sábado, 27 de junho de 2020

Don Shirley - Música, Prazer & Formas de Interverter Papéis.


Ubiracy de Souza Braga

                                                A felicidade é um problema individual”. Sigmund Freud



            Don Shirley foi um pianista, compositor, arranjador de jazz e intérprete de música clássica. Era filho do imigrante jamaicano sacerdote episcopal Edwin Shirley e de professora Stella. Começou a tocar piano aos dois anos de idade, e aos sete anos já apresentava desenvoltura e habilidade técnica suficiente para estudar no Leningrad Conservatory of Music. Aos nove anos acompanhava seu pai ao órgão da igreja. Durante a década de 1940, Shirley havia realizado um concerto menor de Tchaikovsky, além de uma composição de sua autoria na Orquestra Filarmônica de Londres. Fez seu primeiro concerto em 1945 com a Orquestra Pops de Boston, ao tocar o Concerto para Piano nº 1, de Piotr Ilitch Tchaikovsky, e no ano seguinte a Orquestra Filarmônica de  Londres apresentou uma das suas composições. Na década seguinte compôs inúmeras sinfonias de órgãos, concerti de piano, violoncelo, quartetos de corda, óperas de um ato, obras para órgão, piano e violino e um poema de tom sinfônico baseado em Finnegans Wake, o último romance de James Joyce, publicado em 1939, e um dos símbolos da literatura experimental, quando escrito em uma síntese composta pela fusão de palavras, em inglês e outras línguas, tendo como escopo múltiplos significados. Isto para não falarmos da obra de maior destaque, intitulada: Orpheus in the Underworld, de 1956.  
Entre os anos de 1954 e 1968, se apresentou como solista com várias orquestras sinfônicas, incluindo a Orquestra Pops de Boston, fundada em 1885 como uma subsidiária da Orquestra Sinfônica de Boston, a Orquestra Sinfônica de Detroit, fundada em 1914 por dez mulheres da sociedade de Detroit, que contribuíram com 100 dólares para a organização, a Orquestra Sinfônica de Chicago, é uma das cinco orquestras norte-americanas referidas como Big Five, representando as cinco melhores do país. Fundada em 1897, a Sinfônica tem o Orchestra Hall de Chicago como residência e apresenta sua temporada de verão em Ravinia Festival, e a Orquestra Sinfônica Nacional, fundada em 1931 é uma orquestra sinfônica baseada no John F. Kennedy Center, em Washington, DC. A principal função da memória não é preservar as ideias simples, mas sua estrutura dual relativa à ordem e posição. Esse princípio se apoia em aspectos comuns e vulgares do cotidiano que podemos nos poupar o trabalho de continuar insistindo nele. A cooperação nem sempre é um problema. Às vezes, é uma conclusão previsível; outras vezes impossível. Como a imaginação pode separar todas as ideias cumulativas simples, analisa-las e uni-las novamente da forma que lhe aprouver, nada seria mais inexplicável que as operações dessa faculdade, se ela não fosse guiada por alguns princípios universais, que a tornam, em certa medida, uniforme em todos os momentos e lugares.          



Apesar de desejar tocar os clássicos como Chopin, pianista polonês radicado na França e compositor para piano da era romântica, amplamente reconhecido como um dos maiores compositores para piano e um dos pianistas mais importantes da história, e Liszt, compositor, pianista, maestro e professor e terciário franciscano húngaro do século XIX, um dos representantes proeminentes da Neudeutsche Schule, que deixou um legado extenso e diversificados. Influenciou seus contemporâneos e antecipou algumas ideias e tendências do século XX. Algumas de suas contribuições mais notáveis referem-se à invenção do “poema sinfônico”, desenvolvendo o conceito de transformação temática, como parte de suas experiências em forma musical e fazer rupturas radicais em harmonia. Ele também desempenhou um papel importante na popularização de uma grande variedade de música de transcrição para piano. Don Shirley recebeu a recomendação de seu empresário, Sol Hurok, de se dedicar ao jazz, um estilo típico da comunidade afrodescendente, pois não aceitariam, em seu tempo, o papel de “um músico negro tocando música europeia”. Dessa forma, Shirley uniu-se ao baixista Ken Fricker e o violoncelista Juri Taht e formou o Don Shirley Trio, onde se apresentavam e gravavam discos em estúdio. Com o trio, gravou Water Boy em 1961, seu grande sucesso, unindo Chopin à música dos anos 1960. Don Shirley não se considerou um artista e muito menos um intérprete de jazz. Gravou um concerto de Rachmaninoff com a Orquestra Filarmônica de Nova York, mas não conseguiu uma gravadora desse exemplar. Seu talento e argúcia, apesar das dificuldades que enfrentou, eram reconhecidos socialmente. O compositor russo Igor Stravinsky o elogiou dizendo que “seu virtuosismo é digno dos deuses”.
          De formação policompetente, Don Shirley era doutor em Psicologia, falava oito idiomas e, além disso, também sabia pintar. Jazz representa uma manifestação artístico-musical originária de comunidades de Nova Orleans nos Estados Unidos da América. Tal manifestação teria surgido por volta do final do século XIX na região de Nova Orleans, tendo origem na cultura popular e na criatividade das comunidades negras que ali conquistaram um desses lugares praticados mais importantes. Contudo, o jazz se desenvolveu com a associação de várias tradições religiosas, em particular de domínio afro-americano. Esta nova forma de se fazer música incorporava blue notes, chamada e resposta, forma sincopada, polirritmia, improvisação e notas com swing do ragtime. Os instrumentos musicais básicos para o Jazz são aqueles usados em bandas marciais e bandas de dança: metais, palhetas e baterias. No entanto, o jazz, em suas várias formas, aceita praticamente todo tipo de instrumento. As origens da palavra jazz são incertas. A palavra tem suas raízes na gíria norte-americana e várias derivações têm sugerido tal fato. O jazz não foi aplicado como música até 1915. Earl Hines (1903-1983) se tornou um celebrado músico de jazz, e costumava dizer que estava “tocando o piano antes mesmo de a palavra jazz ser inventada”.  Foi compositor, líder de bandas e um dos maiores pianistas da história do Jazz.
Nova Orleans, no estado norte-americano da Louisiana, era no século XIX o que Paris só viria a ser mais de 100 anos depois: uma festa. Desde o século XVIII, ainda sob o domínio dos franceses, o carnaval (Mardi Gras), era tradicionalíssimo. A cidade, fundada em 1718, havia sido território francês e espanhol antes de ser comprada pelos Estados Unidos, em 1803, numa transação de 11 milhões de dólares. Seu porto a tornara um grande polo de escravos, vindos principalmente da África ocidental. Dos antigos colonizadores, Nova Orleans herdara a tolerância da ética católica a manifestações individuais e coletivas dos escravos – bem diferente do resto do país, de orientação ética protestante. Aos domingos, os escravos exibiam suas danças e cantos em Congo Square. Um jornal de 1838 revelava a nova mania de trompetes e cornetas que tomava conta da cidade. Da fusão dos elementos musicais africanos com o som de bandas militares e a tradição erudita européia, ensinada a colonos e creoles, nasciam os embriões do gênero que tornaria a vida social dos negros mais dinâmicos e felizes. 

De 27 milhões de álbuns vendidos em 1914, houve um salto para 100 milhões sete anos depois. Mas, entre 1922 e 1923, quase meio milhão de negros deixaram o sul do país rumo a Chicago e Nova York em busca de oportunidade nos centros industriais. Nova York era a capital dos salões de dança e dos bares clandestinos pós-Lei Seca, que proliferavam: neles, o talento de inúmeros músicos eram atrações principais para chamar público. No Harlem, dois líderes de banda, um branco e um negro, lideravam este gênero na tentativa de orquestrar a música. Paul Whiteman e Fletcher Henderson eram as estrelas da cidade. Em 1924, o jovem Louis Armstrong, trompetista de Nova Orleans, deixou a banda do pioneiro Joe Oliver e se juntou à de Henderson, em Nova York. E o jazz em meados da década deixa 1920 deixa de ser o mesmo. Os Estados Unidos caminham para prosperidade e a juventude dançava ao ritmo das orquestras. A nação vivia uma busca desenfreada pelo prazer e a genialidade de Armstrong era a face  visível dessa grande festa. Entre 1925 e 1928, ele e seu grupo Hot Five e Hot Seven fizeram o estilo deixar de ser apenas uma música coletiva e virar arte. O jazz passou a ser o fascínio que o mundo ocidental tinha pela América, uma nação vibrante.
Don Shirley politicamente esteve ligado aos movimentos sociais dos direitos civis norte-americanos, mantendo amizade com o líder Martin Luther King e músicos negros renomados, tais como Nina Simone, nome artístico de Eunice Kathleen Waymon adotado aos 20 anos, para que pudesse cantar blues escondida de seus pais, que não aceitavam sua opção de ser cantora, antes de tornar-se uma pianista clássica, em bares noturnos de Nova York, Filadélfia e Atlantic City; Duke Ellington, compositor de jazz, pianista e líder de orquestra norte-americana, eternizado com a alcunha The Duke e distinção com a Presidential Medal of Freedom em 1969, e ipso facto, a Ordre National de la Légion d`Honneur, em 1973, as distinções as mais elevadas que um civil pode receber. Foi o primeiro músico de jazz a ingressar para a Academia Real de Música de Estocolmo, obtendo título honoris causa nas mais importantes universidades do mundo; e Sarah Vaughan, descrita por Scott Yanow como “uma das vozes mais maravilhosas do século 20”.  Sarah desenvolveu cedo um amor pela música popular, ouvindo gravações e rádio. No final da década de 1970, Sarah gravou discos no Brasil para as gravadoras RCA e Philips acompanhada de grandes ícones de projeção mundial como Tom Jobim, Dorival Caymmi, Milton Nascimento, Hélio Delmiro, dentre outros. Don Shirley morreu de complicações decorrentes de doenças cardíacas em sua casa em Nova York, que ficava acima da famosa Carnegie Hall, em 6 de abril de 2013, aos 86 anos de idade.
Poucos dentre estes homens resistentes não se tornam, mais cedo ou mais tarde durante a sua inversão radical de papel, clandestinos. Largam atrás de si nomes, profissões, endereços, amigos, parentes. Aprendem até a exaustão a perder o passado, a memória e a si mesmos. A profissão, a família, os laços sociais não importam mais. Vivem exclusivamente em função dos seus fins ético-políticos. A formação policompetente que se origina na Renascença é uma ação relativamente voluntária de poucos homens, por isso só aparentemente tornados exemplares. Configura um modelo de comportamento singular e de atitude individual, festejado, celebrado e idealizado  por toda a sociedade, das elites sociais ao proletariado, próximo da abnegação heroica. A dedicação à causa coletiva desdobra-se nas medidas de um apaixonado e exaltado “esquecimento de si”. Um modo político de viver foi alcançado que serve de espelho moral, que designa a dimensão bela, justa e verdadeira do dever cívico, ato simples, ao alcance de todos e próprio do sentimento humano. Riscos existem, vale advertir, nestas formas-limites do pensar e agir. Recusar a existência na qual cada um se inscreve por filiação, por pertencimento social, pode equivaler a uma espécie de denegação do passado e de suas marcas sociais. Filhos de ninguém, a quem não há diferença entre sexo, a nação, as idades, as aptidões, as circunstâncias individuais e coletivas. Negar elos de pertencimento incide no risco de desacreditar das raízes humanas e arrancá-las.          
A cultura, que caracteriza as sociedades humanas, é organizada/pela via do veículo cognitivo da linguagem, a partir do “capital cognitivo coletivo”, segundo Edgar Morin (1998),  dos conhecimentos adquiridos, das competências aprendidas, das experiências vividas, da memória histórica, das crenças míticas de uma sociedade. E, dispondo de seu capital cognitivo, a cultura institui as regras/normas que organizam a sociedade e governam os comportamentos individuais. Estas regras metódicas geram processos sociais e regenera globalmente a complexidade social adquirida por essa mesma cultura. Assim, a cultura não deve ser compreendida pelas metáforas estruturais, que são termos impróprios em uma organização recursiva onde o que é produzido e gerado torna-se produtor e gerador daquilo que o produz ou gera. Isso facto, cultura e sociedade estão em relação geradora mútua; nessa relação, não podemos esquecer as interações entre indivíduos, eles próprios portadores ou transmissores de cultura, que regeneram a sociedade, a qual regenera a cultura. Daí a tese sociológica segundo a qual, se a cultura contém um saber coletivo acumulada em uma memória social, se é portadora de princípios, modelos, esquemas de conhecimento, se gera uma visão de mundo, se a linguagem e o mito são partes constitutivas da cultura, então a cultura não comporta somente a representação de uma dimensão cognitiva: é uma “máquina cognitiva cuja práxis é cognitiva”. 
É neste sentido próprio de saber cognitivo que uma cultura abre e fecha as potencialidades bioantropológicas do conhecimento. Ela as abre e atualiza fornecendo aos indivíduos o seu saber acumulado, a sua linguagem, os seus paradigmas, a sua lógica, os seus esquemas, os seus métodos de aprendizagem, métodos de investigação, de verificação, etc., mas, ao mesmo tempo, ela as fecha e inibe com as suas normas, regras, proibições, tabus, o seu etnocentrismo, a sua autossacralização, a sua ignorância de ignorância. Ainda aqui, o que abre o conhecimento é o que fecha o conhecimento. Desde o seu nascimento, o ser humano conhece não só por si, para si, em função de si, mas, também pela sua família, pela sua tribo, pela sua cultura, pela sua sociedade, para elas, em função delas. Assim, o conhecimento de um indivíduo alimenta-se de memória biológica e de memória cultural, associadas na própria memória, que obedece a várias entidades de referência, diversamente presentes nela. Tudo o que é linguagem, lógica, consciência, tudo o que é espírito e pensamento, constitui-se na encruzilhada dialógica entre dois princípios de tradução, um contínuo, o outro descontínuo (binário).
As aptidões individuais organizadoras do cérebro humano como ocorrem na singularidade do jazzista Don Shirley, necessitam de condições socioculturais para se atualizarem, as quais necessitam das aptidões do espírito humano para se organizarem individual e socialmente. A cultura está nos espíritos, vive nos espíritos, os quais estão na cultura, vivem na cultura. Nosso espírito reconhece através da nossa cultura, vivem na cultura. Meu espírito, particularmente, reconhece através da minha cultura, mas, em certo sentido, a minha cultura reconhece através do meu espírito. Assim, portanto, as instâncias produtoras do conhecimento se coproduzem umas às outras simultaneamente; há uma unidade recursiva complexa estabelecida entre produtores sociais e produtos do conhecimento, ao mesmo tempo em que há relação hologramática entre cada uma das instâncias, ou níveos de apropriação de saber, cada uma contendo as outras e, nesse sentido, cada uma contendo “o todo enquanto todo”. Falar em complexidade é falar em relação de interação simultaneamente complementar, concorrente, antagônica, recursiva e hologramática entre essas instâncias cogeradoras do reconhecimento humano. Mas não é apenas essa complexidade que permite compreender a possível autonomia relativa do espírito (faculdades intelectuais) e no sentido técnico do cérebro individual.

Mas é assim mesmo que o espírito individual pode autonomizar-se em relação á sua determinação biológica. Recorrendo às suas fontes e recursos socioculturais. E em relação à sua determinação cultural utilizando a sua aptidão bioantropológicas para organizar o conhecimento. O espírito individual pode alcançar a sua autonomia jogando com a dupla dependência que, ao mesmo tempo, o constrange, limita e alimenta. Pode jogar, pois há margem, entre hiatos, aberturas, defasagens. Entre o bioantropológico e o sociocultural, o ser individual e a sociedade. Assim, a possibilidade de autonomia do espírito individual está inscrita no princípio de seu conhecimento. E isso em nível de seu conhecimento cotidiano, quanto em nível de pensamento filosófico ou científico. A cultura fornece ao pensamento as suas condições sociais e materiais de formação, de concepção, de conceptualização. Impregna, modela e eventualmente governa os conhecimentos individuais. A cultura e, pela via de inserção da cultura, a sociedade está no interior do conhecimento. O conhecimento está na cultura e a cultura está na representação do conhecimento. Um ato cognitivo per se é, assim mesmo, um elemento do complexo cultural coletivo que se atualiza em um ato cognitivo individual.
As nossas percepções ou mesmo as concepções estão sob um controle, não apenas de constantes fisiológicas e também psicológicas, mas níveis de variáveis culturais e históricas. A percepção é submetida a categorizações, conceptualizações, taxinomias, que influenciarão o reconhecimento e a identificação das cores, das formas, dos objetos. O conhecimento intelectual organiza-se em função de paradigmas que selecionam, hierarquizam, rejeitam as ideias sociais e as informações técnicas, bem como em função de significações mitológicas e de projeções imaginárias. Assim se opera a construção social da realidade, ou antes, a “co-construção social da realidade”, visto que a realidade se constrói também a partir de dispositivos cerebrais (visão), em que o real (imagem) se consubstancializa e se dissocia do irreal (ficção), que constitui a visão social de mundo, que se concretiza em verdade, em erro, ou na mentira. Para conceber a sociologia do conhecimento, é necessário, segundo Morin (1998), conceber não só o enraizamento do conhecimento determinado na sociedade e a interação do conhecimento/na sociedade. Mas no anel recursivo no qual o conhecimento é produto/produtor sociocultural que comporta uma dimensão própria cognitiva.         
Os homens de uma cultura, pelo seu modo de conhecimento, produzem a cultura que produz seu reconhecimento. A cultura gera os conhecimentos que regeneram a cultura. Ao considerar-se a que ponto o conhecimento é produzido por uma cultura, dependente de uma cultura, integrado a uma cultura, pode-se ter a impressão de que nada seria capaz de libertá-lo. Mas isso seria, sobretudo, ignorar as potencialidades de autonomia relativa, no interior de todas aquelas culturas, dos espíritos individuais. Os indivíduos não são todos, e nem sempre, mesmo nas condições culturais mais fechadas, máquinas triviais obedecendo impecavelmente à ordem social e às injunções culturais. Isso seria ignorar que toda cultura está vitalmente aberta ao mundo exterior, de onde tira conhecimentos objetivos e que conhecimentos e ideias migram entre as culturas. Seria ignorar que aquisição de uma informação, a descoberta de um saber, a invenção de uma ideia, podem modificar e transformar uma sociedade, mudar o curso da história. Assim, o conhecimento está ligado, por todos os lados, à estrutura da cultura, à organização social, à práxis histórica. Sempre por toda parte, o conhecimento científico transita pelos espíritos individuais, que dispõem de autonomia potencial, a qual pode em certas condições sociais e políticas atualizarem-se e tornar-se um pensamento pessoal crítico. 
            Fossem as ideias inteiramente soltas e desconexas, apenas o acaso as ajuntaria. E seria impossível que as mesmas ideias simples se reunissem de maneira regular em ideias complexas se não houvesse algum laço de união entre elas, alguma qualidade associativa, pela qual uma ideia naturalmente introduz outra. Esse princípio de união entre as ideias não deve ser considerado uma conexão inseparável, tampouco devemos concluir que, sem ele a mente não poderia juntar duas ideias – pois nada é mais livre que essa faculdade. Devemos vê-lo apenas como uma força suave, que comumente prevalece, e que é a causa pela qual, entre outras coisas, as línguas se correspondem de modo tão estreito umas às outras: pois a natureza de alguma forma aponta a cada um de nós as ideias  simples mais apropriadas para serem unidas em uma ideia complexa. As qualidades não dão origem a tal associação, e que levam a mente, dessa maneira, de uma ideia a outra, são três, a saber: semelhança, contiguidade no tempo e no espaço, e causa e efeito. Dois objetos podem ser considerados como estando inseridos nessa relação pontual, seja quando um deles é a causa de qualquer ação ou movimento do outro, seja quando o primeiro é a causa da existência do segundo. 

Pois como essa ação ou movimento não é senão o próprio objeto, considerado sob um ângulo e, certamente um ponto de vista como o objeto continua o mesmo em todas as suas diferentes situações, é fácil imaginar de que forma tal influência dos objetos uns sobre os outros pode conectá-los na imaginação. Podemos prosseguir com esse raciocínio, observando que dois objetos estão conectados pela relação causa e efeito não apenas quando produz um movimento ou uma ação qualquer no outro, no outro mas também quando tem o poder de os produzir. Notemos que essa é a fonte de todas as relações de interesse e dever através dos quais os homens se influenciam mutuamente na sociedade que se ligam pelos laços de governo e subordinação. Um senhor é aquele que, por sua situação, decorrente quer da força quer de um acordo, tem o poder de dirigir, sob alguns aspectos particulares, as ações conjugadas de outro homem. Um juiz é aquele que, em quase todos os casos litigiosos entre membros da sociedade, é capaz de decidir, com sua opinião privatista a quem cabe a posse ou a propriedade de determinado objeto. Quando uma pessoa possui certo poder, nada mais é necessário para convertê-lo em ação que o exercício da vontade. E isso, em todos os casos, é considerável possível, e provável, especialmente no caso do uso da autoridade, em que a obediência do súdito representa um prazer e uma vantagem para seu superior.  
Está claro que, no curso de nosso pensamento social e na constante circulação de nossas ideias, a imaginação passa facilmente de uma ideia a qualquer outra que seja semelhante a ela. Assim como existe o nascimento de uma semiologia e sociologia da celebridade e até mesmo mais recentemente, uma economia da celebridade e tal qualidade, por si só, constitui um vínculo afetivo e uma associação suficiente para a fantasia. É também evidente que, com os sentidos, ao passarem de um objeto a outro, precisam fazê-lo de modo regular, tomando-os sua contiguidade uns em relação aos outros, a imaginação adquire, por um longo costume, o mesmo método de pensamento, e percorre as partes do espaço e do tempo ao conceber seus objetos. Quanto à conexão realizada pela relação de causa e efeito, basta observar que nenhuma relação produz uma conexão mais forte na fantasia e faz com que uma ideia evoque mais prontamente outra ideia que a relação de causa e efeito entre seus objetos. Para compreender toda a extensão dessas relações sociais, devemos considerar que dois objetos estão conectados na imaginação. Não somente quando um deles é imediatamente semelhante ou contíguo ao outro, ou quando é a representação da própria causa. Mas quando entre eles encontra-se inserido um terceiro objeto, que mantém com ambos alguma dessas notáveis relações, dentre as três relações mencionadas, a de causalidade é a de maior extensão social.
Bibliografia geral consultada.

CLAGHORN, Charles Eugene, Biographical Dictionary of American Music. New York: Parker Publishing Company, 1973; LOYONNET, Paul, Les Gestes et la Pensée du Pianist. Montreal: Éditions Louise Courteau, 1988; HERNDON, Marcia; ZIEGLER, Susanne (Eds.), Music, Gender, and Culture. Bremen (Wilhelmshaven): Editor Florian Noetzel, 1990; LEJEUNE, Philippe, Le Pacte Autobiografique. Paris: Éditions Du Seuil, 1996; KUNDERA, Milan, La Identidad. Barcelona: Tusquets Editores, 1998; MORIN, Edgar, Introducción al Pensamiento Complejo. Barcelona: Editorial Gedisa, 1998; MONTEIRO,Fabiano Dias, Retrato em Branco e Preto, Retratos sem Nenhuma Cor: A Experi~encia do Disque-Racismo da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia. Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2003; NEVES, Christianne Maria De Dominicis, A Composição para Filmes no Exemplo de Dave Grusin. Dissertação de Mestrado.  Programa de Mestrado em Música. Instituto de Artes. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2004; HITA, Maria Gabriela, “A Família em Parsons: Pontos, Contrapontos e Modelos Alternativos”. In: Revista Anthropologicas. Ano 9. Volume 16(1), 2005;  HOBSBAWM, Eric, História Social do Jazz. 5ª edição. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 2007; FAST, Howard, Sacco & Vanzetti: A História de dois Imigrantes Italianos Condenados á Morte. Rio de Janeiro: Edições Bestbolso, 2009; LIMA, Géssica de Aguiar, A Brincadeira de Faz-de-Conta de Papéis Sociais e a Constituição da Personalidade das Crianças na Pré-escola. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Santarém: Universidade Federal do Oeste do Pará, 2018; MAFFIA, Gesualdo, Pasolini Crítico Militante. Da Passione e Ideologia a Empirismo Erético. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Língua, Literatura e Cultura Italianas. Departamento de Letras Modernas. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2018; Artigo: “Green Book Trata da Solidão com Humor Sutil e Surpreende pela Paixão”. In:  https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/01/23; entre outros.

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Afeto Público - Globalização, Erotismo & Ideologias da Comunicação.

                    
Ubiracy de Souza Braga

Chora, mas seu coração continua inabalável”. Virgílio, Eneida, Canto IV (2014).


            O Livro de Apocalipse e também chamado de Apocalipse de João, é um livro da Bíblia e o último da seleção do Cânon bíblico. Foi escrito por João na ilha de Patmos, no mar Egeu. A palavra apocalipse significa revelação. Um apocalipse, na mesma terminologia do judaísmo e do cristianismo, representa a revelação divina de coisas que até então permaneciam secretas a um profeta escolhido por Deus. Na maioria das bíblias em língua portuguesa o título Apocalipse, e não Revelação tornou o significado da palavra obscuro, sendo usado como sinônimo de “fim do mundo”. Para os cristãos, o livro possui a previsão dos últimos acontecimentos antes, durante e após o retorno do Messias de Deus. O objetivo da mensagem apocalíptica era fornecer estímulo pastoral aos cristãos perseguidos, confortando, desafiando e proclamando a esperança cristã garantida e certa, além de ratificar a certeza de que, em Cristo, eles compartilhavam o método soberano de Deus. Por meio da espiritualidade em todas suas manifestações, haveriam de alcançar a superação total das forças de oposição à nova ordem que se estabelecia, pois que essa constituía a vontade do Altíssimo. A literatura apocalíptica tem uma importância considerável na história da tradição judaico-cristão-islâmica, ao veicular as crenças como ressurreição dos mortos, o dia do Juízo Final, o céu, o inferno e outras que são ali referidas de forma mais ou menos explícita dependendo da leitura. 
Uma pandemia representa uma epidemia de doença infecciosa que se espalha  entre a população localizada numa grande região geográfica como, por exemplo, um continente, ou mesmo quase todo o planeta Terra. Uma doença ou condição, não pode ser considerada uma pandemia somente por estar difundida ou matar um grande número de pessoas, pois deve também ser infecciosa. O câncer é responsável por um número grande de mortes, mas não é considerado pandemia porque a doença não é contagiosa, embora certas causas de alguns tipos de câncer possam ser. A primeira pandemia reconhecida iniciou na Ásia no verão de 1580 e dentro de 6 meses havia se espalhado para a África e Europa, e em consequência, daí para a América do Norte. Houve taxas elevadas da doença e uma característica comum a futuras pandemias de gripe foi relatada no Reino Unido: a ocorrência de várias ondas de infecção - no verão e outono daquele ano. Além da Gripe, outros tipos de pandemias têm sido registrados na história, como a pandemia de Tifo no período histórico de violência das Cruzadas e as de Cólera que têm sido registradas desde 1816. Houve três pandemias de gripe no século XX: a gripe espanhola de 1918, a gripe asiática de 1957 e a gripe de Hong Kong de 1968. Nem todas as pandemias comparativamente têm efeitos sociais tão desastrosos. As pandemias de 1957 e 1968, respectivamente, provocaram 4 e 2 milhões de mortes.      
A sociedade global ultrapassou a demografia estatística de 5 milhões de casos do novo coronavírus, conforme a contagem atualizada em tempo real pela Universidade John Hopkins, dos Estados Unidos da América (EUA). O Brasil ocupa o 3° lugar em número total de infectados, com aproximadamente 291,6 mil casos, e ainda comparado ao sexto no ranking de vítimas fatais da covid-19, com 18,9 mil. A América Latina concentra em torno de um terço (1/3) dos 91 mil diagnósticos realizados na última semana, tornando-se pela primeira vez o continente com mais novos casos de covid-19, segundo levantamento da agência de notícias Reuters. Os Estados Unidos têm 30% dos pacientes contabilizados no planeta desde o início da pandemia. O SARS-CoV-2, vírus causador da covid-19, já matou 329 mil pessoas desde que foi identificado em Wuhan, na China, em janeiro de 2020. Desde abril, o planeta Terra mantém uma média de 1 (hum) milhão de infectados cada duas semanas. Não há medicamentos com eficácia comprovada contra a covid-19. Mais de 110 pesquisas produzidas para as vacinas estão em andamento. A fabricação não é autorizada, mas a OMS recomenda “a higienização das mãos, o uso de máscaras e o distanciamento social como medidas preventivas”. Mas não é suficiente sem uma mudança radical de comportamento.



O fechamento temporário de empresas e a paralisação da atividade econômica e  burocrática provocadas por tais medidas deixaram muitos trabalhadores sem renda e as consequências começam a ser percebidas nos países mais afetados. Por exemplo, a indústria automobilística registrou uma queda histórica de mais de 70% no mercado francês. Psicologicamente o pânico e a ansiedade pelo avanço da pandemia retornaram aos mercados, com perdas expressivas nas bolsas de valores europeias e asiáticas. Itália e Espanha devem estar próximas do pico de contágios após várias semanas de confinamento, o ponto máximo ainda não está próximo na América do Norte. Mas já  registram quase 189 mil contágios, um número que dobrou em apenas cinco dias. Os ministros das Finanças e presidentes dos bancos centrais do G20, um grupo formado pelos ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo incluindo a União Europeia. Foi criado em 1999, após as sucessivas crises financeiras ocorrida nesta década, que se reuniram por videoconferência, “prometeram ajudar os países mais pobres a suportar o fardo da dívida e a ajudar os mercados emergentes”. Na semana passada, os líderes mundiais deste grupo de países mais ricos e emergentes anunciaram que injetariam US$ 5 trilhões na economia global para dissipar os temores de uma recessão. Em Wuhan, a cidade de origem da pandemia, as medidas de confinamento começaram a ser retiradas progressivamente e os primeiros passos ao ar livre de seus habitantes têm como principal motivação homenagear os mortos.
As interações humanas ganham corpo nas diversas formas de manifestação de vida através da arte, filosofia, religião, ciência, como expressão desse caráter objetivo que a experiência humana, intersubjetivamente constituída assume. Como o centro da compreensão está na vida como um todo estruturado, mas sempre resultando da relação entre individualidades, é possível perceber a conexão dos meios entre a ética e a teoria compreensiva. Em verdade uma determinada concepção da teoria, se estabelece quando vem permeada lado a lado por um motivo básico: uma unidade cuja garantia de existência é a presença do sentido. Há uma démarche que atravessa o homem, e nesta noção de sentido está a marca de uma concessão fatal a uma metafísica.  Nela se desejava evitar tanto quanto o empirismo dos pesquisadores positivistas, desde que fique clara a dimensão de ser criador de significados, que se distancia da noção ampla de vida, mas contém a unidade constitutiva da vivência da experiência humana. Uma organização difere de uma instituição por definir-se por uma prática social determinada de acordo com sua instrumentalidade: está referida ao conjunto de apropriação de meios administrativos particulares para obtenção de um objetivo particular autoritário.  
Não está referida a ações articuladas às ideias de reconhecimento externo e interno, de legitimidade interna e externa, mas a operações definidas como estratégias balizadas pelas ideias de eficácia e de sucesso no emprego de determinados meios para alcançar o objetivo particular que a define. A vida no trabalho é regida pelas ideias de concepção e de gestão de tempo, planejamento, previsão, controle e êxito. Não lhe compete discutir ou questionar sua própria existência, sua função, seu lugar no interior da luta de classes, pois isso, que para a instituição social universitária é crucial, é, para a organização privatista, um dado de fato decisivo. A instituição em certa medida sabe, ou julga saber, por que, para que e onde existe. A vida social deriva inexoravelmente de uma dupla fonte: a similitude das consciências e a divisão do trabalho social. O indivíduo é socializado no primeiro caso, porque, não tendo individualidade própria, confunde-se como seus semelhantes, no seio de um mesmo tipo coletivo; no segundo, porque, tendo uma fisionomia e uma atividade pessoais que o distinguem dos outros, depende deles na mesma medida em que se distingue e, por conseguinte, da sociedade. 

As novas abordagens sociológicas em termos de classe “c” em seguida de “nova classe média” constitui a pauta do debate, pós-governos Lula-Dilma pelo volume dos trabalhos analíticos e estatísticos realizados e pelo impacto de sua linha interpretativa. Não se trata apenas de uma linha de estudo e de transformação brasileira, mas de algo que diz respeito as dinâmicas globais. No Brasil, desde 2001, a desigualdade em termos de renda diminuiu regularmente. A renda per capita dos 10% mais ricos da população aumentou em média de 1,49% ao passo que a dos mais pobres tem aumentado 6,79%. Isso num movimento oposto ao que caracterizou os outros BRIC - Brasil, Rússia, Índia e China, que juntos formam um grupo político de cooperação intercontinental. Em 14 de abril de 2011, o “S” foi oficialmente adicionado à sigla para formar o BRICS, após a admissão da África do Sul. Em consequência, a pobreza diminuiu constantemente desde 2003. - “Estimamos que, entre 1993 e 2011, 59,8 milhões de brasileiros (o equivalente a uma République Française) chegaram à condição social de nova classe média”. Mas a mobilidade chegou mesmo a ritmos consistentes no período conjuntural de 2003 a 2011, quando 40 milhões de brasileiros tornaram-se classe média passando de 65,9 a 105,5 milhões de pessoas, ou seja, um aumento de 60%. Segundo referências estatísticas, até 2014, mais 12 milhões migraram para a classe “C” e 7,7 milhões irão para a as classes “B” e “A”. Com exceção do Nordeste, as classes A, B e C serão a realidade de 75% da população. - “A nova classe média brasileira é filha da combinação do crescimento com a equidade, que difere de nossa história pregressa e daquilo que ocorre nas últimas décadas em países emergentes e desenvolvidos onde a concentração de renda sobe”.           
Deixamos de lado a posse de uma teoria fundada em exigências lógicas ou achados empíricos incontestáveis. Poder, interesse, dominação, realidade material, são indispensáveis à análise que nos habituaram a aceitar como verdadeira, pela força ou pela persuasão dos costumes. Para efeitos da ação, só existem eventos descritivos. A descrição preferida do intérprete será a mais adequada às suas convicções morais e não a mais iluminada pela Razão. Política é regulação da existência coletiva, poder decisório, disputa por posições de mando no mundo, confrontos entre mil formas. Violência em última análise. Poder, na modernidade, é uma relação social de mando e obediência. São decisões tomadas politicamente que se impõe a todos num dado território ou unidade social. Não é mais suficiente para compreender as estruturas de poder deslocar para os dispositivos e os procedimentos técnicos uma multiplicidade humana, capaz de transformar, disciplinar e depois gerir, classificar e hierarquizar todos os desvios concernentes à aprendizagem, saúde, justiça, forças armadas ou trabalho. Na política o que faz andar são relíquias de sentido e muitas vezes seus detritos, os restos invertidos e maculados em torno de grandes ambições. Nome que no sentido preciso da memória deixaram de ser próprios. Nesses núcleos simbolizadores se esboçam e talvez se fundem três funcionamentos distintos, mas conjugados, das relações entre práticas políticas espaciais e significantes: o crível, o memorável e o primitivo.
A instituição social aspira à universalidade. A organização sabe que sua eficácia e seu sucesso dependem de sua particularidade. Isto significa que a instituição tem a sociedade como seu princípio e sua referência normativa e valorativa, enquanto a organização tem apenas a si mesma como referência, num processo de competição com outras que fixaram os mesmos objetivos particulares. Em outras palavras, a instituição se percebe inserida na divisão social e política e pretende definir uma universalidade seja ela imaginária ou desejável que lhe permita responder às contradições, impostas pela divisão. Ao contrário, a organização busca gerir seu espaço e tempo particulares aceitando como dado bruto sua inserção num dos polos da divisão social, e seu alvo não é responder às contradições, e sim vencer a competição com seus supostos iguais. A questão nevrálgica refere-se à pergunta: Como foi possível passar da ideia eficaz da universidade como instituição à definição como organização prestadora de serviços? Em primeiro lugar através da passagem da produção de massa e da economia de mercado para as sociedades de conhecimento baseadas na comunicação. 

Na esfera de ação política e social é regulação da existência coletiva, poder decisório, luta entre interesses contraditórios, disputa por posições de mundo, confrontos mil entre forças sociais, violência em última análise. Só que a produção dos processos políticos, baseados em instituições sociais como esfera de poder, em segundo lugar, se diferencia radicalmente da produção econômica porque usam eventualmente suportes materiais, como armas, livros, processos, papéis onde se inscrevem as ordens, os atos de gestão e comunicação, as sentenças ou as leis, mas não é uma produção material no sentido marxista do termo. A concepção tradicional de assédio moral refere-se à exposição de alguém a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício prático das funções. São mais comuns em relações hierárquicas, em normas autoritárias e em oposição assimétrica, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e antiéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigidas aos subordinados, desestabilizando a relação do assediado com o ambiente de trabalho em  uma organização privada ou pública. É comum de assédio.  O objetivo é desestabilizar o trabalhador, de forma que este produza mais por menos, com falsa a impressão de não atingir os objetivos formais do trabalho. A análise demonstra muitas vezes que já foram ultrapassados.
A qualidade de vida no trabalho pode ser definida como o conjunto das ações dentro da empresa que envolve a implantação e manutenção de melhorias e inovações pessoais, gerenciais, tecnológicas e estruturais no ambiente de trabalho. Representa como a gestão associada à educação para o bem-estar no trabalho, reproduz decisões e escolhas baseadas na cultura organizacional e no estilo de vida dos diferentes segmentos ocupacionais. Apesar de representar uma linha de estudo recente e necessitar de detalhamento de situações concretas para melhor compreensão do tema, a qualidade de vida no ambiente de trabalho tem atuado com diversas concepções e teorias, que trouxeram à tona fatores pioneiros para o desenvolvimento da atividade administrativa em função das condições adequadas de trabalho, incentivos e recompensas salariais oportunas, cuidados com a saúde do trabalhador etc. Isto porque o capital, dizia Marx, representa uma relação social entre pessoas, relação que se estabelece por intermédio de coisas. Resulta que tais relações se convertem em mercadorias porque são os produtos dos trabalhos privados executados com independência uns em relação aos outros.
Para os trabalhadores as relações de seus trabalhos privados parecem o que são, isto é relações sociais imediatas das pessoas em seus trabalhos, senão relações sociais entre coisas. Só em seu intercâmbio os produtos do trabalho adquirem como valores, uma existência social idêntica e uniforme, distinta da material e uniforme que têm como objetos de utilidade. Esta divisão do produto do trabalho em objeto útil e objeto de valor se ampliam na prática quando o intercâmbio adquire bastante extensão e importância, de modo que os objetos úteis se produzam com vistas ao intercâmbio e seu caráter de valor tenha-se já em conta em sua mesma produção. A cidadania pode ser classificada como um status concedido pelo Estado que equiparam aos direitos civis os membros de uma sociedade, concedendo-se ao cidadão um conjunto de direitos e obrigações de ordem civil, política e social. Na crítica à historiografia se chamam de “cidadãos incompletos” aqueles que possuem alguns dos três direitos compreendidos pela cidadania, em oposição àqueles que não se beneficiam de nenhum dos direitos. No Ceará as formas de incomunicação social se esgueiram como sombras em universidades públicas.
As três dimensões da atividade acadêmica universitária, ensino, pesquisa & extensão, vêm se tornando dependentes de um processo burocrático senil incontrolável, submetido a normas e dependências que conduz a distorções com a plena identidade da atividade de pesquisa de Tese de Titular em Sociologia que se desenvolve por ação complementar dos docentes, em ambientes de ensino e de caracterização muito individualizada. Os ambientes de pesquisa que identificam um nível elevado e próprio dessa atividade acadêmica são raros. O departamento é, insofismável e claramente, um órgão estanque, burocrático e corporativo por excelência, organizando-se em núcleos ou laboratórios por meio de projetos específicos, diretamente, com as agências de financiamento públicas. Nos órgãos públicos o padrão de funcionalidade burocrática tem identidade própria. O sujeito da ação funcional, individual ou coletivamente, é um agente do poder público, tanto na atividade meio como na atividade fim. O poder público é uma instância representativa da sociedade, em nome da qual exerce uma administração regida por normas, regulamentos e códigos de conduta que devem ser cumpridos, mas na realidade social em que vivemos, a prática, na teoria é outra práticaNão raras vezes, a noção de poder público assume uma indefinição conceitual, carregada de subjetividades à medida de atribuições e responsabilidades.
A forma de comportamento na dinâmica burocrática, administrativa e acadêmica, das universidades se reporta em grande parte, às competências distribuídas e amparadas no sistema normativo instituído. Os conflitos ditos de competência e desempenho resultam do confronto da autoridade com uma forma de comportamento não desejada, porém amparada em normas, regras e leis. Uma das consequências é que a responsabilidade pelos resultados de cada um é sempre neutralizada ou desculpada a partir do contexto em que cada um de nós atuou. Consequentemente muito pouca responsabilidade individual é atribuída a cada um de nós, do ponto de vista institucional no caso das universidades. A sociedade brasileira rejeita a avaliação e a universidade padece com ela, geralmente vista como algo negativo, como representação simbólica de uma ruptura de um universo aparentemente amigável, homogêneo e saudável, no qual a competição, vista como um mecanismo social profundamente negativo encontra-se ausente. Na universidade não há “premiação” para o professor em nada. Mas aqueles que fazem pesquisa e orientam alunos, fazem-no porque querem fazer. Porque podem fazê-lo. Não porque a universidade lhes gratifica com reconhecimento.
Na universidade o homem de certo modo habita e não habita coletivamente. Se por habitar entende-se simplesmente uma residência. Quando se fala em habitar, para lembrarmos de Heidegger, representa-se costumeiramente um comportamento que o homem cumpre e realiza em meio a vários outros modos de comportamento. Não habitamos simplesmente, mas construir significa originariamente habitar. E a antiga palavra construir (“bauen”) diz que o homem é à medida que habita. Mais que isso, significa ao mesmo tempo: proteger e cultivar, a saber, cultivar o campo, cultivar a vinha. Construir significa cuidar do crescimento que, por si mesmo, dá tempo aos seus frutos. No sentido de proteger e cultivar, construir não é o mesmo que produzir. Note bem: em oposição ao cultivo, construir diz edificar. Ambos os modos de construir – construir como cultivar, em latim, colere, cultura, e construir como edificar construções, aedificare – estão contidos no sentido próprio de bauen. No sentido de habitar, ou construir, permanece, para a experiência cotidiana do homem. Aquilo que desde sempre é, como na representação da linguagem diz de forma tão exclusiva e bela, habitual. Isto esclarece porque acontece um construir por detrás dos múltiplos modos de habitar das atividades de cultivo e edificação.
O sentido próprio de construir, a saber, habitar, cai no esquecimento. Em que medida construir pertence ao habitar? Quando construir e pensar são indispensáveis para habitá-lo. Ambos são, no entanto, insuficientes para habitá-lo se cada um se mantiver isolado, distantes, cuidando do que é seu ao invés de escutar um ao outro. Ipso facto construir e pensar pertence ao habitar. Permanecem em seus limites. Quando aprendemos a pensar que tanto um como outro, provém da obra de longa experiência de um exercício incessante de pensar. A cultura intelectual, portanto, em sentido próprio, refere-se a cada pessoa humana em particular e como um todo irredutível. Somos um ersatz: a cultura social é subsidiária da cultura intelectual, já que a sociedade existe para o homem e não o homem para a sociedade do trabalho. Embora seja esta uma condição indispensável para a realização daquele. Não há cultura intelectual liberta sem cultura social organizada. A cultura intelectual representa a passagem do domínio e controle da informação da nossa individualidade total. Pela informação recebemos de fora os elementos estruturais que vão permitir a eclosão de nossas possibilidades naturais. É a função da hermenêutica quando aglutinamos e assimilamos esses elementos exteriores. Um estilo variado ou contraditório, reduzindo-os a uma unidade irredutível e elaborando com isso a nossa personalidade. 
           Essa personalidade se projeta para fora no sentido da atividade de comunicação e de criação, que vai por sua vez fecundar a coletividade. A designação campus ou, cidade universitária, acabaram por definir o mesmo espaço social, com os mesmos objetivos. Cidade Universitária era a aspiração inicial dos campi instalados no Brasil: uma pequena cidade, apartada daquelas que poderíamos chamar de regulares. Esse núcleo teria a capacidade de oferecer ensino, mas também de abrigar centros de pesquisa, acolher alunos e professores, oferecer, enfim, todos os serviços que qualquer cidade estruturada oferece. Os serviços que os campi brasileiros oferecem – mesmo um dos maiores, o da Universidade de São Paulo (USP) são restritos e insuficientes para os seus usuários. Serviços, como transportes públicos, só funcionam com regularidade nos dias úteis e outros comércios necessários à subsistência são raros e na maioria das vezes inexistentes. Os campi universitários brasileiros não são autossuficientes. Dependem ainda e muito das cidades em que estão localizados. Ipso facto, a cidade universitária não passa de uma aspiração que nem sempre se realizou.
O bairro é um universo social que não aprecia muito a transgressão. Esta é incompatível com a transparência paradoxal da vida cotidiana, com sua imediata legibilidade. Esta se deve efetuar, aliás, esconder-se nas trevas dos lugares reprováveis, fugir para os refolhos privados do domicílio. O bairro é um palco diurno cujos personagens são, a cada instante, identificáveis no papel que a conveniência lhes atribui: a criança, o pequeno comerciante, a mãe de família, o jovem, o aposentado, o padre, o médico, máscaras e máscaras por trás das quais o usuário do bairro é obrigado a se refugiar para continuar usufruindo dos benefícios simbólicos com os quais pode contar. A conveniência tende sempre a elucidar os bolsões noturnos do bairro, o incansável trabalho de curiosidade que, como um inseto de imensas antenas explora com paciência todos os cantinhos do espaço público. Mas pari passu sonda os comportamentos sociais, interpreta os acontecimentos e produz sem cessar um rumor questionante incoercível: Quem é quem e o que faz quando pensa que está fazendo o bem? Quem é o novo locatário? É no ruído e tagarelice que a curiosidade exala as pulsões interiores, absolutas, fundamentais na prática. Quando procura uma razão para tudo, mede tudo pela régua da conveniência política ou social.

Nesta direção do entendimento humano se é possível dizer que todo rito é a assunção ordenada de uma desordem pulsional inicial, o seu “trancafiamento” simbólico no campo social, então a conveniência é o rito do bairro. O que ocorre no bairro universitário? A conveniência subtrai à troca social os ruídos que poderiam alterar a imagem do reconhecimento; é ela que por extensão no processo de comunicação filtra tudo o que não visa a clareza. Mas, e esta é a sua face positiva, se ela impõe a sua coerção, o faz em vista de um benefício simbólico que se há de adquirir ou preservar. O conceito de conveniência ganha particular pertinência no registro do consumo. Como relação social cotidiana com a busca dos alimentos e dos serviços. Assim, comprar não é apenas trocar dinheiro no sentido marxista por alimentos (mercadoria), no sentido do binômio: produção-consumo, mas, ser bem servido quando se é bom freguês. O ato  da compra vem aureolado por uma motivação que, poder-se-ia dizer, o precede antes de sua efetividade: a fidelidade. Esse algo mais, não contabilizável na lógica estrita da troca de bens e serviços, é diretamente simbólico: é o efeito do consenso, de um acordo tácito. É o fruto de um longo costume recíproco pelo qual um sabe o que pode pedir ou dar ao outro, em vista de melhorar a relação com os objetos desejantes da troca.
Pelo fato do seu uso habitual, o bairro pode ser considerado como a privatização progressiva do espaço público, ao contrário da universidade. O bairro constitui o termo médio de uma dialética existencial entre o dentro e o fora. E é na tensão entre esses dois termos, um dentro e um fora, que vai aos poucos se tornando o prolongamento de um dentro, que se efetua a apropriação do espaço. Um bairro poder-se-ia dizer, é assim uma ampliação do habitáculo; pelo usuário, ele se resume á soma das trajetórias individuais inauguradas a partir do seu local de afeto, conscrito na origem de sua habitação. Não é propriamente uma superfície urbana para todos, ou estatisticamente mensurável, mas antes as condições e possibilidades oferecidas a cada um de inscrever na cidade um sem-número de trajetórias cujo núcleo irredutível continua sendo sempre a esfera do privado.  Existe a elucidação de uma analogia formal entre o bairro e a moradia: cada um deles tem, com os limites que lhe são próprios, a mais alta taxa de controle pessoal possível, pois tanto aqueles que moram como os que fazem dele sua moradia são os únicos lugares vazios onde, de maneira diferente, se pode fazer aquilo que se quiser.
A ética ou a filosofia moral se tornam uma luz que permite discernir entre aquilo que é certo ou não do ponto de vista ético. É um dos valores que não se encontra inserido no contexto de uma religião específica, mas no contexto da lei natural que rege aquilo que é conveniente para o ser humano de acordo com sua dignidade e natureza. A moral tem sua base na liberdade do ser humano através da qual uma pessoa pode realizar boas ações, mas que também tem a liberdade de praticar atitudes injustas. A reflexão moral ajuda o ser humano a tomar consciência de sua própria responsabilidade no trabalho de crescer como pessoa, tendo sempre claro o princípio da verdade e do bem. A filosofia como reflexão moral é muito importante, uma vez que a retidão no trabalho ajuda o ser humano a melhorar como pessoa e a alcançar uma vida boa. A filosofia moral mostra a responsabilidade humana em trazer esperança à sociedade que vive, uma vez que através de ações individuais exerce influência no bem comum. Esta filosofia moral toma como fundamental os princípios da conduta humana. Estas normas éticas dignificam a pessoa através de valores como mostra a superação pessoal, o amor próprio, o respeito ao próximo, o princípio do dever e a busca pela felicidade. Um princípio moral essencial é lembrar que o fim nem sempre justifica os meios.
           O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), defendeu um debate com o poder Executivo para que o auxílio emergencial seja prorrogado e também possa evoluir para um programa de renda permanente. Maia já vinha se colocando a favor da extensão, com mais duas ou até três parcelas de R$ 600 da ajuda governamental. – “Acho que nós deveríamos, em conjunto com o poder Executivo, organizar o debate do que seria uma renda mínima permanente. Acho que seria uma resposta importante para a sociedade brasileira”, disse Maia em entrevista coletiva, já projetando a retomada econômica, após a crise causada pela pandemia do coronavírus. O presidente, porém, voltou a reforçar que é a favor da prorrogação por no mínimo dois meses da ajuda como já vem sendo feita. – “Deixo clara a minha posição, sinto a importância de renovar por pelo menos dois meses”. Inicialmente, o governo se comprometeu a pagar três parcelas de R$ 600, sendo que a terceira já está sendo paga.
         O movimento Renda Básica que Queremos reúne 163 organizações da sociedade civil, quando promoveu campanha para pressionar senadores e deputados a prorrogarem o auxílio emergencial de R$ 600 até dezembro de 2020, quando pode terminar o “estado de calamidade pública decretado durante a pandemia da covid-19”. A campanha ocorre na esteira das negociações no Congresso para a prorrogação do auxílio, que ganharam força nos últimos dias depois que o ministro da Economia, Paulo Guedes, acenou com a concessão de mais duas pequenas parcelas de R$ 300. A prorrogação da estratégia paternalista tem o apoio do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que no último fim de semana publicou nas suas redes sociais mensagem com um recado ao governo. – “O governo não pode esperar mais para prorrogar o auxílio. A ajuda é urgente e é agora”, afirmou Maia, que enfatizou que a sua posição é acompanhada pela maioria dos deputados. Maia defendeu, no entanto, a prorrogação por mais dois ou três meses no valor de R$ 600, ao contrário de Guedes que quer reduzir o valor à metade das próximas parcelas. A despesa mensal do auxílio está em torno de R$ 51,5 bilhões.
        - “É uma emergência que não foi emergencial como deveria e estamos passando dos 50 mil mortes, inúmeras cidades com bandeira vermelha e necessidade de distanciamento, desemprego lá em cima”, afirma a diretora de relações institucionais da Rede Brasileira de Renda Básica, Paola Carvalho. Para ela, o próprio governo, ao vetar trechos da lei do auxílio, acabou criando problemas graves para administrar na implementação do programa. São ao todo 13 propostas de mudanças na legislação. Entre elas, a fixação de um prazo de dez dias para que o governo dê reposta à análise dos pedidos. Pelos cálculos da Rede, cinco milhões de pessoas ainda aguardam resposta da análise do pedido. Na lista das propostas, estão a retirada da exigência de terem ganho menor que R$ 28.559,70 durante o ano de 2018, a garantia de que os beneficiários do Bolsa Família retornem automaticamente ao programa após fim do auxílio emergencial e permissão para que os estabelecimentos correspondentes ou conveniados das instituições financeiras públicas sejam autorizados a pagar o benefício. Segundo Paola Carvalho, é preciso garantir também que bases de dados do governo usadas no cruzamento de dados para a concessão do benefício sejam atualizadas. Em caso de impossibilidade, deve valer a autodeclaração do solicitante. Outro aspecto importante “é que os pedidos de auxílios negados sejam acompanhados de justificativas claras, com a criação de canais de recurso e apresentação de documentos”.

A prática social do bairro introduz novas formas de gratuidade no lugar da necessidade. Ela favorece uma utilização do espaço urbano não finalizado pelo seu uso somente funcional. No limite, visa conceder o máximo de tempo contrapondo a um mínimo de espaço para liberar possibilidades de deambulação. A cidade é, em seu sentido característico, poetizada pelo sujeito: este a refabricou para o seu uso próprio desmontando as correntes do aparelho urbano: ele impõe à ordem externa da cidade a sua lei de consumo do espaço. O bairro é, por conseguinte, no sentido econômico do termo, um objeto de consumo do qual se apropria o usuário no modo da privatização do espaço público. Aí se acham reunidas todas as condições para favorecer esse exercício: conhecimento dos lugares, trajetos cotidianos, relações de vizinhança (política), relações como os comerciantes (economia), sentimentos difusos de estar no próprio território (etologia), tudo isso cuja acumulação e combinação produzem, e mais tarde organizam o dispositivo social e cultural segundo o qual o lugar praticado se torna não somente o objeto de conhecimento, mas o lugar de um reconhecimento afetivo.
A conveniência se impõe em primeiro à análise pelo seu papel negativo. Neste sentido poucos membros da comunidade ueceana perceberam ou avaliaram o efeito moral da Resolução nº 1442/2018 que “proíbe o uso, porte, comercialização de bebidas alcóolicas e outras drogas nas dependências dos campi da Universidade Estadual do Ceará, inclusive para a realização de eventos cívicos”. Pois ela proíbe o uso de bebidas no campus, através de uma medida de gabinete, sem um plebiscito real, onde ela se encontra no lugar da Lei. Aquela que torna heterogêneo o campo social proibindo que aí se distribua em qualquer ordem e a qualquer momento não importa que comportamento social. Isto quer dizer que a conveniência poderia manter relações muito estreitas com os processos de educação implícitos a todo grupo social. Ela se encarrega de promulgar as regras do método sociológico, enquanto o social é o espaço do outro e o ponto médio relacional da posição de perda da pessoa enquanto ser público. A conveniência é o gerenciamento simbólico da face pública oculta de cada um de nós desde que nos achamos na démarche entre a casa e a rua. A conveniência é simultaneamente o modo pelo qual se é percebido e, de fato, o meio obrigatório de se permanecer submisso a ela. Exige que se evite dissonância no jogo dos comportamentos e ruptura qualitativa na percepção do meio social. Por isso é que produz comportamentos estereotipados, prêt-à-porter, que têm por função possibilitar o reconhecimento “de não importa quem em não importa que lugar”. É contradição brasileira a falácia de que qualquer dúvida a respeito de uma lei, só possa ser sanada através da representação de outra Lei.
Quando é possível discernir entre aquilo que é certo ou não do ponto de vista ético? É um dos valores que não se encontra inserido no contexto de uma religião específica. Mas no contexto da lei natural que rege aquilo que é conveniente para o ser humano de acordo com sua dignidade e natureza. A moral tem sua base na liberdade do ser humano através da qual uma pessoa pode realizar boas ações, mas que também tem a liberdade de praticar atitudes injustas. A reflexão moral é decisiva na tomada de consciência de sua própria responsabilidade no trabalho, de crescer como pessoa, tendo sempre claro o princípio da verdade e do bem. A filosofia como reflexão moral é muito importante. Uma vez que a retidão no trabalho ajuda o ser humano no discernimento como pessoa e a alcançar uma vida boa. Assim demonstra a responsabilidade em trazer esperança à sociedade, uma vez que através de ações individuais exerce influência no bem comum. Esta moralidade toma como fundamental os princípios da conduta humana. As normas dignificam a pessoa através de valores demonstrando o ser social. O amor próprio, a compreensão e o respeito ao próximo, enquanto princípio do dever e busca pela felicidade. Um princípio essencial é bom lembrar, que o fim em seu ersatz nem sempre justifica os meios.
Bibliografia geral consultada.
KÜBLER-ROSS, Elisabeth, Sobre a Morte e o Morrer. 7ª edição. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1996; BERTAUX, Daniel, Los Relatos de Vida: Perspectiva Etnosociológica. Barcelona: Ediciones Bellaterra, 2005; HIRATA, Daniel Veloso, Sobrevida na Adversidade: Entre o Mercado e a Vida. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2010; LIMA, Jorge dos Santos, Conveniência e Plausibilidade da Proposição de que Justiça é Harmonia n A República de Platão. Tese de Doutorado em Metafísica. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Centro de Ciências Humanas. Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2013; VIRGÍLIO, Eneida. São Paulo: Editora 34, 2014; GORDON, Jill, O Mundo Erótico de Platão: Das Origens Cósmicas à Morte Humana. São Paulo: Edições Loyola, 2015; GARCIA, Maria Teresa, O Crescimento da Classe C no Brasil e as Mudanças na Narrativa dos Telejornais. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2015; COURTINE, Jean-Jacques; HAROCHE, Claudine, História do Rosto. Exprimir e Calar as Emoções. Petrópolis: Editoras Vozes, 2016; KASTENBAUM, Robert, Death, Society, and Human Experience. 11th edition. New York: Routledge, Taylor & Francis, 2016; GREGORI, Maria Filomena, Prazeres Perigosos: Erotismo, Gênero e Limites da Sexualidade. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2016; PEREIRA, Fúlvio Teixeira de Barros, Exporting Progress: Os Norte-Americanos e o Planejamento do Campus no Brasil. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2017; SILVA, Jordan Prazeres Freitas da, Implicações da Pandemia COVID-19 nas Condições e Modos de Cuidado Ofertados na Primeira Infância. Dissertação de Mestrado em Saúde Pública. Faculdade de Medicina. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2020;  PERRY, Eliane Cristina, Literatura, História e Identidade em Diálogo: Memorial do Convento, de José Saramago, e Il Gattopardo, de Tomasi di Lampedusa. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Setor de Ciências Humanas. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2020; entre outros.