sábado, 8 de fevereiro de 2025

Fiéis – Atração Fatal, Luxúria, Confissão & Mortes em Derrapagens.

                            “Fui um homem afortunado; na vida nada me foi fácil”. Sigmund Freud

          Fiéis é um filme holandês de suspense de 2023, disponível na Netflix. O filme narra a história íntima de “duas amigas casadas que levam vidas secretas e usam uma a outra como álibis”. A narrativa conta com as extraordinárias atuações de Bracha van Doesburgh, Elise Schaap e Nasrdin Dchar. O filme foi dirigido por André Van Duren, nascido em 20 de junho de 1958, é um diretor de cinema holandês. Ele dirigiu vários filmes que ganharam o prêmio Golden Film de sucesso de bilheteria. Seu filme Heading for England, de 1992, ganhou o Prêmio da Crítica de Cinema Holandês no Festival de Cinema da Holanda. Em 2000, dirigiu o filme Mariken, baseado no livro infantil Mariken, de Peter van Gestel (1937-2019), que por sua vez é baseado no ensaio do início do século XVI: Mariken van Nieumeghen. O filme ganhou o Prêmio do Público no Festival Cinekid. Mariken também ganhou o Prêmio do Júri Adulto no Festival Internacional de Cinema Infantil de Chicago de 2001. Por fim, o filme também ganhou o Prêmio do Público no Festival de Cinema da Holanda de 2001. Em 2011, dirigiu o filme The Gang of Oss que recebeu o prêmio Golden Film. Em 2016, o filme The Fury ganhou vários prêmios Golden Calf: Hannah Hoekstra ganhou o prêmio Golden Calf de Melhor Atriz por seu papel no filme e Anneke Blok ganhou o prêmio Golden Calf de Melhor Atriz Coadjuvante. O filme é baseado no livro homònimo de AF Th. van der Heijden. Van Gestel estreou em 1962 com Drempelvrees, uma coleção de contos. Ele recebeu o Reina Prinsen Geerligsprijs por este livro. 

       Em 1976, publicou o livro Ver van huis sob o pseudônimo de Sander Joosten. Estreou na literatura infantil com Schuilen onder je schooltas em 1979. Recebeu o prêmio Vlag en Wimpel por este livro. Recebeu o Nienke van Hichtum-prijs 1987 por seu livro Ko Kruier en zijn stadsgenoten (1985) com ilustrações de Peter van Straaten. Por seu livro infantil Winterijs, ganhou o Woutertje Pieterse Prijs 2002, bem como o prêmio Gouden Griffel 2002 e o Nienke van Hichtum-prijs 2003. Não é por acaso que ele se tornou o primeiro a receber esses três prêmios por um único livro (cf. Ricoeur, 2000; Koury, 2009). Winterijs narra a história social de uma criança de dez anos que vive em Amsterdã no inverno de 1947 e desenvolve uma amizade com um garoto judeu. A história é inspirada na amizade do irmão de van Gestel com um garoto judeu quando ambos também tinham dez anos. Van Gestel não considera o livro uma autobiografia, mas reconhece que “há muitas semelhanças entre os personagens e as pessoas de sua juventude”. Em 2006, ganhou o Theo Thijssen-prijs por toda a sua obra. Em 1986, adaptou para a televisão o livro Het wassende water (1925) escrito por Herman de Man (1898-1946). A ideia de adaptar o livro para a televisão surgiu da experiência de van Gestel como dramaturgo da peça radiofônica de Anton Quintana (1937-2017), também baseada no mesmo livro. Van Gestel escreveu a história do filme Een dubbeltje te weinig de 1999 e co-escreveu a história do filme Richting Engeland de 1992 com Willem Wilmink (1936-2003). Ambos os filmes foram dirigidos por André van Duren. Em 1997, ele adaptou o texto holandês medieval tardio Mariken van Nieumeghen para o livro infantil Mariken. Ele recebeu o prêmio Gouden Uil 1998 por este livro e a história foi usada para o filme Mariken de 2000. Van Gestel co-escreveu o roteiro do filme com Kim van Kooten, atriz e roteirista holandesa.

        Adrianus Franciscus Theodorus van der Heijden nasceu em 1951, em Geldrop, Holanda. Analogamente é um dos mais importantes e premiados autores holandeses. Van der Heijden estudou psicologia e filosofia em Nijmegen. Depois de se mudar para Amsterdã, ele começou a desenvolver a escrita. Seus dois primeiros livros apareceram sob o pseudônimo de Patrizio Canaponi: a coleção de contos Een gondel in de Herengracht (“A Gondola in the Herengracht”, 1978, Prêmio Anton Wachter, 1979) e o romance De draaideur (“A Porta Giratória”, 1979). Van der Heijden começou então a publicizar em seu próprio nome na década de 1980. Van der Heijden ganhou muitos prêmios, incluindo todos os grandes prêmios literários holandeses: o Prêmio PC Hooft de 2013 por toda a sua obra, o Libris Literatuur Prijs de 2012 para Tonio, e o AKO Literatuurprijs de 2007 para Het schervengericht e o AKO Literatuurprijs de 1997 para Onder het plaveisel het moeras. Alguns dos livros de Van der Heijden foram traduzidos para alemão, russo, finlandês, sueco, espanhol e búlgaro. Van der Heijden, ou AFTh., como é chamado entre os amantes de livros, é mais reconhecido por sua saga multi-romance De tandeloze tijd (“O Tempo Banguela”) sobre seu alter ego Albert Egberts. A saga descreve sua juventude em Geldrop, seus dias de estudante em Nijmegen e sua vida depois em Amsterdã nas décadas de 1970-1980. Em 2003 iniciou uma nova saga literária e cinematográfica: Homo Duplexa estabilidade e a descoberta entre personagens das tragédias gregas em um cenário contemporâneo. É pari passu um município e cidade na província da Guéldria, no Leste dos Países Baixos, próximo à fronteira com a Alemanha. É considerada a cidade mais antiga do país e comemorou o seu 2000º aniversário em 2005.

                                               

André Van Duren também dirigiu o suspense Faithfully Yours de 2022. O filme ganhou o prêmio Golden Film após vender 100.000 ingressos. O cinema é um artefato cultural criado por determinadas culturas que nele se refletem e que, por sua vez, as afetam. É uma arte poderosa, de entretenimento popular e, destinando-se a educar ou doutrinar, pode tornar-se um método eficaz de influenciar os cidadãos. É a imagem animada que confere seu poder de comunicação universalmente. Dada a grande diversidade de línguas existentes, é pela dublagem ou pelas legendas, que traduzem o diálogo per se noutras línguas, em que os filmes se tornaram mundialmente reconhecidos. O Golden Film tem como representação social um prêmio de cinema que reconhece os filmes que mais venderam ingressos no país. Como um país da Europa Ocidental, os Países Baixos tiveram uma introdução precoce na Sétima Arte, semelhante aos países vizinhos, apresentado como uma forma de entretenimento com a projeção de filmes estrangeiros. Nos primeiros meses de 1896 Gestoorde hengelaar, o primeiro filme de ficção holandês, realizado por MH Laddé (1866-1932), um fotógrafo e diretor de cinema holandês. Ele foi o diretor do primeiro filme de ficção holandês tornando-se o primeiro longa-metragem holandês. Anos depois, Willy Mullens se tornou um dos cineastas mais importantes da história de seu país por suas técnicas pioneiras e seu filme de comédia a desventura de cavalheiro francês sem calças na praia de Zandvoort (1905), o filme Holandês mais antigo que se preserva. É concedido pelo Netherlands Film Festival e pelo Netherlands Film Fund. O Golden Film foi criado em 2001. 

O prêmio era concedido a filmes que vendessem 75 mil ingressos. Em 2003, o critério foi alterado para 100 mil ingressos vendidos. O Golden Film tem como objetivo aumentar a atenção do mercado da mídia para os filmes holandeses. Para cada filme premiado, são entregues dois troféus: um para a equipe de produção e outro para o elenco. Na história social do filme Fiéis: Bodil Backer (Bracha van Doesburgh) e Isabel Luijten (Elise Schaap) são duas amigas casadas que levam vidas íntimas secretas. As duas amigas têm “escapadas sexuais” na Bélgica e usam uma à outra como álibis. Quer dizer, representa a defesa que o réu apresenta quando pretende provar que não poderia ter cometido o crime por exemplo, por encontrar-se em local diverso daquele em que o crime de que o acusam foi praticado. Ipso facto, Isabel desaparece de forma misteriosa e tudo indica que tenha ocorrido um crime. Os maridos vão até à Bélgica e Bodil tem de lidar com as suas mentiras. Isabel aparece viva no aeroporto e explica que decidiu forjar a própria morte para se livrar de Luuk e começar uma nova vida com Yara. O longa-metragem narra a rotinização de mentiras de duas amigas casadas e infiéis em seus relacionamentos. Além dos momentos de suspense e assassinatos, Fiéis não dispensa as cenas de sexo e demonstra os casos extraconjugais das protagonistas.

A relação sexual converte-se então no desejo de estar no corpo do outro, um viver e um ser vivido por ele numa fusão de corpos que se prolonga como ternura por suas fraquezas, suas ingenuidades, seus defeitos e imperfeições. Não importa mesmo quem seja essa pessoa, pois na paixão nasce uma força terrível que nos leva à fusão e nos torna insubstituíveis, únicos um para o outro. O ente amado se converte naquele que não pode ser senão ele - o absolutamente especial. E isso acontece mesmo contra a nossa vontade, e apesar de acreditarmos por algum tempo que podemos viver sem ele, e que podemos encontrar essa mesma felicidade em outra pessoa qualquer. Mas não ocorre bem assim. Basta uma breve separação para termos a certeza de que este amado é portador de algo inconfundível, algo que sempre nos faltou, que se revelou através dele e que sem ele não podemos encontrar de novo, enfim, que represente simbolicamente a diversidade e a unicidade de quem amamos. Os fatos sociais por si mesmos, só aparentemente nos demonstram que nossa sexualidade de manifesta de maneira comum, quotidiana e de maneira extraordinariamente, afetiva, descontínua. A sexualidade se transforma no meio em que in statu nascendi a vida explora fronteiras, os horizontes do imaginário individual e coletivo e, evidentemente, através da natureza humana, mas o que é revelador, acidental ou não, é que estamos diante de um estado nascente.

Essa sexualidade, segundo Alberoni (2010) está vinculada à inteligência e à fantasia, ao ardor, à paixão propriamente dita; enfim, está em estado de fusão com tudo isso que está ao nosso redor. Mas a sua natureza é de subverter, transformar, romper os laços exteriores. E Eros é uma força revolucionária, ainda restrita a duas pessoas. Por isso mesmo, não se pode direcionar a sexualidade extraordinária de acordo com o nosso desejo, visto que ela determina nossos ciclos vitais ou tentativas de mudança, e por essa razão é perigosa. Apesar de a sexualidade ser para nós uma aspiração permanente e uma fonte constante de nostalgia, temo medo dela. Para nos defendermos do medo de amar, usamos a mesma palavra para indicar o Eros e a sexualidade quotidiana, ou seja, o comer e o beber do sexo sobre o qual fazemos pesquisas demoscópicas para descobrirmos em geral quase as mesmas coisas que já sabemos, mas que nos tranquilizamos porque nos revelam que também os outros vivem os mesmos sofrimentos humanos diante de nosso quotidiano. No enamoramento, a pessoa mais simples e limitada vê-se obrigada, para se exprimir, a usar a linguagem da poesia, da sacralidade e do mito em torno do humano. É assim, porque na sacralidade do mito também nasceram da experiência extraordinária que é o fato social normalizado de diversos movimentos. O enamoramento desafia as instituições de seus fundamentos de valor. Sua natureza reside em não ser um simples desejo, ou capricho pessoal, mas um portador de projetos e criador de instituições sociais. Medologicamente determinar o sexo seria, segundo Foucault (1984), a partir desse momento, mais difícil e mais custoso.

       

 Como se, para dominá-lo no plano real, tivesse sido necessário, primeiro, reduzi-lo ao nível da linguagem, controlar sua livre circulação no discurso, bani-lo das coisas ditas e extinguir as palavras que o tornam presente de maneira demasiado sensível. Dir-se-ia mesmo que essas interdições temiam chama-lo pelo nome. Sem mesmo ter que dizê-lo, o pudor moderno obteria que não se falasse dele, exclusivamente por intermédio de proibições que se completam mutuamente: mutismos que, de tanto calar-se, impõe o silêncio. Censura. Novas regras de decência, sem dúvida alguma, filtraram as palavras: polícia dos enunciados. Controle também das enunciações: definiu-se de maneira muito mais estrita onde e quando era possível falar dele; em que situações, entre quais locutores, e em que relações sociais; estabeleceram-se, assim, regiões, senão de silêncio absoluto, pelo menos de tato e discrição: entre pais e filhos, ou educadores e alunos, patrões e serviçais. É quase certo ter havido uma economia restritiva que se integra nessa política da língua e da palavra – por assim dizer, numa dialética espontânea por um lado e deliberada por outro – que acompanhou as redistribuições da época clássica.  Em compensação, no nível dos discursos e seus domínios, o fenômeno é quase inverso. Sobre o sexo, os discursos – discursos específicos, diferentes tanto pela forma como pelo objeto – não cessaram de proliferar: uma fermentação discursiva que se acelerou a partir do século XVIII. 

Mas o essencial é a multiplicação dos discursos sobre o sexo no próprio campo abstrato do exercício de poder: incitação institucional a falar do sexo e a falar dele cada vez mais; obstinação das instâncias do poder a ouvir falar dele e a fazê-lo falar ele próprio sob a forma da articulação explícita em torno de sua evolução da pastoral católica e do sacramento da confissão, depois do Concílio de Trento (1545-1563) e do debate acumulado. Cobre-se, progressivamente, a nudez real das questões que os manuais de confissão da Idade Média formulavam e grande número daquelas quer eram correntes no século XVII. Evita-se entrar nessa enumeração que, durante muito tempo, alguns, como Sanchez ou Tamburini, autores de manuais do confessor, acreditavam ser indispensável para que a confissão fosse completa: posição respectiva dos parceiros, atitudes tomadas, gestos, toques, momento exato em sua própria execução. A discrição é recomendada cada vez com mais insistência. Quanto aos pecados contra a pureza é necessária a maior reserva. O sexo, a nova pastoral, não deve ser mencionado sem prudência; mas seus aspectos, suas correlações, seus efeitos ser seguidos até às mais finas ramificações: uma sobra num devaneio, uma imagem expulsa com demasiada lentidão, uma cumplicidade mal afastada entre a mecânica do corpo e a complacência do espírito: tudo deve ser ditoUma dupla evolução tende a fazer, da carne, a origem dos pecados e a deslocar o momento mais importante do ato em si para a inquietação do desejo, tão difícil de perceber e formular; pois que é um mal que atinge todo o homem e sob as mais secretas formas. 

Um discurso obediente e atento deve, portanto, seguir todos os seus desvios, a linha de junção do corpo e da alma: ele revela, sob a superfície dos pecados, a nervura ininterrupta da carne. Sob a capa de uma linguagem que se tem o cuidado de si de depurar de modo a não o mencionar diretamente, o sexo é açambarcado e como que encurralado para um discurso que pretende não lhe permitir obscuridade nem sossego. De acordo com Foucault, é aí que ocorre, e pela primeira vez se impõe, sob a forma de uma constrição geral, essa injunção tão peculiar ao Ocidente moderno. Mas não se trata de confessar as infrações às leis do sexo, como exigia a penitência tradicional; porém de tarefa, quase infinita, de dizer, de se dizer a si mesmo e de dizer a outrem, o mais frequentemente possível, tudo o que possa se relacionar com o jogo dos prazeres, sensações e pensamentos inumeráveis que, através da alma e do corpo tenham alguma afinidade com o sexo. Este projeto de uma “colocação do sexo em discurso” formara-se há muito tempo, numa tradição ascética e monástica. O século XVIII fez dele uma regra para todos. Dir-se-á que, de fato, só poderia se aplicar a uma elite mínima; a massa dos fiéis que só frequentavam a confissão raras vezes por ano escapava a prescrições tão complexas. Sem dúvida, o importante é que esta obrigação era fixada, pelo menos como ponto ideal para todo bom cristão. Coloca-se um imperativo: não somente confessar os atos contrários à lei, mas procurar fazer der seu desejo, um discurso. Se for possível, nada deve escapar a tal formulação, mesmo que as palavras empregadas devam ser cuidadosamente neutralizadas. A pastoral cristã inscreveu, como fundamental, a tarefa de fazer passar tudo o que se relaciona com o sexo pelo crivo interminável da palavra. 

A interdição de certas palavras, a decência das expressões, todas as censuras do vocabulário poderiam muito bem ser apenas dispositivos secundários com relação a essa grande questão sobre a qual reside a sujeição: melhor dizendo, as maneiras de torná-la moralmente aceitável e tecnicamente útil. No final das contas, per se também a pastoral cristã procurava produzir efeitos específicos sobre o desejo, pelo simples fato de colocá-lo integral e aplicadamente me discurso: efeitos de domínio e de desinteresse sem dúvida, mas também, efeito de reconversão espiritual, de retorno a Deus, efeito físico de dores bem-aventuradas por sentir no seu corpo as ferroadas da tentação e o amor que lhe resiste. O essencial é bem isso: que o homem ocidental há três séculos tenha permanecido atado a essa tarefa social que consiste em dizer tudo sobre seu sexo; que, a partir da época clássica, tenha havido majoração constante e uma valorização cada vez maior do discurso sobre o sexo; e que se tenha esperado desse discurso, cuidadosamente analítico, efeitos múltiplos de deslocamento, de intensificação, de reorientação, de modificação sobre o próprio desejo. Não somente foi ampliado o domínio do que se podia dizer sobre o sexo e foram obrigados os homens a estendê-lo cada vez mais; mas, sobretudo, focalizou-se o discurso no sexo, através de um dispositivo completo e de feitos variados que não se pode esgotar na simples relação com uma lei de interdição.

A pergunta é: censura sobre o sexo? Pelo contrário, constituiu-se uma aparelhagem para produzir discursos sobre o sexo, cada vez mais discursos, susceptíveis de funcionar e de serem efeito de sua própria economia. Essa técnica talvez tivesse ficado ligada ao destino da espiritualidade cristã ou à economia dos prazeres individuais, senão tivesse sido apoiada e relançada por outros mecanismos. Essencialmente, por um “interesse público”. Não uma curiosidade ou sensibilidade coletiva; não uma nova mentalidade. Mas por mecanismos de poder e funcionamento o discurso sobre o sexo – por razões às quais será preciso retornar – passou a ser essencial. Deve-se falar de sexo, e falar publicamente, de uma maneira que não seja ordenada em função de uma demarcação entre o lícito e o ilícito, mesmo se o locutor preservar para si a distinção é para mostrá-lo que servem essas declarações solenes e liminares; cumpre falar do sexo como de uma coisa que não se deve simplesmente condenar ou tolerar, mas gerir, inserir em sistemas de utilidade, regular para o bem de todos, fazer funcionar segundo um padrão ótimo. O sexo não se julga apenas, administra-se. Sobreleva-se ao poder público; exige procedimentos de gestão; deve ser assumido por discursos analíticos. Mas no sentido pleno e forte que se atribuía então a essa palavra – não como repressão da desordem e sim como majoração ordenada das forças coletivas e individuais:  - Fortalecer e aumentar, pela sabedoria dos seus regulamentos, a potência interior do Estado e, como essa potência consiste não somente na República, e em cada um dos membros que a compõem, mas ainda nas faculdades e talentos de todos aqueles que lhe pertencem, segue-se que a polícia deve ocupar-se inteiramente desses meios e fazê-los servir à felicidade pública. Ela só pode atingir esse objetivo através do reconhecimento que possui dessas diferentes vantagens. Polícia do sexo: isto é, necessidade tecnicamente de regular o sexo por meio de discursos úteis e não pelo rigor da proibição. 

É verdade que já há muito tempo se afirmava que um país devia ser povoado se quisesse ser rico e poderoso. Mas é a primeira vez em que, pelo menos de maneira constante, uma sociedade afirma que seu futuro e sua fortuna estão ligados não somente ao número e à virtude dos cidadãos, não apenas às regras sociais de casamentos e à organização familiar, mas à maneira como cada qual usa seu sexo. Passa-se das lamentações rituais sobre a libertinagem estéril dos ricos, dos celibatários e dos libertinos, para um discurso onde a conduta sexual da população é tomada, ao mesmo tempo, como objeto de análise e alvo de intervenção; passa-se das teses maciçamente populacionistas da época mercantilista, às tentativas de regulação mais finas e bem calculadas, que oscilarão, segundo os objetivos e as urgências, me direção natalista ou antinatalista. Através da economia política da população forma-se toda uma teia de observações sobre o sexo. Surge a análise das condutas sexuais, de suas determinações e efeitos, nos limites entre o biológico e o econômico. Aparecem também as campanhas sistemáticas que, à margem dos meios tradicionais – exortações morais e religiosas, medidas fiscais – tentam fazer do comportamento sexual dos casais uma conduta econômica e política deliberada. Os racismos dos séculos XIX e XX encontrarão nelas alguns de seus pontos de fixação. Que o Estado saiba o que se passa com o sexo dos cidadãos e o uso que dele fazem e, também, que cada um seja capaz de controlar sua prática. Não queremos perder de vista que entre o Estado e o indivíduo o sexo tornou-se objeto de disputa, e de disputa pública; toda uma teia de discursos, de saberes, de análise e de injuções o investiram.

Ipso facto, ocorre com a representação social historicamente condicionada com a mediação da sexualidade das crianças. A nossa sexualidade urbana, cristã, pequeno-burguesa é composta de sentimentos e emoções. Através da linguagem corporal se comunicam socialmente sentimentos de afeto, carinho e ternura. O contato corporal não só ajuda a preparar o organismo para a relação coital, mas tem sentido em si mesmo, enquanto expressa cuidado, atenção e desejo de agradar a outra pessoa amada. Esses momentos de comunicação íntima precisam ser preparados na vida cotidiana através de relações sociais em que predominam a atenção, a disponibilidade, a compreensão e o serviço. Daí em diante muito acontecimentos envolvem o casal e as pessoas do entorno vão nos conquistando cada vez mais. É bem verdade que podemos pensar nas diversas coisas que o protagonista poderia fazer com tais poderes. Mas não é a consciência do próprio sujeito que neste sentido passa a atribuir significado ao espaço/tempo no qual está inserido. A vida ganha uma dimensão de responsabilidade para com a condução do destino da espécie humana, bem como com relação ao domínio da natureza em suas várias formas de manifestação.  O tempo que as separa equivale a várias gerações e ultrapassa a capacidade da memória individual e coletiva. Ou seja, as unidades de geração desenvolvem perspectivas, reações e posições políticas e afetivas diferentes em relação a um mesmo determinado problema. O nascimento em um contexto social idêntico, mas em um período específico, faz surgirem diversidades nas ações de percepção dos sujeitos. A oposição entre sujeição e liberdade, cosmos e microcosmos ou existência e vigília. As superstições não mais como objetos, e sim na representação de símbolos, como expressão de um temperamento ou índole interna de uma alma. 

Mas não se trata de algo doentio que no caso de Parkinson é degenerativa crônica do sistema nervoso central que afeta principalmente a coordenação motora. Os sintomas vão-se manifestando de forma lenta e gradual ao longo do tempo. Na fase inicial da doença, os sintomas mais óbvios são tremores, rigidez, lentidão de movimentos e dificuldade em caminhar. Podem também ocorrer problemas de raciocínio e comportamentais. Nos estádios avançados da doença é comum a presença de demência. Estatisticamente cerca de 30% das pessoas manifestam depressão e ansiedade. Entre outros possíveis sintomas estão problemas sensoriais, emocionais e de perturbações do sono. O conjunto dos principais sintomas ideológicos a nível motor denominam-se “Parkinsonismo”, ou “síndrome de Parkinson”. Embora se desconheça a causa exata da doença, acredita-se que envolva tanto fatores genéticos como fatores ambientais. As pessoas com antecedentes familiares da doença apresentam um risco superior de vir a desenvolver Parkinson. Existe também um risco superior em pessoas expostas a determinados pesticidas e entre pessoas com antecedentes de lesões na cabeça. O risco é menor entre fumadores e consumidores de café e chá. Não existe cura para a doença. O tratamento destina-se a melhorar os sintomas. O tratamento inicialmente consiste geralmente na administração do medicamento antiparkinsônico levodopa, podendo ser usados agonistas da dopamina assim que a levodopa se torna menos eficaz.

Os Países Baixos são um país densamente povoado que é reconhecido por seus moinhos de vento, tulipas, tamancos, cerâmica de Delft, queijo gouda, artistas visuais, bicicletas e, além disso, pelos valores tradicionais e virtudes civis, tais como a sua tolerância social, tendo se tornado conhecido por sua política liberal em relação as drogas, prostituição, eutanásia e aborto. É um dos países com melhor qualidade de vida do mundo, fator pelo qual possui um dos melhores Índices de Desenvolvimento Humano da Europa e do mundo, segmentado em sua forte política de assistência social e direitos considerados essenciais, como educação, saúde e segurança de qualidade, garantidos em nível máximo a seus habitantes. O país possui uma das economias capitalistas mais livres do mundo, na 13ª posição entre 180 países de acordo com o Índice de Liberdade Econômica em 2019. Geograficamente, os Países Baixos são um país de baixa altitude, com cerca de 27% de sua área e 60% de sua população situados abaixo do nível do mar. A partir de meados do século XVI, o termo “Países Baixos” perdeu o seu significado lítico original.

            A maior colônia neerlandesa no exterior foi a Colônia do Cabo. Criada por Jan van Riebeeck em nome da Companhia Holandesa das Índias Orientais na Cidade do Cabo em 1652. O Príncipe de Orange concordou com a ocupação e controle da Colônia do Cabo pelos britânicos, em 1788. Um mapa anacrônico do Império Colonial Holandês. Verde claro: territórios administrados por ou provenientes de territórios administrados pela Companhia Holandesa das Índias Orientais; verde escuro: territórios da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. Os Países Baixos também possuíam várias outras colônias, mas a colonização neerlandesa nessas terras foi limitada. As mais notáveis foram as Índias Orientais Neerlandesas, atualmente Indonésia e Suriname. Essas colônias foram primeiramente administradas pela Companhia Holandesa das Índias Orientais e pela Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, ambas empresas coletivas privadas. Três séculos mais tarde essas empresas começaram a ter problemas financeiros e os territórios em que operavam foram assumidos pelo governo holandês em 1815 e 1791, respectivamente. Essas áreas habitadas por aborígenes se tornaram colônias.

Durante o período colonial, os Países Baixos envolveram-se fortemente no comércio de escravos. Os plantadores neerlandeses dependiam muito de escravos africanos para cultivar café, cacau, cana-de-açúcar e plantações de algodão ao longo dos rios. O tratamento dado aos escravos por seus proprietários era notoriamente ruim e muitos deles fugiam das plantações. A escravidão foi abolida pelos Países Baixos na Guiana Neerlandesa e Curaçau e Dependências em 1863, mas os escravos não foram totalmente libertos até 1873, depois de um período obrigatório de transição de dez anos, durante os quais eles eram obrigados a trabalhar nas plantações por um salário-mínimo e sem tortura sancionada pelo governo. Assim que se tornaram verdadeiramente livres, a maioria dos escravos abandonou as plantações onde eles tinham sofrido por várias gerações em favor da cidade de Paramaribo. Durante o século XIX, os Países Baixos demoraram para industrializar-se em comparação aos países vizinhos, principalmente por causa da grande complexidade envolvida na modernização da sua infraestrutura, composta em grande parte por cursos d`água e a grande resistência da sua indústria em relação à energia eólica. Os anos de 1960 e 1970 foram um momento de mudança social e cultural tão grande, como um rápido ontzuiling (“despilarização”), termo que descreve a decadência das velhas divisões do trabalho de classes e linhas religiosas.

Um aspecto notável do país é o de ser extremamente plano. Aproximadamente metade do território fica a menos de 1 metro acima do nível do mar, e boa parte das terras estão de fato abaixo do nível do mar. O ponto mais baixo, Nieuwerkerk aan den IJssel, perto de Roterdam, localiza-se a um nível de 6,76 m abaixo do nível do mar. O ponto mais alto, Vaalserberg, na fronteira sudeste, localiza-se a uma altitude de 321 m. Muitas áreas baixas estão protegidas por diques e barragens. Partes dos Países Baixos, inclusive quase toda a moderna província da Flevolândia, foram conquistadas ao mar – estas áreas são conhecidas como pôlderes. O país é cheio de canais e o transporte fluvial torna-se um dos principais meios de exportação e importação. A localização geográfica dos Países Baixos é bastante favorável em relação à Europa. Do aeroporto de Schiphol, em Amsterdam, é possível chegar a Berlim, Londres ou Paris em apenas uma hora de voo. O país é dividido em duas partes principais pelos rios Reno (Rijn), Waal e Mosa (Maas). Há muitos dialetos falados a Norte e Sul desses grandes rios. Os ventos predominantes no país são de Sudoeste, o que causa um clima marítimo moderado, com verões agradáveis e invernos suaves. No decorrer dos séculos, o litoral holandês mudou consideravelmente como resultado da intervenção humana e de desastres naturais.

O mais notável em termos de perda de terra foi a tempestade 1134, que criou o arquipélago da Zelândia, no Sudoeste. Em 14 de dezembro de 1287, a inundação de Santa Lúcia afetou os Países Baixos e a Alemanha, matando mais de 50 mil pessoas em uma das inundações mais destrutivas já registradas na história. A última enchente importante nos Países Baixos ocorreu no início de fevereiro de 1953, quando uma grande tempestade causou o colapso de vários diques no Sudoeste do país. Mais de 1 800 pessoas morreram afogadas nas inundações que se seguiram. O governo neerlandês decidiu posteriormente em um programa de larga escala de obras públicas (o Projeto Delta) para proteger o país contra futuras enchentes catastróficas. O projeto levou mais de 30 anos para ser concluído e considerado pela Sociedade Americana de Engenheiros Civis uma das sete maravilhas do mundo moderno. A gravidade dos desastres foi parcialmente impulsionada através da influência humana. As pessoas tinham drenado o relativamente alto pântano para usá-lo como fazendas. A drenagem fez com que a fértil turfa fosse comprimida e o nível do solo diminuiu, quando tentaram reduzir o nível de água para compensar a queda no nível do solo, fazendo com que a turfa subjacente fosse ainda mais comprimida.

Devido ao alagamento, a agricultura tornou-se uma atividade difícil, o que incentivou o comércio exterior, a consequência disso foi um maior envolvimento dos holandeses nos temas mundiais desde o início do século XIV/XV. O problema permanece insolúvel até hoje. Além disso, até ao século XIX, a turfa seca era extraída e utilizada como combustível, aumentando ainda mais o problema. Em 1932, o Afsluitdijk (“dique de fechamento”) foi concluído, bloqueando o Zuiderzee (mar do Sul) do mar do Norte, criando assim o IJsselmeer (Rio Issel). Essas construções tornaram-se parte das Obras Zuiderzee, uma grande obra em que quatro pôlders, totalizando 2 500 quilômetros quadrados, foram subtraídos do mar. Além disso, os Países Baixos são um dos países que “podem mais sofrer com as mudanças climáticas”. Não só pelo aumento do nível do mar, mas também porque os padrões climáticos irregulares podem causar o transbordamento de rios. Os rios Escalda, Reno e Mosa são os três principais que atravessam os Países Baixos. Os rios adotam um caminho sinuoso, com uma infinidade de braços, que diferenciam a paisagem holandesa e traz ao país a alcunha de “terra da água”. Com sua nascente em Gouy e atravessando a Bélgica antes mesmo de chegar aos Países Baixos, o rio Escalda possui um comprimento de 430 km. Grande parte do rio é navegável e sua rota é canalizada, fazendo com que seus numerosos canais entrem em contato com outros rios. Scarpe, Lys e Sensée são seus principais afluentes. Antes de desembocar no mar, o Escalda se firma com um amplo estuário com vários quilômetros de largura, sendo que esta é a parte do rio pertencente à Holanda. Com cerca de 950 km de extensão, o rio Mosa também tem sua nascente na França. Sua característica principal é de um rio lento e sinuoso, que permite a navegação de barcaças de até 2 000 toneladas. Flui para o Mar do Norte, formando um delta comum com o Reno. É canalizada durante a maior parte do seu percurso e daí deriva canais de irrigação para todo o sudeste dos Países Baixos. Seus principais afluentes são o Samson, Ourthe, Rur e Sambre. O Reno é o rio com o maior comprimento nos Países Baixos. Sua extensão total de 1 320 km flui para o Mar do Norte em um amplo estuário, junto com o rio Mosa. Apesar de sua ampla extensão, é navegável apenas para Basileia, na Suíça. A parte do rio que corresponde ao domínio dos Países Baixos é bastante canalizado e dividido em vários braços. 

    

Seus mais importantes afluentes são o antigo Reno, o Waal e o Lek. Os Países Baixos abrigam estimadas 35 583 espécies de animais e plantas, consistindo 23% das espécies europeias e 2% das mundiais. Na Lista Vermelha Europeia da União Internacional para a Conservação da Natureza estão presentes na Holanda, com 814 espécies avaliadas sendo 2% ameaçadas, 5% quase ameaçadas e uma extinta. As maiores ameaças à biodiversidade neerlandesa consistem, respectivamente de mudanças naturais de ecossistemas, poluição, agricultura e aquacultura, a utilidade de uso de recursos biológicos, desenvolvimento comercial e residencial, espécies invasivas ou problemáticas, mudanças climáticas e padrões climáticos severos, intrusão e perturbação humana, transportação e corredores de serviço, mineração, entre outros. Áreas naturais, animais selvagens e plantas são protegidos pelo Ato de Conservação da Natureza, que entrou em efeito em 1 de janeiro de 2017, e substitui 3 leis anteriores: o Ato de Conservação da Natureza de 1998, o Ato da Fauna e Flora e o Ato Florestal. Existem 391 áreas protegidas no país, cobrindo 26,15% da área terrestre e 25,34% da área marinha. Dessas áreas protegidas, 197 são parte da representação social da Rede Natura 2000, ou seja, são estatisticamente 77 áreas de proteção especialmente e 52 sítios de importância comunitária e 194 são sítios designados por Leis nacionais. E ainda 46% dos sítios terrestres e 42% dos sítios marinhos tem áreas entre 10 e 100 km².

Jovens e estudantes, em particular, rejeitaram alguns costumes tradicionais e impulsionaram forte mudança social e política em temas como os direitos das mulheres, a sexualidade, o desarmamento e as questões ambientais. Atualmente, os Países Baixos são classificados como um país liberal, considerando a sua política de drogas e a legalização da eutanásia. Em 1° de abril de 2001, o país se tornou o primeiro do mundo a reconhecer o chamado “casamento homossexual”. Em 10 de outubro de 2010, as Antilhas Holandesas, um país do Reino dos Países Baixos no Caribe, foi dissolvida. Referendos foram realizadas em cada ilha das Antilhas entre junho de 2000 e abril de 2005, para determinar o seu estatuto futuro. Como resultado, as ilhas de Bonaire, Santo Eustáquio e Saba alcançaram laços mais estreitos com os Países Baixos. Isto levou à incorporação destas três ilhas como municípios especiais sobre a dissolução das Antilhas Holandesas. Os municípios especiais são conhecidos coletivamente como Países Baixos Caribenhos. O homem precisou criar, para sobreviver e tornar-se uma espécie dominante, um mundo especial para si mesmo, o qual não é mera extensão e prolongamento de seu organismo.

Esse mundo, é em parte, psicossocial, dizendo respeito à capacidade do homem de substituir condições naturais de existência por outras condições mais vantajosas ou desejáveis, reguláveis artificialmente, através de técnicas culturais. Por isso, muitos autores não têm dúvidas em afirmar que mecanismos superorgânicos, resultante da combinação da herança psicológica e da herança social, no caso ideal-típico da sociologia, com a herança cultural, substituem no homem em extensão e por assim dizer, profundidade, os mecanismos predominantemente orgânicos, que regulam o comportamento social dos animais. O homem não é, apenas, um animal social, mas um ser capaz de criar e de alterar o próprio mundo social. A comunidade humana representa, desse ângulo, a revolução mais profunda porque já passaram os quadros da natureza. Ela trouxe consigo um tipo de organização da vida que, se não é autossuficiente em sentido literal, pelo menos elevou ao máximo a capacidade dos seres vivos de desenvolverem, deliberadamente, adaptações e controles ativos sobre os diferentes elementos do meio. Com isso, a porção social do meio estendeu-se em quase todas as direções abrangidas pelas atividades humanas: nela se incluem o ambiente físico, com seus recursos e possibilidades adaptativas, o próprio organismo do homem, os demais seres vivos e os agrupamentos constituídos por eles ou pelos humanos em sua reprodução social. 

A própria evolução da palavra “confissão” e da função jurídica que designou já é característica: da “confissão”, garantia de status, de identidade e de valor atribuído a alguém por outrem, passou-se à “confissão” como reconhecimento, por alguém, de suas próprias ações ou pensamentos. O indivíduo, durante muito tempo, foi autenticado pela referência dos outros e pela manifestação de seu vínculo com outrem (família, lealdade, proteção); passou a ser autenticado pelo discurso da verdade que era capaz de (ou obrigado a) ter sobre si mesmo. A confissão da verdade se inscreveu no cerne dos procedimentos de individualização pelo poder. Em todo caso, Foucault lembra-nos a seguinte tópica da questão: Em todo caso, além dos rituais probatórios, das cauções dadas pela autoridade da tradição, além dos testemunhos, e também dos procedimentos científicos de observação e de demonstração, a confissão passou a ser, no Ocidente, uma das técnicas mais altamente valorizada para produzir a verdade. A confissão difundiu amplamente seus efeitos: na justiça, na medicina, na pedagogia, nas relações familiares, nas relações amorosas, na esfera mais cotidiana e nos ritos mais solenes; confessam-se os crimes, os pecados, os pensamentos e os desejos, confessam-se passado e sonhos, confessa-se a infância; confessam-se as próprias doenças e misérias; emprega-se a maior exatidão para dizer o mais difícil de ser dito; confessa-se em público, em particular, aos pais, aos educadores, ao médico, àqueles a quem se ama; fazem-se a si próprios, no prazer e na dor, confissões impossíveis a outrem, com o que se produzem livros. 

Confessa-se ou se é forçado a confessar. Quando a confissão não é espontânea ou imposta por algum imperativo interior, é extorquida; desencavam-na na alma ou arrancam-na ao corpo. A partir da Idade Média, a tortura a acompanha como uma sombra, e a sustenta quando ela se esquiva: gêmeos sinistros. Tanto a ternura mais desarmada quanto os mais sangrentos poderes têm necessidade de confissões. O homem, no Ocidente, tornou-se um animal confidente. Desde a penitência cristã até os nossos dias o sexo tem sido a matéria privilegiada da confissão. É o que é escondido, dizem. E se o sexo fosse, em nossa sociedade, e numa escala que já se conta em séculos, aquilo que é submetido ao regime sem falhas da confissão? A colocação do sexo em discurso, a disseminação e o reforço do despropósito sexual são, talvez, duas peças de um mesmo dispositivo; articulam-se nele graças ao elemento central de uma confissão que obriga à enunciação verídica da singularidade sexual – por mais extrema que seja. Na Grécia a verdade e o sexo se ligavam, na forma da pedagogia, pela transmissão corpo-a-corpo de um saber precioso; o sexo servia como suporte às iniciações do conhecimento. Para nós, é na confissão que se ligam a verdade e o sexo, expressão obrigatória e exaustiva de um segredo individual. Aqui a verdade que serve de suporte ao sexo e às suas manifestações.

 

A confissão é um ritual de discurso onde o sujeito que fala coincide com o sujeito do enunciado; é, também, um ritual que se desenrola numa relação de poder, pois não se confessa sem a presença ao menos virtual de um parceiro, que não é simplesmente o interlocutor, mas a instância que requer a confissão, impõe-na, avalia-a e intervém para julgar, punir, perdoar, consolar, reconciliar; um ritual onde a verdade é autenticada pelos obstáculos e as resistências que teve de suprimir para poder manifestar-se; enfim, um ritual onde a enunciação em si, independentemente de suas consequências externas, produz em quem a articula, modificações intrínsecas: inocenta-o, resgata-o, purifica-o, livra-o de suas faltas, libera-o, promete-lhe a salvação. Durante séculos a verdade do sexo foi encerrada, pelo menos quanto ao essencial, nessa forma discursiva. E na do ensino (a educação sexual se limitou aos princípios gerais e às regras de prudência); não na da iniciação (que permaneceu, quanto ao essencial, uma prática muda que o ato de tirar a inocência ou deflorar só torna risível ou violenta). Vê-se, assim, que é uma forma que não poderia estar mais longe daquela que rege a “arte erótica”. Pela estrutura de poder que lhe é imanente, o discurso da confissão não poderia vir do alto na Ars erótica, nem pela vontade, mas de baixo, como uma palavra requisitada, obrigada, rompendo, através de alguma pressão imperiosa, os lacres da reminiscência ou do esquecimento.

O que ela supõe como segredo não está ligado ao alto preço do que tem a dizer, nem ao pequeno número do que nele merecem beneficiar-se, mas à sua obscura familiaridade e à sua abjeção geral. Sua verdade não é garantida pela autoridade altiva do magistério, nem pela tradição por ele transmitida, mas pelo vínculo, pela mútua implicação, essencial ao discurso, entre aquele que fala e aquilo de que fala. Em compensação, a instância de dominação não se encontra do lado do que fala (pois é ele o pressionado) mas do lado de quem escuta e cala; não do lado do que sabe e responde, mas do que interroga e supostamente ignora. E, finalmente, esse discurso de verdade adquire efeito, não em quem o recebe, mas sim naquele de quem é extorquido. Com essas verdades confessadas estamos muito longe das sábias iniciações ao prazer, com sua técnica e sua mística. Pertencemos, em compensação, a uma sociedade que articula o difícil saber do sexo, não na transmissão do segredo, mas em torno da lenta ascensão da confidência.  A confissão foi, e permanece sendo ainda atualmente, a matriz geral que rege a produção abstrata da ciência e do discurso verdadeiro sobre o sexo.

Os sistemas filosóficos e sociológicos não constituem uma exceção. Como as religiões e as obras de arte, contêm uma visão da vida e do mundo, inserida na vitalidade das pessoas que os produziram e em consonância com as épocas em que vieram à luz do dia; traduzem uma determinada atitude afetiva, caracterizam-se pela imprescindível energia lógica, porque o filósofo e frequentemente o sociólogo procuram trazer a imagem do mundo à clara consciência e ao mais estrito urdimento cognitivo. Um esforço de reflexão e dos conceitos, que gera uma circunspecção potencial reside o valor prático da atitude filosófica. Como o centro da compreensão está na vida como um todo estruturado, mas sempre resultando da relação entre individualidades, é possível perceber a conexão entre a ética e a teoria compreensiva. Em verdade uma concepção da teoria, ao longo de quase meio século, permeado lado a lado por um motivo básico: uma unidade cuja garantia de existência é a presença do sentido. Há uma démarche que atravessa a singularidade do homem, e nesta noção de sentido está a marca de uma concessão fatal a uma metafísica.  Ele desejava evitar tanto quanto o empirismo dos positivistas, desde que fique clara a dimensão de ser criador de significados, que não é simplesmente a noção ampla de vida, mas sua unidade constitutiva, a vivência, representada em toda experiência humana. A história é suscetível de conhecimento porque é obra humana; nela o sujeito e objeto formam a unidade e à formulação da concepção de Dilthey. Seus elementos são: vivência, expressão e compreensão. 

A vivência surge nesse ponto, como algo especificamente social – pela sua dimensão intersubjetiva, e cultural – pela sua dimensão significativa -, para além do seu nível psicológico ou mesmo biológico porque guarda na memória. Trata-se de um ato de consciência, que propõe e persegue fins num contexto intersubjetivo. As interações humanas ganham corpo nas diversas formas de “manifestação de vida” através da arte, filosofia, religião, ciência, como expressão desse caráter objetivo que a experiência, intersubjetivamente constituída assume. Sua concepção metodológica articula-se, portanto, em torno do movimento de ir e vir que ocorre entre a vida, como conjunto de vivências e as formas objetivas que seus resultados assumem na sua expressão. A referência às “vivências”, segundo a interpretação Gabriel Cohn, visa a preservar esse caráter imediato, no qual só é possível compreender aquilo de que assimila o próprio intérprete, pois é evidentemente de interpretação que se trata, e não de “mera observação especulativa”, é também o produtor; os propósitos, os fins e os valores, ainda que ao intérprete caiba mais propriamente reproduzi-los, na sua tarefa de reconstituir o processo da sua produção primeira. A diferenciação das ciências particulares não se realizou por um artifício da “inteligência teórica”, em resolver o problema posto pela existência do mundo mediante a análise metódica do objeto de investigação: a própria vida a realizou.

    

Por fim, fica evidente que, na segunda metade do século XIX, todas as metafísicas não podem ser classificadas como ciências, mesmo os grandes novos sistemas do idealismo alemão. Por esta razão, Dilthey as declara “visões de mundo” que não são comprováveis, mas também não são refutáveis e, por esta razão, permanecem em eterno conflito entre si. Os três tipos de metafísica discernidos por Dilthey – naturalismo, idealismo subjetivo e idealismo objetivo – têm a mesma posição perante as ciências das três religiões monoteístas em Lessing: elas têm uma verdade existencial, mas não uma verdade científica. A verdade é que há que uma diferença crucial no despontar do pensamento e a assunção de uma via histórica representada por influência de Wilhelm Dilthey e Heinrich Rickert. Com Dilthey, e tantos outros pensadores de seu tempo histórico perceberam que não se devem tratar as questões filosóficas de maneira a-histórica, mas sim as enraizando no seu contexto histórico particular, onde qualquer experiência embora seja singular, a mesma só pode ser apreendida quando fazem parte de uma “comunidade de sentido”. Mais uma vez compreendermos algo da ordem “singular-universal”. Essa vivência singular encerra em si uma ligação com o todo de um determinado tempo histórico, o que o próprio a fenomenologia de Wiolhelm Dilthey que irá chamar de “visão de mundo”.

A qualidade de vida é um tema que merece destaque pelo fato de se tratar de questões sociais, conjunturais e políticas relacionadas diretamente com a maneira com que os indivíduos conduzem sua forma de vida. A qualidade de vida no trabalho pode ser definida como o conjunto das ações dentro da empresa que envolve a implantação e manutenção de melhorias e inovações gerenciais, tecnológicas e estruturais no ambiente de trabalho. Representa, portanto, como a gestão e a educação para o bem-estar no trabalho, com decisões e escolhas baseadas na cultura organizacional e no estilo de vida dos diferentes segmentos ocupacionais. Apesar de ser uma linha de estudo recente e necessitar de detalhamento de situações concretas para melhor compreensão do tema, a qualidade de vida no ambiente de trabalho tem sido com diversas concepções e teorias, que trouxeram à tona fatores preponderantes e pioneiros para o desenvolvimento da atividade administrativa em função das condições adequadas de trabalho, incentivos e recompensas salariais oportunas, cuidados com a saúde do trabalhador etc. Isto porque o capital representa uma relação social entre pessoas, relação que se estabelece por intermédio de coisas. Resulta que tais relações se convertem em mercadorias porque são os produtos dos trabalhos privados executados com independência uns dos outros. Para os trabalhadores as relações de seus trabalhos privados parecem o que são, isto é, relações sociais imediatas das pessoas em seus trabalhos, senão relações sociais entre coisas. Só em seu intercâmbio os produtos do trabalho adquirem como valores, uma existência social idêntica e uniforme, distinta do material e uniforme que têm como objetos de utilidade. Esta divisão do produto do trabalho em objeto útil e objeto de valor se ampliam na prática quando o intercâmbio adquire bastante extensão e importância, de modo que os objetos úteis se produzam com vistas ao intercâmbio e seu caráter de valor tenha-se já em conta em sua mesma produção. O futebol, em sua dimensão globalizada, mediatizada às relações políticas competitivas globalizadas entre nações e nacionalidades demonstra cabalmente como se dão tais relações sociais e de produção no imaginário individual (os sonhos) e coletivo (os mitos, os ritos, os símbolos), distribuídas através das redes de sociabilidade. A cidadania pode ser classificada como um status concedido que equiparam aos direitos civis os membros de uma sociedade, concedendo-se um conjunto de direitos e obrigações de ordem civil, política e social.

Na crítica ao que se chamam de “cidadãos incompletos” aqueles que possuem dos três direitos compreendidos pela cidadania, em oposição àqueles que não se beneficiam de nenhum dos direitos, mas se o assédio moral se referir à categoria sexual masculina é melhor que a questão da representação da situação social seja velada. A questão da demarcação acrescenta outra dimensão ao problema, uma vez que nem todas as ações sociais discursivas relativas envolvidas no reconhecimento e no reconhecimento equivocado são explícitas. O ato de delimitação opera de acordo com uma forma performativa de poder que estabelece um problema fundamental da democracia interna/externa em determinado grupo de trabalho coletivo de professores/as ao mesmo tempo em que fornece o seu termo chave: estamos diante da blindagem acadêmica. Esta tese implica na seguinte questão: se a performatividade é com frequência associada ao desempenho individual, pode se provar, segundo Butler (2018), passa a ser importante reconsiderar essas formas de performatividade que operam apenas por meio das formas de ação coordenada, cujas condições e cujo objetivo são a reconstituição de formas plurais de atuação e de práticas sociais de resistência. Esse movimento ou inércia, esse estacionamento do meu corpo no meio da ação do outro, não é um ato meu ou de outros, mas algumas coisas que acontece em virtude da relação entre nós, surgindo dessa relação, usando frases equívocas entre o eu e o nós - ele está gritando - buscando preservar e disseminar o valor desse equívoco, uma relação ativa e deliberadamente sustentada, uma colaboração distinta da fusão ou confusão alucinatória.

Bibliografia Geral Consultada.

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