Ubiracy de Souza Braga
“Não levo ninguém a sério o bastante para odiá-lo”. Paulo Francis
Paulo Francis, pseudônimo de Franz Paul Trannin da Matta Heilborn, nasceu no Rio de Janeiro em 2 de setembro de 1930 e faleceu em Nova Iorque em 4 de fevereiro de 1997. Foi um jornalista engajado, crítico de teatro, diretor e escritor brasileiro. Trabalhou em diversos jornais, entre eles: Diário Carioca, Última Hora, Tribuna da Imprensa, O Pasquim, Opinião, Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo. Neto de um alemão luterano que comercializava café, Paulo Francis cursou o primário em um internato na Ilha de Paquetá (RJ) e o secundário (atual colegial) no Colégio Santo Inácio, em Botafogo, no Rio de Janeiro. Participou do Centro Popular de Cultura da União Nacional de Estudantes (UNE), e foi ator amador no grupo de estudantes mantido por Paschoal Carlos Magno que, por sugestão do diretor, passou a assinar Paulo Francis. Em 1952, recebeu o prêmio de ator revelação pelo seu trabalho em A Mulher de Craig. No início dos anos 1950, frequentou a Faculdade Nacional de Filosofia (UFRJ). Em 1954 e 1955, fez um curso de literatura dramática na Universidade de Columbia, em Nova Iorque (EUA) onde foi aluno do crítico e autor teatral Eric Bentley. Depois da realização dos estudos, voltou ao Brasil como diretor. Junto do Teatro Brasileiro de Comédia, dirigiu O Dilema de um Médico, de Bernard Shaw, O Telescópio, de Jorge Andrade, Pedro Mico, de Antônio Callado e Uma Mulher em Três Atos, de Millôr Fernandes.
Com
sua experiência como diretor teatral, Paulo notabilizou-se, em primeiro lugar,
como crítico de teatro do Diário Carioca entre 1957 e 1963, quando
intentou realizar uma crítica de teatro que, longe de simplesmente fazer a
promoção pessoal das estrelas do momento, buscasse entender os textos teatrais
do repertório clássico para realizar montagens que fossem não apenas
espetáculos, mas atos culturais – nas suas próprias palavras, “[buscar] em cena
um equivalente da unidade e totalidade de expressão que um texto, idealmente,
nos dá em leitura […] a unidade e totalidade de expressões literárias”. Seu
papel como crítico foi extremamente importante.
Após o golpe de Estado no Brasil em 1º de abril de 1964 e durante toda a
ditadura militar no Brasil (1964–1985), Francis trabalharia sobretudo no
semanário O Pasquim. Paralelamente, na Tribuna da Imprensa de
Hélio Fernandes, de 1969 a 1976 refinou seu estilo num sentido coloquial (cf. Oliveira, 2017), fazendo parte importante da “resistência cultural”, sobre
assuntos internacionais e divulgando ideias originais como simpatizante trotskista (cf. Batista, 2015).
Em
1968, passou a editar também a Diners, revista oferecida gratuitamente
aos portadores do cartão de crédito e que lançou jornalistas como Ruy Castro.
Em dezembro daquele ano, logo após a decretação do AI-5, Paulo Francis foi
preso ao desembarcar no aeroporto do Rio de Janeiro. Deixou a prisão em janeiro
de 1969. Sem emprego, o jornalista viajou pela Europa fazendo matérias como freelancer.
Nessa época, entrevistou o filósofo Bertrand Russell na Inglaterra. Em 1971,
foi viver definitivamente em Nova Iorque, subsidiado por uma bolsa da Fundação
Ford conseguida por intermédio de Fernando Gasparian. Lá passou a escrever
artigos para diversas revistas. Em 1975, casou-se com a jornalista Sônia
Nolasco e passou a ser correspondente da Folha de S. Paulo. O AI-5, o
mais duro de todos os Atos Institucionais, foi emitido pelo presidente Artur da
Costa e Silva em 13 de dezembro de 1968. Houve a perda de mandatos de
parlamentares contrários aos militares, intervenções ordenadas nos municípios e
estados e também na suspensão de quaisquer garantias constitucionais que
eventualmente resultaram na institucionalização da tortura, usada
como instrumento pelo Estado.
Elaborado
em 13 de dezembro de 1968, pelo então ministro da Justiça Luís Antônio da Gama
e Silva, o AI-5 entrou em vigor durante o governo do presidente Costa e Silva
em resposta a fatos anteriores, como uma passeata de mais de cem mil pessoas no
Rio de Janeiro em protesto contra o assassinato do estudante Edson Luís de Lima
Souto por um integrante da Polícia Militar do Rio de Janeiro e da decisão da
Câmara dos Deputados negando autorização para processar criminalmente o
deputado federal Márcio Moreira Alves, que durante um discurso, em 2 de
setembro de 1968, chamou o exército de “valhacouto de torturadores”, pediu ao
povo brasileiro que boicotasse os desfiles do 7 de setembro, e às mulheres que
se recusassem a se relacionar com militares. O decreto foi uma vitória parcial da
linha-dura, como eram chamados os militares mais radicais, que desde 1964
exigiam do governo poderes para eliminar fisicamente os opositores através de
medidas como prisões, punição de dissidentes, suspensão de direitos políticos e
cassação de mandatos. Sua primeira medida foi o fechamento do Congresso
Nacional por tempo indeterminado, o que durou até 21 de outubro de 1969. Antes
do AI-5, já havia tortura no Brasil: a repressão do regime militar já somava
203 denúncias de tortura e 20 mortes antes de completar um ano do golpe de
1964. O livro Tortura e Torturados (1966), de Márcio Moreira Alves,
relatou casos ocorridos em 1964 e teve grande impacto social na opinião
pública. Levantamento da Comissão Nacional da Verdade também confirmou
que tortura e assassinatos foram empregados contra opositores desde 1964 –
antes, portanto, do início da luta armada pela esquerda – e não a partir de
1968, como motivação para o lançamento do Ato Institucional-5 (AI-5),
como frequentemente alegado.
Os conservantistas não acreditando na bondade natural do Homem,
consideram que, na sociedade constituída, são os constrangimentos introduzidos
pelos hábitos e tradições que permitem o funcionamento, pelo que qualquer
regime duradouro e estável só poderá funcionar se estiverem assente nas
tradições. Os conservadores consideram que o individualismo e as promessas de
liberdade irrestrita acabam por conduzir aos seus aparentes opostos sociais: o
estatismo e o totalitarismo. Para eles, a dissolução da sociedade realmente
existente e das suas instituições tradicionais intermédias gera um vazio societário
que abre caminho ao crescimento da máquina
estatal. Neste sentido, os conservadores fazem a apologia desses corpos
intermédios: família, Igreja, comunidade local, etc., em oposição tanto ao
individualismo, como ao estatismo e ao coletivismo. Em alternativa ao sufrágio
igualitário, direto e universal, os tradicionalistas têm lutado por sistemas de
representação de grupos restritos e não dos indivíduos, defendendo
representações não ideológicas, como a representação
municipal, ou sindical, o mesmo número de deputados por região,
independentemente da população, e assim por diante.
Imagine
uma pessoa que está bastante animada
e motivada em exercer várias de suas atividades sociais ou de trabalho, que se
sinta especialmente bem, que se percebe como satisfatoriamente comunicativa,
extrovertida e capaz, mas que, paradoxalmente, como num truque de passe de
mágica, passa a se sentir desanimada, triste, incapaz de realizar as coisas
mais simples do dia a dia, como ler, conversar, caminhar, cozinhar, e claro, com
um conceito ruim de si mesmo. Assim funciona a mente e o comportamento do
ciclotímico. A ciclotimia tem como
representação social um transtorno de humor caracterizado por oscilações do
estado emocional que “sobe e desce”,
levando o sujeito social a experimentar leve euforia e leve depressão. O
temperamento é a manifestação da porção genética das nossas características
comportamentais e de humor. Quando a pessoa se encontra num estado de euforia
leve (hipomania) ela tem uma sensação
de excitação, agitação e muita energia e que será capaz de realizar de tudo um
pouco.
Neste estado se sente mais motivada que o habitual e com uma autoestima bastante elevada. Apresenta certa irritabilidade que pode levar a “explosões” e confrontos pessoais desnecessários. Nesse período há alterações da fala e pensamento: a pessoa fica mais prolixa, com uma maior necessidade de se expressar, entretanto, as ideias podem escapar, saltando de um assunto a outro sem nenhum critério. Em virtude dessa agitação psicomotora, não consegue permanecer numa única atividade já que sua atenção perdendo o escopo, se distrai facilmente. Tais sintomas costumam ter curta duração: toda essa constelação de sintomas começa a decair. O humor, então, passa a ficar deprimido e a hipomania dá lugar a sentimentos prováveis de culpa e vergonha, perda de energia e auto depreciação. O pensamento e a forma de pensar se torna lento e as ideias fogem; fica difícil concatenar as ideias e se expressar socialmente, como se fosse difícil acessar a memória. Contudo, vale lembrar que nas últimas duas décadas, os médicos começaram a rever a história de que esses déficits na memória são naturais com o avançar do tempo.
Não queremos perder de vista que Manhattan Connection é um programa de televisão transmitido pelo Globo News, canal pago da Globosat, para o Brasil e o mundo ocidental aos domingos às 23h. Estreou em 1993, transmitido diretamente de Manhattan, na cidade de Nova Iorque. Até janeiro de 2011, o programa era transmitido pelo GNT, um canal de televisão por assinatura, criado em 10 de novembro de 1991 com o nome Globosat News Television que transmitia notícias. Os apresentadores e comentaristas debatem política, economia e comportamento sob uma perspectiva liberal a partir da ótica do Instituto Millenium, além de darem dicas sobre Nova York, através de informações diversificadas dos principais assuntos da semana. Liderado pelo repórter Lucas Mendes, a formação original continha, Paulo Francis, Caio Blinder, Nelson Motta e Lúcia Guimarães, que nos primeiros anos trabalhava “por trás das câmeras”. As conversas descontraídas entre os apresentadores são enriquecidas, esporadicamente, pela participação de convidados como Fernando Henrique Cardoso, Mônica Waldvogel e o cineasta Nelson Pereira dos Santos, entre outros.
Com a morte de Paulo Francis, em
fevereiro de 1997, a “quarta poltrona” passou a ser ocupada por convidados singulares,
como o antropólogo Roberto DaMatta e o teatrólogo Gerald Thomas, sendo
finalmente substituído pelo cineasta e jornalista Arnaldo Jabor, comentarista polemista
dos telejornais da TV Globo. Em 2001, Nelson Motta deixou o programa e foi
substituído por Lúcia Guimarães que ocupa a mesa de debates apenas no último
bloco, sempre com uma matéria cultural. Em 2003, após diversas aparições como
convidado, foi a vez do economista Ricardo Amorim tornar-se integrante fixo do
programa. E, finalmente, em outubro de 2003, Arnaldo Jabor deixou o programa,
sendo substituído por Diogo Mainardi. Em 2008, Lúcia Guimarães saiu do programa
para apresentar o chamado Saia Justa.
Em 2009, o modelo Pedro Andrade, antes conhecido pelo namoro com Lance Bass e capa na revista The Advocate, passou a integrar a
equipe. No dia 23 de janeiro de 2011, o programa mudou de canal, passando a ser
transmitido pela Globo News. Esta mudança deve-se ao fato do GNT ter perdido
com o tempo o escopo jornalístico, dando preferência ao público feminino.
Também, a partir deste programa, Ricardo Amorim passou a fazer comentários de
São Paulo e não mais do Rio de Janeiro. Em algumas oportunidades, a atração é
exibida ao vivo.
A palavra indivíduo descreve qualquer coisa numericamente singular, embora por vezes se refira na imaginação a uma pessoa. Na Idade Média, o indivíduo é visto somente como parte do coletivo, não destacável do todo social. Em Santo Agostinho, o ser humano é social por natureza ou essência, e individual por corrupção originária. O Homem do renascimento passou a apoiar a competição e a desenvolver uma crença em que o homem poderia tudo, mas, desde que tivesse representada a vontade, o talento e a capacidade de ação individual. O individualista pode permanecer nas sociedades que tenham o indivíduo como valor, mas, contraditoriamente valores não necessariamente individualistas, mas de permanente tensão entre o indivíduo e essas instâncias de vida social. O exercício da liberdade e a concexão de sentido expressa por ela, implica escolhas frequentemente associadas a um projeto determinado. Indivíduos são projetos dentro de inúmeras possibilidades de imersão sociocultural, utopias, ideologias, visões de mundo e experiências de classe, grupos, ethos religiosos nas dimensões dentre as quais o indivíduo se insere.
A ideia do homem como centro do universo, que usufrui de autonomia do espírito, liberdade da razão e exercício da vontade, é central na passagem do mundo medieval ao mundo contemporâneo cujo marco dignifica a Revolução Francesa, e possibilita a afirmação do indivíduo como valor com a Revolução Socialista de 1917. Segundo Georg Simmel há duas revoluções individualistas na história do Ocidente, que resultam em dois tipos de individualismo: a primeira revolução individualista teria sido uma revolução quantitativa iluminista, visando o homem em sua universalidade, o que corresponde à concepção do indivíduo cidadão livre e autônomo. A instauração do individualismo de singleness tem como marco decisivo a Revolução clássica Francesa, quando se consolidam os ideais em torno da triade de igualdade, liberdade e fraternidade. Na segunda revolução individualista, promovida por meio do ideário socializante do século XIX, corresponde, ao individualismo de um novo tipo, e diz respeito à dimensão de excepcionalidade e singularidade do indivíduo socialista. O que importava não era mais ser um indivíduo livre, como tal, ser mais um indivíduo de novo tipo e insubstituível na sociedade.
Sob esse aspecto, não resta dúvida de que a implosão do sistema soviético em 1991 é um marco simbólico importante. Mas esse fato real exige explicações adicionais, não podendo ser usado como a causa original do recuo político dolorosamente óbvio da esquerda, tanto no Leste quanto no Ocidente. Esse tipo de explicação, caracterizado pela inversão das relações causais, é frequentemente apresentado nas discussões ideológicas, representando uma tentativa ilegítima de justificar a virada completa daqueles que antes não se afirmavam socialistas, mas até concediam o mandato de juízes inquestionáveis das credenciais de outros na esquerda. Os fatos dessa questão muito desconfortável são muito bem reconhecidos, mas devem ser relegados ao esquecimento para criar, como resultado feliz, a real aparência de consenso ideológico dominante. É necessário identificarmos as características definidoras de uma nova fase histórica, em contraste com as anteriores é vivermos nas perigosas condições da crise estrutural do sistema orgânico de reprodução sociometabólica, para Mészáros (1998: 17), segundo uma forma devastadora “dotado de lógica própria e de um conjunto objetivo de imperativos, que subordina a si, para o melhor e para o pior, conforma as alterações das circunstâncias históricas, todas as áreas da atividade humana, desde os processos econômicos mais básicos até os domínios intelectuais e culturais mais mediados e sofisticados”.
Um dos grandes obstáculos ao
desenvolvimento futuro do indispensável movimento das massas é o descaso persistente pela questão nacional
na ideologia. As razões deste descaso surgiram tanto de algumas determinações
históricas contingentes, porém de longo alcance, como do complicado legado
teórico do passado. Além disso, dada a natureza das questões envolvidas, as
duas parecem estar intimamente entrelaçadas. Com referência às determinações
práticas e históricas, é preciso lembrar, antes de mais nada, que a formação
das nações modernas foi realizada sob a liderança das revoluções burguesas, em
busca de crescente controle territorial, com a eclosão de conflitos entre si
cada vez mais intensos, que culminaram em duas devastadoras guerras mundiais no
século XX e na potencial aniquilação da humanidade. Com relação às nações
colonizadas, suas condições de dependência econômica e política eram impostas
de modo implacável pelas potências imperialistas, graças também à cumplicidade
subserviente das classes dominantes nativas.
É fato social e político que as mudanças pós-coloniais não tiveram dificuldade
em reproduzir, em todas as relações substantivas, os modos anteriores de
dominação, ainda que formalmente modificada no tempo, mantendo um sistema há
muito estabelecido de dominação estrutural e dependência.
Após a morte de Lenin, demonstra a
incapacidade de tratar de modo adequado as potencialmente explosivas contradições da desigualdade
nacional, trouxe consigo consequências devastadoras, que resultaram, afinal, na
implosão da União Soviética. O contraste entre as abordagens desses problemas
por Lenin e Stalin não poderia não poderia ter sido maior. Lenin sempre
defendeu o direito das várias nacionalidades à completa autonomia, “até o ponto
da secessão”, ao passo que Stalin as reduziu a nada mais do que “regiões de
fronteira”, a serem mantidas a qualquer custo na mais estrita subordinação, em
nome dos interesses da Rússia. Por isso, Lenin o condenou em termos bem claros,
insistindo que, caso prevalecessem as posições defendidas pelas mãos de Stalin,
“a ´liberdade de secessão da união` pela qual nos justificamos será apenas um
pedaço de papel, incapaz de defender os não-russos do assassinato por parte
daquele legítimo homem russo, o grande chauvinista russo”. Ele insistiu na
gravidade dos danos causados pelas formas políticas e nomeou claramente os
culpados: “A responsabilidade política por tudo isso deve, evidentemente, ser
lançada sobre Stalin e Dzerjinski”.
A questão nacional assumiu inevitavelmente a forma de polarização entre um
punhado de Estados imperialistas opressores e a esmagadora maioria de nações
oprimidas: uma relação de extrema desigualdade, em que as classes trabalhadoras
dos países imperialistas estavam profundamente implicadas. Essa relação também
não se limitava à dominação militar direta. O objetivo desta era garantir a
exploração máxima e continuada do trabalho nos países conquistados, impondo
assim o modo caraterístico de controle sociometabólico do capital sobre todo o
mundo. É durante a “descolonização” que se seguiu a 2ª guerra mundial (1940-45),
foi possível abandonar o controle político-ideológico direto dos impérios sem
mudar a substância da relação social de dominação estrutural e subordinação
estabelecida, como é caraterístico do capital. Sob esse aspecto, os Estados
Unidos da América foram pioneiros. Exerceram dominação em países sempre que atendesse a seu plano,
combinada com sua supremacia socioeconômica sobre as populações envolvidas, como
por exemplo, ocorreu com as Filipinas.
Ao mesmo tempo, asseguravam a dominação de quase toda a América Latina pela imposição de “dependência estrutural” analisadas hic et nunc no continente mesmo sem uma intervenção militar. Isso estava bem de acordo com uma forma determinada do desenvolvimento histórico do capital, quando as algemas político-militares dos antigos impérios se demonstraram anacrônicas em demasia, para realizar os potenciais truques de expansão do capital. A solidariedade internacional é um potencial positivo apenas para o antagonista estrutural do capital. Está em harmonia com o patriotismo, que é habitualmente confundido, até nas discussões teóricas de esquerda, como o chauvinismo burguês. Mas patriotismo não significa identificação com os interesses nacionais legítimos, quando ameaçado por uma estratégica potência, ou pelo comportamento capitulacionista das frações da classe dominante, contra a qual Lenin e Luxemburgo, com toda razão, pediam que se apontassem as armas da guerra.
Significa também essa solidariedade com o “patriotismo legítimo” dos povos oprimidos. A realização desse patriotismo não seria simplesmente uma mudança nas atuais relações entre Estados, compensando assim, até certo ponto, os ditames externos da dependência política ou político-militar estabelecida. Longe disso. As condições de sucesso duradouro são somente a luta continuada contra a dominação estrutural hierárquica do capital, não importa o quanto dure, em todo o mundo. Sem isso, livrar-se vez por outra da supremacia político-militar da potência estrangeira pode levar a seu restabelecimento, na antiga ou numa nova forma, na próxima ocasião. A solidariedade internacional dos oprimidos exige, portanto, a plena consciência e a observância prática consistente desses princípios orientadores estratégicos vitais. Não é por acaso que a forma burguesa de nacionalismo figurativo só pode ser chauvinista, o que significa, simultaneamente, ser necessária a exclusão do que o filósofo Mészáros chama de “patriotismo legítimo” das outras nações na esfera dominante do conflito. Pois o capital tem sucesso na dominação, tanto internamente, da sua própria força de trabalho como, externamente, as nações com as quais ele é forçado periodicamente a entrar em conflito, ou fracassa no exercício do controle indivisível sobre o ersatz de metabolismo social.
Na histórica e profética entrevista de Paulo Francis concedida a Thales Guaracy, intitulada: “Paulo Francis por ele mesmo” (2020), demonstra, segundo o jornalista: - Minha missão era entrevistar três mosqueteiros da imprensa, integrantes do programa – Lucas Mendes, Nelson Motta e Paulo Francis – e fotografá-los diante de um táxi amarelo, uma instrução específica, com o objetivo de caracterizar a cidade de Nova York. Assim, fiz uma entrevista com Paulo Francis que, por circunstâncias só explicáveis pelo temperamento ciclotímico do maior colunista da imprensa brasileira em todos os tempos e por um chefe que fazia questão absoluta do táxi amarelo, permaneceu inédita até aqui. Feita originalmente para a revista Exame Vip, na qual eu trabalhava, a entrevista foi vetada pelo próprio Francis, que se negou, depois de concedê-la, num gesto típico seu, a posar com o tal táxi. - “Não é nada contra você, que é um rapaz simpático”, disse ele, “mas essa história de táxi amarelo é ridícula. Não faço isso. E digo mais: da próxima vez que aparecer na imprensa, será como capa da revista Veja”. Sem saber, ele estava sendo profético. De fato, seis meses mais tarde, foi morto por um ataque cardíaco, Paulo Francis seria o personagem capa da revista Veja.
A própria relevância do fato documental é dourado pelas palavras de Thales Guaracy: - Ao retornar a São Paulo, em junho de 1996, com a entrevista de Francis desautorizada para publicação, e sem a foto encomendada, a revista Exame VIP decidiu que, em vez dos três mosqueteiros do Manhattan Connection, eu faria apenas um perfil de Nelson Motta, apresentado como uma espécie de embaixador brasileiro em Nova York. Minha missão com a revista estava cumprida. Guardei as fitas com a entrevista de Francis como uma lembrança pessoal. Na conversa, à mesa do restaurante Bravo Gianni, seu favorito, surgiu um relato completo de Paulo Francis sobre ele mesmo, desde seu início como figurante de teatro, depois crítico cultural e, por fim, colunista político. A conversa avançou sobre questões pessoais, como sua deficiência visual, que o levou a se tornar uma pessoa introspectiva. - “Sabe”, ele me disse, com os óculos na mão, a olhar o vazio, “eu tenho olhos ruins”. Ele discorreu a respeito de sua ideologia e seu método de trabalho – chegou ao requinte de fazer um curso sobre a bomba atômica para tratar do assunto com mais propriedade. É portanto revelador esses traços de sua personalidade que demonstram argúcia e disciplina no jornalismo.
Em assim sendo, mostrava-se um profissional detalhista, uma pessoa sistemática e um homem extremamente afável, mas capaz de se tornar subitamente mal-humorado – reviravoltas que eu pude sentir na pele. E neste sentido afirma em sua reportagem: - Dez anos depois da morte de Francis, a publicação de sua entrevista esquecida colabora para lembrá-lo. Creio que ele, onde estiver, perdoará. No final da década de 1970, foi proposto o conceito de “temperamentos afetivos” que inclui as dimensões de distimia, hipertimia, ciclotimia, irritável e ansioso. Os traços de temperamento são padrões emocionais reacionais inatos determinados por mecanismos de origem biológica. Tendem a ser disposições estáveis, no entanto estão sujeitos a mudanças sociais e políticas causadas pela maturação e pela interação social do indivíduo-ambiente ao longo do desenvolvimento histórico e social. Dentre os modelos teóricos propostos para a investigação das dimensões da personalidade e do temperamento, a abordagem fatorial vem se destacando devido ao interesse em identificar os componentes da estrutura temperamental. A literatura fundamentada nos modelos psicológicos fatoriais sugere que os aspectos temperamentais podem estar associados a diversos desfechos cotidianos, tais como desempenho e centralidade no trabalho, saúde física, interesse musical, escolha do cônjuge, religiosidade, entre outros.
Bibliografia
geral consultada.
MOURE, Teresa, La Alternativa No-discreta en Linguística: Una Perspectiva Histórica y Metodológica. Santiago de Compostela: Universidade de Santiago de Compostela, 1997; BISSON, Carlos Augusto, Jornalismo e Política em Karl Kraus e Paulo Francis. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2004; NOGUEIRA, Paulo Eduardo, Paulo Francis, Polemista Profissional. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010; FONSECA, Francisco, Liberalismo Autoritário: Discurso Liberal e Práxis Autoritária na Imprensa Brasileira. São Paulo: Editora Hucitec, 2011; SACRAMENTO, Igor, “Entre o dramático e o épico: O herói negativo e as hibridizações estéticas na teledramaturgia de Dias Gomes nos anos 1970”. In: Revista Eletrônica Literatura e Autoritarismo – Dossiê, Dossiê Artistas e Cultura em Tempos de Autoritarismo. Maio de 2012; LANIUS, Eduardo de Oliveira, O Profeta Desacreditado: Uma Leitura do Projeto Ficcional de Paulo Francis. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Instituto de Letras. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2012; FRANCIS, Paulo, “Nelson nunca foi um intelectual”. In: RODRIGUES, Nelson, Teatro Completo de Nelson Rodrigues. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003; Idem, “Prefácio O Berço do Herói”. In: GOMES, Dias, O Berço do Herói. 6ª edição. Rio de Janeiro: Editora Bertrand, 2015; SILVA JUNIOR, George Martins Ney da, Transtorno Bipolar Associado à Demência: Tipologia, Correlações Clínicas e Fisiopatologia. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde. Faculdade de Medicina. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2015; BATISTA, Alexandre Blankl, Do Trotskismo ao Ultraliberalismo: A Trajetória de Paulo Francis na Imprensa Brasileira (1962-1997). Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2015; OLIVEIRA, Laís, Paulo Francis, um conservador-liberal. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Instituto de Ciências Humanas. Juiz de Fora: Universidade Federal de Juiz de Fora, 2017; GUARACY, Thales, “Paulo Francis por ele mesmo”. In: https://revistacult.uol.com.br/home/2020; entre outros.
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