quarta-feira, 29 de novembro de 2017

As Comunidades - O Drama do Sociólogo de Interpretação Global.

                                                                                                     Ubiracy de Souza Braga
 
                                 “Substitua burguesia por globalização e eis o mundo atual descrito por Marx”. Alain Touraine
           

            A classificação tradicional dos sociólogos e do nascimento da sociologia como ciência, impele-os à sua relação profissional pelo tipo de sistema social que condiciona seu trabalho e seu objeto - as relações sociais – em uma tipologia social determinada a que são mais sensíveis: os sociólogos das organizações, das instituições políticas ou da historicidade e das classes sociais, e na modernidade, o sociólogo engajado nas universidades. Trata-se da dramatis personæ dos personagens que estão presentes na realidade, mas que não aparecem no palco em tragédias, pois não são considerados parte da dramatis personæ. Diz-se que passou a ser usada nas obras do idioma inglês desde 1730. É evidente, também, que seu uso na divisão internacional do trabalho intelectual sofreu mudanças na sociologia, a partir da posterior utilização na etnologia da expressão “ator social”.  É por isso que o domínio mais difícil de explorar da Sociologia é da eficácia das respostas ao poder. Como compreender academicamente que o reconhecimento do sentido da ação não é jamais dado inteiramente pela consciência do ator? A crítica do poder não se faz em função de um contrapoder. O conhecimento do social não prepara a ordem de amanhã.
            O poder reivindica o sentido para aquele que o detém. Ele só distingue aqueles que participam do poder, por delegação de autoridade ou simples obediência, daqueles que forjam alijados na direção de um não-sentido e utilizados como seres não-sociais. Não há nenhuma sociedade sem o poder, ainda que existam sistemas políticos sem o Estado. Os antropólogos sabem disso, melhor, talvez que em sociologia. Toda sociedade destrói assim, para reconstruir a realidade. Faz um corte nas relações sociais, desfigura o outro e o dessocializa através do preconceito individual ou coletivo, da hostilidade, da repressão ou da exploração. Assim, o poder se reveste de positividade, seja a do Estado no caso das instituições, ou da ideologia, no caso das universidades públicas. O que nos traz de volta ao ponto de partida, pois o sociólogo encontra o poder ou a ideologia.
            No âmbito temático da Antropologia das Civilizações foi Darcy Ribeiro quem percebeu a composição predominantemente “índio-espanhola” dos Povos-Testemunho se diferencia dessas outras variantes explicativas da etnologia americanista porque “suas populações indígenas originais não haviam alcançado um nível de desenvolvimento cultural equiparável ao dos mexicanos ou dos Incas”. É o resultado da seleção de qualidades raciais e culturais das matrizes formadoras, que melhor se ajustaram às condições que lhes foram impostas de fora. O papel decisivo em sua formação foi representado pela escravidão que, operando como força distribalizadora, desgarrava as novas criaturas das tradições ancestrais. São produto tanto da deculturação redutora de seus patrimônios tribais indígenas e africanos, quanto da aculturação seletiva desses patrimônios e da própria criatividade face ao novo meio de reprodução da vida.
            A condição de existência é a mesma que a da liberdade. Pois não há Sociologia possível em uma sociedade sem liberdade. E a liberdade não é um conjunto de medidas protetoras ou um tipo de instituições políticas. Ela é o que vincula uma à outra a reivindicação popular que pode tornar-se ditadura ou terror e a crítica do poder que pode tornar-se defesa de privilégios. Se o sociólogo duvida da importância de sua obra, que ele afirme pelo menos que a sua existência é um sinal de liberdade e que ele deve lutar por ela mesmo que não esteja seguro de merecê-la, pois este é o paradoxo de consequências não intencionais da sociologia. Pois ela se desenvolve nas sociedades liberais e mais vagarosamente onde haja certa defasagem entre o poder econômico, a hegemonia política e o controle cultural. Se esses três domínios do poder se recobrem, e a análise crítica da sociedade passa a depender da boa vontade de um rei filósofo, ela perde quase inteiramente suas condições e possibilidades de existir criticamente.

                                            
            Quanto mais ele critica o poder, suas regras e suas asserções, menos considera a sociedade como uma máquina que funciona “à força de senhas” e mais ainda, por esse movimento, ele aprende a reconhecer o que é próprio da vida social, a natureza de um sistema que produz o seu sentido assumindo em relação a si mesmo um distanciamento que é ao mesmo tempo o da reflexão e o do investimento. Uma sociedade não pode viver senão da tensão entre o distanciamento que ela assume em relação a si mesma e o domínio que ela exerce sobre a sua prática - lugar de origem do poder. Fluxo da inovação, da luta de classes e de relações com a comunidade. Refluxo para a integração social, a comunidade, o poder e a conquista. E como ele deixaria de ser atraído frequentemente pelo que lhe é proibido (a ideologia), mas que se vincula a uma parte de si mesmo, o poder e a conquista para uns, o companheirismo e a disciplina para outros?  

Essa situação impõe apenas um esforço teórico constante de distanciamento do sociólogo em relação ao lugar de onde ele fala. Duvido que alguém se possa tornar sociólogo sem ter adquirido uma experiência direta de sociedades e de meios sociais distantes daqueles em que vive habitualmente. Além dessa formação pessoal também é preciso que a situação profissional do sociólogo lhe permita resistir às pressões culturais e sociais que sobre ele se exercem. O conhecimento sociológico só pode desenvolver-se em um meio que não reproduza as desigualdades sociais, mas que procure reduzi-las. Mas o que ocorre é que os sociólogos estão encerrados em guetos cujo aparente isolamento seria cômodo demais para a ordem social dominante: o pensamento crítico estaria sendo enclausurado como se enclausuram os loucos e os delinquentes e pelas mesmas razões de ordem, para analisar as categorias, normas e discursos da prática. Contudo, o objeto da sociologia não pode ser definido sem a bidimensionalidade dos meios. Esse duplo procedimento deve ou deveria levara a definir o método sociológico. Enfim, é inútil discutir a pertinência relativa da análise qualitativa ou da análise quantitativa. A sociologia não pretende dominar a resposta a essa questão.
Para Ferdinand Tönnies, uma teoria da comunidade teria que aprofundar fundamentalmente sua raiz nas disposições gregárias estimuladas pelos laços de consanguinidade e afinidade, se caracterizando pela inclinação emocional recíproca, comum e unitária; pelo consenso e o mútuo conhecimento íntimo. Postulou, assim, o que seriam suas “leis principais”: a) parentes, cônjuges, vizinhos e amigos se gostam reciprocamente; b) entre os que se gostam, há consenso; c) os que se gostam, se entendem, convivem e permanecem juntos, ordenam sua vida em comum. Partindo destes princípios registrou a existência de três padrões de sociabilidade comunitária: os laços de consanguinidade, de coabitação territorial e de afinidade espiritual, cada qual convergindo para um respectivo ordenamento interativo, como comunidade de sangue (parentesco), lugar (vizinhança) e espírito (“amizade”). F. Tönnies por vezes se referia a elas como elementos de um mesmo plano de desenvolvimento cadenciado, um surgindo como consequência e desdobramento natural de seu antecessor. Ele ainda classificou as relações comunitárias, em três tipos, segundo sua forma: a) as “relações autoritárias”, de modo geral predominantes, repousando na desigualdade de poder e querer, de força e autoridade, considerando o modelo ideal de relação entre pais e filhos; b) as “relações de companheirismo”, originada na isonomia geracional na relação entre irmãos; c) e as “relações mistas”, que combinam as duas formas caracterizadas relação entre cônjuges.  
O trabalho etnológico do sociólogo é fazer sociologia, fazer aparecer o objeto sociológico, para além das normas, das categorias e dos controles da organização social. O sociólogo há muito deixou de ser um mero observador por trás das relações. Sua pesquisa se torna necessariamente uma intervenção, mesmo se ela é recusada ou se os seus efeitos são anulados. Não é mais possível separar ao nível político o estudo da organização e o dos comportamentos sociais. A posição dos atores sociais é menos abstrata, não pode ser mais definida em relação a escalas de estratificação, à distância entre o grupo de pertencimento e os grupos de referência que se constituem em instâncias de poder etc. Ela deve ser expressa diretamente em termos de influência do ator sobre a decisão que o afeta. À observação em uma organização de relações abstratas sucede a pesquisa-ação sobre mecanismos de decisão. O campo de estudo é menos limitado. As relações estudadas são mais fáceis de identificar, já que o ator se define diretamente em relação a outros e não em relação a regras ou escalas.
            A série é uma produção da Grifa Filmes, com direção, roteiro, entrevistas e montagem do cineasta Daniel Augusto, direção de fotografia de Rodrigo Menck, produção executiva de Fernando Dias e Maurício Dias e produção de Kênya Zanatta. No ar semanalmente, em 13 programas, Incertezas Críticas tem o objetivo de apresentar questões contemporâneas relevantes sobre arte, política, literatura, economia, relações internacionais, sociedade e história e permitir ao telespectador entrar em contato com o trabalho dos principais pensadores entrevistados da atualidade. É uma série documental com intelectuais de renome internacional. O objetivo é apresentar debates relevantes, e portanto, conjunturais, além de permitir ao espectador no processo de interação social entrar em contato com o trabalho dos principais pensadores da atualidade.
De acordo com A. Touraine, nenhum comportamento coletivo é um movimento social; pode ser um sinal dele, mas também se explica, ao mesmo tempo, como pressão política ou como reivindicação organizacional. As relações entre os figurantes e sua comum relação com o móvel de sua interação são muito diferentes conforme tenhamos em contra os comportamentos organizacionais, os comportamentos políticos ou os comportamentos de historicidade. Podemos  definir em cada caso as relações entre essas espécies bem distintas de comportamentos coletivos. São outras as dificuldades principais: em primeiro lugar um comportamento de classe é ao mesmo tempo portador de um conflito social e definido por uma relação positiva ou negativa com o poder. As relações de classe incluem ao mesmo tempo conflitos e contradições. Seria contraditório querer aproximar-se de um movimento social como de uma organização profissional, definindo em primeiro lugar seus objetivos e depois seus meios. Quem se satisfaria com a análise da vida religiosa que não passasse da organização e da ação de uma igreja, conforme seu conceito desde Thomas Hobbes?
No Novo Testamento, uma igreja é simplesmente um grupo de cristãos que seguem a Cristo. A palavra pode ser usada para falar de todos aqueles que servem ao Senhor, não importa onde estejam. É neste ambiente de igrejas locais que encontramos homens escolhidos para supervisionar e guiar. Os sistemas comuns de superestruturas de denominações, de ligas internacionais de igrejas e de hierarquias que ligam e até governam milhares de igrejas locais, são invenções do homem. Não há modelo bíblico de tais arranjos. No Novo Testamento, os cristãos serviam juntos em congregações locais. Eles eram gratos pelos seus irmãos em outros lugares. Mas não tentavam criar algum laço de organização onde os cristãos de um lugar pudessem dirigir ou governar o trabalho de discípulos de outro lugar. Este modelo mais claramente se espraia se considerado o ensinamento específico sobre a organização de uma igreja local.
Nesse último sentido, de acordo com Hobbes (2014: 360) é que a Igreja pode ser entendida como uma pessoa, isto é, que ela tenha o poder de querer, de pronunciar, de ordenar, de ser obedecida, de fazer leis ou de praticar qualquer espécie de ação. Se não existir a autoridade de uma congregação legítima, qualquer ato praticado por um conjunto de pessoas é um ato individual de cada um dos presentes que contribuíram para a prática desse ato. Não um ato conjunto, como se fosse de um só corpo. Não é um ato dos ausentes ou daqueles que, estando presentes, eram contra a sua prática. Uma Igreja pode ser definida “como um conjunto de pessoas que professam a religião cristã, ligadas à pessoa de um soberano, que ordena a reunião e que determina quando não deverá haver reunião. Tendo em vista que em todos os Estados semelhantes assembleias são ilegítimas, se não são autorizadas pelo soberano civil, constitui também uma assembleia ilegítima a reunião da Igreja em qualquer Estado em que tiver sido proibida”. É neste sentido que não há no planeta Terra, portanto, qualquer Igreja universal à qual todos os cristãos devam obedecer, uma vez que não há nenhum poder aos quais todos os outros Estados estejam sujeitos, a não ser à nós próprios de forma ogranizada. Nos domínios dos diversos príncipes e Estados, mas cada um deles se sujeita ao Estado do qual é membro, não podendo, por conseguinte, sujeitar-se às ordens de qualquer outra pessoa.

Assim, uma Igreja capaz de mandar, julgar, absolver, condenar ou praticar qualquer outro ato é o mesmo que um Estado civil formado por homens cristãos; o Estado civil tem esse nome por serem seus súditos os homens, enquanto a Igreja é assim denominada pelo fato de seus súditos serem os cristãos. Governo espiritual e temporal são apenas palavras trazidas ao mundo ocidental para confundir os homens, enganando-os quanto a seu soberano legítimo. É preciso haver um único governante, do contrário se origina a facção e a guerra civil, entre a Igreja e o Estado, entre os espiritualistas e os temporalistas, entre a espada da justiça e o escudo da fé, e, o que é pior ainda, no próprio coração de cada cristão, entre o cristão e o homem. Chamam-se pastores os doutores da igreja, bem como os soberanos civis. Entretanto, se entre os pastores não houver alguma subordinação, de forma que haja apenas um chefe dos pastores, serão ministrados aos homens as doutrinas contrárias que poderão ser falsas, e uma delas necessariamente o serão. O soberano civil é o chefe dos pastores, segundo a lei natural. Embora o Estado e a religião estivessem nas mãos dos reis, nenhum deles deixou de ser fiscalizado quando eram bem quistos por suas capacidades naturais ou por sua fortuna.           
O padrão define uma maneira de organização da sociedade, os mecanismos pelos quais se atualiza a sociedade no momento; os dilemas definem as condições geradas pela dinâmica interna dessa forma de organização e que conduzem a obstáculos e direções. Os padrões são as estruturas sociais que limitam a ação dos sujeitos sociais, que os impedem de implantar na realidade a sua vontade e os seus sonhos. A realidade social não é o que se deseja que ela deva ser, e não pode ser mudada apenas com uma vontade moral – exige conhecimento, pesquisa, investigação. Assim, a teoria social correta ofereceria aos sujeitos sociais as possibilidades objetivas das suas ações, conforme a pragmática weberiana, em que as opções que os levariam ao sucesso, à eficácia histórica. Errar na análise histórico-social significa equivocar-se na ação. Por isso, “a análise deve ser sóbria, serena, bem informada, particularizada e objetiva”. Na modernidade da qual falamos, a perda de parâmetros define sem dúvida o mundo moderno em sua facticidade e não pode ser revertida por qualquer espécie de retorno aos bons tempos nem pela promulgação arbitrária de novos parâmetros e valores só e, por conseguinte, uma catástrofe social no mundo moral se se supõe que as pessoas são efetivamente incapazes de julgar todas as coisas per se, que sua faculdade de julgar é inadequada para formar juízos originais e que o máximo que podemos exigir delas é a correta aplicação de regras conhecidas e derivadas de parâmetros já estabelecidos. 
O socialismo cristão é uma tendência dentro do cristianismo que interpreta por  meio das Escrituras, tanto no Antigo Testamento quanto no Novo Testamento, que o modelo de sociedade socialista é o que mais se aproxima do modelo de sociedade que preze pelo amor, caridade e demais ensinamentos de Jesus, ao passo que o modelo de organização capitalista valoriza princípios opostos ao cristianismo como acumulação de capital e meios de produção, de modo que a fé demanda uma opção consciente pelo socialismo. Em termos políticos, os socialistas cristãos formam um grupo extremamente heterogêneo que se insere desde a esquerda à centro-esquerda, com a compreensão de que toda a Cristandade não pode deixar de buscar o sentido social do ensinamento. O socialismo religioso é uma compreensão da representação do socialismo que se coloca como uma opção de organização social que permite aos cristãos viverem em comunhão.
Historicamente o movimento religioso-socialista dentro da igreja representa um movimento minoritário de grande importância, principalmente para o desenvolvimento da social democracia, no combate aos grupos fascistas e na redemocratização em países como Portugal e Brasil, além de trazer à tona a discussão da relação entre a Igreja e os trabalhadores e da igreja e o socialismo. A base do que representa hoje o “socialismo cristão”, foi iniciado no século XIX, fundamentado pela reflexão das ideias comunistas de Marx como uma tentativa de resposta às desigualdades que surgiram a partir de uma exploração desumana provocada pela quebra da livre concorrência a partir do desaparecimento de leis institucionais conservadoras, que permitiram o crescimento do truste e o surgimento dos grandes monopólios; além de um Estado despreparado para respostas sociais em prol dos mais desfavorecidos. Seus adeptos consideram que o cristianismo é naturalmente uma forma de socialismo. A fé cristã o vê como um sistema injusto e de consequências funestas. O que se entende por socialismo influenciado pelas ideias de Marx, representava a vontade de se criar um Estado laico.
A sociologia não teria podido existir antes que as sociedades pudessem ser pensadas como o produto de sua ação. Sua formação põe fim à subordinação dos fatos sociais a outras esferas sociais de análise, a saber: religiosa, jurídica ou econômica. A Sociologia, explicação dos sistemas sociais globais e das relações sociais substitui assim as intepretações que as sociedades anteriores davam de sua organização e de sua evolução. Ipso facto é com razão que Marx (2011) afirma a este respeito: - a conclusão geral a que cheguei e que, uma vez adquirida, serviu de fio condutor dos meus estudos, pode formular-se resumidamente assim: na produção social de sua existência, os homens estabelecem relações determinadas, necessárias, independentes de sua vontade, relações de produção que correspondem a um determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas materiais. O conjunto destas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e á qual correspondem determinadas formas de consciência social. O objeto da humanidade - o modo de produção da vida material - , diz Marx, condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral.
Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é o seu ser social que, inversamente, determina a sua consciência. É por isso que a humanidade só levanta os problemas que são capazes de resolver e assim, numa observação atenta, descobrir-se-á que o próprio problema só surgiu quando as condições materiais para resolvê-lo já existiam ou estavam, pelos menos, em via de aparecer. Assim, a abstração mais simples, metodologicamente falando, que a economia política moderna coloca em primeiro lugar e que exprime uma relação muito antiga e válida para todas as formas de sociedade, só aparece, no entanto sob esta forma abstrata como verdade prática enquanto categoria da sociedade mais moderna. Poder-se-ia dizer que esta indiferença em relação a uma forma determinada de trabalho, que se apresenta nos Estados Unidos como produto histórico, se manifesta na Rússia, por exemplo, como uma disposição natural. Este exemplo do trabalho mostra com toda a evidência que até as categorias mais abstratas, ainda que válidas – precisamente por causa da sua natureza abstrata – para todas as épocas, não são menos, sob a forma determinada desta mesma abstração, o produto de condições históricas e só se conservam plenamente válidas nestas condições e no quadro destas. Como, além disso, a sociedade burguesa é apenas uma forma antitética do desenvolvimento histórico, há relações que pertencem a formas de sociedades superiores anteriores que só poderemos encontrar nela completamente debilitadas ou até disfarçadas. Por exemplo, a tópica da propriedade comunal.
O que se chama desenvolvimento histórico baseia-se, ao fim e ao cabo, sobre o fato de a última forma considerar as formas passadas, como jornadas que levam ao seu próprio grau de desenvolvimento, e dado que ela raramente é capaz de fazer a sua própria crítica, e isto em condições bem determinadas – não estão naturalmente em questão os períodos históricos que consideram a si próprios como épocas de decadência -, concebe-as sempre sob um aspecto unilateral. Enfim, a religião cristã só pode ajudar a compreender objetivamente as mitologias anteriores, depois de ter feito, até certo grau, por assim dizer dünámei, a sua própria crítica.  Igualmente, afirma Marx, a economia política burguesa só conseguiu compreender as sociedades feudais, antigas e orientais, no dia em que compreendeu a autocrítica da sociedade burguesa. Na medida em que a economia política burguesa, criando uma nova mitologia, não se identificou pura e simplesmente com o passado, a crítica que fez às sociedades anteriores, em particular à sociedade feudal contra a qual tinha ainda que lutar diretamente, assemelha-se à crítica do paganismo feita pelo cristianismo, ou a do catolicismo feita pela religião protestante.
Pensadores católicos modernos apoiaram-se tanto nos textos de Max Weber no que diz respeito ao aspecto de influência protestante quanto nos de Bernard Groethuysen para afirmar que “o ethos católico é anticapitalista”. Essa afirmação se encontra no livro de Amintore Fanfani, Catholicism, Protestantism and Capitalism, publicado em 1935. Como exemplo de Weber, o autor – na época um jovem intelectual católico que depois se tornaria um dos líderes do Partido Democrata Cristão e primeiro ministro da Itália – define o capitalismo como um sistema de racionalização econômica à prova de influências externas. Para Fanfani, se o protestantismo favorece a supremacia do espírito capitalista, ou melhor, legitima-o e santifica-o – tese de Weber, revista e corrigida por Hector Menteith Robertson -, “existe um abismo intransponível entre as concepções da vida católica e capitalista”. Por causa desse abismo, o catolicismo mostra uma “repugnância muito marcada” pelo capitalismo – não por um ou outro de seus aspectos, pois quase todos são acidentais, mas pela própria essência do sistema.   Evidentemente, nem todos os intelectuais católicos concordam com uma concepção tão radical, e o próprio Amintore Fanfani, quando foi primeiro-ministro depois da guerra, comportou-se como um administrador típico da economia capitalista.  
            
Apesar disso, seu livro se tornou como diz Michael Novak num novo prefácio escrito em 1984, um “locus classicus do sentimento anticapitalista entre os intelectuais católicos”. Michael Novak, eminente neoconservador religioso norte-americano, é um bom exemplo do pensamento católico pró-capitalista. E, no entanto, segundo Löwy (2014: 86 e ss.), as numerosas queixa que ele faz contra o que chama de “preconceito anticapitalista do catolicismo” e a desaprovação explícita do que considera uma falha grave de sua própria tradição religiosa é uma prova, ainda que involuntária, da existência de uma espécie de “afinidade negativa” ou antipatia cultural entre a ética católica e o espírito do capitalismo. Novak acusa a igreja católica de ser excessivamente conservadora. E não há dúvida de que esse preconceito anticapitalista do catolicismo e essa hostilidade contra a sociedade burguesa moderna tiveram, desde o princípio, uma orientação poderosamente conservadora, restauradora, retrógrada – em suma, reacionária. Além disso, ela tomou frequentemente a forma sinistra do antissemitismo, o judeu servindo de bode expiatório pelos males resultantes da usura, do poder corruptor do dinheiro e da ascensão do capitalismo. Paralelamente a essa tendência dominante, existia outra sensibilidade católica, motivada, por certa simpatia pelos sofrimentos dos pobres e atraídas também em certa medida pelas utopias socialistas e comunistas.  
Aliás, é interessante notar que vários desses autores utopistas, dentre eles Ernest Bloch, Eric Fromm, serviram-se da obra de Max Weber para denunciar o protestantismo e celebrar a civilização católica moderna – o que é absolutamente contrário á intenção do autor de A ética protestante e o espírito do capitalismo. Contudo, poucos escritores socialistas elaboraram uma crítica mais profunda, radical e corrosiva da sociedade burguesa moderna, do espírito de acumulação capitalista e da lógica impessoal do dinheiro do que Charles Péguy. Ele fundou uma tradição especificamente francesa de anticapitalismo progressista cristão (principalmente católico, mas, ás vezes, ecumênico) que perdurou no século XX por meio de figuras tão diversas quanto Emmanuel Mounier e seu grupo reunido em torno da revista Esprit, o pequeno movimento de cristãos socialistas na época da Frente Popular e a rede de resistência antifascista Testemunho Cristão durante a 2ª guerra mundial (1941-45). Sem contar com os padres operários engajados através dos anos 1940 e 1950, os diversos movimentos e redes cristãos, além de boa parte da juventude católica, que nos anos 1960 e 1970 simpatizou ativamente com diversos movimentos socialistas, comunistas ou revolucionários, que desde o fim da guerra manifestaram grande interesse pelo marxismo e pelo socialismo: Henri Desroche, Jean-Yves Calvez, Marie-Dominique Chenu, Jean Cardonnel, Paul Blanquart e muitos outros.
Embora haja cristãos socialistas ligados à Igreja católica em muitos países, não encontramos em nenhum outro – fora da América Latina – uma tradição religiosa anticapitalista de esquerda tão ampla e considerável como na cultura católica francesa. Não é à toa que nas primeiras manifestações de cristianismo progressista na América Latina – a esquerda cristã brasileira de 1960-1962, cujo protagonista principal foi a Juventude Universitária Católica (JUC) – estivessem diretamente ligadas a essa cultura francesa.  A chamada “Igreja dos pobres” da América Latina é herdeira da rejeição ética do capitalismo pelo catolicismo – a “afinidade negativa” – e, sobretudo dessa tradição francesa e europeia de socialismo cristão. Herbert de Souza, o Betinho, um dos principais dirigentes da JUC brasileira, prestou homenagem ao ethos anticapitalista católico tradicional num artigo publicado em 1962. O cristianismo da libertação na América Latina, na realidade, não é simplesmente um prolongamento do anticapitalismo tradicional da Igreja. É essencialmente criação de uma nova cultura religiosa, que exprime as condições específicas da América Latina: capitalismo dependente, pobreza em massa, violência institucionalizada, religiosidade popular, de consequências político-religiosas consideráveis, com sua profunda aversão ao cosmo capitalista.    
Bibliografia geral consultada.
TÖNNIES, Ferdinand, Comunidad y Sociedad. Buenos Aires: Ediciones Losada, 1947; ARON, Raymond, Dimension de la Conscience Historique. Paris: Union Générale d`Éditions, 1961; MARX, Karl, O 18 Brumário e Cartas a Kugelmann. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1969; ALTHUSSER, Louis, “Contradição e Sobredeterminação”. In: Análise Crítica da Teoria Marxista. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967; Idem, “Idéologie et Appareils Idéologiques d`Etat”. In: Pensée. Paris, jun. 1970; FERNANDES, Florestan, Comunidade e Sociedade: Leitura sobre Problemas Conceituais, Metodológicos e de Aplicação. São Paulo: Editora Nacional; Editora da Universidade de São Paulo, 1973; TOURAINE, Alain, Sociologie de l`action. Paris: Éditions du Seuil, 1965; Idem, Production de la Societé. Paris: Éditions du Seuil, 1973; Idem, La Voix et le Regard. Paris: Éditions du Seuil, 1978;  HALL, Stuart, “et al”, Da Ideologia. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1980; GIDDENS, Anthony, As Consequências da Modernidade. São Paulo: Editora Unesp, 1991; LAGAZZI-RODRIGUES, Suzy, A Discussão do Sujeito no Movimento do Discurso. Tese de Doutorado. Instituto de Estudos da Linguagem. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 1998; MIRANDA, Orlando, “Tönnies e Marx: Utopia, Valor e Contradição”. Disponível em: Revista da USP. São Paulo, vol. 36, 1998; MERLEAU-PONTY, Maurice, As Aventuras da Dialética. Rio de Janeiro: Editora Martins Fontes, 2006; FARFÁN, Rafael, Comunidad y Sociedad. Ferdinand Tönnies y los Comienzos de la Sociología en Alemania (1887-1920). México: Universidad Autónoma de México - UAM Azcapotzalco, 2007; BRACALEONE, Cássio, “Comunidade, Sociedade e Sociabilidade: Revisitando Ferdinand Tönnies”. In: Revista de Ciências Sociais, Volume 39, n° 1, 2008; MARX, Karl, Contribuição à Crítica da Economia Política. 4ª edição. São Paulo: Editora WMF/Martins Fontes, 2011; HOBBES, Thomas, Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil. 1ª edição. São Paulo: Editora Martin Claret, 2014; LÖWY, Michael, A Jaula de Aço: Max Weber e o Marxismo Weberiano. 1ª edição. São Paulo: Boitempo Editorial, 2014; PAVAM, Rosane Barguil, Retratos Épico Cômico - Se Sica, Totiò e a Commedia all`italiana. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História Social. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade São Paulo, 2016; GOES, Allisson, “O Indivíduo na Perspectiva de Alain Touraine e Anthony Giddens”. Revista Argumentos. Departamento de Política e Ciências Sociais. Montes Claros: Universidade Estadual de Montes Claros. In: Montes Claros, vol.14, n°2, pp.127-143, jul./dez-2017; 
entre outros.

sábado, 25 de novembro de 2017

Nietzsche & Köselitz - A Formação Real & Integridade da Amizade.

                                                                                                     Ubiracy de Souza Braga
                                  “Só o que se transforma continua meu amigo”. Friedrich Nietzsche

                       
            A expressão nietzschiana vontade de poder significa, consequentemente: vontade, tal como comumente se compreende. Mas mesmo nessa explicação reside ainda uma incompreensão possível. A expressão “vontade de poder” não diz, em sintonia com a opinião habitual, nas relações sociais em que desenvolve que a expressão é, em verdade, um tipo de desejo, que apenas possui, ao invés da felicidade e do prazer, “o poder como meta”. Sem dúvida alguma, Friedrich Nietzsche mesmo fala em muitas passagens dessa forma, a fim de se fazer provisoriamente compreensível. No entanto, na medida em que estabelece o poder como meta para a vontade, ao invés da felicidade, do prazer ou da supressão da vontade, ele não altera a meta da vontade, mas a determinação essencial da própria vontade como meio de luta extraordinária na sociedade. Tomado estritamente no sentido do conceito nietzschiano, o poder nunca pode ser pressuposto previamente como meta para a vontade, como se o poder fosse algo que pudesse ser estabelecido inicialmente como estando fora da vontade. É neste sentido que se pode afirmar, sem temor à erro, que a vontade é decisão por si mesma de um assenhoramento que se estende para além de si; porquanto a vontade é querer para além de si, a vontade é potencialidade que se potencializa para o poder.   
            Somente quando se tiver apreendido o conceito nietzschiano de vontade segundo esses aspectos gerais, será possível compreender aquelas caracterizações com as quais Nietzsche procura frequentemente indicar o que está presente na simples palavra vontade. Portanto, o termo “poder” nunca visa a um complemento da vontade, mas significa uma elucidação da essência da própria vontade. Ele denomina a vontade e com isso a vontade de poder – um “afeto”; ele diz até mesmo: - Minha teoria seria a seguinte: - a vontade de poder é a forma primitiva de afeto, todos os outros afetos não passam de configurações suas. Nietzsche também denomina a vontade uma “paixão” ou um “sentimento”. Se se compreendem tais descrições como geralmente acontece, ou seja, a partir do campo de visão de nossa psicologia habitual, então se cai facilmente na tentação de dizer que Nietzsche transpõe a essência da vontade para o interior do “elemento emocional”, arrancando-a das más interpretações que foram levadas ao idealismo, pois para ele, os afetos são formas de vontade; a vontade é afeto. Denomina-se tal procedimento uma definição circular, própria em seu encadeamento. Nietzsche diz com boa razão que a vontade de poder é a forma originária de afeto. Não diz com isto simplesmente que ela é um afeto, apesar de encontramos essas formulações em suas apresentações superficiais e defensivas. 
            O poder só se potencializa na medida em que se torna senhor sobre o nível de poder a cada vez alcançado. O poder, então, só é e só permanece sendo poder enquanto permanece elevação do poder e comanda para si o mais no poder. A essência do poder pertence à superpotencialização de si mesmo que emerge do próprio poder, na medida em que é comando e, enquanto comando, apodera-se de si mesmo para a superpotencialização do respectivo nível de poder que se potencializa. O poder está constantemente a caminho “de si” mesmo, não apenas de um próximo nível de poder, mas do apoderamento de sua própria essência. Por isso, ao contrário do que se pensa, a contra-essência em relação à vontade de poder não é a “posse” de poder alcançada em contraposição à mera “aspiração por poder”, mas a “impotência para o poder”. Nesse caso, vontade de poder não significa outra coisa senão a relação social estabelecida do ponto de vista “poder para o poder”, o que significa antes: apoderamento para a superpotencialização. Melhor dizendo, da subjetividade incondicionada da vontade de poder/eterno retorno e da composição técnica. Somente o poder para o poder assim compreendido toca a essência plena do poder. Nessa essência do saber e do poder, a essência da vontade enquanto permanece vinculada como comando.
                                                

            A paixão assim compreendida lança novamente uma luz sobre o que Nietzsche denomina vontade de poder. A vontade é de-cisão na qual o que quer se expõe de maneira mais ampla relativamente ao domínio do ente, a fim de mantê-lo na esfera de seu comportamento. Não o acontecimento e a excitação são agora característicos, mas expansão clarividente do campo de vinculação que é ao mesmo tempo uma reunião da essência que se encontra na paixão. O afeto representa o acontecimento que nos agita cegamente. A paixão representa a expansão clarividente e reunidora do campo de vinculação ao ente. Como a paixão restaura nosso ser, nos libera e nos deixa soltos para os seus fundamentos; como a paixão é, ao mesmo tempo, a expansão do campo de vinculação até a amplitude do ente, por isso pertence à paixão – e o que se tem em vista aqui é a compreensão explicativa da grande paixão que pode ser dispendiosa e engenhosa. Não lhe pertence apenas a “capacidade de potência”, mas socialmente mesmo a necessidade de retribuir, e, ao mesmo tempo, aquela despreocupação quanto ao que acontece com o dispêndio com o dispêndio, aquela superioridade que repousa em si mesmo e que caracteriza as grandes vontades. Paixão não tem nada a ver com um mero desejo, não é coisa apenas estimulada dos nervos, da exaltação ou do excesso. Se entendermos que é verdade em Nietzsche que a vontade de poder é o caráter fundamental de todo ente e se determina agora a vontade como um sentimento paralelo  e compatível ao de prazer, as duas concepções não são sem mais compatíveis.   
O mundo para Friedrich Nietzsche não é ordem e racionalidade, mas desordem e irracionalidade. Seu princípio filosófico não era, portanto, Deus e razão, mas a vida que atua sem objetivo definido, ao acaso, e, por isso, se está dissolvendo e transformando-se em um constante devir. A única e verdadeira realidade “sem máscaras”, para Nietzsche, é a vida humana tomada e corroborada pela vivência do instante. Nietzsche era um crítico: a) das “ideias modernas”, b) da vida social e da cultura moderna, c) do neonacionalismo alemão, e, para sermos breves, d) Para ele, os ideais modernos como democracia, socialismo, igualitarismo, emancipação feminina não eram senão expressões da decadência de determinado “tipo homem”. Por estas razões, é, por vezes, apontado como um precursor da concepção de pós-modernidade. A figura filosoficamente de Freidrich Nietzsche foi particularmente idealizada na Alemanha mediante um processo decadente, num processo político em que  opta, mas não decide, tendo sua irmã, simpatizante do regime, fomentado esta associação. Como se dizia ideologicamente, ele próprio um raro nietzschiano, “na Alemanha se era contra ou a favor de Nietzsche”. que em toda a vida, tentou explicar o insucesso de sua literatura, concluindo de que “nascera póstumo”, para os leitores do porvir. 

Em que medida a vontade de poder é a forma originária de afeto, ou seja, em que medida ela é aquilo que constitui absolutamente o ser do afeto? Nietzsche não dá quanto a isso, nenhuma resposta clara e exata, assim como não responde o que é uma paixão e o que é um sentimento. Nem a resposta dada por ele nos leva imediatamente adiante, mas nos coloca diante de uma tarefa: procurar vislumbrar pela primeira vez a partir do que é conhecido como afeto, paixão e sentimento, aquilo que caracteriza a essência da vontade de poder. Por meio daí resultam determinados caracteres que são apropriados para tornar mais clara e mais rica a delimitação do conceito essencial de vontade até aqui. Nós mesmos precisamos levar a cabo esse trabalho. No entanto, as perguntas (o que é afeto, paixão e sentimento?), permanecem sem solução. Com essas três noções, que podem ser indiscriminadamente substituídas umas pelas outras, circunscreve-se o assim chamado lado não racional da vida psíquica. Tal asserção pode ser suficiente para a representação habitual, mas não é certamente suficiente para um saber verdadeiro, nem tampouco para um saber que está empenhado em determinar o ser do ente. Nietzsche está visivelmente pensando nesse momento essencial do afeto aquando pretende buscar caracterizar a vontade a partir daí.
Agora a concepção de Friedrich Nietzsche contamina a reflexão crítica na filosofia e inevitavelmente na chamada indústria cultural inclusiva da Sétima Arte. O trágico  será afirmativo e não reativo. O reativo, dialético, é simplesmente conservação de força frente ao inesperado. Que precisa do controle e da submissão daquele que é atingido pelo inusitado. O trágico afirma-se na consciência plena do acaso como constituinte da própria realidade e o “cosmiza” ativamente e não reativamente. O trágico não só afirma a necessidade a partir do acaso, como afirma o próprio acaso. Não só afirma a ordem a partir da desordem, como afirma a própria desordem. Não só afirma o cosmos a partir do caos, como afirma o próprio caos. Reitera, sobretudo, o próprio devir. Essa é a grande inversão que potencializa a vontade de Nietzsche. Que tira do pensamento qualquer pressuposição de sentido e valor, para construí-los no “jogo de forças” visando expansão de potência. A tese de Nietzsche em relação ao pensamento ocidental pressupõe que o sentido e valor já uma é Der Wille zur Macht, se afirmando como força e moldando os agentes a reagirem contra aquilo que constitui a realidade: a falta de valor em si e de sentido próprio.            
Nos últimos anos de sua atividade intelectual criadora, Nietzsche gostava de caracterizar seu modo de pensar como “filosofar com o martelo”. Na sua própria opinião esse termo é plurívoco: o que menos lhe cabe é o significado de despedaçar  grosseiramente como um pedreiro com o martelo de demolir. Ele significa muito mais: arrancar o conteúdo e a essência, arrancar a figura da pedra; ele significa, antes de tudo: auscultar e ouvir todas as coisas como o martelo, para ver se elas dão ou não aquele conhecido som oco - perguntar se ainda há alguma gravidade e algum peso nas coisas ou se todos os fiéis da balança foram apagados das coisas. É para essa direção do entendimento que se encaminha a vontade nietzschiana de pensar: dar uma vez mais um peso às coisas. O que em Nietzsche é uma necessidade, é, por isso mesmo, um direito, nunca vale para os outros; pois Nietzsche é quem ele é, e ele é único. Entretanto, essa unicidade ganha em determinação e só se torna frutífera se for vista no interior do movimento fundamental constituído de pensar através da herança de matriz ocidental.
    Nietzsche:  new book to Heinrich Köselitz.
Peter Gast, pseudônimo de Johann Heinrich Köselitz (cf. Oliveira, 2011; Peterlevitz, 2015; Astor, 2017) foi um compositor alemão, mais conhecido por ter sido, durante muitos anos, amigo de Friedrich Nietzsche, que lhe deu o pseudônimo Peter Gast. É preciso desde já atentar para algumas problemáticas levantadas pela análise de Wagner e seu recurso à noção de “melodia absoluta”. Essa questão é tão velha quanto a invenção da monodia acompanhada da qual surgirá a ópera no início do século XVII, em torno das atividades teóricas e práticas da Carmerata Fiorentina. Houve um intenso embate entre os que visavam tomar como princípio a máxima “prima le parole, e poi la musica” e os que defendiam a proposição contrária. Ao curso de uma década de reflexões sobre a ópera, Nietzsche e Gast perceberam a transformação das querelas nacionais e estilísticas do século XVIII em oposições metafísicas como sintoma de uma superinvestida idealista, niilista e reativa do problema filosófico. Este século cantou derradeiramente, representando o século do entusiasmo, dos ideais e sentimentos partidos e da felicidade fugaz, até  o fim do século a música possuía uma função social mais prática que estética e artística.                              
Em Basileia, desenvolveu-se a amizade entre Köselitz e Nietzsche. Na literatura nas ciências sociais sobre o tema, a amizade é vista em geral como uma relação afetiva e voluntária, que envolve práticas de sociabilidade, trocas íntimas e ajuda mútua, e necessita de algum grau de equivalência ou igualdade entre amigos. Nessa discussão, a amizade é alocada estritamente no domínio privado historicamente da vida individual e coletivamente. Ipso facto alguns estudos mais recentes demonstram como os significados da amizade em contextos históricos distintos, mas em análise comparada, vão realçar esses termos, que, por sua vez, se demonstram entrelaçados, socialmente, com uma forma especificamente ocidental e moderna de pensar a pessoa e sua relação com os outros, problematizando, sobretudo sua localização na esfera privada. Subjacente a essa regra de interpretação estava a ideia de que a espontaneidade e a falta de autocontrole, poderiam ser vistas como uma imposição em termos de tempo e espaço pessoal. Em relações nas quais não havia confiança na aceitação desse tipo de comportamento social. Johann Köselitz colaborou na preparação de todos os trabalhos de Nietzsche depois de 1876, revendo os manuscritos para enviá-los à tipografia, e, por vezes, também interferindo na formatação do texto final. 
O rompimento de Friedrich Nietzsche com Richard Wagner e a sua procura por uma estética do sul, que o imunizasse contra o melancólico Norte alemão, fizeram-no superestimar Köselitz como músico: -“Eu não sei como poderia passar sem Rossini; muito menos, sem o meu próprio sul na música, a música do meu maestro veneziano 'Pietro Gasti'”. Como secretário, Köselitz foi de uma dedicação absoluta; a propósito de seu ensaio: “Humano, Demasiadamente Humano”, Nietzsche dizia que Peter Gast o escrevera e corrigira: “fundamentalmente, foi ele o verdadeiro escritor, enquanto eu fui apenas o autor”. Köselitz adorava seu professor, envolvendo-se com ele ao ponto da autonegação. Gast teria corrigido seus escritos, mesmo após o reconhecido “colapso do filósofo” vítima de um distúrbio, provavelmente causado pela sífilis, em seus últimos anos de vida e cuja evolução pode ser percebida em suas obras e sem a sua aprovação - o que é duramente criticado, com razão, pelos inúmeros estudiosos.
A evolução da doença se divide esquematicamente em três fases: na primeira a infecção fica restrita aos órgãos genitais; na segunda, alastra-se pelo organismo; na terceira causa paralisia progressiva, apresentando sinais de demência. Nietzsche adoeceu em 1873, mas só se afastou da atividade docente na Universidade da Basiléia em 1879 − quando sua voz era quase inaudível para os alunos. Os sintomas da demência só se tornaram perceptíveis dez anos depois, mas os primeiros sinais de deterioração intelectual já aparecem nos manuscritos de 1887. O que se observa, a partir de A Gênese da Moral, é a passagem do pensador que escreve com força e determinação, de forma densa e ao mesmo tempo sintética, para outro atípico parecendo incapaz de afrontamentos habituais, que se perde entre notas e apontamentos publicados postumamente e cuja organização lógica, com razão, ainda é alvo de críticas. Nessa mesma época, o filósofo alemão redige quatro panfletos pouco concisos, contraditórios e difusos, que parecem manuscritos sob alguma forma de pressão, e com a irradiação social de seus prediletos leitores já esperavam encontrar em volumes de filosofia. 

Na Primavera de 1881, durante uma visita a Recoaro, comuna italiana da região do Vêneto, província de Vicenza, Nietzsche criou o pseudônimo de Peter Gast para Köselitz, que “assim passou a assinar suas composições musicais”. Dentre essas, a mais ambiciosa foi a ópera cômica em três atos “O leão de Veneza” (“Der Lowe von Veneza”). Em 1880, Gast e Nietzsche tentaram por várias vezes encená-la, em vão. A estreia ocorreu apenas em fevereiro de 1891, em Gdansk, com a direção de Carl Fuchs, mas sob o título original “Die Ehe heimliche” (“O casamento secreto”). Tardiamente em 1930, foi reintroduzido o título sugerido por Nietzsche. Mas quando Nietzsche retorna a Gioachino  Rossini, dez anos mais tarde, para evocá-lo em “Opiniões e Sentenças dDversas”, ele ainda não conhece o compositor pessoalmente. É somente em 1881 que Nietzsche afirma ter assistido, sem dúvida pela primeira vez a ópera de Gioachino Rossini, intitulada: Semiramide. Trata-se de uma breve menção em um cartão postal endereçado a Peter Gast, pseudônimo inventado de Heinrich Köselitz, enviado de Gênova: - “Eu estive - e digo isso com muita seriedade, por culpa sua - no teatro, onde eu assisti a Semiramide de Rossini e “Giulietta e Romeo” de Bellini (esta quatro vezes)”.
É, portanto, por conta dos conselhos de Peter Gast que Nietzsche, que provavelmente não tomaria a iniciativa por si própria, vai escutar esses compositores. Nietzsche preferiu assistir a quatro representações sucessivas de Bellini, uma música mais elegíaca, marcada, portanto pelo sofrimento, se comparada aos fastos solenes de Semiramide, última obra de Rossini para a Itália, na qual brilhava o último fogo do gênero, agora apagado, da ópera considerada séria. Mas, é ainda por estímulo de Gast que Nietzsche, entre 1881 e 1888, aprenderá a conhecer a obra lírica de Gioachino Rossini. Não queremos perder de vista sua popularidade no início do século XIX, o compositor erudito italiano Gioachino Rossini escreveu 39 óperas, além de vários trabalhos para música sacra e música de câmara. O músico era célebre pela velocidade com que compunha suas obras. Em poucos dias, o artista criava composições que se tornaram clássicos da música erudita, como “O Barbeiro de Sevilha”, composta em apenas três semanas. Além desta ópera, “Sinfonia Fina” resgata a memória de produções importantes e reconhecidas da obra de Rossini como “Guilherme Tell” e “La Gazza Ladra”. As composições do músico erudito foram interpretadas pela Orquestra Sinfônica de São José dos Campos em grande estilo. Diferentemente da parcela significativa dos compositores românticos, Gioachino Rossini (1792-1868) obteve êxito financeiro e conseguiu ganhar dinheiro com suas composições de música erudita. 



O autor escrevia óperas profissionalmente de encomenda e trabalhou para companhias europeias em seu tempo. Nesse período, Gioachino Rossini chegou a compor até vinte obras líricas. Era comum atribuir à sua genialidade que havia uma “febre rossiniana” no continente.  É Nietzsche que, por uma troca de gentilezas, recomenda a Gast a leitura de Vida de Rossini, de Stendhal e envia-lhe um exemplar em 21 de março de 1881. Henri-Marie Beyle, mais reconhecido como Stendhal, foi um escritor francês.  Gast fica entusiasmado: - “Pela extrema alegria que Stendhal me proporcionou, eu devo dizer-te ainda uma palavra repleta de reconhecimento (...). Eu estou impressionado com a acuidade de seu olhar sobre o horizonte histórico no seu livro sobre Rossini” . Alguns dias mais tarde, ele decide até mesmo tomar, a partir de agora, Stendhal como guia, a fim de “dissipar as névoas propagadas há 50 anos por sobre a música”. Quando, confrontado com as dificuldades de concepção de seu Leão de Veneza, ele sonha, em dezembro de 1881, com uma criação futura no Fenice de Veneza, a ideia que o emociona é que tanto Tancredi quanto Sigismondo de Rossini tinham sido criados nesse teatro 70 anos antes. Até 1888, Gast é um dos raros interlocutores de Nietzsche acerca da ópera e o único com o qual Nietzsche, em suas cartas, trata sobre Rossini. Durante um século, e até a tomada de consciência da necessidade de uma arte nacional no final do século 
XVIII, a Alemanha assistiu a esse conflito franco-italiano como uma espectadora idealizadora ou como uma espécie de epígono no plano dessa disputa. O sucesso de Nietzsche, entretanto, sobreveio quando um professor dinamarquês leu a sua obra: “Così Parlò Zarathustra” (cf. Nietzsche, 1968) e, então, tratou de difundi- la, em 1888. Em 3 de janeiro de 1889, como vimos, Nietzsche sofreu um colapso mental. Teria testemunhado “o açoitamento de um cavalo no outro extremo da Piazza Carlo Alberto”. Então correu em direção ao cavalo, jogou os braços ao redor de seu pescoço para protegê-lo e em seguida, caiu no chão. Nos dias seguintes, Nietzsche enviou escrito breve conhecido como: “Wahnbriefe” em português: “Cartas da loucura” – para um número de amigos, entre eles, Cosima Wagner, filha do pianista húngaro Franz Liszt com a Condessa Marie d`Agout e Jacob Burckhardt, filósofo da história e da cultura suíça, autor de obras sobre a cultura e história da arte. Muitas destas cartas foram per se assinadas “Dionísio”. Embora a maioria dos analistas considere “seu colapso como alheios à sua filosofia”, Bataille (1967) chegou a insinuar que sua filosofia pudesse tê-lo enlouquecido e a psicanálise “post-mortem”, de René Girard, uma “rivalidade de adoração” com Wagner. 
As composições de Wagner, particularmente do fim do período, são notáveis por sua complexidade, harmonias ricas e orquestração, e o elaborado uso de Leitmotiv: temas musicais associados com caráter individual, lugares, ideias ou outros elementos. Inicialmente estabeleceu sua reputação como um compositor de trabalhos como Der fliegende Holländer e Tannhäuser, transformando assim as tradições românticas de Carl Maria von Weber (1786-1826) e Giacomo Meyerbeer (1791-1864) em um pensamento operístico de seu conceito de Gesamtkunstwerk. Isso permitiu atingir a síntese de todas as artes poéticas, visuais, musicais e dramáticas, sendo anunciada numa série de ensaios entre 1849 e 1852. Entretanto, seus pensamentos sobre a relativa importância social da música e o drama mudaram novamente e ele reintroduziu algumas formas tradicionais da ópera em seu último estágio estético e artístico, incluindo Die Meistersinger von Nürnberg. Wagner foi o pioneiro em avanços técnicos da linguagem musical e no desenvolvimento da música erudita europeia. Sua ópera Tristan und Isolde é inúmeras vezes descrita como marco de desenvolvimento da música moderna. A influência de Wagner vai além da música.
É também sentida na filosofia, literatura, artes visuais e teatro. Ele teve sua própria casa de ópera, o Bayreuth Festspielhaus. Foi nessa casa que Ring e Parsifal tiveram suas premières mundiais e onde suas obras mais importantes continuam a ser produzidas e irradiadas até hoje, em um festival anual dirigido por seus descendentes. Se quisesse, Richard Wagner em Desdren poderia levar uma vida tranquila e livre de preocupações financeiras, totalmente dedicadas à sua arte. E seria isso que teria acontecido se ele não tivesse se metido em política. Tudo começou quando Wagner tentou introduzir uma série de reformas na orquestra do teatro, cujo principal objetivo era “melhorar o desempenho dos músicos a um nível que lhe satisfizesse”. Os salários eram baixos, e os músicos forçados a trabalhar demais, com prejuízo à saúde e queda no nível de qualidade. Uma das primeiras coisas que Wagner notou no meio artístico e musical foi a discrepância enorme entre os salários irrisórios dos músicos da orquestra e as somas exorbitantes angariadas por certos cantores solistas com muito menos talento musical. Essa degradação do processo e método de trabalho social ele estava disposto a corrigir. Músicos velhos deveriam ser aposentados, e instrumentos velhos substituídos exatamente por  instrumentos novos. O sistema de promoção deveria ser baseado no talento musical, não no tempo de serviço. Ao insistir nas reformas Wagner passou a ser mal visto pelos seus superiores.
Em fevereiro de 1848, no mesmo mês em que Marx & Engels publicaram o Manifesto do Partido Comunista, inscrevendo no plano teórico, histórico e ideológico a importância dos comunistas organizados num partido único, repercutiu na França a revolução que depôs Luís Filipe, o rei burguês. Ele foi declarado rei em 1830 depois de Carlos X ter sido forçado a abdicar. Seu reino, reconhecido como a Monarquia de Julho, foi dominada por ricos burgueses e vários ex-oficiais napoleônicos. Ele seguiu políticas conservadoras a partir de 1840, especialmente sob a influência de François Guizot, promoveu uma amizade com o Reino Unido e apoiou uma expansão colonial, notavelmente a conquista da Argélia. Sua popularidade diminuiu sendo forçado a abdicar em fevereiro de 1848, vivendo o resto da vida em exílio no Reino Unido. Levou vida precária no estrangeiro e, para manter-se, trabalhou como professor num colégio de Reichenau. Quando o pai foi executado (1793), herdou o título de duque de Orléans o que fortaleceu suas aspirações conservantistas dinásticas. Viveu dois anos nos Estados Unidos e no Reino Unido (Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte). 
Durante o período napoleônico (1804-14), conseguiu reconciliar os Orléans com o rei francês exilado Luís XVIII. Em 1809 foi para a Sicília e casou-se com Maria Amélia de Bourbon, princesa das Duas Sicílias, filha do rei Fernando I das Duas Sicílias. Aos gritos de Liberté, l'Égalité ou la Mort, sublevações vingaram pela Europa contra as monarquias absolutas. Na Itália e na Alemanha os revolucionários tinham por objetivo a unificação destes países. Wagner também ficou entusiasmado pelos ideais revolucionários. De repente, a música passou para segundo plano nas suas preocupações imediatas e a política para o primeiro. No mesmo ano, o militante anarquista russo Mikhail Bakunin se refugiou em Dresden, e com Richard Wagner se uniram em amizade. Somente numa sociedade alemã radicalmente transformada Wagner podia ver a possibilidade de realização de sei idealismo radical que, nessa época eram fortemente anarquistas, posto que ele odiasse a pomposidade e a perversidade da corte de Dresden. Ele sonhava com a criação de uma nova sociedade alemã, na qual o Volk encontraria expressão numa nova cultura alemã universal. Movido por esses ideais, Wagner entrou para o Vaterlandsverein, partido político fundado em março de 1848 para lutar pela  democracia. Wagner, Bakunin e outros revolucionários debatiam a revolução, republicanismo, socialismo, comunismo e anarquismo (cf. Woodcock, 1962).
A 8 de maio de 1849 Wagner publicou um artigo anônimo no Volksblätter, intitulado “A Revolução”. Era um novo texto de expressão política, “glorificando a deusa Revolução”. Sua mãe faleceu em 9 de janeiro de 1848. Em junho, Wagner juntou-se à Guarda Comunal Revolucionária e publicou dois poemas revolucionários e um artigo. Para William Ashton Ellis, a forte impressão causada em Wagner teve um contributo em Leipzig: ele pôde acompanhar de perto a revolta da população contra a justiça e a polícia criminais da cidade, com a incidência de tumultos em que houve a destruição da iluminação pública, agressões a policiais e a quebra das janelas de casas de magistrados. O primeiro poema, Gruss aus Sachsen an die Wiener (“Saudações Saxãs aos Vienenses”) parabenizava os austríacos terem forçado o imperador a fugir e incitava os saxões ao exemplo. O segundo, Die alte Kampf ist's gegen Osten (“A Velha Luta é contra o Leste”) conclamava uma cruzada contra a Rússia reacionária. No artigo: “Que relação existe entre a empreitada republicana e a monarquia?”, Wagner descreve a utopia que surgiria após a queda da monarquia, com sufrágio universal, um exército do povo, congresso unicameral e economia burguesa.
Nietzsche e Richard Wagner.
Apesar de anônimo, ninguém parecia ter dúvidas a respeito da autoria. A 1° de abril Wagner regeu uma apresentação pública da Nona Sinfonia de Beethoven (Sinfonia n° 9 em ré menor, op. 125, Coral), predecessora da música romântica, e reconhecidamente uma das grandes obras-primas de Ludwig van Beethoven (1770-1827). No final da apresentação o revolucionário anarquista russo Mikhail Bakunin (cf. Woodcock, 1962) se levantou do meio da plateia, e de forma inusitada apertou a mão de Wagner e disse bem alto para que todos ouvissem que, se toda música que já foi escrita fosse se perder na conflagração mundial que estava para acontecer, “esta sinfonia pelo menos teria que ser salva”. A 3 de maio de 1849 o rei da Saxônia recusou as exigências dos democratas e ordenou à Guarda Comunal se dissolvesse. Na reunião exaltada daquela tarde, os membros do Vaterladsverein decidiram oferecer resistência armada às autoridades, que contou com a participação de Wagner.
Ele correu à casa do tenor Tichatschek e persuadiu a aturdida esposa do tenor a entregar as armas que seu marido guardava em casa; a seguir foi inspecionar as barricadas. Tropas prussianas estavam a caminho da cidade, a fim de esmagar a revolução. Wagner tomou posse das impressoras do Volksblätter e mandou imprimir panfletos revolucionários ao mesmo tempo em que mandava seu amigo Semper inspecionar as barricadas e comprar granadas. Wagner passou a sexta-feira 4 de maio junto com Mikhail Bakunin. No dia seguinte as primeiras tropas prussianas entraram em Dresden, havia lutas em torno de toda a cidade. Ele subiu à torre da Kreuzkirche, utilizada pelos rebeldes como um belvedere e um excelente ponto de observação. De lá, ele lançou mensagens atadas a pedras a Heubner e Bakunin sobre os movimentos de guerra das tropas inimigas. Wagner passou a noite na torre, em bombardeio contínuo e intenso das tropas prussianas. No dia seguinte ele escapou, foi até sua casa e fugiu com Minna para a cidade de Chemnitz, antes uma cidade conhecida como Karl-Marx-Stadt, para deixá-la em lugar provavelmente mais seguro fora do front da rebelião. Mas para horror dela, ele resolveu voltar para o centro popular da revolta. Seu envolvimento com as forças políticas rebeldes lhe custou 11 anos de exílio, pois ele voltou à Alemanha apenas em 1864.
            Em carta a Carl August Röckel, provavelmente entre maio de 1851 e setembro de 1852, o compositor narra que após maio de 1849 (cf. Janz, 1978) teve uma breve estadia em Paris, seguindo para Zurique, utilizando, para tanto, um passaporte falso providenciado por Franz Liszt. Durante o tempo que passou distante da Alemanha, houve um pedido de anistia dirigido ao rei da Saxônia, em 1856, mas a autorização para retornar ao solo alemão somente seria dada a Wagner se ele admitisse ter praticado atos criminosos contra a nação – uma condição que o compositor não aceitou, sob a justificativa de que ele não acreditava ter praticado nenhum crime. Em Dresden havia lutas casa a casa, e na prefeitura ocupada pelos revolucionários, os homens estavam desanimados e exaustos após seis noites sem dormir na arena dentre violentos embates. Richard Wagner foi despachado para Freiberg para chamar reforços. Antes que Wagner pudesse retornar a Dresden com reforços de tropas para combater, a revolução social em curso já havia sido esmagada. Wagner juntou-se a Heubner e Bakunin a caminho de Freiberg e sugeriu que eles montassem um governo provisório em Chemnitz. Naquela noite, Wagner e Bakunin dormiram no mesmo sofá. Quando Wagner acordou, Bakunin e Heubner tinham fugido. Wagner correu para onde se encontrava Minna, e os dois rapidamente, sem temor a erro, para evitar a onda de terror abandonaram o país.
Bibliografia geral consultada.
WOODCOCK, George, Anarchism. A History of Libertarian Ideas and Movements. Londres: World Publishing, 1962; BATAILLE, Georges, Sur Nietzsche: Volonté de Chance. Paris: Éditions Gallimard, 1967; JANZ, Curt Paul, Friedrich Nietzsche: Infancia y Juventud. Vol. 1. Trad. Jacobo Muñoz. Madrid: Alianza Editorial, 1978; ROGNONI, Luigi, Gioacchino Rossini. Torino: Einaudi Editore, 1981; CHESNAUX, Jean, La Modernité-Monde. Paris: La Découvert, 1989; VELOSO, Caetano, “Peter Gast”. In: Álbum Uns (1983); MARTON, Scarlett, Nietzsche - Uma Filosofia a Marteladas. São Paulo: Editora Brasiliense, 1992; COLLI, Giorgio, Scritti su Nietzsche. 4ª edizione. Milano: Adelphi Editore, 1995; SAFRANSKI, Rüdiger, Nietzsche, Biografia de su Pensamiento. Madrid: Tusquets Editores, 2002; REZENDE, Claudia Barcellos, “Mágoas de Amizade: Um Ensaio em Antropologia das Emoções”. In: Mana. Volume 8 n°2. Rio de Janeiro, outubro de 2002; MARTON, Scarlett, Nietzsche. A Transvaloração dos Valores. Rio de Janeiro: Editora Moderna, 2006; RUBIRA, Luís Eduardo Xavier, Do Eterno Retorno do Mesmo à Transvaloração de Todos os Valores. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Filosofia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2008; OLIVEIRA, Jelson Roberto de, Para uma Ética da Amizade em Friedrich Nietzsche. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2008; NIETZSCHE, Friedrich, Così Parlò Zarathustra. A cura di Giorgio Colli e Mazzino Montinari. Milano: Adelphi Editore, 1968; Idem, A Vontade de Poder. Rio de Janeiro: Editor Contraponto, 2008; PETERLEVITZ, Mayra Rafaela Closs Bragotto Barros, Nietzsche e Wagner: Estações de um Encontro. Dissertação de Mestrado em Filosofia. Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Guarulhos: Universidade Federal de São Paulo, 2015; ASTOR, Dorian, “Rossini, Músico do Futuro. Nietzsche e Peter Gast na Descoberta da Grande Saúde Rossiniana”. In: Cad. Nietzsche vol.38 n°1. São Paulo, jan./abr. 2017; entre outros.

sábado, 18 de novembro de 2017

A Teoria da Conspiração de 17 de Abril de 2016 no Brasil.

                                                                                                     Ubiracy de Souza Braga

                     “O segredo da criatividade é saber esconder suas fontes”. Albert Einstein

                         
          Albert Einstein nasceu em Ulm, na Alemanha, no dia 14 de março de 1879. É considerado o físico mais influente do século XX. Filho de um pequeno industrial judeu, em 1880 mudou-se com a família para a cidade de Munique. Seus pais Hermann Einstein e Pauline Koch eram judeus. O caráter e a biblioteca do pai foram importantes na formação de Albert Einstein. Nos primeiros anos de vida, Einstein teve dificuldades para se expressar através da fala e era lento para aprender, fato que, durante algum tempo, deixou seus pais preocupados. Nos primeiros anos escolares, Einstein não se destacava nem pelas notas nem pela regularidade com que ia à escola. Com seis anos de idade, incentivado pela mãe, começou a estudar violino. Cedo se destacou no estudo da física, matemática e filosofia. Aos nove anos ingressa no Luitpold Gymnasium, escola secundária em Munique (ALE). Foi fundada pelo príncipe Luitpold da Baviera em 1891 como Luitpold-Kreisrealschule para servir a parte oriental da cidade e seus subúrbios. Ficava na Alexandrastrasse em frente ao Museu Nacional, onde se interessa por geometria e álgebra, matérias nas quais progride. Aos doze anos é um considerado um gênio das matemáticas, mas lê avidamente Leibniz, figura central na história da matemática e na história da filosofia, Kant que operou, na epistemologia uma síntese entre o racionalismo continental, onde impera a forma de raciocínio dedutivo, e a tradição empírica inglesa de David Hume, John Locke, ou George Berkeley, que valoriza a indução e Hume que se opôs à René Descartes e às filosofias que consideravam o espírito desde um ponto de vista teológico-metafísico.

Foi paradoxal para seus mestres, que nem sempre sabiam responder as suas perguntas nem refutar seus questionamentos tanto políticos quanto existenciais. A física, com as ciências da natureza, faz parte de um complexo de instituições de importância na sociedade contemporânea, não só em função do vulto dos investimentos, como também do contingente humano, do número e da diversidade de organizações comprometidas com sua expansão. Os físicos constituem hoje um grupo de profissionais socialmente prestigiados, formados em organizações próprias. Dispõem de enormes facilidades de trabalho, como laboratórios, bibliotecas, serviços de intercâmbio e divulgação de informações etc., os quais, em muitos aspectos sociais, têm superado as vantagens conquistadas por grupos profissionais mais tradicionais na cultura ocidental, como advogados e médicos. Como possuía caráter individualista e alheio à disciplina prussiana, acaba sendo expulso do Gymnasium. Aos 16 anos abandona a religião judaica que está na obediência espiritual aos mandamentos divinos estabelecidos nos livros sagrados, uma vez que para eles, isso é fazer a vontade de Deus e demonstrar respeito e amor pelo criador. O judaísmo é a religião monoteísta que possui o menor número de adeptos no mundo, tornando-se livre de qualquer tipo de imposição em sua formação. Ainda que fosse de família judia, Albert Einstein (1879-1955) tinha um pensamento sobre religião que foi moldado durante sua estada em Zurique, na Suíça, quando os livros do filósofo Baruch Spinoza, caíram em suas mãos. O Deus de Spinoza era amorfo e impessoal, responsável pela ordem no universo e pela beleza da natureza.

Os indivíduos formulam teorias “conspiratórias” para explicar, por exemplo, as relações de poder em grupos sociais e a existência imaginada no âmbito da política. Teorias da conspiração têm origens principalmente psicológicas ou sócio-políticas. As origens psicológicas propostas incluem projeção; a necessidade pessoal de tentar explicar um evento significante com uma causa significante; e o resultado de vários tipos e estágios de transtornos de pensamento como disposição paranoica, por exemplo, que vão desde as doenças mentais graves até as diagnosticáveis. Alguns preferem explicações sócio-políticas para não se sentirem inseguras ao se depararem com situações aleatórias, imprevisíveis ou, quase inexplicáveis. As teorias da conspiração são racionais e concretamente se referem a um conjunto de práticas e saberes sociais. Michael Butter afirma que a disseminação de tais teorias contribuem, no campo político, para a ascensão de partidos populistas de direita.

            O cientista político Michael Barkun, ao discutir o uso de “teoria da conspiração” na cultura norte-americana contemporânea, sustenta que este termo é usado para uma crença que explica um evento como sendo o resultado de um plano secreto de conspiradores excepcionalmente poderosos e astutos que visam atingir um fim malévolo. No decorrer da história humana, líderes políticos e econômicos têm sido verdadeiramente a causa de enormes quantidades de morte e miséria e, algumas vezes, se envolviam em conspirações, ao mesmo tempo em que promoviam teorias conspiratórias sobre seus alvos. Alguns argumentam que as teorias da conspiração, que eram limitadas a públicos marginais, se tornaram comuns nos meios de comunicação de massa, contribuindo para que o conspiracionismo emergisse como um fenômeno cultural nos Estados Unidos da América, entre o final do século XX e início do XXI. Segundo os antropólogos Todd Sanders e Harry G. West, evidências sugerem que um amplo setor norte-americano dá credibilidade a algumas teorias conspiratórias. A crença nessas teorias tornou-se um tema de interesse para sociólogos e especialistas em política.


                 Deputado Sergio Petecão, denunciado por compra de votos, fala em possível conspiração contra Temer. Malandro é malandro, mané é mané.
            Um estudo publicado em 2012 também constatou que teóricos de conspiração acreditam frequentemente em múltiplas conspirações, mesmo quando uma contradiz a outra. Por exemplo, pessoas que acreditam que Osama Bin Laden foi capturado vivo pelos norte-americanos também estão propensas a acreditar que, na realidade, Bin Laden havia sido morto antes da invasão de 2011 a sua casa em Abbottabad, Paquistão. Em um artigo de 2013 publicado na revista Scientific American Mind, o psicólogo Sander van der Linden argumenta que existem evidências científicas convergentes de que (1) as pessoas que acreditam numa conspiração são susceptíveis a aderirem a outras; (2) em alguns casos, a ideação conspiratória tem sido associada com a paranoia e esquizotipia; (3) as concepções de mundo conspiracionistas tendem a provocar a desconfiança de princípios científicos bem estabelecidos, como a associação entre tabagismo e câncer ou entre o aquecimento global e as emissões de CO²; e (4) a ideação conspiratória geralmente leva as pessoas a verem padrões onde aparentemente não existem. Van der Linden também cunhou o termo “o efeito conspiratório”. Alguns historiadores defendem que existe um elemento de projeção psicológica no conspiracionismo. Esta projeção histórico-social, e, portanto, individual (o sonho) e coletiva (os mitos, os ritos, os símbolos) se manifesta sob a forma de atribuição de características indesejáveis aos conspiradores.
            A maçonaria teve influência decisiva em grandes acontecimentos mundiais, tais como a Revolução Francesa e a Independência dos Estados Unidos da América. Tem sido relevante, desde a Revolução Francesa em diante, a participação da Maçonaria em levantes, sedições, revoluções e guerras separatistas em muitos países da Europa e da América. No Brasil, deixou suas marcas, especialmente na Independência do jugo da metrópole portuguesa e, entre outras, a Inconfidência Mineira e na denominada “Revolução Farroupilha”, tendo legado os símbolos maçônicos na bandeira do Rio Grande do Sul, importante estado da Federação brasileira. Vários outros Estados da Federação possuem símbolos maçônicos nas suas bandeiras, como Minas Gerais, por exemplo. O principal idealizador da bandeira pós-república foi Teixeira Mendes, presidente do Apostolado Positivista do Brasil, com colaboração de Miguel Lemos e Manuel Pereira Reis, este, catedrático de astronomia da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. As justificativas da Bandeira Nacional foram feitas por Teixeira Mendes, no Diário Oficial do dia 24 de novembro. O dístico “Ordem & Progresso” foi tido  como influência do positivismo e durante algum tempo, julgou-se que o positivismo estivesse ligado à influência da Proclamação da República. Hoje sabemos que o mote em questão sempre envolveu a Maçonaria e que o primeiro ministério formado era, quase em sua totalidade, constituído de Maçons.
A divulgação dos direitos do homem e da ideia de um governo republicano inspirou a Maçonaria no Brasil, em particular depois da Revolução Francesa, quando os cidadãos derrubam a monarquia absolutista secular. As ideias que fermentaram o movimento político do século XVIII havia levedado o espírito dos colonos norte-americanos, que emigraram para a América em busca terra, trabalho e de liberdade religiosa e política. A maçonaria é caracteristicamente universalista por ser uma sociedade conservadora que aceita a afiliação de todos os cidadãos que se enquadrarem na qualificação “livres e de bons costumes”, qualquer que seja a sua raça, a sua nacionalidade, o seu credo, a sua tendência política ou filosófica excetuada os adeptos do comunismo teorético porque erroneamente acreditam que “seus princípios filosóficos fundamentais negam ao homem o direito à liberdade individual da autodeterminação”. O Congresso Nacional possui 51 Deputados Federais e 7 Senadores pertencentes à Maçonaria, forma reduzida e usual de “franco-maçonaria” (cf. Naudon, 1987; 1991), é uma sociedade filosófica, filantrópica, iniciática e só aparentemente progressista.
Policiais retiram placa com frases alusivas à corrupção colocada por manifestantes em frente ao Congresso Nacional.
Dentro da realidade política contemporânea, entretanto, a instituição não poderá ser considerada senão como sendo uma sociedade discreta. De pretenso caráter universal cujos membros cultivam o aclassismo, humanidade, os princípios da liberdade, democracia, igualdade, fraternidade e aperfeiçoamento intelectual. Seu adjetivo é maçônico e maçônica. A maçonaria é, portanto, uma sociedade fraternal, que admite os chamados “homens livres e de bons costumes, sem distinção de raça, religião, ideário político ou posição social”. Suas exigências morais são que o candidato acredite em um princípio criador, tenha boa índole, respeite a família, possua um espírito filantrópico e o firme propósito de tratar sempre de ir em busca da perfeição, aniquilando seus vícios e trabalhando para a constante evolução de suas virtudes. Muitos princípios éticos maçônicos foram inspirados pelo Antigo Testamento. Os ritos e símbolos da maçonaria e outras sociedades secretas recordam: A reconstrução do Templo de Salomão, a estrela de David, o selo de Salomão, os nomes dos diferentes graus, como por exemplo o que se refere ao cavalheiro Kadosh, que em hebraico significa santo, Príncipe de Jerusalém, Príncipe do Líbano, Cavalheiro da Serpente de Airain, e assim por diante.
            A Luz é um dos mais densos símbolos na maçonaria (cf. Brown, 2010), pois representa o espírito divino, a liberdade religiosa, designando, para os maçons de formação francesa, a ilustração, o esclarecimento, o que esclarece o espírito, a claridade intelectual. Outro símbolo compartilhado é o Templo de Salomão. Figura como uma parte central na religião judaica, por ser o rei Salomão uma das maiores figuras de Israel, como o Templo representar o zênite da religião judaica. Na maçonaria, juntou-se a figura de Salomão, à da construção do Templo, pois os maçons são reconhecidos, antes de tudo, como construtores, pedreiros, geômetras e arquitetos. Os rituais maçônicos estão prenhes de lendas/mitos sobre a construção do Templo, no sentido bíblico e histórico. Tem seu método educacional num todo estruturado, baseado em simbologia e em seus principais rituais. Nascida da maçonaria operativa e dos pedreiros livres, toda sua estrutura simbólica é baseada nos utensílios dos pedreiros, construtores e arquitetos medievais. A maioria dos símbolos e ritos usados socialmente na maçonaria são utensílios de pedreiros ou símbolos de outra categoria, incorporados à ordem.
            Em seu livro A Sociedade Aberta e Seus Inimigos, Karl Popper utiliza o termo “teoria da conspiração” para criticar ideologias que conduzem ao historicismo. O positivismo transforma-se, desde logo, em uma regra de moral individual, administrativa e política. É que procuramos suprir, muito às pressas, as nossas deficiências com as ideias que nos chegam. O certo é que, cansados do ensino verbalístico e estéril da escolástica envelhecida e pobre que se impusera até então ao país, os espíritos cultos e as instituições sociais de pesquisa em geral governamentais abraçam com entusiasmo o positivismo. Popper argumenta que o totalitarismo foi fundado em cima de teorias conspiratórias que “recorriam a complôs imaginários conduzidos por cenários paranoicos baseados no tribalismo, chauvinismo ou racismo”. Portanto, Popper não argumenta contra a existência de conspirações cotidianas, como se sugeria incorretamente em muita da literatura posterior. Em sua crítica aos totalitários do século XX, escreve: - “Não quero dar a entender que as conspirações nunca ocorrem (...), são fenômenos sociais típicos”, pois, “conspirações ocorrem, é preciso admitir. Mas, apesar de suas ocorrências, o fato marcante que refutou a teoria da conspiração é que foram poucas as conspirações que tiveram êxito. Os conspiradores raramente consomem sua conspiração”.  
            Analistas dos meios sociais de comunicação de massa notam regularmente uma tendência nas mídias de notícias e de cultura popular para compreender acontecimentos através do prisma de agentes individuais, em oposição a notícias estruturais ou institucionais mais complexas. Caso se trate de uma observação conjuntural, pode-se esperar que a audiência que demanda o consumo seja mais receptiva a informações personalizadas e dramáticas de fenômenos sociais. Um segundo tropo da mídia, talvez relacionado, é o esforço em atribuir responsabilidades individuais a acontecimentos negativos. Os meios de comunicação de massa têm a tendência de iniciar a busca por culpados, caso ocorra um acontecimento social, mas afetivo que seja de tamanha importância, e acabam não tirando o assunto da agenda de notícias por vários dias, semanas, meses. Seguindo a mesma direção, tem-se dito que o conceito de “puro acidente” já não é mais permitido em um artigo de notícias. O primeiro presidente eleito após o longo período de ditadura civil-militar foi morto em uma teoria da conspiração? O mineiro Tancredo Neves foi o primeiro presidente civil eleito após a ditadura militar, que durou 21 anos no país (1964-1985). Em 15 de janeiro de 1985, em eleição indireta no Colégio Eleitoral, composto de senadores, deputados federais e representantes das Assembleias Legislativas estaduais,Tancredo Neves derrotou o candidato apoiado pelos militares, Paulo Maluf.
             Em 14 de março, véspera da posse, Tancredo teve fortes dores abdominais, foi internado às pressas e fez uma operação de emergência. No dia seguinte, quem tomou posse em seu lugar foi o vice-presidente, José Sarney, ex-presidente do PDS, partido que apoiava a ditadura militar. Após uma agonia de 38 dias e sete cirurgias, Tancredo Neves oi declarado morto coincidentemente em 21 de abril. Para o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o atual presidente Michel Temer estiveram no centro de uma grande conspiração que culminou com a deposição de Dilma Rousseff, através de um processo fraudulento, que precisa ser revisto pelo Supremo Tribunal Federal (STF). – “Não podemos aceitar que pessoas que chegaram ao poder pelas mãos de Eduardo Cunha queiram mexer na Constituição, que sintetizou uma série de direitos conquistados pelo povo”. Para o deputado, é hora de Eduardo Cunha elucidar como funcionava o sistema de corrupção por ele articulado, e que essas revelações podem atingir Temer, a quem classifica como “usurpador”. – “Fizeram toda uma campanha como se estivessem lutando pela honestidade e pela probidade. Na verdade, ele (Cunha) era um dos mentores e articuladores desse processo de corrupção”, ressalta Teixeira, que cobra a realização de Diretas Já, para restabelecer a legitimidade do governo, além de uma Constituinte exclusiva que trate da reforma política. Sobre o deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), o “Paulinho da Força”, um dos dez parlamentares que votaram pela absolvição de Eduardo Cunha, Paulo Teixeira afirmou que ele demonstra, mais uma vez, de que lado está: - “Sempre esteve na contramão da boa política”.
            Independente dos interesses e das motivações maçônicas, quase sempre apresentadas pelos maçons de forma romântica e, em alguns pontos, quase fictícia, seria hipocrisia negar a atuação da maçonaria em nossa sociedade, seja no âmbito filantrópico, nos meandros sociais, ou na atmosfera política entre os poderes regentes de nosso país. A República foi proclamada em 15 de novembro de 1889 e inaugurou a forma republicana federativa presidencialista de governo em nosso país, derrubando a monarquia constitucional parlamentarista vigente e pondo fim à soberania do imperador d. Pedro II. Esse episódio ocorreu no 2° reinado, que à época, era o Rio de Janeiro. Conforme a narrativa de Visconde de Ouro Preto, a proclamação foi oficializada após “um grupo de militares do Exército brasileiro, liderados pelo marechal Deodoro da Fonseca, dar um golpe de Estado, fazendo uso de coação (...). Foi instituído, naquele mesmo dia 15, um governo provisório republicano. Faziam parte desse governo, organizado na noite de 15 de novembro de 1889, o marechal Deodoro da Fonseca, como Presidente da República e chefe do governo provisório, o marechal Floriano Peixoto, como vice-presidente, e, como ministros, Benjamin Constant Botelho de Magalhães, Quintino Bocaiúva, Rui Barbosa, Campos Sales, Aristides Lobo, Demétrio Ribeiro e o almirante Eduardo Wandenkolk, todos membros regulares da maçonaria brasileira”.                   
            Em abril de 2007, Dilma Rousseff já era apontada como possível candidata à presidência da República na eleição de 2010.  Naquele mesmo ano, o presidente Lula passou a dar destaque a então ministra com o objetivo de testar seu potencial como candidata. Em abril de 2009, Lula afirmou que “Todo mundo sabe que tenho intenção de fazer com que Dilma seja candidata do PT e dos partidos, mas se ela vai ganhar vai depender de cada brasileiro”. Os candidatos dos dois maiores grupos políticos foram a ex-ministra-chefe da Casa Civil do governo Lula Dilma Rousseff, da coligação Para o Brasil seguir mudando, tendo o deputado Michel Temer como candidato a vice-presidente, e o ex-governador de São Paulo, José Serra, da coligação O Brasil pode mais, tendo o deputado Índio da Costa como candidato a vice. Para cumprir com a lei eleitoral de desincompatibilização, Dilma deixou o Ministério da Casa-Civil em 31 de março de 2010, sendo sucedida por Erenice Guerra.
           A Convenção Nacional do Partido dos Trabalhadores - PT, realizada em Brasília no dia 13 de junho de 2010, oficializou Dilma como a candidata do partido à presidência, bem como oficializou o então presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer como seu vice. A coligação de Dilma e Michel Temer recebeu o nome de Para o Brasil seguir Mudando e foi composta por dez partidos políticos. Em seu discurso de aceitação como candidata, declarou: - “Não é por acaso que depois desse grande homem o Brasil possa ser governado por uma mulher, uma mulher que vai continuar o Brasil de Lula, mas que fará o Brasil de Lula com alma e coração de mulher”. O mote da campanha petista foi a continuidade do governo Lula. Até então desconhecida por grande parte do eleitorado, Dilma Rousseff passou a liderar a corrida pela sucessão presidencial. Como é natural, ela foi beneficiada pela aprovação recorde do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que atingiu patamares superiores aos 80%. O presidente engajou-se pessoalmente na campanha, participando de vários comícios, gravando para a propaganda eleitoral e declarando apoio à candidata repetidas vezes. O ultraconservador Tribunal Superior Eleitoral (TSE) interpretou algumas dessas declarações como propaganda eleitoral antecipada, multando-os diversas vezes.
No 2° turno, Marina Silva errou em sua estratégia quando optou “por não declarar apoio a nenhum dos dois candidatos”. Dilma manteve a vantagem sobre Serra nas pesquisas de opinião. Em 31 de outubro, ela obteve 55 752 529 votos (56,05%), elegendo-se a 1ª mulher presidente do Brasil. Em seu discurso de vitória, destacou o papel das mulheres e agradeceu o apoio do presidente Lula. Sua vitória teve grande repercussão na imprensa internacional, que destacou “o ineditismo por ser a primeira presidente e o peso de seu padrinho político”. Dilma foi empossada como a 36ª presidente do Brasil em 1º de janeiro de 2011. Em seu discurso de posse, prometeu  erradicar a pobreza e mudar o sistema tributário. Antes mesmo de assumir o cargo, afirmou preferir ser tratada como presidenta, mas desde sua eleição não houve posicionamento oficial a respeito do tema, o que gerou certa confusão. Os meios de comunicação não respeitaram a solicitação da presidenta da República. Sem estabelecer qualquer padronização, têm utilizado tanto “a presidente”, quanto “a presidenta”.
           
Em 14 de janeiro de 2011, Dilma Rousseff visitou as áreas atingidas pelas enchentes e deslizamentos de terra no Rio de Janeiro. Seu governo liberou R$ 100 milhões para ações de socorro e assistência social. No início de fevereiro, fez a primeira viagem internacional, escolhendo a Argentina como destino político. No mesmo mês, anunciou um corte de R$ 50 bilhões nas despesas previstas pelo Orçamento Geral da União para 2011. Fez seu primeiro pronunciamento transmitido em rede nacional de rádio e televisão. Em março, recebeu a visita do presidente norte-americano Barack Obama, assinando acordos de cooperação. Em abril, decretou luto oficial de três dias pelo Massacre de Realengo (RJ) e declarou que o país estava unido em repúdio à violência. Em seu discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas em 21 de setembro, defendeu o Estado Palestino ao dizer que “chegou o momento” daquele país se tornar um membro pleno da ONU. Também exaltou o papel das mulheres na política, declarando: - “Pela primeira vez na história das Nações Unidas, uma voz feminina inaugura o debate geral: é a voz da democracia”. Em novembro, sancionou a lei que instituiu a chamada “Comissão Nacional da Verdade” e a Lei de acesso à informação, regulamentando o direito do acesso às informações públicas. Em seu 1° ano de mandato, sete ministros foram substituídos. Irritado, Nelson Jobim, ministro da Defesa, pediu demissão, após classificar o governo como “atrapalhado”. Em fevereiro de 2012, o governo federal leiloou os aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília. As concessionárias vencedoras irão administrar os aeroportos durante o prazo de concessão, que varia de vinte a até trinta anos.
O governo arrecadou R$ 24 bilhões com os leilões. Também foram concessionados para a iniciativa privada trechos de rodovias e ferrovias federais. Dilma discursa durante abertura do Rio+20, 20 de junho de 2012. Em maio de 2012, anunciou, em rede nacional de televisão, a criação do programa “Brasil Carinhoso”, com o objetivo de “tirar da miséria absoluta todas as famílias com integrantes de até quinze anos”. No mês seguinte, sancionou a Lei nº 12 677, criando mais de 70 mil cargos a serem preenchidos até 2014 na área educacional e, em agosto sancionou a lei que destina metade das vagas em universidades federais para estudantes de escolas públicas. Dilma manteve um alto índice de aprovação nos dois primeiros anos de seu mandato. A aprovação do governo nunca foi inferior a 48% de “ótimo” ou “bom” e sua avaliação pessoal atingiu a casa dos 70% diversas vezes. Estes índices deram-lhe melhor aprovação do que comparativamente ao mesmo período dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Em seu primeiro pronunciamento rede nacional em 2013, anunciou uma redução na conta de luz e declarou que “ao mesmo tempo, com a entrada em operação de novas usinas e linhas de transmissão, vamos aumentar em mais de 7% nossa produção de energia e ela irá crescer ainda nos próximos anos”. Em março, anunciou a desoneração de impostos federais sobre a cesta básica para “reaquecer” a economia.
Em junho de 2013, em meio à onda de protestos da população que se espalharam por todo País sobre insatisfação relacionada aos Poderes Executivo e Legislativo, aliada a questões sobre condições de saúde, educação e segurança, geraram a maior queda na popularidade de Dilma, que foi de 55% para 31%. A onda de protestos comunicativos também atingiu negativamente a popularidade de governadores, prefeitos, deputados e da maioria dos partidos do país. Em 21 de junho de 2013, um dia após a maior manifestação registrada nessa onda de protestos, Dilma cancelou uma viagem que faria ao Japão e convocou uma reunião de emergência. No mesmo dia, foi gravado um pronunciamento presidencial em que Dilma Rousseff anunciou a criação de cinco pactos e uma proposta de plebiscito para constituinte da reforma política. Em setembro de 2013, documentos do governo dos Estados Unidos da América (EUA) revelaram que Dilma e seus assessores, além de grandes empresas como a Petrobrás, foram espionados pelo governo norte-americano.
Em 17 de setembro, Dilma Rousseff cancelou a viagem oficial que faria aos EUA. Em 24 de setembro, a presidente discursou na Assembleia Geral da ONU, onde declarou que “a espionagem fere a soberania e o direito internacional”. Ela classificou as denúncias como uma “grave violação dos direitos humanos e das liberdades civis” e uma “afronta aos princípios que devem guiar as relações entre os países”. Em fevereiro de 2015, uma reportagem do jornal The New York Times denunciou que os programas de espionagem da NSA no Brasil e no México continuaram mesmo após as revelações ao público e o estremecimento das relações bilaterais. Em 21 de outubro de 2013, foi leiloado o “Campo de Libra”, considerado o maior campo de petróleo da Camada pré-sal. Naquele mesmo dia, a presidenta fez um pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão negando que o leilão significava a privatização do petróleo brasileiro. Segundo ela, “o Brasil é – e continuará sendo – um país aberto ao investimento, nacional ou estrangeiro, que respeita contratos e que preserva sua soberania. Por tudo isso, o leilão de Libra representa um marco na história do Brasil”.
Em 27 de abril de 2014, sancionou o Marco Civil da rede mundial Internet, que estabeleceu obrigações e direitos dos provedores de internet. Dilma Rousseff discursou no fórum global NET mundial, realizado naquele mês, afirmando: - “Esse foi um processo virtuoso que nós levamos no Brasil. O nosso “Marco Civil” também foi valorizado pelo processo de sua construção. Por isso, gostaria de lembrar que ele estabelece princípios, garantias e direitos dos usuários”.  Em 10 de junho de 2014, dois dias antes do início da Copa do Mundo FIFA - Federação Internacional de Futebol, Dilma pronunciou-se em rede nacional de televisão sobre o evento. No pronunciamento, a presidente defendeu o legado da Copa, declarando: - “No jogo, que começa agora, os pessimistas já entram perdendo. Foram derrotados pela capacidade de trabalho e a determinação do povo brasileiro, que não desiste nunca”. Entre junho de 2013 até a realização da Copa das Nações, vários protestos ocorreram contra a realização do evento no país. Dilma também foi alvo dos protestos por, pelo menos, duas vezes: em seu discurso de abertura da Copa das Confederações FIFA de 2013, recebeu muitas vaias da plateia; ao entregar a taça de campeã para a Alemanha, então vaiada pela torcida.
 
Enfim, segundo Michael Löwy o que aconteceu no Brasil, com a destituição da presidente eleita Dilma Rousseff, foi um golpe de Estado. Golpe de Estado pseudolegal, “constitucional”, “institucional”, parlamentar ou o que se preferir. Mas golpe de Estado. Parlamentares – deputados e senadores – profundamente envolvidos em casos de corrupção (fala-se em 60%) instituíram um processo de destituição contra a presidente pretextando irregularidades contábeis, “pedaladas fiscais”, para cobrir déficits nas contas públicas – uma prática corriqueira em todos os governos anteriores! Não há dúvida de que vários quadros do PT estão envolvidos no escândalo de corrupção da Petrobras, mas Dilma não… Na verdade, os deputados de direita que conduziram a campanha contra a presidente são uns dos mais comprometidos nesse caso, começando pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (recentemente suspenso), acusado de corrupção, lavagem de dinheiro, evasão fiscal etc. A prática do golpe de Estado legal parece ser a nova estratégia das oligarquias latino-americanas. Testada em Honduras e no Paraguai (países que a imprensa costuma chamar de “República das Bananas”), ela se mostrou eficaz e lucrativa para eliminar presidentes (muito moderadamente) de esquerda. Agora foi aplicada num país que tem o tamanho de um continente…
A 1ª mulher eleita na América Latina foi Violeta Barros, em 1990, na Nicarágua. Apesar da importância da eleição, ela é conhecida como Violeta Chamorro, sobrenome do marido - pela maioria das pessoas é lembrada como viúva do jornalista Pedro Joaquín Chamorro, assassinado pela ditadura que assolava o país. A  1ª mulher eleita para uma Presidência na América Latina “precisa ter a memória vinculada a um homem”. A 2ª mulher a presidir um país latino-americano foi Mireya Moscoso, que governou o Panamá entre 1999 e 2004. Em todas as biografias, Mireya “é descrita como esposa do Presidente Arnulfo Arias Madrid”. Michelle Bachelet foi eleita em 2006 para governar o Chile. Ela é a 1ª mulher a presidir o Chile pela segunda vez, desde a ditadura do general Augusto Pinochet. As referências de “esposa” e “viúva” também são usadas para Cristina Kirchner, que governa a Argentina desde 2007. O mandato termina em 2015 e ela não poderá se candidatar novamente, de acordo com Constituição do país. A 5ª Presidenta eleita na América Latina venceu as eleições de 2010, assim como Dilma Rousseff. Laura Chinchilla presidiu a Costa Rica até maio deste ano. Antes de ocupar o cargo, ela já havia sido vice-presidente de Óscar Arias Sanchez. Dilma Rousseff é a 1ª mulher a governar o Brasil, vencendo as eleições de 2010 e 2014, sucessivamente, mas foi derrubada pelo golpe de Estado de 17 de abril de 2016. Lembra-nos os versos de Cora Coralina quando afirma: - “Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir”. Bibliografia geral consultada.
BANDECCHI, Brasil, A bucha, a maçonaria e o espírito liberal. São Paulo: Editora Parma, 1982;  NAUDON, Paul, Les Origines de la Franc-Maçonerie; Le Sacré et le Métier. Paris: Éditions Dervy-Livres, 1991; AZEVEDO, Célia Maria Marinho, “Maçonaria: História e Historiografia”. Disponível em: Revista da Universidade de São Paulo, n° 32, 1996-97; BARATA, Alexandre Mansur, Maçonaria, Sociabilidade Ilustrada e Independência (Brasil, 1790 - 1822). Tese de Doutorado em História. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2002; DAIBERT, Robert Júnior, Isabel, a redentora dos escravos: uma história da princesa entre olhares negros e brancos (1846-1888). Bauru: EDUSC, 2004; SODRÉ, Muniz, A Verdade Seduzida: Por um Conceito de Cultura no Brasil. 3ª edição. Rio de Janeiro: Editora DP&A, 2005; SOUZA, Françoise Jean de Oliveira, “Em busca de uma tradição inventada”. In: História Viva, edição 47. São Paulo: Duetto Editorial, setembro de 2007; COSTA, Luiz Mario Ferreira, Maçonaria e Antimaçonaria: Uma Análise da História Secreta do Brasil de Gustavo Barroso. Dissertação de Mestrado em História. Universidade Federal de Juiz de Fora, 2009; SILVA, Tiago Cesar, Para Além de Esquadros e Compassos: A Construção da Memória Maçônica no Brasil. Dissertação de Mestrado em Memória Social. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2012; TODOROV, Tzvetan, A Vida em Comum. Ensaio de Antropologia Geral. São Paulo: Editora da Unesp, 2014; GUIMARÃES, Eduardo, “Mídia Esconde Denúncia de Jornal Inglês Contra Mulher de Temer”. In: http://www.redebrasilatual.com.br/2016/07/26; Artigo: Lula publica fotos de Moro com Aécio e Temer. In: https://oglobo.globo.com/17/05/2017TEIXEIRENSE, Pedro Ivo, Reinventando o Inimigo: História, Política e Memória na Montagem dos Dossiês e Contra-dossiês da Ditadura Militar Brasileira (1964-2001). Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em História Social. Instituto de História.  Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2017; entre outros.