segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Charles Bukowski – Identidade, Estilo Literário & Fascínio de Gerações.

          Se você vai tentar, vá até o fim, caso contrário, nem comece”. Charles Bukowski  

          Henry Charles Bukowski, nascido Heinrich Karl Bukowski; em Andernach, uma cidade da Alemanha, localizada no distrito de Mayen-Koblenz, estado de Renânia-Palatinado, em 16 de agosto de 1920 e morto, em Los Angeles, em 9 de março de 1994 foi um poeta, contista e romancista. Sua obra, de caráter inicialmente obsceno e estilo literalmente coloquial, com descrições de trabalhos braçais, porres e relacionamentos baratos, fascinou gerações que buscavam uma obra com a qual pudessem se identificar. Filho do soldado teuto-americano Heinrich Bukowski e de Katharina (nascida Fett), aos três anos mudou-se para os Estados Unidos com seus pais. Foram inicialmente para Baltimore em 1923, depois para o subúrbio de Los Angeles. Com um pai autoritário e frustrado e uma mãe submissa, sofria, frequentemente, abusos físicos e psicológicos paternos. Seus pais conheceram-se em Andernach, na Alemanha, após a 1ª guerra mundial (1914-1918). Na adolescência, surgiram inflamações que cobriram o rosto e toda a parte superior do corpo, fazendo-o submeter-se a tratamentos médicos no hospital público de sua cidade. Na escola, a situação também não era das melhores, tendo poucos amigos e sendo, o penúltimo a ser escolhido para o time de beisebol. Por causa do tratamento médico, abandonou temporariamente a escola, voltando um ano depois. Descobriu duas coisas que ajudaram a tornar a sua vida suportável: o álcool e os livros.

Em 1939, começa a frequentar aulas de arte, jornalismo e literatura na Los Angeles City College, ganha uma máquina de escrever de seu pai e logo se põe a escrever. Mas, por causa de seus escritos e contos, seu pai o expulsa de casa. Morando em pensões e sem emprego, abandonou as aulas que frequentava na LACC. Com problemas com o alcoolismo, trabalhou em empregos temporários em várias cidades americanas como faxineiro, frentista e motorista de caminhão. Em 1944, aos seus 24 anos, seu conto Consequências de uma longa “carta de rejeição” foi publicado na revista Story. Dois anos depois, o conto 20 tanques de Kasseldown (1946) foi publicado no terceiro volume da revista Portfolio: An Intercontinental Quarterly, em edição limitada com curadoria de Caresse Crosby (1892-1970), nascida Mary Phelps Jacob foi a beneficiária de uma patente para o primeiro sutiã moderno de sucesso, uma patrona norte-americana das artes, uma editora e a mulher que a revista Time chamou de “madrinha literária da Geração Perdida de escritores expatriados em Paris”. Ela e seu segundo marido, Harry Crosby (1898-1929), foi um extraordinário poeta, editor e bon vivant americano, praticamente esquecido com o trabalho de poeta, mas, conforme Jerome Rothenberg (1931-2024), um dos intelectuais precursores na dinâmica da chamada poesia concreta, ao lado do poeta E. E. Cummings (1894-1962), entre outros. Los Angeles City College (LACC) é uma faculdade comunitária pública em East Hollywood, Califórnia. Parte do Los Angeles Community College District, está localizada na Vermont Avenue, ao Sul da Santa Monica Boulevard, no antigo campus da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA). 

De 1947 a 1955, a faculdade compartilhou seu campus com a California State University, Los Angeles (Cal State LA), então reconhecida como Los Angeles State College of Applied Arts and Sciences (LASCAAS), antes que a universidade se mudasse para seu atualmente campus de 175 acres (71 ha) na seção Nordeste da cidade de Los Angeles, 5 milhas (8 km) a Leste do Civic Center. O campus do LACC era originalmente uma fazenda fora de Los Angeles, de propriedade de Dennis Sullivan, Dennis um matemático estadunidense. Ele uniu a teoria do caos e os espaços geométricos. Dennis Sullivan recebeu o Prêmio Abel de 2022, por suas contribuições nos campos de topologia e sistemas dinâmicos. É um dos nove campi universitários separados do Los Angeles Community College District. Quando a Pacific Electric Interurban Railroad conectou o centro de Los Angeles e Hollywood em 1909, a área começou a se desenvolver rapidamente. Em 1914, o Conselho de Educação de Los Angeles mudou a Escola Normal dos Professores para o local. O campus do Romanesque Italiano se tornou o campus original da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA) em 1919. Precisando de mais espaço, a UCLA mudou-se para sua localização em Westwood em 1929. Em 9 de setembro de 1929, o campus abriu as portas como Los Angeles Junior College com mais de 1.300 alunos e 54 professores. Mas mudou seu nome para Los Angeles City College em 1938. A California State University, Los Angeles (Cal State LA) foi fundada em 2 de julho de 1947 por um ato da legislatura da Califórnia e abriu para aulas como Los Angeles State College (LASC) no campus do Los Angeles City College. Como presidente do LACC, Peter Victor Peterson (1892-1979) se tornou o presidente interino da faculdade estadual.  

Filho de uma família de ricos banqueiros, participou como voluntário na 1ª Guerra Mundial (1914-18), onde dirigia ambulâncias. Escapando de forma surpreendente de um ataque da artilharia alemã que destruiu o carro que guiava em um episódio da guerra, completamente ileso, Harry Crosby declarou que naquele momento deixará de ser um garoto e transforma-se em um homem. Casando-se após a guerra com Mary Polly Peabody (1803-1891), em Boston, vai viver em Paris e funda, juntamente com a esposa, uma editora chamada Black Sun Press, vivendo do lucro da empresa e da publicação de sua poesia. Foi uma editora de língua inglesa reconhecida por publicar as primeiras obras de muitos escritores modernistas, incluindo Hart Crane, D.H. Lawrence, Archibald MacLeish, Ernest Hemingway e Eugene Jolas (1894-1952). Ela teve maior longevidade entre as várias editoras expatriadas fundadas em Paris durante uma década de 1920, publicando quase três vezes mais títulos do que Edward Titus sob sua Black Manikin Press. Expatriados americanos que viviam em Paris, Harry Crosby e a esposa Caresse Crosby (1892-1970), inventora do sutiã moderno (cf. Lima, 2022), fundaram a editora para publicar seu próprio trabalho em abril de 1927 a Éditions Narcisse. Eles acrescentaram isso em 1928, quando imprimiram uma importante edição limitada de 300 cópias numeradas de “A Queda da Casa de Usher” de Edgar Allan Poe. Eles gostaram da recepção tipicamente social que seu trabalho inicial recebeu e decidiram expandir a editora para atender outros autores, renomeando a empresa para Black Sun Press, seguindo a obsessão de Harry pelo simbolismo do Sol. A Terra é o terceiro planeta próximo do Sol, mais denso e quinto dos oito do Sistema Solar. É também o maior dos quatro planetas telúricos.

Vale lembrar que O Escaravelho de Ouro tem como representação um conto do escritor norte-americano Edgar Allan Poe, publicado em 1843. O enredo é sobre William Legrand, que descobriu um inseto incomum de cor dourada e ficou obcecado. Seu servo, chamado Júpiter, teme que Legrand esteja ficando louco e vai até o amigo de Legrand, um narrador não identificado, que concorda em visitar seu velho amigo. Legrand os puxa para uma aventura depois de decifrar uma mensagem secreta que os levará a um tesouro enterrado. A história ambientada na Ilha de Sullivan, na Carolina do Sul, Estados Unidos da América, é frequentemente comparada aos “contos de raciocínio” de Poe, como uma das primeiras formas de ficção policial. Poe tomou conhecimento do interesse do público pela escrita secreta em 1840 e pediu aos leitores que desafiassem suas habilidades como decifrador de códigos. Ele aproveitou a popularidade da criptografia enquanto escrevia “O escaravelho de Ouro”, e o sucesso da história técnica e socialmente gira em torno de um desses famosos criptogramas. Os críticos modernos julgaram a caracterização do servo de Legrand, Júpiter, como “racista”, especialmente por causa de seu discurso dialetal. O discurso dialetal é uma variedade linguística regional que coexiste com a língua padrão. O termo dialeto surgiu na Grécia antiga, onde a língua grega apresentava diferenças regionais. A variação dialetal ocorre devido a diversos fatores, como: região onde vive o usuário; grupo social; classe social; geração; sexo; grau de escolaridade; função exercida na sociedade. Um exemplo de dialeto no Brasil é o caipira, que é uma forma de se expressar própria do interior de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás e Paraná. O continuum dialetal é um termo que se refere ao conjunto de dialetos falados em uma área geográfica extensa. Nesses dialetos, as diferenças são pequenas nas regiões próximas, mas a inteligibilidade mútua diminui à medida que a distância aumenta. 

Poe apresentou “O Escaravelho de Ouro” como inscrição para um concurso de escrita patrocinado pelo Philadelphia Dollar Newspaper. Sua história ganhou o grande prêmio e foi publicada em três episódios, começando em junho de 1843. O prêmio também incluiu US$ 100, provavelmente a maior quantia que Poe recebeu por uma de suas obras. Um sucesso instantâneo, “O escaravelho de Ouro” foi a obra em prosa de Poe mais popular e amplamente lida durante sua vida. Também ajudou do ponto de vista comunicativo a popularizar os criptogramas e a escrita secreta. Na literatura autores notaram a extrema confusão que reina na demasiado rica terminologia do imaginário social: signos, imagens, símbolos, alegorias, emblemas, arquétipos, esquemas (schémas), esquemas (schèmes), ilustrações, representações, diagramas e sinepsias são termos empregados pelos analistas do imaginário social. O esquema é uma generalização dinâmica e afetiva da imagem, constitui a factividade e a não-substantividade geral do parcours imaginário. O esquema aparenta-se ao que Jean Piaget, na esteira de Herbert Silberer, chama “símbolo funcional” e ao que Gaston Bachelard na filosofia chama de “símbolo motor”. Faz a junção dos gestos inconscientes da sensório-motricidade, entre as dominantes reflexas e as representações. São esses que na antropologia do imaginário formam o “esqueleto dinâmico”, o esboço funcional da imaginação. A diferença entre os gestos reflexológicos que Gilbert Durand descreve analogamente e os esquemas é que estes já não são apenas abstratos engramas teóricos, mas trajetos sociais encarnados em representações concretas bem mais precisas. Os gestos diferenciados em esquemas vão determinar, em contato com o ambiente natural e social, os grandes arquétipos que Carl Jung os definiu. Os arquétipos constituem as substantificações dos esquemas. E vai buscar esta noção em Jakob Burckhardt e faz dela sinônimo de origem primordial, de enagrama, de margem original, de protótipo social.

O pensador evidencia claramente o caráter de trajeto antropológico dos arquétipos quando escreve que a imagem primordial deve incontestavelmente estar em relação com certos processos perceptíveis da natureza que se reproduzem sem cessar e são sempre ativos, mas por outro lado é igualmente indubitável que ela diz respeito também a certas condições inferiores da vida do espírito e da dinâmica da vida em geral. Bem longe de ter a primazia sobre a imagem, a ideia seria tão-somente o comprometimento pragmático do arquétipo imaginário num contexto histórico e epistemológico dado. Neste sentido, o mito representa um sistema dinâmico de símbolos, arquétipos e esquemas, sistema dinâmico que, sob o impulso de um esquema tende a compor uma narrativa. O mito é já um esboço de racionalização, dado que utiliza o fio do discurso, no qual os símbolos se resolvem em palavras e os arquétipos em ideias culturais. O mito explicita um esquema ou um grupo de esquemas. Do modo que o arquétipo promovia a ideia, o símbolo o nome, concordamos com Gilbert Durand que o mito promove a doutrina religiosa, o sistema filosófico ou, como bem anteviu Émile Bréhier, a “narrativa histórica e lendária”.  Foi este princípio, que Carl Jung sentiu abrangido por seus conceitos de “Arquétipo” e “Inconsciente coletivo”, justamente o que uniu o médico psiquiatra Jung ao físico Wolfgang Pauli, dando início às pesquisas interdisciplinares em física e psicologia. A sincronicidade, vale lembrar, se manifesta muitas vezes atemporalmente e/ou em eventos energéticos acausais, e em ambos são violados princípios associados ao paradigma científico vigente.

Nesta démarche Christophe Dejours é considerado o “pai da psicanálise do trabalho”, a disciplina que estuda as relações psíquicas do homem com seu trabalho, as realizações e o sofrimento nelas envolvidas e as estratégias de defesa para lidar com as diversas aflições, com suas repercussões no corpo e no estabelecimento da identidade individual. Na confluência destas duas amplas áreas de estudo está o corpo. Sua primeira publicação sobre o assunto data de 1986, quando delimita cuidadosamente a diferença entre o corpo biológico e o corpo erótico (cf. Dejours, 2019), resultado do trabalho de representação do corpo biológico no psiquismo, com seu investimento, suas falhas de representação e sua psicopatologia. Dejours parte da subversão libidinal das funções biológicas em proveito da economia erótica, resultado do trabalho de criação do corpo erótico a partir do corpo biológico, que ocorre em função da interação entre o corpo do bebê e a ação comprometida pelo inconsciente de cuidadores. Dessa influência mútua, porém dissimétrica, surge tanto a “ordem erótica” que representa a subjetividade, o fundamento da experiência subjetiva e o lugar eletivo onde se vivencia a subjetividade em si, quanto as falhas da erotização, suas descompensações nos diferentes níveis de psicopatologia, do psicossomático ao psicopata, passando pelo psicótico e pelo paranoico. Ele se dedica a descrever e explicar minuciosamente cada uma destas categorias frente à dinâmica da erotização.  A análise propõe a aporia, teoria alternativa à “escolha de órgão”, chegando à “escolha da função”, como a origem individualmente da orientação de um “alvo orgânico” resultante da “descompensação somática”.

Mormente as estruturas sociais de classe, gênero e etnia são reduzidos às imagens do social e vividos através do meio de reprodução das imagens e de estilo de vida. Observou que os “meios realizadores” estão em coisas muito diferentes às expectativas geradas, e, ainda segundo ele, que atendam satisfações mais superficiais, mas jamais aspectos profundos da vida humana como geralmente propõem. Sob este aspecto radicalizou ao desenvolver a ideia que os indivíduos imersos nas práticas e relações de consumo, não combatem nem condenam, mas exploram ao máximo as tendências figuradas. As sensações imediatas, as experiências ardentes e isoladas, tanto quanto as intensidades da sociedade-cultura de consumo. Sem procurar significados obtém prazer estético de intensidades superficiais. Na ordem da produção, o objeto carece de unicidade e singularidade, pois, objetos tornam-se simulacros indefinidos uns dos outros como objetos, os homens que os produzem. A pretensa objetividade do mundo erigido pela racionalização corresponde à universalização arbitrariamente advindo da generalização da economia política na forma da lei do valor. A partir do código, considerado como sistema de signos generalizados, a simulação opera a inversão das relações entre pessoas, identificada entre o real e sua representação, estabelecendo oposições binárias que permitem a objetividade do discurso e o controle dos objetos.

       O símbolo não sendo já de natureza linguística deixa de se desenvolver numa só dimensão da sociedade. As motivações que os ordenam não apenas já não formam longas cadeias de razões, mas nem sequer cadeias. A explicação linear do tipo de dedução lógica ou narrativa introspectiva já não basta essencialmente para o estudo das motivações simbólicas. A classificação dos símbolos da imaginação em categorias motivacionais distintas apresenta, com efeito, pelo próprio fato da não linearidade e do semantismo das imagens, grandes dificuldades. Metodologicamente, se se parte dos objetos bem definidos pelos quadros da lógica dos utensílios, como faziam as clássicas “chaves dos sonhos”, segundo as estruturas antropológicas do imaginário, cai-se muito rapidamente, pela massificação das motivações, numa inextricável confusão. Parecem-nos mais sérias as tentativas para repartir os símbolos segundo os grandes centros de interesse humano de um pensamento, certamente perceptivo, mas ainda completamente impregnado de atitudes assimiladoras nas quais os acontecimentos perceptivos não passam de pretextos para os devaneios imaginários. Tais são as classificações sociais mais profundas de analistas das motivações do simbolismo religioso ou da imaginação de modo geral literária. 

Tanto escolhem como norma classificativa uma ordem de motivação cosmológica e astral, na qual são as grandes sequências das estações, dos meteoros e dos astros que servem de indutores à fabulação, tanto são os elementos de uma física primitiva e sumariamente que, pelas suas qualidades sensoriais, polarizam os campos de força no continuum homogêneo do imaginário individual e coletivo; tanto, enfim, se suspeita que são os dados sociológicos do microgrupo ou de grupos que se estendem aos confins do grupo linguístico que fornecem quadros primordiais para os símbolos. Quer a imaginação estreitamente motivada pela língua ou funções sociais, se modele sobre essas matrizes sociológicas e antropológicas e seus genes raciais intervenham bastante misteriosamente para estruturar os conjuntos simbólicos, distribuindo seja as mentalidades imaginárias, sejam os rituais religiosos, querem ainda, com uma matriz evolucionista, se tente estabelecer uma hierarquia das grandes formas simbólicas e restaurar a unidade no dualismo de Henri Bergson das Deux Sources, quer enfim que atravessando a técnica da psicanálise se tente encontrar uma síntese entre as pulsões de uma libido em evolução e as pressões recalcadoras do microgrupo familiar. São estas diferentes classificações das motivações simbólicas que precisamos criticar na sociedade antes de estabelecer um método pretensamente firme na ordem das motivações.          

A trajetória social evoca um movimento, mas resulta ainda de uma projeção sobre um plano, de uma redução. Estratégia refere-se ao cálculo das relações de força que se torna possível a partir do momento em que um sujeito de querer e poder é isolável em um ambiente. Ela postula um lugar capaz de ser circunscrito como um próprio e, portanto, capaz de servir de base a uma gestão de suas relações com uma exterioridade distinta. A nacionalidade política, econômica ou científica foi construída segundo esse modelo estratégico. Para descrever essas práticas cotidianas que produzem sem capitalizar, isto é, sem dominar o tempo, segundo a fenomenologia de Michel de Certeau, impunha-se um ponto de partida por ser o foco exorbitado da cultura contemporânea e de seu consumo: a leitura. Da televisão ao jornal, da publicidade a todas as epifanias mercadológicas, a nossa sociedade canceriza à vista, mede a realidade por sua capacidade de mostrar ou de se mostrar e transforma as comunicações em viagens do olhar. Até a economia, transformada em “semiocracia”, fomenta uma hipertrofia da leitura. O binômio produção-consumo substituído por seu equivalente: escritura-leitura. A leitura da imagem ao texto parece, aliás, constituir o ponto máximo de passividade que caracterizaria a relação de inexorabilidade entre o consumidor, constituído em voyeur (troglodita ou nômade) em uma sociedade do espetáculo.  

Enfim, os gestos diferenciados em esquemas sociológicos vão determinar, em contato com o ambiente natural, os grandes arquétipos mais ou menos como Jung os definiu. Os arquétipos constituem as substantificações essenciais dos esquemas. Esta noção em Jacob Burckhardt é sinônima de “origem primordial”, de “enagrama”, de “imagem original”, de “protótipo”. Metáforas de guerra quando Carl Jung evidencia claramente o caráter de trajeto antropológico dos arquétipos quando escreve: - “A imagem primordial deve incontestavelmente estar em relação com certos processos perceptíveis da natureza que se reproduzem sem cessar e são sempre ativos, mas por outro lado é igualmente indubitável que ela diz respeito também a certas condições interiores da vida do espírito e da vida em geral”. Este arquétipo, intermediário entre os esquemas subjetivos culturalmente e as reproduções de imagens fornecidas pelo ambiente perceptivo, é como representar o número da linguagem que a intuição percebe. Decerto, Jung insiste, sobretudo, no caráter coletivo e inato das imagens primordiais, mas sem entrar nessa metafísica das origens e sem aderir à crença em “sedimentos mnésicos” acumulados do decurso da filogênese podemos fazer nossa uma observação capital do psicanalista, que vê nesses substantivos simbólicos que são os arquétipos “o estádio preliminar, a zona matricial da ideia”. Contudo, bem longe de ter a primazia sobre a imagem, a ideia seria tão-somente o comprometimento pragmático do arquétipo imaginário num contexto histórico e epistemológico dado. No âmbito da guerra, sublinhamos a importância essencial dos arquétipos que constituem o ponto de junção entre o imaginário individual (os sonhos) e coletivo (os mitos, os ritos, os símbolos) e os processos racionais. É que pensando assim, com efeito de poder, os arquétipos se ligam a imagens individuais e coletivas diferenciadas pelas culturas e nas quais vários esquemas se vêm imbricar.

Encontramo-nos então em presença do símbolo em sentido estrito, símbolos que assumem tanto mais importância quanto são ricos em sentidos diferentes. No prolongamento dos esquemas explicativos, arquétipos e simples símbolos modernos podem-se considerar o mito. Lembramos, todavia, que não estamos tomando este termo na concepção restrita que lhe dão os etnólogos, que fazem dele apenas o reverso representativo de um ato ritualmente. Entendemos por mito, antropologicamente “um sistema dinâmico de símbolos, arquétipos e esquemas, sistema dinâmico que, sob o impulso de um esquema, tende a compor-se na narrativa”. O mito é já um esboço de racionalização, dado que utiliza o fio do discurso, no qual os símbolos se resolvem em palavras e os arquétipos em ideias. O mito explicita um esquema ou um grupo de esquemas. Do mesmo modo que o arquétipo promovia a ideia e o símbolo engendrava o nome, podemos dizer que o mito promove a doutrina religiosa, o sistema filosófico ou, como observou Bréhier, a narrativa histórica e lendária. O método de convergência evidencia o mesmo isomorfismo, comparativamente, na constelação de objeto e propriamente no mito. Enfim, para sermos breves, este isomorfismo dos esquemas, arquétipos e símbolos no seio dos sistemas míticos ou de constelações estáticas pode levar-nos a verificar a existência de protocolos normativos das representações imaginárias, bem definidos e relativamente estáveis, agrupados em torno dos esquemas e filosoficamente a literatura refere-se como estruturas.

Aí se mesclam diversidades e desigualdades de todos os tipos e narrativas, compreendendo manifestações religiosas e linguísticas, mas sempre envolvendo alguma forma de racialização das relações étnicas e sociais. Produzidas ao longo de migrações, escravismos e outras formas de trabalho forçado, convívios pacíficos, conflitos inesperados, pogroms, genocídios, revoluções, guerras. Assim, não é difícil admitir, sociologicamente, que o tribalismo, adormecido por séculos, reacende para destruir nações e nacionalidades. Sempre que há um contexto de crise social, há o risco de que as intolerâncias se acentuem. Aliás, está acontecendo uma incrível “racialização do mundo”, embora ocorram desde as grandes navegações, os acontecimentos nos últimos anos do século XX estão acentuando a intolerância racial em escala mundial. Em 1978 Edward Said publicou a sua obra provavelmente mais reconhecida, Orientalismo, na qual analisa a visão ocidental arquetípica oriental, mais concretamente do mundo árabe. Segundo o autor, o Ocidente criou uma visão distorcida do Oriente como o “Outro”, numa tentativa de diferenciação que servia os interesses do colonialismo. Na construção do argumento central do livro Said analisou uma série de discursos literários, políticos e culturais que iam desde textos das Cruzadas ou de Shakespeare, nos quais encontrou um denominador comum: a representação dos habitantes do mundo oriental como bárbaros.

O que determina a escolha de um ponto de vista sobre o sujeito e o mundo são os objetivos pragmáticos. Deixamos de lado a posse de uma teoria fundada em exigências lógicas ou achados empíricos incontestáveis. Poder, interesse, dominação, realidade material, são indispensáveis à análise que nos habituaram a aceitar como verdadeira, pela força ou pela persuasão dos costumes. Para efeitos da ação, só existem eventos descritivos. A descrição preferida do intérprete será a mais adequada às suas convicções morais e não a mais iluminada pela razão. Política é regulação da existência coletiva, poder decisório, disputa por posições de mando no mundo, confrontos entre mil formas. Violência em última análise. Assim, é também diferente da produção simbólica porque se exercita sobre o interesse dos agentes sociais, quando não sobre o seu próprio corpo. Não produz mensagens, discursos cotidianos, produz obediências, obrigações, submissões, controles. Poder, na modernidade, é uma relação social de mando e obediência. São decisões tomadas politicamente que se impõe a todos num dado território ou unidade social. Todavia, convertem-se em atividades coercitivas, administrativas, jurídico-judiciárias e deliberativas. Eis a grande questão: o processo político diz respeito a pergunta: - Quem pode o quê sobre quem? A mesma pulsão escópica, analogamente, frequenta a ficção real ou imaginária individual e coletiva que cria leitores, que muda de legibilidade a complexidade urbana. Não é mais suficiente para compreender as estruturas de poder deslocar para os dispositivos e os procedimentos técnicos uma multiplicidade humana, capaz de transformar, disciplinarmente e depois gerir, para consumar o delito: classificar e hierarquizar os desvios concernentes à aprendizagem, saúde, justiça, forças armadas ou trabalho social.

Na política contemporânea o que faz andar são relíquias de sentido e às vezes seus detritos, os restos invertidos de grandes ambições. Nome que no sentido preciso da memória deixaram de ser próprios. Nesses núcleos simbolizadores se esboçam e talvez se fundem três funcionamentos distintos (mas conjugados) das relações políticas entre práticas espaciais e significantes: o crível, o memorável e o primitivo. Em relação ao discurso, reduzindo o signo ao puro jogo dos significantes, anula a relação entre significante e significado necessária ao processo de significação. Assim, diferentemente da ordem da produção, o controle das relações do homem com as “coisas” não mais advém do agir racional-com-respeito-a-fins, pois a predominância do código inaugura o monopólio da palavra como característica básica da dominação contemporânea. Da mesma forma, enquanto técnica de controle do objeto, o processo de simulação opera uma completa inversão, de forma que o real se torne efeito ou reflexo de modelos gerativos. Simulacros e Simulação representam historicamente um tratado filosófico de Jean Baudrillard que discute a relação entre realidade, símbolos e sociedade. Simulacros são cópias que representam níveis de análise que nunca existiram ou que não possuem mais o seu equivalente na realidade. Simulação é a imitação de um processo virtual existente no mundo real. Se a visão de Jean Baudrillard é problemática e pessimista porque não depreende nos mass media a possibilidade real da comunicação e da troca, estando restrita ao encontro “face a face”, por outro lado, ela é profícua na medida em que, já no início da década de 1970, o autor ergue-se contra o domínio da semiologia italiana e francesa, relativizando a prática teórica no que respeita à comunicação social.

Denomina-se “Queima de sutiãs” (“Miss America protest”), ou simplesmente “bra-burning” a um protesto público, com a participação efetiva de cerca de 400 ativistas do Women’s Liberation Movement (WLM) quando da realização do badalado concurso de Miss America, em 7 de setembro de 1968, em Atlantic City, uma cidade turística na costa atlântica de Nova Jérsei, com seu histórico Immigration Museum e a famosa Estátua da Liberdade, reconhecida pela utilidade de uso de vários casinos, pelas grandes praias e pelo icônico Boardwalk, que representa um calçadão de 400 metros repleto de excelentes restaurantes, lojas exclusivas e uma vida noturna glamourosamente agitada pelo consumo da irradiante classe média . Estabelecida no início do século XIX como uma estância de saúde, a cidade está atualmente pontilhada por discotecas e hotéis elevados e resplandecentes. Além dos jogos de azar nas chamadas “slot machines” e nas mesas, os casinos disponibilizam tratamentos de spa, famosos espetáculos de comédia e música e comércio sofisticado nos Estados Unidos da América. Quando os manifestantes também desdobraram com êxito uma grande faixa estampada visivelmente com o tema politizado “Liberação Feminina” dentro do salão de competição, atraíram atenção da mídia mundial e atenção nacionalmente para o Movimento de Libertação das Mulheres.

Este movimento social representou um alinhamento político das mulheres e do intelectualismo feminista que emergiu no final dos anos 1960 e continuou na década de 1980, principalmente nas nações industrializadas do mundo ocidental, que efetuou grandes mudanças políticas, intelectuais, culturais em parte do mundo. O ramo do MLM do feminismo radical, baseado na filosofia contemporânea, incluía mulheres de diversas origens comunitárias raciais e culturais que propunham que a liberdade econômica, psicológica e socialmente era necessária para que as mulheres progredissem de “cidadãs de segunda classe em suas sociedades”. Para alcançar a igualdade das mulheres, o MLM questionou a validade cultural e legal do patriarcado e a validade prática das hierarquias sociais e sexuais usadas para controlar e limitar a independência legal e física das mulheres na sociedade. As mulheres liberacionistas propuseram que o sexismo, ou seja, a discriminação formal e informal legalizada baseada no sexo, consequência da existência da construção social de gênero era o principal problema político com a dinâmica de poder das sociedades. Em geral, o MLM propôs uma mudança socioeconômica da esquerda política, rejeitou a ideia de que a igualdade gradativa, dentro e de acordo com a classe social, eliminaria a discriminação sexual contra as mulheres, e promoveu os princípios do humanismo, especialmente o respeito pelos direitos humanos de todas as pessoas. Nas décadas durante as quais o movimento social de libertação das mulheres floresceu, as chamadas liberacionistas mudaram com sucesso a forma extraordinária como as mulheres em suas lutas, desejos e devaneios eram bem vistas em suas novas formas de culturas, e com “efeito de poder” redefiniram os papéis socioeconômicos e políticos delas na sociedade e transformaram as regras dominantes.

A repórter Lindsy Van Gelder, uma escritora de San Diego cujo trabalho aparece regularmente na Allure, Ms. Magazine, entre muitas outras publicações nacionais, fez uma analogia entre as manifestantes feministas que jogavam sutiãs nas latas de lixo e os manifestantes da Guerra do Vietnã que queimavam seus cartões de alistamento militar. A reportagem foi publicada sob a manchete “Bra Burners and Miss America”. A queima de sutiãs, embora nunca tenham sido realmente incinerados, tornou-se a marca simbólica do protesto e um slogan da Era Feminista. No século XX, a deslocação de mão-de-obra masculina para as frentes de batalha nos dois conflitos mundiais, que exigiu uma maior inserção da mulher no mercado de trabalho, reacendeu as lutas pelos direitos femininos. Nos Estados Unidos, nas décadas de 1950 e 1960 o movimento tomou força e foi marcado por uma manifestação que chamou a atenção dos meios de comunicação, vindo a tornar-se emblemática. Visando denunciar e acabar com a exploração comercialmente contra as mulheres, as ativistas aproveitaram a realização de um concurso de beleza que era percebido como veículo de visão arbitrária e opressiva em relação às mulheresː o Miss America de 1968. As ativistas dispuseram “arqueologicamente” no chão do local do evento sutiãs, sapatos de salto alto, cílios postiços, sprays de laquê, maquiagens, revistas femininas, espartilhos, cintas e outros objetos que simbolizavam o padrão merceológico de mercado imposto através da manipulação ideológica de beleza feminina. A “queima” nunca chegou a acontecer, e por se tratar de espaço privado, não foi autorizada. A atitude das manifestantes foi incendiária e o evento tornou-se lendário.

A editora publicou obras do amigo de Crosby, Hart Crane, de Kay Boyle, James Joyce, René Crevel e T. S. Eliot, entre outros. No dia 10 de dezembro de 1929, por razões não esclarecidas pela polícia, cometeu suicídio juntamente com uma amante chamada Josephine, em um hotel de Nova Iorque. Apesar disso, algumas fontes afirmam que o poeta vivia basicamente de rendas e que, como seu amigo Hart Crane, teria se suicidado em função do chamado Crash da Bolsa de Nova Iorque, de outubro de 1929, hipótese provável, levando em conta que Crosby era considerado também uma espécie de playboy, reconhecido por gastar enormes quantias de dinheiro que não poderiam ser resultantes do seu trabalho como escritor e editor. Considerado por alguns um “poeta menor” e um representante da chamada Geração Perdida, apesar do trabalho essencialmente de Crosby como editor, sua poesia apresenta em dados momentos literários com características absolutamente vanguardistas, como em “Telephone Directory,” um poema Ready made que não necessita de tradução. Segundo o poeta e crítico literário Jerome Rothenberg, Crosby teria sido um dos precursores da Poesia concreta, sendo negligenciado pela posterior Nova Crítica dos Estados Unidos. Rothenberg escreve: Crosby, cuja Editora Black Sun em Paris primeiro publicou The Bridge, de Crane, um poeta cujas obsessões míticas giravam em torno de deuses & deusas do Sol, que apareceram numa variedade de novas formas poemas prosaicos, encantamentos em versos longos & poesia concreta inicial & poesia-coisa.

Ele compartilha uma posição, fortemente influenciada pelos surrealistas, assim como por experimentalistas da visão/estrutura anteriores como Blake, Rimbaud & Lautreamont, com Eugene Jolas & até com poetas mais jovens como Charles Henri Ford & Parker Tyler. Poemas seus foram incluídos na antologia da poesia de vanguarda dos Estados Unidos da América, organizada por Rothenberg, intitulada: Revolution of the Word: A New Gathering of American Avant Garde Poetry 1914-1945, publicada em 2009. Entretanto, fundaram a Black Sun Press, fundamental na publicação das primeiras obras de muitos autores que mais tarde se tornariam famosos, entre eles Anaïs Nin, Kay Boyle, Ernest Hemingway, Archibald MacLeish, Henry Miller, Charles Bukowski, Hart Crane e Robert Duncan. Não obtendo reconhecimento literário e sem conseguir publicações, Bukowski decepcionou-se com o processo criativo e parou de escrever por quase uma década, época em que se descreve como um “bêbado por dez anos”. Essa década perdida formou a base de suas crônicas semiautobiográficas publicadas posteriormente, bem como para a criação de seu álter ego fictício Henry Chinaski. Em 1952, consegue um emprego de carteiro. Com uma vida errante e úlceras estomacais, bebe em excesso e escreve alucinadamente. Enviou seus trabalhos para as mais diversas editoras literárias independentes dos Estados Unidos, e quase sempre, eram recusados.

A literatura dos Estados Unidos pode ser considerada como um ramo literário distinto, comparativamente, ou como fazendo parte da Literatura inglesa. Entretanto, a editora da revista Harlequin, Barbara Frye, estava convencida de que Bukowski era um gênio. Ela era editora e publicava alguns escritos de Hank Green. Ela o considerava um gênio. Trocaram cartas durante bastante tempo. Em certa altura, ela lhe escreveu dizendo que temia que nunca fosse se casar, pois sofria de uma deficiência que a deixara “sem pescoço”. Bukowski escreveu em resposta: “Eu me casarei”. E, logos após se conhecerem pessoalmente, casaram-se em 29 de outubro de 1955. Mas apenas 2 anos depois em 18 de março de 1958 se divorciaram. Pouco se sabe sobre o que houve com Barbara Frye. Algumas fontes esclarecem que ela e sua filha morreram na Índia, “dado que a Índia pode ser um país perigoso para as pessoas que vão lá despreparadas”. Começaram a se corresponder e, em determinado momento, Frye declarou que nenhum homem nunca se casaria com ela. Bukowski respondeu: “Eu me casarei”. Casaram-se logo depois de se conhecerem pessoal e tão rápido quanto se conheceram, separaram-se.

Na Roma antiga, o gênio representava o espírito ou guia de uma pessoa, ou mesmo de uma gens inteira. Um termo relacionado é genius loci, o espírito de um local específico. Por contraste a força interior que move todas as criaturas viventes é o animus. Um espírito específico ou daimon pode habitar uma imagem ou ícone, dando-lhe poderes sobrenaturais. Gênios são dotados de excepcional brilhantismo, mas frequentemente também são insensíveis às limitações da mediocridade bem como são emocionalmente muito sensíveis, algumas vezes ambas as coisas. O termo prodígio indica simplesmente a presença de talento ou gênio excepcional na primeira infância. Os termos prodígio e criança prodígio são sinônimos, sendo o último um pleonasmo. Deve-se ter em consideração que é perigoso tomar como referência as pontuações em testes de QI quando se deseja fazer um diagnóstico razoavelmente correto de genialidade. Há que se levar em consideração que em todos as pontuações, e em todas as medidas, existe uma incerteza inerente, bem como os resultados obtidos nos testes representam a performance alcançada por uma pessoa em determinadas condições, não refletindo necessariamente toda a capacidade da pessoa em condições ideais. É de crer que, para que o gênio se manifeste num indivíduo, este indivíduo deve ter recebido como herança a soma de poder cognitivo que excede o que é necessário para o serviço da vontade individual, para lembramos de Sussekind (2008), é este excedente que, tornado livre, serve para constituir um objeto liberto de vontade, um claro espelho do ser do mundo.

Através disto se explica a vivacidade que os homens de gênio desenvolvem por vezes até a turbulência: o presente raramente lhes chega, visto que ele não enche, portanto, a sua consciência; daí a sua inquietude sem tréguas; daí a sua tendência para perseguir sem cessar objetos novos e dignos de estudo, para desejar enfim, quase sempre sem sucesso, seres que se lhes assemelham, que estejam à sua medida e que os possam compreender. O homem comum, plenamente farto e satisfeito com a rotina atual, aí se absorve; em todo lado encontra seus iguais; daí essa satisfação particular que experimenta no curso da vida e que o gênio não conhece. - Quis-se ver na imaginação um elemento essencial do gênio, o que é bastante legítimo; quis-se mesmo identificar os dois, mas isso é um erro. O fato é que, seja em que medida for, o certo é o incerto e o incerto é uma estrada reta. O objeto do gênio, considerado como tal, são as ideias eternas, as formas persistentes e essenciais do mundo e de todos os seus fenômenos. Onde reina só a imaginação, ela empenha-se em construir castelos no ar a lisonjear o egoísmo e o capricho pessoal, a enganá-los momentaneamente e a diverti-los; mas neste caso, conhecemos sempre, para falar com propriedade, apenas as relações das quimeras assim combinadas. Talvez ponha por escrito os sonhos da sua imaginação realmente: é daí que nos vêm esses romances ordinários, de todos os gêneros, que fazem a alegria do grande público e das pessoas semelhantes aos seus atores sociais, visto em geral que o leitor sonha que está no lugar do herói, e acha tal representação um lugar bastante agradável.  A história da matemática é uma área de estudo dedicada à investigação sobre a origem das descobertas da matemática e, em uma menor extensão, à investigação dos métodos matemáticos e aos registros etnográficos ou notações matemáticas do passado. A matemática islâmica desenvolveu e expandiu a matemática destas civilizações. Muitos textos gregos e árabes sobre matemática foram rapidamente traduzidos ao Latim, o que contribuiu com o desenvolvimento da matemática na Europa do período medieval.

Dos tempos remotos, antigos à Idade Média, a eclosão da criatividade matemática foi frequentemente seguida por séculos de estagnação. Com o Renascimento, novos progressos técnicos da matemática, interagindo no progresso da disciplina com as novas descobertas científicas, foram realizados de forma crescente, continuando assim decerto sem paixão. A falta de carinho familiar na vida de Charles Bukowski e a humilhação de ter um rosto deformado obrigam-no a fugir. Abandonou a escola para só voltar um ano depois. Neste meio tempo descobriu duas coisas que o ajudaram a tornar a sua vida suportável: o álcool e os livros. Teve problemas comuns com alcoolismo e trabalhou em empregos temporários em várias cidades norte-americanas, como carteiro, frentista e motorista de caminhão apesar de ter estudado jornalismo sem nunca se formar. Bukowski começou a escrever poesias aos 15 anos, mas seu primeiro livro somente foi publicado 20 anos depois em 1955. Em 1962 estreou na prosa caracterizada pela descrição de sua vida pessoal. Escreveu, entre outros livros, “Mulheres”, “Hollywood” e “Cartas na Rua”. Iniciou assim uma vida errante, bebendo em excesso e escrevendo alucinadamente. Os produtos destas noites e mais noites de trabalho eram enviados para as mais diversificadas publicações com opiniões literárias independentes dos Estados Unidos, mas quase sempre recusados. Até este momento, Charles Bukowski era apenas um poeta iniciante - apesar de ter quase quarenta anos. Mas foi a partir de sua separação que começou a surgir a imagem de Bukowski que o tornaria famoso. Jim Christy, autor do livro The Buk Book, disse que ele havia sido um vagabundo, um imprestável, um proletário, um bêbado; bem, que fosse. Outros trabalharam o mesmo território, mas o que diferenciava Bukowski do resto: os Knut Hamsun, Jack London, o escritor anarquista Máximo Gorki (1868-1963) e Jim Tully é que Charles Bukowski era muito engraçado. Trabalhando esta imagem ele conseguiu criar um mito ao seu redor.    

A fisiognomonia teve sua origem na Índia, quando antigos habitantes daquele país estudavam rugas no corpo, as causas e as origens das mesmas. Mais tarde foi levada para a China, onde foi estudada e desenvolvida como diagnóstico e hoje é tida como uma subdivisão da medicina chinesa. Segundo a fisiognomonia os traços sociais da face podem auxiliar em um diagnóstico preciso e ainda indicar um tratamento correto em qualquer área médica, estética, nutricional ou psicológica, e a sua técnica consiste em uma avaliação completa do indivíduo. As marcas e traços que surgem no nosso corpo são registos dos nossos hábitos de vida, podendo servir como indicadores de desequilíbrios diversos. O rosto é movimento. O século XVIII prolonga essa concepção surgida no século anterior e vai dar-lhe uma amplitude e intensidade novas: se a expressão continua sendo movimento do rosto, será agora mais ressaltada a sua vivacidade, a sua energia. Uma estética da mímica do rosto como gesto facial, segundo Courtine e Haroche (2016: 121), desenvolve-se assim na segunda metade daquele século. Encontra-se aí o sensualismo dos filósofos, quer perpassa a fisiognomonia, o teatro, a pintura. Elabora-se um pensamento complexo sobre um tema histórico e pontual, revelando a oposição entre corpo em repouso e corpo em movimento, privilegiado em detrimento daquele. Assim Johann Kaspar Lavater (1741-1801) distingue a “fisiognomonia” que “revela o caráter em repouso da “patognomonia” que detecta “o caráter em movimento”, ressaltando a importância desta última. Assim também para Johann Jakob Engel (1741-1802) ao tomar parte no debate sobre a interpretação do ator teatral, cujo rosto se torna gesto com o nome hoje comum “aparência”. Ele concebe a mímica do ator como verdadeira linguagem do movimento facial, de que temia dar conta com um sistema ordenado de gestos ao mesmo tempo sensíveis e enérgico. A tout court a representação e a percepção do gesto de que “fala” a expressão facial se transformara. Sua linguagem é linguagem interior. A pintura do retrato malgré o ilustra com o ligeiro tremor da tinta pastel nos retratos de Quentin de La Tour, ou Chardin, traduz a delicadeza do movimento fisionômico socialmente.

A linguagem do sentimento possui uma tonalidade e uma temporalidade que lhe são próprias. Assim cada paixão tem sua cor; e cada paixão se decompõe em uma miríade de instantes que se distinguem pelas sutilezas de suas nuances. Um tempo sempre mais fugitivo desliza sobre o rosto e modifica suas percepções. Esse tempo do sensível que no final do século XVIII vê oscilar sobre a fisiognomia é um tempo complexo, que não se reduz à sombra fugitiva do sentimento. Não há, pois, na expressão espontânea do olhar, “nenhum intervalo, or assim dizer, entre o sentimento e seu efeito, ressalta Engel. Mas um domínio absoluto do rosto é quase impossível, no orgânico alguma coisa que escapa ao império da vontade. Uma praga corrói a máscara do cortesão, que cai pouco a pouco em pedaços. O rosto é por vezes tomado pelo movimento interior, faísca instantânea que já percebe, mas ainda não conseguimos identificar. Com efeito, são várias temporalidades cujos períodos se entrecruzam na fisionomia: tempo fulgurante da agitação involuntária, tempo súbito da emoção, tempo efêmero da paixão e ainda o tempo de ciclos mais longos da evolução orgânica, que é o tempo irreversivelmente das metamorfoses sociais da idade sobre o rosto orgânico que lentamente leva o corpo ao seu fim. Neste caso, lembramos de Max Weber num ensaio sobre a objetividade do conhecimento científico-social admite, “fim é a representação de um resultado que se converte em causa de uma ação”.  A expressão é, então, o próprio indivíduo. E, no indivíduo, a expressão é ao mesmo tempo universal e singular. Portanto, não há nada no homem que não seja expressão como ao andar.

Manteve pensadores ilustes como  Ernest Hemingway e Fiódor Dostoiévski como principais influências literárias  afetivamente. Com o escritor russo, aprendeu: “Quem não quer matar seu pai?”. O complexo de Édipo rodeia Chinaski por toda a obra: “Ele” é o cara sacana, “Ele” é o responsável por seu sofrimento, “Ele” merece morrer. Esse ódio por seu pai, na realidade um “alcoólatra violento”, permeia toda a obra do velho “Buk”. Essa capacidade de transformar o dia-a-dia em poesia, de pegar as bebedeiras triviais, as angústias adolescentes e transforma-las em arte é a mágica de Bukowski. Repulsa, nojo, ódio, amor, paixão e melancolia. Esses são alguns dos sentimentos que mais inspiraram Charles Bukowski, alemão que passou a vida nos becos dos Estados Unidos, na composição de toda sua obra. Cada poesia, cada romance e cada conto do escritor traz um pouco da vida do “Velho Safado”, como ficou reconhecido no mundo inteiro. E Howard Sounes é prova disso. O jornalista inglês assina o extraordinário ensaio: “Charles Bukowski - Vida e Loucuras de um Velho Safado” (Editora Conrad); consagrando a biografia considerada como uma das mais completas e sérias do gênero literário. Funcionário dos Correios até os 49 anos, Bukowski sonhou a vida inteira em ser reconhecido pelo seu trabalho como escritor. Dono de um talento nato, o poeta usava a simplicidade e a singularidade dos fatos sociais mais rotineiros e transformava o cotidiano em obra de arte. 

Inconformado e, de forma contumaz, com a garrafa na mão, ele sentava em sua antiga máquina de escrever e, com uma sutileza surpreendente, deixava fluir seus pensamentos sem censura alguma. Uma de suas principais atividades durante anos foi a leitura de suas poesias em universidades e eventos culturais. Sua leitura debochada às vezes provocava escândalos e brigas com a plateia, algumas delas registradas em áudio. Na década de 1980, Bukowski desfrutou de certa fama, convivendo com artistas e tornando-se uma celebridade. Ele morreu de leucemia aos 73 anos, em 9 de março de 1994, e em seu túmulo se lê: “Don´t Try”. Com o tempo, apareceram alguns herdeiros seus na literatura, principalmente na questão do estilo de violência simbólica e despudorado de sua linguagem, e que acabou inclusive tendo desdobramentos no cinema. Mas poucos são aqueles que como ele, vivenciaram e permaneceram com naturalidade na sarjeta, fazendo dela, sua fonte plena de inspiração. De todo aquele inferno imundo e fedido, Bukowski fez o seu paraíso. Está presente em álbuns, músicas, letras, entre outros de bandas musicais, dentre as quais: Anthrax, Apollo 440, Modest Mouse, Leftover Crack, Bad Radio, uma das bandas de começo de carreira de Eddie Vedder, vocalista da banda Pearl Jam, Red Hot Chili Peppers, a Lupercais foi formada em 1995, é uma banda envolta na mística da poesia marginal.  Tendo como inspiração a cena gótica e pós-punk inglesa, além de bandas nacionais como Muzak e Finis Africae, a Lupercais se cercava das imagens da literatura maldita, do cinema alternativo e da contracultura que, sem tremor de Charles Bukowski a Nelson Pereira dos Santos (1928-2018) e inclusivamente a banda Macacos Espaciais, entre muitas outras.

Charles Bukowski vivia em um mundo atormentado e distorcido, quase que totalmente fora dos padrões impostos pela sociedade transformadora de seu tempo. O escritor nunca fez questão de esconder que seus trabalhos eram, quase sempre, autobiográficos. E sua falta de discrição era tão grande, que durante toda vida teve de lidar com a quebra de laços de amizade. Ele citava, sem qualquer preocupação, nomes e, quando muito inspirado, fazia duras críticas às pessoas que o cercavam. Algumas vezes os personagens “nada fictícios” ficavam sabendo das “peripécias do poeta bêbado após a publicação dos textos”. Sua obra surtiu tanto efeito de poder que alguns de seus contos e romances acabaram sendo adaptados para o cinema por alguns diretores. Inclusive, o próprio Bukowski recebeu diversos convites para escrever argumentos, apesar de assumir que nunca gostou muito de filmes. Bukowski tem sido erroneamente identificado com a geração Beat, por certos temas e estilo correlatos, mas sua vida e obra demonstraram essa inclinação. A cidade de Los Angeles, suas ruas e atmosfera social, foram sua principal influência, tratando de histórias com temas simples, misturando por exemplo “corridas de cavalo, prostitutas e música clássica”. Ele escreveu mais de cinquenta livros, sem contar milhares de publicações baratas para seu público receptor.

Bibliografia Geral Consultada.

PIRES, Paulo Roberto, Hélio Pellegrino - A Paixão Indignada. Rio de Janeiro: Editora Relume Dumará, 1998; BUKOWSKI, Charles, Notas de um Velho Safado. Porto Alegre: L&PM Editores, 2002; BECKER, Harold, Outsiders: Estudos da Sociologia do Desvio. Rio de Janeiro: Editor Zahar, 2008; SUSSEKIND, Pedro, Shakespeare, o Gênio Original. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 2008; TOLLINI, Aldo, Lo Zen: Storia, Scuole, Testi. Torino: Giulio Einaudi Editore, 2012; COMPAGNON, Antoine, O Demônio da Teoria. Literatura e Senso Comum. 2ª edição. Belo Horizonte: Editora da Universidade Federal de Minas Gerais, 2011; CORREDOR, Juan, Charles Bukowski: Retrato de un Solitario. Sevilla: Editora Renacimiento, 2014; BALBY, Luis Fernando Gonçalves, O Trágico em Charles Bukowski. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Literatura, Cultura e Contemporaneidade. Departamento de Letras. Centro de Teologia e Ciências Humanas. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2014; BARBOSA, Bruno de Paula, Factotum: A Tradução de Bukowski para o Cinema. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Centro de Humanidades. Departamento de Literatura. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2015; POE, Edgar Allan; ALCAZAR, Cesar, O Escaravelho de Ouro. Curitiba: Editora Arte e Letra, 2016; DEJOURS, Christophe, Primeiro, o Corpo: Corpo Biológico, Corpo Erótico e Senso Moral. Porto Alegre: Editora Dublinense, 2019; VELASCO, Samuel, O Conflito entre a Ética Protestante e o Tradicionalismo Laboral em Post office e Factotum, de Charles Bukowski. Dissertação de Mestrado.  Programa de Pós-Graduação em Letras. Centro de Letras e Ciências Humanas. Londrina: Universidade Estadual de Londrina, 2019; LIMA, Maria Erlane Mendonça, As Representações Simbólicas do Sutiã para as Discentes da Universidade Federal do Ceará. Trabalho de Conclusão de Curso.  Instituto de Cultura e Arte. Curso de Design de Moda. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2022; DIAS, Pablo Emmanuel Araújo, Mulheres Inventadas: Uma Leitura do Machismo Estrutural no Romance de Charles Bukowski. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Literatura e Interculturalidade. Campina Grande: Universidade Estadual da Paraíba, 2023; FABBRINI, Fernando, “Bukowski Revisitado”. In: https://www.otempo.com.br//2024/10/10/entre outros.

terça-feira, 15 de outubro de 2024

Bruna Surfistinha – Figuração & Metamorfose Social do Trabalho.

Temos razões suficientes para manter separados os dois momentos: trabalho e interação”. Jürgen Habermas

            As realidades sociais caracterizam-se pelo fato de que interesses particulares, ao nível ideológico, se colocam como interesses gerais. Os indivíduos devem representar seus interesses particulares, como se o interesse universal e o particular coincidissem. Enquanto esse estado de coisas se mantiver, encontramo-nos numa aporética situação de contradição. Por isso, a questão sobre a vida reta ou boa, refletiu Adorno, só poderia ser respondida por meio da “negação determinada” e isto, para ele, significava a práxis: nós poderíamos ainda assim tentar existir decentemente, mesmo quando o estado geral social, na condição do todo, impede-nos de fazê-lo, uma socialização heterônoma às formas socialmente sancionadas do ângulo social da moral repressiva, isto é, tendo em vista as condições e possibilidades de se agir como representante da vida reta, a única que seria possível no todo falso. A ética ou a filosofia moral se tornam uma luz que permite discernir entre aquilo que é certo ou não do ponto de vista ético. É um dos valores que não se encontra inserido no contexto de uma religião específica, mas no contexto da lei natural que rege aquilo que é conveniente para o ser humano de acordo com sua dignidade e natureza. A moral tem sua base na liberdade do ser humano através da qual uma pessoa pode realizar boas ações, mas que também tem a liberdade de praticar atitudes injustas.  A reflexão moral per se ajuda o ser humano realmente a tomar consciência da própria responsabilidade no trabalho e de condicionamento mormente de crescer como pessoa, tendo sempre claro o princípio da verdade e assim mesmo como do bem. A filosofia como reflexão moral é importante, uma vez que a retidão no trabalho ajuda o ser humano a melhorar como pessoa e a alcançar uma vida relativamente boa.

          Bruna Surfistinha é um filme brasileiro de 2011, dirigido por Marcus Baldini e estrelado por Deborah Secco, Cássio Gabus Mendes e Cristina Lago. É uma adaptação cinematográfica do best-seller literário: O Doce Veneno Do Escorpião: O Diário de uma Garota de Programa, de Raquel Pacheco. O longa-metragem teve orçamento de R$ 4 milhões. Até os 17 anos, Raquel Pacheco (Deborah Secco) era uma jovem comum da classe média paulistana que estudava num tradicional colégio da cidade. Antes de completar 18 anos, porém, ela fugiu de casa e tomou uma decisão surpreendente: se tornar garota de programa. Reconhecida pelo codinome “Bruna Surfistinha”, a garota de programa passou quatro anos recebendo em sua cama homens e mulheres de todos os tipos sociais, “satisfazendo seus desejos e fantasias em troca de dinheiro”. Na medida em que se tornava conceituada no meio profissional, a jovem fazia sucesso também na internet, narrando sua rotina num blog. Em janeiro de 2006, a Folha de S. Paulo informou que Raquel Pacheco, reconhecida Bruna Surfistinha, assinou contrato com uma produtora para transformar sua vida em filme. Ela não revelou detalhes do projeto. A filosofia moral mostra a responsabilidade humana em trazer esperança à sociedade que vive, uma vez que através de ações individuais exerce influência no bem comum. Esta filosofia moral toma como fundamental os princípios da conduta humana. Estas normas éticas dignificam a pessoa de valores como mostra a superação pessoal, o amor próprio, o respeito, o princípio do dever e a busca pela felicidade. 

Um princípio moral essencial é lembrar que o fim nem sempre justifica os meios. É neste sentido que o viver correto seria impossível, não tanto porque a sociedade, de certa maneira, é inerentemente má, mas porque a natureza do certo e do errado é tal que nunca podemos dizer como confiança que um eclipsou o outro. Parte do contraponto que podemos sentir ao uso que Adorno faz da ideia de liberdade é que a maneira como geralmente pensamos sobre liberdade evoluiu para evitar justamente esse tipo de conflito: uma tendência encontrada não apenas no nosso cotidiano do termo, mas também nas tendências predominantes na teoria política liberal. Quando usamos a palavra “liberdade” tendemos a querer dizer que nenhuma limitação física ou jurídica nos impede de agir segundo nossos desejos ou, vendo pelo outro lado, segundo a capacidade jurídica ou física de realizar muitas ações desejadas. Em termos políticos, este é o famoso contraste entre liberdades positivas e negativas: a liberdade como um conjunto de direitos que detemos como cidadão; a liberdade como um conjunto de restrições ao que os outros, ou o Estado, como o ex-líder sindical e presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva impõem. A liberdade, em todos os sentidos, está intimamente ligada à ideia do indivíduo. Os indivíduos detêm direitos como cidadão ou são protegidos contra a violação de suas liberdades. A autonomia do indivíduo é presumida ao invés de provada. Ao rejeitar nossa interdependência mútua frente aos outros e o mundo que nos sustenta, a moralidade torna-se mera justificativa para a continuação da Bellum omnium contra omnes, que Theodor Adorno, amplamente considerado como um dos principais pensadores do século XX em estética e filosofia, Thomas Hobbes, supõe como estado de natureza.              

          A identidade do ponto de vista histórico e filosófico exige vigilância. Para um olhar que individualiza as referências é uma categoria vinculada à identidade pessoal. A percepção de que as unidades ou sujeitos da significação são construídos levando em conta a realidade biopsicológica, apenas para subordiná-la aos mais bem elaborados caprichos das culturas é fundamental para compreendermos o investimento simbólico e seus condicionamentos sociais.  Nervosismo pertence a um grupo de variações em torno do termo nervos, que cresceu e se generalizou na linguagem erudita e leiga no decorrer do século XIX. A palavra originalmente era de uso corrente e de apropriação na história social da medicina filosófica clássica.  Tendo sofrido alteração relativamente brusca com a consolidação da representação do “sistema nervoso”, em meados do século XVIII. De elemento físico, entre outros da estrutura corporal animal, passaram os nervos a concentrar dimensões imaginárias fundamentais da concepção de sujeito característica da modernidade, o período histórico que se caracteriza por uma série de mudanças na sociedade, na cultura e na economia. A modernidade é marcada por uma ruptura tanto ideológica quanto política na vida cotidiana (métier) pautada na esfera da religião e pela predominância da racionalidade. Mas é originária em Walter Benjamin da ideologiaA noção de campo religioso, por outro lado, é predominantmente mais relacional, ideologicamente refinada, mais sutil e coloca em confronto per se as diferentes posições e definições de religião.

            De elemento físico, entre outros aspectos da estrutura corporal animal, passaram os nervos a concentrar dimensões imaginárias individuais e coletivas fundamentais para a concepção de sujeito que enuncia. A característica de ser constituído de modo universalmente idêntico garantia que, simultaneamente método de trabalho e processo social de trabalho e forma social de comunicação fosse empiricamente fundada e tendente ao acordo geral. Esse modelo desenvolveu-se em formas culturais de grande importância, compondo um conjunto de práticas e saberes sociais que Duarte (2010) nomeou de “configuração nervosa” e que paulatinamente ocupou o lugar analítico de configuração anterior, de longa história, que se pode resumir sob o rótulo de humoral ou melancólica. Algumas das características prístinas da nova configuração foram sendo moduladas durante o século XIX, quando começaram a se confrontar com o modelo comparativo da configuração psicológica, embora continuem persistindo nitidamente e presentes nos desenvolvimentos mais recentes das práticas neurológicas e psiquiátricas.

      Ponto nevrálgico dessas modulações consistiu na progressiva subversão do universalismo igualitário original por sucessivas teorias da diferença nervosa – a mais importante das quais afetou certamente a representação do gênero feminino (Fortunati, 2016). A teoria da degeneração construiu-se sobre um conjunto de critérios de diferenciação de raça, gênero, comportamento e civilização, e consolidou uma via de interpretação do humano que se tornaria onipresente da segunda metade do século XIX até a 2ª guerra mundial. Sua consolidação ocorre em paralelo com as preocupações atinentes à relação do corpo humano com o ambiente e da nutrição animal derivou-se essas preocupações, assim como saberes que vieram a se consolidar nas rubricas do sanitarismo e do higienismo. A configuração nervosa, constituída inicialmente por construção anátomo funcional, veio assim abrigar a passagem através das interpretações físicas e morais características tanto do utilitarismo de Jeremy Bentham às implicações infligidas sobre a vigilância e punição da analítica do poder de Michel Foucault.

           Está bem à vista o método através do qual o trabalho passado se transforma todos os dias em capital. Este é o motivo pelo qual os economistas cobrem de elogios os méritos do trabalho passado. De fato, é este componente que, socialmente sob a forma de meios de trabalho, colabora depois de novo no processo laborativo vivo: por isso a importância do trabalho é atribuída à figura do capital que ele assume. A forma capitalista de trabalho coincide neste caso com o meio de produção no qual o trabalho se objetivou a tal ponto que os agentes práticos da produção capitalista e os seus ideólogos “são incapazes de pensar o meio de produção destacado da máscara social antagonista de que se reveste”. Assim, o trabalho pretérito, como qualquer força natural humana, fornece um serviço gratuito ao capital: e quando é investido e posto em movimento pelo trabalho vivo, acumula-se e reproduz-se em larga escala como capital. Mais difícil é chegar a apreender o método pelo qual o trabalho vivo é completamente apanhado e englobado dentro deste processo, como parte necessária sobre o modo capitalista de pensar. O modo de produção apresenta a si próprio a mais-valia e o valor da força-trabalho “como partes alíquotas da produção de valor”: é isso que esconde o carácter específico da relação capitalista, ou seja, a troca do capital variável por força-trabalho viva e a exclusão no produto.

       O concreto é concreto, dizia Marx (2011: 248) por ser a síntese de múltiplas determinações, logo, unidade da diversidade. É por isso que ele é para o pensamento um processo de síntese, um resultado, e não um ponto de partida, apesar de ser o verdadeiro ponto de partida e, portanto, igualmente o ponto de partida da observação imediata e da representação. O primeiro passo reduziu a plenitude da representação a uma determinação abstrata; pelo segundo, as determinações abstratas conduzem à reprodução do concreto pela via do pensamento. Por isso Hegel caiu na ilusão de conceber o real, como resultado do pensamento, que se concentra em si mesmo, enquanto o método que consiste em elevar-se do abstrato ao concreto é para o pensamento precisamente a maneira de se apropriar do concreto, de o reproduzir como concreto espiritual. Mas este não é de modo nenhum o processo da gênese do próprio concreto. Na análise metodológica de Marx, o todo, na forma em que aparece no espírito como todo-de-pensamento, é um produto do cérebro pensante, que se apropria do mundo do único modo que lhe é possível, de um modo que difere da apropriação desse mundo pela arte, pela religião, pelo espírito prático. Antes, como depois, o objeto real conserva a sua independência fora do espírito; e isso durante o tempo em que o espírito tiver uma atividade meramente especulativa, meramente teórica. Por consequência,  no emprego do método teórico é necessário que o objeto, a sociedade, esteja constantemente presente no espírito como dado primeiro.  

            O trabalho torna-se, nesta base, a mediação necessária para que a força-trabalho se transforme em salário: a condição para que o trabalho vivo se apresente unicamente como capital variável, a força de trabalho unicamente como parte do capital. O valor, no qual se representa a parte retribuída da jornada de trabalho, de aparecer então como valor ou preço da jornada de trabalho em geral. No salário desaparece precisamente todo o traço de divisão da jornada de trabalho em trabalho necessário e mais-valia. Todo o trabalho surge como trabalho pago: é isto que, segundo Tronti (1976: 41), distingue o trabalho assalariado das outras formas históricas do trabalho. Quanto mais se desenvolve a produção capitalista e o sistema das suas forças produtivas, tanto mais a parte paga e a parte não paga do trabalho se confundem de modo inseparável. As diversas formas de pagamento do salário não são mais do que modos diversos de exprimir, a diversos níveis, a natureza constante deste processo. Por força-de-trabalho (Arbeitskraft) ou capacidade de trabalho (Arbeitsvermogen) entendemos o conjunto das atitudes físicas e intelectuais que existem na corporeidade, ou seja, na personalidade viva de um homem e que este põe em movimento quando produz valores de uso. Compreende-se a decisiva fase que a metamorfose do valor e preço da força-trabalho sob a forma de salário no valor e preço do próprio trabalho. Sob esta forma fenomênica que torna invisível a relação real de trabalho e demonstra o seu oposto, fundam-se as ideias jurídicas do operário e capitalista, todas as mistificações inerentes à composição orgânica capitalsita do modo de produção, todas as suas ilusões sobre a liberdade. O salário nada mais é do que o trabalho assalariado considerado praticamente de outro ponto de vista.

O conceito de figuração distingue-se de outros teóricos da sociologia por incluir expressamente os seres humanos em formação social. Contrasta, portanto, decididamente com um tipo amplamente dominante de formação de conceitos que se desenvolve sobretudo na investigação de objetos sem vida, portanto no campo da física e da filosofia para ela orientada. Há figurações de estrelas, assim como de plantas e de animais. Mas apenas os seres humanos formam figurações uns com os outros. O modo de sua vida conjunta em grupos grandes e pequenos é, de certa maneira, singular e sempre co-determinado pela transmissão de conhecimento de uma geração a outra, por tanto por meio do ingresso singular do mundo simbólico específico de uma figuração já existente de seres humanos. Às quatro dimensões espaço-temporais indissoluvelmente ligadas se soma, no caso dos seres humanos, uma quinta, a dos símbolos socialmente apreendidos. Sem sua apropriação, sem, por exemplo, o aprendizado de uma determinada língua específica social, os seres humanos não seriam capazes de se orientar no seu mundo nem de se comunicar uns com os outros. Um ser humano adulto, que não teve acesso aos símbolos da língua e do conhecimento de determinado grupo permanece fora de todas as figurações humanas, pois não é um ser humano. As definições de controle social são demasiado amplas e vagas, e, seria legítimo indagar, escolhendo-as mais ou menos ao acaso, para inferir que resultam de um controle, estímulo ou complexo de estímulos que provoca determinada reação.

Todos os estímulos são controles, pois representam a direção do comportamento por influências grupais, estimulando ou inibindo a ação individual ou grupal. O controle social pode ser definido como a soma total ou, antes, o conjunto de padrões culturais, símbolos sociais, signos coletivos, valores culturais, ideias e idealidades, tanto como atos quanto como processos diretamente ligados a eles, pelo qual a sociedade inclusiva, cada grupo particular, e cada membro individual participante superam as tensões e os conflitos entre si, através do equilíbrio temporário, e se dispõem a novos esforços criativos. Em toda a dimensão da vida associativa deverá haver algum ajustamento de relações sociais tendentes a prevenir a interferência de direitos e privilégios entre os indivíduos. De maneira mais específica, são três as funções do estabelecidas pelo controle social: a obtenção e a manutenção da ordem social, da proteção social e da eficiência. O seu emprego hic et nunc na investigação sociológica contribuiu consideravelmente para produzir uma simplificação ou redução na análise dos problemas sociais, conseguida proporcionalmente, graças à compreensão positiva da integração das contradições correspondentes no sistema de organização das sociedades e da importância relativa de cada um deles, como e enquanto expressão do jogo social.  Embora obscuro e equívoco, em seu significado corrente, o conceito de controle social é necessário à investigação sociológica na modernidade, encontraram um sistema de referências propício à sua crítica científica, seleção lógica e coordenação metódica.  

O crescimento de um jovem convivendo e habitando comum em figurações humanas, como processo social e experiência, assim como o aprendizado de um determinado esquema de autorregulação na relação com os seres humanos, é condição indispensável ao desenvolvimento rumo à humanidade. Socialização e individualização de um ser humano, são nomes diferentes para o processo. Cada ser humano assemelha-se aos outros, e é, ao mesmo tempo, diferente de todos os outros. O mais das vezes, as teorias sociológicas deixam sem resolver o problema da relação entre indivíduo e sociedade. Quando se fala que uma criança se torna um indivíduo humano por meio da integração em determinadas figurações, como, por exemplo, em famílias, em classes escolares, em comunidades aldeãs ou em Estados, assim como mediante a apropriação e reelaboração de um patrimônio simbólico social, conduz-se o pensamento por entre dois grandes perigos da teoria e das ciências humanas: o perigo de partir de um indivíduo a-social, portanto como que de um agente que existe por si mesmo; e o perigo de postular um “sistema”, um “todo”, em suma, uma sociedade humana que existiria para além do ser humano singular, para além dos indivíduos. Embora não possuam um começo absoluto, não tendo nenhuma outra substância a não ser a vivência dentre seres humanos gerados familiarmente por pais e mães, as sociedades humanas não são simplesmente um aglomerado cumulativo dessas pessoas. O convívio dos seres humanos em sociedades tem sempre, comparativamente falando, mesmo no caos, sociologicamente na desintegração parcialmente, na maior desordem social, uma forma absolutamente determinada. É isso que o conceito para Norbert Elias de fato exprime.

A existência desse impulso sem objeto de pensamento, por assim dizer incessantemente fechado em si, acento premonitório do amor, puro produto do interior e, no entanto, já acento de amor, é a prova mais decisiva em favor da essência central puramente interior do fenômeno amor, muitas vezes dissimulado sob um modo de representação pouco claro, segundo o qual o amor seria uma espécie de surpresa ou de violência vindas do exterior, tendo su símbolo mais pertinente no “filtro do amor”, em vez de uma maneira de ser, de uma modalidade e de uma orientação que a vida como tal toma por si mesma – como se o amor viesse de seu objeto, quando, na realidade, vai em direção a ele. De fato, a representação social do amor é o sentimento que, fora dos sentimentos religiosos, se liga mais estreita e mais incondicionalmente a seu objeto. À acuidade com a qual ele brota do sujeito corresponde a acuidade igual com que ele se dirige para o objeto. O que é decisivo aqui é que nenhuma instância de caráter geral vem se interpor. Se venero alguém. É pela mediação da qualidade de certo modo geral de venerabilidade que, em sua realidade particular, permanece ligada à imagem desse por tanto tempo quanto eu o venerar. Do mesmo modo, no homem que temo, o caráter terrível e o motivo que o provocou estão intimamente ligados; mesmo o homem que odeio não é, na maioria dos casos separado em minha representação social da causa desse ódio – é esta uma das diferenças entre amor e ódio que desmente a assimilação que comumente se faz deles. Mas o específico do amor é excluir do amor existente a qualidade mediadora complexa de seu objeto, sempre relativamente geral, que provocou o amor por ele. Ele permanece como intenção direta e central dirigida para esse objeto abstrato, e revela a sua natureza incomparável em que sobrevive ao desaparecimento indubitavelmente do que foi sua razão de nascer.

Esta constelação, que engloba inúmeros graus, desde a frivolidade até a mais alta intensidade, é vivida segundo o mesmo modelo, seja em relação a uma mulher ou a um objeto, a uma ideia ou a um amigo, à pátria ou a uma divindade. Isso deve ser solidamente estabelecido em primeiro lugar, se quisermos elucidar em sua estrutura seu significado mais restrito, o que se eleva no terreno da sexualidade. A ligeireza com que a opinião corrente alia instinto sexual a amor lança talvez uma das pontes mais enganadoras na paisagem psicológica exageradamente rica em construções desse gênero. Quando, ademais, ela penetra no domínio da psicologia que se dá por científica, temos com demasiada frequência a impressão de que esta última caiu nas mãos de açougueiros. Por outro lado, o que é óbvio, não podemos afastar pura e simplesmente essa relação. Nossa emoção sexual, afirma Simmel, no ensaio sobre a filosofia do amor, desenrola-se em dois níveis de significação. Por trás do arrebatamento e do desejo, da realização e do prazer sentidos, diretamente subjetivos, delineia-se, consequência disso tudo, a reprodução da espécie. Pela propagação contínua do plasma germinal, a vida corre infinitamente, atravessando todos estágios ou levada por eles de ponta a ponta. Por mais insuficiente, por mais preso a um estreito simbolismo humano que esteja o conceito de objetivo e de meios em presença da misteriosa realização da vida, devemos qualificar essa emoção sexual de meio habitual de que a vida serve para a manutenção da espécie, confiando a consecução desse objetivo não mais meramente a um mecanismo fisiológico, no sentido lato do termo, mas mediações psíquicas.

Enfim, a pulsão, dirigida a princípio, tanto no sentido genérico quanto no sentido hedonista, ao outro sexo enquanto tal, parece ter diferenciado cada vez mais seu objeto, à medida que seus suportes se diferenciavam, até singularizá-lo. Claro, a pulsão não se torna amor pelo simples fato de sua individualização; esta última pode ser refinadamente hedonista, ou instinto vital-teleológico para o parceiro apto a procriar os melhores filhos.  Mas, indubitavelmente, ela cria uma disposição formativa e, por assim dizer, um marco para essa exclusividade que constitui a essência do amor, mesmo quando seu sujeito se volta para uma pluralidade de objetos. Não duvidamos em absoluto que no seio do que em termos de representação social se chama “atração dos sexos” constitui-se o primeiro factum, ou, se quiserem, a prefiguração do amor. A vida se metamorfoseia também nessa produção, traz sua corrente à altura dessa onda, cuja crista, porém, sobressai livremente acima dela. Se considerarmos o processo da vida absolutamente como um dispositivo de meios como um trabalho a serviço desse objetivo - a vida – e se levarmos em conta o significado simplesmente efetivo do amor para a propagação da espécie, então este também é um dos meios que a vida se dá para si e a partir de si.

O corpo próprio está no mundo assim como o coração no organismo; ele mantém o espetáculo visível continuamente em vida, anima-o a alimenta-o interiormente, forma com ele um sistema. Quando caminho em meu apartamento, os diferentes aspectos sob os quais ele se apresenta a mim não poderiam aparecer-me como os perfis de uma mesma coisa se eu não soubesse que cada um deles representa o apartamento visto daqui ou visto dali, se eu não tivesse consciência de meu próprio movimento e de meu corpo como idêntico através das fases desse movimento. Posso sobrevoar o apartamento em pensamento, imaginá-lo ou desenhar sua planta no papel, mas mesmo então eu não poderia apreender as unidades do objeto sem a mediação da experiência corporal, pois aquilo que chamo de uma planta é apenas uma perspectiva mais ampla: é o apartamento “visto de cima”, e, se posso resumir nela todas as perspectivas costumeiras, é sob a condição de saber um mesmo sujeito encarnado ver alternadamente de diferentes posições. Responder-se-á talvez que, recolocando o objeto na experiência corporal como um dos polos dessa experiência, nós lhe retiramos justamente aquilo que faz a sua objetividade. Do ponto de vista de meu corpo, nunca vejo iguais as seis faces do cubo, mesmo se ele é de vidro, e, a palavra “cubo” tem um sentido; o cubo ele mesmo, o cubo de verdade, para além das aparências sensíveis, tem suas seis fáceis iguais.

O processo de concentração física de força pública se acompanhada de uma desmobilização da violência ordinária. A violência física só pode ser aplicada por um agrupamento especializado, especialmente mandatado para esse fim, claramente identificado no seio da sociedade pelo uniforme, portanto um agrupamento simbólico, centralizado e disciplinado. A noção de disciplina, sobre a qual Max Weber escreveu páginas magníficas, é capital: não se pode concentrar a força física sem, ao mesmo tempo, controla-la, do contrário é o desvio da violência física, e o desvio da violência física está para a violência física assim como o desvio de capitais está para a dimensão econômica: é o equivalente da concussão. A violência física pode ser concentrada num corpo formado para esse fim, claramente identificado em nome da sociedade pelo uniforme simbólico, especializado e disciplinado, isto é, capaz de obedecer como um só homem a uma ordem central que, em si mesma, não é geradora de nenhuma ordem. O conjunto das instituições mandatadas para garantir a ordem, a saber, as forças públicas e de justiça, são, portanto, separadas pouco a pouco do mundo social corrente. Essa concentração do capital físico se realiza em um duplo contexto. Para uns, o exército profissional está ligado à guerra, assim como o imposto; mas há também a guerra interior, a guerra civil, a arrecadação do imposto como uma espécie de guerra civil. 

A estratégia do passado que visava organizar novos espaços urbanos transformou-se meramente em artifícios políticos e muito pouco em torno de reabilitação de patrimônios. Depois de haver inconscientemente projetado a cidade futura, torna-se uma cidade frequentada por sua estranheza, muito mais elevada aos excessos que reduzem o presente, a nada mais que simples escombros como caixas d`água que deixam escapar seu domínio do tempo. Mas os técnicos se denunciam já no quadriculamento que atrapalhavam os planejadores funcionalistas que deviam fazer tábula rasa das opacidades contidas nos projetos de cidades transparentes. Afinal qual o urbanismo que não descontroem mais do que uma guerra a questão da memória e da história aldeã, operária, com casas desfiguradas, fábricas desativadas, universidades sem vida, cacos de histórias naufragadas que hoje formam as ruínas de uma cidade fantasma ou fantasmas da cidade, antes modernista, cidade de massa, homogênea, como os lapsos de uma linguagem que se desconhece, quem sabe inconsciente. Mas elas surpreendem. O imaginário individual e coletivo (os mitos), em primeiro lugar, são as coisas que o soletram. Eles têm uma função que consiste em abrir uma profundidade no presente, mas não têm mais o conteúdo que provê de sentido a estranheza do passado. Suas histórias políticas deixam de ser pedagógicas para inferir um final claramente trágico. 

O Estado se constitui em relação à forma de governo um duplo contexto: de um lado, efeitos de poder político em relação a outros Estados, atuais ou potenciais, isto é, os princípios concorrentes – portanto, precisa concentrar “capital de força física” para travar a guerra pela terra, pelos territórios; de outro lado, em relação a um contexto interno, a contrapoderes, isto é, príncipes concorrentes ou classes dominadas que resistem à arrecadação do imposto ou ao recrutamento de soldados. Esses dois fatores favorecem a criação de exércitos poderosos dentro dos quais se distinguem progressivamente forças propriamente militares e forças propriamente policiais destinadas à manutenção da ordem interna. Essa distinção exército/polícia, evidente hoje, tem uma genealogia extremamente lenta, as duas forças têm sido por muito tempo confundido. O desenvolvimento do imposto está ligado às despesas de guerra. O nascimento do imposto é simultâneo a uma acumulação extraordinária de capital detido pelos profissionais da gestão burocrática e à cumulação de um imenso capital informacional. É o vínculo institucional entre Estado e estatística: o Estado está associado a um conhecimento racional do mundo social e governamental. A estatística tem como representação técnico-metodológica o campo da matemática que relaciona fatos e números em que há métodos que nos possibilita coletar dados e analisá-los, sendo possível realizar alguma interpretação deles.

A institucionalização do imposto representa o desfecho de uma espécie de guerra interior travada pelos agentes do Estado contra as resistências dos sujeitos investidos de cultura. Os historiadores se perguntam, com muita razão, em que momento aparece o sentimento de pertencer a um Estado, que não é necessariamente o que se chama de patriotismo, o sentimento de ser um dos sujeitos do Estado. A experiência de pertencimento a uma unidade definida está muito ligada à experiência da tributação. Nós nos descobrimos como sujeitos descobrindo-nos como tributáveis, contribuintes. Há uma invenção extraordinária de medidas jurídico-policiais destinadas a fazer pagarem os maus pagadores, que são a ordem de prisão e a responsabilidade in solidum. Enfim, a metáfora de Norbert Elias dizendo que o Estado não passa de uma “extorsão legítima” é mais que uma metáfora. Tendo em vista que se trata de criar um corpo de agentes encarregados da coleta e capazes de operá-la sem desviá-la em proveito próprio. Não queremos perder de vista o que é factualmente, guardadas as proporções na Alemanha dos anos 1970: uma conjuntura política e econômica marcada pelo espírito anárquico e rebelde, a jovem Rita Vogt é atraída para o movimento social e político de ação individualista, motivada pelo seu sentimento de justiça e amor por Andi, líder do grupo de ativistas revolucionários.

Em março de 2007, mutatis mutandis, a Agência Nacional do Cinema aprovou a captação, por meio de leis de incentivo fiscal, de R$263 mil para desenvolver o projeto. Em 16 de julho de 2007, o Ministério da Cultura liberou a captação de R$3,998,621,65, por meio de leis de incentivo fiscal, para a produtora carioca TV Zero rodar o filme, até então com o título: O Doce Veneno do Escorpião. A aprovação foi publicada no Diário Oficial da União (DOU). Em seu blog, Bruna Surfistinha deixou o seguinte comentário sobre a liberação: “Fui surpreendida pela notícia. Show de bola, hein?”. O filme tomou de “liberdades ficcionais” em relação aos fatos narrados por Raquel Pacheco em O Doce Veneno do Escorpião, Baldini conta que a própria Raquel, ao ver um dos primeiros cortes (montagens) do filme, achou tudo “muito real e verdadeiro, mesmo as coisas não tendo acontecido exatamente daquela forma”. Mas “cerca de 60% é ficção”, disse Baldini. O filme não é exatamente a cópia fiel da biografia O Doce Veneno do Escorpião. A Agência Nacional do Cinema (Ancine) é um órgão oficial do governo federal do Brasil, constituída como agência reguladora, com sede na cidade de Brasília, cujo objetivo é fomentar, regular e fiscalizar a indústria cinematográfica e videofonográfica nacional. A agência foi criada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) em 6 de setembro de 2001 através da Medida Provisória nº 2.228-1, posteriormente regulamentada pela Lei nº 10.454 ocorrida em 13 de maio de 2002. Com isso, passou a ser dotada institucionalmente de autonomia administrativa e financeira e vinculada diretamente à Presidência da República Federativa do Brasil.

A Ancine, constituída como autarquia em regime especial, é administrada por uma diretoria colegiada, genuinamente composta através de um Diretor-Presidente e três Diretores, com mandatos fixos e não coincidentes, aprovados pelo plenário do Senado Federal. Subordinadas à estrutura da Diretoria Colegiada, estão as Superintendências de Fomento, Registro, Acompanhamento de Mercado, Desenvolvimento Econômico e Fiscalização. O primeiro Diretor-Presidente da Ancine foi o cineasta Gustavo Dahl (2001-2006). Neste período, também fizeram parte da diretoria Augusto Sevá, João Eustáquio da Silveira e Lia Gomensoro Lopes. Manoel Rangel foi nomeado em 2005 para a diretoria, para o lugar deixado pela saída de Sevá, e assumiu o posto de diretor-presidente ao fim do mandato de Gustavo Dahl, em 2007. Permaneceu no cargo até 2017, quando foi substituído interinamente por Débora Regina Ivanov Gomes, nascida em São Paulo, em 12 de agosto de 1961 é advogada e produtora de cinema brasileira. Formou-se em Direito pela Faculdades Metropolitanas Unidas, em 1985. Foi diretora do Sindicato da Indústria do Audiovisual do Estado de São Paulo e integrou o Conselho Consultivo da SPCine. Fundou em Santos o Instituto Querô, Organização Não-Governamental (ONG) voltada para jovens de baixa renda da região portuária de Santos que promove capacitação na indústria audiovisual. Em 2000, tornou-se sócia da produtora Gullane Filmes. Produziu mais de 60 filmes, entre eles: O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006), As Melhores Coisas do Mundo (2010), Até Que a Sorte Nos Separe (2012), Uma História de Amor e Fúria (2013), Que Horas Ela Volta? (2015). Foi nomeada diretora da Agência Nacional do Cinema em 2015. Em maio de 2017, assumiu a presidência do órgão, após a saída de Manoel Rangel. Em janeiro de 2018, Christian de Castro Oliveira é nomeado Diretor-Presidente da Agência.

Em 13 de outubro de 2003, a Agência passou a ser vinculada ao Ministério da Cultura. Com a extinção deste ministério em 2019, foi vinculada ao Ministério da Cidadania. Voltou a ser vinculada ao Ministério da Cultura no terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva. O terceiro mandato do governo Lula, também reconhecidamente chamado de governo Lula III, é o período atual da história política brasileira em que Luiz Inácio Lula da Silva exerce a presidência da República desde 1º de janeiro de 2023, representando seu retorno constitucional ao cargo para um terceiro mandato após ter sido presidente de 2003 a 2011. Lula, do Partido dos Trabalhadores (PT), foi escolhido por voto popular direto na eleição presidencial de 2022, derrotando o candidato anterior à reeleição. Sob o slogan “União e Reconstrução”, o governo era composto inicialmente por 37 ministérios, quatorze a mais que o governo anterior, atualmente, conta com 39 ministérios criados, se igualando, em número de ministérios, ao segundo governo da ex-presidente da República Dilma Rousseff. Em entrevista à revista francesa Paris Match em 20 de maio de 2021, Lula confirmou sua pré-candidatura na eleição presidencial no ano seguinte. Buscando formar estrategicamente uma frente ampla com apoio pluralista de figuras da sociedade civil e essencialmente políticas de outros espectros sociais e políticos, o Partido dos Trabalhadores convidou Geraldo Alckmin, adversário político de Lula, para ser seu candidato a vice-presidente em uma coligação integrada por agremiações e partidos: PSB, PC do B, PV, PSOL, REDE, Solidariedade, Avante e Agir.

Lula terminou o primeiro turno na primeira colocação com 48,43% dos votos válidos, contra 43,20% de Jair Bolsonaro, com quem disputou o segundo turno, tendo o vencido por 50,90% a 49,10% do eleitorado, o resultado mais acirrado historicamente de uma eleição presidencial no Brasil. Empossado presidente em 1º de janeiro de 2023, Lula foi o primeiro mandatário eleito para três mandatos e o primeiro desde Getúlio Vargas (1882-1954) a exercer mais de um mandato não consecutivo, sendo também, aos 77 anos, o político mais idoso a assumir o cargo. Em seu discurso após a vitória nas urnas, Lula adotou um tom moderado, falando que pretende “pacificar o país”, mas de forma indireta chamou seu adversário político de autoritário e fascista, ao dizer que derrotou o autoritarismo e o fascismo, como já vinha se referindo antes da vitória nas eleições devido ao opositor ter frequentemente flertado com esse regime, e posteriormente, antes da sua posse, afirmou: “vamos ter que derrotar o bolsonarismo nas ruas”, em uma campanha marcada pela polarização e pelo maniqueísmo, no qual a campanha de Lula tentou caracterizá-lo como a única alternativa no segundo turno para quem acreditava na democracia, enquanto que o outro candidato buscou associar Lula  no sentido político-ideológico ao “comunismo e aos regimes antidemocráticos de esquerda como os da Venezuela, Cuba, e Nicarágua”. Em 1º de novembro de 2022, o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin foi definido como coordenador da equipe de transição do governo.

No dia 3, Alckmin e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, reuniram-se para iniciar a transição do governo. O vice-presidente eleito também se encontrou com lideranças políticas com vistas a alterar o orçamento federal ainda em 2022, de modo a viabilizar objetivos do futuro governo. Sua equipe de transição, composta por 913 integrantes, foi considerada a mais numerosa da história social e política do Brasil. No entanto, a composição consistia, majoritariamente, de voluntários, com apenas 22 integrantes sendo remunerados, mesmo com a legislação permitindo até 50 vagas com salários. Dos cargos com remuneração, os salários variam em níveis de 2.701,46 a 17.327,65 reais, estes gastos somaram 242.645,32 reais para cada mês da transição. A equipe de transição política de governo, assim, reservou 1,6 milhão de reais, quer dizer, sendo o menor orçamento disponível para uma transição política de governo em termos reais desde 2006, considerando a inflação, ano que passou a incluir reserva para gastos com a transição, mesmo em casos de reeleição, enquanto o da transição anteriormente havia gasto “todos os 2,9 milhões de reais que tinha disponíveis, o mais alto desde o supracitado ano”. Em 20 de novembro de 2022, quando a equipe ainda possuía cerca de 300 integrantes, ela foi marcada por um caráter diverso, sendo politicamente ampla e buscou ser representativa do povo brasileiro. À época, era composta por, 64% de homens brancos, com 17 partidos na equipe de transição, entre eles o PP até então aliado do ex-presidente opositor no congresso nacional, sendo 1/3 pertencente ao Partido dos Trabalhadores, a maioria até então paulistas, e de variados grupos étnicos.

O Sudeste era predominante com 48% dos membros, seguido do Nordeste com 19% dos membros, sendo que brancos representavam 75%, enquanto os negros (pardos e pretos, inclusive autodeclarados) somavam 18%. Havia, ainda, 11 indígenas (3,8% do total) e quatro integrantes de origem asiática. Uma das primeiras medidas anunciadas pela equipe de transição foi a busca de recursos para garantir que fossem cumpridas as promessas de Lula na campanha eleitoral, como a manutenção do Auxílio Brasil que voltaria a se chamar Bolsa Família, no valor de 600 reais por família, que custaria R$ 52 bilhões, com acréscimo de 150 reais para cada criança de até 6 anos de idade, que custaria R$ 18 bilhões, o reajuste do salário mínimo acima da inflação e a correção das tabelas do imposto de renda e do Sistema Único de Saúde, dentre outras medidas, que não cabem no orçamento de 2023. As soluções possíveis encontradas pela equipe de Lula foram a aprovação de uma Proposta de Emenda à Constituição autorizando que o teto de gastos seja ultrapassado, de forma excepcionalmente, inicialmente, em cerca de 200 bilhões durante o período por quatro anos, ou a abertura de crédito extraordinário ao orçamento, com prévio aval do Tribunal de Contas da União (TCU), para evitar questionamentos sobre a constitucionalidade da medida. De forma extraordinária o Vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin discursa na abertura dos trabalhos do Governo de Transição, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília.

No filme Bruna Surfistinha, por exemplo, Raquel tem um irmão responsável pela maioria dos conflitos de família, quando na vida real, filha adotiva de um casal de classe média, ela tem duas irmãs de criação. – “Todo filme que adapta uma obra vai ter a visão do diretor, que potencializa alguns fatos e escolhe o olhar para a história. Nunca quisemos fazer uma biografia. É um filme de ficção baseado em uma história real”, justifica Baldini. Do ponto de vista técnico-metodológico Raquel concedia entrevistas quinzenais para Baldini nas quais contou detalhes de sua vida de “garota de programa de luxo”. Os encontros são filmados e era possível que, além de dar subsídios para o roteiro do filme, o material seja utilizado posteriormente para um documentário sobre ela: “ele quer saber todos os detalhes, como era a minha reação perante os clientes, história da minha infância, como foi o dia em que eu fugi da minha casa”. Raquel Pacheco também se encontrou em 2006 com Karim Aïnouz e Antônia Pellegrino, que estiveram em seu apartamento, em São Paulo. Aïnouz falou sobre a adaptação ao cinema do livro O Doce Veneno do Escorpião, diário da ex-prostituta Raquel Pacheco, a Bruna Surfistinha.

Ele comenta o teor pragmático do filme, que relembra o cotidiano de Bruna Surfistinha como “prostituta de luxo e como blogueira-celebridade”. Para ele, não será uma adaptação moralista nem escandalizante. – “Não acho que o Marcus vai seguir por esse caminho. É um filme de personagem - de como ela se expõe [com o blog e com o livro] atrás de uma identidade, de uma visibilidade até mesmo diante da própria família”. Aïnouz assinou o argumento juntamente com a escritora Antônia Pellegrino e o jornalista Jorge Tarquini, coautor do livro. Egresso da publicidade, Marcus Vinícius Baldini é reconhecido por ter dirigido o DVD do Bourbon Street de sua ex-mulher, a cantora Maria Rita. Essas conversas irão se somar aos relatos etnográficos da ex-garota de programa no seu livro. Logo, Bruna Surfistinha se tornou aparentemente uma “celebridade” e escreveu o livro O Doce Veneno do Escorpião, que vendeu mais de 300 mil cópias e deu origem ao filme assinado pelo publicitário Marcos Baldini. A produtora de cinema TV Zero começou, em outubro de 2007, em São Paulo, a fazer testes para montar o elenco do filme. Os testes terminariam em dezembro. A intenção era selecionar atores para os 35 personagens previstos. O longa-metragem de Marcus Baldini estava previsto para ser rodado em 2008. Os testes aconteceram em um estúdio de Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo. A primeira etapa era livre; as atrizes poderiam improvisar.

Em fila diante da porta do estúdio, aguardavam a vez de entrar, entregavam sua ficha ao responsável pelo processo de seleção de elenco do filme, Rodrigo Pitta, e se posicionavam diante da câmera. As mais notáveis já testadas foram Paula Picarelli e Natallia Rodrigues. Karen Junqueira, a primeira escalada para o papel de Bruna, anunciou em comunicado que não participaria mais do longa, porque “não poderia cumprir um roteiro de filmagens com dedicação única e integral, de acordo com as exigências do filme”. Deborah Secco assinou contrato para o papel em 19 de agosto de 2009. Bruna Surfistinha diz que chorou ao saber que seria interpretada por Deborah Secco: - “Fui pega de surpresa com a notícia de que a Deborah Secco me interpretará! Fiquei tão feliz que não conseguia me conter, parecia uma doida, não sabia se chorava (de fato de emoção) ou se dava risada. Acompanho a Deborah desde Confissões de Adolescente”. Deborah Secco ficou reconhecida após interpretar socialmente a personagem Carol nesta série em 1994. Desde então, a atriz brasileira teve outros papéis sociais de interpretação de sucesso na televisão e no cinema: Íris em Laços de Família (2000); Darlene em Celebridade (2003/2004); Sol em América; (2005); Natalie Lamour em Insensato Coração (2011); Karola em Segundo Sol; Karola é uma personagem da novela Segundo Sol (2018) interpretada pela consagrada atriz Deborah Secco.

A ex-garota de programa é uma vilã que comete vários crimes, como: inventar que está grávida para não ser dispensada do emprego; armar para o marido de Luzia reatar o casamento; roubar o filho da rival e criá-lo como se fosse seu; denunciar a marisqueira à polícia; Karola tem um passado difícil e triste na infância e na juventude, que ela descobre ao conversar com a mãe biológica, Laureta, interpretada por Adriana Esteves. Karola também vai ao orfanato onde foi criada para descobrir suas origens e reencontrar a freira que tomou conta dela. Lá, ela descobre que Severo Athayde é seu pai. Em uma tentativa de matar Severo, Karola acaba disparando e acertando o braço do ex-amante. Valentim, que estava no local, decide ir sozinho para salvar o pai e Karola acaba morrendo. Alexia Máximo em Salve-se Quem Puder (2020); Moema em Caramuru - A Invenção do Brasil (2001); Judite em Boa Sorte (2014); Bruna Surfistinha (2011). Entretanto, Confissões de Adolescente foi um seriado de sucesso que acompanhava o dia a dia de quatro irmãs no Rio de Janeiro. A série foi exibida na TV Cultura e na Band entre 1994 e 1996, com 49 episódios divididos em 3 temporadas. A série foi criada por Maria Mariana, em parceria com Euclydes Marinho e Daniel Filho, e também contou com a participação de Georgiana Góes, Luis Gustavo, Dani Valente, Mari Oliveira e Leandra Leal. Em 1995, o seriado foi indicado ao Emmy Internacional de melhor programa infanto-juvenil.

Para se preparar para o papel, Secco contou com a ajuda do preparador de atores Sérgio Penna para o filme Carandiru, 2003 e para o filme Bicho de Sete Cabeças, 2007, a atriz foi à antiga e movimentada Cracolândia, nas imediações da tradicional Estação da Luz, no centro de São Paulo, para conversar com algumas jovens usuárias de drogas que também se prostituem. - “Me chocou aquele olhar perdido, meio sem vida delas”, relata Deborah. – “A prostituta de rua leva uma vida muito arriscada. Sempre pergunto: qual homem toparia entrar num carro com dois ou três desconhecidos para uma orgia sabe-se lá onde?”. Uma das garotas, que a reconheceu de seus trabalhos em telenovelas da Rede Globo de televisão, levou-a para conhecer o quarto esquálido e malcheiroso onde fazia os programas. A casa noturna Love Story foi um dos cenários do filme. A casa noturna ficou fechada para as filmagens que começaram às 18h de 11 de outubro de 2009. Na cena gravada, Bruna levava as amigas, interpretadas por Fabíola Nascimento, Guta Ruiz e Cris Lago, para conhecerem a famosa boate. Deborah fez um laboratório de dois meses com as outras atrizes em casas como o Love Story para entrar no clima da personagem. Ela chegou até a “ir vestida de prostituta em um dia de funcionamento normal da casa, como parte do laboratório”. De acordo com o proprietário, Savio Burigo, foi a primeira vez em 18 anos que a Love Story aceitou na prática a possibilidade real de ser cenário de um filme. Foram 30 dias de negociações comerciais. Várias frequentadoras da casa participaram como figurantes.

A banda de rock alternativo Radiohead pediu para assistir em Londres a uma cópia do filme, pedido atendido pelo diretor Marcus Baldini, que levou para Londres uma cópia do seu trabalho, com legendas em inglês. Só assim a banda autorizou a gravadora EMI a incluir a canção “Fake Plastic Trees” na trilha sonora do filme. Em seu blog pessoal, Bruna Surfistinha aproveitou para agradecer à banda Radiohead por ter autorizado o uso da música – “Quando esta música do Radiohead começou a tocar em uma cena do filme, me arrepiei. Mais do que gostar dela, há um significado marcante para mim, pois marcou uma passagem em minha vida. Meses após este fato, passou na tv uma campanha muito boa sobre Síndrome de Down e com esta música. Quem não se emociona com o menino Carlinhos?”, escreveu. – “Talvez eu nunca tenha chance de agradecer pessoalmente à banda Radiohead por ter autorizado usar uma música deles no filme. Isto me parece ser algo muito distante. Também sei que dificilmente lerão este post. De qualquer maneira, registro aqui o meu agradecimento”. A trilha sonora agrega desde músicas como “Time of the Season”, do The Zombies, MC Robinho da Prata, que canta o funk “Copo de Vinho”, produzido por DJ Marlboro. A banda Ritmo Quente, aparece com o hit “Te Quero Tanto”. A coletânea tem outras novidades. Uma delas é a música inédita “Sunshine Girl”, parceria entre a cantora Céu e os produtores Rica e Gui Amabis. O vídeo promocional vinha com o single “Alala”, do grupo musical Cansei de Ser Sexy, uma banda formada em São Paulo em 2003. Foi uma das bandas de maior repercussão internacional, chegando a entrar nas paradas da Billboard Hot 100.

Bibliografia Geral Consultada.

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