domingo, 9 de julho de 2017

Rota de Che Guevara - Explorações & Mortes em Emboscadas.

                                                                                                    Ubiracy de Souza Braga

“La reforma agraria radical es la única forma de dar la tierra al campesino”. Ernesto Che Guevara


                                    
A palavra guerrilha (“guerrilla”) presume-se que tenha sido utilizada pela primeira vez na Guerra Peninsular contra a invasão napoleônica a Portugal e Espanha, entre 1808 e 1812, embora as técnicas guerrilheiras remontem à Antiguidade. Portanto, o termo passou a ser utilizado a partir da sua origem ibérica, tendo sua grafia original preservada em muitos idiomas. No Brasil data da Invasão Holandesa em Salvador, entre 1624 a 1625, quando o Sargento-mor Antônio Dias Cardoso, Mestre das Emboscadas,  aplicou as técnicas para conter o invasor. E em 1645 voltaria a empregar nos Montes das Tabocas, seguindo com ações na(s) Batalha dos Guararapes, respectivamente, em 19 de abril de 1648 e em 19 de fevereiro de 1649. A guerra de guerrilhas também recebeu outras denominações. Na América Latina, por exemplo, foi chamada de “montonera” no Rio da Prata e “bola” no México, entre outras nomenclaturas que não prevaleceram. Na América do Norte foi Francis Marion, a “Raposa do Pântano”, um general norte-americano que serviu na Guerra de Independência dos Estados Unidos. Nascido na Carolina do Sul numa família de origem huguenote, foi tenente-coronel no Exército Continental e general-de-brigada na milícia da Carolina do Sul, precursor de armadilhas e emboscadas durante a guerra de Independência dos Estados Unidos.
A queda das Colônias Espanholas  na América Latina entre 1810 e 1824 foi decidida pelas guerras de guerrilhas. Muitos grupos foram chefiados por diversos líderes que carregaram consigo a responsabilidade da vitória ou do fracasso dos movimentos de libertação. Houve também guerrilhas de Estado, isto é, aquelas financiadas e incentivadas por grupos que detinham o poder em determinada região, mas que tinham por finalidade a desestabilização dos movimentos de libertação. A guerrilha não é necessariamente um tipo de guerra de resistência onde os insurgentes se opõem a uma força de ocupação, como ocorreu no Iraque ocupado pelos estadunidenses ou como ocorreu na União Soviética invadida pelos nazistas. Ela é também comum em guerras revolucionárias (com fator político-ideológico) que podem ocorrer entre partidos ou facções de um mesmo povo tais como M.M.D.C - Midwest Mission Distribution Center, El Salvador, Guerrilha do Araguaia, Ação Libertadora Nacional (ALN), Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8), Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), Sendero Luminoso, Euskadi Ta Askatasuna (ETA), Exército Republicano Irlandês (IRA), entre outros. As guerras de guerrilhas, quase em sua totalidade, buscaram a Independência de determinada região ou grupos étnicos. Utilizam armamentos leves de fácil deslocamento em seu front; se mantêm com recursos financeiros de impostos cobrados de transeuntes pela guerrilha, ou do “narcotráfico”, bem como operações mistas entre civis e militares.


A história social da escravidão (ou escravatura) nos Estados Unidos inicia-se no século XVII, quando práticas escravistas similares aos utilizados pelos espanhóis e portugueses em colônias na América Latina, e termina em 1863, com a Proclamação de Emancipação de Abraham Lincoln, realizada durante a Guerra Civil Americana. A Guerra Civil Americana, também denominada Guerra da Secessão, produziu maior número de baixas que qualquer outro conflito em que os Estados Unidos se envolveram. Contaram-se mais de 600.000 mortos e metade do país ficou em ruínas. A reconstrução da economia do país (especialmente a do Sul) foi penosa e longa. A unidade nacional foi preservada, e a abolição da escravatura, proclamada por Lincoln, foi pouco depois consagrada na Constituição (13ª Adenda). O próprio Lincoln caiu vítima de um atentado perpetrado por um radical sulista. Os negros, agora livres, integraram-se no mercado de trabalho como assalariados, mas encontraram enormes dificuldades na conquista da igualdade real. As perseguições brutalíssimas por parte de reconhecidas organizações racistas, como o grupo de supremacia branca, Klu Klux Klan e as discriminações de várias ordens como no direito eleitoral, no mercado de emprego, no acesso ao ensino e à habitação etc., de que foram vítimas mas só foram eficazmente combatidas por um amplo movimento social encabeçado por Martin Luther King Jr., na década de 1960.
Em geral, os grupos guerrilheiros tendem a apoiar soluções progressistas, pois, sendo oriundos de grupos locais, mantém contatos estreitos com a população da região onde atuam, ao contrário das Forças Armadas regulares. Assim, era muito comum a estes grupos de guerrilha ser liderados por “caciques”, “caudilhos”, governo sombra, mais modernamente, ou lideranças de classes em geral, segundo conceito da Corte de Palermo, Itália, devido ao chamado “Anos de Chumbo”. As quais historicamente, no Brasil, com interesses escusos, e mais amplos e generalizados. Neste caso, como as suas ações do Cabo Anselmo, ou seja, qual o nome desse cidadão, antigo guerrilheiro comunista, de “dupla face”, que desenvolvia trabalhos tanto de um lado do governo anticomunista, como de outro da guerra de guerrilha, no início do regime militar golpista no Brasil de 1° de abril de 1964 até 1970. Justamente pela ligação estreita que o chamado “guerrilheirismo latino-americano” proliferou na América Latina enfrentando o poder denominado de “Forças Realistas Coloniais Espanholas”.
Ernesto Rafael Guevara de La Serna, reconhecido como Che Guevara, foi um famoso revolucionário do século XX. Argentino, nasceu na cidade de Rosário em 14 de junho de 1928. Faleceu em 9 de outubro de 1967, na aldeia de La Higuera, (Bolívia). Em 1946, a família resolveu mudar para a cidade de Bogotá (Colômbia) onde Che Guevara começou a cursar Medicina na Universidade. Em 1951, seis meses antes de se formar em Medicina, decide iniciar, com Alberto Granado, uma grande viagem pelo continente, de Buenos Aires a Caracas, na bela motocicleta do companheiro, uma Norton 500 cc, fabricada em 1939 e apelidada de La Poderosa ll, começada de moto e terminada a pé, pelas províncias argentinas de Tucumán, Mendoza, Salta, Jujuy e La Rioja, na qual percorreu diversos resorts Andinos. Nessa viagem, Che Guevara começa a compreender a América Latina como uma única entidade econômica e cultural. Do ponto de vista técnico-metodológico, a América Latina compreende a quase totalidade da América do Sul e Central: as exceções são os países sul-americanos da Guiana e do Suriname e centro-americana de Belize e Jamaica, que são países de línguas germânicas. Também engloba alguns países da América Central Insular, países compostos de ilhas e arquipélagos banhados pelo Mar do Caribe, como Cuba, Haiti e República Dominicana. Da América do Norte, apenas o México é considerado como parte da América Latina que engloba 20 países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela.


 Filme: Diários de Motocicleta, 2004.
A América Latina está localizada na totalidade no hemisfério ocidental, cujas linhas imaginárias que atravessam são: o Trópico de Câncer, pelo qual é cortado o centro do México; o Equador, linha imaginária passada no Brasil, Colômbia, Equador e pelo qual perpassa o norte do Peru e o Trópico de Capricórnio, pelo qual são atravessados o Brasil, o Paraguai, a Argentina e o Chile. A América Latina é um complexo cultural das Américas a qual é distribuída irregularmente pelos hemisférios norte e sul, porque a maioria de suas terras é estendida ao sul da Linha do Equador. Na América Latina são comportadas diversas culturas, porque estão misturadas línguas, etnias e costumes. Há predomínio do espanhol como língua dos países da América Latina, com a invasão e conquista das ilhas do Caribe em 1492, se estendeu rapidamente através da América com os colonos procedentes principalmente de Andaluzia e Extremadura, mas também de outras partes da Espanha, que se estabeleceram ali nos séculos XVI e XVII constituindo-se ao redor de 200.000 pessoas nesses primeiros séculos. Hoje é falado por mais de 370 milhões de latino-americanos, mas também o português, francês e, em certas regiões ao norte do continente, inglês e neerlandês. 
Há também muitas e várias nações de línguas nativas, merecendo destaque o quíchua, legado dos Incas e idioma que se fala no Peru, Equador, Bolívia e Argentina. Línguas românicas oficiais na América Latina: português em laranja; espanhol em verde e francês em azul. A etnia dos habitantes da América Latina tem grande variação de país a país. Apesar da intensidade de mestiços, existem algumas nações em que a maior parte dos  habitantes é branca como a Argentina e Uruguai, outras, ungidas no âmbito do processo civilizatório, estudado por Darcy Ribeiro onde quase todos os habitantes são de origem negra, como ocorre no Haiti, República Dominicana, Granada, Bahamas e Barbados e outras, onde está fortemente presente na origem continental o  índio: Peru, Bolívia, México, Equador e Paraguai. Existem países mestiços de verdade: Colômbia e Venezuela e demais como o Brasil, no qual são existentes regiões de população com pequeno predomínio população e de cultura de brancos e demais onde é apresentada maior parte de negros, mestiços, mulatos ou índios.
Tawantinsuyu foi um Estado criado pela civilização Inca, resultado de uma sucessão de civilizações andinas e que se tornou o maior império da América pré-colombiana. A administração política e o centro de forças armadas do império ficavam localizados em Cusco, em quíchua, “Umbigo do Mundo”, no atual Peru. O império surgiu nas terras altas peruanas em algum momento do século XIII. De 1438 até 1533, os incas utilizaram vários métodos, da conquista militar à assimilação pacífica, para incorporar uma grande porção do oeste da América do Sul, centrado na Cordilheira dos Andes, incluindo grande parte do atual Equador e Peru, sul e oeste da Bolívia, noroeste da Argentina, norte do Chile e sul da Colômbia. O nome quíchua do império  Tawantinsuyu, pode ser traduzido como as quatro regiões ou “as quatro regiões unidas”.   

Operação sobre a guerra de guerrilha de Che Guevara.
Antes da reforma ortográfica era escrita em espanhol como Tahuantinsuyo. “Tawantin” é um grupo de quatro partes – “tawa” significa “quatro”, com o sufixo -ntin que nomeia um grupo; “Suyu” significa região ou província. O império foi dividido em quatro “Suyus”, cujos cantos faziam fronteira com a capital, Cusco (Qosqo). Darcy Ribeiro considera esse padrão de organização social, que denomina de “império teocrático do regadio”, semelhante aos formados há mais ou menos dois mil anos na região Mesopotâmia ou às civilizações que se desenvolveram na Índia e China mil anos depois e às civilizações Maias e Astecas na Mesoamérica. Esse tipo de formação imperial caracteriza-se pela tecnologia de irrigação (regadio), desenvolvendo sistemas de engenharia hidráulica, agricultura irrigada com exceção talvez dos Maias que apenas possuíam o domínio do transporte das águas, metalurgia do cobre e bronze, técnicas de construção, notação numérica (“quipos”), escrita ideográfica, no caso dos Astecas e técnicas de comunicação. Devido ao seu governo centralizado, a organização social do império Inca é frequentemente comparada àquela por governos socialistas.
Ernesto Che Guevara percorre algumas minas de cobre, povoações indígenas e leprosarias. De volta à Argentina em 1953 conclui os estudos de Medicina e passa a dedicar-se à política. Em 1953, atuou como repórter fotográfico cobrindo os Jogos Pan-Americanos do México. Ainda em julho de 1953, inicia sua segunda viagem através da América Latina. Nessa oportunidade visita Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Panamá, Costa Rica, El Salvador e Guatemala. Diante da miséria que presenciou em suas viagens, Ernesto Guevara concluiu que a única maneira de acabar com a desigualdade social era promovendo a luta armada. Em sua passagem pela Guatemala, aonde chegou em dezembro de 1953, Che presencia a luta do recém-eleito presidente Jacob Arbenz Guzmán, que liderava um governo socialista, na tentativa de realizar reformas de base e eliminar o latifúndio. As experiências na Guatemala são importantes na sua consciência, com o advento da práxis fora transformada por suas observações empíricas sobre a vida do campesinato indígena expropriado das terras.
José Carlos Mariátegui destacou-se como um dos primeiros e mais influentes pensadores do marxismo latino-americano no século XX. Autor prolífico apesar de sua morte prematura era também conhecido em seu país como El Amauta (do quéchua: hamawt'a, 'mestre'). Seu livro mais conhecido internacionalmente - e um dos dois que publicou em vida - é Sete Ensaios de Interpretação da Realidade Peruana, no qual traçou uma história econômica do Peru sob a perspectiva materialista. Segundo Michael Löwy, “José Carlos Mariátegui é não somente o mais importante e inventivo dos marxistas latino-americanos, mas também um pensador, cuja obra, por sua força e originalidade, tem um significado universal”. Nos 7 Ensayos de Interpretación de la Realidad Peruana, Mariátegui examina a situação econômica e social do Peru, de um ponto de vista marxista. A obra é reconhecida como o primeiro documento de análise da sociedade latino-americana. O livro parte da história econômica do Peru e prossegue apresentando o “problema indígena”, que o autor magistralmente liga ao “problema agrário”. Os demais capítulos são dedicados à educação, à religião, ao atualíssimo tema do regionalismo e à centralização, assim como à literatura. Na mesma obra, José Carlos Mariátegui responsabiliza os proprietários de terras pela condição degradante  econômica do país e pelas condições sociais de vida miseráveis dos indígenas da região. Ao mesmo tempo, observa que o Peru teria ainda numerosas características das sociedades feudais e defende a ideia de que a transição para o socialismo poderia ocorrer através das formas de coletivismo tradicionais, praticadas pelos indígenas.

Che Guevara com os guerrilheiros em solo boliviano.
Che Guevara e Alberto Granado testemunham em primeira mão as injustiças que o rosto destituído e estão expostos a pessoas e classes sociais que eles nunca teriam encontrado de outra forma. Para sua surpresa, a estrada apresenta-lhes tanto uma imagem verdadeira e cativante da identidade latino-americana. Como resultado, a viagem também planta a semente inicial de dissonância cognitiva e radicalização dentro de Guevara, que praticamente veria a revolução armada como forma de combater as desigualdades econômicas endêmicas do continente. Che Guevara era um jovem estudante de medicina que, em 1952, decide viajar pela América do Sul. Eles passam a seguir viagem através de caronas e caminhadas, sempre aproveitando a oportunidade com o objetivo de conhecer novos lugares. Quando chegam a Machu Pichu, a dupla reconhece uma colônia de hanseníase e passam a questionar o progresso da região, que privilegia apenas uma pequena parte da população. 
No ano de 1953, formou-se médico e retornou para a Argentina. Porém, passou a dedicar-se ao mundo da política. Neste mesmo ano, fez uma nova viagem pela Bolívia, Peru, Panamá, Colômbia, Equador, Costa Rica, El Salvador e Guatemala. Após a viagem, conheceu Hilda Gadea, e com ela, teve a primeira filha, Hildita. Em 1954, conheceu, no México, Raúl Castro e logo depois o irmão Fidel Castro. Entrou para o grupo revolucionário de Fidel Castro, que se instalou na região de Sierra Maestra, em 1957. Pretendiam derrubar o governo de Fulgêncio Batista, que era apoiado pelos Estados Unidos da América (EUA), e implantar o socialismo na ilha. Em 1954, no México através de Ñico López, um amigo de guerrilha na Guatemala, ele conhece Raúl Castro que logo o apresentaria a seu irmão mais velho, Fidel Castro. Esse organiza e lidera o movimento guerrilheiro 26 de Julho (M26), em referência ao assalto ao Quartel Moncada, em 26 de julho de 1953, Fidel Castro liderou ataque militar na qual tentava tomar a principal prisão de presos políticos em Santiago de Cuba.
A história oficial narra que são três as mulheres que contam verdadeiramente na vida de Che Guevara: sua mãe, Celia de la Serra y Llosa, é a mulher, uma titã, que mais exerceu influência na vida dele; sobretudo um paradigma no que concerne à resistência física, à obstinação, aos ideais socialistas e à rebeldia, tudo e sempre no afã de rastrear os passos do filho e defende-lo, por cima de paus e pedras, e suas esposas, a peruana Hilda Gadea e a cubana Aleida March. De seus casamentos, Guevara deixou seis filhos. Do primeiro nasceu, em 14 de fevereiro de 1956, Hilda Beatriz Guevara Gadea, que morreu de câncer (1995). Che se separou de sua mãe em 1959; ela morreu em Havana, em 1974. Seu segundo casamento ocorreu com Aleida March, militante do Movimento 26 de Julho, a quem Guevara conheceu em 1958 quando desenvolvia sua ofensiva final sobre o regime de Fulgêncio Batista pouco antes da batalha de Santa Clara.
Tiveram quatro filhos, Aleida (1960), Camilo (1962); Celia (1963) e Ernesto (1965). Che também teve um filho de uma relação extraconjugal com Lidia Rosa López, Omar Pérez, nascido em 1964, que jamais foi reconhecido. A ideologia jornalística de espetacularização da notícia fez o resto: que seu primeiro amor foi uma amiga de infância chamada, Tita Infante, e que Tamara Bunker, Tania, argentina apontada como possível agente dupla a serviço da polícia política KGB e da Stasi, a polícia secreta da extinta Alemanha Oriental, era sua amante e a única mulher que se infiltrou politicamente no quadro do Exército boliviano. Tania morreu na selva, em uma emboscada, em agosto de 1967. Sofria também de câncer de útero. Haviam se conhecido em Cuba, mas Jorge Castañeda e outros biógrafos sugerem a possibilidade de que o primeiro encontro entre ambos tenha sido na RDA, em 1961, quando Che Guevara participou de um encontro de importantes tradutores; também é possível que tenham se visto em Praga, quando Che Guevara lá esteve de forma clandestina.
Eis um trecho da última carta que Aleida March recebeu de Che Guevara, seu marido – “Minha única: aproveito a viagem de um amigo para te enviar algumas palavras; é claro que poderiam ser enviadas pelo correio, mas escolher um caminho extraoficial me parece mais íntimo. Poderia-te dizer que sinto tua falta a ponto de perder o sono”. A carta foi escrita em 2 de dezembro de 1966, na cidade boliviana de Ñancahuazú. E eis também um trecho da carta de despedida de Guevara aos seus filhos, datada de 1965, pouco antes dele partir para a Bolívia. – “A meus filhos. Queridos Hildita, Aleidita, Camilo, Celia e Ernesto. Se algum dia tiver de ler estar carta, será porque não mais estarei entre vocês. Quase não se recordarão mais de mim, e os pequeninos nada lembrarão. O pai de vocês foi um homem que tentou agir de acordo com aquilo que pensa e, garanto-lhes, foi fiel a suas convicções. Cresçam como bons revolucionários. Estudem muito, para que possam dominar a técnica que permite dominar a natureza. Recordem-se de que é a revolução que é importante, e que cada um nós, por si só, nada vale. Sobretudo, sejam sempre capazes de sentir da maneira mais profunda qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. Essa é a mais bela qualidade de um revolucionário. Até sempre, meus filhinhos, espero voltar a vê-los um dia. Um grande beijo e um grande abraço do papai”. Che Guevara faz parte dos 72 homens que partem para Cuba em 1956 com Fidel Castro e dos quais só 12 sobreviveriam. Em seguida eles se instalam nas montanhas da Sierra Maestra de onde iniciam o golpe contra o presidente cubano Fulgêncio Batista, que era apoiado pelos Estados Unidos da América. Sierra Maestra é uma região serrana de Cuba.
           A Sierra Maestra é uma cordilheira que se estende para o oeste em todo o sul da antiga província de Oriente, na atual Província de Guantánamo para Niquero, no sudeste de Cuba, levantando-se abruptamente a partir da costa. Sierra Maestra é a mais elevada cadeia de montanhas de Cuba; sendo rica em minerais, especialmente cobre, manganês, cromo e ferro. No 6.650 pés (1.999 m), o Pico Turquino é o ponto mais alto da cadeia. Essa cadeia de montanhas foi centro de operações e acampamentos dos rebeldes em três guerras de Independência contra a Espanha no século XIX e a guerra revolucionária contra o ditador Fulgencio Batista. Os rebeldes lentamente se fortalecem, aumentando seu armamento e angariando apoio e o recrutamento de inúmeros camponeses, intelectuais e trabalhadores urbanos. Che Guevara toma a responsabilidade de médico revolucionário, mas, em pouco tempo, foi se tornando naturalmente líder e seguido pelos rebeldes. Após a vitória da guerrilha em 1959, Batista exila-se em São Domingos e instaura-se um novo regime em Cuba, de orientação socialista. Mas teria sido a hostilidade dos norte-americanos que levou Fidel Castro ao seu alinhamento estratégico com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Após a vitória dos revolucionários, em 1959 e a implantação do socialismo em Cuba, Che Guevara tornou-se membro ativo do governo cubano de Fidel Castro, exercendo as funções de embaixador, presidente do Banco Nacional e Ministro da Indústria. Em 1961, visitou o Brasil e foi condecorado, pelo presidente populista Jânio Quadros, com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul. Che Guevara acreditava que a revolução contra o imperialismo norte-americano, deveria ser levada para outros países. Lutou na República do Congo (África) e depois na Bolívia, onde estabeleceu a base guerrilheira. Pretendia unificar os países da América Latina sob a bandeira do socialismo e invadir a Argentina. O teritório boliviano é habitado há  mais de 12.000 anos.
  Foram formadas várias culturas nos Andes, destacando-se, especialmente, a cultura Tiwanaku e os reinos Aymaras posteriores à expansão Wari. Estes reinos foram, por sua vez, anexados ao império Inca no século XIII. A cultura Tiwanaku se desenvolveu em torno do centro cerimonial homônimo próximo ao lago Titicaca. A sua fundação ocorreu antes do ano 300. O inca estabeleceu um império antes da colonização dos espanhóis. Durante esse século, a Bolívia esteve habitada por vários grupos de língua aimará, dentre estes, os Collas, Pacajes, Lupacas, Omasuyos, destacando-se os Collas, que dominaram um vasto território e que lutaram com os membros falantes de língua quíchuas de Cuzco pelo controle da região. Os Collas foram derrotados pelo inca Pachacuti, que se apoderou de quase todo o planalto boliviano. A Bolívia constituiu, durante quase um século, uma das quatro grandes divisões do Tahuantinsuyu sob o nome de Collasuyo. Estas civilizações deixaram monumentos arquitetônicos e as línguas aimará e quíchua difundidas no país. A Bolívia é uma República democrática, dividida em nove departamentos. Geograficamente, possui duas regiões distintas, o altiplano a oeste e as planícies do leste, cuja parte norte pertence à bacia Amazônica e a parte sul à Bacia do Rio da Prata, da qual faz parte o Chaco boliviano. É um país com um Índice de Desenvolvimento Humano médio e uma taxa de pobreza que atinge 60% da população. Dentre suas principais atividades econômicas, destacam-se a agricultura, silvicultura, pesca, mineração, e bens de produção como tecidos, vestimentas, metais refinados e petróleo refinado. A Bolívia é rica em minerais, especialmente em estanho. 
A população boliviana, estimada em 10 milhões de habitantes, é multiétnica, possuindo ameríndios, mestiços, europeus, asiáticos e africanos. A principal língua falada é o espanhol, embora o aimará e o quíchua também sejam muito comuns. Além delas, outras 34 línguas indígenas são oficiais. O grande número de diferentes culturas na Bolívia contribuiu para uma grande diversidade social em áreas como a arte, culinária, literatura e música. Provavelmente ainda com pouco conhecimento do território e sem apoio total dos camponeses e do partido comunista boliviano, sua luta tornou-se difícil. O Partido Comunista da Bolívia (PCB) é um partido político na Bolívia. Foi fundado em 1950 por Raúl Ruiz González e outros ex-membros do Partido da Esquerda Revolucionária (PIR). Mas só conseguiu realizar seu primeiro congresso nacional em 1959. Logo após sua fundação foi declarado ilegal pelo governo de Mamerto Urriolagoitia, mesmo assim conseguiu penetrar no movimento operário e foi incluído na liderança da Central Obrera Boliviana (COB) e da Federação Sindical dos Trabalhadores Mineiros da Bolívia (FSTMB) durante os anos 1960. No entanto, manteve-se como força minoritária na maioria dos sindicatos. A ruptura sino-soviética enfraqueceu a influência do Partido Comunista da Bolívia (PCB), em 1964, Ruiz González e militantes se separaram para formar o Partido Comunista da Bolívia de orientação político-ideológica de influência e formação marxista-leninista. Em 1966, o revolucionário argentino Che Guevara planejou iniciar uma importante guerra de guerrilha contra René Barrientos, o ditador militar comandante da Bolívia. O Partido Comunista prometeu o seu apoio, mas não participou na campanha de Ernesto Che Guevara. Que formou uma organização separada, o Exército de Libertação Nacional para a Guerrilha de Ñancahuaz. 
 A Guerrilha de Ñancahuazú, também reconhecida como Ejército de Liberación Nacional de Bolívia (ELN) é o nome frequentemente dado para se referir ao grupo guerrilheiro formado principalmente de bolivianos e guerrilheiros cubanos liderados por Ernesto Che Guevara na Bolívia entre 1966 e 1967. A guerrilha tinha a intenção de funcionar como um foco, um ponto de resistência armada para ser usada como ponto de partida para derrubar o governo boliviano e iniciar uma revolução marxista. A guerrilha derrotou várias patrulhas bolivianas antes de ter sido aniquilada e Che Guevara executado. Apenas cinco guerrilheiros conseguiram sobreviver e fugir para o Chile. Em 1965, foi revelado que Che estava no Congo, onde liderou guerrilheiros que tentaram derrubar o ditador Joseph Mobutu. Com o fracasso da empreitada, ele voltou para Cuba na clandestinidade e arquitetou o plano de criar um foco de guerrilha na Bolívia, onde entrou disfarçado em 1966. O país vivia a ditadura do general René Barrientos, apoiado pelo imperialismo norte-americano. Os Estados Unidos da América forneceram ao Exército boliviano armas e treinamento para ações de contraguerrilha. Um destacamento de 02 (dois) mil homens atacou o grupo de Che Guevara, que foi ferido por um tiro e capturado. No dia 9 de outubro de 1967, após interrogatório, Guevara, aos 39 anos, foi morto com uma rajada de fuzil pelo tenente Mario Terán. Após sua morte, o uso de truculência e vingança ocorreu quando as mãos de Che Guevara foram esquartejadas e enviadas pelo Exército boliviano à Central Intelligence Agency (CIA) para que sua identidade pudesse ser confirmada com a análise das impressões digitais. 



     O local de seu corpo só foi (des)coberto 30 anos depois. Ele estava enterrado em uma vala no meio da selva boliviana, próxima do aeroporto de Vallegrande, cidade fundada em 1612 e com belas construções coloniais, é o ponto inicial da Rota de Che Guevara. Em verdade, soldados do exército boliviano começaram naqueles dias as escavações no Aeroporto de Vallegrande (Bolívia) para exumar de uma fossa comum o que seriam os restos de Ernesto Che Guevara e de quatro companheiros da guerrilha. Os trabalhos foram iniciados pela manhã e continuaram durante toda a tarde. O antropólogo argentino Alejandro Incháurregui comandou a operação para que os restos mortais sejam resgatados sem danos. O lugar foi indicado por dois bolivianos que teriam testemunhado o enterro de Che Guevara em 1967. Hugo San Martin, presidente da comissão civil-militar boliviana designada para investigar o caso, disse que foi um “golpe de sorte” ter encontrado as testemunhas. Uma área de 20 m² da pista de aterrissagem do aeroporto, que tem parte de terra e parte de grama, foi delimitada por Incháurregui para ser escavada. Os guerrilheiros, segundo o antropólogo, teriam sido enterrados a uma profundidade entre 3 e 4 metros. Devido a dureza do terreno, os soldados da Bolívia haviam escavado apenas 20 cm de profundidade, conforme a agência France Presse. O presidente do Estado Plurinacional de Bolívia, Gonzalo Sánchez de Lozada, havia pedido que fosse realizado um enterro católico simbólico. 
         O grupo estabeleceu seu acampamento base em uma fazenda cortada pelo Rio Ñancahuazú, afluente sazonal do Rio Grande, 250 km ao sul da cidade de Santa Cruz.  Foi capturado pelos soldados bolivianos, na selva de La Higuera (Bolívia), em 8 de outubro de 1967. No dia seguinte foi executado. La Higuera é uma pequena aldeia na Bolívia, situada no departamento de Santa Cruz, cerca de 150 km a sudoeste de Santa Cruz de la Sierra. La Higuera está a uma altitude de 1950 metros acima do nível do mar, e a sua população, conforme o censo de 2001 de 119 habitantes, a maioria de povos indígenas de etnia guarani. La Higuera faz parte do município de Pucará. A 8 de outubro de 1967, o guerrilheiro argentino Che Guevara foi ferido e detido pelas Forças Armadas Bolivianas numa ravina próxima da aldeia chamada Quebrada del Churo, aparentemente pondo fim à sua luta libertária na América do Sul. Che Guevara ficou detido na miserável escola de La Higuera que, em 1967, era nada mais uma pequena e deprimente construção de barro e palha onde foi executado no dia seguinte. O corpo foi levado para Vallegrande, onde foi exposto como um típico troféu norte-americano de combate à guerrilha e depois enterrado secretamente na pista do aeroporto. Um monumento a El Che é um memorial na escola representam a memória histórica de La Higuera como a Ruta del Che, que foi inaugurada em 2004. 
Em 2007, o governo de Evo Morales estabeleceu na região da Quebrada del Yuro a chamada Ruta del Che, que permite que estrangeiros sigam os últimos passos heroicos de Che Guevara.  Uma procissão no povoado de La Higuera, nos vales do sudeste do país, onde foi assassinado Ernesto Che Guevara, marcou aquela terça-feira (9/10/2012), na Bolívia, os atos em memória dos 45 anos da morte do lendário guerrilheiro. O ato consistiu na visita de uma delegação de bolivianos e convidados à “Escuelita”, onde Che ficou preso desde 8 de outubro, quando foi detido, até sua morte, um dia depois, pelas mãos de um sargento do Exército, que atirou contra ele à queima-roupa. O ministro boliviano da Cultura, Pablo Groux, o embaixador cubano na Bolívia, Rolando Gómez, o argentino Carlos “Calica” Ferrer, com quem o Che Guevara fez sua segunda viagem pela América Latina na década de 1950, e o boliviano Efraín Quicáñez, autor do livro: Pan Comido, sobre a operação de resgate dos guerrilheiros que acompanhavam Che participaram dos atos públicos em La Higuera e Vallegrande. Em Vallegrande, perto de La Higuera, foi organizada uma visita ao aeroporto local, onde em 1997 foram encontradas ossadas do líder revolucionário, enterrado clandestinamente junto com outros guerrilheiros. A celebração também abriu espaço político para que ex-militares que combateram o revolucionário Ernesto Che Guevara fizessem um ato em Santa Cruz, a 900 km ao leste de La Paz, para pedir atenção do governo esquerdista de Evo Morales a apelos feitos de forma infrutífera há décadas.
Bibliografia geral consultada.

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