“A preocupação com a administração da vida parece distanciar o ser humano”. Zygmunt Bauman
A popularidade de Zygmunt Bauman entrou em franca ascendência quando o autor passou a analisar a pós-modernidade sob o prisma da liquidez (2004). Como uma época em que nada é feito realmente para durar, em que a fixidez das relações sociais obtém um valor descartável no processo de social de comunicação, em que toda comunicação é um processo de trabalho, mas nem todo processo de trabalho é um processo de comunicação, elaborando o conceito de modernidade líquida que se afasta da pós-modernidade, na medida em que a modernidade representa um continuun. Ela teria se transformado numa versão consumista, individualista e despolitizada. O conceito de sociedade é comumente usado para expressar o processo de estratificação de cidadãos de um país, governados por instituições nacionais que aspiram ao bem-estar dessa coletividade. Todavia, a sociedade não é um mero conjunto de indivíduos vivendo juntos em um determinado lugar, é também a existência de uma organização social, de instituições e leis que regem a vida dos indivíduos e suas relações mútuas. Há também alguns pensadores cujo debate insiste em reforçar a oposição entre indivíduo e sociedade, reduzindo, com frequência, ao conflito entre o genético e o social ou cultural. Durkheim, Marx e Weber conceituaram a definição de sociedade. Cada um definiu a constituição da sociedade a partir do nível de análise político, social ou econômico do indivíduo. As relações sociais entre os indivíduos e sociedade tendem a ser menos frequentes e menos duradouras.
Curiosamente
somente “na massa” é possível ao homem libertar-se do temor do contato. Tem aí
a única situação na qual esse temor transforma-se no seu oposto. E é da massa
densa que se precisa para tanto, aquela na qual um corpo comprime-se contra o
outro, densa inclusive em sua constituição psíquica, de modo que não atentamos
para quem é que nos comprime, como o poeta Bertolt Brecht, precisou bem na
memória. Tão logo nos entregamos à massa não tememos o seu contato. Na massa
ideal, todos são iguais. Nenhuma diversidade contra, nem mesmo a orgia dos
sexos. Quem quer que nos comprima é igual a nós mesmos. Subitamente, tudo se
passa então como que no interior formasse um único corpo. Talvez essa seja uma
das razões pelas quais a massa busca concentrar-se de maneira tão densa: ela
deseja libertar-se tão completamente quanto possível do temor individual e
coletivo do contato físico. Quanto mais energicamente os homens se apertam uns
contra os outros, tanto mais seguros eles se sentirão de não se temerem
mutuamente. Essa inversão do temor do contato, segundo Elias Canetti, “é
característica da massa”. O alívio que nela se propaga abruptamente alcança uma
proporção notavelmente alta quando a massa se apresenta em sua densidade
máxima.
O
que muda comparativamente a esses traços gerais de comportamento refere-se à
hierarquia e o poder que criaram para si as posições fixas e tradicionais. A
partir da maneira como as pessoas se apresentam dispostas uma ao lado da outra,
pode-se facilmente deduzir a diferença de prestígio entre elas. Sabemos o que
significa quando uma pessoa se encontra sentada num plano mais elevado, tendo
todas as demais em pé a circundá-la. Ou quando está em pé, e as demais sentadas
ao seu redor; quando alguém aparece de súbito, e as pessoas reunidas levantam-se;
quando alguém se ajoelha diante de outra pessoa; quando não se convida aquele
que acabou de entrar a sentar-se. Já uma enumeração indiscriminada de exemplos
como esses demonstram a quantidade de configurações mudas que o poder tem como
significado e apresenta. Seria necessário investiga-las, definindo com maior
exatidão o seu significado social e político. Durante um culto religioso numa igreja, os fiéis ajoelham-se muitas vezes; estão acostumados, e mesmo com prazer não atribuem significado a esse gesto frequente.
O orgulho daquele que se encontra em pé reside no fato dele estar livre e não se apoiar em coisa alguma. Seja porque interfira aí a lembrança psicológica da primeira vez em que ele, quando criança, pôs-se de pé sozinho, sentindo-se independente. Aquele que se levantou, pôs-se de pé em consequência de certo esforço e, assim procedendo, faz-se tão alto quando pode ser. Mas aquele que se encontra de pé há muito tempo expressa certa capacidade de resistência, porque pode ser visto por inteiro, sem ter medo ou ocultar-se. Quanto mais tranquilo se revelar esse seu estar em pé, quanto menos ele se voltar para espiar em todas as direções, tão mais seguro ele parecerá. Não temerá sequer um ataque pelas costas, invisível a seus olhos. O estar em pé causa a impressão de uma energia ainda não consumida, pois é algo que se encontra no princípio de todo movimento: usualmente, fica-se em pé antes de se andar ou correr. Trata-se da posição central, a partir da qual, sem que haja transição alguma, pode-se passar seja para outra posição, seja para uma forma qualquer de movimento. As pessoas tendem a supor naquele que está em pé a presença de uma tensão maior. Mesmo nos momentos nos quais sua intenção é inteiramente diversa; no momento seguinte, talvez se deite para dormir. O um fato disciplinar é que na história da vida cotidiana, seja ela social ou tipicamente política é que se superestima aquele indivíduo que se encontra em pé.
Devido ao conceito de relações líquidas de Bauman em livros como “Amor Líquido”, onde as relações amorosas deixam de ter aspecto de união e passam a ser acúmulo de experiências, ou em “Medo Líquido”, onde erroneamente a insegurança é parte estrutural da constituição do sujeito pós-moderno, o autor é descrito como “pessimista”, mas seu propósito é seguir a contracorrente. Se há cientistas, poetas e artistas exaltando as virtudes do capitalismo, por que não expor exatamente o contrário, sua face desumana, legado pré-marxista que tem sido amplificado por Bauman em mais de trinta obras publicadas, tornando-se um ícone para jovens, dentre as quais a leitura de “Amor Líquido”, “Globalização: as Consequências Humanas” e “Vidas Desperdiçadas”. Contudo, com o advento da globalização, entevisto por Marx, tornou-se reconhecido por suas análises do consumismo pós-moderno e das ligações entre modernidade, desperdício e holocausto.
A palavra pobre veio do latim pauper, que vem de pau- = pequeno e pário = “dou à luz” e originalmente referia-se a terrenos agrícolas ou gado que não produziam o desejado. A pobreza mais severa se encontra nos países ditos “subdesenvolvidos”, mas esta existe em todas as regiões. Nos países imperialistas, “manifesta-se na existência de sem-abrigo e de subúrbios pobres”. A pobreza pode ser vista como uma coletividade de pessoas pobres, grupos e mesmo de nações. Para evitar este estigma, essas nações são chamadas ideologicamente “países em desenvolvimento”. A pobreza pode ser absoluta ou relativa. A pobreza absoluta refere-se a um nível que é consistente ao longo do tempo e entre países. Um exemplo de um indicador de pobreza absoluta é a percentagem de pessoas com uma ingestão diária de calorias inferior ao mínimo estatístico necessário, ou seja, aproximadamente 2 000/2 500 quilocalorias. O Banco Mundial define a pobreza extrema como viver com menos de 1 dólar por dia, economicamente em paridade do poder de compra e pobreza moderada como viver com entre 1 e 2 dólares dos norte-americanos por dia. Estima-se que 1 bilhão e 100 milhões de pessoas a nível mundial tenham níveis de consumo inferiores a 1 dólar norte-americano por dia e que 2 bilhões e 700 milhões tenham um nível inferior a 2 dólares.
Quase todas as cidades enfrentam diversos tipos de problemas, dentre os quais a expectativa quanto maior a cidade mais as adversidades são acentuadas, embora persista a ideia de Jacques Le Goff, como estudioso da cidade como lugar de troca de diálogo, como lugar de segurança, como lugar de poder e de aspiração à beleza. Diante desta afirmativa, um dos problemas que mais se destaca nas cidades não deveria ser a questão do lixo residual, principalmente o sólido. Diariamente as cidades emitem uma enorme quantidade de lixo e grande parte desses detritos não são processados, ou seja, o excedente vai sendo armazenado em proporções alarmantes. O problema cresce gradativamente, e quantitativamente devido o elevado número de pessoas que se tornam cada vez mais distante da consciência ecológica no mundo e o grande estímulo ao consumo na perspectiva presente nas sociedades que avançam para o sujeito pós-moderno. Ou como diz a escritora e tradutora Lya Luft, “deve ser o nosso jeito de sobreviver – não comendo lixo concreto, mas engolindo esse lixo moral e fingindo que está tudo bem”. Fortaleza é uma cidade suja. Não sabe tratar o seu lixo moral.
CANETTI, Elias, Massa e Poder. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1995; LE GOFF, Jacques, Pour l`Amour des Villes: Entretiens avec Jean Lebrun. Paris: Éditions Textuel, 1997; RORTY, Richard, Contingência, Ironia e Solidariedade. Lisboa: Editorial Presença, 1994; SANTOS, Boaventura de Souza, A Crítica da Razão Indolente: Contra o Desperdício da Experiência. São Paulo: Cortez Editores, 2000; PALLARES-BURKE, Maria Lúcia Garcia, “Entrevista com Zygmunt Bauman”. In: Tempo Soc. Vol.16 no.1 São Paulo June 2004; ELIAS, Norbert, Escritos & Ensaios: 1 : Estado, Processo, Opinião Pública. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006; BAUMAN, Zygmunt, Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004; Idem, Vidas Desperdiçadas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005; Idem, Sobre Educação e Juventude: Conversas com Ricardo Mazzeo. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 2013; Entrevista com Carlos Lopes: “O Brasil não é um líder ambiental”. In: Revista Época. Edição735, 18 de junho de 2012; ABREU, Cleto Junior Pinto de, A Sociologia da Modernidade Líquida de Zygmunt Bauman: Ciência Pós-Moderna e Divulgação Científica. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo, 2012; REIS, Andréa; NOVAES, Liza; FARBIARZ, Jackeline, “O Design na Modernidade Líquida e suas Interações com a Educação na Criação de Jogos e Atividades Lúdicas”. In: Estudos em Design, vol. 24, nº 2 (2016); VIEIRA, Patrícia Elias, O Consumidor no Ciberespaço Transnacional: O Devir da “Sociedade Líquido-Moderna” e do Estado Contemporâneo na Construção da Ciberdemocracia. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciência Jurídica. Itajaí: Universidade do Vale do Itajaí, 2016; entre outros.
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