Richard Blackburn - História, Tecnologia & Vampiro da Razão.
Ubiracy
de Souza Braga
“O medo dos poderes invisíveis, inventados ou
imaginados a partir de relatos, chama-se religião”. Thomas Hobbes
A
ausência de autoridade requeria a existência da intervenção do Estado sobre a
religião e acarretava na impossibilidade de usar a Bíblia como lei. É preciso
haver um único governante, do contrário se origina a facção e a guerra civil,
entre a Igreja e o Estado, entre os espiritualistas e os temporalistas, entre a
espada da justiça e o escudo da fé. E o que é mais desastroso ainda, no próprio
coração de cada cristão, entre o cristão e o homem. Chamam-se pastores os
doutores da igreja, bem como os soberanos civis. Entretanto, se entre os
pastores não houver alguma subordinação, de forma que haja apenas um chefe dos
pastores, serão ministrados aos homens doutrinas contrárias, que poderão ser
falsas e uma delas necessariamente o será. O soberano civil é o chefe dos
pastores, segundo a lei natural. Embora o poder tanto do Estado quanto da
religião estivesse nos reis, não deixou de ser fiscalizado em
seu uso, a não ser quando eram bem quistos por suas capacidades naturais ou por
sua fortuna de bens.
A
palavra Leviatã foi utilizada no Velho Testamento da Bíblia, no Livro de Jó,
para descrever uma criatura mitológica que se assemelharia a um grande polvo ou
uma grande baleia, e que na obra “O Leviatã...”, de Thomas Hobbes, é utilizado
para simbolizar o poder do Estado (autoridade), que segundo o filósofo seria a
única maneira de superar o “estado da natureza” do homem, governado pelo
egoísmo e pela insatisfação. Daí a sentença: “Homo homini lúpus”, criada por
Plauto (254-184) em sua obra: Asinaria. No texto se diz exatamente: “Lupus est
homo homini non homo”, popularizada por Hobbes no século XVII, na qual ele
retrata a natureza competitiva do ser humano (cf. Macpherson, 1979). O desejo
que torna o homem corruptível é imutável, e aparece quando o homem se sente
livre do Leviatã. A prudência é uma presunção do futuro baseada numa
experiência do passado. Porém, existe uma presunção de que as coisas do passado
derivem de outras coisas que não são futuras, mas passadas também. O “bellum
omnium contra omnes” representa, a disputa pelo poder no mundo, em que a
análise de Hobbes sobre esse “estado-natural animalesco”, poderia ser resolvido
dentro das fronteiras, sob o comando de um governo soberano. O
grande dilema na modernidade é que a teoria não previa a intensa luta
supranacional, que ultrapassa os limites imaginários e físicos. Quando limitou
a convivência em uma fronteira, não pode conceber a ideia de que governos de
outros países que tentassem controlar outrem, só causariam o que podermos
perceber: o caos e banhos de sangue moderno e contemporâneo.
Idealizou uma
criatura mística chamada Leviatã, em sua ilustração como um monstro composto
por vários homens dispostos como escamas. Quer dizer que o soberano que
controla a sociedade civil é formado pelo conjunto de indivíduos, demonstrando
também que o ser humano deu ao Estado o direito de controlá-lo como se deseja.
Assim, todos os seres humanos buscam o sucesso contínuo na obtenção dos objetos
de desejo, isto é, procuram a felicidade. Entretanto,
é justamente essa busca que conduz os homens à guerra no estado de natureza e
é, em última instância, o medo da morte que os leva a criarem o estado civil.
Isto porque sem o medo da morte a procura pela felicidade conduz a uma “guerra
de todos contra todos”, já que os homens, para terem certeza de que alcançariam
a felicidade, teriam que se tornarem poderosos na busca por um poder. Mas esta
busca motivada por um desejo contínuo de poder e mais poder salvaguardaria a
felicidade, que outra coisa não é senão uma satisfação dos desejos. Os homens
ao se valerem de todos os meios necessários para serem felizes inevitavelmente
entrariam em guerra uns contra os outros. Quem já observou os procedimentos e
os graus que levam um Estado florescente à guerra civil e, em seguida, à ruína,
ao ver qualquer outro Estado em ruínas deduzirá que foi uma consequência das
mesmas guerras e dos mesmos acontecimentos. Porém, essa conjectura tem o mesmo
grau de incerteza da conjectura do futuro. Ambas estão baseadas apenas na
experiência.
Os seres humanos desejam aquilo que amam, e odeiam coisas pelas
quais têm aversão. Com o desejo significamos a ausência do objeto; com amor,
sua presença. Com aversão a ausência e, com ódio, a presença do objeto. Primeiro
filósofo moderno a articular uma teoria detalhada do contrato social, com sua
obra Leviatã, escrita em 1651, Thomas Hobbes foi um filósofo inglês do século
XVII, reconhecido como um dos fundadores da filosofia política e ciência
política moderna. Desde Hobbes o poder de um homem, universalmente considerado,
consiste nos meios de trabalho de que dispõe para alcançar, algum bem evidente
tanto original (natural) como instrumental (político). O maior de todos os
poderes humanos é o poder integrado de vários homens unidos com o consentimento
de uma pessoa natural ou civil: é o poder do Estado ou aquele representativo de
um número de pessoas, cujas ações estão sujeitas à vontade de determinadas
pessoas em particular, como é o poder de uma facção ou de facções coligadas no
mundo contemporâneo. Ter servos é poder, como também ter amigos, pois isso
significa união de forças. Igualmente, a riqueza, unida à liberalidade, é
poder, pois congrega, une amigos & servos. Mas, sem a liberalidade, a
riqueza não é protetora; pelo contrário, expõe o homem à inveja e à rapina.
Reputação
de poder é representação de poder (cf. Crignon, 2007), porque, por meio delas,
obtemos a adesão e conquistamos o afeto político dos homens que precisam ser
protegidos. Êxito, analogamente também é poder, pois a reputação da sabedoria
ou da “boa fortuna” faz com que os outros homens temam, idolatrem ou confiem. O
valor ou conceito de um homem é, como para todas as outras mercadorias, seu
preço; isto é, depende de quanto seria dado pelo uso de seu poder. Assim, não é
absoluto, mas apenas uma consequência da necessidade e do julgamento alheio,
através do macróbio senhor dos códigos, escritor, filósofo e filólogo romano,
autor das Saturnais e do Comentário ao Sonho de Cipião. Segundo uma das
versões, nasceu por volta de 370 na Numídia, na África. Exerceu grande
influência na Idade Média pela transmissão e elaboração de uma parte da
tradição filosófica grega pagã no período pré-nissênico da escola neoplatônica
do Ocidente latino. A estima pública de um homem, que é o valor que lhe é conferido
pelo Estado, é o que denominamos ordinariamente dignidade. Essa valorização
pelo Estado é expressa pelo cargo público para o qual é designado, tanto na
magistratura como em funções públicas, ou quando esse valor é expresso por
títulos e honrarias que lhe são concedidos. A fonte da honra é o Estado, e
depende da vontade do soberano.
A honra não sofre alterações se uma ação é
justa ou injusta. A honra consiste unicamente na opinião de poder. O medo é a
única paixão que impede o homem de violar leis. O medo pode levar a cometer um
crime expressando o que Crawford Brough Macpherson denominou de “individualismo
possessivo” demonstra que há uma tradição política na qual a propriedade é
constitutiva da individualidade, da liberdade e da igualdade. Vampiro
é uma representação mitológica (ou folclórica) que sobrevive à etnologia
registrada em diversas culturas. O termo “vampiro” se tornou popular no início
do século XIX, após um influxo de superstições vampíricas na Europa Ocidental,
vindas de áreas de conhecimento onde lendas eram frequentes, como os Balcãs e a
Europa Oriental, embora variantes locais sejam também reconhecidas por outras
designações, como “vrykolakas” na Grécia, e “strigoi” na Roménia. Este aumento
das superstições vampíricas no continente europeu levou a uma possível histeria
coletiva, resultando em casos com perfuração de cadáveres e acusações
fantasiosas de vampirismo. Em 1819, com o sucesso do romance de John Polidori
“The Vampyre”, se estabeleceu o arquétipo sociológico do vampiro carismático e
sofisticado, o que pode ser considerado a mais influente obra sobre vampiros do
início do século XIX, inspirando no “Varney the Vampire”, e
eventualmente “Drácula”. É, no entanto, o romance de Bram Stoker, “Drácula”
(1897), que perdura como uma quinta-essência da literatura sobre vampiros,
gerando a base da moderna ficção sobre o tema.
Melhor dizendo, o âmbito do imaginário individual (o sonho) e coletivo (os mitos, os ritos, os símbolos), criativo e de invenção da literatura de ficçãocientífica foram idealizados pelo escritor Jules Verne. O
termo entrou na língua portuguesa no século XVIII por via do francês “vampire”,
que o tomou do alemão “Vampir”, que por sua vez o tomou emprestado no início do
século XVIII do sérvio “вампир/vampir”, quando Arnold Paole, um suposto
vampiro, foi descrito na Sérvia na época em que esse território estava
incorporado no Império Austríaco. O Houaiss dá ainda como possível origem o
húngaro, além do sérvio, apresentando como formas históricas “vampire”
(c.1784), “vampiro” (1815) e “vampyro” (1857). Uma das primeiras ocorrências do
termo registradas na língua portuguesa surge num texto português datado de
1784, em que é usada a forma “vampire”, indicando a sua proveniência direta do
francês. Em 1815 registra-se já a forma contemporânea, “vampiro”. Drácula, por
outro lado, foi inspirado em mitologias anteriores sobre lobisomens e outros
demônios lendários semelhantes e “deu voz às ansiedades de uma era” e aos
“medos do patriarcado vitoriano”. O sucesso deste livro deu origem a um gênero
distinto de vampiro, ainda popular no século XXI, com livros, filmes, jogos de
vídeo e programas de televisão. O vampiro é uma figura de tal modo dominante no
gênero de terror que a historiadora de literatura Susan Sellers situa historicamente o recorte do mito vampírico na “segurança comparativa do
fantástico nos pesadelos”. Ela
foi a primeira mulher a ser nomeada professora na área de literatura inglesa,
bem como redação criativa na Universidade de St. Andrews, e é coeditora geral
da edição da Cambridge University Press dos escritos de Virginia Woolf.
A
noção de vampirismo existe há milénios em culturas da Mesopotâmia, entre
Hebreus ou da Grécia Antiga. A romana continham lendas de demónios e espíritos
que são considerados precursores dos modernos vampiros. No entanto, apesar da
ocorrência de criaturas do tipo dos vampiros nessas civilizações antigas, o
folclore da entidade que conhecemos hoje como vampiro teve origem quase
exclusivamente no sudeste da Europa no início do século XVIII, quando as
tradições orais de muitos grupos étnicos dessa região foram registados e
publicados. Antropologicamente em muitos casos, os vampiros representam
espectros de seres malignos, vítimas de suicídio, ou bruxos, mas podem também
ser criados quando um espírito maléfico possui um corpo ou quando se é mordido
por um vampiro. A crença penetrou tanto em algumas regiões que causou histeria
e até execuções públicas de pessoas que se acreditavam serem vampiros. O termo entrou na língua portuguesa por via do francês vampire, que o tomou do alemão Vampir, que por sua vez o tomou emprestado no início do século do sérvio вампир/vampir,quando Arnold Paole, um suposto vampiro, foi descrito na Sérvia na época em que esse território estava incorporado no Império Austríaco. Esta
tradição persistiu no folclore grego moderno dos “vrykolakas”, no qual uma cruz
de cera e um caco de barro com a inscrição ideológica “Jesus Cristo conquista”
eram colocados no corpo por forma a prevenir que este se tornasse num vampiro.
Outros métodos comumente praticados na Europa incluíam cortar os tendões das
pernas ou colocar sementes de papoila, milhetes, ou areia no chão perto da cova
de um suposto vampiro. Para o senso comum este fato social se destinava a
manter o vampiro ocupado toda a noite contando os grãos, indicando, portanto,
uma associação entre vampirismo e aritmomania. Narrativas chinesas semelhantes referendam que se um ser vampírico encontra um saco de arroz, sente-se obrigado a contar todos os grãos.
Este tema pode ser encontrado igualmente nos mitos do subcontinente Indiano, assim como nas lendas da América do Sul de bruxaria e espécies de espíritos ou seres malignos ou nefastos.As
modernas crenças vampíricas enraizadas no folclore mais antigo propagaram-se
por toda a Ásia, desde as lendas das entidades maléficas do tipo “ghoul”
encontradas no continente, aos seres vampíricos das ilhas do Sudoeste Asiático.
A Ásia Meridional também desenvolveu as suas próprias lendas vampíricas. O
“Bhūta” ou “Prét” representa a alma “de um homem que morreu de morte
apressada”. Esta vagueia pelas redondezas animando cadáveres à noite, e
atacando os vivos, muito ao modo “doghoul”. No norte da Índia existe o BrahmarākŞhasa,
uma criatura vampírica “com a cabeça rodeada por intestinos e uma caveira, de
onde bebe sangue”. A figura do “Vetāla”, nas lendas da Ásia Meridional, pode
por vezes ser descrita como “vampiro”. Embora os vampiros originem o mimetismo
sociológico no cinema japonês desde o final dos anos 1950, o folclore que lhes
está associado tem origem ocidental. O “Nukekubi”, na
cultura japonesa, “é um ser cuja cabeça e pescoço separa-se do corpo para voar
em redor em busca de presas humanas durante a noite”.
Não
queremos perder de vista comparativamente que lendas de seres femininos
semelhantes a vampiros “que são capazes de separar partes superiores do seu
corpo também ocorrem nas Filipinas, Malásia e Indonésia”. Os malaios costumam
pendurar “jeruju” em suas casas ao redor das portas e janelas, na esperança
singela que o “Penanggalan”, não entre por aí “com medo de ficar com os
intestinos presos aos espinhos”. O “Leyak” é um ser semelhante do folclore
balinês. Um “Kuntilanak” ou “Matianak”, na Indonésia, ou “Pontianak” ou
“Langsuir”, na Malásia, representam a condição social de uma mulher que morreu durante a infância e
tornou-se “morta-viva”, em busca de vingança.
O mito do vampiro, as suas qualidades magicas e sedutoras, e o arquétipo de predador, como ocorre na
encenação fílmica, baseada nas Crônicas
de Anne Rice (cf. Hradec, 2014), expressam um simbolismo
que pode ser usado em técnicas que envolvam uso de ritual e de energia, como
sistema espiritual que faz parte da sociedade ocultista europeia, e
se difundiu na cultura norte-americana deste século com extraordinária
influência e mistura das estéticas neogóticas.
O
ensaio de Richard James Blackburn, The
Vampire of Reason, publicado pelo Editor Verso (Londres, 1989)
apresenta a seguinte tese: Uma explicação materialista deve ser capaz de um explanandum em termos de um explanans materialista; uma explicação
idealista, por sua vez, tem que fazer o mesmo em termos de um explanans idealista ou cultural. O
próprio explanandum pode ser
materialista, cultural ou uma combinação de ambos. Uma explicação estrutural
pode ser considerada materialista ou idealista dependendo da estrutura que ela
evoca como explanans ser, ela mesma,
materialista ou idealista. Este último uso, segundo a análise teórica “é
empregado por Marx, para quem uma explicação da vida social em termos de
estruturas econômicas é materialista, desde que tais estruturas pertençam a um
conjunto de relações entre, e em meio de, agentes e coisas envolvidas em atividade
material”. Um
explanans materialista pode consistir
de entidades materiais ou de uma estrutura de tais entidades, numa
localização ou mudança geográfica ou uma tendência demográfica na dinâmica populacional decorrente do avanço da medicina, urbanização etc.
Ele pode
abranger, alternativamente, uma atividade, evento ou processo transformando ou
preservando a natureza de entidades físicas, quer derive da própria natureza ou
da sociedade humana; ao mesmo tempo, dentro de uma sociedade, pode-se dizer que
uma exigência ou interesse possui um caráter materialista se favorece a
sobrevivência ou um bem-estar físico. Um explanans
idealista pode assumir várias formas: pode consistir da descoberta de
conhecimento novo, como na revolução científica dos séculos XVII e XVIII, à
qual a Revolução Industrial foi em parte atribuída. Para o marxismo, segundo
Blackburn, “os valores culturais e os ideais têm que ser compreendidos em
termos das instituições que os incorporam e dos requisitos e interesses aos
quais servem na base econômica de uma sociedade”. Embora seja inconsistente com
um idealismo eticocêntrico, o marxismo não é, de forma alguma, incompatível com
um idealismo centrado no conhecimento, desde que esse idealismo, ao contrário
de Hegel, possa assumir um fundamento em última instância materialista.
Somente
Hegel, insistimos neste aspecto, definiu o princípio da realidade como uma
Ideia lógica, fazendo, portanto, do ser das coisas um ser puramente lógico e
chegando assim a um panlogismo consequente que apresenta ainda, um elemento
dinâmico-irracional, existente no método dialético. Nisto se distingue o
panlogismo hegeliano do neokantismo, que eliminou este elemento e instituiu
assim um puro panlogismo. O idealismo apresenta-se, para sermos breves, em duas
formas principais: como idealismo subjetivo ou psicológico e como idealismo
objetivo e lógico. Mas estas diversidades no plano analítico movimentam-se no
âmbito de uma concepção fundamental. Esta é justamente a tese idealista de que
o objeto do conhecimento não é “menos que nada”, mas algo ideal, para concordarmos
com o incansável hegeliano Slavoj Žižek. A ideia de um objeto independente da
consciência é contraditória, pois, no momento em que pensamos num objeto, como
no amor, por exemplo, fazemos dele um conteúdo de nossa consciência: se
afirmamos simultaneamente que o objeto existe fora da nossa consciência,
contradizemo-nos com isso a nós próprios; portanto não há objetos reais
extra-conscientes, mas a realidade acha-se contida na consciência.
Precisamente
porque a “Introdução” não é como o “prólogo” um anexo posterior que contêm
consideráveis informações gerais sobre o objetivo que se propunha o maior
filósofo da história contemporânea e as relações com as quais sua obra mantém
diálogo com outros tratados filosóficos do mesmo tema. Ao contrário, de acordo
com Jean Hyppolite (1974), “a introdução é parte integrante da obra, constitui
o delineamento mesmo do problema e determina os meios postos em prática para
resolvê-lo”. Assim, Hegel que parte da consciência comum, não podia situar como
princípio primeiro uma dúvida universal que só é própria da reflexão
filosófica. Por isso mesmo ele segue o caminho aberto pela consciência e a
história detalhada de sua formação. Ou seja, a Fenomenologia vem a ser uma
história concreta da consciência, sua saída da caverna e sua ascensão à
Ciência. Daí a análise comparativa que em Hegel existe de forma coincidente
entre a história da filosofia e a história do desenvolvimento do pensamento,
mas este desenvolvimento é necessário, como força irresistível que se manifesta
lentamente através dos filósofos, que são instrumentos de sua manifestação.
Assim, Hegel preocupa-se apenas em definir os sistemas para lembrarmo-nos de
Vittorio Hösle, sem discutir as peculiaridades e opiniões dos diferentes
filósofos. Na dialética hegeliana o que o ocupa é a categoria fundamental que
determina todo o sistema, o assinalamento das diferentes etapas, e nestas as
relações de antagonismo que conduzem à síntese do espírito absoluto.
Uma
explicação pode assumir uma forma que não é exclusivamente materialista nem
idealista, mas que pode ser denominada metamaterialista
ou metaidealista. Uma explicação
metamaterialista possui uma estrutura triádica na qual um explanans materialista (que pode ser composto) dá conta de um explanandum idealista que então forma o explanans de um resultado materialista.
Muitas vezes, uma explicação idealista de um evento é simplesmente aquilo que
poderia abranger os últimos estágios de uma explicação metamaterialista. Assim,
enquanto a ascensão do Islã pode ser responsável pela sujeição árabe do oriente
Médio, do Maghreb e da Espanha no
sentido de ser um componente incomum, mas necessário de uma condição suficiente
de tal evento, é possível oferecer explicações da própria emergência e das
características iniciais do Islã em termos dos requisitos no âmbito da
reprodução de eventos geopolíticos e geoeconômicos da península arábica no
século VII, ou seja, a necessidade de união entre as suas populações nômades e
sedentárias para evitar a ruína do comércio norte-sul e a necessidade de um
escoadouro para a população excedente da península. Representam os povos caçadores-coletores ou pastores, mudando-se por novas pastagens, quando se esgota a que estavam. Os nômades não se dedicam à agricultura e com frequência ignoram fronteiras na busca por pastagens.
Argélia,
oficialmente República Democrática e Popular da Argélia, é um país da África do
Norte que faz parte do Magreb. Sua
capital é Argel situada no norte do país, na costa do Mediterrâneo. Com uma
superfície de 2 381 741 km², é o maior país à volta do Mediterrâneo e o mais
extenso da África, após a divisão entre o Sudão e o Sudão do Sul. Partilha suas
fronteiras terrestres ao nordeste com a Tunísia, a leste com a Líbia, ao sul
com o Níger e o Mali, a sudoeste com a Mauritânia e o território contestado do
Saara Ocidental, e ao oeste com Marrocos. A Argélia é membro da Organização das
Nações Unidas (ONU), da União Africana (UA) e da Liga Árabe praticamente depois
de sua luta pela Independência (1962), e integra a Organização dos Países
Exportadores de Petróleo (OPEP) desde 1969. Em fevereiro de 1989, a Argélia
participou com os outros estados magrebinos, para a criação da União do Maghreb Árabe criada em 17 de fevereiro de 1989, através do Tratado de Marraquexe, assinado em Marraquexe (Marrocos). Os Estados-membros são: Argélia, Tunísia, Líbia, Marrocos e Mauritânia. A União tem como metas principais a livre-circulação de pessoas, serviços, mercadorias e capitais sociais entre os Estados-membros; adoção de políticas de intercâmbio comuns. Em matéria econômica, a política comum visa assegurar o desenvolvimento industrial, agrícola, comercial e social dos Estados-membros associados.
A
Constituição argelina define o mundo do islã, os árabes e os berberes como
“componentes fundamentais” da identidade do povo argelino, e o país como “terra
do islã, parte integrante do Grande Magreb, do Mediterrâneo e da África”. O
“Magrebe” ou “Magreb”, em língua árabe, المغرب, Al-Maghrib, que significa
“poente” ou “ocidente” é a região localizada no noroeste da África. Em sentido
estrito, inclui Marrocos, Sahara Ocidental, Argélia e Tunísia. O “Grande
Magreb” inclui também a Mauritânia e a Líbia. Na época historicamente determinada de formação e desenvolvimento do Império Romano, era conhecido como África menor. Al-Maghrib opõe-se a
Machrek (“nascente”), que designa “o oriente árabe e se estende desde o Egito
até o Iraque e a Península Arábica”. A região foi dominada pelos árabes e
religião, o Islão, durante mais de 1300 anos (cf. Lannes, 2013; Mota, 2018). Argélia e Líbia são países
que parte do seu território é desértica. Tanto um como o
outro, e ainda a Tunísia, possuem reservas abundantes de petróleo e gás
natural. A agricultura, tornada possível através de projetos de irrigação, é
ainda importante para a região. Muitos habitantes são nômades, andando de terra
em terra com as suas manadas ou rebanhos.
Uma
explicação é metaidealista se possui uma estrutura triádica na qual o primeiro
termo é um momento idealista, o segundo ou médio é o termo materialista e o
terceiro novamente idealista. Um exemplo desse tipo de explicação é o que os
cristãos oferecem ao seu fundador. A imaculada concepção de Cristo pelo
Espírito Santo é o momento idealista original; o nascimento de Cristo da Virgem
Maria é o momento materialista da encarnação de Deus como Messias de carne e
sangue; e a apoteose de Jesus após a ressureição como o salvador da humanidade
é o momento idealista culminante. Um exemplo mais complexo de explicação
metaidealista se encontra na filosofia da história de Hegel. O Logos ou espírito do mundo induz a
emergência das nações e indivíduos históricos do mundo – como a Grécia de
Alexandre ou a Alemanha de Lutero – em que a ética protestante e espírito capitalista dando origem a manifestações
materiais, cujos feitos engendram novas épocas de vida cultural e preservação do pensamento –
a ciência e filosofia alexandrinas ou a Reforma e a visão de mundo protestante.
Um explanans idealista difuso é
responsável por um explanandum
material, que por sua consequência explica um evento idealista.
O
que tolda o debate levantado por Richard Blackburn não diz respeito apenas à
dualidade estrutural entre verdade ou falsidade em geral, mas seu status como
proposições materialistas ou idealistas. A alegação básica consiste da tese
presumivelmente materialista de que as forças de produção se desenvolvem no
interior de estruturas econômicas sucessivas, cuja ordem de progressão é
determinada pela sua capacidade ascendente de prescindir sobre tal
desenvolvimento produtivo. Entretanto, o impacto do desenvolvimento das forças
fisicamente produtivas, ou de fato preventivas e reparadoras, reside no avanço
do conhecimento, particularmente do conhecimento técnico; em face disto há um
desenvolvimento idealista mesmo quando a força produtiva está sendo posta em
questão. O motor da história humana é, para Marx, o desenvolvimento das forças
produtivas; mas isto, por sua vez, deriva, ao menos para a história humana
recente, de um avanço no conhecimento, ou seja, nas ideias de como produzir
coisas, pois a invenção precisa uma grande margem de indefinição.
Há,
um ramo do pensamento e do esforço humanos que frequentemente afirmou ter
respondido a essa questão. Nenhuma área da vida social tem sido menos tratável
para o reino da necessidade nem menos disposta a limitar sua afirmação que a
religião. Mesmo assim, as grandes religiões do mundo não escaparam às atenções
da artimanha da razão. As antigas religiões podem fornecer segurança mágica
contra as forças de destruição e, de fato, prosperar nelas e revelar não apenas
os segredos da natureza, mas também os da humanidade em sua antiguidade. Os
seres humanos diferem das espécies humanas por terem a capacidade de se
consolar dos infortúnios e do seu conhecimento da morte pela crença numa vida
depois da morte. Isto por sua vez pode ter profundos efeitos na vida
política e social. Enquanto os outros níveis sociais foram constrangidos pela
luta com a natureza, a religião e, sob sua influência, a política
foram liberadas do pleno impacto da seleção natural e social, ao menos na
imaginação, permitindo por um tempo os mais curiosos desenvolvimentos. É a
eles, que, com razão devemos nos dedicar, pois a religião foi identificada como
um modo de “segurança mágica” para conter as forças destrutivas e a desordem
social. Essa visão mágica de mundo foi elaborada no grande desenvolvimento das grandes religiões mundiais, assumindo formas mais sofisticadas.
A magia da prevenção,
recuperação, resseguro, criação e destruição sobrenaturais são evidentes nos
antigos sistemas de doutrina religiosa, quer como culto das divindades dos
elementos cruciais, como no animismo, ou das forças do acaso funcionando na
luta pela existência. A provisão da religião pelos meios mágicos para enfrentar
a destruição humana evocando forças sobrenaturais de criatividade e preservação
pode vir a dominar a província da liberdade no reino da necessidade. Melhor dizendo, o espaço
dentro da qual permanece possivelmente a escolha e a mudança na execução da contenção
da destruição. Ela pode, por este meio, levar as sociedades a caminhos mais
ilusórios. Na interpretação materialista blackburniana, ela pode oferecer um antídoto às
forças destrutivas da guerra de movimento, fora dos limites da inquirição racional, representando um conjunto de práticas e saberes sociais e de fundamentação ideológica para o próprio
ancestral vampiro da razão, que ela promete exorcizar ou atenuar.
Enfim,
tanto para Sir James Frazer (1976) como
para Mirad C. Chaudhuri (1979), a religião proporciona segurança para os que
têm fé: e tanto o meio ambiente físico de um povo, quanto seu modo de vida
dentro dele, influencia profundamente as formas que ela assume. Em outras
palavras, o modo de vida em sua geografia e demografia históricas condiciona fortemente
o modo de segurança mágica. A religião se desenvolve na província da liberdade
no reino da necessidade de uma sociedade, tornando-se eficaz depois disso pela
maneira que preenche os requisitos culturais necessários para influenciar
decisivamente seu curso e história. Por exemplo, é mais provável que um
guerreiro manifeste bravura em batalha se ele puder encarar a morte com equanimidade
devida á sua certeza de sobrevivência em outro mundo. O poder do Islã foi em
grande parte devido às vantagens que prometia aos fiéis em caso de sucesso ou fracasso
no jihad, ou “guerra santa”, com a
salvação ou sobrevivência das almas. Esta maneira mágica de justificar o imperialismo e instigar coragem em
combate começou como um movimento idiossincrático de tribos nômades que, historicamente tornou-se
militarmente necessária, para sua sobrevivência como conceito antropologico de seus
vizinhos, daí a rapidez de sua disseminação. Pois o fanatismo religioso numa situação como essa se torna uma arma
indispensável, prática, no reino da necessidade, sem a qual uma sociedade sucumbe.
Bibliografia
geral consultada.
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2014; HRADEC, Patricia, Vampiros Humanizados: Análise da obra Interview with the vampire de Anne Rice. Dissertação de Mestrado em Letras. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2014; ASSUNÇÃO, Diego Paleólogo, A Máquina de Fabricar Vampiros: Tecnologia
da Morte, do Sangue e do Sexo. Tese de Doutorado em Comunicação. Escola de
Comunicação. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2015; BARBOSA-FEREIRA, Francirosy Campos, Entre Arabescos, Luas e Tâmares: Performances Islâmicas em São Paulo. Tese de Doutorado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Antropologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2007; Idem, “A Centralidae do Corpo no Islam”. In: ICArabe.Org/05/05/2017; Artigo: “Bebê batizado como Jihad causa dilema na França”. In: https://www.bbc.com/portuguese/24/10/2017; LIMA, Valdecila (Cila), Feminismo Islâmico: Mediações Discursivas e Limites Práticos. Tese de Doutorado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de História. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2017; entre outros.
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