Ubiracy de Souza Braga
“Só o indivíduo é competente para apreciar sua felicidade; ele é feliz se sente feliz”. Émile Durkheim (2010)
Curiosamente é possível ao homem somente em pé “na massa” (cf. Canetti, 1982; 1995) libertar-se do temor do contato social. Tem aí a única situação na qual esse temor transforma-se no seu oposto. E é da massa densa que se precisa para tanto, aquela na qual um corpo comprime-se contra o outro, densa inclusive em sua constituição psíquica, de modo que não atentamos para quem é que nos comprime, como o poeta Bertolt Brecht, precisou bem na memória. Tão logo nos entregamos à massa não tememos o seu contato. Na massa ideal, todos são iguais. Nenhuma diversidade contra, nem mesmo a orgia dos sexos. Quem quer que nos comprima é igual a nós mesmos. Subitamente, tudo se passa então como que no interior formasse um único corpo. Talvez essa seja uma das razões pelas quais a massa busca concentrar-se de maneira tão densa: ela deseja libertar-se tão completamente quanto possível do temor individual e coletivo do contato físico. Sustentamos a seguinte tese sociológica: Quanto mais energicamente os homens se apertam uns contra os outros, tanto mais seguros eles se sentirão de não se temerem mutuamente. Essa inversão do temor do contato, segundo Canetti, “é característica da massa”. O alívio que nela se propaga abruptamente alcança uma proporção notável alta quando a massa se apresenta em sua densidade máxima.
O
que muda comparativamente a esses traços gerais de comportamento refere-se à
hierarquia e a questão do poder que criaram para si as posições fixas e
tradicionais. A partir da maneira como as pessoas se apresentam dispostas uma
ao lado da outra, pode-se facilmente deduzir a diferença de prestígio entre
elas. Sabemos o que significa quando uma pessoa se encontra sentada num plano
mais elevado, tendo todas as demais em pé a circundá-la. Ou quando está em pé,
e as demais sentadas ao seu redor; quando alguém aparece de súbito, e as
pessoas reunidas levantam-se; quando alguém se ajoelha diante de outra pessoa;
quando não se convida aquele que acabou de entrar a sentar-se. Já uma
enumeração indiscriminada de exemplos como esses demonstram a quantidade de
configurações mudas que o poder tem como significado e apresenta. Seria
necessário investiga-las, definindo com maior exatidão o seu significado
socialmente e político. Durante um culto religioso numa igreja, os fiéis
ajoelham-se muitas vezes; estão acostumados, e mesmo com prazer não atribuem
significado a esse gesto frequente.
O orgulho daquele que se encontra em pé reside no fato dele estar livre e não se apoiar em coisa alguma. Seja porque interfira aí a lembrança psicológica da primeira vez em que ele, quando criança, pôs-se de pé sozinho, sentindo-se independente. Aquele que se levantou, pôs-se de pé em consequência de certo esforço e, assim procedendo, faz-se tão alto quando pode ser. Mas aquele que se encontra de pé há muito tempo expressa certa capacidade de resistência, porque pode ser visto por inteiro, sem ter medo ou ocultar-se. Quanto mais tranquilo se revelar esse seu estar em pé, quanto menos ele se voltar para espiar em todas as direções, tão mais seguro ele parecerá. Não temerá sequer um ataque pelas costas, invisível a seus olhos. O estar em pé causa a impressão de uma energia ainda não consumida, pois é algo que se encontra no princípio de todo movimento: usualmente, fica-se em pé antes de se andar ou correr. Trata-se da posição central, a partir da qual, sem que haja transição alguma, pode-se passar seja para outra posição, seja para uma forma qualquer de movimento. As pessoas tendem a supor naquele que está em pé a presença de uma tensão maior. Mesmo nos momentos nos quais sua intenção é inteiramente diversa; no momento seguinte, talvez se deite para dormir. O fato historicamente constituído na cidade é que na vida cotidiana, seja ela social ou tipicamente política se superestima aquele que se encontra em pé.
Parque Ambiental da Praia de Ramos Carlos de Oliveira Dicró, popularmente reconhecido como Piscinão de Ramos, Parque das Vizinhanças da Maré ou simplesmente Piscinão da Maré representa uma área de lazer que consiste em uma “praia artificial de areias de tombo” em torno de uma piscina pública de água salgada, instalada no bairro da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro (cf. Fernandes, 2011; Chaves, 2011; Oliveira, 2014). Foi planejado, construído e inaugurado no governo Anthony Garotinho entre 2000 e 2001 sendo inaugurado em dezembro deste último ano. Polêmico, o parque dividiu opiniões da população carioca, sob acusações de ser uma obra de intenções eleitoreiras e populistas, proibições de traficantes ao uso da cor vermelha, contaminação da água por excesso de urina, afogamentos pela falta de educação de seus frequentadores. Apesar disso, o parque tornou-se rapidamente um símbolo do subúrbio carioca e aos poucos um cartão-postal da cidade. Apesar da nomenclatura original de Piscinão de Ramos, todo o Parque localiza-se na Maré, não sendo assim uma área de lazer do bairro de Ramos. A piscina possui 26.414 m², revestidos com camada de polietileno e capacidade para 30 milhões de litros de água.
A novela O Clone, que foi ao ar pela Rede Globo entre outubro de 2001 e junho de 2002, colocou em evidência e em âmbito nacional, o Piscinão de Ramos. A novela Amor e Intrigas da RecordTV, entre 2007 e 2008, colocou em evidência o Piscinão de Ramos. O programa televisivo Pânico na TV enviou, em 2008, Christian Pior ao Piscinão de Ramos, para entrevistar pessoas. Luiza Zveiter, do programa Estúdio i, da Globo News, passou um dia no piscinão entrevistando banhistas e comendo pratos típicos do local. A sujeira e o abandono do Piscinão pelos órgãos públicos são manchetes recorrentes dos jornais cariocas e nacionais. Em fotografia os primeiros flash eram utilizados por lâmpadas similares às incandescentes, com a diferença que seu filamento era bem fino e longo que ao receber uma descarga elétrica queimava. Para cada foto era utilizada uma lâmpada. Em filmes anteriores a 1950 os fotógrafos após a foto retiravam a lâmpada para colocar uma nova providenciada, geralmente predisposta no bolso do paletó, como prática comum de fotojornalismo. Do ponto de vista técnico e material o flash é um aparelho mecânico utilizado em fotografia. Ele dispara energia sob a forma de luz simultaneamente com a abertura do diafragma e mediante a abertura do obturador. O flash eletrônico surgiu em 1950. Tinha o tamanho de uma mala, pesava quase 8 kg e carga de 5.000 volts de energia usados com cautela. Nesta década surgiu o Sevoblitz, primeiro flash com refletor incluído.
E através das baterias de níquel-cádmio começaram a fabricar os primeiros “flash de bolso”, o que reduziu em muito as dimensões, aliado ao aperfeiçoamento dos refletores. Os flash se tornaram tão populares e consumidos, que as próprias câmeras de amadores obtinham incorporados, alimentados por uma ou duas pilhas (baterias) comuns, alcalinas ou recarregáveis. Com o surgimento consumista das câmeras digitais na modernidade da década de 1990 os flash passaram a ser mais incorporados. Nas câmeras profissionais os flash inteligentes tornaram-se eficazes com câmeras ajustando seus disparos de acordo com os dados técnicos de abertura, velocidade, distância e outros. Tudo isso na velocidade de processamento de um chips. Chegam a disparar mais de uma vez em uma única foto, em primeiro lugar para calcular a luminosidade. Mesmo os pequenos flash possuem um raio de iluminação aproximado de 15 metros, enquanto os flash incorporados raramente ultrapassam a iluminação em torno de 4 metros. Em uso profissional as tochas, são flash fortes isolados da câmera e disparados por sinais de rádios, ou “fotocélulas”, quase mais usadas profissionalmente. É comum em eventos onde é exigido um raio mais amplo, utilizarem-se dois ou mais flash, conduzidos e disparados pelo rádio que é incorporado na câmera que envia o sinal para esses flash.
Ocaso significa pôr-do-sol ou Ocidente. O ocaso é o momento que o Sol se põe no horizonte, na direção oeste. O ocaso é o acontecimento que precede a noite. O ocaso é verificado todos os dias e em todas as regiões compreendidas entre o Ártico e o Antártico. O ocaso proporciona o aparecimento do crepúsculo, quando surgem no que chamamos céu, nuances vermelha e laranja oferecendo instantes espetaculares captados por fotógrafos em todo o mundo. A palavra ocaso também designa ocidente, oeste ou poente. É o ponto cardeal que indica o lado onde o Sol se põe. Alvorada é o contrário de ocaso e designa o momento que o sol aparece no horizonte na direção leste. No sentido figurado, ocaso significa fase de decadência ou fim. Define o período que antecede o fim de um acontecimento, ou a queda real de algo. É também sinônimo de ruína ou morte. Contrariamente, a amizade é como a sombra na tarde, crescente com o ocaso da vida. Em cartografia, por convenção, o lado oeste fica situado ao lado esquerdo dos mapas. Também é chamado por poente e ocidente. Dividindo o planisfério pelo meridiano de Greenwich, ficam situados no hemisfério ocidental todo o continente latino e centro-americano das três Américas e países da Europa e África.
Um mapa é e sempre será uma representação comunicativa visual de um lugar praticado. São, geralmente, representações bidimensionais que contém uma orientação e podem mudar de forma, fora de um espaço tridimensional. A ciência da concepção e fabricação usual de mapas designa-se cartografia. Por vezes, a cartografia e desejo se colocam sociologicamente sobre a projeção de superfícies curvas sobre superfícies planas no processo de planificação. Na entrada onde desempenho meu ofício (trabalho) nomeei “curva turva do Itaperi”. Isto porque do alto nota-se uma curva apontando para a esfera de poder burocrático, compreendido pela pena do sociólogo Max Weber, como dominação, pois é “a probabilidade de encontrar obediência para ordens específicas (ou todas) dentro de um determinado grupo de pessoas”. Todos os mapas desde os descobrimentos, são uma expressão da necessidade humana de reconhecer e representar o tempo/espaço enquanto representação e comunicação na vida. Como representações abstratas do mundo os mapas não são e nem podem ser neutros e devem ser interpretados cuidadosamente: uma das razões é a distorção provocada pelas projeções ideológicas, que pode induzir erros quanto à comparação de formas distintas.
Logo, na relação entre cultura e natureza da técnica, passando não mais a enxergá-la necessariamente como fonte de exploração da natureza, no sentido marxista do termo, mas também como parte integrante desse universo comum. O que não exclui a tópica da consciência de Hegel à Marx e a concepção pós-marxista contemporânea, que tem sido compreendida, difundida, analisada e, claro, utilizada conscientemente de forma a compreender e explicar a formação do ecossistema. A comunicação digital influi de fato numa possibilidade de apreensão do mundo. Torna a concepção ecosófica muito palpável e bastante interessante como base para refletirmos acerca do atual estado de coisas que se intensificam. A digitalização das relações e processos sociais dos lugares e espaços está alterando nossa percepção ao criarem sistemas interativos e imersivos, que nos colocam frente ao pensamento ecológico, entre sujeitos, tecnologia e natureza. Ao nos vermos mergulhados em uma rede que apaga as fronteiras entre o corpo físico e a mente, através de uma interface computadorizada capaz de partilhar nossa existência em um mundo virtual distribuído mundialmente, as fronteiras entre a existência corpórea localizada predominante até então em todas as experiências humanas, turva-se que se completamente na direção de uma experiência extracorpórea estilhaçada como ocorreu, no limite, exatamente com a disponibilidade dos 600 voluntários que posaram para o Greenpeace na Instalação de Nu, de Spencer Tunick na geleira Aletsch.
É difícil escapar à impressão de que em geral as pessoas usam medidas falsas, dizia Freud (2011), com razão, sobre a questão tópica do mal-estar na civilização, de que buscam poder, sucesso, riqueza para si mesmas e admiram aqueles que os têm, assim subestimando os autênticos valores da vida. E, no entanto, corremos o risco, num julgamento assim genérico, de esquecer a variedade do humano - last but not least – e de sua vida psíquica. Existem homens que não deixam de ser venerados pelos contemporâneos, como Herman Hesse, embora sua grandeza repouse em qualidades e realizações inteiramente alheias aos objetivos e ideais da multidão. Provavelmente se há de supor que apenas uma minoria reconhece esses grandes homens, enquanto a maioria os ignora. Mas a coisa, é claro, pode não ser tão simples assim, devido à incongruência entre as ideias e os atos das pessoas e à diversidade dos seus desejos. A ideia de que o homem adquire noção de seu vínculo com o mundo por um sentimento imediato, desde o início orientado para isso, é tão estranha, ajusta-se tão mal à nossa trama, que podemos tentar uma explicação psicanalítica, isto é, genética para esse sentimento. A seguinte linha de pensamento se oferece. Normalmente nada é mais seguro do que o sentimento de nós mesmos, de nosso Eu. Neste aspecto, este Eu nos aparece como autônomo, unitário, bem demarcado de tudo o mais. Que esta aparência é enganosa, que o Eu na verdade se prolonga para dentro, sem fronteira nítida, numa entidade psíquica inconsciente a que denominamos Id, à qual ele serve de fachada – isto é, com a pesquisa psicanalítica, mas que não é bem o nosso caso, na sociologia que propugnamos.
De
todo modo a patologia nos apresenta um grande número de estados em que a
delimitação do Eu ante o mundo externo se torna problemática, e nos faz lembrar
a expressão de despedida de Gilles Deleuze (1997) que tomamos de empréstimo, exemplarmente
que, através das palavras, entre as palavras, que se vê e que se ouve: - “A
vergonha de ser um homem: haverá razão melhor para escrever?”. Ipso facto,
no prefácio à 2ª edição da obra Da Divisão do Trabalho Social, de Émile
Durkheim (2010) lembra-nos da ideia que ficou na penumbra na primeira edição e
que parece útil ressaltar e determinar melhor, pois ela esclarecerá melhor
algumas partes do presente trabalho. Trata-se do papel que os agrupamentos
profissionais estão destinados a desempenhar na organização social dos povos
contemporâneos. Mas o que proporciona, particularmente nos dias de hoje,
excepcional gravidade a esse estado é o desenvolvimento então desconhecido, que
as funções econômicas adquiriram nos últimos dois séculos, aproximadamente.
Estamos longe do tempo em que eram desdenhosamente abandonadas às classes
inferiores, pois diante delas, vemos as funções militares, administrativas,
religiosas recuarem cada vez mais. Somente as funções científicas, adverte o
pragmático sociólogo, que encetou sua obra magnífica em torno de dez anos de
produção ininterrupta, de reconhecimento, estão em condição de disputar-lhes o
lugar – e ainda assim, a ciência contemporaneamente só tem prestígio na medida
em que pode servir à prática, isto é, em grande parte, às “profissões
econômicas”. É por isso que se pode dizer, não sem razão, que elas são
ou tendem a ser essencialmente industriais.
Uma
forma de atividade generalizada que tomou lugar na vida social não pode,
evidentemente, permanecer tão desregulamentada, em seu desempenho e atividade,
sem que disso resulte os impactos sociais sobre a divisão do trabalho e as mais
profundas perturbações. Mas sofrer no trabalho não é uma fatalidade. É, em
particular, como decorre e testemunhamos, uma fonte de desmoralização geral
real. Pois, precisamente porque as funções econômicas absorvem o maior número
de cidadãos, para o pleno desenvolvimento da vida social, há uma multidão de
indivíduos, como dizia Freud, cuja vida transcorre quase toda no meio
industrial e comercial; a decorrência disso é que, como tal meio é pouco
marcado pela moralidade, a maior parte da existência transcorre fora de toda e
qualquer ação moral. A tese funcionalista expressa na pena de Émile Durkheim,
como uma espécie de antídoto da civilização, e que o sentimento do dever
cumprido se fixe fortemente em nós, é preciso que as próprias circunstâncias em
que vivemos permanentemente desperto. A atividade de uma profissão só pode ser
regulamentada eficazmente por “um grupo próximo o bastante dessa mesma
profissão para conhecer bem seu funcionamento, para sentir todas as suas
necessidades e poder seguir todas as variações destas”. O único grupo que
corresponde a essas condições é formado dos agentes de uma
mesma condição reunidos num mesmo corpo.
E que a sociologia durkheimiana conceitua de
corporação ou grupo profissional. É na ordem econômica que o grupo profissional
existe tanto quanto a moral profissional. Desde que, não sem razão, com a
supressão das antigas corporações, não se fizeram mais do que tentativas fragmentárias
e incompletas para reconstituí-las em novas bases sociais. Os únicos agrupamentos dotados de permanência
são os que se chamam sindicatos, seja de patrões, seja de operários.
Historicamente, temos aí in statu nascendi o começo e o princípio ético
de uma organização profissional, mas ainda de forma rudimentar. Isto porque, em
primeiro lugar, um sindicato é uma associação privada, sem autoridade legal,
desprovida, por conseguinte, de qualquer poder regulamentador. O número deles é
teoricamente ilimitado, mesmo no interior de uma categoria industrial; e, como
cada um é independente dos outros, se não se constituem em federação e se
unificam, não há neles nada que exprima a unidade da profissão em seu conjunto
de práticas e saberes sociais. Não só os sindicatos de patrões e de empregados
são distintos uns dos outros, o que é legítimo e necessário, como não há entre
eles contatos regulares. Não existe organização comum que os aproxime sem
fazê-los perder sua individualidade e na qual possam elaborar em comum uma
regulamentação que, estabelecendo suas relações mútuas, imponha-se a ambas as
partes com a mesma autoridade; por conseguinte, é sempre a “lei dos mais forte”
que resolve os conflitos, e o estado de guerra subiste inteiro. Salvo no caso
de seus atos pertencentes à esfera moral comum estão na mesma situação.
A
tese sociológica é a seguinte: para que uma moral e um direito profissionais
possam se estabelecer nas diferentes profissões, é necessário, pois, que a
corporação, em vez de permanecer um agregado confuso e sem unidade, se torne,
ou antes, volte a ser, um grupo definido, organizado, uma instituição pública. A
primeira observação familiar da crítica de Émile Durkheim, é que a corporação
tem contra si seu próprio passado histórico. De fato, ela é tida como
intimamente solidária do antigo regime político e, por conseguinte, como
incapaz de sobreviver a ele. Na história da filosofia, o que permite considerar
as corporações uma organização temporária, boa apenas para uma época e uma
civilização determinada, é, ao mesmo tempo, sua grande antiguidade e a maneira
como se desenvolveram na história. Se elas datassem unicamente da Idade Média,
poder-se-ia crer, de fato que, nascidas com um sistema político, deviam
necessariamente desaparecer com ele. Mas, na realidade, têm uma origem bem mais
antiga. Em geral, elas aparecem desde que as profissões existem, isto é, desde
que a atividade deixa de ser puramente agrícola. Se não parecem ter sido
conhecidas na Grécia, até o tempo da conquista romana, é porque os ofícios,
sendo desprezados, eram exercidos exclusivamente por estrangeiros e, por isso
mesmo, achavam-se excluídos da organização legal da cidade. Mas em Roma, elas
datam pelo menos dos primeiros tempos da República; uma tradição chegava até a atribuir
sua criação ao rei Numa, um sabino escolhido como segundo rei de Roma. Sábio,
pacífico e religioso, dedicou-se a elaboração das primeiras leis de Roma, assim
como dos primeiros ofícios religiosos da cidade e do primeiro calendário.
É
verdade que, por tempo, elas tiveram de levar uma existência bastante humilde,
pois os historiadores e os monumentos só raramente as mencionam; não sabemos
muito bem como eram organizadas. Desde de Cícero, sua quantidade tornara-se
considerável e elas começavam a desempenhar um papel. Nesse momento, diz J.-P
Waltzing (1857-1929), “todas as classes de trabalhadores parecem possuídas pelo
desejo de multiplicar as associações profissionais”. Mas o caráter desses
agrupamentos se modificou; eles acabaram tornando-se “verdadeiras engrenagens
da administração”. Desempenhavam funções oficiais; cada profissão era vista
como um serviço público, cujo encargo e cuja responsabilidade ante o Estado
cabiam à corporação correspondente. Foi a ruína da instituição. Porque, segundo
Durkheim, essa dependência em relação ao Estado não tardou a degenerar numa
servidão intolerável que os imperadores só puderam manter pela coerção. Todas
as sortes de procedimentos foram empregadas para impedir que os trabalhadores
escapassem das pesadas obrigações que resultavam, para eles, de sua própria
profissão. Tal sistema de trabalho só podia durar enquanto o poder político
fosse o bastante para impô-lo. É por isso que ele não sobreviveu à dissolução
do Império. As guerras, invasões haviam destruído o comércio e a indústria;
os artesãos aproveitaram essas circunstâncias para fugir das cidades e se
dispersar nos campos. Os primeiros séculos de nossa era viram produzir-se
um fenômeno que devia se repetir tal qual no fim do século XVII: a vida
corporativa se extinguiu quase por completo. Mal subsistiram alguns vestígios
seus, na Gália e na Germânia, nas cidades de origem romana.
Portanto,
naquele momento, um teórico tivesse tomado consciência da situação, teria
provavelmente concluído, como o fizeram mais tarde os economistas, que as
corporações não tinham, ou, em todo caso, não tinham mais razão de ser, que
haviam desaparecido irreversivelmente, e sem dúvida teria tratado de retrógrada
e irrealizável toda tentativa de reconstituí-las. Os acontecimentos
desmentiriam uma tal profecia. De fato, após um “eclipse da razão” de algum
tempo caminhando para os nossos dias, as corporações recomeçaram nova
existência em todas as sociedades europeias. Elas renasceram por volta dos
séculos XI e XII. Desde esse momento, diz Emile Levasseur, “os artesãos começam
a sentir a necessidade de se unir e formam suas primeiras associações”. Em todo caso, no século XII, elas estão outra
vez florescentes e se desenvolvem até o dia em que começa para elas uma nova
decadência. Uma instituição tão persistente assim não poderia depender de uma
particularidade contingente e acidental; muito menos ainda é possível admitir
que tenha sido o produto de não sei que “aberração coletiva”. Se, desde a
origem da cidade até o apogeu do Império, desde o alvorecer das sociedades
cristãs aos tempos modernos, elas foram necessárias, é porque correspondem a
necessidades duradouras e profundas. Sobretudo, vale lembrar que o próprio fato
de que, depois de terem desaparecido uma primeira vez, reconstituíram-se por si
mesmas e sob uma nova forma, retira todo e qualquer valor ao argumento que
apresenta sua desaparição violenta no fim do século passado como uma prova de que
não estão mais em harmonia com as novas condições de existência coletiva.
A
necessidade que todas as grandes sociedades civilizadas sentem de chamá-las de
volta à vida é o mais seguro sintoma evidente dessa supressão radical não era
um remédio e de que a reforma de Jacques Turgot requeria outra que não poderia
ser indefinidamente adiada. Mas nem toda organização corporativa é anacronismo
histórico. Acreditamos que ela seria chamada a desempenhar, nas sociedades
contemporâneas, menos pelo papel considerável que julgamos indispensável, por
causa não dos serviços econômicos que ela poderia prestar, mas da influência
moral que poderia ter. O que vemos antes
de mais nada no grupo profissional é um poder moral capaz de conter os egoísmos
individuais, de manter no coração dos trabalhadores um sentimento vivo de
solidariedade comum, de impedir que a “lei do mais forte” se aplique de maneira
brutal nas relações industriais e comerciais. Mas é preciso evitar estender a
todo regime corporativo o que pode ter sido válido para certas corporações e
durante um curto lapso de tempo de seu desenvolvimento. Longe de ser atingido
por uma sorte de enfermidade moral devida à sua própria constituição, foi
sobretudo um papel moral que ele representou e continua representando ainda, na
maior parte de sua história. Isso é particularmente evidente no caso das
corporações romanas. Sem dúvida, a associação lhes dava mais forças para
salvaguardar, se necessário, seus interesses comuns. Mas era isso apenas um dos
contragolpes úteis que a instituição produzia, lembra Durkheim: “não era sua
razão de ser, sua função principal. Antes de mais nada, a corporação era um
colégio religioso”. Cada uma tinha seu deus, cujo culto tinha meios, era celebrado num templo especial. Do mesmo modo que cada família
tinha seu Lar familiaris, cada cidade seu Genius publicus, cada colégio
tinha seu deus tutelar, Genius collegi.
Naturalmente,
o culto profissional não se realizava sem festas, que eram celebradas em comum
sem sacrifícios e banquetes. Todas as espécies de circunstâncias serviam,
aliás, de ocasião para alegres reuniões, além disso, distribuições de víveres
ou de dinheiro ocorriam com frequência às expensas da comunidade. Indagou-se se
a corporação tinha uma caixa de auxílio, se ela assistia regularmente seus
membros necessitados, e as opiniões a esse respeito são divididas. Mas o que
retira da discussão parte de seu interesse e de seu alcance é que esses
banquetes comuns, mais ou menos periódicos, e as distribuições que os acompanharam
serviam de auxílios e faziam não raro as vezes de uma assistência direta. Os
infortunados sabiam que podiam contar com essa subvenção dissimulada. Como
corolário do caráter religioso, o colégio de artesãos era, ao mesmo tempo, um
colégio funerário. Unidos os gentiles, num culto na vida, os
membros da corporação queriam, como eles, dormir juntos seu derradeiro
sono.
Para entendermos melhor esta questão no plçano da ecologia e sobretudo do ponto de vista antropológico, foi na região sudoeste da ilha da Tasmânia, localizada na Austrália, que a etnohistória Verde começou. Ela não possui caráter de disciplina, constituindo-se apenas em um método de estudo: trata-se de um campo de pesquisa que está por definir-se. O significado varia amplamente pelo contexto social e político e principalmente por quem está por trás das chamadas máscaras sociais. Melhor dizendo, como afirma Caetano Veloso, “Kabuki, máscara”. Mais precisamente, a criação do primeiro Partido Verde se deu em meio a um controverso projeto político do governo australiano com a tese: “o de transformar o Lago Pedder em um lago artificial para poder construir uma hidrelétrica na região”. Um grupo de ecologistas, do United Tasmanian Group, se uniu para tentar impedir o anseio do governo pela obra. Os esforços dos ecologistas foram minados pela intransigência da autoridade pública australiana. O lago além de passar de “lago natural para lago artificial”, deixou de abrigar várias espécies da fauna australiana, resultando em um efeito irreversível para a diversidade de seres vivos e em desequilíbrio do ecossistema global. Essa triste história social, contudo, possibilitou uma série de conquistas político-afetivas, que resultam como uma resposta aos modos de vida destrutivos da sociedade global contemporânea.
Quando se fala em habitar representa-se de costume um comportamento que o homem cumpre e realiza em meio a vários outros modos de
comportamento. Não habitamos simplesmente, mas construir significa
originariamente habitar. E a antiga palavra construir
(bauen) diz que “o homem é à medida
que habita”. Mais que isso, significa ao mesmo tempo: proteger e cultivar, a
saber, cultivar o campo, cultivar a vinha. Construir significa cuidar do
crescimento que, por si mesmo, dá tempo aos seus frutos. No sentido de proteger
e cultivar, construir não é o mesmo que produzir. Note Bem: em oposição ao
cultivo, construir diz edificar. Ambos os modos de construir – construir como
cultivar, em latim, colere, cultura,
e construir como edificar construções, aedificare
– estão contidos no sentido próprio de bauen.
No sentido de habitar, ou construir, permanece, para a experiência cotidiana do
homem. Aquilo que desde sempre é, como a linguagem diz de forma tão exclusiva e
bela, habitual. Isto esclarece porque
acontece um construir por detrás dos múltiplos modos de habitar, por detrás das
atividades de cultivo e edificação. O sentido próprio de construir, a saber,
habitar, cai no esquecimento. Em que medida construir pertence ao habitar?
Quando construir e pensar são indispensáveis para habitá-lo. Ambos são, no
entanto, insuficientes para habitá-lo se cada um se mantiver isolado,
distantes, cuidando do que é seu ao invés de escutar um ao outro. Ipso facto construir e pensar pertence evidentemente
ao habitar. Mas permanecem em seus limites. Sabem, quando aprendemos a pensar, que tanto um como outro provém
da obra de uma longa experiência e de um exercício incessante de pensar.
O
que era reconhecido como United Tasmanian
Group, em 1972, se tornou Green Party. O Partido Verde nasceu
simultaneamente na Tasmânia e na Nova Zelândia. A Nova Zelândia é notável por
seu isolamento geográfico: está situada a cerca de 2 000 km a sudeste da
Austrália, separados através do mar da Tasmânia e os seus vizinhos mais
próximos ao norte são a Nova Caledônia, Fiji e Tonga. Devido ao seu isolamento
social, o país desenvolveu fauna distinta dominada por pássaros, alguns dos
quais foram extintos após a chegada dos seres humanos e dos mamíferos
introduzidos por eles. A maioria da população da Nova Zelândia é de ascendência
europeia (67,6%), sobretudo britânica, enquanto os nativos Maoris ou mesmo seus
descendentes. Sem desconsiderar o papel social das organizações do terceiro setor nas tentativas de barrar
ações do governo que sejam insustentáveis e ecologicamente inviáveis, é
importante ressaltar que em certos países a própria estrutura governamental
diminui as instâncias de veto das ações do governo, facilitando a aprovação de
certas políticas públicas que podem ser prejudiciais à população, e sobretudo
ao ambiente. Em outras palavras, há
momentos em que se sente que é imprescindível estar atuando por dentro do
governo, para conseguir construir políticas públicas sustentáveis, limpas e
saudáveis.
A insularidade da Tasmânia e da região selvagem da Tasmânia em particular, tem contribuído para a sua singularidade e ajudou a protegê-la contra o impacto das espécies exóticas que afetou seriamente a fauna do continente. Tasmânia foi cortada da Austrália continental pelas enchentes do Estreito de Bass pelo menos 8000 anos atrás, assim isolando estes aborígenes habitantes. Os aborígenes tasmanianos foram até o advento do explorador europeu Abel Tasman, o maior grupo humano isolado na história social do mundo. Tasman dirigiu uma exploração pelo oceano Índico e pelo sul do Pacífico, em busca de oportunidades de comércio e ouro, mas também para encontrar uma possível rota para o Chile. Ele foi o primeiro europeu a avistar a Tasmânia, em 1642, bem como a Nova Zelândia, numa viagem que tinha por objetivo a descoberta da Austrália. Isto é importante, sociologicamente, mas deve-se considerar que algumas das 500 gerações sobreviveram sem quase nenhuma outra influência externa. Pesquisas arqueológicas e escavações em vales fluviais interiores têm localizado o marco fundamental de 37 sítios de caverna, todos considerados cientificamente por terem sido ocupados entre 30.000 e 11.500 anos atrás no sentido da etnohistória. Recentes descobertas etnográficas da arte rupestre em três locais distintos de caverna demonstraram socialmente que tinha um significado cerimonial. Artefatos de pedra dispersos, pedreiras e abrigos de rocha nas terras altas da Tasmânia indicam uma distintiva adaptação a este ambiente.
A
humanidade de resto ainda não havia enfrentado uma crise ambiental como essa. As
mudanças climáticas exigem decisões políticas rápidas e corajosas para
radicalmente reduzir as emissões de gases de efeito estufa e estabilizar o
aquecimento do planeta. Governos de todo o mundo: uni-vos! Precisamos entender
a necessidade de uma atitude política em defesa do ambiente global, da
sociedade civil mundial. Reconhecido em todo o mundo global por suas
instalações, Spencer Tunick quer que as pessoas saibam que “aquecimento global”
não é um assunto abstrato. Mas uma ameaça real e perigosa que afeta a todos,
conforme afirmou: - “Eu quero que as pessoas sintam a vulnerabilidade de sua
existência e como isso está diretamente relacionado com a fragilidade das
geleiras mundiais” (“I want people to feel the vulnerability of their existence
and how it is directly related to the fragility of the world`s glaciers”). Para
Pedro Dallari ao jornal da Universidade de São Paulo, afirma que a pandemia de
coronavírus é algo gravíssimo, mas há outro problema mundial que merece a
atenção da comunidade globalizada: a crise ambiental. Em sua coluna desta
semana, ele faz essa relação e explica suas razões. - “O ano de 2020 começou
sob o signo de uma gravíssima ameaça: a disseminação de doenças causadas pelo
coronavírus, com milhares de infectados e muitos mortos. É um quadro que começa
a ameaçar a economia mundial, com riscos de paralisação e mesmo recessão. Mas
há uma grande mobilização no mundo como um todo, seja de medidas de proteção ou
de coordenação feita pela OMS”. - “Essa situação me permite comparar com outra
situação, que talvez seja até mais grave, mas que não tem visto a mesma reação,
a crise ambiental. Tal qual uma doença silenciosa, a destruição ambiental vai
se propagando, sem que se tenha a mesma reação coordenada e de alocação de
recursos que temos vistos no caso do coronavírus”.
Praias artificiais são grandes piscinas criadas com o intuito de imitar as praias litorâneas. Algumas cidades situadas longes de litorais, criaram suas próprias praias reconstruindo desde ondas de surfe até a sensação térmica do litoral. Elas têm ondas, areia e palmeiras, podem estar localizadas no meio do cerrado brasileiro ou no centro da Alemanha, a muitos quilômetros do mar. Criadas pelo homem, as praias artificiais servem para refrescar e entreter turistas no mundo todo. Em diferentes partes do mundo, as praias artificialmente construídas tornaram-se “destinos concorridos”, sobretudo no verão. Mais do que uma simples piscina com areia em volta, elas garantem um ambiente refrescante e programado para aproveitar os dias de calor. A piscina natural mais antiga já registrada por pesquisadores fica no sítio arqueológico de Mohenjo Daro no Paquistão, com uma área de 12 x 7 metros, e tem cerca de quatro mil anos. Gregos e romanos, na Antiguidade, fizeram piscinas artificiais para treinos e jogos náuticos. As modernas começaram a surgir na Inglaterra por volta dos anos 1830.
Os primeiros relatos etnográficos de “tanques para banhos” parecidos com as piscinas que reconhecemos vêm do Egito antigo. Eles ficavam dentro das pirâmides e estavam ligados à decoração do local. Mas hieróglifos datados de 2.500 anos antes de Jesus Cristo já demonstravam os egípcios nadando. Posteriormente, houve o relato do uso de piscinas públicas em Roma e na Grécia antiga. Foi em Roma também que surgiu a “primeira piscina aquecida do mundo”, construída por Gaius Maecenas, um político, estadista e patrono das letras. Foi um conselheiro hábil e de confiança do imperador Augusto, o qual se fez muitas vezes representar por Mecenas e amigo pessoal para várias missões políticas. Seus esforços renderam benefícios a seu círculo literário famoso, que incluía Horácio, Virgílio e Propércio, patrocinando-os com amizade, bens materiais e proteção política. Um mecenas é uma pessoa que patrocina as artes, a ciência, ou o ensino, muitas vezes com benefícios fiscais. Esse tipo de lazer só se tornou popular no ocidente no século XIX. Durante a Idade Média, com a difusão do Cristianismo, tanques também eram utilizados nos rituais de batismo, nos quais as pessoas eram mergulhadas para se purificar. Com a prática da natação surgiram os tratamentos da água para atletas não ficarem expostos a doenças para as competições.
Dizia Sigmund Freud, no ensaio: O Mal-estar na Civilização (2011) que é difícil escapar à impressão de que em geral as pessoas usam medidas falsas, de que buscam poder, sucesso e riqueza para si mesmas e admiram aqueles que os têm subestimando os autênticos valores da vida. E no entanto, corremos o risco num julgamento assim genérico, de esquecer a variedade do mundo humano e da sua vida psíquica. Existem homens que não deixam de ser venerados pelos contemporâneos, embora sua grandeza repouse em qualidades e realizações inteiramente alheias aos objetivos e ideais da multidão. É provável há de supor que uma minoria reconhece esses homens, mas a maioria os ignora. Mas pode não ter significado tão simples, devido à incongruência entre as ideias e os atos das pessoas e à diversidade dos seus desejos. A ideia de que o homem adquire noção de seu vínculo com o mundo por um sentimento imediato, desde o início orientado para isso, é tão estranha, ajusta-se tão mal à trama de nossa psicologia, que podemos tentar uma explicação psicanalítica, isto é, genérica, para esse sentimento o que o sentimento de nós mesmos, de nosso Eu.
Este Eu nos aparece como autônomo, unitário, bem demarcado de tudo o mais. Que esta aparência é enganosa, que o Eu na verdade se prolonga para dentro, sem fronteira nítida, numa entidade psíquica inconscientemente a que denominamos Id, à qual ela serve como uma espécie de fachada – isto aprendemos somente com a pesquisa psicanalítica, que ainda nos deve informar muita coisa sobre a relação entre o Eu e o Id. Mas ao menos para fora o Eu parece manter limites claros e precisos. Só é diferente num estado, descreve Freud, por certo extraordinário, mas que não pode ser condenado como patológico. No auge do enamoramento, a fronteira entre Eu e objeto ameaça desaparecer. Contrariando o testemunho dos sentidos, o enamorado afirma que Eu e Tu são um, e assim está preparado para agir como se assim fosse. Algo que pode ser temporariamente abolido por uma função fisiológica também poderá ser transtornado por processos mórbidos em que a delimitação do Eu ante o mundo externo se torna problemática, ou os limites são traçados incorretamente; casos em que partes do próprio corpo, e componentes da própria vida psíquica, percepções, pensamentos, afetos nos surgem como alheios e não pertencentes ao Eu; outros, em que se atribui ao mundo externo o que evidentemente surgiu no Eu e deveria ser reconhecido por ele.
A Praia de Ramos tinha sido aterrada com a dragagem do Porto do Rio de Janeiro muitos anos antes e possuía uma espessa camada de areia. Assim, após estudos de geotécnica e engenharia foi executada a terraplenagem da lagoa, com a escavação da região central e aterro da sua área de periferia. Em seguida, foi aplicada uma manta elástica e impermeável dotada de proteção mecânica contra rasgos para permitir que a água ficasse contida na lagoa e também não fosse contaminada pelas águas da baía de Guanabara através do lençol freático. Desta forma, construída a Lagoa Artificial, restava tratar a água, desafio óbvio e não menos complexo. O sistema de tratamento para a despoluição das águas da majestosa Baía de Guanabara deveria atender a diversos requisitos tais como: remover os resíduos sólidos grosseiros; tratar água salgada sem realizar qualquer filtração; atingir níveis de clarificação de água potável em um só canal de tratamento; garantir a balneabilidade, e ter o menor custo de implantação e operação.
Como “um problema sem solução é um problema mal colocado”, segundo a filosofia de Emerson, foi necessário estudar muito bem as condições de contorno e o que se esperava da solução, resultando em um novo processo de tratamento, de fluxo contínuo, e ao contrário comparativamente de uma piscina comum, a água não seria recirculada, nem mesmo decantada, mas seria flotada, processo físico que através de microbolhas de ar – parecido com o fenômeno que ocorre quando abrimos uma garrafa de água com gás – promove a flotação ou flutuação dos flocos de sujeira na superfície, previamente coagulados com produtos químicos, formando um lodo na superfície da Estação de Tratamento de Água (ETA), onde um equipamento remove o lodo continuamente. A água tratada e desinfetada flui para a lagoa, que também possui sistema de desinfecção descentralizada em diversos pontos ao longo do seu perímetro, formando um fluxo contínuo de água limpa a serviço da população.
A
Estação de Tratamento de Água do Piscinão de Ramos opera sete dias por semana,
e como a lagoa, é monitorada pela companhia Rio Águas, órgão gestor dos rios do
Município Estado do Rio de Janeiro, em conformidade com a Resolução Conselho Nacional do Meio Ambiente - Coanama
274/2000. Os resultados sistemáticos comprovam a qualidade de água na categoria
excelente. A construção, realizada com recursos de compensação ambiental da empresa
Petrobras, foi muito rápida. Em menos de um ano, mais de 100 mil pessoas já
haviam se banhado por ali. Antes mesmo de cortarem a fita inaugural, o Piscinão
de Ramos já havia sido nomeado e inaugurado pelo povo carioca, com muito samba
e festa. Atualmente ainda pode ser considerado, sob certas circunstâncias
sociais e culturalmente o 2° maior réveillon
do Rio de Janeiro. O sucesso do projeto repercutiu na imprensa, foi capa dos
maiores jornais de São Paulo e até tema de novela, em que a atriz repetia o
bordão “cada mergulho é um flash”.
A
alegria de Mara Virginia Manzan contagiava com alegria as personagens de sua carreira
artística. Era considerada a “alegria em pessoa, o amor à vida em pessoa!” pela
extraordinária autora de novelas Glória Perez, que lamentou a morte da atriz no
seu Twitter. Uma das personagens mais
marcantes e engraçadas de Mara Manzan foi Odete, da novela O Clone (2001) produzida pela Rede Globo, transmitida originalmente
de 1° de outubro de 2001 a 14 de junho de 2002 em 221 capítulos. Frequentadora
do popular Piscinão de Ramos, uma
área de lazer que consiste em uma praia artificial de areias de tombo em torno
de uma piscina pública de água salgada, instalada no bairro da Maré, na zona
norte do Rio de Janeiro do bairro praiano da baia da Guanabara, na cidade do Rio
Janeiro. No enredo, seu bordão: “Cada
mergulho é um flash”, foi adotado nas
conversas populares dos brasileiros. A atriz, de 57 anos, morreu na sexta-feira
13 de novembro de 2009 devido ao câncer
no pulmão. Por causa da doença, Mara precisou deixar mais cedo a novela Duas Caras (2007), onde interpretava
Amara, para ser operada, e em Caminho das
Índias (2009), ficou algumas semanas afastada por causa da quimioterapia.
Táxi-lotação bairro Ramos (1972). |
O
bairro se define como uma organização
coletiva de trajetórias individuais. A organização da vida cotidiana se
articula ao menos segundo dois registros: 1. Os comportamentos, cujo sistema se
torna visível no espaço social da rua e que se traduz pelo vestuário, pela
aplicação mais ou menos estrita dos códigos de cortesia, o ritmo de andar, o
modo como se evita ou ao contrário se valoriza este ou aquele espaço público.
2. Os benefícios simbólicos que se espera obter pela maneira de “se portar” no
espaço do bairro aparecem como o lugar onde se manifesta um “engajamento”
social: uma arte de conviver com parceiros (vizinhos, comerciantes) que estão
ligados a você pelo fato concreto, mas essencial, da proximidade e da
repetição. Existe uma regulação articulando um ao outro esses dois sistemas com
o auxílio do conceito de conveniência,
que surge no nível dos comportamentos, representando um compromisso pelo qual
cada pessoa, renunciando à anarquia das pulsões individuais, contribui para a
vida coletiva, retirando daí benefícios
simbólicos necessariamente protelados. Pela relação “saber comportar-se”, o
usuário se obriga a respeitar para que seja possível a vida cotidiana.
A contrapartida de imposição social
é para o usuário a certeza de ser reconhecido e, portanto, considerado
afetivamente por seus pares, e fundar assim em benefício próprio uma relação de
forças nas diversas trajetórias que percorre. O bairro é por definição, um
domínio do ambiente social, pois constitui para o usuário uma parcela conhecida
do espaço urbano na qual positiva ou negativamente ele se sente reconhecido.
Pode-se, portanto apreender o bairro, simplificadamente, como esta porção do
espaço público em geral em que se insinua um “espaço privado particularizado”
pelo fato do uso quase cotidiano desse espaço social integrado. A fixidez do
habitat dos usuários, o costume recíproco do fato da vizinhança, os processos
de reconhecimento que se estabelecem graças á coexistência concreta em um mesmo
território urbano, todos esses elementos práticos se nos oferecem como imensos
campos de exploração em vista de compreender um pouco melhor esta grande (des)conhecida
que é a nossa vida cotidiana.
Ramos
é um bairro da Zona da Leopoldina, na Zona Norte do município do Rio de Janeiro. Bairro carioca tradicional e um
dos principais redutos do samba e chorinho carioca, faz limites com os
bairros Olaria, ao norte, Complexo do Alemão, a oeste, Bonsucesso, ao sul, e
Maré, que fica no outro lado da Avenida Brasil, a leste. Seu IDH, no ano 2000,
era de 0,857, o 47º melhor do município do Rio de Janeiro. No século XX, Ramos
foi um dos redutos de elite da chamada Zona da Leopoldina. O Social Ramos Clube era frequentado por
moradores ilustres e os convites para os seus salões eram disputados. Em 1938,
o Cine Rosário era um dos maiores do Rio de Janeiro com seu projeto
arquitetônico Art Decó. Entre as
agremiações carnavalescas do bairro, destaca-se a escola de samba Imperatriz
Leopoldinense, oito vezes campeã no carnaval carioca. O Grêmio Recreativo Cacique de Ramos, fundado em 1961, tem sede no
bairro de Olaria. Ramos sempre se posicionou com relevância no samba do
Rio de Janeiro.
O bairro é o domínio onde a relação espaço/tempo é a mais favorável para um usuário ordinário que deseja deslocar-se por ele a pé saindo de sua casa. Por conseguinte, é o pedaço da cidade atravessado por um limite distinguindo o espaço privado do espaço público: é o que resulta de uma caminhada, da sucessão de passos numa calçada, pouco a pouco significada pelo seu vínculo orgânico com a residência. Diante do conjunto da cidade, atravancado por códigos que o usuário não domina, mas que deve assimilar para poder viver aí, em face de uma configuração dos lugares impostos pelo urbanismo, diante dos desníveis sociais internos ao espaço urbano, o usuário sempre consegue criar para si algum lugar de aconchego, itinerários para o seu uso ou seu prazer, que são as marcas que ele soube, por si mesmo, impor ao espaço urbano. Metodologicamente o bairro representa uma noção dinâmica, que necessita de progressiva aprendizagem. Vai progredindo mediante a repetição do engajamento do corpo do usuário no espaço público até exercer uma apropriação. A trivialidade desse processo, partilhado por cidadãos, torna inaparente a sua complexidade enquanto prática cultural e a sua urgência para satisfazer o desejo urbano dos usuários da cidade.
Entre
as agremiações carnavalescas de destaque do bairro, destacam-se o Grêmio Recreativo Escola de
samba Imperatriz Leopoldinense e o Grêmio Recreativo Cacique de Ramos, fundado em 1961, tem
sede em Olaria. O bairro vizinho Ramos, no corredor da Estrada de Ferro Central
do Brasil se posiciona com relevância no samba carioca. Grandes nomes da música
brasileira ligam-se ao bairro, como os dos compositores Pixinguinha,
Villa-Lobos e recentemente, Zeca Pagodinho e Almir Guineto. Pixinguinha
compôs o Hino de Ramos em 1965, para os festejos comemorativos de 80 anos do
bairro. Villa-Lobos tornou-se assíduo frequentador ao conhecer a sua futura
esposa durante uma visita a um amigo, músico, morador do bairro. Veio a ser um
dos fundadores do bloco carnavalesco Recreio
de Ramos. Zeca Pagodinho e Almir Guineto ligam-se ao nome do tradicional Cacique de Ramos, que também é o berço
do grupo musical Fundo de Quintal. Em 2009, a Escola de Samba Imperatriz, com o enredo “Imperatriz… Só quer mostrar que faz samba também” homenageou o bairro
de Ramos na Marquês de Sapucaí.
O
projeto social foi idealizado pelo governo estadual carioca em parceria com a
Petrobras. Inaugurado em dezembro de 2001, recebeu o nome de Piscinão de Ramos. Em abril de 2002, sua
denominação foi alterada para Parque
Ambiental da Praia de Ramos. A piscina foi montada utilizando-se água do
mar, para que a população suburbana, maioria crianças, aproveitasse o clima
predominante da orla marítima, sem a preocupação com a forte poluição que
atinge as praias da baía de Guanabara, bem como zerar o índice de afogamento. O
piscinão já chegou a receber 60.000 pessoas em um único fim de semana. Em 2012,
o nome oficial foi mudado para Parque
Ambiental Carlos Roberto de Oliveira (Dicró), em homenagem ao sambista,
falecido naquele ano. Ele já dividiu opiniões e foi alvo de diversas polêmicas.
Impossível falar de Zona Norte sem citar o famoso Piscinão de Ramos, que se
transformou em importante área de lazer para os moradores da região. Chamado
atualmente de Parque Ambiental da Praia de Ramos Carlos Roberto de Oliveira, o
piscinão é uma praia artificial localizada na Maré, com 26.414 m² e 30 milhões
de litros cúbicos de água. O Piscinão
foi bem planejado, construído e
inaugurado no governo populista do político campista Anthony Garotinho (PR-RJ),
em 2001. A polêmica sempre fez parte de sua história política e social.
Com
a promessa de criar no local uma alternativa à praia de Ramos, na zona norte do
Rio de Janeiro banhada pela Baía de Guanabara, poluída e imprópria para banho
há décadas, o governo do Estado inaugurou, em dezembro de 2001, um lago salgado
artificial de 26 mil m², preenchido com 30 milhões de litros de água do mar
tratada. O Piscinão de Ramos teria
“as águas mais limpas do Rio de Janeiro”, segundo a propaganda oficial. Mais de
13 anos depois, apesar de a Rio-Águas, Fundação Instituto das Águas do
Município do Rio informar que o tratamento da água do piscinão ocorre
diariamente, e garantir que o lago está próprio para banho, o que se vê a olho
nu indica o contrário. Infelizmente a contaminação da água e até proibições ditas
“por ordem de traficantes” foram registrados em 14 anos de existência. O local se tornou um símbolo do subúrbio carioca e, aos poucos, um
cartão-postal do Rio de Janeiro. Já chegou a receber em torno de 60 mil pessoas
num único fim de semana e se popularizou tanto que chegou a ser cenário de
novelas e sobretudo, de programas populares de TV.
Em
2012, o nome oficial foi mudado para Parque
Ambiental Carlos Roberto de Oliveira
Dicró, em homenagem ao sambista, que era “a cara” da malandragem da região.
Aliás, Dicró, que faleceu em 2011, inaugurou um quiosque no local, em 2001, que
posteriormente vem sendo administrado pelo filho, César. Aliás, César Dicró que
acrescentou oficialmente o apelido do pai ao nome de batismo, cuida agora do
quiosque herdado do “eterno malandro”. Ele diz que o Piscinão já viveu dias
melhores. - No fim de semana rola pagode, sirvo uma cerveja gelada com peixe
frito. Mas o número de frequentadores tem caído. Falta manutenção. No auge,
aqui já chegou a registrar coisa de 40 mil pessoas no fim de semana. É opção de lazer do gênero para quem mora na Zona Norte e na Baixada, comenta o
filho do sambista. A aposentada Vera Lúcia dos Santos passa as manhãs pelo
calçadão do Piscinão. - Se eu moro aqui, vou para onde? É uma área de lazer
bacana. A vendedora Maria Aparecida de Góes diz que há 14 anos sobrevive do
Piscinão. - Já temos a clientela certa. É o meu negócio.
A Baixada Fluminense é uma região geográfica do Rio de Janeiro, que pertence ao Grande Rio. As cidades que compõem a região são Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Japeri, Queimados, Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu e São João de Meriti. A Baixada Fluminense apresenta duas definições: uma em sentido estrito, outra em sentido amplo. Segundo a definição em sentido estrito, que é a mais utilizada atualmente, abrange, dessa região, somente os municípios que se localizam ao norte do município do Rio de Janeiro, sendo eles Duque de Caxias, Nova Iguaçu, São João de Meriti, Nilópolis, Belford Roxo, Queimados, Japeri, Magé, Guapimirim e Mesquita, municípios esses que ficam localizado na região antigamente conhecida como Baixada da Guanabara. A definição geográfica em sentido amplo, engloba a região de planícies entre a fabulosa Serra do Mar e o Litoral, desde Itaguaí onde encontra-se a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro até Campos dos Goytacazes, com a Universidade Estadual do Norte Fluminense. Culturalmente, por outro lado, do ponto de vista ecológico reina a diversidade. Historicamente a leva de migrantes, fossem ex-escravos do sul Fluminense, fossem os vindos da região nordeste do país, favoreceu a manutenção e renovação de diversas festas e comemorações, como a Folia de Reis e o jongo, sendo esse último não tão comum na região Metropolitana do Rio de Janeiro atualmente, com exceção do grupo de jongo da Serrinha, no bairro de Madureira. Vista aérea do piscinão de Ramos no subúrbio do Rio de Janeiro.
Enfim,
criados como áreas de lazer em regiões onde a população tem poucas opções de
diversão, segundo Altino (2018), os piscinões sofrem hoje com o abandono. Em
São Gonçalo, o espaço, que consumiu mais de R$ 17 milhões do Estado, está
desativado há mais de dois anos. Em vez de banhistas, são os bandidos que
aproveitam o lugar, que já teve luminárias e grades saqueadas. Em Ramos, os
visitantes não têm mais acesso aos banheiros, que estão interditados. Além
disso, na semana passada, quem se arriscou a dar um mergulho se deparou com um
pouco convidativa água verde. O Piscinão
de Ramos foi inaugurado em 2001 pelo Estado e repassado para a prefeitura
em 2007. No fim de 2016, encerrou-se o contrato da prefeitura com a empresa que
fazia a manutenção do entorno do piscinão. Procurada, a prefeitura afirmou que
a Comluerb é responsável pela limpeza da área e que será realizada uma
vistoria, para avaliar a necessidade de reparo dos brinquedos. Não houve
resposta, porém, sobre a situação dos banheiros. Em São Gonçalo, o cenário é de
total abandono. O piscinão está desativado desde maio de 2016, e quem ainda
frequenta o local diz que a cada semana novas estruturas são roubadas, como
barras de ferro e luminárias. Até postes já foram derrubados para furto. -
Depenaram tudo - afirma Leandro dos Santos, instrutor de auto escola que
trabalha ao lado do piscinão. - Aqui está com os dias contados, quando
levantarem o primeiro barraco, vai vir todo mundo. Do lado de fora, João Matias
é o único comerciante sobrevivente. Ele diz que antes do piscinão fechar, o
local parecia a Feira de São Cristóvão, tamanha quantidade de comércio.
A
relação dialética entrada/saída, dentro/fora se imiscui dentre outras relações sociais
como casa/trabalho, conhecido/desconhecido e assim por diante, mas que
representa sempre uma relação social entre uma pessoa e o mundo material,
condicionado por uma dialética constitutiva da autoconsciência que vai haurir,
nesse movimento de ir e vir, de mistura social e de recolhimento íntimo, a
certeza de si mesma enquanto imediatamente social. Essa diferença entre a
essência e o exemplo, entre a imediatez e a mediação, quem faz não somos nós
apenas, mas a encontramos na própria certeza sensível; e deve ser tomada na
forma em que nela se encontra, e não como nós acabamos de determina-la. Na
certeza sensível, por exemplo, um momento é oposto como o essente simples e
imediato, ou como a essência: o objeto. O outro momento, porém, é posto como o
inessencial e o mediatizado, momento que nisso não é “em-si”, mas por meio do
Outro: o Eu, um saber, que sabe o objeto só porque ele é; saber que pode ser ou
não. Mas o objeto é o verdadeiro e a essência: ele é, tanto faz que seja
conhecido ou não. Permanece mesmo não sendo conhecido – enquanto o saber não é,
se o objeto não souber que pode ser. Trata-se da singularidade de apreensão do objeto revelando a consciência de Hegel à Marx e a concepção
pós-marxista contemporânea.
Pelo
fato do seu uso habitual, o bairro pode ser considerado como a privatização
progressiva do espaço público. O bairro constitui o termo médio de uma
dialética existencial entre o dentro e o fora. E é na tensão entre esses dois
termos, um dentro e um fora, que vai aos poucos se tornando o prolongamento de
um dentro, que se efetua a apropriação do espaço. Um bairro poder-se-ia dizer,
é assim uma ampliação do habitáculo; pelo usuário, ele se resume á soma das
trajetórias individuais inauguradas a partir do seu local conscrito na origem
de sua habitação. Não é propriamente uma superfície urbana transparente para
todos ou estatisticamente mensurável, mas antes as condições e possibilidades
oferecidas a cada um de inscrever na cidade um sem-número de trajetórias cujo
núcleo irredutível continua sendo sempre a esfera do privado. Existe, além disso, a elucidação de uma
analogia formal entre o bairro e a moradia: cada um deles tem, com os limites
que lhe são próprios, a mais alta taxa de controle pessoal possível, pois tanto
aqueles como esta são os únicos lugares vazios onde, de maneira diferente, se
pode fazer aquilo que se quiser. O limite público/privado, que parece ser a
estrutura fundadora do bairro para a prática de um usuário, não é apenas uma separação,
mas dialeticamente constitui a relação de uma separação que evidentemente une.
Bibliografia
geral consultada.
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