Ubiracy de Souza Braga*
Eleição
é uma comédia estadunidense escrita em 1999 e adaptada do romance de 1998 de
Tom Perrotta, escritor estadunidense. Seus livros “Election” e “Little Children”
geraram filmes que foram indicados ao Globo de Ouro. Em ambos os filmes, Tom
participou da produção, ajudando na adaptação do roteiro, figurino etc. O
enredo gira em torno de uma eleição na escola, e satiriza a vida suburbana numa
tribo urbana e articulada ao movimento estudantil. O filme é estrelado por
Matthew Broderick, Reese Witherspoon e Chris Klein e narra a vida de Jim
McAllister (Broderick), um professor de história do subúrbio de Omaha,
Nebraska, e uma de suas alunas, Tracy Flick (Witherspoon), em torno das
eleições do corpo discente. O envolvimento de McAllister com várias funções
relacionadas com a escola mascara sua frustração com outros aspectos da sua
vida. Na trama Tracy é uma perfeccionista determinada a entrar em uma boa faculdade.
Quando Tracy qualifica para concorrer à presidência da classe na eleição da
escola, McAllister acredita que ela não merece o título, e tenta impedi-la de
ganhar. No filme as eleições são fraudadas e é preciso fazer una recontagem dos
votos. No universo de uma escola secundária de Omaha nos EUA, o diretor
consegue representar todas as emoções, intrigas e manipulações que existem por
trás de uma eleição.
As
“tribos urbanas”, também chamadas de “subsociedades” ou metropolitanas ou
regionais são constituídas de microgrupos que têm como objetivo principal
estabelecer redes de amigos com base em interesses comuns. Essas agregações
apresentam uma conformidade de pensamentos, hábitos e maneiras de se vestir. Um
bom exemplo de tribo urbana são os punks.
A expressão “tribo urbana” foi criada pelo sociólogo francês Michel Maffesoli
(1987; 1996), que começou usá-la nos seus artigos a partir de 1985. A expressão
ganha força três anos depois com a publicação do seu livro: “O Tempo das
Tribos: O declínio do individualismo nas sociedades de massa”. Segundo
Maffesoli, as relações sociais nas tribos urbanas se constituem através das diversas
redes, grupos de afinidades [eletivas] e de interesse, laços de vizinhança que estruturam
nossas megalópoles. Seja ele qual for, o que está em jogo é a potência contra o
poder, mesmo que aquela não possa avançar senão mascarada para não ser esmagada
por este.
Tom
Perrotta nasceu em Garwood, New Jersey, filho de um carteiro e uma secretária e
foi criado dentro do catolicismo. Desde criança, Tom já adorava ler, tendo O.
Henry, J. R. R. Tolkien e John Irving dentre seus escritores favoritos. Começou
já no ensino médio, escrevendo contos para uma revista literária chamada “Pariah”.
Cursou Inglês na Universidade de Yale, entrando em 1983 e logo em seguida fez
Mestrado em Artes na Universidade de Siracusa. Em 1991, Tom Perrotta casou-se
com a também escritora Mary Granfield, com quem teve dois filhos: Nina, nascida
em 1994 e Luke, que nasceu em 1997. O primeiro livro publicado no Brasil foi
“Little Children”, com o título “Criancinhas”, editora Objetiva, em 2005. Em
2010 a Benvirá edita “The Abstinence Teacher” (“A Professora de Abstinência”).
Em janeiro de 2012, a editora Intrínseca comprou os direitos de “The Leftovers”
publicando-o no Brasil em 2012 sob o título “Os deixados para trás”. O livro
recebeu o seguinte elogio de Stephen King: “Tom Perrotta escreveu um
conturbador ensaio sobre como pessoas comuns reagem a acontecimentos
extraordinários e inexplicáveis, o poder da família para ferir e curar e a
sutil facilidade com que a fé se transforma em fanatismo”.
O romance foi inspirado por dois eventos principais. O primeiro foi o da Eleição presidencial nos Estados Unidos em 1992, no qual Ross Perot entrou como um terceiro candidato do partido (um movimento repetido por Tammy Metzler). O segundo foi um incidente no Memorial High School em Eau Claire, Wisconsin, no qual uma estudante grávida foi eleita rainha do baile, mas a equipe anunciou uma vencedora diferente e queimaram as cédulas para encobri-la. O filme foi originalmente realizado com uma estreita relação encontrada no romance, com Jim McCallister trabalhando em uma loja de automóveis, onde Tracy visita-o antes de sair para a faculdade. Depois de testar mal com o público, o final acabou por ser refeita. O final original era invisível até a descoberta acidental de um VHS do filme em um mercado de pulgas em 2011. O final original também apareceu no YouTube, mas a Paramount Pictures, fez sua retirada alegando violação de direitos autorais. Ele ainda pode ser encontrado em outros sites.
Além
disso, o diretor de elenco do filme é o jogador de futebol que aparece no filme.
Muitos estudantes Omaha locais e professores foram usados no filme para os
papéis de alunos e professores. Um em especial foi Chris Klein, que acabaria se
tornando um dos pilares em Hollywood e estrela em outros filmes. Payne encontrou
quando ele estava de aferição para as escolas locais para fotografar e um
professor em uma das escolas apresentou-o a Klein. Witherspoon estava começando
em filmes moderadamente bem-recebidos no início de 1990. Nicholas D'Agosto, que
apareceu no final do filme como presidente da comissão Larry Fouch, era apenas
um estudante na Creighton Preparatory School, em Omaha, a mesma alta Payne
escola participou, quando ele fez este filme. Ele iria para a faculdade na
Marquette University, em Milwaukee antes de se mudar para Los Angeles para prosseguir
uma carreira de ator. O senador Kirsten Gillibrand ganhou o apelido de
"Tracy Flick" no âmbito da delegação do Congresso de Nova York antes
de sua nomeação em janeiro de 2009 pelo governador de Nova York David Paterson
para preencher o assento de Hillary Clinton, de acordo com o colunista Maureen
Dowd do The New York Times.
“Eleição”
foi comercializado como comédia adolescente, quando não é. Ou melhor, é bem
mais do que isso – trata-se de uma sátira demolidora sobre a classe média dos
EUA, com humor mais ácido e inteligente do que a média. Os dois personagens
principais são professor e aluna de uma modorrenta cidadezinha. Ao contrário do
que muitos poderiam esperar, contudo, não se trata de um filme sobre a paixão
avassaladora de um homem mais velho por uma ninfeta. Bem ao contrário. Jim McAllister
(Matthew Broderick), um dedicado e premiado professor de escola média no estado
conservador do Nebraska (EUA), sofre de antipatia congênita por Tracy Flick
(Reese Whiterspoon). A aluna, ambiciosa e empreendedora ao extremo, é a única
concorrente à eleição para o grêmio estudantil, cargo que ela vê como um degrau
para vencer na vida.
Payne
a retrata como uma criatura mecanizada que persegue uma versão suburbana do
“sonho americano” sem refletir sobre o que faz realmente na vida. Tracy é uma
aluna estudiosa, quase perfeita, que em teoria deveria ser amada por Jim, um
professor que valoriza os bons estudantes. Mas por algum motivo ele não a
suporta. Tenta ignorá-la até mesmo quando faz uma pergunta à classe e ela é a
única a saber a resposta, situação que incomodamente se repete com frequência
alarmante. Por causa dessa antipatia, Jim acaba estimulando o galã da escola,
Paul (Chris Klein), a lançar uma candidatura alternativa ao grêmio, apenas para
pôr uma pedra no caminho de Tracy. O filme atribui a antipatia ao decisivo
papel da aluna na demissão de outro professor (Mark Harelik), um bom amigo de
Jim. Mas o buraco é, na verdade, mais embaixo. Tracy e Jim são os dois lados
dessa moeda chamada “sonho americano”.
Remando
ao contrário da maré, o filme “Eleição” não poupa seus personagens,
revelando-se muitas vezes mais cruel com eles do que poderíamos imaginar
politicamente. É justamente nesse ponto que “Eleição” se afasta de outra pérola
independente que lida com o mesmo universo estudantil, o ótimo “Três é Demais”,
de Wes Anderson, que ampara seu protagonista com indisfarçável carinho. Em
resumo, “Eleição” é um filme inteligente que alfineta sem pudor, mas com
elegância, a hipocrisia deliberada do “sonho americano”, e merece ser
redescoberto pelo público que faria dos trabalhos posteriores de Payne, os bons
“As Confissões de Schmidt” e “Sideways” verdadeiros ícones do crescente e
criativo cinema independente dos EUA. A narrativa, porém, não poupa o próprio
professor, enfocando-o como alguém impessoal, fútil e vazio, um fracassado de
paletó e gravata. As cenas que mostram o relacionamento frio e quase assexuado
com a esposa (Molly Hagan) são uma demonstração inequívoca do fracasso de Jim
como homem, como pessoa. Ensinar é tudo o que lhe resta. E a decisão
aparentemente boba de se colocar contra Tracy dentro da escola pode se revelar
uma estratégia perigosamente suicida para alguém como ele.
Bibliografia
geral consultada:
VIERECK, P., Conservatism:
from John Adams to Churchill. N. Jersey: Van Nostrand; 1956; ROSSITER, C., Conservatism in America: the tankless
persuasion. New York: Random House, 1962; OAKESHOTT, Michael, Rationalism in Politics. London:
Methuen, 1962; MAFFESOLI, Michel, O Tempo
das Tribos. O Declínio do
Individualismo nas Sociedades de Massa. Rio de Janeiro: Forense-Universitária,
1987; Idem, Éloge de la Raison Sensible.
Paris: Éditions Grasset & Fasquelle, 1996; NISBET, Robert, O Conservadorismo. Lisboa: Editorial
Estampa, 1987; BOBBIO, Norberto, A era
dos direitos. Rio de Janeiro: Editor Campus, 1992; FEARSTHERTONE, Mike (org.), Cultura Global. Nacionalismo, Globalização e
Modernidade. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 1994; TOCQUEVILLE, Alexis de,
A democracia na América. São Paulo:
Martins Fontes, 2000; BAILYN, Bernard, As
origens ideológicas da Revolução Americana. Bauru: EDUSC, 2003; JASMIN,
Marcelo, Alexis de Tocqueville: a
historiografia como ciência da política. 2ª edição. Belo Horizonte: Editora
da UFMG; Rio de Janeiro: IUPERJ, 2005; MERLEAU-PONTY, Maurice, Fenomenologia da Percepção. 3ª edição.
São Paulo: Martins Fontes, 2006; WELLER,Wivian, “A atualidade do conceito de
gerações de Karl Mannheim”. In: Soc. estado. vol.25 no.2 Brasília May/Aug. 2010,
entre outros.
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* Sociólogo
(UFF), cientista político (UFRJ) e doutor em ciências junto à Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de
Ciências Sociais do Centro de Humanidades da Universidade Estadual do Ceará
(UECE).
Adorei a dica de filme. O que não faltam são boas sugestões de filmes políticos. Eu gosto muito de filmes de época ou baseados em fatos reais. Dos citados, o que eu mais gostei foi Dama de ferro. Eu, pessoalmente, adoro pesquisar e ver filmes europeus e documentarios, em geral eles tem uma boa diversidade de filmes políticos. São sempre bem produzidos e dirigidos, nos atraindo sempre. Tem outro ritmo e são bem conduzidos além de ter uma linguagem própria. Eu adoro e indico.
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