Feiras Livres - Trabalho, Subsunção Real & Consumo no Brasil.
Ubiracy de Souza
Braga*
“A vida sem luta é um mar morto no centro do organismo universal”. Machado de Assis
Joaquim
Maria Machado de Assis (1839-1908) foi um notável escritor brasileiro,
considerado por muitos críticos, estudiosos, escritores e leitores o maior renome
da literatura brasileira. Nascido no Morro do Livramento, no centro do Rio de
Janeiro, de uma família pobre, mal estudou em escolas públicas e nunca
frequentou universidade. Escreveu em praticamente todos os gêneros
literários, sendo poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista,
folhetinista, jornalista e crítico literário. Testemunhou a Abolição da
escravatura e a mudança social e política no país quando a República substituiu
o II Reinado, além das mais diversas reviravoltas pelo mundo em finais do
século XIX e início do XX, tendo sido grande comentador e relator dos eventos
político-sociais de seu tempo. Para
o considerado crítico literário norte-americano Harold Bloom, descrito como “provavelmente o crítico literário
anglófono mais famoso do mundo”, considera que Machado de Assis
é o maior escritor negro de todos os tempos, embora outros estudiosos prefiram
especificar que Machado de Assis antropologicamente era mestiço (cf. Ribeiro, 1997), notadamente filho de um descendente de negros
alforriados e de uma lavadeira portuguesa.
Seus biógrafos percebem que,
interessado pela boemia e pela corte, lutou para subir socialmente
abastecendo-se de superioridade intelectual e da cultura da capital brasileira.
Para isso, assumiu diversos cargos públicos, passando pelo Ministério da
Agricultura, do Comércio e das Obras Públicas, e conseguindo precoce
notoriedade em jornais onde publicava suas primeiras poesias e crônicas.
Machado de Assis pôde assistir, durante sua vida, que abarca o final da
primeira metade do século XIX até os anos iniciais do século XX, a enormes
mudanças históricas na política, na economia e na sociedade brasileira e
mundial. Em sua maturidade, reunido a intelectuais e colegas próximos, fundou e
foi o primeiro presidente unânime da Academia Brasileira de Letras. A
extensa e maravilhosa obra machadiana constitui-se de 10 romances, 205 contos, 10 peças
teatrais, 5 coletâneas de poemas e sonetos, e mais de 600 crônicas.
Machado de Assis é considerado o introdutor do realismo no Brasil, com a
publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Este romance é
posto ao lado de todas suas produções posteriores, tais como: Quincas Borba,
Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Aires, reconhecidas como pertencentes à sua segunda fase, em que
notam-se traços de crítica social, ironia e até pessimismo, embora não haja
rompimento de resíduos românticos.
Dessa fase, os críticos destacam que suas
melhores obras são as do que se passou a chamar de “Trilogia Realista”. Sua
primeira fase literária é constituída de obras como Ressurreição, A
Mão e a Luva, Helena e Iaiá Garcia, onde notam-se
características herdadas do Romantismo, ou “convencionalismo”, como prefere a
crítica moderna. Sua
obra foi de fundamental importância para as escolas literárias brasileiras do
século XIX e do século XX e surge nos dias de hoje como de grande interesse
acadêmico e público para entender o Brasil e o mundo. Influenciou grandes nomes
das letras, como Olavo Bilac, Lima Barreto, Drummond de Andrade, John Barth,
Donald Barthelme e muitos outros. Em vida, alcançou fama e prestígio pelo
Brasil e países vizinhos. Hoje em Por sua inovação literária e por sua audácia
em temas sociais e precoces, é frequentemente visto como o escritor brasileiro
de produção sem precedentes, de modo que, recentemente, seu nome e dimensão da
obra têm alcançado diversos críticos, influenciados, estudiosos e admiradores
do mundo inteiro. Machado de Assis é considerado um dos grandes gênios da
história da literatura, ao lado de autores como Dante Alighieri, William Shakespeare e Luís de Camões.
Machado de Assis e Eça de Queiroz, comparativamente, são considerados os dois
maiores escritores da vida cotidiana em língua portuguesa do século XIX. Incluído na lista dos heróis é homenageado pelo principal prêmio literário brasileiro, o Prêmio
Machado de Assis. Os vencedores recebem um valor em dinheiro, um diploma e, desde 1998, um troféu criado pelo escultor Mario Agostinelli - um pequeno busto de Joaquim Maria Machado de Assis.
No dia 25 de agosto comemora-se o Dia do Feirante. O
profissional que trabalha com produtos da agricultura, levando os alimentos até
nossas mesas. A criação da data se deu em virtude da realização da primeira
Feira Livre do Brasil, no ano de 1914, na cidade de São Paulo. Os chacareiros
em sua maioria imigrantes portugueses, não sabiam o que fazer com os produtos
que não haviam sido comercializados nos empórios e quitandas. Com o apoio da
prefeitura, conseguiram vender os produtos que sobravam diretamente
para consumidores, iniciando suas atividades no Largo General Osório.
Washington Luís era o prefeito de São Paulo e foi quem oficializou as feiras
livres no Brasil, a partir do Ato 625. Feiras livres são administradas pela Lei
nº492/84. Etnograficamente os feirantes têm uma vida muito dura, pois
precisam acordar cedo para montar as bancas nas feiras, que costumam atender
a partir das sete horas da manhã. Nas feiras a concorrência é grande, pois
existem várias barracas que vendem os mesmos produtos. Para atrair os clientes,
os feirantes gritam, demonstrando a qualidade de seus produtos ou
através de frases engraçadas, brincando com a freguesia, tornando o ambiente
bem animado. Dentre as frases ilustradas para chamar atenção do
freguês temos: “Moça bonita não paga, mas também não leva”, “Gostoso não é? Pode
experimentar outra vez”, “Aqui é barato, o marido da barata”, “Pega no melão
que aqui ele tá bom”, entre outras. Em 1932, a cidade de São Paulo mobiliza seu maior movimento cívico: a Revolução
Constitucionalista, quando boa parte da população se engaja decisivamente
na guerra contra o “Governo Provisório” de Getúlio Vargas.
Em 1934, com a
reunião de algumas faculdades criadas no século XIX e a criação de outras, é
fundada a Universidade de São Paulo (USP), hoje a maior do Brasil. Outro grande
surto industrial deu-se, durante a Segunda Guerra Mundial, devido à crise na
cafeicultura na década de 1930 e às restrições ao comércio internacional
durante a guerra, o que fez a cidade ter uma taxa de crescimento econômico
muito elevada que se manteve elevada no pós-guerra. Em 1947, São Paulo ganha
sua primeira rodovia asfaltada: a Via Anchieta, construída sobre o antigo
traçado do Caminho do Padre José de Anchieta, liga a capital ao litoral
paulista. Na década de 1950, São Paulo era reconhecida: como a cidade que não pode
parar e; como a cidade que mais cresce no mundo ocidental. São
Paulo realizou uma grande comemoração, em 1954, do “Quarto Centenário” de
fundação da cidade. É inaugurado o extraordinário Parque do Ibirapuera, lançados muitos livros
históricos e descoberta a nascente do rio Tietê, em Salesópolis. Com uma área de 158
hectares (390 acres), entre as avenidas Pedro Álvares Cabral, República do
Líbano e IV Centenário, o Parque Ibirapuera é um parque tombado e patrimônio
histórico de São Paulo. Com a transferência em 1950, de parte do centro financeiro da cidade que fica localizado no “Triângulo Histórico”, para a Avenida Paulista, as suas mansões foram, na sua maioria, substituídas por grandes edifícios.
No período da década de 1930 até a década
de 1960, os grandes empreendedores do desenvolvimento de São Paulo foram o
prefeito Francisco Prestes Maia e o governador do estado de São Paulo Ademar de
Barros, o qual também foi prefeito de São Paulo entre 1957 e 1961. Prestes Maia
projetou e implantou, na década de 1930, o “Plano de Avenidas para a Cidade de
São Paulo”, que revolucionou a comunicação do trânsito de São Paulo. Estes
dois governantes são os responsáveis pelo planejamento, também, pelas duas
maiores intervenções urbanas, depois do Plano de Avenidas, e que mudaram São
Paulo: a retificação do rio Tietê com a construção de suas marginais e do Metrô
de São Paulo: em 13 de fevereiro de 1963, o governador Ademar de Barros e o
prefeito Prestes Maia criaram as comissões (estadual e municipal) de estudos para
a elaboração do projeto básico do Metrô de São Paulo, e destinaram ao Metrô
suas primeiras verbas. No início dos anos 1960, São Paulo já somava quatro
milhões de habitantes. Iniciado a sua construção em 1968, na gestão do prefeito
José Vicente de Faria Lima, o metrô paulistano começou a operar comercialmente
em 14 de setembro de 1974 e em 2016 contava com uma rede de 71,5 km de
extensão e 64 estações distribuídas por 5 linhas, foram
transportados pelo sistema 1,1 bilhão de passageiros.
Além dos produtos alimentícios,
hortifrutigranjeiros, podemos encontrar bancas vendendo vários tipos de
produtos, como doces, farinha, pescados, carnes e linguiças defumadas, deliciosos
pastéis fritos na hora, pequenos utensílios de cozinha, roupas, CDs e DVDs,
além de serviços de consertos de panelas e outros. Normalmente os atendentes
das bancas são membros de uma mesma família. Numa cultura que vai passando de
geração em geração, com o trabalho de plantar, colher e comercializar para
garantir o sustento da família. Um aspecto interessante das feiras livres são
os meninos que alugam carrinhos de mão, para os fregueses não ficarem cheios de
sacolas nas mãos. Pacientemente eles seguem seus clientes, indo de um lado para
outro da feira, até que as compras terminem e recebam pelos serviços. As feiras livres se tornaram uma atividade social e simultaneamente de bairro, moradia etc., que tem no centro a cooperação e economicamente relevante, pois
proporcionam o sustento de várias famílias.
A
palavra feira teve origem na palavra em latim “feria”, que significa “dia santo
ou feriado” e na palavra “freguês”, usada para tratamento dos consumidores de
feira livre. Originou-se também do latim: “filiu ecclesia”, de significado
“filhos da igreja”. Assim, as pessoas ou fiéis aproveitavam as festas
religiosas para se reunirem e para trocarem mercadorias. Na feira livre cotidianamente há
aqueles que a observam, vendo, pechincham e de modo geral sempre procuram algo específico. Bem como há
aqueles que criam laços de afetividade, próximos da amizade que atenua a relação
social do chamado “comerciante-freguês”, o que sustenta em grande parte a tradição de ir à
feira toda semana, comer pastel e tomar caldo de cana, além da variedade e
qualidade dos produtos ali encontrados. A questão é: quem não tem uma história
de identidade e lembrança de uma feira no âmbito alimentar ou religioso?
A
feira livre é uma manifestação da cultura urbana que se mantém apesar do
crescente avanço do desenvolvimento do comércio, pois cada vez mais o
consumidor tem acesso a hipermercados e “sacolões”, inclusive com as compras
virtuais pela via da internet, com todo conforto e comodidade que inclui o
horário flexível e até mesmo facilidades de pagamento. Contudo, desde tempos remotos a feira livre
se mantém viva, analogamente tanto nas pequenas como nas grandes cidades, em todos os bairros,
seja na chamada “periferia” ou em bairros nobres. A feira livre tem caráter
diversificado: circulam pessoas de todos os tipos, sejam vendedores,
compradores ou simples transeuntes, surgindo não apenas o comércio. É ainda um
dos poucos espaços existentes onde há contato direto com a comunidade.
Há
também a característica democrática, já que se encontram todos os tipos de
comerciantes nas feiras, desde o grande feirante, distribuidor de alimentos,
como pequenos produtores que veem nas feiras livres única forma de distribuir
seus produtos, bem como as pessoas que a frequentam, já que a feira é acessível
e frequentada por pessoas de diferentes origens, independente da classe social.
As feiras livres, além dos aspectos culturais de sua tradição, desenvolvimento
e continuidade, com inúmeras características exclusivas, e fundamental
importância inclusive para o abastecimento de comunidades, já que estão
localizadas em diversos bairros dos municípios e das cidades. Ressalte-se ainda
a memória em termos de fundação da cidade (cf. Pazera Jr, 2003) e relevância
social e econômica da feira articulada à venda de produtos de fabricação
própria como objetos artesanais e mesmo de âmbito agropecuários regionais de culturas tradicionais sem utilização de agrotóxicos.
A
divisão do trabalho e propriedade privada são expressões idênticas quando
analiticamente entendemos que numa enuncia-se em relação à atividade do
trabalho o mesmo que na outra se enuncia relativamente ao produto da atividade.
Com a divisão do trabalho está dada, ao mesmo tempo, a contradição entre o
interesse de cada um dos indivíduos ou de cada uma das famílias e o interesse
comunitário de todos os indivíduos que mantêm intercâmbio uns com os outros. Na
verdade este interesse comunitário de modo nenhum existe meramente na
representação do trabalho, como universal, mas antes de mais na realidade, como
dependência recíproca dos indivíduos entre os quais o trabalho está dividido. E
é precisamente por esta contradição do interesse particular e do interesse
comunitário que o interesse comunitário assume uma forma autônoma como Estado,
separado dos interesses reais dos indivíduos e do todo, e ao mesmo tempo como
comunidade ilusória, mas sempre sobre a base real dos laços existentes nos conglomerados de famílias e tribais, de carne e sangue, de língua, de
divisão do trabalho numa escala maior, e demais interesses das classes sociais desde
logo condicionadas pela divisão do trabalho e que se diferenciam e das quais
uma domina todas as outras.
Marx chamava a atenção para o fato da quantidade de trabalho necessário para produzir uma mercadoria variar constantemente ao variarem as forças produtivas do trabalho aplicado. Proporcionalmente quanto maiores são as forças produtivas do trabalho, mais produtos se elaboram num tempo de trabalho dado, e quanto menores são, menos se produzem na mesma unidade de tempo. Daí que quanto maior é a força produtiva do trabalho, menos trabalho se inverte numa dada quantidade de produtos e, portanto, menor é o valor destes produtos. Marx analiticamente restabeleceu o equivalente do valor-trabalho: “estão na razão direta do tempo de trabalho invertido em sua produção e na razão inversa das forças produtivas do trabalho empregado”. O preço de uma mercadoria representa a expressão em dinheiro do valor dessa mercadoria. O valor-trabalho e o bem produzido por seu trabalho estabelece uma razão segundo a qual à mercadoria que requer mais trabalho para ser produzida, deveria corresponder uma maior remuneração do trabalhador que a produz. Este valor situado no preço final do produto traria maior igualdade do preço nas relações de trabalho.
Daqui
resulta que todas as lutas no seio do Estado, não são mais do que as formas
ilusórias em que são travadas as lutas reais das diferentes classes entre si e
também que todas as classes que aspiram ao domínio, mesmo quando o seu domínio,
como é o caso com o trabalhador, condiciona a superação de toda a forma velha
da sociedade e da dominação em geral, têm primeiro de conquistar o poder
político, para por sua vez representarem o seu interesse como o interesse
geral, coisa que no primeiro momento são obrigadas a fazer. Precisamente porque
os indivíduos procuram apenas o seu interesse particular, o qual para eles não
coincide com o seu interesse comunitário. A verdade é que o geral é a forma
ilusória da existência na comunidade. Este é feito valer como um interesse que
lhes é alheio e independente deles, como um interesse geral que é também ele,
por seu turno, particular e peculiar. Ou eles próprios têm de se mover nesta
discórdia, como ocorre entre partidos na democracia. Por outro lado, também a
luta destes interesses particulares, que realmente se opõem constantemente aos
interesses comunitários e aos interesses comunitários ilusórios, torna
necessários a intervenção e o refreamento práticos pelo interesse geral
ilusório como Estado.
E,
finalmente, a divisão do
trabalho social oferece-nos logo o primeiro exemplo de como, enquanto os homens se
encontram na sociedade natural, ou seja, enquanto existir a cisão entre o
interesse particular e o comum, enquanto, por conseguinte, a atividade de
trabalho não é dividida voluntariamente, mas sim naturalmente, a própria ação
do homem se torna para este um poder alheio e oposto que o subjuga, em vez de
ser ele a dominá-lo por meio do saber técnico. E que assim que o trabalho
começa a ser distribuído, cada homem tem um círculo de atividade determinado e
exclusivo que lhe é imposto e do qual não pode sair. Será caçador, pescador,
pastor ou crítico de arte, e terá de continuar a sê-lo se não quiser perder os
meios de sua subsistência. Ao passo que numa sociedade distinta, na qual cada
homem não tem um círculo exclusivo de atividade, se pode adestrar os ramos
que preferir, regular a produção geral e, precisamente desse modo, tornar
possível que se faça hoje uma coisa e amanhã outra, que cace de manhã, pesque
de tarde, crie gado à tardinha, critique depois da ceia, tal como nos aprouver,
sem ter de nos tornar caçador, pescador, pastor ou crítico de arte.
Se a divisão social do trabalho não cumpre outro papel, ela não só não tem caráter moral, coo não se percebe que razão possa ter. Os serviços econômicos que ela pode prestar são pouca coisa em comparação com o efeito moral que ela produz, e sua verdadeira função é criar entre duas ou várias pessoas um sentimento comum de solidariedade social. Como quer que esse resultado seja obtido, é ela que suscita essas sociedades de amigos, e ela as marca com seu cunho sua atividade. O estudo da solidariedade pertence, pois ao domínio da sociologia. É um fato social que só pode ser bem conhecido por intermédio de seus efeitos sociais. Se tantos moralistas e psicólogos puderam abordar a questão, sem seguir esse método, foi porque contornaram a dificuldade. Eles eliminaram do fenômeno tudo o que ele tem de mais especialmente social, para reter apenas o germe psicológico de que é o desenvolvimento. De fato, é certo que a solidariedade, ao mesmo tempo em que é, antes de mais nada, um fato social, depende do nosso organismo individual. Para que possa existir, é preciso que nossa constituição física e psíquica a comporte. Ipso facto, o conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade forma um sistema determinado que tem vida própria; podemos chama-lo de consciência coletiva ou comum. Ela é independente das condições particulares em que os indivíduos se encontram: eles passam, ela permanece.
Entende-se
que motivados pela rotina efervescente do “mundo moderno”, onde as pessoas cada
vez mais exigem conforto, dinamismo e qualidade, torna-se evidente que a feira
livre realmente sofre ameaça dos grandes supermercados,
porém pode-se tratar de um simples princípio da economia - livre concorrência.
Uma vez que a feira livre tem um público aparentemente fiel, além das vantagens
econômicas, ou seja, a diversidade de produtos oferecidos, qualidade e preço. As
feiras livres possuem seus encantos, visto que representam uma sobrevivência
antropológica, econômica e agropecuária durante o surgimento da rede dos
grandes supermercados. Algumas feiras livres demonstram-se enfraquecidas. Outras
permanecem fortes, duradouras e com movimento social e político indicativo de autossuficiência
econômica e de promoção da cultura, da cidadania e principalmente as culturas, tornando-se evento turístico, reforçando a importância sociocultural
da feira livre no Brasil, e de resto no mundo.
A feira livre pode se
transformar, adequar-se aos novos tempos, devendo manter sua tradição e
prestígio de sua identidade, preservando assim sua tradição popular urbana. Mantendo
ainda viva a necessidade da relação humana, a importância social de seus
aspectos como uma manifestação da cultura brasileira e sua diversidade, que
deve de algumas formas serem preservadas. Desta forma, as feiras livres,
enquanto fenômeno cultural tradicional, sobreviverem ao tempo e às investidas
da modernidade é justamente a relação humana de trabalho existente nesse ramo
comercial. A feira exerce um fascínio de consciência nos consumidores, originalmente
com sua magia secular, na forma de reprodução da arte e poesia populares que estão
ligadas a feira. Na própria literatura histórica e pontual encontramos referências sociológicas nos Fenícios,
Egípcios, Romanos e Árabes.
No
caso brasileiro, estabelecer a regulamentação nacional das feiras livres e
propiciar segurança alimentar aos consumidores é objetivo do Projeto de Lei
(PL) 7582/2014, em tramitação na Comissão de Defesa do Consumidor, na Câmara
dos Deputados no Congresso brasileiro. Infelizmente o projeto de autoria do
deputado federal Jorge Tadeu Mudalen (DEM/SP) não pretende assegurar os
direitos de mercado das feiras livres no Brasil. Pois tem como principal finalidade,
controlar politicamente a qualidade dos produtos
comercializados e, além disso, “melhorar os serviços das feiras livres,
consideradas pontos de comércio tradicional”.
Caso torne-se lei os feirantes terão de informar burocraticamente a origem de cada
mercadoria à venda, sem considerar a ação do homem no campo, seu tipo de
inserção como trabalhador assalariado ou produtor rural, assim como identificar
o tipo de produção, se considerada “convencional” ou “orgânica”. Além disso,
deve mencionar a data de produção familiar ou da colheita, como no agronegócio, validade, prazo
para consumo, nível de toxidade do produto, subestimando o produtor.
Na
avaliação do vereador Evaldo Lima (PCdoB), as medidas visam dar mais segurança
sanitária aos consumidores e normas básicas de cuidados com a higiene dos
alimentos. Segundo ele, em qualquer local do mundo, as feiras são patrimônios
culturais e afetivos da região. Por ocorrerem nos dias e locais, ele defende
ser importante a presença do poder estadual para fiscalizar as condições e
permitir que o cidadão usufrua sem riscos à saúde. - “Quero conversar com os
feirantes que serão os mais impactados com a regulamentação, e saber o que
acham. A princípio, somos a favor. O projeto vai dar mais segurança e higiene
aos consumidores, mas precisamos saber dos feirantes, se seremos a favor em sua
integridade ou se aperfeiçoamos o projeto em algo”. As feiras livres
destinam-se à venda, exclusivamente a varejo, de alimentos “in natura”, de produtos
oriundos de estabelecimentos comerciais e industriais, de gêneros alimentícios,
produtos artesanais, naturais e agrícolas. O PL Nº 7586/2014 busca estipular
inspeções sobre a qualidade dos produtos e também dos preços fixos cobrados
pelas mercadorias.
A
história social sobre o desenvolvimento de Feira de Santana no estado da Bahia - lastbutnotleast - já se tornou conhecida por grande parte de pesquisadores. O desenvolvimento do que representa o sítio
urbano de Feira de Santana, sua expansão e domínio econômico é creditado a um
povoado surgido em uma das fazendas que se originou no processo de venda da
sesmaria pelos herdeiros de João Peixoto Viegas. Esta fazenda, chamada Santana
dos Olhos d´Água, situada ao sul de São José das Itapororocas, estava inserida
no caminho das boiadas que saía do sertão em direção ao Recôncavo e à Salvador
e pertencia ao casal Domingos Barbosa de Araújo e Ana Brandão. Santana é um
nome tradicional de família, originário da Península Ibérica (Portugal e
Espanha), além da Itália. A versão portuguesa do nome deriva de homenagem à mãe
da Virgem Maria, Santa Ana ou Hannah (em hebraico), de acordo com os relatos etnográficos
religiosos. Na tradução do hebraico, “Hannah”, significa “cheia de graça” ou “abençoada”.
Alguns estudiosos na historiografia, sociologia ou geografia acreditam que se trata de origem toponímica, onde as
primeiras famílias que adotaram Santana em referências
geográficas com este nome de origem religiosa.
Um
traslado de Escritura de Dote e Doação das Terras de Sant´Anna datada em 28 de
setembro de 1732 registrou que os proprietários da fazenda cederam uma área composta
por 100 braças de terra. Localizada no lugar denominado Alto da Boa Vista, para
a construção de uma capela dedicada ao orago de senhora Santana e São Domingos.
Possuindo diversas nascentes d´água, “a fazenda passou a servir como ponto de
descanso para muitas tropas sertanejas que conduziam gado”. Gradativamente, o
costume de fazer da fazenda um local próprio para descanso favoreceu o
surgimento de uma feira, onde vários
gêneros alimentícios, e mesmo o gado eram consignados aos tropeiros. Algumas
pessoas que iam comercializar ou adquirir gêneros se estabeleceram em
definitivo, crescendo o povoado que se formava próximo à capela da fazenda. A
fama que aos poucos adquiriu a feira desenvolvida na fazenda Sant´Anna dos
Olhos D´Água chegou, nas primeiras décadas do século XIX, a competir em importância
com a feira de Capoame, atual Santo Amaro do Ipitanga, ainda que esta se
encontrasse há oito léguas de Salvador e da feira de Nazaré, ao sul da Baía de
Todos os Santos.
A
feira surgida na fazenda de Domingos Barbosa e Ana Brandão viria a ofertar a
toponímia do local. Dizia-se na época: vou à feira de Sant´Anna dos Olhos
d´Água ou simplesmente vou à feira de Sant´Anna. Não durou muito tempo para a
população aceitar e consagrar tal termo. Não haveria nome tão carregado de
historicidade para batizar o local, pois se referia à santa de devoção dos
proprietários da fazenda que originou o povoado que por sua vez deu nome à
feira dali originada. Tamanha expressão da feira de gado do município fez com que
as autoridades extinguissem em 1839 este comércio na feira de Capoame, dando
exclusividade ao de Feira de Santana que se destacou economicamente, ultrapassando
algumas cidades de ocupação e exploração mais secular, como as localizadas no
Recôncavo, Litoral Sul e Sertão Baiano. A comercialização do gado chegou a
estar entre as primeiras de todo o Norte e Nordeste a partir de 1920. A
produção agrícola de milho, feijão, fumo e mandioca destes distritos
movimentavam sobremaneira a economia local. Na segunda metade do século XX o
município se consolida, depois de Salvador, como o segundo mais importante do Estado.
Mudaram-se a paisagem entre o rural e urbano empreendendo naquele pedaço do sertão
da Bahia um novo modo de vida entre os agentes sociais. A cotidianidade do município
tem-se permeado entre estratégias, acordos e conflitos.
Bibliografia geral consultada.
MENEZES, Vicente de Paula Lima, As Feiras-Livres em Fortaleza - Retrato da Polissemia Urbana.
Dissertação de Mestrado em Geografia. Fortaleza: Universidade Estadual do
Ceará, 2005; TAKAGI, Maya, A Implantação da Política de Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil: Seus Limites e Desvios. Tese de Doutorado. Instituto de Economia. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2006; CASTRO e ALMEIDA, Shirley Patrícia Nogueira de, Fazendo a Feira: Estudo das Artes de Dizer,
Nutrir e Fazer Etnomatemático de Feirantes e Fregueses da Feira Livre do Bairro
Major Prates em Montes Claros - MG. Dissertação de Mestrado. Programa de
Pós-Graduação em Desenvolvimento Social. Universidade Estadual de Montes
Claros, 2009; DURKHEIM, Émile, DaDivisão do Trabalho Social. 4ª edição
São Paulo: Editora Martins Fontes, 2010; MONDANEZ, Leila, Aceitação de Alimentos Irradiados: Uma Questão de Educação. Tese de Doutorado. Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares. São Paulo: Autarquia Associada à Universidade de São Paulo, 2012; CALADO, Lenita Maria Rodrigues, Era uma feira aonde a gente ia de chinelo:
Campo Grande e sua Feira Livre Central. Dourados: Mato Grosso do Sul:
Editora da Universidade Federal da Grande Dourados, 2013; COSTA, Nelson Nery, Políticas de Consumo: Movimento Social de Defesa do Consumidor no Brasil. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas. São Luís: Universidade Federal do Maranhão, 2014; RAMOS, Camila Irigonhé, Frutas,
Legumes e Verduras nas Feiras-Livres de Pelotas e sua Contribuição na Segurança
Alimentar e Nutricional. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação
em Nutrição e Alimentos. Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Pelotas,
2015; FREITAS, Leonardo Buissa,
Tributação sobre o Consumo no Estado Federal, Indução Econômica e Integração.
Tese de Doutorado. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2016; BRITO, Dante Ponte
de, Publicidade Subliminar na Internet: Identificação e Responsabilização
nas Relações de Consumo. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em
Direito. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2016; entre outros.
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