quarta-feira, 13 de abril de 2016

Destinos Cruzados – Amor, Política & Sofrimento Conjugal.


                                                                                                       Ubiracy de Souza Braga

Os homens ofendem mais aos que amam do que aos que temem” . Maquiavel

                
              O destino refere-se à representação sociologicamente de um fim ou resultado que se converte em causa de uma ação. Destino ao nível mental é quase uma crença e sinônimo de sina, fado, sorte, futuro, fatalidade, fortuna. Como também significa, inversamente, direção ou rumo, é uma palavra que está relacionada eminentemente com as condições e possibilidades de análise das relações políticas na sociedade. Como em muitos casos descreve um evento que está predestinado, embora muitas pessoas não acreditem que de fato o destino exista. Diferentes pessoas, correntes filosóficas e religiões têm concepções distintas do que é o destino. Alguns acreditam que o destino representa uma força misteriosa que determina os acontecimentos na vida das pessoas, incluindo vidas passadas. De acordo com o Cristianismo, por exemplo, o destino não existe, e sim a vontade de Deus, que controla e determina os acontecimentos. A expressão aleatória “sem destino” descreve algo material ou alguém com manifestação de vida aleatória. Algo que vivemos e que pode ter a probabilidade concreta de  ser visto encarnado na pessoa sem destino sendo indispensáveis ao processo de formação do ser humano. Será mais nobre em nosso espírito sofrer a pedras e setas, com que a fortuna enfurecida nos alveja, ou insurgir-nos contra provações em luta para por-lhes fim?
          Para os conservadores, as melhores instituições sociais e politicas não são aquelas que são inventadas pela razão humana, como fora defendido pelo chamado racionalismo político, mas sim as que resultam de um lento processo de crescimento e evolução ao longo do tempo, empiricamente como a não escrita constituição inglesa face às Constituições promulgadas pelos revolucionários franceses. Não acreditando na ideia de “bondade natural do Homem”, os conservadores consideram que são os constrangimentos introduzidos pelos hábitos e tradições que permitem o funcionamento das sociedades, pelo que qualquer regime duradouro e estável só poderá funcionar se assente nas tradições sociais. Assim, para os conservadores não faz sentido elaborar projetos universais do ponto de vista de uma sociedade ideal - não só tal sociedade será inatingível devido ao que acreditem ser a imperfeição intrínseca da natureza humana. Mas, devido a diferentes povos terem diferentes histórias, sociais, políticas e de costumes referendando suas tradições, o modelo social mais adequado a um povo não será o mais apropriado a outro, o que implica na critica analítica aos políticos franceses. Não há nada no mundo da política que não provenha da atividade humana, embora haja muita coisa que não seja consequência do desígnio humano. 
              Por isso, ao estudar as atividades políticas do governo, Michael Oakeshott considera que as ações sociais concretizadas tornam-se distintas em análise comparada, tendo em vista que não é porque a intenção é diferente, mas porque elas pertencem a outro contexto social e político no qual tem-se estas atividade desenvolvidas. Os Gregos eram politeístas, adoravam vários deuses, acreditando que eles tinham forma humana, embora fossem mais belos e poderosos que os homens, imortais e possuidores de poderes mágicos. Os deuses gregos revelavam também qualidades e defeitos semelhantes aos dos seres humanos: apaixonavam-se, sofriam, conheciam aventuras e desventuras e os Gregos falavam deles como se fossem pessoas: contavam a história da sua vida, as suas lutas, sentimentos. O conjunto mítico das histórias maravilhosas da vida dos deuses e heróis gregos chama-se mitologia. Segundo a mitologia grega, o destino era determinado pelas três irmãs conhecidas como Moiras, divindades que tinham influência simultânea nos homens e nos deuses. 
            Na Mesopotâmia, o destino do ser humano era determinado pelas estrelas. Já os Romanos, veneravam a fortuna que poderia ser favorável ou desfavorável e o fatum, que indicava uma decisão irresistível. O estudo do destino também culminou em alguns pensamentos filosóficos que levaram a reflexão na direção do fatalismo, graças a Spengler, Max Scheller e Martin Heidegger. Destino manifesto é a expressão que descreve a mentalidade ou filosofia que motivou a expansão dos Estados Unidos da América no século XIX. Dando, os primeiros, ênfase às forças modernizadoras do mercado, querem os outros expandir a competência do Estado e, em casos extremos, abolir o mercado e a economia monetária. Mais uma vez temos de sublinhar que a força da ciência e a técnica foram vistas pelos representantes intelectuais das camadas burguesas, assim como pelos representantes acadêmicos do proletariado industrial, como indispensável para as suas projeções teóricas do avanço social e econômico. De acordo com essa ideologia, o destino dos Estados Unidos era aumentar o seu território, no caso do Texas, por exemplo, conquistando mais poder. Foi usado para legitimar a supremacia branca dos Estados Unidos da América (EUA) e resultou no domínio político e financeiro exercido durante muitas décadas.
                             
  

            As relações burocráticas são tipicamente autoritárias. Os subordinados aceitam as ordens de seus superiores por admitirem a ideia de que tais ordens estão amparadas por normas e preceitos legais. Dessa maneira, a obediência não deriva de nenhuma pessoa em si, mas do conjunto de normas e regulamentos estabelecidos e aceitos como legítimos por todos. Os funcionários, ou burocratas, devem agir de maneira estritamente prevista nas normas e regulamentos que os regem sem cumpri-los. Na teoria da burocracia de Max Weber o conceito é completamente diverso. A burocracia prima pela eficiência da organização e, para que se alcance a eficiência, todos os detalhes formais devem ser vistos com antecedência, a fim de que não existam interferências pessoais (favores) que acabem por atrapalhar o processo de trabalho. Vale lembrar que uma organização burocrática é essencialmente hierarquizada. Em todo processo de trabalho, desde Marx, há uma divisão técnica do trabalho de forma que cada um possui cargos e funções específicas. Isto quer dizer que incide no âmbito das competências e responsabilidades técnicas distintas. Cada membro deve saber em termos de planejamento qual posição ocupa e que tipo de função realiza. É lógico que as atribuições especializadas são administrativas e, de acordo com a burocracia não depende de indivíduos.
       Entretanto, a burocracia moderna não representa apenas uma forma útil de organização administrativa, com base no método racional e científico, mas também uma forma de dominação legítima. Os atributos que regem o funcionamento da burocracia sintetizam as formas de relações sociais das sociedades modernas. Portanto, a burocracia e a burocratização são processos inexoráveis e crescentes, presentes em qualquer tipo de organização, seja ela de natureza pública ou privada.  A organização burocrática é conditio sine qua non para o desenvolvimento de uma nação, por ser indispensável ao funcionamento do Estado, gestor dos serviços públicos, e de todas as atividades econômicas particulares. A crescente racionalidade do sistema burocrático tende a gerar efeitos negativos, que podem diminuir drasticamente a eficiência de uma organização ou sociedade em particular. Novos modelos de estruturas burocráticas alternativos ao modelo reconhecido na interpretação weberiana, têm sido experimentados hic et nunc, mas a relação de poder entre as classe sociais, estamento e partido político reforçam e legitimam as relações de dominação estabelecidas.


                William Van Den Broeck (Harrison Ford) é um sargento de polícia, comumente conhecido como “Dutch”, que ao investigar se Peyton Van Den Broeck (Susanna Thompson), sua mulher, fazia parte da lista de passageiros de um voo para Miami que sofrera um gravíssimo acidente. Ele gradativamente constata que ela estava no voo, mas se fazendo passar como esposa de Cullen Chandler (Peter Coyote), um advogado com quem mantinha um affair e era casada com Kay Chandler (Kristin Scott Thomas), uma política que tenta uma vaga no Senado. Quando Dutch vai procurar Kay e contar das suas suspeitas, ela inicialmente não quer falar sobre o assunto, mas gradativamente se torna mais flexível e no frigir dos ovos se sente atraída por Dutch e é plenamente correspondida. Mas é um envolvimento que não pode ter seu “aparecer social”, tendo em vista a “ignorância simbólica” da política que prejudicaria sua campanha, pois oficialmente Cullen Chandler foi vítima de uma tragédia e Kay tem de preservar sua imagem pranteando o esposo, e não sendo vista com o marido de outra vítima. Mas é exatamente a que se refere simploriamente a trama de destinos cruzados. Uniformidade que tem a particularidade de ser o maior símbolo de prestígio.     
     O filme Destinos Cruzados narra a história de um homem & uma mulher, aparentemente bem casados com seus  parceiros, mas rotinizados na parte profissional. O que o profissional deseja, é ser reconhecido pelo seu trabalho, pela sua capacidade de realizar as tarefas que lhe foi confiado. A realização ocorre através das necessidades de cada indivíduo, elas precisam estar satisfeitas. De um lado Dutch Van Den Broeck, um policial da corregedoria de Washington D. C., e de outro Kay Chandler, uma congressista norte-americana em processo de reeleição. O destino destes personagens se cruza quando seus cônjuges morrem num acidente de avião, no qual ambos viajavam juntos. Após uma breve investigação, Dutch descobre que sua mulher tinha um caso com o marido de Kay, levando-o a procurar a viúva em busca de algumas respostas. Em princípio, ele quer saber se Kay já tinha conhecimento do envolvimento adúltero de seu marido Tomado de surpresa com os acontecimentos, Dutch não consegue definir ao certo em seu espírito se está mais chocado com a morte de sua mulher ou com sua infidelidade. Ele não sabe se sente saudade (ou raiva), tristeza (ou indignação). Kay, por sua vez, se conforma com sua perda, preferindo esconder o fato que ele mantinha diversas amantes. Sua preocupação é não revelar à filha este lado perturbador do pai.
      Com o fim da paralisação do governo federal norte-americano, o presidente Barack Obama saiu vencedor de uma série de impasses fiscais em Washington. Mas a vitória foi, essencialmente, das mulheres. Enquanto a ala masculina da comissão bipartidária do Senado entrara em choque e empacara na busca por consenso, as republicanas Susan Collins, Lisa Murkowski e Kelly Ayotte, e as democratas Amy Klobuchar, Jeanne Shaheen e Heidi Heitkamp deixaram de lado diferenças políticas, e a união feminina fez a força - na prática política, com a base de um acordo para evitar o calote da dívida e que agradou ao grupo, de 13 legisladores. O senador republicano John McCain se mostrou resignado com o desempenho do partido na batalha fiscal: “eu já sabia como isso ia terminar”. Na política norte-americana, os republicanos admitem que desperdiçaram grande chance. O presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos da América, John Boehner quer a derrota de John Boehner – “É um bom resultado. A liderança, tenho que admitir, foi principalmente das mulheres no Senado - disse o  republicano John McCain, um dos sete homens da comissão”. Segundo dados estatísticos, os republicanos recebem mais apoio de homens do que mulheres. 
Enquanto a extratos socioeconômicos, a classe trabalhadora e de baixo ingresso tende a ser democrata, já os republicanos recebem o apoio afetivo e econômico dos setores de classe média alta, dos pequenos, médios e grandes empresários, dos setores vinculados à indústria e dos militares de carreira ou que tenham exercido serviço militar. Etnicamente, os republicanos recebem o apoio maioritário dos brancos, de origem europeia. Enquanto 60% dos brancos não hispânicos são republicanos, 80% dos negros, 50% dos latinos e 61% dos judeus são democratas. Em todos estes grupos, menos de 10% destes se identificam como republicanos. Desta porcentagem se excetua os cubano-estadunidenses que são o único grupo hispano que vota majoritariamente republicano. O projeto político foi inspirado numa proposta inicial da senadora republicana norte-americana Susan Collins.

Há duas semanas ela trabalhara numa iniciativa de três pontos que considerava toleráveis para ambos os partidos políticos. Depois do fracasso, de mais uma tentativa de realização de acordo, Collins passou dias recebendo colegas no Capitólio o prédio que serve como centro legislativo do governo dos Estados Unidos da América. Negociou com as republicanas Murkowski e Ayotte. Juntas, formularam a base do acordo bipartidário. E conseguiram o respaldo de Klobuchar, Shaheen e Heitkamp, que levaram aos democratas. - Não acho que seja uma coincidência que as mulheres tenham se dedicado tanto a tentar sair desse beco sem saída. Apesar de termos determinada tendência política, estamos acostumadas a trabalhar juntas - disse Collins. Com o episódio, indicam sondagens técnico-metodológicas que a reputação política feminina está em alta na opinião pública norte-americana. Mas a aceitação ainda não se reflete especificamente na ocupação de cargos públicos do Senado, que continua sendo território majoritariamente barganhado do ponto de vista masculino: vale lembrar que as mulheres representam apenas 20% dos representantes legisladores.   
Nos Estados Unidos da América, predomina a polarização política em dois partidos, o Partido Republicano e o Partido Democrata. Ao contrário do que muitos pensam, não há apenas esses dois partidos nos EUA, mas a forma como o sistema eleitoral funciona nesse país acaba fazendo com que os dois dominem a cena política. O Partido Republicano possui um viés mais alinhado ao pensamento político conservador ou liberal conservador. Nesse sentido, há por parte dos republicanos um apreço pelos princípios conservadores, como a defesa da propriedade privada, do porte de armas, do livre mercado e da livre concorrência. Nesse sentido, o Partido Republicano pode ser denominado de um partido de direita. Igualmente o Partido Democrata possui um viés associado à tradição da esquerda democrática, que se diferencia claramente da esquerda revolucionária, isto é, defende políticas sociais assistencialistas, a intervenção estatal na economia, leva em conta bandeiras de movimentos sociais, como a questão particular dos negros afro-americanos, dos gays, dos imigrantes latinos etc. No entanto, essas características sociológicas acentuadas nem sempre foram assim. No início de suas respectivas formações políticas, os dois principais partidos dos EUA eram bastante diferentes.
No Senado norte-americano cada Estado é igualmente representado por dois membros, independentemente de sua população. Eleições ocorrem, porém, a cada dois anos, para a escolha de aproximadamente um terço das posições no Senado norte-americano. O vice-presidente dos Estados Unidos é o representante oficial que preside as sessões legislativas do Senado norte-americano, mas não é um senador, e como tal, não vota per se, embora possua o voto de Minerva em casos excepcionais de votações empatadas. O Senado é visto como um corpo político mais deliberativo do que a Câmara dos Representantes; o Senado é menor e o termo de ofícios de seus membros é maior, fazendo com que a chamada atmosfera política no Senado norte-americano seja mais formal e mais isolada da opinião pública norte-americana do que na Câmara dos Representantes. Além disso, o Senado possui diversos poderes exclusivos dados pela Constituição dos Estados Unidos da América, não dados à Câmara dos Representantes. Um dos poderes mais significantes é o fato de que o Presidente dos Estados Unidos só pode ratificar tratados e realizar encontros políticos com o conselho e o consentimento do Senado, segundo o Artigo I da Constituição norte-americana.
Bibliografia geral consultada.
CALVINO, Italo, Os Castelos dos Destinos Cruzados. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1973; GOODY, Jack, Production and Reproduction: A Comparative Study of the Domestic Domain. Cambridge: Cambridge University Press, 1976; SINGLY, François de, Fortune et Infortune de la Femme Mariée — Sociologie de la Vie Conjugale. Paris: Presses Universitaires de France, 1987; Idem, “Théorie critique de l`homogamie”. In: L’Année Sociologique (37) 1987; COLLIOT-THÉLÈNE, Catherine, Le Désenchantement de l`État: de Hegel à Max Weber. Paris: Éditions Minuit, 1992; JUNG, Carl, et al, O Homem e seus Símbolos. 2ª edição. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2008; BAUMAN, Zygmunt, Aprendendo a Pensar com a Sociologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2010;  VILAROUCA, Cláudia Grijó, Narrativas Espacializadas Contemporâneas. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Literatura. Centro de Comunicação e Expressão. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2013; Artigo: Harrison Ford, 70, diz que aceitaria participar do novo Star Wars. In: tonoline.uol.com.br/notícias/06/11/2012LÖWY, Michael, A Jaula de Aço. São Paulo: Editorial Boitempo, 2014; SENE, Túlio Silva, Um Processo Chamado Progresso: Desafios e Limites do Intercâmbio Global de Ciência  e Tecnologia na Economia-mundo. Tese de Doutorado. Program de Pós-Graduação em Economia Política Internacional. Instituto de Economia. Rio de Janeiro: UNiversidade Federal do Rio de Janeiro, 2015; MELLO, Janvier Guttierrez de, Agenciamentos Estéticos e Políticos no Audiovisual Contemporâneo: Imagens de Arquivo na Obra de Harun Farocki. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação. Faculdade de Biblioteconomia e Educação. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2016; entre outros. 
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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais do Centro de Humanidades da Universidade Estadual do Ceará (UECE). 

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