segunda-feira, 4 de maio de 2020

Cratera Batagaika - Erosão da Natureza & Fim da Floresta Boreal?


                                                                                                     Ubiracy de Souza Braga

  No futuro, poderemos ver mais estruturas como a cratera Batagaika”. Frank Gunther 


Erosão do solo nada mais é do que o deslocamento de terra que acontece de um lugar para o outro. Na natureza, o processo erosivo ocorre pela ação natural do sol, de ventos e, principalmente, da água da chuva. A erosão do solo pode resultar na degradação das áreas agrícolas ou de pastagens e restringir ou impossibilitar a lucratividade da atividade agropecuária. Proporcionalmente em extensão metade dos solos agricultáveis do mundo está degradada, segundo informações da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). A entidade estima que o gasto global com fertilizantes para repor os nutrientes perdidos com processos erosivos dos solos é de US$ 110 a US$ 200 bilhões, anualmente. A erosão, além de danificar o meio ambiente, retira uma camada superficial do solo que é rica em nutrientes, o que reduz o potencial produtivo das terras e pode gerar prejuízo na lavoura. Uma outra estimativa da FAO aponta que o fenômeno atinge cerca de 80% da terra agricultável do planeta e se tornou a principal ameaça ao solo saudável para a agricultura. A FAO é uma das agências das Nações Unidas, a que lidera esforços para a erradicação da fome e combate à pobreza. O seu lema, fiat panis, se traduz do latim, significando “haja pão”. Composta por 194 Estados-membros, mais a União Europeia e, com presença solidária em mais de 130 países, a organização funciona como uma espécie de “fórum neutro”, onde quase todas as nações que a compõe possuem em tese um peso igualitário no que tange às estratégias e decisões, pois proporciona à quase todos os seus integrantes oportunidades para elaborarem e discutirem políticas ligadas à agricultura e alimentação. 

Comparativamente a maior cratera de impacto reconhecida na superfície de Oberon, um dos cinco satélites do planeta Urano é Hamlet. Tem um diâmetro de 206 km e está localizada no hemisfério sul de Oberon, com centro na posição de latitude -46.1° e longitude 44.4°. Recebeu o nome do personagem título de Hamlet, uma obra de William Shakespeare. A cratera tem um fundo escuro e é cercada por um brilhante sistema de raios, que são depósitos de gelo ejetado durante o impacto principal. A natureza do material escuro não é reconhecida. Ele pode ser um depósito de erupções vulcânicas, análogo aos mares lunares, ou pode representar uma camada mais escura da crosta de Oberon que foi exposta pelo impacto de origem da cratera. Esta cratera foi descoberta e fotografada pela sonda Voyager 2, que sobrevoou o sistema uraniano em janeiro de 1986. Jessica é uma cratera de impacto em Titânia, o maior satélite natural de Urano. As demais crateras de Titânia, que receberam nomes de personagens femininas de peças de Wiliam Shakespeare, Jessica é a filha de Shylock, personagem da obra O Mercador de Veneza, escrita há mais de 4 séculos. Na peça teatral, ele representa um agiota judeu que empresta dinheiro a seu rival cristão, Antônio, colocando como fiança uma libra da carne de Antônio. Quando este, após se ver falido, não consegue pagar o referido empréstimo, Shylock exige a libra de carne, como vingança pelo fato de Antônio tê-lo insultado e cuspido anteriormente. Neste meio tempo, a filha de Shylock, Jéssica, foge com um amigo de Antônio, Lourenço, e se tornou uma religiosa cristã, levando dinheiro e joias de sua herança, aumentando ainda mais a fúria de Shylock.

A heliofísica, mutatis mutandis, combina outras disciplinas, incluindo ramos da astrofísica, física do plasma e física solar, isto é, através do meio de trabalho composto pelo Heliophysics Research Program, na exploração do sistema solar com missões robóticas, através do New Horizons, uma missão não-tripulada da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (NASA), uma agência do governo federal dos Estados Unidos responsável pela pesquisa e desenvolvimento de tecnologias e programas de exploração espacial, para estudar o planeta-anão Plutão e o Cinturão de Kuiper. Ela foi a primeira espaçonave a sobrevoar Plutão, e a fotografar suas pequenas luas Caronte, Nix, Hidra, Cérbero e Estige em 14 de julho de 2015, após cerca de nove anos e meio de viagem interplanetária e ainda sobrevoou o objeto 486958 Arrokoth. O principal objetivo é caracterizar globalmente a geologia e a morfologia de Plutão e suas Luas, além de mapear superfícies, estudar a atmosfera neutra de Plutão e velocidade de escape. Outros objetivos incluem o estudo das variações da superfície e da atmosfera de Plutão e de Caronte ao longo do tempo e na pesquisa astrofísica, aprofundando-se em tópicos como o chamado Big Bang com o auxílio de grandes observatórios. Claramente para a exploração do espaço precisava-se de um meio de transporte para tal finalidade. Daí veio a ideia de se usar o foguete como meio de trabalho para a exploração espacial. Um foguete espacial representa uma máquina que se desloca expelindo atrás de si um fluxo de gás a alta velocidade. Um foguete é constituído por uma estrutura, um motor de propulsão por reação e uma carga útil. A origem do foguete é, provavelmente, oriental.

A primeira notícia da utilidade de uso é datada do ano 1232, na China, onde foi inventada a pólvora, usada a princípio em fogos de artifício e, mais tarde, para uso bélico ofensivo. Existem relatos etnográficos do uso de foguetes chamados popularmente “flechas de fogo voadoras” no século XIII, na defesa da capital da província chinesa de Henan devido a constantes invasões mongólicas na fronteira ocidental do Império Chinês. Os foguetes foram introduzidos na Europa pelos árabes, tornando a ser usados em conflitos europeus logo após a Guerra dos Cem Anos (1337-1453). Durante os séculos XV e XVI, foi utilizado como “arma incendiária de guerra”. Com o aprimoramento da artilharia, o foguete “desapareceu até ao século XIX vindo a ser utilizado durante as Guerras Napoleônicas (1803-1815)”. Os foguetes do coronel inglês William Congreve foram usados na Espanha durante o sítio de Cádiz (1810), na primeira guerra Carlista (1833-1840) e durante a Guerra do Marrocos (1860).   Em fins do século XIX e início do século XX, apareceram os primeiros cientistas que viram o foguete como a representação de sistema para propulsionar veículos aeroespaciais tripulados. Entre eles, o russo Konstantin Tsiolkovsky (1857-1935), o alemão Hermann Oberth (1894-1989), o norte-americano Robert Hutchings Goddard (1882-1945) e os russos Sergei Korolev (1907-1966) e Valentin Glushko (1908-1989) e o alemão Wernher von Braun (1912-1977).

Na história política da conquista e das guerras os alemães, liderados por Wernher von Braun (1912-1977), um dos principais cientistas no desenvolvimento do foguete V-2 na Alemanha nazista e foguete Saturno V nos Estados Unidos da América, desenvolvidos durante a 2ª guerra mundial, os foguetes V-1 e V-2 (A-4 na terminologia alemã), que formaram a base para as pesquisas sobre foguetes dos Estados Unidos da América e da União Soviética no pós-guerra. Ambas as bombas nazistas, usadas em Paris e Londres no final da guerra, podem ser melhor definidas como mísseis. A rigor, do ponto de vista tecnológico a V-1 não chega a ser um foguete, mas um míssil veloz “que voa com propulsão de avião a jato”. Inicialmente, foram desenvolvidos foguetes especificamente destinados para uso militar, normalmente reconhecidos como mísseis balísticos intercontinentais. Os programas espaciais que os norte-americanos e os russos colocaram em marcha basearam-se em foguetes projetados com finalidades próprias para a utilização astronáutica de guerra, derivados destes foguetes propulsores de uso militar. Particularmente os foguetes usados no programa espacial soviético eram derivados do R.7, um míssil balístico, que acabou sendo usado para as missões Sputnik. Originalmente a missão Sputnik 1, junto com o voo de Yuri Gagarin (1934-1968) no Vostok 1, teve um impacto profundo na história social da exploração espacial. Foram os eventos que desafiaram os estadunidenses e foram a gota d`água para o lançamento do Programa Espacial   objetivando alcançar a Lua. Em órbita sua frase “A Terra é azul!” entrou para a história. Curiosamente a sua baixa estatura havia garantido ao major da Força Aérea russa, com 27 anos, um lugar na apertada cápsula que o levaria através de um “salto dialético” à órbita terrestre. E mais uma vitória soviética na corrida contra os norte-americanos pela conquista do espaço.

A corrida espacial ocorreu na segunda metade do século XX entre a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e os Estados Unidos da América pela supremacia na exploração e tecnologia espacial. Entre 1957 e 1975, a rivalidade entre as duas superpotências durante a Guerra Fria atingiria ambos os pioneirismos na exploração do espaço, que eram vistos como necessários para a segurança nacional e símbolos da superioridade tecnológica e ideológica de cada país. A corrida espacial envolveu esforços pioneiros no lançamento de satélites artificiais, voo espacial tripulado suborbital e orbital em torno da Terra e viagens tripuladas à Lua. A competição efetivamente começou com o lançamento do satélite artificial soviético Sputnik 1 em 4 de outubro de 1957 e concluiu-se com o projeto cooperativo Apollo-Soyuz em julho de 1975. O Projeto de Teste Apollo-Soyuz passou então a simbolizar uma flexibilização parcial das relações tensas entre a URSS e os Estados Unidos da América. A corrida espacial teve suas origens na corrida armamentista que ocorreu logo após o fim da 2ª guerra mundial, quando tanto a União Soviética quanto os Estados Unidos capturaram a tecnologia e especialistas de foguetes avançados alemães. As consequências realizaram aumento sem precedentes nos gastos com educação e pesquisa pura, acelerando avanços científicos sobre tecnologias benéficas para a civilização. Algumas sondas e missões incluem os Sputnik 1, Explorer 1, Vostok 1, Mariner 2, Ranger 7, Luna 9, Apollo 8 e Apollo 11. Wernher von Braun foi um dos próceres no desenvolvimento de tecnologias de foguetes para a Alemanha.

A Sibéria é uma vasta região da Rússia e do norte do Cazaquistão, o maior país sem costa marítima do mundo e o nono maior do planeta; o seu território de 2 727 300  km² é maior do que a área da Europa Ocidental integralmente contida no norte da Ásia, estendendo-se dos Urais ao oceano Pacífico, e para sul desde o oceano Ártico até aos montes do centro-norte do Cazaquistão e até à fronteira com a Mongólia e República Popular da China. A planície Ocidental consiste principalmente de depósitos aluviais do cenozoico e é extraordinariamente baixa, tanto que um aumento do nível do mar de 50 metros causaria a inundação de todas as terras entre o oceano Ártico e Novosibirsk. Os rios principais são o Ob e o Ienissei. Na zona sul da planície, onde já não há permafrost, terras de pastagem (estepes) formavam a vegetação original rara. O clima varia entre o clima polar e o clima continental. Na Sibéria situa-se o local habitat humano mais frio do mundo, a aldeia de Oymyakon. A ocupação humana é principalmente urbana. Entre os traços culturais e a assimilação dos povos siberianos contam-se em lugar de destaque os ritos funerários. Devido à dificuldade em abrir campos com os instrumentos de que dispunham em solo gelado ou encharcado, as culturas siberianas não enterravam seus familiares mortos. Os koryaques e os chukchis dissecavam-nos. Os yukaghires desmembravam-nos e depois distribuíam as várias partes, já secas, pelos familiares mais próximos. Estes pedaços do ente querido eram apelidados de “avós”, funcionando como amuletos. Os kamchadales, pelo seu lado, tinham em mente as necessidades de transporte no Além: davam os cadáveres a comer como alimento aos cães, para que os falecidos com a crença tivessem uma boa equipe de cães a puxar-lhes o trenó.
Comparativamente o maior bioma do Brasil, a Amazônia perdeu 265.113 km² de vegetação entre os anos de 2000 e 2018, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O volume, que representa a maior redução de coberturas naturais dentre os biomas brasileiros no período, equivale à perda de uma área superior a 32,1 milhões de campos de futebol “Padrão Fifa”, com dimensões de 110m x 75m, equivalente a 8.250 m². Segundo o estudo, parte da vegetação florestal amazônica deu espaço para áreas de pastagem com manejo, que aumentaram 71,4%, de 248.794 km² para 426.424 km² no período de 18 anos. A mudança corresponde a mais da metade (50,2%) de todas mudanças observadas no bioma. As áreas agrícolas na Amazônia, por sua vez, saltaram de 17.073 km² para 66.350 km² (+288,6%) nos 18 anos analisados, com aumento mais significativo entre 2012 e 2014. - “Em particular, após 2012, cerca de 43% das novas áreas agrícolas decorreram da conversão de áreas de pastagem com manejo”, diz o IBGE. De acordo com o levantamento, as mudanças evidenciadas na região “indicam o padrão de uso do chamado ‘arco do desmatamento’”, inicialmente observada nas bordas da Amazônia, em áreas de contato com o Cerrado. Agora eles houve uma interiorização com a construções de estradas, margens de rios e adjacências de obras de infraestrutura na região.

O estudo demonstra ainda que, os demais biomas brasileiros também perderam parte de suas áreas naturais entre 2000 e 2018, totalizando uma redução de cerca de 500.000 km² de áreas naturais nos diversos ecossistemas nacionais. - “Ao analisar a série histórica, percebe-se, contudo, que, apesar do saldo negativo total, as reduções de áreas naturais foram diminuindo de magnitude ao longo dos anos”, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.  Depois da Amazônia, a maior redução foi concentrada no Cerrado (-86,2%). O Pantanal foi o bioma nacional que apresentou as menores perdas de áreas naturais, tanto em termos absolutos (2.109 km²) quanto percentuais (1,6%). De acordo com o IBGE, o dado “retrata um menor dinamismo de conversões de usos na região”. A Mata Atlântica e Caatinga foram os que registraram as maiores quedas no volume de áreas naturais, passando de 8.793 km² para 577 km² e de 17.165 km² para 1.604 km², respectivamente, no período pesquisado. Com as perdas, a Mata Atlântica, com o território de ocupação histórica mais longa e intensa do Brasil, hoje tem somente 16,6% de áreas naturais. A Caatinga desponta como o terceiro bioma mais preservado do País, com apenas 36,2% de seu território sob influência humana nos dias atuais.

Uma cratera gigantesca, que se abriu na década de 1960 e não para de crescer em uma remota região da Sibéria, na Rússia, tem dado aos cientistas indícios de como era o ecossistema do território há 200 mil anos. Conhecida como “Porta do Inferno”, a região tem um tipo de solo chamado permafrost, que fica permanentemente congelado, mas está se derretendo com o aquecimento global. À medida que o gelo some, surgem pistas do tipo de paisagem que a área abrigou no passado. - “Entender como era o ecossistema pode ajudar a entender como a região se adaptará ao atual aquecimento do clima”, disse Julian Murton, professor da Universidade de Sussex, na Inglaterra, à BBC. As camadas de sedimento expostas revelam como era o clima no local há 200 mil anos. Resquícios de árvores, pólen e animais indicam que a área representava densa floresta. Esse registro geológico pode ajudar a compreender como será a adaptação da região ao aquecimento global. Ao mesmo tempo, o crescimento acelerado da cratera é um indicador imediato do impacto cada vez maior das mudanças climáticas no degelo do permafrost. O buraco foi nomeado Batagaika. Tem 1 km de extensão e 85 metros de profundidade, equivalente a um prédio de 28 andares. Ele tem crescido cerca de 10 metros por ano, mas em anos muito quentes a ampliação chega a 30 metros, segundo o Instituto Alfred Wegener em Potsdam, na Alemanha.

Frank Gunther, pesquisador do instituto, diz que não há nenhuma obra de engenharia capaz de conter a expansão da cratera, que está localizada em uma área de floresta boreal. A cratera começou a se formar quando o rápido desmatamento na região deixou o terreno sem a proteção das sombras das árvores nos meses de verão. Sem a cobertura vegetal, o processo de degelo se acelerou. O professor Murton diz que, à medida que o degelo aumente, é provável que a cratera revele paisagens novas. Por enquanto, cientistas analisam as características que já estão expostas na cratera Batagaika para estabelecer a cronologia da história climática da Sibéria. - “Queremos saber se as mudanças climáticas durante a última Era do Gelo estiveram caracterizadas por uma grande variabilidade, com períodos intercalados de aquecimento e esfriamento”. Ele lembra que há 125 mil anos houve um período interglacial, com temperaturas vários graus acima das registradas. À medida que o gelo derrete, é provável que o degelo aumente. Gunther afirma que, quanto maior o degelo, maior é a exposição de carbono a micróbios. Esses micro-organismos consomem carbono e produzem dióxido de carbono e metano, que são os gases causadores do efeito estufa. O metano é capaz de acumular 72 vezes mais calor que o dióxido de carbono num período de 20 anos. Os gases liberados pelos micróbios na atmosfera aceleram ainda mais o aquecimento, gerando um ciclo. Batagaika não é a única cratera na Sibéria. A região tem outras sete crateras na península de Taimyr, que também estão se expandindo. 

A península de Taimyr situa-se na Sibéria e forma o extremo setentrional da Ásia continental. Encontra-se entre o golfo de Ienissei, do mar de Kara que parte do oceano Ártico, a norte da Sibéria. Está separado do mar de Barents, a oeste, pelo estreito de Kara. A este situa-se o mar de Laptev. Tem cerca de 1450 km de comprimento e 970 km de largura, com uma área total de 883. 000 km². A sua profundidade média é de 110 metros. Recebe pequenas quantidades de água doce dos rios Ob, Ienissei, Taz, Pyasina e Taimir, variando assim a sua salinidade, ao longo do tempo, de maneira elevada. Supõe-se que Rússia despejou grande quantidade de resíduos tóxico nucleares. De assinalar que a exploração de petróleo e gás natural nesta zona está a ser estudada.  Nele ficam as desabitadas ilhas do Instituto Ártico. Antes de ser associado ao nível específico e climatológico de mudanças climáticas, o surgimento das crateras foi atribuído à queda de meteoros, ou à ação de extraterrestres na região. Em 2014 artigo publicado na Nature explicou que a região tem alta concentração de metano. Em 2020 a concentração de metano, o segundo maior contribuinte para o aquecimento global, aumentou em 15 partes por bilhão.

Estudar os impactos das mudanças geológicas no clima na Sibéria pode ajudar os pesquisadores e cientistas da natureza a prever o que pode acontecer na atual fase de mudança climática pela qual ocorre no planeta. De acordo com os pesquisadores, raras combinações químicas, como as encontradas em minas, aterros ou fundições, provocaram a formação de novos minerais, como bluelizardite, fluckite ou kokinosite. A mineração é a principal causa da formação dos novos minerais, principalmente pela ação do fogo e da água em túneis subterrâneos. As composições foram formadas nos últimos 250 anos. “Vivemos em uma era de diversificação de compostos inorgânicos sem paralelo”, relata o pesquisador Robert Hazen, que liderou o estudo publicado no periódico especializado “American Mineralogist”. A revista foi criada em 1916, com a primeira edição publicada em julho daquele ano, sob os auspícios da Philadelphia Mineralogical Society, do New York Mineralogical Club e da Mineral Collectors' Association. Em 30 de dezembro de 1919, a Sociedade Mineralógica da América foi formada e o Mineralogista Americano tornou-se o jornal como meio de divulgação das atividades científicas da sociedade. Os cientistas destacaram que as alterações geológicas causadas pela humanidade na diversidade e na distribuição dos minerais foi a mais profunda desde o aumento dos níveis de oxigênio na atmosfera, há 2,2 bilhões de anos. O estudo é o primeiro catálogo global de minerais criados  por atividades humanas. Uma corrente da comunidade científica defende que as alterações provocadas pela humanidade na natureza já são suficientes para marcar uma nova era geológica, o Antropoceno.



 

Antropoceno é um termo usado por alguns cientistas para descrever o período recente na história do Planeta Terra. Ainda não há data de início precisa e oficialmente apontada, mas muitos consideram que começa no final do século XVIII, quando as atividades humanas começaram a ter um impacto global significativo no clima da Terra e no funcionamento dos seus ecossistemas. Esta data coincide com a aprimoração do vapor por James Watt em 1784. Outros cientistas consideram que o Antropoceno começa mais cedo, como por exemplo no advento da agricultura. As tentativas de datação precisas revelam, porém, o problema do necessário distanciamento histórico na ponderação de eventos e grandezas relevantes de tempo geológico. Um observador distanciado milhões de anos no futuro poderá, munido de suficiente informação, melhor determinar uma data e uma tipologia para o Antropoceno. Perante o alcance das consequências da ação do Homem na evolução do Planeta Terra, o Antropoceno poderá ser reconhecido e classificado, por exemplo, como um novo período ou era geológica. Nesta perspectiva, é plausível apontar o seu início a partir do surgimento do Homo sapiensO biólogo Eugene F. Stoermer originalmente cunhou o termo, mas foi o químico vencedor do Prêmio Nobel Paul Crutzen que independentemente o reinventou e popularizou. Stoermer escreveu, “eu comecei a usar o termo antropoceno na década de 1980, mas nunca formalizei até ser contatado pelo Paul”. Crutzen explicou, eu estava numa conferência onde alguém disse alguma coisa sobre o Holoceno. De repente, eu pensei que isso estava errado. O mundo mudou demais. Então eu disse: - Não, nós estamos no Antropoceno. Eu criei a palavra no calor do momento. Todos se chocaram. Mas ela parece ter ficado. O termo foi usado pela primeira vez em uma publicação em 2000 por Paul Crutzen & Eugene Stoermer em um informativo técnico-científico do Programa Internacional da Geosfera-Biosfera. Ainda em 1873, o geólogo italiano Antônio Stoppani reconheceu o aumento do poder e do efeito da humanidade nos sistemas da Terra e se referiu a uma “era antropozoica”. 

Um termo similar, Homogenoceno, foi usado pela primeira vez por Michael Samways em seu primeiro artigo editorial no Journal of Insect Conservation (1999) intitulado: Translocating fauna to foreign lands: here comes the Homogenocene.  Samways utilizou o termo para definir a geológica atual, na qual a biodiversidade está diminuindo e os ecossistemas ao redor do globo se tornaram mais similares uns aos outros. O termo foi usado por John L. Curnutt em 2000 em Ecology, em uma pequena lista intitulada, “A Guide to the Homogenocene”. Andrew Revkin cunhou o termo Antroceno em seu livro Global Warming: Understanding the Forecast (1992), no qual escreve, “nós estamos entrando em uma era que pode um dia ser referida como, poderia dizer, o Antroceno. No final das contas, é uma era geológica de nossa própria autoria”. O nome evoluiu para “Antropoceno”, que geralmente é considerado como um termo técnico mais apropriado inclusivo ao homem. Muitas espécies foram extintas devido ao impacto humano. A maioria dos especialistas concorda que as atividades humanas têm acelerado progressivamente a taxa de extinção de espécies. Porém, a taxa exata é controversa, sendo muitas vezes situada entre 100 a 1000 vezes a taxa considerada normal. Em 2010 um estudo publicado na Nature refere que o fitoplâncton declinou substancialmente nos oceanos do mundo ao longo do século passado. Desde 1950, biomassa de algas diminuiu cerca de 40%, em resposta ao aquecimento do oceano, sendo que o declínio ganhou ritmo nos últimos anos. Alguns autores postulam que sem impactos atribuído no plano das atividades humanas a biodiversidade do planeta continuaria a crescer a um ritmo exponencial.

Inseparável do declínio da biomassa, o problema da paz é uma questão central no pensamento de gurus como Jiddu Krishnamurti e o Dalai Lama. É também preocupação maior do reputado filósofo e sociólogo francês Edgar Morin, preocupação essa pela primeira vez expressa no seu livro Terre-Patrie (1993), “a nossa casa e o nosso jardim”, pondo em destaque uma questão com implicações globais. Na edição aberta de 13 de julho de 2012 do jornal New York Times, o ecologista Roger Bradbury previu o fim da biodiversidade marinha, dizendo que os recifes de coral estão condenados, “os recifes de coral serão os primeiros, mas certamente não o último grande ecossistema, a sucumbir ao Antropoceno”. Este artigo rapidamente gerou muita discussão entre os ambientalistas e foi refutada no site da The Nature Conservancy, defendendo sua posição de proteger os recifes de coral, apesar de impactos humanos continuaram causando quedas de recife. Destaca-se também uma mudança na variedade de animais, já que áreas onde várias espécies de animais superiores viviam anteriormente foram modificadas para a criação de animais que servissem para a alimentação humana, diminuindo a diversidade da área; isto é especialmente verdade para pastos e fazendas marinhas. Alteração similar houve nas regiões urbanas, onde alguns animais foram expulsos de seus habitats, enquanto outros se adaptaram, tornando-se por vezes pragas. A diversidade de plantas comestíveis e não-comestíveis foi sensivelmente afetada pela seleção humana, que priorizou alguns poucos cultivares em detrimento de uma grande diversidade natural; enormes áreas povoadas com centenas de espécies vegetais diferentes são degradadas para originar plantações de um só ou de poucos espécimes de plantas, o que também afeta a fauna, em um outro plano biológico. Biomas inteiros são ameaçados, e processos como desertificação e savanização modificam paisagens de forma agressiva e rapidamente. Oimiakon é uma localidade do Leste da Sibéria (Rússia), junto ao Rio Indigirka, na República de Sakha, e tem cerca de 500 habitantes. 

Há uma única estrada que dá acesso ao vilarejo. É reconhecida por ter o recorde de temperatura mais baixa numa localidade permanentemente habitada. Localizado no nordeste da Rússia, esse município remoto onde o centro urbano mais próximo, Yakutsk, está a 800 km de distância, foi fundado para amparar pastores de renas que utilizavam as águas termais da região para aquecer os rebanhos. Oimiakon situa-se a 63° 15` Norte de latitude e 143° 9` Este de longitude, a cerca de 800 km a leste de Yakutsk, uma das mais importantes cidades da Sibéria. Oimiakon fez história de uma maneira bastante peculiar em 1926, quando atingiu a temperatura recorde de 71,2 graus abaixo de zero. Mas essa medida nunca foi oficialmente reconhecida. Nenhum outro lugar permanentemente habitado pelo ser humano jamais registou frio tão espantoso. No dialeto local Oimiakon significa “água não congelada por causa da proximidade de fontes naturais de água”. O solo é permanentemente congelado, do tipo permafrost. A vida é extremamente difícil, e os habitantes alimentam-se de cavalo e rena. O curto período estival permite obter alguns vegetais, ausentes dos hábitos alimentares durante todo resto do ano. Os transportes são igualmente dificultados pelo fato de combustíveis como o gasóleo congelarem e as escolas suspendem as aulas quando as temperaturas estão abaixo dos -50 ºC. As tintas das canetas esferográficas congelam, habitualmente, e todo o equipamento eletrônico tem comportamento bizarro em função das diferentes reações de dilatação e contração dos metais a temperaturas extremamente baixas mais fria do planeta. O clima da cidade é subártico extremo (Dwd), apesar de paradoxalmente estar em altitude mediana.  A classificação pressupõe com origem na fitossociologia e na ecologia, de que a vegetação natural de cada grande região da Terra é uma expressão do clima nela prevalecente.
Localizada na tundra permanentemente congelada do extremo leste da Rússia, Yakutsk, capital da Iacútia (Sibéria Oriental) bate todos os recordes em matéria extrema de baixas temperaturas. Nos últimos dias, por causa do rigor do inverno, o frio desce todos os dias até 45 graus centígrados negativos. Yakutsk possui aproximadamente 236 mil habitantes e é uma região remota com mais de 1 milhão de quilômetros quadrados de área. Yakutsk é umas das cidades mais frias do mundo. Foi fundada como um forte cossaco em 1632 e permaneceu apenas uma aldeia até que fossem descobertas as reservas de ouro siberianas no fim do século XIX. Essas reservas foram exploradas de forma intensiva durante a industrialização da União Soviética sob o mandato de Stalin, o que contribuiu para o desenvolvimento urbano de Yakutsk. Todavia, a Estrada dos Ossos é o apelido da rodovia Kolyma, construída na hegemonia política stalinista por prisioneiros dos campos de trabalho forçado que existiam na região (os Gulags). Para fazê-la, muitos prisioneiros morreram de fome e frio. Essa rodovia é a mais importante artéria no processo de comunicação ligando Yakutsk ao restante do território russo. Os habitantes de Yakutsk se orgulham culturalmente pela herança do frio intenso que reina na cidade, sobretudo nos longos invernos. A região é tão rica em recursos naturais que, provavelmente, sem temor a erro, contém todos os elementos da Tabela Periódica. Uma lenda  narra que Deus “estava criando o mundo e distribuindo suas riquezas, ao chegar na Iacútia teve as mãos entorpecidas pelo frio deixando cair lá todas as riquezas”. A região é rica em ouro e por 20% da produção mundial de diamantes brutos.

Antes da Revolução socialista de 1917, o Gulag chamava-se Katorga, e aplicava a mesma forma de privação dos sentidos: pena privativa de liberdade, pena de trabalhos forçados e pena de morte. Os bolcheviques continuaram a tradição autocrática-imperial russa em uma escala dezenas de vezes maiores e em condições muito piores, nas quais até o canibalismo existiu. A criminalização da dissidência política era regra comparativamente tanto na antiga União Soviética quanto no Império Russo Czarista que também criminalizava heresias religiosas. Além de presos políticos, havia presos condenados por vadiagem, furto, roubo, agressão, homicídio e estupro. Finalmente, a antiga União Soviética passou por guerras internas e externas, assim como o Império Russo, então uma parte desses presidiários tornaram-se prisioneiros de guerra. O sistema funcionou de 25 de abril de 1930 até 1960.  O Gulag tornou-se um símbolo da repressão da ditadura de Stalin. Na verdade, as condições de trabalho nos campos de concentração eram bastante penosas e incluía fome, frio, trabalho intensivo de características do trabalho servil: o horário de trabalho excessivo e guardiões desumanos. Floresceram durante o regime chamado pelos historiadores de stalinista da URSS, estendendo-se a regiões como a Sibéria e a Ucrânia, e destinavam-se a silenciar e torturar opositores ao regime, incluindo anarquistas, trotskistas e outros marxistas.

Vale lembrar que Leon Trotsky nasceu numa pequena localidade do óblast de Kherson na atual Ucrânia, sendo o quinto filho de Anna e David Leontyevish Bronstein, um humilde lavrador de origem judaica que, pragmaticamente, havia aproveitado os esquemas de colonização tzaristas na Crimeia para abandonar a área tradicional de residência autorizada aos judeus (o “pálio”) e converter-se num próspero fazendeiro. A família de origem judaica não era religiosa. Em casa, falava-se russo ou ucraniano e não iídiche. Aos nove anos, foi para Odessa, a fim de prosseguir seus estudos numa escola tradicional alemã. Ao longo dos anos em que ali permaneceu, passou pelo processo de “russificação”, conforme a política czarista. Trotsky revelava já um temperamento de líder, organizando um protesto contra um professor impopular no 2º ano. Não demonstrou interesse pela política nem pelo socialismo até 1896, quando se mudou para Nikolaev, onde concluiu o ano de estudos secundários. Cursou Matemática brevemente na Universidade Nacional de Odessa. Sua irmã Olga casou-se com Lev Kamenev, um dos principais líderes bolcheviques e membro do triunvirato liderado por Stálin, que afastaria o próprio Trotsky do poder, sendo também afastado posteriormente. Após um período de exílio europeu, Trotsky voltou para a Rússia durante a Revolução Russa de 1905, onde sua oratória elétrica fez dele uma figura de liderança na St. Petersburgo Soviética até sua prisão, em dezembro do mesmo ano, conseguindo, porém, escapar e refugiar-se na Europa Ocidental. Durante a próxima década Trotsky passou do apoio da ala menchevique do POSDR a defesa da unidade das diversas facções dentro do partido, criando uma organização formal chamada Partido Operário Socialdemocrata Russo, vulgarmente reconhecido como o “Mejraiontsi”, um grupo com base em Petrogrado. 

O virtual colapso do antigo regime durante a última parte da 1ª grande guerra (1914-18) motivou  Mejraiontsi a fazer as pazes com os rivais bolcheviques liderados por Lênin, e no início de 1917 Trotsky voltou do exílio em Nova York para se unir como membro do Comitê Central do Partido Bolchevique. O trabalho de Trotsky, assumindo o cargo de chefe do Soviete de Petrogrado no início de outubro e constituindo o Comité Militar-Revolucionário, foi fundamental em criar as bases para a deposição do governo provisório russo liderado por Alexander Kerensky em 7 de novembro de 1917. A dissidência no interior do partido vem a público quando Trotsky publica, em 1924, um prefácio à edição dos seus escritos de 1917, As Lições de Outubro, criticando a falta de estratégia revolucionária de Joseph Stalin e da direção do Comintern na direção do levante alemão de 1923. O problema principal que motivava a oposição contra a política de Stalin e de Bukharin, afirma Medvedev, era atitude diante dos elementos capitalistas na cidade e no campo. Ela reclamava uma intensificação da luta contra os kulaks e os Nepman, além do aumento de impostos a que estavam sujeitos. Simultaneamente, exigia um incremento do ritmo da industrialização, a ampliação e o aprofundamento da democracia no Partido, a luta contra a burocratização do aparelho do Partido e do Estado, etc. Portanto, a orientação da oposição não estava absolutamente em contraste com a do Partido quanto á construção do socialismo.

A oposição simplesmente queria o uso de métodos que não se conciliavam com os princípios fundamentais da NEP. Insistia na aceleração da construção do socialismo para a qual o país ainda não estava pronto. Trotsky, Zinoviev ou Kamenev, tentavam em geral evitar as discussões sobre a possibilidade da “construção” total e completa do socialismo. Compara suas atitudes com a indecisão demonstrada por Kamenev e Zinoviev às vésperas da Revolução de Outubro de 1917. Após sua deportação, Leon Trotsky passou pela Turquia, França de julho de 1933 a junho de 1935, e Noruega de junho de 1935 a setembro de 1936, fixando-se finalmente no México, a convite do pintor Diego Rivera, vivendo temporariamente em casa deste e mais tarde em casa da esposa de Rivera, a pintora Frida Kahlo. À medida que aumenta a repressão stalinista, multiplicam-se os lutos familiares. Além da morte dos seus quatro filhos, os genros, noras, netos, e outros parentes próximos de Trotsky são igualmente vítimas da repressão por sua ligação com um suposto “inimigo do povo” e desaparecem nos sucessivos expurgos da década de 1930, com exceção do único filho que Zina pôde levar consigo ao exterior, e que acabou por reunir-se ao avô no México, depois de negociações com a mulher francesa de Leon Sedov - que havia se responsabilizado pelo sobrinho num hospital parisiense. 

Localizada no coração da floresta boreal da Sibéria, a cratera de Batagayka não  é uma ilustração imperfeita, mas consequência social do tipo de processo evolutivo que o aquecimento global pode desencadear. Além disso, Batagaika não é a única cratera na Sibéria. A região tem pelo menos outras sete crateras na península de Taimyr, que também estão se expandindo. Antes de ser associado apenas a mudanças climáticas, o surgimento das crateras foi atribuído também à queda de meteoros ou ao nível da fantasia à ação de extraterrestres na região. Em 2014, um artigo publicado na revista Nature explicou que a região tem alta concentração de metano. O que antes era somente um trecho desmatado de floresta, em 50 anos se transformou em enorme buraco com mais de 1 km de extensão e 100 metros de profundidade - quase tudo por conta do descuido humano.  O processo começou na década dos anos 1960, de acordo com Julian Murton, professor da Universidade de Sussex, na Inglaterra, depois que um pedaço da floresta foi desmatado para uso industrial. Este gesto criminoso desencadeou uma série de eventos geológicos catastróficos, que seguem paulatinamente acontecendo. Era a densa vegetação que mantinha o solo resfriado, impedindo que os raios solares aquecessem a superfície da floresta. A taiga, também reconhecida por floresta de coníferas, ou ainda floresta boreal, é um bioma predominante das regiões localizadas em elevadas latitudes cujo clima típico é o continental frio e polar, comumente encontrado no norte do Alasca, Canadá, sul da Groenlândia, parte da Noruega, Suécia, Finlândia, Sibéria e finalmente o Japão. Segundo o pesquisador pragmaticamente não há obra de engenharia que possa conter o desenvolvimento dessas gigantescas crateras.
Filme dirigido por Isabel Coixet vive drama de Juliette Binoche
que procura pelo marido explorador.
No Canadá, usa-se o termo floresta boreal para designar a parte meridional desse bioma, e o termo taiga é usado para designar as áreas menos arborizadas ao sul da linha de vegetação arbórea do Ártico. Na taiga, diferente da tundra, comparativamente, o solo descongela por completo no ciclo climático do verão permitindo a formação de floresta aciculifoliada em condições climáticas normais migração de animais de grande e médio porte. É uma região biogeográfica subártica setentrional e seca, na qual as formas de vida vegetal principais são larícios, abetos, pinheiros e espruces, que estão adaptadas ao clima frio. Também ocorrem árvores de folha larga, nomeadamente vidoeiros, faias, salgueiros e sorveiras. Os pauis e as plantas a eles associadas são comuns nesta zona, que ocupa a maior parte do interior do Canadá e do norte da Rússia.
           Josephine Cecilia Diebitsch Peary (1863-1955) foi uma escritora norte-americana e exploradora do Ártico. Sua mãe, Magdalena Augusta Schmid Diebitsch, era da Saxônia. Seu pai, Hermann Henry Diebitsch, era um oficial militar da Prússia. Durante a Guerra Civil, travada nos Estados Unidos de 1861 a 1865, entre o Norte (a União) e o Sul (os Confederados), a fazenda da família Diebitsch foi destruída, o que levou a uma mudança para Washington, DC. Hermann Diebitsch mais tarde tornou-se funcionário do  Departamento de Câmbio da Smithsonian Institution. Ela tinha também o irmão, Emil Diebitsch, que mais tarde se tornou prefeito de Nutley, Nova Jérsei,  e uma irmã, Miss Marie Diebitsch, de Washington. Josephine cursou o Spencerian Business College e formou-se oradora da turma em 1880. Ela encontrou-se qualificada e na pista para um copista, funcionário e posição de tallyist no Smithsonian e no Departamento do Interior dos Estados Unidos da América. Josephine escreveu: Meu Diário Ártico: Um ano entre Campos de Gelo e Esquimós (My Arctic Journal, 1893) durante a expedição de 1891-1892, que deu ao mundo ocidental uma imagem real da cultura Inuit e da Geografia Ártica. Inuit ou Esquimó são os membros da nação indígena esquimó que habitam as regiões árticas do Canadá, do Alasca e da Groenlândia. No século XV, os Inuits estabeleceram contatos com os baleeiros franceses e pescadores de bacalhau. Josephine Peary foi participante ativa  nas viagens à Groenlândia, demonstrando seu talento e sabedoria como caçadora de renas, ptarmigan, uma reconhecida ave galiforme pertencente à família Phasianidae e outros animais para comida e roupas.

Robert Edwin Peary (1856-1920) foi um explorador polar norte-americano conhecido pela alegação de ter sido o primeiro homem a atingir o Polo Norte geográfico em 1909. Em 1886, Peary definiu como meta atingir o ponto de maior latitude da Terra, o Pólo Norte. Pioneiro nesse objetivo, utilizou técnicas esquimós com roupa de pele, trenós de cães para o conseguir. Em 1891 e 1892, viajou pela Gronelândia e demonstrou tratar-se de uma ilha, facto até então desconhecido. Nessa viagem descobriu a costa norte gronelandesa, até então nunca navegada. A alegação de Peary foi aceita durante boa parte do século XX; entretanto, nos dias de hoje, ela é amplamente contestada, em favor da alegação de Frederick Cook, que afirma ter chegado ao polo um ano antes de Peary. A expedição liderada pelo norte-americano Robert Peary alegou ter chegado ao Polo Norte em 1908, mas hoje muitos historiadores e cientistas duvidam do feito. A 6 de abril de 1909, terá alegadamente atingido o Polo Norte e aí içado a bandeira norte-americana. Tal feito suscitou polêmica, uma vez que seu compatriota F. A. Cook afirmava ter lá chegado em 1908, fato que, no entanto, não conseguiu provar. Antes de Peary, houve várias expedições ao Ártico. Peary estudou técnicas de sobrevivência usadas pelos inuit, aprendeu a manejar trenós de cães, a construir iglus e a vestir-se com peles tal como faziam os nativos esquimós.

Também confiou neles como caçadores, pescadores e guias durante as expedições e foi pioneiro no uso de grupos de apoio e manutenção de provisões para a travessia. A isto chamou “o sistema Peary”. Para a sua expedição final ao Polo Norte, partiu da cidade de Nova Iorque junto com 23 homens, a 6 de julho de 1908, e passou o Inverno perto do cabo Sheridan, na ilha Ellesmere. Dali partiram para o Polo Norte em vários grupos desfasados de alguns dias de intervalo, iniciados a 28 de fevereiro de 1909. No percurso final da expedição, apenas cinco dos seus homens participaram além de Peary: Matthew Henson e 4 Inuit chamados Oatah, Egingwah, Seegloo e Ookeah. No Diário de campo em que mantinha registados os eventos dia-a-dia, a 7 de abril escreveu (as notas foram depois reescritas para publicação): - “Por fim o Polo! Prémio de três séculos, o meu sonho e ambição durante 23 anos. Vejo o fim...”. A afirmação de Peary de chegada ao Polo Norte foi quase sempre posta em causa, devido a certas ideias.

Mal regressara do Ártico inteirou-se que Frederick Cook também afirmava ter chegado lá no ano anterior (1908); enquanto que a expedição de Cook quase seguramente foi uma fraude e nunca foi a nenhum lado próximo do polo, as mesmas incógnitas e dúvidas devido à falta de prova são aplicadas a Peary. O grupo que acompanhou a Peary na etapa final da travessia não incluía ninguém treinado na navegação que pudesse confirmar independentemente o seu trabalho de navegação, o qual parece bastante negligente. As distâncias e velocidades que Peary afirmou ter alcançado com o último grupo de apoio para regressar são três vezes mais rápidas que outros. O cálculo de um itinerário de ida e volta ao polo por uma rota direta - a única forma na que poderia ter viajado a tal velocidade — é contraditório com as contas de Matthew Henson de um desvio tortuoso para evitar inconvenientes. Em 1996 foi feita uma análise de registos de Peary descobertos nesse momento, e indicam que esteve a quase 20 milhas náuticas (37 km) do polo. Alguns historiadores creem que Peary pensou que tinha chegado ao polo. Outros sugeriram que é culpado de exagerar deliberadamente os seus feitos. Também outros sugerem que qualquer indício de que Peary não tinha chegado lá deve ser o trabalho de conspiradores que estavam a favor de Cook, que queria desacreditá-lo. Provavelmente a controvérsia nunca será resolvida.

              Localizada exclusivamente no hemisfério Norte, encontra-se também em regiões de clima frio e com pouca umidade. Distribui-se em uma faixa situada entre os 50° e 60° de latitude Norte e próxima às áreas de América do Norte, Europa e Ásia. O solo é fino e pobre em nutrientes e cobre-se de folhas e agulhas caídas das árvores, o que o torna ácido e impede o desenvolvimento de outras plantas. As florestas boreais demoram muito tempo a crescer e há pouca vegetação rasteira. Aparecem, no entanto, musgos, líquens e alguns arbustos. As árvores demonstram a existência de adaptações ao meio. Sendo de folha persistente, conservam, quando a temperatura baixa, a energia necessária à produção de novas folhas e assim que a luz solar aumenta, podem começar de imediato a realizar a fotossíntese. Embora haja precipitação, o solo gela durante os meses de inverno e as raízes das plantas não conseguem comunicação com a água. A adaptação das folhas à forma de agulhas limita, então, a perda de água, por transpiração. Também a forma cônica das árvores da taiga contribui para evitar a acumulação da neve e a subsequente destruição de ramos e folhas. A vegetação é pouco diversificada devido às baixas temperaturas registradas, tendo em vista que a água do solo encontra-se congelada, sendo constituída, sobretudo por coníferas - abetos, como o abeto do Norte, e pinheiros, como o pinheiro silvestre, cujas folhas aciculares e cobertas por uma película cerosa as ajudam a conservar a umidade e o calor durante a estação fria. Outra conífera que também pode aparecer é o larício europeu de folha caduca - lárice. Em certas condições também podem aparecer bétulas e faias pretas. As florestas boreais demoram a crescer e há pouca vegetação rasteira. Aparecem nos musgos, líquens e arbustos, mas demonstram a existência de adaptações ao meio.
Sendo de folha persistente, conservam, quando a temperatura baixa, a energia necessária à produção de novas folhas e assim que a luz solar aumenta, podem começar de imediato a realizar a fotossíntese. Embora haja precipitação, o solo gela durante os meses de Inverno e as raízes das plantas não conseguem água. A adaptação das folhas à forma de agulhas limita, então, a perda de água, por transpiração. Também a forma cónica das árvores da taiga contribui para evitar a acumulação da neve e a subsequente destruição de ramos e folhas. Os animais da taiga são guaxinins, alces, renas, veados, ursos, lobos, raposas, linces, martas, esquilos, lebres, castores e aves diversas. A atividade econômica nas taigas é muito intensa e os países que as detêm em particular, o Japão, Rússia, Canadá não parecem dispostos a abrandar os efeitos perversos do ritmo de exploração. Além das atividades de exploração da madeira, há aqueles decorrentes de testes e depósitos nucleares, naufrágios de submarinos nucleares no oceano Ártico.
A floresta Boreal, que se estende através do percurso de todo o hemisfério Norte do planeta, desde a América do Norte até o Japão, passando por parte da Rússia e pela Escandinávia, vem sendo ameaçada no Canadá por uma empresa da qual você provavelmente nunca ouviu falar: a Resolute Forest Products. Embora seu nome seja pouco conhecido no Brasil, é possível que ao menos um dos produtos da Resolute já tenha passado por suas mãos, em forma de jornais e revistas. A empresa é uma das maiores produtoras de papel, celulose e outros produtos comerciais florestais do Canadá. A Resolute tem extraído árvores em territórios de povos indígenas, sem seu consentimento, e destruído habitats críticos para as renas ameaçadas. A empresa tem agido judicialmente contra o Greenpeace, para impedir que a organização revele o que a companhia vem fazendo na Floresta Boreal do Canadá. A floresta Boreal ocupa uma grande faixa de terra ao norte do planeta. Sua vegetação é composta por coníferas, plantas extremamente resistente ao clima rigoroso entre -54º e 21 °C. Um espécime de pinheiro da espécie Picea abies que é mais usada como árvore de Natal, encontrado no Parque Natural Fulufjället, Dalarna (Suécia), passou a ser considerado a planta mais antiga de todo o planeta, com mais 9 500 anos de idade. Nesta classe botânica estão os pinheiros, as sequoias e as araucárias, comuns que tem ocorrência natural nos estados frios do sul do Brasil.
Devido a sua resistência ao tempo, algumas das árvores mais antigas do mundo são desta categoria. A floresta boreal é um bioma constituído pela taiga, também chamada de conífera. Estas árvores são altas, com troncos retos, copas em formato de cone, folhas finas em forma de agulha e revestidas por uma substância parecida com resina. Esta última característica é fundamental para que não acumulem neve e evita a perda de umidade e o congelamento. Assim como a vegetação, a fauna também não é rica em variedade de espécies. Tanto a flora como a fauna é adaptada ao vertiginoso clima frio e úmido das florestas boreais. Nos períodos mais quentes, entretanto, dificilmente chega a 20°C. Outra característica é que as noites são mais longas no inverno, enquanto o verão possui dias mais longos ou duradouros. Apesar de não serem áreas muito habitadas, as florestas boreais estão ameaçadas pela indústria de celulose e papel, uma vez que a madeira de algumas de suas espécies é explorada, inclusive para a construção civil. A indústria de celulose apresenta características diferentes dos demais mercados, devido ao fato de possuir um elevado nível de desenvolvimento tecnológico que utiliza instalações industriais com grande capacidade de produção, uma ampla base de recursos florestais plantados e intenso capital aplicado em tecnologia. Esse aparente avanço faz com que o bioma tenha sido reduzido drasticamente nas últimas décadas.
Cientistas ainda trabalham na análise técnica de sedimentos e tentam decifrar a cronologia exata da cratera. Isso é importante porque a história climática de grande parte da Sibéria ainda pode ser considerada um mistério. Ao reconstruir alterações ambientais do passado, cientistas esperam conseguir prever mudanças similares no âmbito de seu desenvolvimento. Há 125 mil anos, por exemplo, houve um período interglacial, com temperaturas vários graus acima das registradas atualmente. A cratera Batagaika pode oferecer lições cruciais, em especial sobre os mecanismos que aceleram o aquecimento em áreas de permafrost. À medida que o degelo avança mais e mais carbono é exposto a micróbios. Estes micro-organismos consomem carbono e produzem dióxido de carbono e metano - gases causadores do efeito estufa. No hemisfério norte, o permafrost é encontrado na ilha da Groenlândia, ou melhor, sobre o que resta do seu gelo eterno, cada vez mais escuro e encolhido, numa palavra, agonizante. As imagens aéreas que acabaram de chegar da maior ilha do planeta causam impressão. Milhões - bilhões - de toneladas de água que ficam estagnadas ou escorrem para o vale, em uma Terra que permanece coberta por 82% pelo manto branco perene, no extremo norte da península escandinava e nas altitudes elevadas dos Alpes no continente europeu. Nas três Américas irradiantes, multiétnicas está parte do território do Canadá, em quase todo o Alasca. 
O permafrost é definido como um solo permanentemente congelado que permanece a zero ou abaixo de zero grau Celsius por dois anos ou mais. O permafrost ou “pergelissolo” é o tipo ideal de solo encontrado na região do Ártico. É constituído por terra, gelo e rochas permanentemente congelados, significando do inglês perma = permanente, e frost = congelado, quer dizer, “solo permanentemente congelado”. Esta camada é recoberta por uma camada de gelo e neve que, se no inverno chega a atingir 300 metros de profundidade em alguns locais, ao derreter-se no verão, reduz-se para de 0,5 a 2 metros, tornando a superfície do solo pantanosa, uma vez que as águas não são absorvidas totalmente pelo solo congelado. Recomenda-se cuidado ao erigir edificações ou pavimentação neste tipo de solo, uma vez que, se a camada de permafrost for rompida, a edificação ou a pista pode afundar no terreno, árvores são inexistentes ou extremamente raras nesses locais. Na Islândia, no extremo Norte da Noruega e na Península de Kola é possível encontrar árvores, porém as chances são escassas. Situa-se no extremo norte da Rússia Europeia, junto à fronteira com a Finlândia, fazendo parte do Óblast de Murmansk, uma divisão federal (oblast) da Federação da Rússia que fica localizado na região noroeste do país. É limitada a norte pelo mar de Barents e a sul e este pelo mar Branco, cobrindo uma superfície aproximada de 100 000 km².
Ele contém material orgânico que normalmente se decompõe lentamente. Mas quando o permafrost derrete, bactérias e fungos decompõem o carbono contido na matéria orgânica muito mais rapidamente, liberando-o na atmosfera como dióxido de carbono ou metano - gases de efeito estufa. Mas, de acordo com um novo estudo publicado recentemente na revista Bioscience, o permafrost no Hemisfério Norte contém mais de duas vezes a quantidade de carbono na atmosfera, e o rápido degelo pode torná-lo um contribuinte significativo para a mudança climática global. A quantidade de dióxido de carbono que o permafrost irá adicionar à atmosfera depende da rapidez com que descongela, mas sua pesquisa indica que pode chegar a 1,1 bilhão de toneladas por ano se as atuais tendências de descongelamento continuar. Na península de Kola encontram-se as sondas tecnologicamente “mais profundas” para estudos da crosta terrestre voltado a prospecção técnica de petróleo, quando na década de 1970 eram iniciadas perfurações de poços chamados superprofundos que pretendiam atingir profundidades de 15 km, dentre os quais o Poço Superprofundo de Kola. Além dos Pomors russos, a península é habitada pelos povos sami (lapões), que foram forçados ao sedentarismo em Lovozero durante os anos da revolução comunista. Especialistas garantem que não só a cratera de Batagaika seguirá aumentando como, por conta da temperatura que segue subindo anualmente na Sibéria, outras mega crateras deve surgir. Imagens de satélite demonstram dezenas de lagos formadas no norte da Sibéria a partir do derretimento dessa camada de gelo permanente.   
Bibliografia geral consultada.
SERGE, Victor; SEDOVA, Natalia, Trotsky: The Life and Death of Leon Trotsky. London: Editor Wildwood House, 1975; BASTOS, Cezar Augusto Burkert, Estudo Geotécnico sobre a Erodibilidade de Solos Residuais não Saturados. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil. Escola de Engenharia. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1999; BRUNA, Giulia Bogliolo, “Primeiros Cumprimentos des Occidentaux sur les Inuit”. In: Destins Croises. Cinq siècles de rencontres avec les Amérindiens. Paris: Unesco; Bibliothèque Albin Michel, 1992, pp. 393-410; Idem, Apparences Trompeuses: Sananguaq; Au Coeur de la Pensée. Paris: Librairie Gallimard, 2007; LARUELLE, Marlene, Russian Eurasianism. An Ideology of Empire. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 2008; NIETZSCHE, Friedrich, Aurora. 2ª edição. São Paulo: Editora Escala, 2008; PEIXOTO, Luciana de Jesus dos Santos, O Património Geomorfológico – Glaciário do Parque Nacional da Penêda – Gerês: Proposta de Estratégia de Geoconservação. Dissertação de Mestrado. Escola de Ciências. Departamento de Ciências da Terra. Braga: Universidade do Minho, 2008; HAMMES, Daiane Flora, Análise e Interpretação Ambiental da Química Iônica de um Testemunho  do Manto de Gelo da Antártica Ocidental. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Geociências. Instituto de Geociências. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2011; BAIMA, Cesar, A Aurora do Antropoceno, a Era dos Humanos. In: https://oglobo.globo.com/16/01/2015VOGEL, Hamilton Luiz Munari, Quantificação da Biomassa e Nutrientes em uma Floresta Estacional Decidual em Itaara – RS, Brasil. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria, 2015; ISAACSON, Walter, La Vie d`un Génie. Paris: Editeur Modus Vivendi, 2016; Artigo: A Impressionante Cratera de Batagaika, na Sibéria, é um Alerta contra Desmatamento. Disponível em: https://www.hypeness.com.br/2017/0203D´ÁVILA, Rafael, “Fotógrafo Registra Imagens da Aldeia mais Fria do Mundo onde Temperatura pode Chegar a -71.2 C”. Disponível em: https://www.criatives.com.br/2018/01/; DOMINGUEZ, Nuño, “Revelada a Origem dos Cães (Inuítes) que Conquistaram o Ártico”. In: https://brasil.elpais.com/2019/12/15/; NUNES DE OLIVEIRA, Wellington, A Ocupação de Áreas Savânicas no Brasil e em Moçambique. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais. Goiãnia: UNiversidade Federal de Goiás, 2020; FARIA NICOLAU, Ricardo de, Dendrogeomorfologia, Erosão Hídrica e Uso do Solo em uma Área Urbana do Município de Goiânia, Goiás, Brasil. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais.  Goiânia: Pró-Reitoria de Pós-graduação Universidade Federal de Goiás, 2020; NUNES, Nykollas Gabryel Oroczko, George Kennan e a Escrita do Distante em Tent Life in Siberia (1879). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Escola de Humanidades. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2020; entre outros.

domingo, 3 de maio de 2020

Isto (não) é um cachimbo – A Semelhança do Objeto de Análise.

Ubiracy de Souza Braga & Giuliane de Alencar Braga

                   “A arte da conversa é a gravitação autônoma das coisas”. Michel Foucault



                       
          A questão colocada aqui pretende desvelar ou tornar consciente no plano compreensivo da interpretação, algo grandioso que permanece encoberto e  desconhecido por aquela disputa sobre os métodos, algo que, antes de inferir limites e restringir a ciência moderna e contemporânea, precede-a e em parte torna-a possível. Ou, no limite da tradição de gênero, se quisermos nos opor à “hipótese repressiva” basta recolocá-la numa economia geral dos discursos para determinar, em suma, em seu funcionamento e em suas razões de ser, o regime de poder-saber-prazer que sustenta entre nós, o discurso sobre a sexualidade humana, para assim, compreendermos, “quem fala, os lugares e os pontos de vista de que se fala, as instituições que incitam a fazê-lo”, que armazenam e difundem o que dele se diz, em suma o “fato discursivo” global, e foucaultianamente dito e escrito e inevitável da “colocação do sexo em discurso”. Isto porque a colocação do sexo em discurso parece gerar técnicas normalizadoras e normatizadoras de controle, o qual se exerce não tanto através de proibições e punições, mas através de mecanismos, metodologias e práticas que visam a produzir sujeitos autodisciplinados no que se refere à maneira de viver sua sexualidade.
            Um fato memorável se dá com a biografia de Foucault escrita por Didier Eribon (1990), onde é belíssima a passagem que ilustra a conversa com Hegel para aquela geração de franceses da década de 1940. O professor que atrairá profundamente esse grupo é aquele encarregado de preparar a classe para a prova de filosofia. Khâgne é um termo em francês reconhecido como classes preparatórias literárias, ou seja, a classe preparada para grandes escolas dedicada à literatura e às humanidades. Chama-se Jean Hyppolite e seu nome reaparece mais de uma vez na caminhada que Michel Foucault escolhera. Jean d’Ormesson, que frequentou o Liceu dois anos antes, descreve esse homem redondo atrás da mesa, a palavra sorridente, farta, sonhadora, tímida, alongando o final das frases com patéticas aspirações, reluzindo de eloquência à força de recusá-la, exigindo o mesmo rigor nos métodos, a fim de reconstituir a sequência da filosofia, afirmando ainda “eu não compreendia nada”. Sem dúvida outros também não compreendiam. Hyppolite fascina os alunos. Ele comenta para os alunos a concepção contida na Fenomenologia do Espírito, de Hegel e a Geometria, de René Descartes. Um objeto abstrato não existe em nenhum momento, ou lugar particular, mas  como um tipo de representação (coisa) como uma ideia, ou abstração


                      
Mas é o curso acadêmico de Friedrich Hegel que impressionou-os e se grava na memória. Michel Foucault não fica imune a essa atração, ao contrário: “apaixonado por história, encontra-se aturdido pela tentação filosófica”. O professor lhe expõe justamente uma filosofia que faz o relato da história e narra o paciente caminho da Razão rumo a sua elevação. Sem dúvida Jean Hyppolite que se notabilizou por seus trabalhos sobre Hegel e outros filósofos alemães, além de ter sido mestre de alguns dos mais proeminentes pensadores franceses,  foi o iniciador de Foucault naquilo que se tornaria o seu destino. O próprio Foucault não deixou de proclamar sua dívida com Hyppolite, que alguns anos depois reencontrariam no quadro docente da École Normale e a quem sucederia no Collège de France. Quando Jean Hyppolite faleceu, em 1968, Foucault declarou: - “Os que estavam no Khâgne após a guerra se lembram das aulas de Hyppolite sobre a Fenomenologia do Espírito: naquela voz que não parava de se recompor como se meditasse no interior do próprio movimento que não ouvíamos apenas a voz do professor: ouvíamos algo da voz de Hegel e talvez da voz da própria filosofia. Não creio que seja possível esquecer a força daquela presença, nem a proximidade que ele pacientemente invocava” (cf. Eribon, 1990: 33).           
Porém a dívida que Foucault proclamará a Hyppolite irá muito mais longe que a simples gratidão pela descoberta de uma vocação. Ao concluir sua tese de doutorado em 1960, Foucault dedica a alguns essa obra reconhecida sob o título Histoire de la Folie à l’âge Classique. Esses inspiradores aos quais agradece são Georges Dumézil, Georges Canguilhem e Jean Hyppolite. Na aula Inaugural no Collège de France (1970), dez anos após a redação do livro, Foucault presta nova homenagem ao seu professor no Khâgne: - “Toda nossa época, seja pela lógica, seja pela epistemologia, seja por Marx, seja por Nietzsche, procura escapar de Hegel. Mas escapar de Hegel pressupõe apreciar exatamente o que custa se afastar dele; pressupõe saber até onde Hegel, talvez de modo insidioso, se aproxima de nós; pressupõe saber o que é hegeliano mesmo naquilo que nos permite pensar contra Hegel; e avaliar em que nosso recurso contra ele ainda é, talvez, um artifício que ele coloca para nós e no fim do qual nos espera imóvel e alhures. Ora temos uma dívida com Jean Hyppolite é porque ele infatigavelmente percorreu por nós e antes de nós esse caminho pelo qual nos afastamos de Hegel, tomamos a distância e nos encontramos outra vez com ele, mas de outra forma, e novamente nos vemos forçados a deixá-lo”. 
        Se a Fenomenologia representa o itinerário da alma que se eleva ao espírito por meio da consciência, fora de dúvida a ideia de semelhante itinerário foi sugerida a Hegel pari passu com a convergência entre as obras literárias, como também aquelas que nos parecem referidas como novelas de cultura tendo em vista a leitura feita sobre o Emílio, de J.-J. Rousseau e que nela encontrava uma primeira história da consciência natural elevando-se por si mesma a liberdade, através das experiências que lhe são próprias e que são particularmente formadoras. Se me permitem uma digressão, na Lettre à d`Alembert, Rousseau, além de ignorar a distinção metodológica entre o “possível e o real”, também fornece uma teoria explícita dos limites da perfectibilidade do teatro. Assim, Rousseau inova, quando recorta do ponto de vista heurístico a ideia social de gênero de todo fundamento ideal-transcendente, deixando-a à deriva no elemento móvel no âmbito da historicidade. O campo do possível é constituído na historia: cada forma de sociabilidade, cada estilo de linguagem, escolhe, por assim dizer, os seus móveis possíveis; a cada abertura, esboçada por uma linguagem particular, corresponde um fechamento que lhe é indissociável. O gênio nada pode contra as regras que secreta cada estrutura histórica. 

Esta ideia foi suficiente ao desenho mais correto na inscrição como esta: “Isto não é um cachimbo”, para que logo a figura esteja obrigada a sair de si própria, isolar-se de seu próprio espaço e, finalmente, pôr-se a flutuar, longe ou perto de si mesma, não se sabe, se semelhante ou diferente de si. No oposto de Isto não é um cachimbo, L`Art de la conversation: numa paisagem de começo do mundo ou mesmo de gigantomaquia, dois personagens minúsculos estão falando: discurso inaudível, murmúrio que é logo retomado no silêncio das pedras, no silêncio dessa parede em desaprumo que domina, com seus blocos enormes, os dois tagarelas mudos; ora esses blocos amontoados em desordem uns sobre os outros, formam a sua base, um conjunto de letras onde é fácil decifrar a palavra: rêve – sonho que é possível, olhando melhor, completar com trêve, trégua, ou crêve, morte, ou morra, arrebente, como se todas essas palavras frágeis e sem peso tivessem recebido o poder de organizar o caos das pedras.
         Ao contrário, pois por detrás da tagarelice despertada, mas logo perdida, dos homens, as coisas pudessem, em seu mutismo e em seu sono, compor uma palavra, estável que anda poderá apagar, palavra que designa a mais fugidia das imagens. Mas não é tudo: pois segundo Foucault, é no sonho que os homens, enfim, reduzida ao silêncio, comunicam com a significação das coisas, e se deixam impressionar por essas palavras enigmáticas, insistentes, que vem de outro lugar. Isto não é um cachimbo, era a incisão do discurso na forma das coisas, era seu poder ambíguo de negar e de desdobrar: A arte da conversa é a gratidão autônoma das coisas que forma as suas próprias palavras na indiferença dos homens, impondo a eles, sem mesmo que saibam, em sua tagarelice cotidiana. Para o que importa entre esses dois extremos, a obra de Magritte desdobra o jogo das palavras e imagens. Os títulos, frequentemente inventados a posteriori e por outrem, se inserem nas figuras onde o ponto em que podem se agarrar, estava se não marcado, autorizado de antemão, onde representam um ambíguo.
Foucault nos coloca em dupla condição diante de um complexo esboço filosófico sobre a arte que, ao mesmo tempo, é arte enquanto abstração. Dois sujeitos escapam ao marcado mundo das semelhanças: o leitor e o expectador. Este mesmo campo das semelhanças serve à representação e igualmente a ordena, enquanto a similitude se estabelece na incerteza e na flutuação. Tudo isso é necessário para afirmar que "em nenhum lugar há um cachimbo" (p. 34). O que importa saber para além da representação de Magritte é que os signos e as coisas, dois universos de semelhanças, estão unidos pelo mesmo jogo. A semelhança domina a trama do mundo das coisas. O que Foucault chamou de "um apagar do lugar-comum" não é mais que a ausência de espaço entre os signos da escrita e as linhas da imagem. A arte escreve algo em nós, discursa e apresenta enunciados de difícil compreensão.
Um objeto num quadro é um volume organizado e colorido de tal sorte que sua forma se reconhece logo e que não é necessário nomeá-lo, mas no objeto, a massa necessária é reabsorvida, o nome inútil é despedido; Magritte elide o objeto e deixa o nome imediatamente superposto à massa. O fuso substancial do objeto não e mais representado senão por seus dois pontos extremos, a massa que faz sombra e o nome que designa. L`Alphabet des révélations se opõe muito exatamente ao Personagem caminhando em direção do horizonte: para Foucault, um grande quadro de madeira dividido em dois painéis, à direitas, formas simples, perfeitamente reconhecíveis, um cachimbo , uma chave, uma folha, um copo; ora, embaixo do painel, a figuração de um rasgo mostra que essas formas não são nada além de recortes numa folha de papel sem espessura; sobre o outro painel, uma espécie de barbante torcido e inextricável não desenha nenhuma forma reconhecível. Sem massa, sem nome, forma e volume, recorte vazio, tal é o objeto, entenda-se, que havia desaparecido do quadro precedente.
            É preciso não se enganar: num espaço em que cada elemento parece obedecer ao único princípio de representação plástica e da semelhança, os sinais linguísticos, que pareciam excluídos, que rondavam de longe à volta da imagem, e que o arbitrário do título parecia ter afastado para sempre, se aproximaram sub-repticiamente: introduziram na solidez da imagem, uma desordem – uma ordem que só lhes pertence. Fizeram fugir o objeto, que revela a finura de sua película. Parece, grosso modo, que Magritte dissociou a semelhança da similitude e joga esta contra aquela. A semelhança tem um padrão impreciso, mas que funciona como elemento original que ordena e hierarquiza a partir de si todas as cópias, cada vez mais fracas, que podem ser tiradas. Assemelhar significa uma referência primeira que prescreve e classifica. O similar se desenvolve em séries que não tem começo nem fim, que é possível percorrer num sentido ou em outro, que não obedecem a nenhuma hierarquia, como num colegiado universitário, mas se propagam sob a forma de pequenas diferenças em inúteis pequenas diferenças.
           A semelhança serve à representação, que reina sobre ela; a similitude serve à repetição, que corre através dela. A semelhança se ordena segundo o modelo que está encarregada de acompanhar e de fazer reconhecer; a similitude faz circular o simulacro como relação indefinida e reversível do simular ao simular. Na Décalcomanie (1966), uma cortina vermelha de largas dobras que ocupa dois terços do quadro subtrai ao olhar uma paisagem do céu, do mar e de areia. Ao lado da cortina, dando como de costume, as costas ao espectador, o homem com chapéu-coco olha para o perigo. A cortina se encontra recortada com uma forma que é exatamente a do homem: como se fosse ele próprio um pedaço de cortina cortado com a tesoura. Nessa larga abertura, vê-se a praia. O que se deve compreender? É o homem destacado da cortina e, ao se deslocar permite ver o que ele provavelmente estava olhando quando se misturava com a dobra da cortina? Decalcomania? Deslocamento e mudança de elementos similares, mas de modo algum reprodução semelhante: “corpo=cortina”, diz representação semelhante.
      A semelhança comporta uma única asserção, sempre a mesma. A similitude as afirmações diferentes, que dançam juntas, apoiando-se e caindo umas em cima das outras. Expulsa do espaço do quadro, excluída da relação entre as coisas que reenviam uma à outa, a semelhança desaparece. Mas não era para reinar em outro lugar, onde estaria liberta do jogo indefinido da similitude. Não cabe à semelhança ser a soberania que faz surgir. A semelhança, que não é uma propriedade das coisas, não é própria ao pensamento? “Só ao pensamento”, diz Magritte, “é dado ser semelhante; ele assemelha sendo o que vê, ouve ou conhece; torna-se o que o mundo oferece”. O pensamento assemelha sem similitude, tornando-se ele próprio essas coisas cuja similitude entre si exclui a semelhança. A pintura é esse ponto onde está na vertical um pensamento que está sob o modo da semelhança e das coisas que estão nas relações de similitude. Isto não é um cachimbo é suficiente para a questão: quem fala a enunciação? Ou antes, de fazer falar, os elementos dispostos, seja deles mesmo: “Isto não é um cachimbo”. Ela inaugura um jogo de transferências que correm, proliferam, se propagam, se respondem, no plano do quadro sem nada afirmar, nem representar nesses jogos da similitude.

            Em Les Liaisons dangereuses uma mulher nua mantém diante de si um espelho que a esconde quase inteiramente: tem os dois olhos quase fechados, baixa a cabeça, que volta para a esquerda como se quisesse não ser vista e não ver que é vista. Esse espelho, que se encontra exatamente no plano do quadro e de frente para o espectador, envia a imagem da própria mulher que se esconde: a face refletidora do espelho faz ver essa parte do corpo (dos ombros à coxas) que a face cega esconde. O espelho funciona um pouco ao modo de uma tela radioscópica. Mas com todo um jogo de diferenças. A mulher é ali vista de perfil, inteiramente voltada para a direita, o corpo ligeiramente inclinado para a frente, o braço não estendido para carregar o espelho pesado, mas dobrado sobre os seios; a longa cabeleira que deve mergulhar por trás do espelho, à direita, escorre, na imagem do espelho, à esquerda, ligeiramente interrompida pela moldura do espelho, no momento desse ângulo brusco. A imagem é notavelmente menor do que a própria mulher, indicando assim, entre o espelho e o que ele reflete, uma certa distância que a atitude da mulher contesta, ou é por ela contestada, apertando o espelho contra seu próprio corpo para melhor escondê-lo. Esse pouco de distância por trás do espelho é manifestado ainda pela extrema proximidade da parede. Entre a parede e o espalho, o corpo escondido foi eliminado e a superfície opaca da parede, que recebe apenas sombras, não há nada. Em todos esses planos, escorregam-se similitudes que nenhuma referência vem fixar; translações sem ponto de partida nem suporte. Dia virá no qual a própria imagem, com o nome que traz, é que será desidentificada pela relação social de similitude indefinidamente transferida numa série. Isto quer dizer que o objeto abstrato: “Isto não é um cachimbo”, silenciosamente escondido na representação semelhante, tornou-se o “Isto não é um cachimbo” das similitudes em circulação.                                  
           Michel Foucault com o único fim de estabelecer os efeitos sociais a partir de tais relações sociais e políticas desloca-se deste ponto de vista para trabalhar com algumas séries de noções: “formações discursivas”, “positividade”, “arquivo”, definindo um domínio. Os enunciados, o campo enunciativo, as práticas discursivas, revelam a especificidade de um método de análise que não seria “nem formalizador, nem interpretativo”, pois já existem muitos métodos capazes de descrever e analisar a linguagem, para que não seja presunção querer acrescentar-lhes outro. Ele já havia mantido “sob suspeita”, expressão que utiliza hic et nunc, em unidades de discurso como o livro ou a obra porque desconfiava que não fosse tão imediata e evidente quanto pareciam: será razoável opor-lhes unidades estabelecidas à custa de tal esforço, depois de tantas hesitações e segundo princípios tão obscuros que foram necessárias centenas de páginas para elucidá-los? O que pode oferecer essa arqueologia? Qual é a recompensa de tão árdua empresa?  A arqueologia metodologicamente procura ordenar, classificar, averiguar e compreender os fatos sociais e históricos ocorridos.                                     
Entre análise arqueológica e história das ideias, os pontos de separação são numerosos, mas que simplificadamente, para o filósofo, apresentam quatro distinções: 1ª) A arqueologia busca definir não os pensamentos, as representações, as imagens, os temas, as obsessões que se ocultam ou se manifestam nos discursos; mas os próprios discursos, enquanto práticas que obedecem a regras sociais. Ela não trata o discurso como documento, mas onde se mantém a parte, a profundidade do essencial; ela se dirige ao discurso em seu volume próprio, na qualidade de monumento. Não busca um “outro discurso” mais oculto. Recusa-se a ser “alegórica”; 2ª) A arqueologia não procura encontrar a transição contínua e insensível que liga, em declive suave, os discursos ao que os precede, envolve ou segue. O problema dela é, pelo contrário, definir a tópica dos discursos em sua especificidade, sintoma e precariedade dada.  Mostrando em que sentido o jogo das regras que utilizam é irredutível a qualquer outro; segui-los ao longo de suas arestas exteriores para melhor salientá-los.
Ela não vai à progressão lenta do campo do confuso da opinião à singularidade do sistema ou à estabilidade definitiva da ciência; não é uma “doxologia”, mas uma análise diferencial das modalidades de discurso; 3ª) A arqueologia não é ordenada pela figura soberana da obra; não busca compreender o momento em que esta se destacou no horizonte anônimo. Não quer reencontrar o ponto enigmático em que o individual e o social se invertem um no outro. Ela não é nem psicologia, nem sociologia, nem, num sentido mais geral, a ideia de “antropologia da criação”. A obra não é para ele um recorte metodológico acadêmico pertinente, mesmo se se tratasse de recolocá-la em seu contexto mais global, ou na rede das causalidades positivistas que a sustentam. Ela define tipos e regras de práticas discursivas que atravessam obras individuais. Embora muitas vezes as comandasse inteiramente e as dominam sem que nada lhes escape, no sentido panoptista. Mas sem dúvida em outras vezes, que só lhes rege uma parte referida à instância do sujeito e princípio de sua unidade que ao que parece lhes são estranhas.   
Mas Michel Foucault entende que a arqueologia não procura reconstituir o que pôde ser pensado, desejado, visado, experimentado, almejado pelos homens no próprio instante em que proferiam o discurso. Ela não se propõe a recolher esse núcleo aparente e fugidio onde Autor e obra trocam de identidade. Onde o pensamento permanece ainda o mais próximo de si, na forma ainda não alterada do mesmo, e onde a linguagem não se desenvolveu ainda na dispersão espacial sucessiva do discurso. Não tenta repetir o que parece que foi dito, reencontrando-o em sua própria identidade. Não se pretende apagar na modéstia ambígua de uma leitura que deixaria voltar, em sua pureza, a luz longínqua, precária, quase extinta da origem. Menos que nada e diferente de uma “reescrita”. É na forma mantida da exterioridade, uma transformação regulada do que já foi escrito. Não é o retorno ao próprio “segredo da origem”; é descrição de um discurso-objeto.                                       
É neste sentido que no livro: As Palavras e as Coisas (2016), Michel Foucault  indica-nos pistas e propõe metodologicamente uma forma peculiar de descrever a imagem, sobre a técnica de interpretação através da pintura do quadro Las Meninas, de 1656 de Diego Velásquez, o principal artista do século de ouro espanhol havendo sido reconhecida como uma das pinturas mais importantes na história da arte ocidental. Não por acaso o pintor barroco Luca Giordano afirmou que ela representa a “teologia da pintura”, com o presidente da Academia Real Inglesa ou Royal Academy School of Arts: Sir Thomas Lawrence descrevendo a obra em 1827 para David Wilkie refere-se a ela como “a verdadeira filosofia da arte”. Seguindo esta direção interpretativa a obra foi descrita magistralmente ainda como a “realização suprema de Velásquez, uma demonstração bem consciente e calculada sobre o que uma pintura pode alcançar”. Artista celebrado e prolífico, tinha o cognome de Luca Fapresto pelos seus contemporâneos pela inusitada rapidez com que pintava. Uma tela da igreja de Santa Maria do Pranto, Nápoles, teria sido pintada em 48 horas. O número de obras a ele atribuído ascende à casa dos cinco mil títulos, mas a maioria de nível medíocre.
            Na análise o pintor está ligeiramente afastado do quadro, com um olhar em direção ao modelo e acrescentar um último toque, mas é possível também que o primeiro traço não tenha ainda sido aplicado. O braço que segura o pincel está dobrado para a esquerda, na direção da palheta; permanece imóvel, por um instante, entre a tela e as cores. Essa mão hábil particular do ofício de pintor está pendente do olhar; e o olhar, em troca, repousa sobre o gesto suspenso. Entre a fina ponta do pincel e o gume do olhar, o espetáculo vai liberar seu volume. Não sem um sistema sutil de evasivas. Distanciando-se um pouco, o pintor colocou-se ao lado da obra na qual trabalha. Isso quer dizer que para o espectador que olha, ele está à direita de seu quadro, o qual ocupa toda a extremidade esquerda. A esse mesmo espectador o quadro volta às costas: dele só se pode perceber o reverso, com a imensa armação que o sustenta como se fosse um arco da representação e captura da imagem. É perfeitamente visível em toda a sua estatura.

Mas, de todo modo, ele não está encoberto pela alta tela que, talvez, irá absorvê-lo logo em seguida, quando, dando um passo em sua direção, se entregará novamente a seu trabalho; sem dúvida, nesse mesmo instante, ele acaba de aparecer aos olhos do espectador, surgindo dessa espécie de grande gaiola virtual que a superfície que ele está pintando projeta para trás. Podemos vê-lo agora, num instante de pausa, no centro neutro dessa oscilação. Seu talhe escuro, seu rosto claro são meios-termos entre o visível e o invisível: saindo dessa tela que nos escapa, ele emerge aos nossos olhos; mas quando, dentro em pouco, der um passo para a direita, furtando-se aos nossos olhares, achar-se-á colocado bem em face da tela que está pintando; entrará nessa região onde seu quadro, negligenciado por um instante, se lhe vai tornar de novo visível, sem sombra nem reticência. Como se o pintor não pudesse ser ao mesmo tempo visto, no quadro em que está representado, e ver, aquele em que se aplica representar, ele reina no limiar dessas duas visibilidades incompatíveis. Quando se colocam o espectador no campo de seu olhar, os olhos do pintor captam-no, constrangem-no a entrar no quadro, designam-lhe um lugar-tempo privilegiado, obrigatório, apropriam-se da espécie e projetam a superfície inacessível da tela virada. 
        Ele vê sua invisibilidade tornada visível ao pintor e transposta em uma imagem definitivamente invisível a ele próprio. Surpresa que é multiplicada e tornada ainda mais inevitável por um estratagema marginal. Pensando bem, ele não faz ver nada do que o próprio quadro representa. Seu olhar imóvel vai captar à frente do quadro, nessa região necessariamente invisível que forma sua face exterior, as personagens que ali estão dispostas. Em vez de girar em torno de objetos visíveis, esse espelho atravessa todo o campo da representação, negligenciando o que aí poderia captar, e restitui a visibilidade ao que permanece fora do olhar. Mas essa invisibilidade que ele supera não é a do oculto, pretende ser ao que é invisível, ao mesmo tempo pela estrutura do quadro e por sua existência como pintura. A negação que divorcia o nome do desenho dele próprio vai intercambiar imagem e texto. Essa negação não cessa, seguindo o ambíguo poder de negar e de desdobrar em outras questões. Em resumo, dizer “isto não é um cachimbo” significa a incisão do discurso na forma das coisas, assim,“(...) sabiamente dispostos sobre a folha de papel, os signos invocam, do exterior, pela margem que desenham, pelo recorte de sua massa no espaço vazio da página, a própria coisa de que falam. As significações são armadilhas inevitáveis”. Como podermos nos portar diante delas? Talvez como leitores e expectadores deslumbrados pelo universo dos discursos.
Bibliografia geral consultada.
BLAVIER, André, Ceci n’est pas une pipe. Contribuição furtive à l’étude d’un tableau de René Magritte. Ville de Verviers (Bélgica): Éditions Temps Mêlés, 1973; SCHNEEDE, Uwe, René Magritte. Barcelona: Ediciones Labor, 1978; FREEMAN, Judi, A Imagem Dada & Surrealista Word. Los Angeles: Los Angeles County Museum of Art, de 1989; PAQUET, Marcel, Magritte: O Pensamento Tornado Visível. Colonia: Editora Benedikt Taschen, 1992; ERIBON, Didier, “Michel Foucault, 1926-1984”. In: Tempo Social. Revista de Sociologia. São Paulo: Universidade de São Paulo. Vol. 7, n˚ 1-2, out. 1995; LENAIN, Thierry (Org.), L`image: Deleuze, Foucault, Lyotard. Paris: Librairie Philosophique J. Vrin, 1997; FIGUEIREDO, Virgínia, “Isto é um cachimbo”. In: Kriterion vol.46, n°112. Belo Horizonte, dezembro de 2005; ALLMER, Patrícia, René Magritte: Beyond Painting. Manchester University Press, 2009; DEWEY, John, A Arte como experiência. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2010; ARCHER, Michael, Arte Contemporânea. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2013; TRINDADE, Flávia Ferreira, “A dicotomia figura x linguagem apresentada na obra Isto não é um cachimbo analisada sobre a ótica da semelhança”. In: Enciclopédia. Pelotas, vol. 5, 2016; DE SALVADOR AGRA, Saleta, “Viendo el Sentido: Similitudes y Juegos Sígnicos en Magritte”. In: Revista Signa. Universidade de Vigo, 27 (2018), pp. 1023-1042; ARAUJO, Manoel Deisson Xenofonte; BOTELHO, Adriana Barroso, O Pensamento Tornado Visível: O Surrealismo de Magritte no Design Gráfico de Thorgerson. In: Educação Gráfica. Vol. 19, n˚ 1, 2015; FOUCAULT, Michel, Ceci n`est pas une pipe: Sur Magritte. Montpellier: Éditions Fata Morgana, 1973; Idem, Isto não é um cachimbo. 7ª edição. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 2016; Idem, As Palavras e as Coisas. Uma Arqueologia das Ciências Humanas. Rio de Janeiro: Editora Martins Fontes, 2016; DE SALVADOR AGRA, Salete, “Viendo el Sentido: Similitudes y Juegos Sígnicos en Magritte”. In: Revista Signa, 27: 2018; pp. 1023-1042; FRANCO, Diogo Banzato, Foucault e o que fazer. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Direito. Faculdade de Direito. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2020;  entre outros.