“Substitua burguesia por globalização e eis o mundo atual descrito por Marx”. Alain Touraine
A classificação tradicional dos
sociólogos e do nascimento da sociologia como ciência, impele-os à sua relação
profissional pelo tipo de sistema social que condiciona seu trabalho e seu
objeto - as relações sociais – em uma tipologia social determinada a que são
mais sensíveis: os sociólogos das organizações, das instituições políticas ou
da historicidade e das classes sociais, e na modernidade, o sociólogo engajado nas universidades. Trata-se da dramatis personæ dos personagens que
estão presentes na realidade, mas que não aparecem no palco em tragédias, pois não são
considerados parte da dramatis personæ. Diz-se
que passou a ser usada nas obras do idioma inglês desde 1730. É evidente, também, que
seu uso na divisão internacional do trabalho intelectual sofreu mudanças na
sociologia, a partir da posterior utilização na etnologia da expressão “ator
social”. É por isso que o domínio mais
difícil de explorar da Sociologia é da eficácia das respostas ao poder. Como compreender academicamente
que o reconhecimento do sentido da ação não é jamais dado inteiramente pela
consciência do ator? A crítica do poder não se faz em função de um contrapoder.
O conhecimento do social não prepara a ordem de amanhã.
O poder reivindica o sentido para
aquele que o detém. Ele só distingue aqueles que participam do poder, por
delegação de autoridade ou simples obediência, daqueles que forjam alijados na
direção de um não-sentido e
utilizados como seres não-sociais. Não há nenhuma sociedade sem o poder, ainda
que existam sistemas políticos sem o Estado. Os antropólogos sabem disso,
melhor, talvez que em sociologia. Toda sociedade destrói assim, para reconstruir
a realidade. Faz um corte nas relações sociais, desfigura o outro e o
dessocializa através do preconceito individual ou coletivo, da hostilidade, da
repressão ou da exploração. Assim, o poder se reveste de positividade, seja a
do Estado no caso das instituições, ou da ideologia, no caso das universidades
públicas. O que nos traz de volta ao ponto de partida, pois o sociólogo
encontra o poder ou a ideologia.
No âmbito temático da Antropologia das Civilizações foi Darcy
Ribeiro quem percebeu a composição predominantemente “índio-espanhola” dos
Povos-Testemunho se diferencia dessas outras variantes explicativas da etnologia
americanista porque “suas populações indígenas originais não haviam alcançado
um nível de desenvolvimento cultural equiparável ao dos mexicanos ou dos Incas”.
É o resultado da seleção de qualidades raciais e culturais das matrizes
formadoras, que melhor se ajustaram às condições que lhes foram impostas de
fora. O papel decisivo em sua formação foi representado pela escravidão que,
operando como força distribalizadora, desgarrava as novas criaturas das
tradições ancestrais. São produto tanto da deculturação
redutora de seus patrimônios tribais indígenas e africanos, quanto da aculturação seletiva desses patrimônios
e da própria criatividade face ao novo meio de reprodução da vida.
A condição de existência é a mesma
que a da liberdade. Pois não há Sociologia possível em uma sociedade sem
liberdade. E a liberdade não é um conjunto de medidas protetoras ou um tipo de
instituições políticas. Ela é o que vincula uma à outra a reivindicação popular
que pode tornar-se ditadura ou terror e a crítica do poder que pode tornar-se
defesa de privilégios. Se o sociólogo duvida da importância de sua obra, que
ele afirme pelo menos que a sua existência é um sinal de liberdade e que ele
deve lutar por ela mesmo que não esteja seguro de merecê-la, pois este é o
paradoxo de consequências não intencionais da sociologia. Pois ela se
desenvolve nas sociedades liberais e mais vagarosamente onde haja certa
defasagem entre o poder econômico, a hegemonia política e o controle cultural.
Se esses três domínios do poder se recobrem, e a análise crítica da sociedade
passa a depender da boa vontade de um rei filósofo, ela perde quase
inteiramente suas condições e possibilidades de existir criticamente.
Quanto mais ele critica o poder,
suas regras e suas asserções, menos considera a sociedade como uma máquina que
funciona “à força de senhas” e mais ainda, por esse movimento, ele aprende a
reconhecer o que é próprio da vida social, a natureza de um sistema que produz
o seu sentido assumindo em relação a si mesmo um distanciamento que é ao mesmo
tempo o da reflexão e o do investimento. Uma sociedade não pode viver senão da
tensão entre o distanciamento que ela assume em relação a si mesma e o domínio
que ela exerce sobre a sua prática - lugar de origem do poder. Fluxo da
inovação, da luta de classes e de relações com a comunidade. Refluxo para a
integração social, a comunidade, o poder e a conquista. E como ele deixaria de ser
atraído frequentemente pelo que lhe é proibido (a ideologia), mas que se
vincula a uma parte de si mesmo, o poder e a conquista para uns, o
companheirismo e a disciplina para outros?
Essa
situação impõe apenas um esforço teórico constante de distanciamento do
sociólogo em relação ao lugar de onde ele fala. Duvido que alguém se possa
tornar sociólogo sem ter adquirido uma experiência direta de sociedades e de
meios sociais distantes daqueles em que vive habitualmente. Além dessa formação
pessoal também é preciso que a situação profissional do sociólogo lhe permita
resistir às pressões culturais e sociais que sobre ele se exercem. O
conhecimento sociológico só pode desenvolver-se em um meio que não reproduza as
desigualdades sociais, mas que procure reduzi-las. Mas o que ocorre é que os
sociólogos estão encerrados em guetos cujo aparente isolamento seria cômodo
demais para a ordem social dominante: o pensamento crítico estaria sendo
enclausurado como se enclausuram os loucos e os delinquentes e pelas mesmas
razões de ordem, para analisar as categorias, normas e discursos da prática.
Contudo, o objeto da sociologia não pode ser definido sem a bidimensionalidade
dos meios. Esse duplo procedimento deve ou deveria levara a definir o método
sociológico. Enfim, é inútil discutir a pertinência relativa da análise
qualitativa ou da análise quantitativa. A sociologia não pretende dominar a
resposta a essa questão.
Para
Ferdinand Tönnies, uma teoria da comunidade teria que aprofundar fundamentalmente
sua raiz nas disposições gregárias estimuladas pelos laços de consanguinidade e
afinidade, se caracterizando pela inclinação emocional recíproca, comum e
unitária; pelo consenso e o mútuo conhecimento íntimo. Postulou, assim, o que seriam
suas “leis principais”: a) parentes, cônjuges, vizinhos e amigos se gostam
reciprocamente; b) entre os que se gostam, há consenso; c) os que se gostam, se
entendem, convivem e permanecem juntos, ordenam sua vida em comum. Partindo
destes princípios registrou a existência de três padrões de sociabilidade comunitária:
os laços de consanguinidade, de coabitação territorial e de afinidade
espiritual, cada qual convergindo para um respectivo ordenamento interativo,
como comunidade de sangue (parentesco), lugar (vizinhança) e espírito
(“amizade”). F. Tönnies por vezes se referia a elas como elementos de um mesmo plano
de desenvolvimento cadenciado, um surgindo como consequência e desdobramento
natural de seu antecessor. Ele ainda classificou as relações comunitárias, em
três tipos, segundo sua forma: a) as “relações autoritárias”, de modo geral
predominantes, repousando na desigualdade de poder e querer, de força e autoridade,
considerando o modelo ideal de relação entre pais e filhos; b) as “relações de
companheirismo”, originada na isonomia geracional na relação entre irmãos; c) e
as “relações mistas”, que combinam as duas formas caracterizadas relação entre
cônjuges.
O
trabalho etnológico do sociólogo é fazer
sociologia, fazer aparecer o objeto
sociológico, para além das normas, das categorias e dos controles da organização
social. O sociólogo há muito deixou de ser um mero observador por trás das
relações. Sua pesquisa se torna necessariamente uma intervenção, mesmo se ela é
recusada ou se os seus efeitos são anulados. Não é mais possível separar ao
nível político o estudo da organização e o dos comportamentos sociais. A
posição dos atores sociais é menos abstrata, não pode ser mais definida em
relação a escalas de estratificação, à distância entre o grupo de pertencimento
e os grupos de referência que se constituem em instâncias de poder etc. Ela
deve ser expressa diretamente em termos de influência do ator sobre a decisão
que o afeta. À observação em uma organização de relações abstratas sucede a
pesquisa-ação sobre mecanismos de decisão. O campo de estudo é menos limitado. As relações estudadas são mais fáceis de identificar, já que o ator se
define diretamente em relação a outros e não em relação a regras ou escalas.
A série é uma produção da Grifa
Filmes, com direção, roteiro, entrevistas e montagem do cineasta Daniel
Augusto, direção de fotografia de Rodrigo Menck, produção executiva de Fernando
Dias e Maurício Dias e produção de Kênya Zanatta. No ar semanalmente, em 13
programas, Incertezas Críticas tem o
objetivo de apresentar questões contemporâneas relevantes sobre arte, política,
literatura, economia, relações internacionais, sociedade e história e permitir
ao telespectador entrar em contato com o trabalho dos principais pensadores entrevistados
da atualidade. É uma série documental com intelectuais de renome internacional.
O objetivo é apresentar debates relevantes, e portanto, conjunturais, além de
permitir ao espectador no processo de interação social entrar em contato com o
trabalho dos principais pensadores da atualidade.
De
acordo com A. Touraine, nenhum comportamento coletivo é um movimento social;
pode ser um sinal dele, mas também se explica, ao mesmo tempo, como pressão
política ou como reivindicação organizacional. As relações entre os figurantes
e sua comum relação com o móvel de sua interação são muito diferentes conforme
tenhamos em contra os comportamentos organizacionais, os comportamentos
políticos ou os comportamentos de historicidade. Podemos definir em cada
caso as relações entre essas espécies bem distintas de comportamentos
coletivos. São outras as dificuldades principais: em primeiro lugar um
comportamento de classe é ao mesmo tempo portador de um conflito social e
definido por uma relação positiva ou negativa com o poder. As relações de
classe incluem ao mesmo tempo conflitos e contradições. Seria contraditório
querer aproximar-se de um movimento social como de uma organização
profissional, definindo em primeiro lugar seus objetivos e depois seus meios.
Quem se satisfaria com a análise da vida religiosa que não passasse da organização e da ação de uma igreja, conforme seu conceito desde Thomas Hobbes?
No
Novo Testamento, uma igreja é
simplesmente um grupo de cristãos que seguem a Cristo. A palavra pode ser usada
para falar de todos aqueles que servem ao Senhor, não importa onde estejam. É
neste ambiente de igrejas locais que encontramos homens escolhidos para
supervisionar e guiar. Os sistemas comuns de superestruturas de denominações,
de ligas internacionais de igrejas e de hierarquias que ligam e até governam
milhares de igrejas locais, são invenções do homem. Não há modelo bíblico de
tais arranjos. No Novo Testamento, os cristãos serviam juntos em congregações
locais. Eles eram gratos pelos seus irmãos em outros lugares. Mas não tentavam
criar algum laço de organização onde os cristãos de um lugar pudessem dirigir
ou governar o trabalho de discípulos de outro lugar. Este modelo mais
claramente se espraia se considerado o ensinamento específico sobre a organização
de uma igreja local.
Nesse
último sentido, de acordo com Hobbes (2014: 360) é que a Igreja pode ser
entendida como uma pessoa, isto é, que ela tenha o poder de querer, de
pronunciar, de ordenar, de ser obedecida, de fazer leis ou de praticar qualquer
espécie de ação. Se não existir a autoridade de uma congregação legítima,
qualquer ato praticado por um conjunto de pessoas é um ato individual de cada
um dos presentes que contribuíram para a prática desse ato. Não um ato
conjunto, como se fosse de um só corpo. Não é um ato dos ausentes ou daqueles
que, estando presentes, eram contra a sua prática. Uma Igreja pode ser definida
“como um conjunto de pessoas que professam a religião cristã, ligadas à pessoa
de um soberano, que ordena a reunião e que determina quando não deverá haver
reunião. Tendo em vista que em todos os Estados semelhantes assembleias são
ilegítimas, se não são autorizadas pelo soberano civil, constitui também uma
assembleia ilegítima a reunião da Igreja em qualquer Estado em que tiver sido
proibida”. É neste sentido que não há no planeta Terra, portanto, qualquer Igreja
universal à qual todos os cristãos devam obedecer, uma vez que não há nenhum
poder aos quais todos os outros Estados estejam sujeitos, a não ser à nós próprios de forma ogranizada. Nos domínios dos
diversos príncipes e Estados, mas cada um deles se sujeita ao
Estado do qual é membro, não podendo, por conseguinte, sujeitar-se às ordens de
qualquer outra pessoa.
Assim,
uma Igreja capaz de mandar, julgar, absolver, condenar ou praticar qualquer
outro ato é o mesmo que um Estado civil formado por homens cristãos; o Estado
civil tem esse nome por serem seus súditos os homens, enquanto a Igreja é assim
denominada pelo fato de seus súditos serem
os cristãos. Governo espiritual e temporal são apenas palavras trazidas ao
mundo ocidental para confundir os homens, enganando-os quanto a seu soberano
legítimo. É preciso haver um único governante, do contrário se origina a facção
e a guerra civil, entre a Igreja e o Estado, entre os espiritualistas e os
temporalistas, entre a espada da justiça e o escudo da fé, e, o que é pior
ainda, no próprio coração de cada cristão, entre o cristão e o homem. Chamam-se
pastores os doutores da igreja, bem como os soberanos civis. Entretanto, se
entre os pastores não houver alguma subordinação, de forma que haja apenas um
chefe dos pastores, serão ministrados aos homens as doutrinas contrárias que
poderão ser falsas, e uma delas necessariamente o serão. O soberano civil é o
chefe dos pastores, segundo a lei natural. Embora o Estado e a religião
estivessem nas mãos dos reis, nenhum deles deixou de ser fiscalizado quando
eram bem quistos por suas capacidades naturais ou por sua fortuna.
O
padrão define uma maneira de organização da sociedade, os mecanismos pelos
quais se atualiza a sociedade no momento; os dilemas definem as condições
geradas pela dinâmica interna dessa forma de organização e que conduzem a
obstáculos e direções. Os padrões são as estruturas sociais que limitam a ação
dos sujeitos sociais, que os impedem de implantar na realidade a sua vontade e
os seus sonhos. A realidade social não é o que se deseja que ela deva ser, e
não pode ser mudada apenas com uma vontade moral – exige conhecimento,
pesquisa, investigação. Assim, a teoria social correta ofereceria aos sujeitos
sociais as possibilidades objetivas das suas ações, conforme a pragmática
weberiana, em que as opções que os levariam ao sucesso, à eficácia histórica.
Errar na análise histórico-social significa equivocar-se na ação. Por isso, “a
análise deve ser sóbria, serena, bem informada, particularizada e objetiva”. Na
modernidade da qual falamos, a perda de parâmetros define sem dúvida o mundo
moderno em sua facticidade e não pode ser revertida por qualquer espécie de
retorno aos bons tempos nem pela promulgação arbitrária de novos parâmetros e
valores só e, por conseguinte, uma catástrofe social no mundo moral se se supõe que as
pessoas são efetivamente incapazes de julgar todas as coisas per se, que sua
faculdade de julgar é inadequada para formar juízos originais e que o máximo que
podemos exigir delas é a correta aplicação de regras conhecidas e derivadas de
parâmetros já estabelecidos.
O
socialismo cristão é uma tendência dentro do cristianismo que interpreta
por meio das Escrituras, tanto no Antigo
Testamento quanto no Novo Testamento, que o modelo de sociedade socialista é o
que mais se aproxima do modelo de sociedade que preze pelo amor, caridade e
demais ensinamentos de Jesus, ao passo que o modelo de organização capitalista
valoriza princípios opostos ao cristianismo como acumulação de capital e meios
de produção, de modo que a fé demanda uma opção consciente pelo socialismo. Em
termos políticos, os socialistas cristãos formam um grupo extremamente
heterogêneo que se insere desde a esquerda à centro-esquerda, com a compreensão
de que toda a Cristandade não pode deixar de buscar o sentido social do
ensinamento. O socialismo religioso é uma compreensão da representação do
socialismo que se coloca como uma opção de organização social que permite aos
cristãos viverem em comunhão.
Historicamente
o movimento religioso-socialista dentro da igreja representa um movimento
minoritário de grande importância, principalmente para o desenvolvimento da
social democracia, no combate aos grupos fascistas e na redemocratização em
países como Portugal e Brasil, além de trazer à tona a discussão da relação
entre a Igreja e os trabalhadores e da igreja e o socialismo. A base do que
representa hoje o “socialismo cristão”, foi iniciado no século XIX,
fundamentado pela reflexão das ideias comunistas de Marx como uma tentativa de
resposta às desigualdades que surgiram a partir de uma exploração desumana
provocada pela quebra da livre concorrência a partir do desaparecimento de leis
institucionais conservadoras, que permitiram o crescimento do truste e o
surgimento dos grandes monopólios; além de um Estado despreparado para
respostas sociais em prol dos mais desfavorecidos. Seus adeptos consideram que
o cristianismo é naturalmente uma forma de socialismo. A fé cristã o vê como um
sistema injusto e de consequências funestas. O que se entende por socialismo influenciado pelas ideias de Marx, representava a vontade de se criar
um Estado laico.
A
sociologia não teria podido existir antes que as sociedades pudessem ser
pensadas como o produto de sua ação. Sua formação põe fim à subordinação dos
fatos sociais a outras esferas sociais de análise, a saber: religiosa, jurídica
ou econômica. A Sociologia, explicação dos sistemas sociais globais e das
relações sociais substitui assim as intepretações que as sociedades anteriores
davam de sua organização e de sua evolução. Ipso
facto é com razão que Marx (2011) afirma a este respeito: - a conclusão
geral a que cheguei e que, uma vez adquirida, serviu de fio condutor dos meus
estudos, pode formular-se resumidamente assim: na produção social de sua
existência, os homens estabelecem relações determinadas, necessárias,
independentes de sua vontade, relações de produção que correspondem a um
determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas materiais. O conjunto
destas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a
base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e á
qual correspondem determinadas formas de consciência social.O
objeto da humanidade - o modo de produção da vida material - , diz Marx, condiciona o desenvolvimento da
vida social, política e intelectual em geral.
Não é a consciência dos homens
que determina o seu ser; é o seu ser
social que, inversamente, determina a sua consciência. É por isso que a
humanidade só levanta os problemas que são capazes de resolver e assim, numa
observação atenta, descobrir-se-á que o próprio problema só surgiu quando as
condições materiais para resolvê-lo já existiam ou estavam, pelos menos, em via
de aparecer. Assim, a abstração mais simples, metodologicamente falando, que a
economia política moderna coloca em primeiro lugar e que exprime uma relação
muito antiga e válida para todas as formas de sociedade, só aparece, no entanto
sob esta forma abstrata como verdade prática enquanto categoria da sociedade
mais moderna. Poder-se-ia dizer que esta indiferença em relação a uma forma
determinada de trabalho, que se apresenta nos Estados Unidos como produto
histórico, se manifesta na Rússia, por exemplo, como uma disposição natural. Este
exemplo do trabalho mostra com toda a evidência que até as categorias mais
abstratas, ainda que válidas – precisamente por causa da sua natureza abstrata
– para todas as épocas, não são menos, sob a forma determinada desta mesma
abstração, o produto de condições históricas e só se conservam plenamente
válidas nestas condições e no quadro destas. Como, além disso, a sociedade
burguesa é apenas uma forma antitética do desenvolvimento histórico, há
relações que pertencem a formas de sociedades superiores anteriores que só
poderemos encontrar nela completamente debilitadas ou até disfarçadas. Por
exemplo, a tópica da propriedade comunal.
O
que se chama desenvolvimento histórico baseia-se, ao fim e ao cabo, sobre o
fato de a última forma considerar as formas passadas, como jornadas que levam
ao seu próprio grau de desenvolvimento, e dado que ela raramente é capaz de
fazer a sua própria crítica, e isto em condições bem determinadas – não estão
naturalmente em questão os períodos históricos que consideram a si próprios
como épocas de decadência -, concebe-as sempre sob um aspecto unilateral.
Enfim, a religião cristã só pode ajudar a compreender objetivamente as
mitologias anteriores, depois de ter feito, até certo grau, por assim dizer dünámei, a sua própria crítica. Igualmente, afirma Marx, a economia política
burguesa só conseguiu compreender as sociedades feudais, antigas e orientais,
no dia em que compreendeu a autocrítica da sociedade burguesa. Na medida em que
a economia política burguesa, criando uma nova mitologia, não se identificou
pura e simplesmente com o passado, a crítica que fez às sociedades anteriores,
em particular à sociedade feudal contra a qual tinha ainda que lutar
diretamente, assemelha-se à crítica do paganismo feita pelo cristianismo, ou a
do catolicismo feita pela religião protestante.
Pensadores
católicos modernos apoiaram-se tanto nos textos de Max Weber no que diz
respeito ao aspecto de influência protestante quanto nos de Bernard Groethuysen
para afirmar que “o ethos católico é anticapitalista”.
Essa afirmação se encontra no livro de Amintore Fanfani, Catholicism, Protestantism and Capitalism, publicado em 1935. Como
exemplo de Weber, o autor – na época um jovem intelectual católico que depois
se tornaria um dos líderes do Partido Democrata Cristão e primeiro ministro da
Itália – define o capitalismo como um sistema de racionalização econômica à
prova de influências externas. Para Fanfani, se o protestantismo favorece a
supremacia do espírito capitalista, ou melhor, legitima-o e santifica-o – tese
de Weber, revista e corrigida por Hector Menteith Robertson -, “existe um
abismo intransponível entre as concepções da vida católica e capitalista”. Por
causa desse abismo, o catolicismo mostra uma “repugnância muito marcada” pelo
capitalismo – não por um ou outro de seus aspectos, pois quase todos são
acidentais, mas pela própria essência do sistema. Evidentemente,
nem todos os intelectuais católicos concordam com uma concepção tão radical, e
o próprio Amintore Fanfani, quando foi primeiro-ministro depois da guerra,
comportou-se como um administrador típico da economia capitalista.
Apesar
disso, seu livro se tornou como diz Michael Novak num novo prefácio escrito em
1984, um “locus classicus do
sentimento anticapitalista entre os intelectuais católicos”. Michael Novak,
eminente neoconservador religioso norte-americano, é um bom exemplo do
pensamento católico pró-capitalista. E, no entanto, segundo Löwy (2014: 86 e
ss.), as numerosas queixa que ele faz contra o que chama de “preconceito
anticapitalista do catolicismo” e a desaprovação explícita do que considera uma
falha grave de sua própria tradição religiosa é uma prova, ainda que
involuntária, da existência de uma espécie de “afinidade negativa” ou antipatia
cultural entre a ética católica e o espírito do capitalismo. Novak acusa a
igreja católica de ser excessivamente conservadora. E não há dúvida de que esse
preconceito anticapitalista do catolicismo e essa hostilidade contra a
sociedade burguesa moderna tiveram, desde o princípio, uma orientação
poderosamente conservadora, restauradora, retrógrada – em suma, reacionária.
Além disso, ela tomou frequentemente a forma sinistra do antissemitismo, o judeu servindo de bode expiatório pelos males
resultantes da usura, do poder corruptor do dinheiro e da ascensão do
capitalismo. Paralelamente a essa tendência dominante, existia outra
sensibilidade católica, motivada, por certa simpatia pelos sofrimentos dos
pobres e atraídas também em certa medida pelas utopias socialistas e comunistas.
Aliás,
é interessante notar que vários desses autores utopistas, dentre eles Ernest
Bloch, Eric Fromm, serviram-se da obra de Max Weber para denunciar o
protestantismo e celebrar a civilização católica moderna – o que é
absolutamente contrário á intenção do autor de A ética protestante e o espírito do capitalismo. Contudo, poucos
escritores socialistas elaboraram uma crítica mais profunda, radical e
corrosiva da sociedade burguesa moderna, do espírito de acumulação capitalista
e da lógica impessoal do dinheiro do que Charles Péguy. Ele fundou uma tradição
especificamente francesa de anticapitalismo progressista cristão
(principalmente católico, mas, ás vezes, ecumênico) que perdurou no século XX
por meio de figuras tão diversas quanto Emmanuel Mounier e seu grupo reunido em
torno da revista Esprit, o pequeno
movimento de cristãos socialistas na época da Frente Popular e a rede de
resistência antifascista Testemunho Cristão durante a 2ª guerra mundial (1941-45). Sem
contar com os padres operários engajados através dos anos 1940 e 1950, os diversos movimentos e
redes cristãos, além de boa parte da juventude católica, que nos anos 1960 e
1970 simpatizou ativamente com diversos movimentos socialistas, comunistas ou
revolucionários, que desde o fim da guerra manifestaram grande interesse pelo
marxismo e pelo socialismo: Henri Desroche, Jean-Yves Calvez, Marie-Dominique
Chenu, Jean Cardonnel, Paul Blanquart e muitos outros.
Embora
haja cristãos socialistas ligados à Igreja católica em muitos países, não
encontramos em nenhum outro – fora da América Latina – uma tradição religiosa
anticapitalista de esquerda tão ampla e considerável como na cultura católica
francesa. Não é à toa que nas primeiras manifestações de cristianismo progressista na América Latina – a esquerda cristã
brasileira de 1960-1962, cujo protagonista principal foi a Juventude
Universitária Católica (JUC) – estivessem diretamente ligadas a essa cultura
francesa. A chamada “Igreja dos pobres”
da América Latina é herdeira da rejeição ética do capitalismo pelo catolicismo
– a “afinidade negativa” – e, sobretudo dessa tradição francesa e europeia de
socialismo cristão. Herbert de Souza, o Betinho, um dos principais dirigentes
da JUC brasileira, prestou homenagem ao ethos
anticapitalista católico tradicional num artigo publicado em 1962. O
cristianismo da libertação na América Latina, na realidade, não é simplesmente
um prolongamento do anticapitalismo tradicional da Igreja. É essencialmente
criação de uma nova cultura religiosa, que exprime as condições específicas da
América Latina: capitalismo dependente, pobreza em massa, violência
institucionalizada, religiosidade popular, de consequências político-religiosas
consideráveis, com sua profunda aversão ao cosmo capitalista.
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“Só o
que se transforma continua meu amigo”. Friedrich Nietzsche
A expressão nietzschiana vontade de
poder significa, consequentemente:
vontade, tal como comumente se compreende. Mas mesmo nessa
explicação reside ainda uma incompreensão possível. A expressão “vontade de
poder” não diz, em sintonia com a opinião habitual, nas relações sociais em que
desenvolve que a expressão é, em verdade, um tipo de desejo, que apenas possui, ao invés da felicidade e do prazer, “o
poder como meta”. Sem dúvida alguma, Friedrich Nietzsche mesmo fala em muitas passagens
dessa forma, a fim de se fazer provisoriamente compreensível. No entanto, na
medida em que estabelece o poder como meta para a vontade, ao invés da
felicidade, do prazer ou da supressão da vontade, ele não altera a meta
da vontade, mas a determinação essencial da própria vontade como meio de luta extraordinária na sociedade. Tomado
estritamente no sentido do conceito nietzschiano, o poder nunca pode
ser pressuposto previamente como meta para a vontade, como se o poder fosse
algo que pudesse ser estabelecido inicialmente como estando fora da vontade. É neste sentido que se pode afirmar, sem temor à erro, que a vontade é decisão por si mesma de um assenhoramento que se
estende para além de si; porquanto a vontade é querer para além de si, a
vontade é potencialidade que se potencializa para o poder.
Somente quando se tiver apreendido o
conceito nietzschiano de vontade segundo esses aspectos gerais, será possível
compreender aquelas caracterizações com as quais Nietzsche procura
frequentemente indicar o que está presente na simples palavra vontade.
Portanto, o termo “poder” nunca visa a um complemento da vontade, mas significa
uma elucidação da essência da própria vontade. Ele denomina a vontade e com
isso a vontade de poder – um “afeto”; ele diz até mesmo: - Minha teoria seria a
seguinte: - a vontade de poder é a forma primitiva de afeto, todos os outros
afetos não passam de configurações suas. Nietzsche também denomina a vontade
uma “paixão” ou um “sentimento”. Se se compreendem tais descrições como
geralmente acontece, ou seja, a partir do campo de visão de nossa psicologia
habitual, então se cai facilmente na tentação de dizer que Nietzsche transpõe a
essência da vontade para o interior do “elemento emocional”, arrancando-a das
más interpretações que foram levadas ao idealismo,
pois para ele, os afetos são formas de vontade; a vontade é afeto. Denomina-se tal
procedimento uma definição circular, própria em seu encadeamento. Nietzsche diz
com boa razão que a vontade de poder é a forma originária de afeto. Não diz com
isto simplesmente que ela é um afeto, apesar de encontramos
essas formulações em suas apresentações superficiais e defensivas.
O poder só se potencializa na medida
em que se torna senhor sobre o nível de poder a cada vez alcançado. O poder,
então, só é e só permanece sendo poder enquanto permanece elevação do poder e
comanda para si o mais no poder. A essência do poder pertence à superpotencialização de si mesmo que emerge do próprio poder, na medida em que é comando e,
enquanto comando, apodera-se de si mesmo para a superpotencialização do
respectivo nível de poder que se potencializa. O poder está constantemente a caminho “de si”
mesmo, não apenas de um próximo nível de poder, mas do apoderamento de sua
própria essência. Por isso, ao contrário do que se pensa, a contra-essência em relação à vontade de
poder não é a “posse” de poder alcançada em contraposição à mera “aspiração por
poder”, mas a “impotência para o poder”. Nesse caso, vontade de poder não
significa outra coisa senão a relação social estabelecida do ponto de vista “poder para o poder”, o que significa antes:
apoderamento para a superpotencialização. Melhor dizendo, da subjetividade incondicionada da vontade de poder/eterno retorno e da composição técnica. Somente o poder para o poder assim
compreendido toca a essência plena do poder. Nessa essência do saber e do poder, a
essência da vontade enquanto permanece vinculada como comando.
A paixão assim compreendida lança
novamente uma luz sobre o que Nietzsche denomina vontade de poder. A vontade é de-cisão
na qual o que quer se expõe de maneira mais ampla relativamente ao domínio do ente, a fim de mantê-lo na
esfera de seu comportamento. Não o acontecimento e a excitação são agora
característicos, mas expansão clarividente do campo de vinculação que é ao
mesmo tempo uma reunião da essência que se encontra na paixão. O afeto
representa o acontecimento que nos agita cegamente. A paixão representa a
expansão clarividente e reunidora do campo de vinculação ao ente. Como a paixão
restaura nosso ser, nos libera e nos deixa soltos para os seus fundamentos;
como a paixão é, ao mesmo tempo, a expansão do campo de vinculação até a
amplitude do ente, por isso pertence à paixão – e o que se tem em vista aqui é
a compreensão explicativa da grande paixão que pode ser dispendiosa e
engenhosa. Não lhe pertence apenas a “capacidade de potência”, mas socialmente mesmo a
necessidade de retribuir, e, ao mesmo tempo, aquela despreocupação quanto ao
que acontece com o dispêndio com o dispêndio, aquela superioridade que repousa
em si mesmo e que caracteriza as grandes vontades. Paixão não tem nada a ver
com um mero desejo, não é coisa apenas estimulada dos nervos, da exaltação ou do excesso. Se
entendermos que é verdade em Nietzsche que a vontade de poder é o caráter
fundamental de todo ente e se determina agora a vontade como um sentimento
paralelo e compatível ao de prazer, as duas concepções não são sem mais compatíveis.
O
mundo para Friedrich Nietzsche não é ordem e racionalidade, mas desordem e
irracionalidade. Seu princípio filosófico não era, portanto, Deus e razão, mas
a vida que atua sem objetivo definido, ao acaso, e, por isso, se está
dissolvendo e transformando-se em um constante devir. A única e verdadeira
realidade “sem máscaras”, para Nietzsche, é a vida humana tomada e corroborada
pela vivência do instante. Nietzsche era um crítico: a) das “ideias modernas”,
b) da vida social e da cultura moderna, c) do neonacionalismo alemão, e, para
sermos breves, d) Para ele, os ideais modernos como democracia, socialismo,
igualitarismo, emancipação feminina não eram senão expressões da decadência de
determinado “tipo homem”. Por estas razões, é, por vezes, apontado como um
precursor da concepção de pós-modernidade. A figura filosoficamente de Freidrich Nietzsche foi
particularmente idealizada na Alemanha mediante um processo decadente, num processo político em que opta, mas não decide, tendo sua irmã, simpatizante do regime,
fomentado esta associação. Como se dizia ideologicamente, ele próprio um raro nietzschiano, “na Alemanha se era contra ou a favor de Nietzsche”. que em toda
a vida, tentou explicar o insucesso de sua literatura, concluindo de que
“nascera póstumo”, para os leitores do porvir.
Em
que medida a vontade de poder é a
forma originária de afeto, ou seja, em
que medida ela é aquilo que constitui absolutamente o ser do afeto? Nietzsche
não dá quanto a isso, nenhuma resposta clara e exata, assim
como não responde o que é uma paixão e o que é um sentimento. Nem a
resposta dada por ele nos leva imediatamente adiante, mas nos coloca diante de
uma tarefa: procurar vislumbrar pela primeira vez a partir do que é conhecido
como afeto, paixão e sentimento, aquilo que caracteriza a essência da vontade
de poder. Por meio daí resultam determinados caracteres que são apropriados
para tornar mais clara e mais rica a delimitação do conceito essencial de
vontade até aqui. Nós mesmos precisamos levar a cabo esse trabalho. No entanto,
as perguntas (o que é afeto, paixão e sentimento?), permanecem sem solução. Com
essas três noções, que podem ser indiscriminadamente substituídas umas pelas
outras, circunscreve-se o assim chamado lado não racional da vida psíquica. Tal
asserção pode ser suficiente para a representação habitual, mas não é
certamente suficiente para um saber verdadeiro, nem tampouco para um saber que
está empenhado em determinar o ser do ente. Nietzsche está visivelmente
pensando nesse momento essencial do afeto aquando pretende buscar caracterizar
a vontade a partir daí.
Agora a concepção de Friedrich Nietzsche contamina a reflexão crítica na filosofia e inevitavelmente na chamada indústria cultural inclusiva da Sétima Arte. O trágico será
afirmativo e não reativo. O reativo, dialético, é simplesmente conservação de
força frente ao inesperado. Que precisa do controle e da submissão daquele que
é atingido pelo inusitado. O trágico afirma-se na consciência plena do acaso
como constituinte da própria realidade e o “cosmiza” ativamente e não
reativamente. O trágico não só afirma a necessidade a partir do acaso, como
afirma o próprio acaso. Não só afirma a ordem a partir da desordem, como afirma
a própria desordem. Não só afirma o cosmos a partir do caos, como afirma o
próprio caos. Reitera, sobretudo, o próprio devir. Essa é a grande inversão que potencializa a vontade de
Nietzsche. Que tira do pensamento qualquer pressuposição de sentido e valor,
para construí-los no “jogo de forças” visando expansão de potência. A
tese de Nietzsche em relação ao pensamento ocidental pressupõe que o sentido e
valor já uma é Der Wille zur Macht, se afirmando como força e moldando os
agentes a reagirem contra aquilo que constitui a realidade: a falta de valor em
si e de sentido próprio.
Nos
últimos anos de sua atividade intelectual criadora, Nietzsche gostava de
caracterizar seu modo de pensar como “filosofar com o martelo”. Na sua própria
opinião esse termo é plurívoco: o que menos lhe cabe é o significado de
despedaçar grosseiramente como um
pedreiro com o martelo de demolir. Ele significa muito mais: arrancar o
conteúdo e a essência, arrancar a figura da pedra; ele significa, antes de
tudo: auscultar e ouvir todas as coisas como o martelo, para ver se elas dão ou
não aquele conhecido som oco - perguntar se ainda há alguma gravidade e algum
peso nas coisas ou se todos os fiéis da balança foram apagados das coisas. É
para essa direção do entendimento que se encaminha a vontade nietzschiana de
pensar: dar uma vez mais um peso às coisas. O que em Nietzsche é uma
necessidade, é, por isso mesmo, um direito, nunca vale para os outros; pois
Nietzsche é quem ele é, e ele é único. Entretanto, essa unicidade ganha em
determinação e só se torna frutífera se for vista no interior do movimento fundamental
constituído de pensar através da herança de matriz ocidental.
Nietzsche: new
book to Heinrich Köselitz.
Peter
Gast, pseudônimo de Johann Heinrich Köselitz (cf. Oliveira, 2011; Peterlevitz, 2015; Astor, 2017) foi um compositor alemão, mais
conhecido por ter sido, durante muitos anos, amigo de Friedrich Nietzsche, que
lhe deu o pseudônimo Peter Gast. É preciso desde já atentar para algumas
problemáticas levantadas pela análise de Wagner e seu recurso à noção de
“melodia absoluta”. Essa questão é tão velha quanto a invenção da monodia
acompanhada da qual surgirá a ópera no início do século XVII, em torno das
atividades teóricas e práticas da Carmerata Fiorentina. Houve um intenso embate
entre os que visavam tomar como princípio a máxima “prima le parole, e poi la musica” e os que defendiam a proposição
contrária. Ao curso de uma década de reflexões sobre a ópera, Nietzsche e Gast
perceberam a transformação das querelas nacionais e estilísticas do século
XVIII em oposições metafísicas como sintoma de uma superinvestida idealista,
niilista e reativa do problema filosófico. Este século cantou derradeiramente, representando
o século do entusiasmo, dos ideais e sentimentos partidos e da felicidade
fugaz, até o fim do século a música possuía uma função social mais prática que estética e artística.
Em
Basileia, desenvolveu-se a amizade entre Köselitz e Nietzsche. Na literatura
nas ciências sociais sobre o tema, a amizade é vista em geral como uma relação
afetiva e voluntária, que envolve práticas de sociabilidade, trocas íntimas e
ajuda mútua, e necessita de algum grau de equivalência ou igualdade entre
amigos. Nessa discussão, a amizade é alocada estritamente no domínio privado historicamente da
vida individual e coletivamente. Ipso facto alguns estudos
mais recentes demonstram como os significados da amizade em contextos
históricos distintos, mas em análise comparada, vão realçar esses termos, que, por sua vez, se demonstram
entrelaçados, socialmente, com uma forma especificamente ocidental e moderna de pensar a
pessoa e sua relação com os outros, problematizando, sobretudo sua localização
na esfera privada. Subjacente a essa regra de interpretação estava a ideia de que a
espontaneidade e a falta de autocontrole, poderiam ser vistas como uma imposição em
termos de tempo e espaço pessoal. Em relações nas quais não havia confiança na
aceitação desse tipo de comportamento social. Johann Köselitz
colaborou na preparação de todos os trabalhos de Nietzsche depois de 1876,
revendo os manuscritos para enviá-los à tipografia, e, por vezes, também
interferindo na formatação do texto final.
O rompimento de Friedrich Nietzsche
com Richard Wagner e a sua procura por uma estética do sul, que o imunizasse
contra o melancólico Norte alemão, fizeram-no superestimar Köselitz como
músico: -“Eu não sei como poderia passar sem Rossini; muito menos, sem o meu
próprio sul na música, a música do meu maestro veneziano 'Pietro Gasti'”. Como
secretário, Köselitz foi de uma dedicação absoluta; a propósito de seu ensaio:
“Humano, Demasiadamente Humano”, Nietzsche dizia que Peter Gast o escrevera e
corrigira: “fundamentalmente, foi ele o verdadeiro escritor, enquanto eu fui
apenas o autor”. Köselitz adorava seu professor, envolvendo-se com ele ao ponto
da autonegação. Gast teria corrigido seus escritos, mesmo após
o reconhecido “colapso do filósofo”vítima de um distúrbio, provavelmente causado pela sífilis, em seus últimos anos de
vida e cuja evolução pode ser percebida em suas obras e sem a
sua aprovação - o que é duramente criticado, com razão, pelos inúmeros estudiosos.
A
evolução da doença se divide esquematicamente em três fases: na primeira a
infecção fica restrita aos órgãos genitais; na segunda, alastra-se pelo
organismo; na terceira causa paralisia progressiva, apresentando sinais de
demência. Nietzsche adoeceu em 1873, mas só se afastou da atividade docente na
Universidade da Basiléia em 1879 − quando sua voz era quase inaudível para os
alunos. Os sintomas da demência só se tornaram perceptíveis dez anos depois,
mas os primeiros sinais de deterioração intelectual já aparecem nos manuscritos
de 1887. O que se observa, a partir de A
Gênese da Moral, é a passagem do pensador que escreve com força e
determinação, de forma densa e ao mesmo tempo sintética, para outro atípico
parecendo incapaz de afrontamentos habituais, que se perde entre notas e apontamentos
publicados postumamente e cuja organização lógica, com razão, ainda é alvo de críticas.
Nessa mesma época, o filósofo alemão redige quatro panfletos pouco concisos,
contraditórios e difusos, que parecem manuscritos sob alguma forma de pressão, e com a irradiação social de seus prediletos leitores já esperavam encontrar em volumes de filosofia.
Na
Primavera de 1881, durante uma visita a Recoaro, comuna italiana da região do
Vêneto, província de Vicenza, Nietzsche criou o pseudônimo de Peter Gast para
Köselitz, que “assim passou a assinar suas composições musicais”. Dentre essas,
a mais ambiciosa foi a ópera cômica em três atos “O leão de Veneza” (“Der Lowe
von Veneza”). Em 1880, Gast e Nietzsche tentaram por várias vezes encená-la, em
vão. A estreia ocorreu apenas em fevereiro de 1891, em Gdansk, com a direção de
Carl Fuchs, mas sob o título original “Die Ehe heimliche” (“O casamento secreto”).
Tardiamente em 1930, foi reintroduzido o título sugerido por Nietzsche. Mas quando Nietzsche
retorna a Gioachino Rossini, dez anos
mais tarde, para evocá-lo em “Opiniões e Sentenças dDversas”, ele ainda não
conhece o compositor pessoalmente. É somente em 1881 que Nietzsche afirma ter
assistido, sem dúvida pela primeira vez a ópera de Gioachino Rossini,
intitulada: Semiramide. Trata-se de uma breve menção em um cartão postal
endereçado a Peter Gast, pseudônimo inventado de Heinrich Köselitz, enviado de Gênova: -
“Eu estive - e digo isso com muita seriedade, por culpa sua - no teatro, onde
eu assisti a Semiramide de Rossini e “Giulietta
e Romeo” de Bellini (esta quatro vezes)”.
É,
portanto, por conta dos conselhos de Peter Gast que Nietzsche, que
provavelmente não tomaria a iniciativa por si própria, vai escutar esses
compositores. Nietzsche preferiu assistir a quatro representações sucessivas de
Bellini, uma música mais elegíaca, marcada, portanto pelo sofrimento, se
comparada aos fastos solenes de Semiramide,
última obra de Rossini para a Itália, na qual brilhava o último fogo do gênero,
agora apagado, da ópera considerada séria. Mas, é ainda por estímulo de Gast
que Nietzsche, entre 1881 e 1888, aprenderá a conhecer a obra lírica de Gioachino
Rossini. Não queremos perder de vista sua popularidade no início do século XIX,
o compositor erudito italiano Gioachino Rossini escreveu 39 óperas, além de
vários trabalhos para música sacra e música de câmara. O músico era célebre
pela velocidade com que compunha suas obras. Em poucos dias, o artista criava
composições que se tornaram clássicos da música erudita, como “O Barbeiro de
Sevilha”, composta em apenas três semanas. Além desta ópera, “Sinfonia Fina”
resgata a memória de produções importantes e reconhecidas da obra de
Rossini como “Guilherme Tell” e “La Gazza Ladra”. As composições do músico
erudito foram interpretadas pela Orquestra Sinfônica de São José dos Campos em
grande estilo. Diferentemente da parcela significativa dos compositores
românticos, Gioachino Rossini (1792-1868) obteve êxito financeiro e conseguiu ganhar
dinheiro com suas composições de música erudita.
O autor escrevia óperas profissionalmente de encomenda e trabalhou para companhias europeias em seu tempo. Nesse período, Gioachino Rossini chegou a compor até vinte obras líricas. Era comum atribuir à sua genialidade que havia uma “febre rossiniana” no continente. É
Nietzsche que, por uma troca de gentilezas, recomenda a Gast a leitura de Vida de Rossini, de Stendhal e envia-lhe
um exemplar em 21 de março de 1881. Henri-Marie Beyle, mais reconhecido como Stendhal, foi um escritor francês. Gast fica entusiasmado: - “Pela extrema
alegria que Stendhal me proporcionou, eu devo dizer-te ainda uma palavra
repleta de reconhecimento (...). Eu estou impressionado com a acuidade de seu
olhar sobre o horizonte histórico no seu livro sobre Rossini” . Alguns dias
mais tarde, ele decide até mesmo tomar, a partir de agora, Stendhal como guia,
a fim de “dissipar as névoas propagadas há 50 anos por sobre a música”. Quando,
confrontado com as dificuldades de concepção de seu Leão de Veneza, ele sonha,
em dezembro de 1881, com uma criação futura no Fenice de Veneza, a ideia que o
emociona é que tanto Tancredi quanto Sigismondo de Rossini tinham sido criados
nesse teatro 70 anos antes. Até 1888, Gast é um dos raros interlocutores
de Nietzsche acerca da ópera e o único com o qual Nietzsche, em suas cartas,
trata sobre Rossini. Durante um século, e até a tomada de consciência da
necessidade de uma arte nacional no final do século
XVIII, a Alemanha assistiu
a esse conflito franco-italiano como uma espectadora idealizadora ou como uma
espécie de epígono no plano dessa disputa. O
sucesso de Nietzsche, entretanto, sobreveio quando um professor dinamarquês leu
a sua obra: “Così Parlò Zarathustra” (cf. Nietzsche, 1968) e, então, tratou de
difundi- la, em 1888. Em 3 de janeiro de 1889, como vimos, Nietzsche sofreu um
colapso mental. Teria testemunhado “o açoitamento de um cavalo no outro extremo
da Piazza Carlo Alberto”. Então correu em direção ao cavalo, jogou os braços ao
redor de seu pescoço para protegê-lo e em seguida, caiu no chão. Nos dias
seguintes, Nietzsche enviou escrito breve conhecido como: “Wahnbriefe” em
português: “Cartas da loucura” – para um número de amigos, entre eles, Cosima
Wagner, filha do pianista húngaro Franz Liszt com a Condessa Marie d`Agout e
Jacob Burckhardt, filósofo da história e da cultura suíça, autor
de obras sobre a cultura e história da arte. Muitas destas cartas
foram per se assinadas “Dionísio”. Embora a maioria dos analistas
considere “seu colapso como alheios à sua filosofia”, Bataille (1967)
chegou a insinuar que sua filosofia pudesse tê-lo enlouquecido e a psicanálise
“post-mortem”, de René Girard, uma “rivalidade de adoração” com
Wagner.
As
composições de Wagner, particularmente do fim do período, são notáveis por sua complexidade, harmonias ricas e
orquestração, e o elaborado uso de Leitmotiv:
temas musicais associados com caráter individual, lugares, ideias ou outros
elementos. Inicialmente estabeleceu sua reputação como um compositor de trabalhos
como Der fliegende Holländer e Tannhäuser, transformando assim as
tradições românticas de Carl Maria von Weber (1786-1826) e Giacomo Meyerbeer (1791-1864) em um
pensamento operístico de seu conceito de Gesamtkunstwerk.
Isso permitiu atingir a síntese de todas as artes poéticas, visuais, musicais e
dramáticas, sendo anunciada numa série de ensaios entre 1849 e 1852.
Entretanto, seus pensamentos sobre a relativa importância social da música e o drama
mudaram novamente e ele reintroduziu algumas formas tradicionais da ópera em
seu último estágio estético e artístico, incluindo Die
Meistersinger von Nürnberg. Wagner foi o pioneiro em avanços técnicos da linguagem
musical e no desenvolvimento da música erudita europeia. Sua ópera Tristan und Isolde é inúmeras vezes
descrita como marco de desenvolvimento da música moderna. A influência de Wagner vai além da música.
É
também sentida na filosofia, literatura, artes visuais e teatro. Ele teve sua
própria casa de ópera, o Bayreuth
Festspielhaus. Foi nessa casa que Ring e Parsifal tiveram suas premières mundiais e onde suas obras
mais importantes continuam a ser produzidas e irradiadas até hoje, em um
festival anual dirigido por seus descendentes. Se quisesse, Richard Wagner em
Desdren poderia levar uma vida tranquila e livre de preocupações financeiras,
totalmente dedicadas à sua arte. E seria isso que teria acontecido se ele não
tivesse se metido em política. Tudo começou quando Wagner tentou introduzir uma
série de reformas na orquestra do teatro, cujo principal objetivo era “melhorar
o desempenho dos músicos a um nível que lhe satisfizesse”. Os salários eram
baixos, e os músicos forçados a trabalhar demais, com prejuízo à saúde e queda
no nível de qualidade. Uma das primeiras coisas que Wagner notou no meio
artístico e musical foi a discrepância enorme entre os salários irrisórios dos
músicos da orquestra e as somas exorbitantes angariadas por certos cantores
solistas com muito menos talento musical. Essa degradação do processo e método de
trabalho social ele estava disposto a corrigir. Músicos velhos deveriam ser aposentados,
e instrumentos velhos substituídos exatamente por instrumentos novos. O sistema de promoção deveria ser
baseado no talento musical, não no tempo de serviço. Ao insistir nas reformas
Wagner passou a ser mal visto pelos seus superiores.
Em
fevereiro de 1848, no mesmo mês em que Marx & Engels publicaram
o Manifestodo Partido Comunista, inscrevendo no plano teórico, histórico e
ideológico a importância dos comunistas organizados num partido único, repercutiu
na França a revolução que depôs Luís Filipe, o rei burguês. Ele foi declarado
rei em 1830 depois de Carlos X ter sido forçado a abdicar. Seu reino, reconhecido
como a Monarquia de Julho, foi dominada por ricos burgueses e vários
ex-oficiais napoleônicos. Ele seguiu políticas conservadoras a partir de 1840,
especialmente sob a influência de François Guizot, promoveu uma amizade com o
Reino Unido e apoiou uma expansão colonial, notavelmente a conquista da
Argélia. Sua popularidade diminuiu sendo forçado a abdicar em fevereiro de
1848, vivendo o resto da vida em exílio no Reino Unido. Levou vida precária
no estrangeiro e, para manter-se, trabalhou como professor num colégio de
Reichenau. Quando o pai foi executado (1793), herdou o título de duque de
Orléans o que fortaleceu suas aspirações conservantistas dinásticas. Viveu
dois anos nos Estados Unidos e no Reino Unido (Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte).
Durante o
período napoleônico (1804-14), conseguiu reconciliar os Orléans com o
rei francês exilado Luís XVIII. Em 1809 foi para a Sicília e casou-se com Maria
Amélia de Bourbon, princesa das Duas Sicílias, filha do rei Fernando I das Duas
Sicílias. Aos
gritos de Liberté, l'Égalité ou la Mort, sublevações vingaram pela Europa contra
as monarquias absolutas. Na Itália e na Alemanha os revolucionários tinham por
objetivo a unificação destes países.
Wagner também ficou entusiasmado pelos ideais revolucionários. De repente, a
música passou para segundo plano nas suas preocupações imediatas e a política
para o primeiro. No mesmo ano, o militante anarquista russo Mikhail Bakunin se
refugiou em Dresden, e com Richard Wagner se uniram em amizade. Somente numa
sociedade alemã radicalmente transformada Wagner podia ver a possibilidade de
realização de sei idealismo radical que, nessa época eram fortemente
anarquistas, posto que ele odiasse a pomposidade e a perversidade da corte de
Dresden. Ele sonhava com a criação de uma nova sociedade alemã, na qual o Volk encontraria expressão numa nova
cultura alemã universal. Movido por esses ideais, Wagner entrou para o Vaterlandsverein, partido político fundado
em março de 1848 para lutar pela democracia. Wagner, Bakunin e outros
revolucionários debatiam a revolução, republicanismo, socialismo, comunismo
e anarquismo (cf. Woodcock, 1962).
A 8 de maio de 1849 Wagner publicou um artigo anônimo no Volksblätter, intitulado “A Revolução”. Era um novo texto de expressão política, “glorificando a deusa Revolução”. Sua
mãe faleceu em 9 de janeiro de 1848. Em junho, Wagner juntou-se à Guarda
Comunal Revolucionária e publicou dois poemas revolucionários e um artigo. Para
William Ashton Ellis, a forte impressão causada em Wagner teve um contributo em
Leipzig: ele pôde acompanhar de perto a revolta da população contra a justiça e
a polícia criminais da cidade, com a incidência de tumultos em que houve a
destruição da iluminação pública, agressões a policiais e a quebra das janelas
de casas de magistrados. O primeiro poema, Gruss aus Sachsen an die Wiener (“Saudações Saxãs aos Vienenses”)
parabenizava os austríacos terem forçado o imperador a fugir e incitava
os saxões ao exemplo. O segundo, Die
alte Kampf ist's gegen Osten (“A Velha Luta é contra o Leste”) conclamava
uma cruzada contra a Rússia reacionária. No artigo: “Que relação
existe entre a empreitada republicana e a monarquia?”, Wagner descreve a utopia
que surgiria após a queda da monarquia, com sufrágio universal, um exército do
povo, congresso unicameral e economia burguesa.
Nietzsche e Richard Wagner.
Apesar de anônimo,
ninguém parecia ter dúvidas a respeito da autoria. A 1° de abril Wagner regeu
uma apresentação pública da Nona Sinfonia de Beethoven (Sinfonia n° 9 em ré
menor, op. 125, Coral), predecessora da música romântica, e reconhecidamente uma
das grandes obras-primas de Ludwig van Beethoven (1770-1827). No final da apresentação o revolucionário anarquista russo Mikhail Bakunin
(cf. Woodcock, 1962) se levantou do meio da plateia, e de forma inusitada apertou a mão de Wagner e disse bem
alto para que todos ouvissem que, se toda música que já foi escrita fosse se
perder na conflagração mundial que estava para acontecer, “esta sinfonia pelo
menos teria que ser salva”. A 3 de maio de 1849 o rei da Saxônia recusou as
exigências dos democratas e ordenou à Guarda Comunal se dissolvesse. Na
reunião exaltada daquela tarde, os membros do Vaterladsverein decidiram oferecer resistência armada às
autoridades, que contou com a participação de Wagner.
Ele
correu à casa do tenor Tichatschek e persuadiu a aturdida esposa do tenor a
entregar as armas que seu marido guardava em casa; a seguir foi inspecionar as
barricadas. Tropas prussianas estavam a caminho da cidade, a fim de esmagar a
revolução. Wagner tomou posse das impressoras do Volksblätter e mandou imprimir panfletos revolucionários ao mesmo
tempo em que mandava seu amigo Semper inspecionar as barricadas e
comprar granadas. Wagner passou a sexta-feira 4 de maio junto com Mikhail Bakunin.
No dia seguinte as primeiras tropas prussianas entraram em Dresden, havia lutas
em torno de toda a cidade. Ele subiu à torre da Kreuzkirche, utilizada pelos
rebeldes como um belvedere e um excelente ponto de observação. De
lá, ele lançou mensagens atadas a pedras a Heubner e Bakunin sobre os
movimentos de guerra das tropas inimigas. Wagner passou a noite na torre, em
bombardeio contínuo e intenso das tropas prussianas. No dia seguinte ele
escapou, foi até sua casa e fugiu com Minna para a cidade de Chemnitz, antes uma cidade conhecida
como Karl-Marx-Stadt, para deixá-la em lugar provavelmente mais seguro fora do front da rebelião.
Mas para horror dela, ele resolveu voltar para o centro popular da revolta. Seu
envolvimento com as forças políticas rebeldes lhe custou 11 anos de exílio, pois ele voltou à
Alemanha apenas em 1864. Em carta a Carl August Röckel, provavelmente entre maio de 1851 e
setembro de 1852, o compositor narra que após maio de 1849 (cf. Janz, 1978) teve uma breve
estadia em Paris, seguindo para Zurique, utilizando, para tanto, um passaporte
falso providenciado por Franz Liszt. Durante o tempo que passou distante da
Alemanha, houve um pedido de anistia dirigido ao rei da Saxônia, em 1856, mas a
autorização para retornar ao solo alemão somente seria dada a Wagner se ele
admitisse ter praticado atos criminosos contra a nação – uma condição que o compositor não
aceitou, sob a justificativa de que ele não acreditava ter praticado nenhum
crime. Em Dresden havia lutas casa a casa, e na prefeitura ocupada pelos
revolucionários, os homens estavam desanimados e exaustos após seis noites sem
dormir na arena dentre violentos embates. Richard Wagner foi despachado para Freiberg para chamar reforços. Antes
que Wagner pudesse retornar a Dresden com reforços de tropas para combater, a
revolução social em curso já havia sido esmagada. Wagner juntou-se a Heubner e
Bakunin a caminho de Freiberg e sugeriu que eles montassem um governo
provisório em Chemnitz. Naquela noite, Wagner e Bakunin dormiram no mesmo sofá.
Quando Wagner acordou, Bakunin e Heubner tinham fugido. Wagner correu para onde
se encontrava Minna, e os dois rapidamente, sem temor a erro, para evitar a onda de terror abandonaram o
país.
Bibliografia
geral consultada.
WOODCOCK,
George, Anarchism. A History of
Libertarian Ideas and Movements.
Londres: World Publishing, 1962; BATAILLE, Georges, Sur Nietzsche: Volonté de Chance. Paris: Éditions Gallimard, 1967; JANZ, Curt Paul, Friedrich Nietzsche: Infancia y Juventud. Vol. 1. Trad. Jacobo
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Einaudi Editore, 1981; CHESNAUX, Jean, La Modernité-Monde. Paris: La Découvert, 1989; VELOSO, Caetano, “Peter Gast”. In: Álbum Uns (1983); MARTON, Scarlett, Nietzsche - Uma Filosofia a Marteladas.
São Paulo: Editora Brasiliense, 1992; COLLI, Giorgio, Scritti su Nietzsche. 4ª edizione. Milano: Adelphi Editore, 1995; SAFRANSKI,
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Paulo, 2015; ASTOR, Dorian, “Rossini, Músico do Futuro. Nietzsche e Peter Gast
na Descoberta da Grande Saúde Rossiniana”. In: Cad. Nietzsche vol.38 n°1. São Paulo, jan./abr. 2017; entre outros.
“O segredo da criatividade é saber
esconder suas fontes”. Albert Einstein
Albert
Einstein nasceu em Ulm, na Alemanha, no dia 14 de março de 1879. É considerado
o físico mais influente do século XX. Filho de um pequeno industrial judeu, em
1880 mudou-se com a família para a cidade de Munique. Seus pais Hermann
Einstein e Pauline Koch eram judeus. O caráter e a biblioteca do pai foram
importantes na formação de Albert Einstein. Nos primeiros anos de vida,
Einstein teve dificuldades para se expressar através da fala e era lento para
aprender, fato que, durante algum tempo, deixou seus pais preocupados. Nos
primeiros anos escolares, Einstein não se destacava nem pelas notas nem pela
regularidade com que ia à escola. Com seis anos de idade, incentivado pela mãe,
começou a estudar violino. Cedo se destacou no estudo da física, matemática e
filosofia. Aos nove anos ingressa no Luitpold Gymnasium, escola
secundária em Munique (ALE). Foi fundada pelo príncipe Luitpold da Baviera em
1891 como Luitpold-Kreisrealschule para servir a parte oriental da cidade e
seus subúrbios. Ficava na Alexandrastrasse em frente ao Museu Nacional, onde se
interessa por geometria e álgebra, matérias nas quais progride. Aos doze anos é
um considerado um gênio das matemáticas, mas lê avidamente Leibniz, figura
central na história da matemática e na história da filosofia, Kant que operou,
na epistemologia uma síntese entre o racionalismo continental, onde impera a
forma de raciocínio dedutivo, e a tradição empírica inglesa de David Hume, John Locke, ou George Berkeley, que valoriza a indução e Hume que se opôs à René Descartes e às filosofias
que consideravam o espírito desde um ponto de vista teológico-metafísico.
Foi
paradoxal para seus mestres, que nem sempre sabiam responder as suas perguntas
nem refutar seus questionamentos tanto políticos quanto existenciais. A física,
com as ciências da natureza, faz parte de um complexo de instituições de
importância na sociedade contemporânea, não só em função do vulto dos
investimentos, como também do contingente humano, do número e da diversidade de
organizações comprometidas com sua expansão. Os físicos constituem hoje um
grupo de profissionais socialmente prestigiados, formados em organizações
próprias. Dispõem de enormes facilidades de trabalho, como laboratórios,
bibliotecas, serviços de intercâmbio e divulgação de informações etc., os
quais, em muitos aspectos sociais, têm superado as vantagens conquistadas por
grupos profissionais mais tradicionais na cultura ocidental, como advogados e
médicos. Como possuía caráter individualista e alheio à disciplina prussiana,
acaba sendo expulso do Gymnasium. Aos 16 anos abandona a religião judaica que
está na obediência espiritual aos mandamentos divinos estabelecidos nos livros
sagrados, uma vez que para eles, isso é fazer a vontade de Deus e demonstrar
respeito e amor pelo criador. O judaísmo é a religião monoteísta que possui o
menor número de adeptos no mundo, tornando-se livre de qualquer tipo de
imposição em sua formação. Ainda que fosse de família judia, Albert Einstein
(1879-1955) tinha um pensamento sobre religião que foi moldado durante sua
estada em Zurique, na Suíça, quando os livros do filósofo Baruch Spinoza, caíram em
suas mãos. O Deus de Spinoza era amorfo e impessoal, responsável pela ordem no
universo e pela beleza da natureza.
Os indivíduos formulam teorias “conspiratórias”
para explicar, por exemplo, as relações de poder em grupos sociais e a
existência imaginada no âmbito da política. Teorias da conspiração têm origens
principalmente psicológicas ou sócio-políticas. As origens psicológicas
propostas incluem projeção; a necessidade pessoal de tentar explicar um evento
significante com uma causa significante; e o resultado de vários tipos e
estágios de transtornos de pensamento como disposição paranoica, por exemplo, que
vão desde as doenças mentais graves até as diagnosticáveis. Alguns preferem
explicações sócio-políticas para não se sentirem inseguras ao se depararem com
situações aleatórias, imprevisíveis ou, quase inexplicáveis. As teorias da
conspiração são racionais e concretamente se referem a um conjunto de práticas
e saberes sociais. Michael Butter afirma que a disseminação de tais teorias contribuem, no campo político, para a ascensão de partidos populistas de direita.
O cientista político Michael Barkun,
ao discutir o uso de “teoria da conspiração” na cultura norte-americana
contemporânea, sustenta que este termo é usado para uma crença que explica um
evento como sendo o resultado de um plano secreto de conspiradores
excepcionalmente poderosos e astutos que visam atingir um fim malévolo. No decorrer da história humana, líderes políticos e econômicos têm sido
verdadeiramente a causa de enormes quantidades de morte e miséria e, algumas
vezes, se envolviam em conspirações, ao mesmo tempo em que promoviam teorias
conspiratórias sobre seus alvos. Alguns argumentam que as teorias da
conspiração, que eram limitadas a públicos marginais, se tornaram comuns nos
meios de comunicação de massa, contribuindo para que o conspiracionismo
emergisse como um fenômeno cultural nos Estados Unidos da América, entre o final do século
XX e início do XXI. Segundo os antropólogos Todd Sanders e Harry G. West,
evidências sugerem que um amplo setor norte-americano dá credibilidade a algumas
teorias conspiratórias. A crença nessas teorias tornou-se um tema de interesse
para sociólogos e especialistas em política.
Deputado Sergio Petecão, denunciado por compra de votos, fala em possível conspiração contra Temer. Malandro é malandro, mané é mané.
Um estudo publicado em 2012 também
constatou que teóricos de conspiração acreditam frequentemente em múltiplas
conspirações, mesmo quando uma contradiz a outra. Por exemplo, pessoas que
acreditam que Osama Bin Laden foi capturado vivo pelos norte-americanos também
estão propensas a acreditar que, na realidade, Bin Laden havia sido morto antes
da invasão de 2011 a sua casa em Abbottabad, Paquistão. Em um artigo de 2013
publicado na revista Scientific American
Mind, o psicólogo Sander van der Linden argumenta que existem evidências
científicas convergentes de que (1) as pessoas que acreditam numa conspiração
são susceptíveis a aderirem a outras; (2) em alguns casos, a ideação
conspiratória tem sido associada com a paranoia e esquizotipia; (3) as
concepções de mundo conspiracionistas tendem a provocar a desconfiança de princípios
científicos bem estabelecidos, como a associação entre tabagismo e câncer ou
entre o aquecimento global e as emissões de CO²; e (4) a ideação conspiratória
geralmente leva as pessoas a verem padrões onde aparentemente não existem. Van
der Linden também cunhou o termo “o efeito conspiratório”. Alguns historiadores
defendem que existe um elemento de projeção psicológica no
conspiracionismo. Esta projeção histórico-social, e, portanto, individual (o sonho) e
coletiva (os mitos, os ritos, os símbolos) se manifesta sob a forma de atribuição de características
indesejáveis aos conspiradores.
A maçonaria teve influência decisiva
em grandes acontecimentos mundiais, tais como a Revolução Francesa e a
Independência dos Estados Unidos da América. Tem sido relevante, desde a
Revolução Francesa em diante, a participação da Maçonaria em levantes,
sedições, revoluções e guerras separatistas em muitos países da Europa e da
América. No Brasil, deixou suas marcas, especialmente na Independência do jugo
da metrópole portuguesa e, entre outras, a Inconfidência Mineira e na
denominada “Revolução Farroupilha”, tendo legado os símbolos maçônicos na
bandeira do Rio Grande do Sul, importante estado da Federação brasileira. Vários outros
Estados da Federação possuem símbolos maçônicos nas suas bandeiras, como Minas Gerais,
por exemplo. O principal idealizador da bandeira pós-república foi Teixeira Mendes, presidente do Apostolado Positivista do Brasil, com colaboração de Miguel Lemos e Manuel Pereira Reis, este, catedrático de astronomia da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. As justificativas da Bandeira Nacional foram feitas por Teixeira Mendes, no Diário Oficial do dia 24 de novembro. O dístico “Ordem & Progresso” foi tido como influência do positivismo e durante algum tempo, julgou-se que o positivismo estivesse ligado à influência da Proclamação da República. Hoje sabemos que o mote em questão sempre envolveu a Maçonaria e que o primeiro ministério formado era, quase em sua totalidade, constituído de Maçons.
A
divulgação dos direitos do homem e da ideia de um governo republicano inspirou
a Maçonaria no Brasil, em particular depois da Revolução Francesa, quando os
cidadãos derrubam a monarquia absolutista secular. As ideias que fermentaram o
movimento político do século XVIII havia levedado o espírito dos colonos
norte-americanos, que emigraram para a América em busca terra, trabalho e de
liberdade religiosa e política. A maçonaria é caracteristicamente universalista
por ser uma sociedade conservadora que aceita a afiliação de todos os cidadãos
que se enquadrarem na qualificação “livres e de bons costumes”, qualquer que
seja a sua raça, a sua nacionalidade, o seu credo, a sua tendência política ou
filosófica excetuada os adeptos do comunismo teorético porque erroneamente
acreditam que “seus princípios filosóficos fundamentais negam ao homem o
direito à liberdade individual da autodeterminação”. O Congresso Nacional
possui 51 Deputados Federais e 7 Senadores pertencentes à Maçonaria, forma
reduzida e usual de “franco-maçonaria” (cf. Naudon, 1987; 1991), é uma
sociedade filosófica, filantrópica, iniciática e só aparentemente progressista.
Policiais
retiram placa com frases alusivas à corrupção colocada por manifestantes em
frente ao Congresso Nacional.
Dentro
da realidade política contemporânea, entretanto, a instituição não poderá ser
considerada senão como sendo uma sociedade discreta. De pretenso caráter
universal cujos membros cultivam o aclassismo, humanidade, os princípios da
liberdade, democracia, igualdade, fraternidade e aperfeiçoamento intelectual.
Seu adjetivo é maçônico e maçônica. A maçonaria é, portanto, uma sociedade
fraternal, que admite os chamados “homens livres e de bons costumes, sem
distinção de raça, religião, ideário político ou posição social”. Suas
exigências morais são que o candidato acredite em um princípio criador, tenha
boa índole, respeite a família, possua um espírito filantrópico e o firme
propósito de tratar sempre de ir em busca da perfeição, aniquilando seus vícios
e trabalhando para a constante evolução de suas virtudes. Muitos princípios éticos maçônicos
foram inspirados pelo Antigo Testamento. Os ritos e símbolos da maçonaria e
outras sociedades secretas recordam: A reconstrução do Templo de Salomão, a
estrela de David, o selo de Salomão, os nomes dos diferentes graus, como por
exemplo o que se refere ao cavalheiro Kadosh, que em
hebraico significa santo, Príncipe de Jerusalém, Príncipe do Líbano, Cavalheiro
da Serpente de Airain, e assim por diante.
A Luz é um dos mais densos símbolos na maçonaria
(cf. Brown, 2010), pois representa o espírito divino, a liberdade religiosa,
designando, para os maçons de formação francesa, a ilustração, o
esclarecimento, o que esclarece o espírito, a claridade intelectual. Outro
símbolo compartilhado é o Templo de Salomão. Figura como uma parte central na
religião judaica, por ser o rei Salomão uma das maiores figuras de Israel, como
o Templo representar o zênite da religião judaica. Na maçonaria, juntou-se a
figura de Salomão, à da construção do Templo, pois os maçons são reconhecidos,
antes de tudo, como construtores, pedreiros, geômetras e arquitetos. Os rituais
maçônicos estão prenhes de lendas/mitos sobre a construção do Templo, no
sentido bíblico e histórico. Tem seu método educacional num todo estruturado, baseado em simbologia e em seus principais rituais. Nascida da maçonaria operativa e dos pedreiros livres, toda sua estrutura simbólica é baseada nos utensílios dos pedreiros, construtores e arquitetos medievais. A maioria dos símbolos e ritos usados socialmente na maçonaria são utensílios de pedreiros ou símbolos de outra categoria, incorporados à ordem.
Em seu livro A Sociedade Aberta e Seus Inimigos, Karl Popper utiliza o termo
“teoria da conspiração” para criticar ideologias que conduzem ao historicismo.
O positivismo transforma-se, desde logo, em uma regra de moral individual, administrativa e política. É que procuramos suprir, muito às pressas, as nossas deficiências com as ideias que nos chegam. O certo é que, cansados do ensino verbalístico e estéril da escolástica envelhecida e pobre que se impusera até então ao país, os espíritos cultos e as instituições sociais de pesquisa em geral governamentais abraçam com entusiasmo o positivismo. Popper argumenta que o totalitarismo foi fundado em cima de teorias
conspiratórias que “recorriam a complôs imaginários conduzidos por cenários
paranoicos baseados no tribalismo, chauvinismo ou racismo”. Portanto, Popper
não argumenta contra a existência de conspirações cotidianas, como se sugeria
incorretamente em muita da literatura posterior. Em sua crítica aos
totalitários do século XX, escreve: - “Não quero dar a entender que as
conspirações nunca ocorrem (...), são fenômenos sociais típicos”, pois, “conspirações
ocorrem, é preciso admitir. Mas, apesar de suas ocorrências, o fato marcante
que refutou a teoria da conspiração é que foram poucas as conspirações que
tiveram êxito. Os conspiradores raramente consomem sua conspiração”.
Analistas dos meios sociais de
comunicação de massa notam regularmente uma tendência nas mídias de notícias e
de cultura popular para compreender acontecimentos através do prisma de agentes
individuais, em oposição a notícias estruturais ou institucionais mais
complexas. Caso se trate de uma observação conjuntural, pode-se esperar que a
audiência que demanda o consumo seja mais receptiva a informações
personalizadas e dramáticas de fenômenos sociais. Um segundo tropo da mídia,
talvez relacionado, é o esforço em atribuir responsabilidades individuais a
acontecimentos negativos. Os meios de comunicação de massa têm a tendência de iniciar a
busca por culpados, caso ocorra um acontecimento social, mas afetivo que seja de tamanha
importância, e acabam não tirando o assunto da agenda de notícias por vários
dias, semanas, meses. Seguindo a mesma direção, tem-se dito que o conceito de “puro acidente” já
não é mais permitido em um artigo de notícias. O primeiro presidente eleito após o longo período de ditadura civil-militar foi morto em uma teoria da conspiração? O mineiro Tancredo Neves foi o primeiro presidente civil eleito após a ditadura militar, que durou 21 anos no país (1964-1985). Em 15 de janeiro de 1985, em eleição indireta no Colégio Eleitoral, composto de senadores, deputados federais e representantes das Assembleias Legislativas estaduais,Tancredo Neves derrotou o candidato apoiado pelos militares, Paulo Maluf. Em 14 de março, véspera da posse, Tancredo teve fortes dores abdominais, foi internado às pressas e fez uma operação de emergência. No dia seguinte, quem tomou posse em seu lugar foi o vice-presidente, José Sarney, ex-presidente do PDS, partido que apoiava a ditadura militar. Após uma agonia de 38 dias e sete cirurgias, Tancredo Neves oi declarado morto coincidentemente em 21 de abril. Para o deputado federal Paulo
Teixeira (PT-SP), o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o atual
presidente Michel Temer estiveram no centro de uma grande conspiração que
culminou com a deposição de Dilma Rousseff, através de um processo fraudulento,
que precisa ser revisto pelo Supremo Tribunal Federal (STF). – “Não podemos
aceitar que pessoas que chegaram ao poder pelas mãos de Eduardo Cunha queiram
mexer na Constituição, que sintetizou uma série de direitos conquistados pelo
povo”. Para o deputado, é hora de Eduardo Cunha elucidar como funcionava o
sistema de corrupção por ele articulado, e que essas revelações podem atingir
Temer, a quem classifica como “usurpador”. – “Fizeram toda uma campanha como se
estivessem lutando pela honestidade e pela probidade. Na verdade, ele (Cunha)
era um dos mentores e articuladores desse processo de corrupção”, ressalta
Teixeira, que cobra a realização de Diretas
Já, para restabelecer a legitimidade do governo, além de uma Constituinte
exclusiva que trate da reforma política. Sobre o deputado Paulo Pereira da
Silva (SD-SP), o “Paulinho da Força”, um dos dez parlamentares que votaram pela
absolvição de Eduardo Cunha, Paulo Teixeira afirmou que ele demonstra, mais uma
vez, de que lado está: - “Sempre esteve na contramão da boa política”.
Independente dos interesses e das
motivações maçônicas, quase sempre apresentadas pelos maçons de forma romântica
e, em alguns pontos, quase fictícia, seria hipocrisia negar a atuação da
maçonaria em nossa sociedade, seja no âmbito filantrópico, nos meandros
sociais, ou na atmosfera política entre os poderes regentes de nosso país. A
República foi proclamada em 15 de novembro de 1889 e inaugurou a forma
republicana federativa presidencialista de governo em nosso país, derrubando a
monarquia constitucional parlamentarista vigente e pondo fim à soberania do
imperador d. Pedro II. Esse episódio ocorreu no 2° reinado, que à época, era o
Rio de Janeiro. Conforme a narrativa de Visconde de Ouro Preto, a proclamação
foi oficializada após “um grupo de militares do Exército brasileiro, liderados
pelo marechal Deodoro da Fonseca, dar um golpe de Estado, fazendo uso de coação
(...). Foi instituído, naquele mesmo dia 15, um governo provisório republicano. Faziam parte desse governo,
organizado na noite de 15 de novembro de 1889, o marechal Deodoro da Fonseca,
como Presidente da República e chefe do governo provisório, o marechal Floriano
Peixoto, como vice-presidente, e, como ministros, Benjamin Constant Botelho de
Magalhães, Quintino Bocaiúva, Rui Barbosa, Campos Sales, Aristides Lobo,
Demétrio Ribeiro e o almirante Eduardo Wandenkolk, todos membros regulares da
maçonaria brasileira”.
Em abril de 2007, Dilma Rousseff já
era apontada como possível candidata à presidência da República na eleição de
2010. Naquele mesmo ano, o presidente
Lula passou a dar destaque a então ministra com o objetivo de testar seu
potencial como candidata. Em abril de 2009, Lula afirmou que “Todo mundo sabe
que tenho intenção de fazer com que Dilma seja candidata do PT e dos partidos,
mas se ela vai ganhar vai depender de cada brasileiro”. Os candidatos dos dois maiores grupos políticos foram a ex-ministra-chefe da Casa Civil do governo Lula Dilma Rousseff, da coligação Para o Brasil seguir mudando, tendo o deputado Michel Temer como candidato a vice-presidente, e o ex-governador de São Paulo, José Serra, da coligação O Brasil pode mais, tendo o deputado Índio da Costa como candidato a vice. Para cumprir com a lei eleitoral de desincompatibilização, Dilma deixou o Ministério da Casa-Civil em 31 de março de 2010, sendo sucedida por Erenice Guerra. A Convenção Nacional do
Partido dos Trabalhadores - PT, realizada em Brasília no dia 13 de junho de
2010, oficializou Dilma como a candidata do partido à presidência, bem como
oficializou o então presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer como seu
vice. A coligação de Dilma e Michel Temer recebeu o nome de Para o
Brasil seguir Mudando e foi composta por dez partidos políticos. Em
seu discurso de aceitação como candidata, declarou: - “Não é por acaso que
depois desse grande homem o Brasil possa ser governado por uma mulher, uma
mulher que vai continuar o Brasil de Lula, mas que fará o Brasil de Lula com
alma e coração de mulher”. O mote da campanha petista foi a continuidade do
governo Lula. Até então desconhecida por grande parte do eleitorado, Dilma
Rousseff passou a liderar a corrida pela sucessão presidencial. Como é natural,
ela foi beneficiada pela aprovação recorde do governo de Luiz Inácio Lula da
Silva, que atingiu patamares superiores aos 80%. O presidente engajou-se
pessoalmente na campanha, participando de vários comícios, gravando para a
propaganda eleitoral e declarando apoio à candidata repetidas vezes. O ultraconservador
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) interpretou algumas dessas declarações como propaganda
eleitoral antecipada, multando-os diversas vezes.
No
2° turno, Marina Silva errou em sua estratégia quando optou “por não declarar
apoio a nenhum dos dois candidatos”. Dilma manteve a vantagem sobre Serra nas
pesquisas de opinião. Em 31 de outubro, ela obteve 55 752 529 votos (56,05%),
elegendo-se a 1ª mulher presidente do Brasil. Em seu discurso de vitória,
destacou o papel das mulheres e agradeceu o apoio do presidente Lula. Sua
vitória teve grande repercussão na imprensa internacional, que destacou “o
ineditismo por ser a primeira presidente e o peso de seu padrinho político”.
Dilma foi empossada como a 36ª presidente do Brasil em 1º de janeiro de 2011.
Em seu discurso de posse, prometeu
erradicar a pobreza e mudar o sistema tributário. Antes mesmo de assumir
o cargo, afirmou preferir ser tratada como presidenta, mas desde sua eleição
não houve posicionamento oficial a respeito do tema, o que gerou certa
confusão. Os meios de comunicação não respeitaram a solicitação da presidenta
da República. Sem estabelecer qualquer padronização, têm utilizado tanto “a
presidente”, quanto “a presidenta”.
Em
14 de janeiro de 2011, Dilma Rousseff visitou as áreas atingidas pelas
enchentes e deslizamentos de terra no Rio de Janeiro. Seu governo liberou R$
100 milhões para ações de socorro e assistência social. No início de fevereiro,
fez a primeira viagem internacional, escolhendo a Argentina como destino
político. No mesmo mês, anunciou um corte de R$ 50 bilhões nas despesas
previstas pelo Orçamento Geral da União para 2011. Fez seu primeiro
pronunciamento transmitido em rede nacional de rádio e televisão. Em março,
recebeu a visita do presidente norte-americano Barack Obama, assinando acordos
de cooperação. Em abril, decretou luto oficial de três dias pelo Massacre de Realengo (RJ) e declarou que
o país estava unido em repúdio à violência. Em seu discurso de abertura da
Assembleia Geral das Nações Unidas em 21 de setembro, defendeu o Estado
Palestino ao dizer que “chegou o momento” daquele país se tornar um membro
pleno da ONU. Também exaltou o papel das mulheres na política, declarando: -
“Pela primeira vez na história das Nações Unidas, uma voz feminina inaugura o
debate geral: é a voz da democracia”. Em novembro, sancionou a lei que
instituiu a chamada “Comissão Nacional da Verdade” e a Lei de acesso à
informação, regulamentando o direito do acesso às informações públicas. Em seu
1° ano de mandato, sete ministros foram substituídos. Irritado, Nelson Jobim,
ministro da Defesa, pediu demissão, após classificar o governo como
“atrapalhado”. Em fevereiro de 2012, o governo federal leiloou os aeroportos de
Guarulhos, Viracopos e Brasília. As concessionárias vencedoras irão administrar
os aeroportos durante o prazo de concessão, que varia de vinte a até trinta
anos. O governo arrecadou R$ 24 bilhões com os leilões. Também foram
concessionados para a iniciativa privada trechos de rodovias e ferrovias federais.
Dilma discursa durante abertura do Rio+20, 20 de junho de 2012. Em
maio de 2012, anunciou, em rede nacional de televisão, a criação do programa
“Brasil Carinhoso”, com o objetivo de “tirar da miséria absoluta todas as
famílias com integrantes de até quinze anos”. No mês seguinte, sancionou a Lei
nº 12 677, criando mais de 70 mil cargos a serem preenchidos até 2014 na área
educacional e, em agosto sancionou a lei que destina metade das vagas em
universidades federais para estudantes de escolas públicas. Dilma manteve um
alto índice de aprovação nos dois primeiros anos de seu mandato. A aprovação do
governo nunca foi inferior a 48% de “ótimo” ou “bom” e sua avaliação pessoal
atingiu a casa dos 70% diversas vezes. Estes índices deram-lhe melhor aprovação
do que comparativamente ao mesmo período dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Em seu primeiro pronunciamento rede nacional em 2013, anunciou uma redução na conta de luz e declarou
que “ao mesmo tempo, com a entrada em operação de novas usinas e linhas de
transmissão, vamos aumentar em mais de 7% nossa produção de energia e ela irá
crescer ainda nos próximos anos”. Em março, anunciou a desoneração de impostos
federais sobre a cesta básica para “reaquecer” a economia.
Em
junho de 2013, em meio à onda de protestos da população que se espalharam por
todo País sobre insatisfação relacionada aos Poderes Executivo e Legislativo,
aliada a questões sobre condições de saúde, educação e segurança, geraram a maior
queda na popularidade de Dilma, que foi de 55% para 31%. A onda de protestos
comunicativos também atingiu negativamente a popularidade de governadores, prefeitos,
deputados e da maioria dos partidos do país. Em 21 de junho de 2013, um dia
após a maior manifestação registrada nessa onda de protestos, Dilma cancelou
uma viagem que faria ao Japão e convocou uma reunião de emergência. No mesmo
dia, foi gravado um pronunciamento presidencial em que Dilma Rousseff anunciou
a criação de cinco pactos e uma proposta de plebiscito para constituinte da
reforma política. Em setembro de 2013, documentos do governo dos Estados Unidos
da América (EUA) revelaram que Dilma e seus assessores, além de grandes empresas como a
Petrobrás, foram espionados pelo governo norte-americano.
Em
17 de setembro, Dilma Rousseff cancelou a viagem oficial que faria aos EUA. Em
24 de setembro, a presidente discursou na Assembleia Geral da ONU, onde
declarou que “a espionagem fere a soberania e o direito internacional”. Ela
classificou as denúncias como uma “grave violação dos direitos humanos e das
liberdades civis” e uma “afronta aos princípios que devem guiar as relações
entre os países”. Em fevereiro de 2015, uma reportagem do jornal The New York Times denunciou que os
programas de espionagem da NSA no Brasil e no México continuaram mesmo após as
revelações ao público e o estremecimento das relações bilaterais. Em 21 de
outubro de 2013, foi leiloado o “Campo de Libra”, considerado o maior campo de
petróleo da Camada pré-sal. Naquele mesmo dia, a presidenta fez um
pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão negando que o leilão
significava a privatização do petróleo brasileiro. Segundo ela, “o Brasil é – e
continuará sendo – um país aberto ao investimento, nacional ou estrangeiro, que
respeita contratos e que preserva sua soberania. Por tudo isso, o leilão de
Libra representa um marco na história do Brasil”.
Em
27 de abril de 2014, sancionou o Marco
Civil da rede mundial Internet, que estabeleceu obrigações e direitos dos
provedores de internet. Dilma Rousseff discursou no fórum global NET mundial,
realizado naquele mês, afirmando: - “Esse foi um processo virtuoso que nós
levamos no Brasil. O nosso “Marco Civil” também foi valorizado pelo processo de
sua construção. Por isso, gostaria de lembrar que ele estabelece princípios,
garantias e direitos dos usuários”. Em
10 de junho de 2014, dois dias antes do início da Copa do Mundo FIFA - Federação Internacional de Futebol, Dilma
pronunciou-se em rede nacional de televisão sobre o evento. No pronunciamento,
a presidente defendeu o legado da Copa, declarando: - “No jogo, que começa
agora, os pessimistas já entram perdendo. Foram derrotados pela capacidade de
trabalho e a determinação do povo brasileiro, que não desiste nunca”. Entre
junho de 2013 até a realização da Copa das Nações, vários protestos ocorreram
contra a realização do evento no país. Dilma também foi alvo dos protestos por,
pelo menos, duas vezes: em seu discurso de abertura da Copa das Confederações
FIFA de 2013, recebeu muitas vaias da plateia; ao entregar a taça de campeã
para a Alemanha, então vaiada pela torcida.
Enfim,
segundo Michael Löwy o que aconteceu no Brasil, com a destituição da presidente
eleita Dilma Rousseff, foi um golpe de Estado. Golpe de Estado pseudolegal, “constitucional”,
“institucional”, parlamentar ou o que se preferir. Mas golpe de Estado.
Parlamentares – deputados e senadores – profundamente envolvidos em casos de
corrupção (fala-se em 60%) instituíram um processo de destituição contra a
presidente pretextando irregularidades contábeis, “pedaladas fiscais”, para
cobrir déficits nas contas públicas – uma prática corriqueira em todos os
governos anteriores! Não há dúvida de que vários quadros do PT estão envolvidos
no escândalo de corrupção da Petrobras, mas Dilma não… Na verdade, os deputados
de direita que conduziram a campanha contra a presidente são uns dos mais
comprometidos nesse caso, começando pelo presidente da Câmara dos Deputados,
Eduardo Cunha (recentemente suspenso), acusado de corrupção, lavagem de
dinheiro, evasão fiscal etc. A prática do golpe de Estado legal parece ser a
nova estratégia das oligarquias latino-americanas. Testada em Honduras e no
Paraguai (países que a imprensa costuma chamar de “República das Bananas”), ela
se mostrou eficaz e lucrativa para eliminar presidentes (muito moderadamente)
de esquerda. Agora foi aplicada num país que tem o tamanho de um continente…
A
1ª mulher eleita na América Latina foi Violeta Barros, em 1990, na Nicarágua.
Apesar da importância da eleição, ela é conhecida como Violeta Chamorro,
sobrenome do marido - pela maioria das pessoas é lembrada como viúva do
jornalista Pedro Joaquín Chamorro, assassinado pela ditadura que assolava o
país. A 1ª mulher eleita para uma Presidência na América Latina
“precisa ter a memória vinculada a um homem”. A 2ª mulher a presidir um país
latino-americano foi Mireya Moscoso, que governou o Panamá entre 1999 e 2004.
Em todas as biografias, Mireya “é descrita como esposa do Presidente Arnulfo
Arias Madrid”. Michelle Bachelet foi eleita em 2006 para governar o Chile. Ela
é a 1ª mulher a presidir o Chile pela segunda vez, desde a ditadura do general
Augusto Pinochet. As referências de “esposa” e “viúva” também são usadas para
Cristina Kirchner, que governa a Argentina desde 2007. O mandato termina em
2015 e ela não poderá se candidatar novamente, de acordo com Constituição do
país. A 5ª Presidenta eleita na América Latina venceu as eleições de 2010,
assim como Dilma Rousseff. Laura Chinchilla presidiu a Costa Rica até maio
deste ano. Antes de ocupar o cargo, ela já havia sido vice-presidente de Óscar
Arias Sanchez. Dilma Rousseff é a 1ª mulher a governar o Brasil, vencendo as
eleições de 2010 e 2014, sucessivamente, mas foi derrubada pelo golpe de Estado
de 17 de abril de 2016. Lembra-nos os versos de Cora Coralina quando afirma: -
“Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir
ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o
mais importante é o decidir”. Bibliografia
geral consultada.
BANDECCHI, Brasil, A bucha, a maçonaria e o espírito liberal. São Paulo: Editora Parma, 1982; NAUDON, Paul, Les Origines de la Franc-Maçonerie; Le Sacré et le Métier. Paris:
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