“Não há assunto tão velho que não possa ser dito algo de novo sobre ele”. Fiódor Dostoiévski
O escritorFiódor
Dostoiévski nasceu em Moscou em 11 de novembro de 1821 e faleceu em São
Petersburgo, em 9 de fevereiro de 1881. Foi um notável escritor, filósofo e
jornalista do Império Russo. É considerado um dos maiores romancistas e
pensadores da história, bem como um dos maiores influenciadores de psicólogos
que já existiram na acepção mais ampla do termo, como investigadores da psiquê
como ocorre no caso clássico do pensamento, teoria e prática clínica da
psicologia como Sigmund Freud. Após o término de sua formação acadêmica como
engenheiro, Dostoiévski trabalhou integralmente como escritor, produzindo
romances, novelas, contos, memórias, escritos jornalísticos e escritos
críticos. Atuou como Editor em revistas literárias próprias, como preceptor e
participou de atividades políticas. Suas obras mais importantes foram
literárias, onde abordou o significado do sofrimento e da culpa, o
livre-arbítrio, o cristianismo, o racionalismo, o niilismo, a pobreza, a
violência, o assassinato, o altruísmo, além de transtornos mentais, vezes
ligados à humilhação, ao isolamento, ao sadismo, ao masoquismo e ao suicídio.
Pela retratação filosófica e psicológica profunda e atemporal dessas questões,
seus escritos são chamados de “romances filosóficos e romances
psicológicos”.
Dostoiévski
logrou atingir certo sucesso literário já com seu primeiro romance, Gente
Pobre, o qual foi imediatamente elogiado e protegido pelo mais importante
crítico literário russo da primeira metade do século XIX, Vissarion Belinski (1811-1848). Filho
de um médico militar no Exército Russo de guarnição no território finlandês.
Fez os estudos secundários em Penza e ingressou, em 1829, na Universidade de
Moscovo. Foi expulso três anos depois, por ter escrito Dmitri Kalinin,
uma peça de teatro que atacava a instituição da servidão. Começou então a
trabalhar como jornalista, escrevendo artigos críticos para os jornais mais
proeminentes de seu tempo. O segundo romance, O Duplo - obra reconhecida literariamente como famosa, tendo sido
reinterpretada por escritores e, sobretudo, cinematograficamente -, mas ainda assim recebera críticas muito
negativas, inclusive do seu antigo protetor, críticas que acabaram por destruir
o reconhecimento que Dostoiévski começava a adquirir como escritor. Apenas após
seu retorno da prisão na Sibéria, pois Dostoiévski foi preso por tramar contra
o Czar, repetiria o escritor seu sucesso inicial com a semi-biográfica
obra Recordações da Casa dos Mortos, a qual trata dos anos que passou na
prisão. Sua fama aumentaria graças a obras como Crime e Castigo, O
Idiota e Os Demônios. Foi, entretanto, próximo da morte que
Dostoiévski consolidou-se um dos maiores escritores de todos os tempos com sua
obra-prima Os Irmãos Karamazov.
A
influência de Dostoiévski é ímpar: ele influenciou diretamente a Literatura, a
Filosofia, a Psicologia e a Teologia. Sob sua influência direta foram
produzidas várias obras literárias e cinematográficas. Foi também reconhecido
como precursor dos seguintes movimentos históricos e sociológicos:
nietzscheanismo, psicanálise, expressionismo, surrealismo, teologia da crise e
existencialismo. O reconhecimento popular também é imenso: é mundialmente
reconhecido e possui diversas estátuas, selos e moedas em sua homenagem e quando
celebra-se em São Petersburgo o Dia Dostoiévski. Na Academia Militar
de Engenharia de São Petersburgo, além das matérias militares essenciais e
de engenharia, Dostoiévski também estudou a obra de Victor Hugo, Honoré de
Balzac, George Sand e Eugène Sue, uma vez que a Academia Militar tinha um bom programa de literatura principalmente na produção francesa. Nessa conjuntura,
foi também muito influenciado pelo poeta romântico alemão Friedrich Schiller (1759-1805). A
partir de agosto de 1841, Dostoiévski passou a morar fora da Escola de Engenharia,
dividindo apartamentos com reconhecidos e com o irmão Andrei. Nesta época
escreveu - segundo relatos de um conhecido com o qual dividia o apartamento
- partes de duas peças românticas, as quais não sobreviveram e cujos
títulos eram Mary Stuart e Boris Godunov.
Terminou o curso superior de Engenharia em
1843. Em 1845 começou a escrever sua primeira obra, o romance epistolar Gente
Pobre, trabalho que iria fornecer-lhe êxitos da crítica literária, uma vez
que Belinski, o mais influente crítico da literatura russa, acreditou e fez
acreditar ser Dostoiévski a mais nova revelação do cenário literário do país:
Belinski estava extasiado com o movimento realista na Europa e considerou o
romance de Dostoiévski como a primeira tentativa do gênero na Rússia. O
livro foi publicado no Almanaque de Petersburgo (1846). A Gente Pobre
seguiu o romance O Duplo, publicado em 1846, e os seguintes contos:
Senhor Prokhartchin, publicado no volume de outubro de 1846 da revista Notas
da Pátria, e dois contos escritos em 1846, Romance em Nove Cartas e Polzunkov,
A Senhoria, escrito entre 1846-47, Coração Fraco, escrito em
1848, três contos escritos entre 1847-48: O Ladrão Honesto, Uma
Árvore de Natal e uma Boda, A mulher alheia e o marido debaixo da
cama e Noites Brancas e, ainda, o conto Netochka Nezvanova, cuja
última parte foi publicada no volume de maio da Notas da pátria no ano
de 1849, sem, entretanto, conter o nome de Fiódor Dostoiévski, uma vez que ele tinha
sido vigiado, preso e punido em 23 de abril. Estas obras não tiveram o êxito esperado e
sofreram críticas muito negativas, inclusive de Belinski.
Friedrich
Schiller nasceu em 1759, em Marbach am Neckar, onde viveu seus primeiros anos
de vida. Em 1762 seu pai é promovido a capitão e passa a exercer funções de
oficial-recrutador na cidade livre de Schwäbisch Gmünd. Em 1763 a família
Schiller fixa residência na localidade de Lorch, onde aprende as primeiras
letras. Aos cinco anos inicia seus estudos de grego e latim, sob a orientação
do pastor Ulrich Moser. Em 1767, uma nomeação de Johann Kaspar Schiller leva a
família a se instalar em Ludwigsburg, onde seu filho frequenta a escola de
latim. A intenção da família é de preparar o menino para ser pastor, mas em
1773, contra a vontade da família e do próprio garoto, ele ingressa na
Karlsschule, Academia Militar instalada no castelo Solitude, em Stuttgart,
fundada e pessoalmente supervisionada por Carlos Eugênio com a finalidade
essencial de treinar oficiais e funcionários para servi-lo. O jovem Schiller
opta pelo curso de Direito, que posteriormente abandonará. A rigidez da
disciplina militar da academia causa-lhe profunda impressão e lhe dá inspiração
para sua primeira grande obra, Os Bandoleiros. Com a transferência da Academia,
do castelo Solitude para o centro de Stuttgart, Schiller muda de carreira,
trocando o curso de Direito pelo de Medicina, em 1775. Durante esse período
alimenta sua paixão pela literatura, lendo clássicos como Plutarco e
Shakespeare, os poemas do crítico literário Klopstock, além de Goethe, Lessing,
Kant e dos iluministas Voltaire e Rousseau. Também nessa grande época filosófica e literária Schiller se
fascina com o movimento Sturm und Drang, do qual será representante, tal
como seu amigo Goethe. É durante esse período na Faculdade de Medicina que
Schiller escreve sua peça Os Bandoleiros (Die Räuber).
Desde
que terminou o curso na Academia Militar até sua prisão, Dostoiévski entrou em
contato com alguns grupos da Intelligentsia russa, sendo os principais o
Círculo Petrashevski e o Círculo Palm-Durov. O primeiro era
dedicado à discussão sobre literatura e humanidades em geral, centrado nas
obras da biblioteca de obras proibidas de Petrashevski, obras que, segundo os
registros da sociedade, Dostoiévski consultou em várias ocasiões. O segundo, o Círculo
Palm-Durov, foi formado a partir do Círculo Petrashevski e servia de
fachada para radicais revolucionários, incluindo Dostoiévski, o qual foi preso
muito por conta de suas atividades políticas neste círculo, em que pese as
acusações terem sido direcionadas apenas ao círculo principal de Petrashevski,
uma vez que o Círculo Palm-Durov não chegou a ser descoberto pelas
autoridades.Na
engenharia e na arquitetura, como na literatura, a construção é a execução do projeto previamente
elaborado, seja de uma edificação ou de uma obra de arte, que são obras de
maior porte destinadas a infraestrutura como pontes, viadutos ou túneis.
É através da
execução de todas as etapas do projeto da fundação ao acabamento, consistindo
em construir o que consta em projeto, respeitando as técnicas construtivas e as
normas técnicas vigentes. No Brasil, o termo reforma é o mais utilizado quando
se trata de fazer alguma ampliação, inovação, ou restauração, ou apenas uma
pintura, ou a troca de um piso cerâmico de um imóvel, seja comercial,
industrial ou residencial. Os termos construção e obra também são utilizados. Construção
civil é o termo que engloba a confecção de obras como casas, edifícios, pontes,
barragens, fundações de máquinas, estradas, aeroportos e outras
infraestruturas, onde participam engenheiros civis e arquitetura em colaboração
com técnicos de outras disciplinas. Os termos construção civil e engenharia
civil são originados de uma época histórica de desenvolvimento em que só existiam apenas duas classificações
para a engenharia civil e militar, cujo conhecimento, por exemplo de
engenharia militar, era destinada apenas aos militares e a engenharia civil
destinada aos demais cidadãos.
A engenharia civil, que
englobava todas as áreas, foi se dividindo e hoje conhecemos várias divisões,
como por exemplo, a engenharia elétrica, mecânica, química, naval, etc.
Exemplos como engenharia naval, dão origem à construção naval, mas ambas eram
agrupadas apenas na grande área da civil. A Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) regulamenta as normas e o Conselho Regional de Engenharia e
Agronomia (CREA) fiscaliza o exercício da profissão e a responsabilidade civil.
Toda a obra de construção civil deve ser previamente aprovada pelos órgãos
municipais competentes, e sua execução acompanhada por engenheiros ou
arquitetos registrados no CREA. Em Portugal os técnicos responsáveis
pelos projetos de construção civil, excetuando o caso dos projetos de edifícios
de pequena dimensão, os quais podem ter como responsáveis técnicos habilitados
com o antigo curso de Construtor Civil e Mestrado, agora designados por “Agentes
Técnicos de Arquitetura e Engenharia” têm que ser titulares de um curso
superior, bacharelado ou licenciatura e têm que estar, respectivamente,
inscritos na Ordem dos Engenheiros Técnicos (OET) ou na Ordem dos Engenheiros
(OE). Para projetos desenvolvimentos na engenharia de grande responsabilidade técnica e social, o bacharelado
não é considerado formação suficiente, e a legislação portuguesa exige que o
responsável técnico seja titular de uma Licenciatura em Engenharia Civil.
A
construção civil experimenta cenários diferentes em regiões distintas do mundo.
Enquanto no Brasil, China, Índia e países emergentes se encontram em
expansão, em países ditos desenvolvidos como os europeus e os Estados Unidos o
setor passa por uma estagnação.Quando
passava os olhos nas primeiras páginas do livro: “A Loucura do Trabalho: Estudo
de Psicopatologia do Trabalho”, na década de 1980, percebíamos que se trata de
uma obra importantíssima para o estudo da psicologia do trabalho. É um livro
que revela que o modelo taylorista não esgotou a dinâmica do trabalho no século
XIX/XX. Ele ainda existe de maneira velada. Não são todas as empresas que seguem
este modelo. Porém, nas grandes companhias e indústrias, é fácil observar empiricamente
o taylorismo travestido de outras formas supostamente mais aceitáveis de
concepção e execução do trabalho aos olhos dos empresários e acionistas. Ainda
que tenham muitas vezes interesses menos nobres do que apenas reivindicar os
direitos sociais e políticos dos trabalhadores, as centrais sindicais apontam
inclusive no setor público, no caso brasileiro das universidades etc. situações ilegais de abusos dos patrões, com o não
cumprimentos de acordos trabalhistas, especialmente com o empregado que exerce
seu ofício no chamado “chão de fábrica”. Construção
civil é o termo que engloba a confecção de obras como casas, edifícios, pontes,
barragens, fundações de máquinas, estradas, aeroportos e outras
infraestruturas, onde participam engenheiros civis e arquitetos em colaboração
com especialistas e técnicos de outras disciplinas.
Os termos construção civil
e engenharia civil são originados de uma época em que só existiam apenas duas
classificações para a engenharia sendo elas civil e militar, cujo conhecimento,
por exemplo de engenharia militar, era destinada apenas aos militares e a
engenharia civil destinada aos demais cidadãos. Com o tempo, a engenharia
civil, que englobava todas as áreas, foi se dividindo e hoje conhecemos várias
divisões, como por exemplo a engenharia elétrica, engenharia mecânica,
engenharia química, naval, etc. Exemplos como engenharia naval, dão origem à
construção naval, mas ambas eram agrupadas apenas na grande área da civil. Desde
o início da história, os humanos passaram a construir seus próprios abrigos
utilizando os elementos naturais ao seu redor. Posteriormente, as estruturas
adquiriram características cada vez mais complexas, reflexo do desenvolvimento
das técnicas. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
regulamenta as normas e o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia
(CREA) fiscaliza o exercício da profissão e a responsabilidade civil. Toda a
obra de construção civil deve ser previamente aprovada pelos órgãos municipais
competentes, e sua execução acompanhada por engenheiros, técnicos, tecnólogos
ou arquitetos registrados em seus respectivos conselhos. É o órgão responsável
pela normalização técnica, fornecendo insumos ao desenvolvimento tecnológico
brasileiro. Trata-se de uma entidade privada, sem fins lucrativos e de
utilidade pública, fundada em 1940. É membro da Organização Internacional
de Normalização, da Comissão Panamericana de Normas Técnicas e da Associação
Mercosul de Normalização. É a representante oficial nessas três
instituições e também na Comissão Eletrotécnica Internacional.
A estrutura do viaduto em
construção na BR-365, de 60 toneladas e 35 metros, desabou no início da noite
de domingo e um homem de 38 anos morreu soterrado. As obras do viaduto, que
deveriam estar prontas há cerca de dois anos, estavam paradas e foram retomadas.
O viaduto visava ligar a MG-452 à BR-365, entre Tupaciguara e Uberlândia. Operários
trabalhavam no momento do desabamento e a vítima era natural do estado de Alagoas. O
Corpo de Bombeiros e a Polícia Rodoviária Federal, não informaram detalhes
sobre o acidente de trabalho. A reportagem da TV Integração foi até o local e
conversou com testemunhas. De acordo com as informações obtidas, a pista do
viaduto desabou e as vigas que a sustentavam também não suportaram. – “Estávamos
colocando a última viga para irmos embora, quando ela empurrou as outras e caiu
tudo. Não deu tempo dele correr”, lamentou oajudante
de obra, Wenes Teixeira da Silva. O operador do guindaste apresentou outra
versão do ocorrido. Segundo ele, a viga não bateu nas outras, mas as três que já
estavam montadas que caíram. O então supervisor do Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes (Dnit) de Uberlândia, engenheiro José Maria da
Cunha, informou à reportagem que é preciso aguardar o laudo da perícia para
depois tomar as devidas medidas em relação ao caso.A construção de edificações, segundo dados estatísticos da Previdência Social, é o segundo setor com o maior número de mortes em acidentes do trabalho no país, perdendo apenas para área e meios de comunicação de Transporte Rodoviário de Carga.
Do
ponto de vista técnico-metodológico em 30/09/2015 foi publicada a Portaria
Interministerial nº 432/2015 dos Ministérios da Fazenda e da Previdência
Social, por meio da qual foram disponibilizados os índices de frequência,
gravidade e custo, por subclasse da Classificação Nacional das Atividades
Econômicas (CNAE), considerados para o cálculo do Fator Acidentário de
Prevenção (FAP) de 2015, com vigência para 2016. Este fator impacta no cálculo
da alíquota da contribuição ao RAT (Risco Ambiental do Trabalho), antigo Seguro
de Acidente ao Trabalho (SAT), podendo reduzi-la pela metade ou dobrá-la. A
Portaria também informa que o índice FAP aplicável a cada empresa com base nos
dados de 2013 e 2014, bem como as respectivas ordens de frequência, gravidade e
custo disponíveis desde 30/09/2015 nos sites do Ministério da Previdência
Social – MPS e da Receita Federal do Brasil – RFB, por intermédio de senha
pessoal do contribuinte/pesquisador. A novidade para o ano de 2016 está no
cálculo do FAP por estabelecimento empresarial, individualizado por seu CNPJ
(filiais) e não mais como ocorria para consulta através do CNPJ raiz. Muitas vezes os funcionários
trabalham nas alturas, pendurados ou sob toneladas de concreto. E eles não
estão livres de acidentes, pelo contrário, estão cada vez mais expostos. O
crescimento das obras de infraestrutura e a construção imobiliária elevou o
número de acidentes de trabalho em todo o país. Os acidentes mais comuns que
levam à morte na construção civil são: queda, choque elétrico e soterramento. De
acordo com o professor Vahan Agopyan da Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo, a construção civil é responsável pelo consumo de 40% a 75% da matéria-prima
produzida no planeta. Atualmente, o consumo de cimento é maior que o de
alimentos e o de concreto só perde para o de água. Para cada ser humano, são
produzidos 500 kg de entulho equivalente a 3,5 milhões de toneladas por
ano. Esses dados fazem da construção civil a indústria mais poluente do
planeta.
Além de consumir uma grande
quantidade de materiais, a construção civil também causa impactos por sua
franca expansão em grandes regiões do mundo, inclusive no Brasil. - “Não
podemos parar de construir casas, hospitais, melhorar os transportes”. Um
dos grandes desafios da construção civil é diminuir o desperdício de materiais.
- “O Brasil, por exemplo, tem muito desperdício. A indústria da construção
civil no país gasta muito mais do que Estados Unidos e Europa”, comenta o
professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) José Koz. Ele
defende que grandes programas de construção de casas promovidos pelo Governo
Federal, como o Minha Casa Minha Vida, poderiam servir de laboratório para o
desenvolvimento de novas técnicas que consumissem menor quantidade de
matéria-prima. - “O governo deveria estimular o uso de técnicas mais limpas.
Deveriam testar novos materiais, com impacto menor”, comenta Kós, que
complementa: - “A gente tem, aos poucos, uma necessidade de mudança por
causa da exigência do mercado”.
No Brasil, a presença das mulheres
na construção civil ainda é bem inferior se comparada à presença masculina.
Porém, nessa última década, a participação feminina no setor aumentou cerca de
8%. Segundo dados do Ministério do Trabalho, o número de operárias saltou de 83
mil nos anos 2000, para 138 mil no final do ano de 2008. Atualmente,
encontram-se ativas no mercado mais de 200 mil mulheres. Porém, é importante
ressaltar que a presença feminina na construção civil pode ir muito além do que
se aponta nas estatísticas oficiais. Em nosso país, existem muitas mulheres que
trabalham na área de forma autônoma, exercendo atividades que envolvem,
principalmente, serviços de finalização e acabamento de obras. Os melhores
salários se comparado às atividades consideradas essencialmente do mundo feminino,
como empregada doméstica e babá, atraem cada vez mais mulheres aos cursos
profissionalizantes do setor e, consequentemente, ao mercado de trabalho. A
falta de mão de obra qualificada também é um motivo pelo qual estão se
empregando cada vez mais mulheres em áreas que, antes, eram consideradas
essencialmente masculinas, como a construção civil. Atualmente, já é possível
ver nos canteiros de obras mulheres que desempenham diversas funções, desde
serventes, carpinteiras, ajudantes de obras, pedreiras, soldadoras, até
técnicas de segurança do trabalho e engenheiras civis.
A construção civil lidera o ranking de acidentes de trabalho com mortes no Brasil.Ao
todo, foram 2.712 mortes por acidente de trabalho naquele ano, segundo dados da
Previdência. Procurado pelo G1, o Ministério do Trabalho e Emprego informou que
houve redução na taxa de incidência de acidentes de trabalho na construção
civil, de 11,54 para 9,06 acidentes por mil trabalhadores entre 2008 e 2010. No
mesmo período, a taxa de mortalidade no setor caiu de 8,10 mortes por 100 mil trabalhadores,
para 7,03 mortes. O ministério informou que suas fiscalizações em canteiros de
obras aumentaram de 25.706 em 2001 para 31.828 em 2011 e que a construção civil
tem sido a prioridade para os cerca de mil auditores-fiscais que realizam ações
de segurança no trabalho no país. - “Os agravos à saúde e à vida do trabalhador
não podem ser resumidos a fatores isolados, especialmente quando se pensa que
as empresas não têm sido fiscalizadas”, diz o ministério em nota. - “Precisamos
destacar é que a proteção à saúde e à vida dos trabalhadores precisa ser
elevada nas empresas, pelo menos, à mesma importância que a proteção aos lucros”.
Segundo o MTE, seu orçamento para 2013 prevê R$ 3,1 milhões para Inspeção em
Segurança e Saúde no Trabalho e outros R$ 990 mil para serem aplicados em
Auditoria Trabalhista de Obras de Infraestrutura.
Estatisticamente os trabalhadores da
construção civil têm três vezes mais probabilidades de sofrer acidentes mortais
e duas vezes mais de sofrer ferimentos. Com a atual construção de grandes
usinas hidrelétricas no país e de obras voltadas para a Copa do Mundo em 2014 e
para as Olimpíadas em 2016, a preocupação é a de que o aquecimento da
construção civil acabe repercutindo também num aumento do número de acidentes.
A Previdência Social despende, anualmente, cerca de R$ 10,7 bilhões com o pagamento
de auxílio-doença, auxílio-acidente e aposentadorias e, segundo o economista
José Pastore, o custo total dos acidentes de trabalho é de R$ 71 bilhões
anuais, numa avaliação subestimada. Este valor representa 9% da folha salarial
anual dos trabalhadores do setor formal do Brasil, e reúne os custos para as
empresas de seguros e gastos decorrentes do próprio acidente e para a sociedade
com a Previdência Social, Sistema Único de Saúde e custos judiciários. A
intenção do Programa Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho, lançado
pelo TST e pelo CSJT, em parceria com os ministérios da Saúde, Previdência
Social, Trabalho e Emprego, Advocacia-Geral da União e Ministério Público do
Trabalho, é reverter o cenário de crescimento do número de trabalhadores vítimas
de acidentes. A segunda etapa do programa é centrada no setor da construção
civil, e prevê a realização de atos públicos semelhantes em obras de reforma ou
construção de estádios que receberão os jogos da Copa do Mundo de futebol no
Brasil em 2014 e as grandes obras de infraestrutura atualmente em curso no
país. O primeiro Ato Público pelo Trabalho Seguro na Construção Civil foi
realizado no dia 2 de março nas obras de reconstrução do estádio do Maracanã,
com participação ativa dos trabalhadores.
Na abertura do evento, o ministro
João Oreste Dalazen enfatizou a preocupação da Justiça do Trabalho com o
crescente número de acidentes de trabalho no país, muitos ocorridos por falta
de observação às normas de segurança.O Brasil possui índices consideráveis, isto é,altos de acidentes de trabalho. Números oficiais apontam a ocorrência de mais de 549.000 acidentes de trabalho em 2017, com óbitos, mutilações, afastamentos e incapacitações permanentes e temporárias. Tais números seriam ainda maiores caso não tivéssemos problemas relacionados à insuficiência de registro e à subnotificação, assim como a não totalização de acidentes e doenças com servidores públicos, profissionais liberais, autônomos e outros. Destaca-se ainda a relevância do tema perante o cenário internacional. A Convenção 155 da Organização Internacional do Trabalho - OIT, ratificada pelo Brasil em 18/05/1992 e publicada através do Decreto Legislativo nº 02/1994, prevê como obrigação dos signatários formular, pôr em prática e reexaminar periodicamente uma política nacional coerente em matéria de segurança e saúde dos trabalhadores, como o objetivo de prevenir os acidentes e os danos à saúde que forem consequência do trabalho, tenham com a atividade de trabalho ou se apresentarem durante o trabalho. A OIT divulgou, em 2017, que acidentes e doenças consomem 4% do PIB mundial. Tal índice implica, em nosso País, valores acima de R$ 200 bilhões de reais por ano. Desde que a data de 28 de abril em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças Relacionadas ao Trabalho foi instituída, diversas entidades realizam ações para fomentar a cultura de segurança e saúde no trabalho. De acordo com dados do Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho, de 2012 a 2018, o Brasil registrou 16.455 mortes e 4.5 milhões acidentes. No mesmo período, gastos da Previdência com Benefícios Acidentários corresponderam a R$79 bilhões, e foram perdidos 351.7 milhões dias de trabalho com afastamentos previdenciários e acidentários. Na fase intermediária, de 2008 a 2015, a AGU elegeu por meio da Procuradoria Geral Federal (PGF) que representa o INSS, a atuar de forma mais firme, foi necessário buscar parcerias com instituições, tais como Ministério Público do Trabalho (MPT); Justiça do Trabalho; Ministério da Saúde; Ministério do Trabalho e com os respectivos Sindicatos. - “Quando o INSS busca o ressarcimento e/ou a reposição do fundo de previdência social, as parcerias são importantes para que o instituto demonstre por meio de provas que houve negligência por parte do empregador”. Completa que nesses oito anos, a média de ajuizamento foi de 438 ações. A partir de 2016, a procuradora descreve que por meio da Portaria PGF nº 157/2016, foi criada a Equipe de Trabalho Remoto (ETR). - “São procuradores federais que atuam no Brasil inteiro, os quais analisam documentações que são encaminhadas geralmente pela fiscalização do trabalho, para verificar casos em que o empregador tem culpa.
Além disso, existe o Núcleo de Ações Prioritárias (NAP), também formado por procuradores federais, no âmbito de cada unidade da PGF para acompanhamento das demandas”. De acordo com a procuradora, a AGU ajuizou 395 ações regressivas, tendo como expectativa a recomposição do fundo da previdência social em 563 benefícios cobrados e esses acidentes envolveram 465 trabalhadores. O valor cobrado foi de R$ 24.061.196,55, a expectativa é que sejam ressarcidos R$ 173.720.091,75 ao INSS - Instituto Nacional do Seguro Social, autarquia do governo do brasileiro vinculada ao Ministério da Economia que já desembolsou na concessão do benefício acidentário. Além de gerar um custo altíssimo para o INSS, as consequências dos acidentes de trabalho causam prejuízo para os trabalhadores e familiares, para a empresa e, também, para o governo. Endossando a informação da procuradora Marta Gonçalves, o perito-médico previdenciário, Eduardo Costa Sá, comenta que a legislação foi estabelecida na Constituição Federal de 1988. O perito-médico está no final do processo, constatamos a incapacidade para o trabalho”. O perito-médico analisa a existência da doença, bem como a profissão do segurado e a forma como é executada. Determina o perfil profissiográfico, da profissão no Cadastro Brasileiro de Ocupação (CBO) e noções de higiene e saúde no trabalho.
Eduardo Sá descreve que a Seguridade Social é composta por três pilares: Saúde (prevista no Artigo nº 196 a 200); Assistência Social (prevista no artigo nº 203 a 204) e a Previdência Social (prevista no artigo nº 201 e 202), todos os artigos estão na Constituição Federal de 1988. Para ele, a prevenção de acidentes é fundamental. “De acordo com dados oficiais, o Brasil ocupa o quarto lugar em acidentes e doenças relacionadas ao trabalho. De 2018 até 29 de março deste ano, foram registrados 802 mil acidentes de trabalho, resultando em 2.995 mortes”, exalta Eduardo. O perito-médico ressalta que os acidentes de trabalho influenciam no desenvolvimento do país. - “O artigo nº 161 da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), se o ambiente laboral coloca o trabalhador em condições de risco grave ou iminente, a empresa além da multa poderá ser interditada, o que ocasionará inúmeros prejuízos. É obrigação da empresa adotar e cumprir medidas de proteção à saúde e segurança do trabalhador”. Além de medidas de prevenção e normas, Eduardo enfatiza que a educação é uma das grandes ferramentas para reduzir os índices altos de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho. Completa que precisa maior fiscalização, melhor uso das ferramentas sociais e técnicas disponíveis para controle dos acidentes com o Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário (NTEP), acidentes cadastrados no sistema da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e outros.
Bibliografia
geral consultada.
BATISTA, José
Roberto, Operários da Construção Civil: Acidentes e Reinserção no Mercado de
Trabalho. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia.
Faculdade de Ciências Sociais. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2010; CAMPOS, Pedro Henrique Pedreira, A Ditadura dos Empreiteiros: As Empresas Nacionais de Construção Pesada, suas Formas Associativas e o Estado Ditatorial Brasileiro, 1964-1985. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História. Instituto de Ciências Humanas e Filosofia. Departamento de História. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2012; CAMPOS, Pedro Henrique Pedreira, A Ditadura dos Empreiteiros: As Empresas Nacionais de Construção Pesada, suas Formas Associativas e o Estado Ditatorial Brasileiro. Tese de Doutorado em História Social. Departamento de História. Instituto de Ciências Humanas e Filosofia. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2012; TEIXEIRA, Floricelia Santana, O Fenômeno da Despersonalização e suas
Relações com a Infra-Humanização e o Preconceito. Dissertação de Mestrado.
Programa de Pós-Graduação em Psicologia. São Cristóvão: Universidade Federal de
Sergipe, 2014; DEJOURS, Christophe, Le Choix - Souffrir au Travail n`est pas
une Fatalité. Paris: Bayard Éditions, 2015; BRASIL, Silvio Silva, “Construímos Tanto pra Sociedade e Moramos em Invasão”: Saúde, Trabalho, Acidentes na
Construção Civil e seus Determinantes Sociais. Tese de Doutorado. Programa
de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas. Belém: Universidade Federal do Pará, 2015; BRASIL. Ministério da
Previdência Social, Fator Acidentário de Prevenção, 2015; ARAÚJO, Ícaro Queiroz, Sistema Detector de Vazamentos em
Instalações Prediais de Água Fria. Dissertação de Mestrado. Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Elétrica. Natal: Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, 2015; MOREIRA, Délcia Janine Siqueira, Análise de Riscos no
Planejamento de Projetos de Edificações com Enfoque Multicritério. Dissertação
de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil. Centro de
Tecnologia. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2016; entre outros.
__________________
* Sociólogo (UFF),
Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e
Artes. São Paulo: Universidade de São
Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências
Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará
(UECE).
“A preocupação com a administração da vida parece distanciar o ser humano”. Zygmunt Bauman
A
popularidade de Zygmunt Bauman entrou em franca ascendência quando o autor
passou a analisar a pós-modernidade sob o prisma da liquidez (2004). Como uma
época em que nada é feito realmente para durar, em que a fixidez das relações sociais
obtém um valor descartável no processo de social de comunicação, em que toda comunicação é um processo de trabalho, mas nem todo processo de trabalho é um processo de comunicação, elaborando o
conceito de modernidade líquida que se afasta da pós-modernidade,
na medida em que a modernidade representa um continuun. Ela teria se transformado numa versão consumista,
individualista e despolitizada. O conceito de sociedade é comumente usado para expressar o processo de estratificação de cidadãos de um país, governados por instituições nacionais que aspiram ao bem-estar dessa coletividade. Todavia, a sociedade não é um mero conjunto de indivíduos vivendo juntos em um determinado lugar, é também a existência de uma organização social, de instituições e leis que regem a vida dos indivíduos e suas relações mútuas. Há também alguns pensadores cujo debate insiste em reforçar a oposição entre indivíduo e sociedade, reduzindo, com frequência, ao conflito entre o genético e o social ou cultural. Durkheim, Marx e Weber conceituaram a definição de sociedade. Cada um definiu a constituição da sociedade a partir do nível de análise político, social ou econômico do indivíduo. As relações sociais entre os indivíduos e sociedade
tendem a ser menos frequentes e menos duradouras.
Uma de suas
citações as “relações escorrem pelo vão dos dedos”, analogamente poderia
ser traduzida como na música “Tempos Modernos”, de Lulu Santos: “Hoje o tempo
voa, amor/Escorre pelas mãos/Mesmo sem se sentir/Não há tempo que volte amor/Vamos
viver tudo o que há pra viver/Vamos nos permitir”. Desde
tempos imemoriais não há nada que o homem tenha temor do que o contato social, como
categoria antropológica, com o desconhecido, pois evita o contato social com o
que lhe é estranho. À noite ou no escuro, o pavor ante o contato inesperado
pode intensificar-se até o pânico. O suposto medo do ladrão não se deve
unicamente a seu propósito de roubar, mas representa também o temor ante seu
toque súbito, inesperado, saído da escuridão. A mão transformada em garra é o
símbolo que sempre se emprega para representar esse medo. Trata-se aí de uma
questão que, em boa parte, manifesta-se no duplo sentido da palavra “agarrar” (Angreifen).
Nesta encontram-se contidos ao mesmo tempo tanto o “contato inofensivo” quanto
“o ataque perigoso”, e algo deste último sempre ecoam primeiro. O substantivo
“agressão” (Angriff), por sua vez, viu-se reduzido exclusivamente ao
sentido negativo da palavra: à maneira como nos movemos em meio aos muitos
transeuntes, nos restaurantes e transportes de massa por esse medo em torno de
si, e que foram transmitidas por esse temor do contato social.
Curiosamente
somente “na massa” é possível ao homem libertar-se do temor do contato. Tem aí
a única situação na qual esse temor transforma-se no seu oposto. E é da massa
densa que se precisa para tanto, aquela na qual um corpo comprime-se contra o
outro, densa inclusive em sua constituição psíquica, de modo que não atentamos
para quem é que nos comprime, como o poeta Bertolt Brecht, precisou bem na
memória. Tão logo nos entregamos à massa não tememos o seu contato. Na massa
ideal, todos são iguais. Nenhuma diversidade contra, nem mesmo a orgia dos
sexos. Quem quer que nos comprima é igual a nós mesmos. Subitamente, tudo se
passa então como que no interior formasse um único corpo. Talvez essa seja uma
das razões pelas quais a massa busca concentrar-se de maneira tão densa: ela
deseja libertar-se tão completamente quanto possível do temor individual e
coletivo do contato físico. Quanto mais energicamente os homens se apertam uns
contra os outros, tanto mais seguros eles se sentirão de não se temerem
mutuamente. Essa inversão do temor do contato, segundo Elias Canetti, “é
característica da massa”. O alívio que nela se propaga abruptamente alcança uma
proporção notavelmente alta quando a massa se apresenta em sua densidade
máxima.
O
que muda comparativamente a esses traços gerais de comportamento refere-se à
hierarquia e o poder que criaram para si as posições fixas e tradicionais. A
partir da maneira como as pessoas se apresentam dispostas uma ao lado da outra,
pode-se facilmente deduzir a diferença de prestígio entre elas. Sabemos o que
significa quando uma pessoa se encontra sentada num plano mais elevado, tendo
todas as demais em pé a circundá-la. Ou quando está em pé, e as demais sentadas
ao seu redor; quando alguém aparece de súbito, e as pessoas reunidas levantam-se;
quando alguém se ajoelha diante de outra pessoa; quando não se convida aquele
que acabou de entrar a sentar-se. Já uma enumeração indiscriminada de exemplos
como esses demonstram a quantidade de configurações mudas que o poder tem como
significado e apresenta. Seria necessário investiga-las, definindo com maior
exatidão o seu significado social e político. Durante um culto religioso numa igreja, os fiéis ajoelham-se muitas vezes; estão acostumados, e mesmo com prazer não atribuem significado a esse gesto frequente.
O orgulho daquele que se encontra
em pé reside no fato dele estar livre e não se apoiar em coisa alguma.
Seja porque interfira aí a lembrança psicológica da primeira vez em que ele,
quando criança, pôs-se de pé sozinho, sentindo-se independente. Aquele que se
levantou, pôs-se de pé em consequência de certo esforço e, assim procedendo,
faz-se tão alto quando pode ser. Mas aquele que se encontra de pé há muito
tempo expressa certa capacidade de resistência, porque pode ser visto por
inteiro, sem ter medo ou ocultar-se. Quanto mais tranquilo se revelar esse seu
estar em pé, quanto menos ele se voltar para espiar em todas as direções, tão
mais seguro ele parecerá. Não temerá sequer um ataque pelas costas, invisível a
seus olhos. O estar em pé causa a impressão de uma energia ainda não consumida,
pois é algo que se encontra no princípio de todo movimento: usualmente, fica-se
em pé antes de se andar ou correr. Trata-se da posição central, a partir da
qual, sem que haja transição alguma, pode-se passar seja para outra posição,
seja para uma forma qualquer de movimento. As pessoas tendem a supor naquele
que está em pé a presença de uma tensão maior. Mesmo nos momentos nos quais sua
intenção é inteiramente diversa; no momento seguinte, talvez se deite para
dormir. O um fato disciplinar é que na história da vida cotidiana, seja ela social ou tipicamente política é que se superestima aquele indivíduo que se encontra em
pé.
Devido
ao conceito de relações líquidas de Bauman em livros como “Amor
Líquido”, onde as relações amorosas deixam de ter aspecto de união e passam a
ser acúmulode
experiências, ou em “Medo Líquido”, onde erroneamente a insegurança é parte estrutural da
constituição do sujeito pós-moderno, o autor é descrito como “pessimista”,
mas seu propósito é seguir a contracorrente. Se há cientistas, poetas e
artistas exaltando as virtudes do capitalismo, por que não expor exatamente o
contrário, sua face desumana, legado pré-marxista que tem sido amplificado por Bauman
em mais de trinta obras publicadas, tornando-se um ícone para
jovens, dentre as quais a leitura de “Amor Líquido”, “Globalização: as
Consequências Humanas” e “Vidas Desperdiçadas”. Contudo, com o advento da globalização, entevisto por Marx, tornou-se reconhecido por suas análises do
consumismo pós-moderno e das ligações entre modernidade, desperdício e holocausto.
A
obra Vidas Desperdiçadas (Wasted Lives - Modernity and its Outcasts, 2004)
deBauman pode ser discutida com uma
sensibilidade tipicamente da sociologia contemporânea das emoções. Para onde
mandar os indivíduos que não possuem mais nenhuma utilidade e que, por sua vez,
não podem mais ser incorporados a nenhum sistema produtivo? É essa a pergunta
que orienta a discussão sociológica do polonês em sua obra. Simplificadamente
podemos afirmar que emoção é uma experiência subjetiva, associada ao
temperamento masculino e feminino, sua personalidade, sexualidade e motivação.
Existe uma distinção entre a emoção e os resultados da emoção, principalmente
os comportamentos gerados e as expressões emocionais. As emoções complexas
constroem-se sobre condições culturais ou associações combinadas com as emoções
básicas. Outro importante significado sobre classificação das emoções refere-se
a sua ocorrência no tempo. Algumas emoções ocorrem sobre o período de segundos:
a surpresa; outros demoram anos, como o amor. A palavra emoção provém do Latim emotione, “movimento, comoção, ato de mover”.
As
ciências sociais frequentemente examinam a emoção pelo papel que desempenha na
cultura humana e nas interações sociais. Na sociologia contemporânea, as emoções são
examinadas de acordo com o papel que desempenham na sociedade humana, os
padrões e interações sociais e a cultura. Em antropologia, os estudiosos
utilizam a etnografia para realizar análises contextuais e comparações
culturais de uma gama de atividades humanas; alguns estudos de antropologia
examinam o papel das emoções nas atividades humanas. No campo das chamadas ciências da
comunicação, e particularmente os processos sociais comunicativos contemporâneos,
especialistas em críticas organizacionais têm examinado o papel das emoções nas
organizações, a partir das perspectivas de gestores, trabalhadores e mesmo
clientes. Algumas das mais brilhantes e influentes teorias sociais da emoção do século 20
foram desenvolvidas precisamente em sua última década.
Há
três aspectos analisados em Vidas Desperdiçadas que sistematizam a exclusão social:
1) por meio da construção da ordem, 2) por meio do progresso econômico, e, 3)
por meio da globalização. No primeiro caso, a modernidade representou a era dos
projetos. Um momento da história em que o ocidente se viu diante do mundo com a
pretensão de modificá-lo e construí-lo segundo traços previamente concebidos.
Os projetos nazistas, capitalistas e comunistas tinham, como o pós-capitalista
ainda tem, o objetivo de construir um mundo novo sob a égide de alguns
referenciais considerados universais, como a utilização da força e a dominação,
no caso do nazismo; o livre mercado, no caso do capitalismo; e a supressão das classes,
no caso do comunismo. Não é novidade em geral nas formulações discursivas das
humanidades que “a mente moderna nasceu juntamente com a ideia de que o mundo
pode ser transformado”. Ipso facto o
progresso econômico que se espalha pelos mais remotos recantos do nosso planeta
“abarrotado”, vem esmagando em seu caminho as formas de vida
remanescentes que se apresentem como alternativas à sociedade de consumo.
Essa
é a expressão da vida contemporânea, carregada de uma ideologia pós-moderna
consumista que prega a individualização nas referências do individuo e,
consequentemente, a negação do sentido humano de uma ética da solidariedade.
Neste caminho segue a produção de “refugo humano” e de lixo em maiores
quantidades, haja vista que a sociedade de consumidores se sobrepôs à sociedade
de produtores. Tese: Quem não consume torna-se “refugo humano” e o que é
consumido transforma-se em lixo, dejeto ou sujeira. A globalização da sociedade
mudou a trajetória de vida desta geração, acabou com sonhos e projetos, criou
dicotomias, rompeu com tradições e acelerou suas vidas. Para Zygmunt Bauman, a
globalizante “modernidade líquida” deixou pra trás a sociedade de produtores
por uma sociedade de consumidores onde o que impera é a produção de refugos e
de lixo. Ela fez com que os projetos humanos causassem a desordem e o caos no
“admirável mundo líquido”. Trata-se de uma reflexão apurada do caminho trágico
a ser trilhado por indivíduos em diversas partes do mundo, caminho esse que nos
conduz a uma “exclusão forçada” e que é, ao mesmo tempo, inerente ao convívio
social. Astúcia reflexiva e sensibilidade aguçada fazem do pensamento crítico do
polonês um dos que se preocupam com o destino da humanidade.
A
equação: Lixo na cidade + autodeterminação= “heteronomia”, é um ideia de
aproximação conceitual para denominar sociologicamente a sujeição do individuo
à vontade de terceiros (Estado) ou de uma coletividade ou grupamento social.
Opõe-se, por assim dizer, no âmbito da vida cotidiana das cidades
metropolitanas ao conceito de autonomia, onde o ente possui arbítrio e pode
expressar sua vontade livremente, opondo-se também a noção de “anomia” que
representa a ausência de regras. A “heteronomia” é a característica da norma
jurídica que estabelece que esta se imponha à vontade sobre as vontades. Sendo exterior está diante do cinismo e da violência do Estado
onde a consciência moral, em determinadas condições sociais e políticas evolui
da heteronímia para a autonomia.
O
lado trágico nietzschiano dessa história higienista, apenas para elucidarmos uma problemática da razão: o lixo não é apenas
um indicador estatístico curioso de desenvolvimento cultural de um bairro, classe
ou nação. O bairro se define como uma organização coletiva de trajetórias
individuais: com ele ficam postos à disposição dos seus usuários “lugares” na
proximidade dos quais estes se encontram necessariamente para atender as suas
necessidades cotidianas. Mas o contato interpessoal que se efetua nesses
encontros é, também ele aleatório, não calculado previamente; define-se pelo
acaso dos deslocamentos exigidos pelas necessidades da vida cotidiana: no
elevador, na mercearia, no supermercado, na praia etc. Passando pelo bairro é
impossível não encontrar algum “conhecido”, mas permite dizer de antemão que e
onde na escadaria, na calçada. Quanto mais pujante for a ignorância, mais sujeira irá produzir na condução de sua própria vida.
O problema está
ganhando uma dimensão perigosa por causa da mudança tecnológica e descartável no perfil do lixo. Um dos
maiores problemas é que em grande parte das sociedades homens e
mulheres pensam que basta jogar o lixo na lata e o problema da sujeira vai
estar resolvido. Nada disso. O problema social só começa aí! O lixo é caro,
gasta energia, leva tempo para decompor e, claro, demanda muito espaço. O lixo
é um problema mundial, só no Brasil são produzidas 90 milhões de toneladas de
lixo por ano, e cada pessoa abastada produz, em média, 300 kg de lixo
anualmente. Tal referência estatística é necessária, tendo em vista o crescente número
de denúncias, matérias, protestos e dos tipos de repúdio emanados da sociedade
civil, que tomaram conta das mídias sociais, além da imprensa dominante
organizada. Essa conscientização, materializada pela conduta proativa do tema
ao conhecimento geral, mas também, de forma determinante, das autoridades
competentes, tem levado a questão a ser cada vez mais apreciada pelo
judiciário. A palavra pobre veio do latim pauper, que vem de pau- = pequeno e pário = “dou à luz” e originalmente referia-se a terrenos agrícolas ou gado que não produziam o desejado. A pobreza mais severa se encontra nos países ditos “subdesenvolvidos”, mas esta existe em todas as regiões. Nos países imperialistas, “manifesta-se na existência de sem-abrigo e de subúrbios pobres”. A pobreza pode ser vista como uma coletividade de pessoas pobres, grupos e mesmo de nações. Para evitar este estigma, essas nações são chamadas ideologicamente “países em desenvolvimento”. A pobreza pode ser absoluta ou relativa. A pobreza absoluta refere-se a um nível que é consistente ao longo do tempo e entre países. Um exemplo de um indicador de pobreza absoluta é a percentagem de pessoas com uma ingestão diária de calorias inferior ao mínimo estatístico necessário, ou seja, aproximadamente 2 000/2 500 quilocalorias. O Banco Mundial define a pobreza extrema como viver com menos de 1 dólar por dia, economicamente em paridade do poder de compra e pobreza moderada como viver com entre 1 e 2 dólares dos norte-americanos por dia. Estima-se que 1 bilhão e 100 milhões de pessoas a nível mundial tenham níveis de consumo inferiores a 1 dólar norte-americano por dia e que 2 bilhões e 700 milhões tenham um nível inferior a 2 dólares. Quase todas as cidades enfrentam diversos
tipos de problemas, dentre os quais a expectativa quanto maior a cidade mais as
adversidades são acentuadas, embora persista a ideia de Jacques Le Goff, como estudioso
da cidade como lugar de troca de diálogo, como lugar de segurança, como lugar de
poder e de aspiração à beleza. Diante desta afirmativa, um dos problemas que
mais se destaca nas cidades não deveria ser a questão do lixo residual,
principalmente o sólido. Diariamente as cidades emitem uma enorme quantidade de
lixo e grande parte desses detritos não são processados, ou seja, o excedente
vai sendo armazenado em proporções alarmantes. O problema cresce
gradativamente, e quantitativamente devido o elevado número de pessoas que se
tornam cada vez mais distante da consciência ecológica no mundo e o grande
estímulo ao consumo na perspectiva presente nas sociedades que avançam para o
sujeito pós-moderno. Ou como diz a escritora e tradutora Lya Luft, “deve ser o
nosso jeito de sobreviver – não comendo lixo concreto, mas engolindo esse lixo
moral e fingindo que está tudo bem”. Fortaleza é uma cidade suja. Não sabe
tratar o seu lixo moral.
Bibliografia geral consultada.
CANETTI, Elias, Massa e Poder. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1995; LE GOFF, Jacques, Pour l`Amour des Villes:
Entretiens avec Jean Lebrun. Paris: Éditions Textuel, 1997; RORTY,
Richard, Contingência, Ironia e Solidariedade. Lisboa: Editorial
Presença, 1994; SANTOS, Boaventura de Souza, A Crítica da Razão Indolente:
Contra o Desperdício da Experiência. São Paulo: Cortez Editores, 2000;
PALLARES-BURKE, Maria Lúcia Garcia, “Entrevista com Zygmunt Bauman”. In: Tempo
Soc. Vol.16 no.1 São Paulo June 2004; ELIAS, Norbert, Escritos & Ensaios: 1 : Estado, Processo, Opinião Pública. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006; BAUMAN, Zygmunt, Amor Líquido: Sobre
a Fragilidade dos Laços Humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004;
Idem, Vidas Desperdiçadas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005; Idem, Sobre
Educação e Juventude: Conversas com Ricardo Mazzeo. Tradução Carlos Alberto
Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar Editor,
2013; Entrevista com Carlos Lopes: “O Brasil não é um líder ambiental”. In: Revista
Época. Edição735, 18 de junho de 2012; ABREU, Cleto Junior Pinto de, A
Sociologia da Modernidade Líquida de Zygmunt Bauman: Ciência Pós-Moderna e
Divulgação Científica. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo, 2012; REIS,
Andréa; NOVAES, Liza; FARBIARZ, Jackeline, “O Design na Modernidade Líquida e
suas Interações com a Educação na Criação de Jogos e Atividades Lúdicas”. In: Estudos
em Design, vol. 24, nº 2 (2016); VIEIRA, Patrícia Elias, O Consumidor no
Ciberespaço Transnacional: O Devir da “Sociedade Líquido-Moderna” e do Estado
Contemporâneo na Construção da Ciberdemocracia. Tese de Doutorado. Programa
de Pós-Graduação em Ciência Jurídica. Itajaí: Universidade do Vale do Itajaí,
2016; entre outros.
______________
* Sociólogo (UFF), Cientista Político
(UFRJ), doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).
“Eu avalio a indústria cinematográfica. E pensar que poderia ter sido uma arte”. Fritz Lang
O expressionismo representou um movimento
cultural de vanguarda que surgiu na Alemanha no início do século XX, onde as
pessoas começaram a produzir obras de arte que refletissem ou expressassem
diretamente o mundo interior do artista. Esse movimento atingiu quase todos os
campos das artes, desde a arquitetura, artes plásticas, literatura, música,
cinema, teatro, etc. No cinema, o expressionismo alemão teve como destaque
diversos cineastas como Robert Wiene, Paul Leni e Friedrich Wilhelm Murnau,
entre outros, bem como de Fritz Lang, que é um dos cineastas mais lembrados
desse período. Ele nasceu como Friedrich Anton Christian Lang, na cidade de
Viena, na Áustria, no dia 5 de dezembro de 1890, e fez trabalhos na Alemanha,
França e Estados Unidos da América (EUA), sendo ocasionalmente um ator e produtor cinematográfico. Morto tragicamente aos 42 anos, num acidente de carro em 1931, Friedrich Murnau não teve a carreira prolífica de um Fritz Lang. Foram apenas 20 longas, dos quais muitos, do início da carreira, foram perdidos. A retrospectiva no Humberto Mauro exibe, além de um documentário sobre a juventude do alemão até a realização de Nosferatu, os 12 títulos preservados, incluindo seu último trabalho, Tabu.
Desnecessário
dizer que as preleções em torno da obra de Friedrich Nietzsche, que se
encontram traduzidas tardiamente, mas pela primeira vez em língua portuguesa,
foram realizadas por Heidegger na Universidade de Freiburg, durante os anos
“duros como diamantes” entre 1936 e 1940. Decorre daí a possibilidade feliz de
um encontro saudável e decisivo entre dois pensadores no epicentro para todos
os desdobramentos ulteriores da filosofia contemporânea. O que temos na
essencialidade, com isso, é uma abertura ímpar na história da filosofia (e da
ciência) de acompanhar um real diálogo entre pensadores decisivos,
fundamentais. Ipso facto, seria quase impossível compreender a filosofia
deste século XX sem a influência corrosiva e libertadora da postura
antidogmática de Nietzsche, como imaginar os avanços e influências desta
filosofia, em Jean-Paul Sartre ou Kostas Axelos, por exemplo, sem a luta
heideggeriana contra as sedimentações da linguagem e seu empenho pela
constituição histórica de novos projetos em torno da mundanidade? E Heidegger,
nos ofereceindicação, que veremos
adiante quando afirma– “Nietzsche- o
nome do pensador encontra-se como título para a coisa de seu pensamento. A
coisa, o caso litigioso, é em si mesma uma confrontação. Deixar o nosso pensamento
se inserir na coisa mesma, prepara-lo para ela – isso forja o conteúdo da
presente publicação”.
Não
por acaso, lembramos que Heidegger descreve nesta passagem o cunho propriamente
dito de suas preleções nietzschianas. Isto é, por meio de uma palavra que ele
utiliza com alguma frequência e que demonstra sua centralidade no contexto das
questões formuladas nesse ínterim: a palavra é Auseinandersetzung: confronto,
conflito, polêmica, debate, disputa, que está sendo traduzida pela expressão
“confrontação”. Em certo sentido, a riqueza do original alemão, traduzido ao
pé-da-letra significa “pôr-se à parte um do outro”, indicando claramente o
surgimento de um afastamento necessário entre ambos, mas evidenciando per se
uma tomada de posição indispensável para a plena consideração crítica daquilo
que se demonstra e para a formação do processo de interpretação. É sempre
preciso se afastar de algo para poder vê-lo em sua identidade. Todavia, o
afastamento mantém incessante a tensão específica, que é expressa pelo elemento
inerente à confrontação, à dissenção, à discussão e à batalha das ideias. Não
se trata, pois, de maneira nenhuma da tolice sociológica da “neutralidade
científica” e da conquista de um ponto de vista neutro, que permitiria uma
visão pura e objetiva de algo dado – isso não existe em ciência e filosofia,
mas muito mais de um distanciamento que instaura ao mesmo tempo a questão
tópica da proximidade.
Sociologicamente o que está
em questão é a ideia de manutenção da proximidade instaurada pelo próprio
afastamento; também a conquista mútua de um próprio, em meio ao surgimento da
tensa relação. Porquanto os dois se apartam um do outro, cada um aparece para o
outro como si mesmo. Em meio a confrontação ocorre a determinação afetiva. O impessoal precisa ser apreendido em articulação
com a compreensão da técnica que se apresenta como instâncias determinantes do
modo de abertura do ente na totalidade que vigora em nosso tempo. Com isso,
compreensão projeta o campo existencial do poder-ser que cada ser-aí
é, mas sempre levando em conta a relação filosófica com o mundo fático que se
apresenta de forma tenra constitutiva das possibilidades efetivas de ser. Na
Alemanha a carreira do jovem acadêmico que porventura se dedica à ciência
começa normalmente com o posto propedêutico de Privatdozent. Após o
contato progressivo com os especialistas e deles recebido o assentimento, ele
começa a lecionar como residente, à base de um livro que tenha escrito sob a
forma de tese e, habitualmente, depois de um exame formal e criterioso perante
o corpo docente da universidade.
Em
seguida, profere um curso de preleções sem receber qualquer salário além de
taxas pagas pelos alunos que se inscreverem. Cabe-lhe determinar, dentro de sua
venia legendi, os tópicos sobre os quais falará. Entre norte-americanos,
observava Max Weber, em 1919 que a carreira acadêmica começa quase sempre de
forma totalmente diferente, ou seja, pelo cargo de Assistente. Assemelha-se
esse processo ao que ocorre nas grandes instituições de Ciências Naturais e
Faculdades de Medicina na Alemanha, onde habitualmente apenas uma pequena
fração dos Assistentes - por mérito - procura habilitar-se como Privatdozent, e
assim mesmo quase sempre no fim de sua carreira. Esse contraste significa que a
carreira na Alemanha se baseia, em geral, em exigências plutocráticas, pois é
extremamente arriscado para um jovem professor sem recursos econômicos expor-se
às condições da carreira acadêmica. Ele terá de suportar tal situação pelo
menos alguns anos, sem saber se terá oportunidade de elevar-se a uma posição
que encerre uma remuneração suficiente para a sua manutenção. Ele não tem
propriamente direitos, mas ali se estabelece sua consciência tácita de que,
depois de anos de trabalho, tem uma espécie de direito moral a alguma
consideração. O trabalhador-assistente, depende dos implementos que o Estado
coloca à sua disposição; portanto, é tão dependente do chefe do Instituto
quanto o empregado, comparativamente de uma fábrica depende da direção.
Martin Heidegger é incisivo:
questionaremos a técnica. Isto quer dizer: trabalhar na construção de um
caminho. Por isso a tendência é conselheira: considerar sobretudo o caminho e
não ficar preso às várias sentenças e aos diversos títulos. O caminho é um
caminho do pensamento. Todo caminho de pensamento passa, de maneira mais ou
menos perceptível e de modo extraordinário, pela linguagem. Questionando a
técnica pretende-se com isto preparar um relacionamento livre com a técnica.
Livre é o relacionamento capaz de abrir nossa Pre-sença à essência da técnica.
Da resposta à essência é possível fazer a experiência dos limites de tudo que é
técnico. Mas adverte: a técnica não é igual à essência da técnica. Assim também
a essência da técnica não é, de forma alguma, nada de técnico. A maneira mais
teimosa, porém, de nos entregarmos à técnica, de acordo com uma lição antiga, é
entendermos que a essência de alguma coisa é aquilo que ela é, como aquilo que
é afirmativo na dialética hegeliana. Questionar a técnica significa perguntar o
que ela é. Pertence à técnica a produção e o uso de ferramentas, aparelhos e
máquinas, como a ela pertencem estes produtos e utensílios em si mesmos e as
necessidades a que eles servem. O conjunto de tudo isso é a técnica. A própria
técnica é também um instrumento. Enfim, a concepção corrente da técnica de ser
ela um meio de trabalho e uma atividade humana pode se chamar, portanto, a
determinação instrumental e antropológica da técnica.
Fritz Lang é considerado dentre os
mais famosos cineastas contemporâneos vinculado ao expressionismo alemão, cujo
auge se deu na década de 1920. É caracterizado pela distorção de cenários e
personagens, através da maquiagem, dos recursos de fotografia e de outros
mecanismos, com o objetivo de expressar a maneira como os realizadores viam o mundo.
Em 1919 estreou na direção com o filme intitulado Halbblut, obtendo o
primeiro sucesso com Os Espiões (“Spies/Spione”), do mesmo ano de sua
estreia. Baseado no romance de Thea von Harbou, sua parceira e esposa que
também assina o roteiro, a história gira em torno do desaparecimento de certos
documentos e a iminente assinatura de um tratado internacional. Alemães, russos,
franceses e japoneses do ponto de vista da análise comparada têm interesses na correlação de forças sociais e
políticas. A montagem inicial é ágil e já nos deixa a par dos fatos políticos e
uma antecipação da ação em seu devir. É um filme que não envelhece.
Chega com fôlego na história do cinema e da modernidade aos oitenta anos de sua démarche. Seu ritmo extraordinário e o uso da técnica garantem a adrenalina.
Fritz Lang era o segundo filho do
arquiteto e gerente de uma empresa de construção civil Anton Lang e de Pauline
Lang, católicos romanos praticantes, apesar de sua mãe ter nascido judia ish e
depois se convertido ao catolicismo quando Fritz tinha 10 anos de idade. Lang
nunca demonstrou interesse pela herança judaica e identificou-se mais com o
catolicismo, não sendo um devoto praticante, apesar de ter utilizado regularmente
imagens católicas e temas em seus filmes. Fritz começou estudando engenharia
civil na Universidade Técnica de Viena, fundada em 1815 como Instituto Politécnico Real e Imperial. O escopo da universidade é o ensino e a pesquisa em engenharia e ciências naturais.mas depois acabou migrando para a arte. Por volta de 1910 resolveu sair de Viena e viajou para conhecer a Europa e também a África, depois foi para a Ásia quando conheceu parte do Pacífico, e em
1913 resolveu ir para a Paris, onde passou a estudar pintura. A efervescência cultural, política e social da Berlim do pós-guerra, se reflete nas suas primeiras obras. Em 1919 estreou na direção cinematrográfica com um filme chamado Halbblut que se encontra perdido, acerca do qual se sabe muito pouco. Alcançou o primeiro sucesso com o filme Os Espiões, do mesmo ano de sua estreia.
Dirige na sequência Die Nibelungen
(1924) – um filme sobre o “fantástico mitológico”, ou, a distopia futurista
“Metropolis” (1927) tendo os trabalhadores, que vivemdebaixo
de terra e põem as máquinas para funcionar, e a classe dirigente, para
lembramos de Antônio Gramsci (1975) que vive à superfície – talvez o expoente
máximo do cinema dos anos 1920. Nasceu em Viena, na Áustria, filho de um
engenheiro civil. Aos 21 anos mudou-se para Munique (1911), onde estudara
pintura e escultura diante da efervescência cultural, política e social da
Berlim do pós-guerra. Em 1921
casou-se com a roteirista Thea Von Harbou, que escreveu os argumentos de quase
todos os filmes desta primeira fase da carreira. Era uma família da base da nobreza, com oficiais no governo, o que lhe deu uma vida com conforto enquanto crescia. Quando criança, foi educada em um convento, com tutores particulares, onde aprendeu a falar diversos idiomas, a tocar piano e violino, sendo considerada uma criança prodígio. Seus primeiros trabalhos foram contos publicados em uma revista e um livro de poemas publicado por conta, focado em suas percepções a respeito da arte, algo incomum para uma criança de 13 anos. Apesar de levar uma vida privilegiada, Thea queria ganhar seu próprio dinheiro, tornando-se atriz, apesar dos protestos conservadores de sua pródiga família.
Após sua estreia em 1906, Thea conheceu Rudolf Klein-Rogge, com quem se casou durante a guerra mundial. Em 1917, o casal se mudou para Berlim, onde Thea se dedicou a construir uma carreira de escritora. Começou a escrever sobre mitos épicos e lenda, em geral com um tom ultranacionalista. Segundo historiadores, seus livros começaram a se tornar patrióticos e com a intenção de levantar a moral do povo alemão, pedindo que as mulheres se dedicassem e se sacrificassem a promover a "glória eterna da pátria". Sua primeira interação com o cinema ocorreu através do diretor alemão Joe May, que decidiu adaptar um dos livros de Thea, Die heilige Simplizia. Sua produção de ficção começou a cair, conforme ela se tornavam uma das maiores roteiristas alemãs, não apenas por sua parceria com Fritz Lang, mas por seus roteiros escritos para F. W. Murnau, Carl Dreyer e E. A. Dupont, considerados os luminares alemães. Seu irmão, Horst von Harbou, foi trabalhar para a UFA como fotógrafo e começou a trabalhar com Thea e Fritz em várias de suas produções. Em verdade são películas do extraordinário “cinema mudo”, que entrariam para a história dentre os maiores expoentes do expressionismo. O cineasta deixou a marca estética na história social do cinema. Influenciou diretores tão distintos em termos de formação e influência mundial como Alfred Hitchcock, Luís Buñuel e Orson Welles.
Neste aspecto social vale lembrar as
poderosas personagens femininas do cinema de Fritz Lang. Aparecem desde os
filmes silenciosos e a heroína de A Morte Cansada (Der Müde Tod) é
provavelmente a primeira da numerosa linhagem, que se firma a partir da
“amizade desejante” com a roteirista Thea von Harbou, esposa do diretor, mas que ainda se desdobra e se enriquece nas décadas seguintes, depois da separação do casal. Com seus três episódios de aventura, A Morte Cansada compartilha com os seriados dos anos 10 a presença de mulheres que tomam a iniciativa da ação, protagonizando peripécias e lances sensacionais, no estilo Pearl White em Os perigos de Pauline e também Musidora em Les Vampyres, essa última até inspiração direta no figurino adotado pela aristocrata do episódio italiano, apropriadamente vestida de malha preta e colante para um duelo de esgrima. O gosto de Lang pelas narrativas de aventura já vinha se aprimorando desde os roteiros escritos para Joe May nos anos 1910 e nas duas partes de As Aranhas (1919-20), um de seus primeiros trabalhos de direção, previsto inicialmente como um seriado em quatro episódios. Dois anos depois de estrear como diretor, Lang realiza A Morte Cansada, em que, sem descuidar do cinema de gênero, radicaliza o mais grave, transcendente e inescapável, encontro entre vida e morte.
Não que os filmes de Fritz
Lang, em si, sejam alegres ou festivos. Muito pelo contrário. O que unifica
essa angústia ao drama moral representa uma visão sombria do mundo, fundada
maquiavelicamente na convicção de que “o mal está em toda parte” (cf. Caristia,
1951; Raboni, 1994). Ou, nas palavras do crítico norte-americano Andrew Sarris,
“uma visão soturna do universo em que o ser humano luta em filmografia tão
variada, que vai da saga mitológica à ficção científica, do policial ao
faroeste, da aventura exótica com seu destino pessoal e, inevitavelmente,
perde”. Desde seu incontestável, “A morte cansada” (1921), uma parábola sobre a
vida, o amor e a morte – o filme que fez Luís Buñuel decidir fazer cinema – , a
noção de destino, seja em Maquiavel (cf. Abrahão, 2009), ou, na leitura de Max
Weber da ética protestante, como força inexorável contra a qual o homem se debate em vão é a
engrenagem de Lang. Intimamente articulado à noção de destino: a)
emerge o sentimento de vingança; b) move personagens para reparar danos e
injustiças sociais; c) como representação do destino encarnando vilões, grupos,
instituições.
Metropolis foi o filme mais caro de seu tempo, e um marco do expressionismo alemão. Do ponto de vista técnico-metodológico
durou quase um ano e meio para ser realizado, envolvendo cerca de 37 mil
extras. Escrito por sua companheira Thea von Harbou, antevia a voga do futuro
distópico que influenciou geações de escritores e cineastas, sobretudo hoje, e
gerou primícias de filmes, jogos e livros como 1984, Blase Runner, Robocop,
Final Fantasy 7, Bioshock, Bastardos Inglórios, o movimento Steampunk, o cinema
Noir, entre tantos outros. O filme estreou em grande estilo, em 1927, em Berlim. Também dirigiu o filme “Harakiri”,
produzido por Erich Pommer, com roteiro de Mas Jugk, a partir de uma peça
teatral de David Belasco e John Luther Long, que se baseava na ópera Madame
Butterfly. Comparativamente esse foi um dos primeiros filmes ocidentais com
temas alusivos a cultura japonesa. Lang fez uma adaptação da ópera Madame
Butterfly, deixando a maior parte do enredo intacto, fazendo algumas
poucas alterações nos nomes dos personagens principais.
Estreou no Teatro alla Scala
de Milão a 17 de fevereiro de 1904, uma das mais famosas casas de ópera do mundo. O Teatro alla Scala foi construído por determinação da imperatriz Maria Teresa da Áustria, para substituir o Teatro Regio Ducale, destruído por um incêndio em 1776, devendo seu nome à igreja de Santa Maria alla Scala que antes se erguia no local. É sobre um tenente da marinha que se
apaixona por uma gueixa. Madame Butterfly estreou-se no Teatro Nacional de São
Carlos, ópera de Lisboa a 10 de Março de 1908. A trama da ópera recebeu, mais
tarde, uma citação na peça teatral, depois adaptada para o cinema, M.
Butterfly, de David Henry Hwang (1988), inspirada no relacionamento entre um
diplomata francês, Bernard Boursicot, e um cantor da ópera de Pequim, Shi Pei Pu.
O nome Butterfly faz a ligação entre as duas histórias. Os personagens de Lang foram
interpretados por atores europeus, e o melhor, sem criar estereótipos, tendo muito
cuidado nos detalhes e figurinos. O elenco contou com Lil Dagove, Paul
Biensfeldt, Georg John, Meinhart Maur e Rudolf Lettinger, e estreou em 18 de
dezembro de 1919, com exemplares 80 minutos de duração.
Uma Mulher na Lua (1929). Foi porque Nicolau Maquiavel percebeu que
qualquer conselho positivo para lidar com problemas políticos era suscetível de
ser contrariado por uma alusão pessimista à fortuna, que ele resolveu dedicar a
esse tema o penúltimo capítulo de Il Principe, livro escrito por Nicolau
Maquiavel em 10 de dezembro de 1513, cuja 1ª edição foi publicada postumamente,
em 1532. Ele próprio aceitou que a “Fortuna” era o árbitro de metade das ações
dos homens, mas sublinhou que isso não deveria levar ao derrotismo. Em duas
memoráveis imagens, comparou a fortuna a um rio cujas águas caudalosas podem
ser inofensivamente desviadas por diques e canais de drenagem precavidos, e a
uma mulher que, sendo mulher, pode ser domada pelo ardor e a violência: “sou de
parecer de que é melhor ser ousado do que prudente, pois a fortuna
(oportunidade) é mulher e, para conservá-la submissa, é necessário (…)
contrariá-la. Vê-se, que prefere, não raramente, deixar-se vender pelos ousados
do que pelos que agem friamente. Por isso é sempre amiga dos jovens, visto
terem eles menos respeito e mais ferocidade e subjugarem-na com mais audácia”
(cf. Maquiavel, 2006).
Maquiavel viveu em um período de
total falta de estabilidade política. A Itália, tal como a concebemos política
e geograficamente nos dias de hoje, não existia, encontrando-se fragmentada em
principados e repúblicas onde cada um possuía sua própria milícia, o que gerava
constantes disputas internas e a hostilidades. Nessa época, Maquiavel ocupava burocraticamente
a segunda chancelaria do governo, cargo que o permitiu adquirir grande
experiência política, observando as práticas de seus contemporâneos, pois essa
função o obrigava a desempenhar inúmeras missões diplomáticas na França, Alemanha
e nos diversos Estados italianos. Maquiavel tem então a oportunidade de entrar
em contato direto com reis, papas e nobres, e também com César Bórgia, quem ele
considera o modelo de príncipe que a Itália precisava para ser unificada. Como
resultado dessa experiência, duas obras foram concebidas, O Princípe, e os
seus Comentários sobre a Primeira Década de Tito Lívio. A primeira tratando
da política militante, ao passo que a segunda aborda a teoria política.
Ipso facto na reflexão histórica e cinematográfica de Fritz
Lang ele recusa o maniqueísmo. Para ele, só havia duas espécies de indivíduos:
“os maus e os muito maus”. Não há mocinhos ou heróis imaculados em seus filmes, e
frequentemente sua simpatia vai para os malditos, os abominados, os monstros,
os excluídos da convivência humana. Seja qual for o crime cometido, Lang sempre
está contra a corja linchadora. Se há duas cenas capazes de sintetizar
esplendidamente essa moral são estas duas, uma de “M” (1931) e a outra de
Fúria (1936). Mas, ao contrário da vingança catártica freudiana, como em
“Desejo de Matar”, em Lang ela raramente é apaziguadora. É onipresença do mal,
vingança tardia ou inútil, como em: A Morte Cansada. Ela consiste na retaliação contra uma pessoa ou grupo reacionário em resposta a algo que foi percebido ou sentido como prejudicial. Embora muitos aspectos da vingança possam lembrar o conceito de igualar as coisas, na verdade a vingança em geral tem um objetivo mais destrutivo do que construtivo.Em outros filmes, a
ênfase recai sobre a perspectiva política da vingança: Os Nibelungos, um filme mudo alemão de fantasia, que na mitologia nórdica, um povo formado por anões, Fúria, é um filme norte-americano de 1936, do gênero policial. É o primeiro filme estadunidense de Lang, que foi criticado por ter aceito a imposição do estúdio e inocentado o protagonista, Os Carrascos também Morrem. Numa época em que Charles Chaplin em The Great Dictator e Ernst Lubitsch em To Be or Not to Be tratavam os nazistas singularmente como meros palhaços, Os Carrascos Também Morrem os retrata como cruéis e perigosos. O roteiro assinala a única parceria entre Fritz Lang e o amigo Bertolt Brecht, autores da história. Brecht, entretanto, repudiou o resultado, que suavizou suas ideias radicais em favor de um produto comercial. Além das indicações ao Oscar, o filme recebeu uma menção especial da crítica estrangeira no Festival de Veneza, edição de 1946, O Diabo feito Mulher, o filme narra a história de uma criminosa que mantém uma espécie de hotel nas montanhas para os fora-da-lei. Um cowboy em busca de vingança pela morte de sua amada, segue a pista do assassino até o esconderijo, onde se infiltra entre os bandoleiros. Ameaçado pelos inúmeros bandidos e seduzido pela criminosa, ele terá que resolver se leva a sua vingança até ao fim, ou se desiste da empreitada, Os Corruptos, o filme narra a luta de um policial honesto contra o chamado crimeorganizado, que domina uma cidade. O suicídio de um colega coloca o sargento Bannion num caso de corrupção que ameaça sua carreira, a segurança de sua família: sua esposa e uma filha pequena.
Vale lembrar que o maniqueísmo é uma filosofia religiosa sincrética e dualística fundada e propagada por Maniqueu, filósofo cristão do século III, que divide o mundo simplesmente entre Bom, ou Deus, e Mau, ou o Diabo. A matéria é intrinsecamente má, e o espírito, intrinsecamente bom. Com a popularização do termo, maniqueísta passou a ser um adjetivo para toda doutrina fundada nos dois princípios opostos do Bem e do Mal. Quando o gnosticismo primitivo já perdia a sua influência no mundo greco-romano, surgiu na Babilônia e na Pérsia, no século III, uma nova vertente, o maniqueísmo. O seu fundador foi o profeta persa Mani e as suas ideias sincretizavam elementos do zoroastrismo, do hinduísmo, do budismo, do judaísmo e do cristianismo. Mani considerava Zoroastro, Buda e Jesus como “pais da Justiça”, como lembra Frei Betto, não deixaram nada escrito e formaram seus discípulos através de sentenças e parábolas emblemáticas. Os dois não fundaram religiões; propuseram uma via espiritual centrada no amor, na compaixão e na justiça, capaz de nos conduzir ao que todo ser humano mais almeja: a felicidade e através de uma revelação divina, purificar e superar as mensagens individuais de cada um deles, anunciando uma verdade completa.
O fato de ser vienense fez
Fritz Lang ter interrompido sua esplendorosa carreira alemã por conta da
ascensão do autoritarismo – o que o levou, como outros, sobretudo a chamada Escola de
Frankfurt (1923) a começar uma nova vida na América do Norte – certamente
acentuou sua amarga visão de mundo e deu outra consistência as suas obsessões.
No final da década de 1950, retornou para Alemanha e ainda realizou três filmes
antes de se aposentar. Dois deles retomavam a temática do exotismo. O último o
retorno de Mabuse – Os Mil Olhos do Dr. Mabuse -, um filme policial franco-ítalo-alemão de 1960, dirigido por Fritz Lang, com roteiro de Heinz Oskar Wuttig e do próprio Lang baseado no romance de Jan Fethke Mr. Tot Aĉetas Mil Okulojn, originalmente escrito em esperanto, com o qual encerrou a sua carreira. Atuou no filme O Desprezo (1963) de Jean-Luc Godard, com roteiro inspirado na novela Il Disprezzo, do escritor Alberto Moravia e estrelado por Brigitte Bardot.
O filme é constantemente lembrado como um dos melhores já realizados em todos os tempos. Aclamado pela crítica e considerado um dos melhores filmes de Godard e da chamada Nouvelle Vague, o filme foi produzido por Carlo Ponti. O lendário cineasta alemão Lang tem uma participação especial como ele mesmo. Logo, quando voltaria para os Estados Unidos da América, aonde veio a falecer quase cego.
A morte que se ressente do cansaço tão humano, amaldiçoada na terra por cumprir
os desígnios divinos, se afigura como uma das personagens mais solitárias da
história social do cinema. Três cidades brasileiras exibiram em 2014, vasta mostra
do diretor vienense que cultivava visão sombria do mundo. Ele anteviu, ao fim da
carreira, tal e qual Foucault na filosofia, determinada concepção de
controle social e, principalmente, vigilância e punição. Passadas décadas quando em voga no cinema e televisão por assinatura consolidadas com
o emprego das tecnologias de ponta na indústria globalizada.
Bibliografia geral consultada.
LEFORT, Claude, Le
Travail de l`Ouvre Machiavel. Paris, 1986; BATH, Sérgio, Maquiavelismo:
A Prática Política segundo Nicolau Maquiavel. São Paulo: Editora Ática,
1992; MANZANO, Luíz Adelmo Fernandes, A Relação Som-imagem no Cinema: A
Experiência Alemã de Fritz Lang. Dissertação de Mestrado. Escola de
Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1999; CORTINA,
Arnaldo, O Príncipe de Maquiavel e seus Leitores: Uma Investigação sobre o
Processo de Leitura. São Paulo: Editora da UNESP, 2000; ACCIOLY, Godiva, Os
Nibelungos: Estudo a partir do Drama de Richard Wagner e do Filme de Fritz
Lang. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Educação. Campinas:
Universidade Estadual de Campinas, 2001; VIROLI, Maurizio, O Sorriso de
Nicolau. São Paulo: Estação Liberdade, 2002; RIBEIRO, Renato Janine, “Um
Pensador da Ética”. In: Revista Cult, dezembro de 2004; KANGUSSU, Imaculada, Theoria Asthetica em Comemoração ao Centenário
de Theodor W. Adorno. Porto Alegre: Escritos Editora, 2005; BIZARRO,
Maristela Sanches, A Relação Humano-Máquina no Imaginário Cinematográfico.
Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica.
São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2005; THOMSON, Alex, Compreender Adorno. Petrópolis (RJ): Editoras
Vozes, 2010; LEZO, Denise, Arquitetura,
Cidade e Cinema: Vanguardas e Imaginário. Dissertação de Mestrado. Escola
de Engenharia de São Carlos. Universidade de São Paulo, 2010; RODRIGUES, Ana
Paula Alves, A Criação do Espaço Arquitectónico no Cinema Alemão dos Anos
20: O Gabinete do Doutor Caligari e Metropolis. Dissertação de Mestrado em
Arquitetura. Faculdade de Engenharia. Universidade da Beira Interior, 2012;
ASSUNÇÃO, Diego Paleólogo, A Máquina de Fabricar Vampiros: Tecnologia da
Morte, do Sangue e do Sexo. Tese de Doutorado em Comunicação. Escola de
Comunicação. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2015;
SANTANA, Fábio de Amorim, Quase Humanos, Quase Máquinas. Dissertação de
Mestrado. Programa de Pós-Graduação Mestrado em Comunicação. São Paulo:
Universidade Anhembi Morumbi, 2016; entre outros.
_______________
* Sociólogo
(UFF), Cientista Político (UFRJ) e Doutor em Ciências junto à Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de
Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará
(UECE).