente, os acadêmicos têm interpretado Kierkegaard de maneira singular, mas sobretudo variada: como filósofo existencialista, neo-ortodoxo, pós-modernista, humanista e individualista.
           Cruzando as fronteiras imaginárias da filosofia, teologia, psicologia e literatura, tornou-se de grande influência para o pensamento contemporâneo. Em 1844, Kierkegaard publicou O Conceito de Angústia (cf. Kierkegaard, 1968) no qual investiga as circunstâncias em que o pecado se caracteriza pela indefinição e pela constante modificação de acordo com os fatos que o rodeiam. Nesse sentido se situa o recorte heurístico que pretende compreender com clareza, delimitação e finalidade, para que deste modo se possa compreender o conjunto daquilo que se investiga. Partindo da metáfora do pecado original sugere a angústia como situação que ocorre a Adão frente à possibilidade de escolha. O pecado original de Adão revela o sentimento de culpa, o sofrimento e a angústia. O homem, por sua natureza pecaminosa, posto que lhe seja dado escolher, vive na intranquilidade. A angústia é o sentimento que ocorre diante desta possibilidade, caracterizando a situação de liberdade na medida em que o homem que é livre também é livre para o pecado. Ela surge em face do real estabelecido. Tanto o pecado quanto a liberdade não se dão como premissa: a liberdade é infinita e provém do nada, e o pecado não é continuo como necessidade, mas dialético como possibilidade.
 O fato sociológico de que ele encontra-se na condição de dever se dar uma identidade precisa e concreta de dever se escolher, aliado à consciência de poder assim se realizar, mas também de poder falhar na escolha, é, porém, um elemento que nele produz angústia. E este estado de ânimo o predispõe ao pecado. No momento de escolher a si mesmo em plena liberdade, com efeito, o indivíduo é tomado, diante do abismo das suas inumeráveis possibilidades que o impele a agarrar-se ao finito, ao temporal mais do que ao Infinito, ao Eterno, enquanto tem a impressão de que aquilo que é diretamente tangível e imediatamente presente lhe garante maior segurança. Deste modo, porém, ele peca – se é verdade que o pecado consiste justamente no escolher o finito mais que o Infinito, no fundar-se sobre aquilo que é terreno mais do que sobre Deus. A angústia é a vertigem da liberdade.
           O fato, porém, de que cada indivíduo, diante da possibilidade de realizar-se concreta e realmente, esteja, por assim dizer, subjugado, se não absolutamente reduzido à impotência pela angústia, de tal maneira que termina por agarrar-se ao finito, ao temporal em vez de ao Infinito, ao Eterno e, consequentemente, por efetuar de forma errada a síntese e aprofundar-se no pecado. Isto significa que o pecado é, em certo sentido, o ato de constituir-se do homem com espírito, como Eu. É o lugar do verdadeiro e próprio tornar-se-homem do homem,  que assinala o início da história do gênero humano como de cada indivíduo singular. Para Kierkegaard, com efeito, o homem não tem uma essência definida, mas, pelo contrário, se faz com as suas escolhas e as suas decisões. No momento do despertar do espírito, isto é, no momento da escolha, o indivíduo, que se encontra diante da “angustiante possibilidade de ser-capaz-de”, pressagia a tarefa de que é encarregado de determinar-se em plena liberdade é assinalada pelo perigo do naufrágio, da unilateralidade, do erro.
           Ele é tomado pela angústia, pela “vertigem cristã da liberdade”, onde se pode dizer que a escolha não ocorre na indiferença. De um lado, portanto, o pecado representa o resultado de um “salto” (livremente desejado) de uma condição de inocência (status integritatis) a uma condição qualitativa, radical e totalmente diferente de pecaminosidade (status corruptionis) – um salto que, não obstante paradigmaticamente prefigurado no pecado original de Adão, se repete em cada indivíduo, já que o homem não nasce como pensava Santo Agostinho, em uma condição de pecaminosidade, mas, ao contrário, nela penetra somente em virtude da livre escolha. Aquela mudança radical de status que é o pecado, com efeito, só pressupõe a si mesmo, ou seja, somente pode ser compreendido a partir de si mesmo, e não a partir de qualquer outra coisa. A pecaminosidade não é uma condição produzida pelo pecado de Adão, hereditariamente e acabe assim por determinar a natureza e a escolha dos descendentes do primeiro homem, pelo contrário, é uma condição na qual cada indivíduo entra livremente por meio de seu primeiro pecado: se o homem é um pecador, o é, portanto, por sua livre escolha de julgamento de valores sociais.
        Segundo a concepção de fé cristã, ao criar o homem, compreende-se liturgicamente que Deus o teria habilitado ao livre arbítrio, que é a capacidade de escolher por si mesmo que caminho deve seguir. Após a Criação do homem, Deus o teria colocado no Jardim do Éden para cuidar e conservar, e teria determinado que ele, o homem, não comesse da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Essa árvore, segundo a interpretação alegórica, seria justamente o julgamento entre bem maior e bem menor fora da perspectiva divina, sem a qual se apresentaria de modo desordenado. Enfim, o homem, analogamente e o animal podem ter medo de algo específico e determinado: isto é, porém, na linguagem kierkegaardiana, o temor (“Frygt”) que se experimenta diante de um objeto distinto e aparentemente conhecido. O ter medo do nada, do indeterminado, e neste aspecto consiste a angústia (“Angest”), que é transcendentalmente sem objeto é, pelo contrário, um estado de ânimo próprio e exclusivo do homem. Não é por acaso que há angústia independentemente da cultura ou do grau de desenvolvimento de uma sociedade, e cada indivíduo a vive de maneira diversa e pessoal. Um ser totalmente necessitado (“sem alma” ) não experimentaria a angústia, assim como não experimentaria angústia um puro espírito (“sem necessidade”). A angústia é o sintoma da condição de criatura e da contingência do homem, e remete à insegurança que assinala a existência humana, mas é também o sinal de que o homem, como ser exposto à liberdade possível, é destinado a ser mais que um ser natural. A angústia pressupõe a experiência do Eu como espírito infinito, mas dialeticamente ao mesmo tempo, ligado à finitude, à temporalidade, à corporeidade da existência humana.
Bibliografia geral consultada.

KIERKEGAARD, Søren, O Conceito de Angústia. São Paulo: Editora Hemus, 1968; ROGERS, Carl; ROSENBERG, Rachel, A Pessoa como Centro. São Paulo: Editora Pedagógica Universitária, 1977; MAY, Rollo; ANGEL, Ernest; ELLENBERGER, Henri (Orgs.), Existencia: Nueva Dimension en Psiquiatría y Psicología. Madrid: Editorial Gredos, 1977; GARDINER, Patrick, Kierkegaard. São Paulo: Edições Loyola, 2001; ALMEIDA, Jorge Miranda; VALLS, Álvaro Luis Miranda, Kierkegaard. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2007; ROOS, Jonas, Tornar-se Cristão: O Paradoxo Absoluto e a Existência sob Juízo e Graça em Søren Kierkegaard. Tese de Doutorado. Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Teologia. São Leopoldo: Escola Superior de Teologia, 2007; PAULA, Marcio Gimenes de, Indivíduo e Comunidade na Filosofia de Kierkegaard. São Paulo: Editora Paulus, 2009; SAMPAIO, Laura Cristina Ferreira, A Existência Ética ou Religiosa em Kierkegaard: Continuidade ou Ruptura? Tese de Doutorado. Departamento de Filosofia e Metodologia das Ciências. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2010; LINDEMANN, Ricardo, Reconciliação do Platonismo com o Cristianismo na Relação Mestre e Discípulo: Uma Análise a partir de Migalhas Filosóficas de Kierkegaard. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Departamento de Filosofia. Brasília: Universidade de Brasília, 2014; OLIVEIRA, Ranis Fonseca de, A Comunicação Existencial na Filosofia de Søren Aabye Kierkegaard. Tese de Doutorado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Filosofia. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2014; SANTOS, Maria Deiviane Agostinho dos, Angústia e História: Um Reencontro da Liberdade em Kierkegaard. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2014; OLIVEIRA, Lauro Ericksen Cavalcane de, Uma Abordagen Culturalista de Kiekegaard: O Existencialismo Cristão e a Verdade da Subjetividade. Tese de Doutorado em Filosofia. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2016; ARAÚJO, Cleyton Francisco Oliveira, Angústia como Possibilidade de Subjetividade Segundo Kierkegaard. Dissertação de Mestrado em Filosofia. Toledo: Universidade Estadual do Oeste do Paraná, 2016; SOUTO MAIOR, Patrícia Silva, O Devir da Angústia: Um Diálogo entre Kierkegaard e Dostoiévski. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Estética e Filosofia da Arte. Departamento de Filosofia. Ouro Preto: Universidade Federal de Ouro Preto, 2017; entre outros.

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