Cobra de Ferro - Comboio, Cinema & Imaginação de Leões Tsavos.
Ubiracy de Souza Braga*
“Eles não são leões, são a sombra
e a escuridão”. A fama dos Leões de Tsavos
O
leão foi descrito no século XVIII por Carolus Linnaeus (1707-1778), em seu Systema
Naturae, como Felis leo. Nos séculos XVIII e XIX, a maioria dos
naturalistas e pesquisadores seguiram a nomenclatura originalmente proposta. Em
1816, Lorenz Oken (1779-1851) propôs a definição genérica Panthera,
original como subgênero de Felis, assim como a Leo e Tigris. Algumas
autoridades consideraram o Panthera como “inválido por razões técnicas
de nomenclatura e preferiram usar o termo genérico Leo”. Em 1956, a Comissão
Internacional de Nomenclatura Zoológica rejeitou a obra de Lorenz Oken, Lehrbuch
der Naturgeschichte, para fins de nomenclatura zoológica. Na década de 1960
e 1970, a questão sobre a validade do gênero Panthera foi questionada junto a
Comissão Internacional de Nomenclatura Zoológica, que em 1985 decidiu pela
conservação do termo genérico Panthera. O registro fóssil mais
antigo atribuído ao Panthera leo provém da Garganta de Olduvai, na Tanzânia, e
está datado do Pleistoceno Inferior em cerca de 1,5 milhões de anos. Um
registro etnográfico proveniente de Laetoli, na Tanzânia, e datado de 3,5 milhões
de anos, era atribuído ao P. leo, entretanto, essa identificação é incerta, e
outras interpretações demonstraram que os restos fósseis pertencem a espécie mais primitiva dentro do gênero Panthera.
Alguns
registros etnográficos do Plio-Pleistoceno na África do Sul, encontrados nas
cavernas em Kromdraai, Swartkrans e Sterkfontein, são atribuídos ao P. leo.
Entretanto, o status taxonômico do material das cavernas de Sterkfontein é
incerto, e os materiais de Kromdraai e Swartkrans aparentam ser de um animal
mais robusto que o leão moderno. A espécie originalmente estava distribuída por
toda África subsaariana, exceto na densa floresta tropical e do Norte da
África, acima do deserto do Saara através do sudoeste asiático, a Oeste até a
Europa (península balcânica e Cáucaso) e a Leste até a Índia. Na África, os
leões podem ser encontrados em savanas com arborização escassa de Acacia que
servem como áreas de descanso; na Índia, o habitat compreende uma mistura de
savana arbustiva seca e floresta decídua seca. O leão tem uma larga tolerância
para habitats, ausente somente na floresta tropical e no interior do deserto do
Saara. A espécie pode ocorrer do nível do mar até regiões montanhosas, no leste
da África pode ser encontrado até 3 600 metros, nos Monte Elgon, Quênia e
Ruwenzori, e nas Montanhas Bale, na Etiópia, pode ser encontrado aos 4 200
metros. O leão é o segundo maior felino depois do tigre, apresentando
comprimento e peso menor, mas sendo mais alto na cernelha. Possui uma pelagem
curta e a coloração é unicolor, variando do castanho claro ao cinza prateado e
do vermelho amarelado ao marrom escuro. Não apresenta rosetas e os filhotes e
juvenis apresentam manchas na pelagem. O ventre e as partes mediais dos membros
são mais claros, e o tufo de pelos na ponta da cauda é preto.
A
juba é geralmente castanha, variando em tonalidades amareladas, avermelhadas ou
tons mais escuros de marrom. Com a idade, a juba tende a ficar mais escura,
podendo ser inteiramente preta. Tem a cabeça arredondada e curta, com a face
larga e orelhas arredondadas. Só o macho possui a juba e o leão é o único
felino que a possui. Há duas teorias que podem justificar a sua existência, a
primeira diz que a juba seria um meio de se defender de predadores e de luta
por território; a segunda teoria diz que a juba serve para que o macho pareça
maior e assim intimide os adversários, impedindo que na maioria das vezes
aconteça luta corporal que representa sociologicamente a teoria convincente e
aceita atualmente. Em experiências realizadas com réplicas de leões com jubas
de colorações diferentes, as leoas se interessaram por leões de jubas maiores e
mais escuras, o que fortifica a concepção da segunda teoria. Também foi observado que nas
lutas, o pescoço dos leões raramente é atacado, mesmo no caso de exemplares
jovens sem juba. A primeira teoria,
levantada por Charles Darwin (1809-1882), permaneceu, mesmo sem embasamento,
até 1972, quando George Schaller publicou seu trabalho intitulado: The
Serengeti Lion, sugerindo que leões possuíam grandes jubas para evidenciar
qualidades reprodutivas.
Em
1898, os colonizadores britânicos decidiram construir uma ferrovia na África
Oriental. Esta ferrovia iria se estender de Mombasa na costa do atual Quênia
até o Lago Victoria, e dali seguiria até o país vizinho, Uganda, chamada de
Uganda Railroad. A construção da ferrovia tinha uma série de propósitos
legítimos. Do ponto de vista da comunicação, era a única rota sobre trilhos
para o interior do continente africano substituindo a jornada que tinha de ser
feita à pé. Economicamente havia muitas mercadorias agrícolas que poderiam ser
transportadas para a costa a fim de ser em seguida distribuída para o mercado
ocidental. Um transporte ligando a costa do Quênia ao interior também
permitiria uma colonização mais eficiente. No mercado religioso, missionários estavam
interessados na palavra de Deus aos povos tribais do interior e as dificuldades
da jornada por terra eram um constante empecilho. Finalmente, havia o mercado
do tráfico de escravos. A chegada da ferrovia encorajaria pessoas ligadas a
captura de escravos a buscar outras atividades. Do ponto de vista
técnico-metodológico a construção da ferrovia é dos maiores
feitos de engenharia do final do século XIX. Suas
580 milhas de trilhos cruzam o Vale do Great Rift, diversos rios, e
alguns dos terrenos mais inóspitos que se possa imaginar. A construção se
iniciou em 1896, e chegou a Nairobi em 1899.
Ela prosseguiu até a cidade de
Kismu às margens de Lake Victoria em 1901. Levou mais 27 anos para que a
ferrovia atingisse Kampala, além da fronteira de Uganda. Boa parte da mão de
obra empregada no empreendimento foi suprida por trabalhadores vindos da Índia,
colônia sobre o controle dos britânicos. O censo de 1872 revelou que 91,3% da
população da região que forma a atual Índia residia em vilas e a urbanização em
geral permaneceu lenta até a década de 1920. Esses trabalhadores comumente
chamados de Coolies à princípio não se saíram muito bem na função. É um
termo usado historicamente para designar trabalhadores braçais oriundos da
Ásia, especialmente da China e da Índia, durante o século XIX e início do
século XX. Segundo alguns historiadores especializados no tema, mais de 60% acabaram
sucumbindo a doenças e acidentes com animais em seu habitat. A maioria dos que
sobreviveram se estabeleceram no Quênia, formando expressiva comunidade de
indianos que existe na África ocidental. Esta ferrovia continua em operação,
ainda que tenha perdido muito do esplendor do passado. Há passeios turísticos
que levam pessoas de muitas partes mundo através deste trecho e do monumental
projeto: a construção de uma ponte elevada cruzando o Rio Tsavo (Rio da Morte),
a cerca de 132 milhas a noroeste de Mombasa, objeto do filme: A Sombra e a
Escuridão (1996).
O
filme The Ghost and the Darkness (“A Sombra e a Escuridão”) foi dirigido por Stephen
Hopkins e realizadodo pela Paramount Pictures em 1996, inspirado na história
real dos incidentes de Tsavo, em 1898 e dirigido Stephen Hopkins. No final do
século XIX acontece a disputa entre franceses, alemães e britânicos para
tomarem posse do continente africano. Estando em vantagem, os britânicos encarregam
o engenheiro britânico John Henry Patterson (Val Kilmer) para supervisionar a
construção da ponte que passa acima do rio Tsavo. Naquele lugar, dois leões
começam a atacar os operários. Os leões eram tão agressivos que alguns dos
nativos deduziram que eles não eram animais e sim “espíritos dos curandeiros”
mortos que vieram para aterrorizar o mundo, enquanto outros pensavam que eram o
demônio que havia vindo para impedir o avanço do progresso. As feras são
batizadas de “sombra” versus “escuridão”. Diante dos ataques e contando com a ajuda
do caçador Remington (Michael Douglas), o engenheiro segue “a missão
desesperada para dar fim aos animais”. O fascínio sobrenatural pela chama teve um declínio no imaginário individual e coletivo, mas permanece como fonte de iluminação. Esse lugar imaginário é o cenário de uma situação que propõe, por força da natureza agressiva, que os indivíduos, durante a noite, permanecessem abrigados nas cavernas, onde existia o resguardo contra as intempéries e os animais selvagens. Mas não é tão simples como pensam os naturalistas compreender esses fatores físicos e reais. Os Masai vivem em pequenas cabanas feitas de esterco de vaca e estacas de acácia. Um grupo de cabanas é construído dentro de uma área fechada por cercas espinhosas, formando uma aldeia que é chamada de Enkang. Eles permanecem nesta terra enquanto seu gado pasta; quando as pastagens secam, eles se mudam. Entretanto uma grande população dos Masai se estabeleceu nos distritos de Narok, Trans Mara e Kajiado, no Quênia. As mulheres constroem suas casas e os homens cuidam da segurança do assentamento (“Boma”) e do gado. Sobre os masai, particularmente sobre a forma como parte desta comunidade está a ser afetada pelas alterações climáticas na região, está disponível o livro Horizontes em Branco, do escritor José Maria Abecasis Soares publicado em novembro de 2010 pela Editorial Presença (PT). Há também o filme da diretora alemã Hermine Huntgeburth, A Massai branca (“Die weisse Massai”), baseado em uma história real. Dentre suas principais manifestações coletivas, do povo Maasai é a dança em saltos, uma dança guerreira que faz parte do ritual de passagem dos jovens rapazes para a iade adulta e outra é a circuncisão.
Grupo étnico Massai.
O engenheiro chefe John Henry Patterson
ordenou que fossem construídas bomas, que são cercas de espinhos
tradicionalmente erguidas por tribos para manter predadores afastados ao redor
dos acampamentos, e que tochas fossem acesas toda noite para afastar os leões.
Mas as medidas não surtiram efeito. Os leões ignoraram os obstáculos e fizeram
mais uma vítima, dessa vez um homem que transportava água e foi atacado a pouco
mais de 300 metros do acampamento. O verdadeiro pânico se instalou quando certa
noite, uma das feras rastejou por baixo da boma e entrou numa das tendas onde
catorze trabalhadores dormiam. A fera derrubou a tenda, um dos homens foi morto
e outro operário indiano gravemente ferido no ombro com uma mordida. O medo se
espalhou pelos acampamentos. Patterson determinou que fossem construídas
casamatas com 4 metros de altura guarnecidas de iluminação onde atiradores
ficariam à postos toda noite. Mais bomas foram construídos para restringir a
aproximação e armadilhas foram espalhadas por caçadores de origem tribais
contratados junto aos aborígenes.
Poucos
meses depois da chegada do Coronel Patterson, estranhos rumores começaram a
circular entre os trabalhadores indianos. Alguns trabalhadores simplesmente
haviam desaparecido depois de se embrenhar na mata para realizar alguma tarefa.
Na ocasião chegou-se a cogitar que leões podiam ser responsáveis, mas
Partterson não acreditou nos boatos. Mas a despeito disso, homens continuaram
desaparecendo o que forçou o Coronel a investigar mais a fundo o caso. Uma
pequena expedição liderada por Patterson descobriu os restos mutilados de dois
operários em uma área isolada a 800 metros do acampamento. Os rastros indicavam
que eram dois grandes leões, os responsáveis pelas mortes. Na expedição, um dos
felinos foi visto, mas as tentativas de alvejá-lo falharam. - O animal desapareceu, como se fosse uma sombra entrando na escuridão,
escreveu o Coronel.
Mas
as medidas não surtiram efeito prático. Coincidentemente o mesmo leão atacou a tenda hospitalar do
acampamento, onde o operário que havia sido ferido estava sendo tratado. A fera
matou o sujeito e feriu outros dois homens até ser espantada com tiros. Para
muitos, o leão havia retornado para terminar o seu trabalho. Ninguém estava
seguro! Do ponto de vista mitológico a fera era na verdade um “espírito da morte”,
que uma vez tendo marcado sua vítima, retornaria quantas vezes fosse necessário
para levá-la. Para outros, a construção estava amaldiçoada e os homens brancos
não eram bem vindos a Tsavo. Foi decidido que o melhor seria mudar a tenda
hospitalar de lugar. Ela foi movida para o centro do acampamento onde havia
relativa segurança. Mas logo na noite seguinte, um leão atacou a tenda e matou
um enfermeiro. O pobre foi arrastado para a selva e a equipe de caçadores que
seguiu os rastros encontrou a cabeça do homem e a parte inferior de seu corpo
na mata. A tenda foi movida, uma cerca de espinhos maior e reforçada
foi erguida ao redor como proteção.
Em
20 de outubro, enquanto o grupo estava longe, as feras atacaram o acampamento.
Os dois leões de uma só vez apareceram como por magia, entre as
barracas comunais. O primeiro homem foi morto em silêncio, mas outro despertou
a tempo de ver a fera se aproximando e deu o grito de alerta. Houve correria e
em meio a confusão um bando de “coolies” escalaram uma árvore onde esperavam
escapar dos leões. Mas a árvore não aguentou o peso e partiu derrubando todos
que estavam no alto. Os leões não se importaram e atacaram ferozmente
matando-os. No fim haviam oito vítimas e os leões sumiram tão rápido quanto
haviam surgido, sem deixar aparentemente vestígios. Os guardas foram acusados
de ter relaxado na vigilância e quando Patterson chegou se deparou com o caos
que havia se formado. Os caçadores que o acompanharam até a selva, entre os
quais um respeitado caçador da tribo Massai, desertaram, dizendo que aqueles
não eram animais normais: - São devoradores de homens, feras que caçam e
matam por prazer, não para se alimentar! Eles tomaram o gosto pela caça e pela
carne dos homens e nada mais vai satisfazê-los. O episódio reforçou a aura sobrenatural sobre as feras.
Por um lado, os homens
juravam que algo protegia os leões, uma força maligna, que impedia que os
animais fossem atingidos, mesmo por disparos feitos à queima roupa. Por outro,
um dos atiradores envolvidos teria se suicidado dias depois saltando do alto da
ponte em construção para o rio turbulento. Logo, o supervisor e os homens
partiram, sem oferecer uma solução para o caso. Patterson estava sozinho novamente.
Os dias seguintes foram de apreensão. Com menos presas, os leões sem dúvida
seriam atraídos para o acampamento. Os homens queimavam grandes fogueiras
durante a noite para manter os felinos afastados e jamais se afastavam
sozinhos. Patterson entregou uma arma para cada grupo de cinco homens e convenceu-os de
que deveriam atirar ao primeiro sinal de perigo. Em pelo menos três
oportunidades os leões se aproximaram do acampamento, e cirurgicamente em uma delas chegaram a
entrar silenciosamente nas tendas vazias. O Coronel chegou a relatar em Diário que estavam próximas para ele ouvi-las rondando do outro lado da boma.
Enfim,
Patterson teve outra ideia, mandou construir uma plataforma sobre quatro postes
de madeira na entrada do acampamento. Esta plataforma chamada “machan”, era
usada por caçadores indianos para matar tigres e servia como uma árvore
artificial para esconder o caçador. Para anular o faro dos animais, o coronel
ordenou que três cabras fossem mortas e o sangue espalhado junto com as
carcaças aos pés do “machan”. E lá ele ficou acompanhado de um ajudante que
mantinha três rifles de cano duplo ao alcance das mãos. Na terceira noite de
vigília, Patterson ouviu o som de gravetos se quebrando e detectou movimento.
Um dos leões estava se aproximando, finalmente atraído pelo cheiro de carne.
Antes que pudesse apontar a arma na direção da fera, ela saltou contra um dos
postes de madeira e abalou a plataforma. Patterson manteve a compostura e
conseguiu fazer mira alvejando o leão com um tiro na área superior de sua
cabeça. A fera rosnou e se embrenhou nos arbustos. O coronel continuou ouvindo
os rosnados e deu mais cinco tiros. Os rosnados continuaram até parar de vez.
Pela manhã ele e o ajudante desceram e no caminho encontraram o devorador de
homens morto.
Conforme
retratado no filme, houve realmente a construção de uma ferrovia e uma ponte
que liga a cidade litorânea de Mombaça, no Quênia, e Campala, em Uganda, região
do Rio Tsavo, com o objetivo de escoar o comércio de marfim. A história dos
leões também é totalmente verídica, contada pelo protagonista da história em
seu livro, o engenheiro chefe John Henry Patterson. Logo que os operários
acamparam, começaram a sofrer ataque dos leões, até então normal, pois estavam
na África, no meio da savana. Nada normal era a forma como os leões atacavam:
coordenadamente, sem chance para suas vítimas, sempre em dupla, o que é um
comportamento atípico em leões, e a forma como agiam: quase humana. Os nativos
da região os chamavam de shaitaini (“demônios da noite”) e os ingleses
traduziram isso para “sombra e escuridão”. Eram dois leões machos, adultos e
sem juba (o que é um fato muito raro). Há relatos etnográficos de que em vários
ataques arrastaram as vítimas vivas por metros a dentro da savana, outros
relatos dão conta de que muitas vezes, começavam a devorar sus vítimas pelos
pés, ainda vivas. A crueldade dos ataques, a intensidade como passaram a
ocorrer fez com que os operários abandonassem a obra. Em 9 meses, eles mataram
140 pessoas. Acredita-se que a escassez de alimento, devido à uma peste que
matou muitos animais predados por leões, eles viram na “fartura de
seres humanos trabalhadores da ferrovia a oportunidade de comida fácil”. Após
meses de tentativas frustradas, o engenheiro chefe John Henry Patterson, em 09
de dezembro de 1898, capturou e matou o primeiro leão; o outro foi morto em 29
de dezembro. Foram empalhados e estão em exposição no Chicago Field Museum
of Natural History. Basta acessar o site do museu para ver as fotos e a
história social com a narrativa completa sobre as vítimas dos leões.
Décadas
mais tarde, a caverna que servia de covil para os felinos foi descoberta,
repleta de ossos humanos evidenciando que os devoradores haviam feito inúmeras
outras vítimas. O número total nunca foi determinado, mas há uma estimativa de
mais de 135 mortes está dentro provavelmente da realidade. O comportamento incomum e
agressivo que até hoje intriga estudiosos do mundo animal que jamais
encontraram caso semelhante. Os trabalhadores retornaram e concluíram a construção
da ponte sobre o Rio Tsavo. Em 30 de janeiro de 1899, o Coronel John H.
Patterson recebeu uma bacia de prata presenteada pelos trabalhadores em
agradecimento por sua bravura e determinação. No dia seguinte a inauguração da
ponte uma tempestade como nenhuma outra caiu sobre Nairobi, como se a água
servisse para lavar o sangue deixado nos trilhos. Patterson partiu da África no
final daquele ano. Mas ele retornou em 1906, e viveu muitos anos como guia de
safari. Durante esse tempo ele escreveu o livro: Os Devoradores de Homens
de Tsavo, que se tornou um best seller. Em 1924, ele vendeu as peles e
crânios dos leões para o Museu de História Natural de Chicago, Illinois. Os
dois animais foram reconstituídos e colocados em exposição em 1928. Durante o decorrer dos anos, o incidente foi
ganhando fama, sendo assunto de livros e documentários. Vários filmes também
usaram a temática do caso, incluindo The
Ghost and the Darkness (1996), premiado com o Oscar, baseado no livro The Man-eaters of Tsavo, escrito pelo
coronel John Patterson, que foi o homem especialista que matou estes leões.
Várias explicações foram dadas para justificar o comportamento anormal dos
animais. Uma das teorias era que as presas naturais dos leões na região foram
mortas em massa devido a uma epidemia de peste bovina, o que forçou os
predadores a buscar presas alternativas. Outros pesquisadores dizem que os
animais já estavam acostumados ao gosto da carne humana devido aos vários
corpos que os mercadores de escravos deixavam nas estradas que cortavam a
região de Zanzibar, nome dado ao conjunto de duas ilhas do Arquipélago de
Zanzibar, ao largo da costa da Tanzânia, na margem leste-africana, de que
formam um Estado semiautônomo daquele país.Estudos relativamente recentes também indicam que os animais tinham
problemas nos seus dentes, o que tornava caçar suas presas naturais mais
difíceis. Também se acredita que a carne humana poderia ser “um complemento à
dieta dos animais” e como os trabalhadores eram presas fáceis, eles acabaram se
tornando seu alvo principal. O leão tem sido um ícone para a
humanidade por milhares de anos, aparecendo em culturas de toda a Europa, Ásia
e África. Apesar de incidentes de ataques a seres humanos, os leões têm tido
uma representação positiva na cultura, representando tanto força como pela
astúcia e nobreza. Leão foi usado como apelido por vários governantes
guerreiros medievais com uma reputação de bravura, como o rei inglês Ricardo
Coração de Leão, Henry, o Leão (em alemão: Heinrich der Löwe), duque da Saxônia
e Robert III de Flandres apelidado de o leão da Flandres, um grande ícone
nacional flamengo até o presente. Leões são frequentemente descritos em
brasões, como um dispositivo em escudos ou como partidários. Leões continuam a
figurar na literatura moderna e contemporânea, sendo símbolo heráldico de muitas famílias da
nobreza da série de livros das Crônicas de Gelo e Fogo, como os Lannisters e os
Reynes. Na literatura também se destacam leões personagens de caracteres
variando do messiânico Aslan, um leão que apresenta muitos dos ideais
associados à espécie, como liderança e coragem, em O Leão, a Feiticeira e o
Guarda-Roupa e livros seguintes da série As Crônicas de Nárnia escrita por C.
S. Lewis, ao Leão Covarde, antítese a esses mesmos ideais, em O Mágico de Oz. O
advento de imagens em movimento viu a contínua presença do simbólico leão, um
dos leões mais icônico e amplamente reconhecido é Leo o Leão, que tem sido o
mascote para os estúdios da empresa Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) desde a década de 1920. Na
década de 1960, surgiu a mais famosa leoa, o animal queniano Elsa, no filme
Born Free, baseado no best-seller internacional homônimo. É um filme britânico de 1966 estrelado por Virginia McKenna e Bill Travers como Joy e George Adamson, um casal que adota Elsa, um filhote de leão. Quando adulta percebem que Elsa deve viver em liberdade e a preparam para viver na natureza, soltando-a em uma reserva no Quénia. O papel do leão como
rei dos animais tem sido utilizado em desenhos animados, da década de 1950 com
o mangá que deu origem à primeira série japonesa de animação colorida na TV,
Kimba, o Leão Branco, leão Leonardo da King,
ambos da década de 1960, até o filme de animação, de 1994, da Walt Disney o Rei
Leão, que também contou com a canção popular The Lion Sleeps Tonightem sua trilha musical sonora.
Bibliografia
geral consultada.
GENOVESE, Eugene, A Economia Política da Escravidão. Rio de Janeiro: Palas, 1976; KEMP, Tom, La Revolucion Industrial en la Europa del Siglo XIX. Barcelona: Libros de Confrontacion, 1976; WILLIAMS, Eric, Capitalismo e Escravidão. Rio de Janeiro: Editora Palas, 1978; CORNEVIN, Marianne, Apartheid, Poder e Falsificação Histórica. Lisboa: Edições 70, 1979; KI-ZERBO, Joseph (Org.), História Geral da África. São Paulo: Editora Ática; Organização
das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura, 1982; ELIADE, Mircea, O Sagrado e o Profano. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1992; HALBWACHS, Maurice, A Memória Coletiva. São Paulo: Editor Centauro, 2006; COSTA, Edilson da,
A Impossibilidade de uma Ética Ambiental: O Antropocentrismo Moral como Obstáculo
ao Desenvolvimento de um Vínculo Ético entre o ser Humano e Natureza. Tese de
Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento.
Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2007; BOGART, Dan, “A Global Perspective on Railway Inefficiency and the Rise of State Ownership, 1880–1912”. In: Explorations in Economic History, 47(2), 2010; 158–178; CUNHA, Luciano
Carlos, O Consequencialismo e a Deontologia na Ética Animal: Uma Análise Crítica
Comparativa das Perspectivas de Peter Singer, Steve Sapontzis, Tom Regan e Gary
Francioni. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Filosofia.
Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Florianópolis:
Universidade Federal de Santa Catarina, 2010; SCHWALB, Diego Zanoto; GARCIA, Jeferson, BECK, José Orestes, QUINSANI, Rafael Hansen, “África Meridional Inglesa: Das Estruturas Coloniais ao Desenvolvimento Econômico, Político e Social no Século XX”. In: Revista Historiador. Ano 3 (3): 41-63, dezembro de 2010; GENTILI, Anna Maria, El León y el Cazador. Historia del África Subsahariana. Buenos Aires: Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, 2012; Artigo: “Análises genéticas revelam origens dos leões modernos”. In: http://g1.globo.com/natureza/noticia/2014/04/06; MÜTZENBERG, Bruno Vinicius, O Emergente Preservacionismo Transimperial durante o Colonialismo na África: a Conferência Internacional para a Proteção da Vida Selvagem (Londres, 1900). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2015; entre outros.
_________________
* Sociólogo (UFF),
Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e
Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de
Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).
Nenhum comentário:
Postar um comentário