quarta-feira, 15 de maio de 2019

Naturismo - Corpo, Sexualidade & Tabuleiro de Cultos Sociais.

Ubiracy de Souza Braga

        Não existe antídoto mais poderoso contra a baixa sensualidade do que a adoração da beleza”. Denis Diderot

Museu em Paris abre visitação para naturistas.

Denis Diderot nasceu na Champanha (1713-1784) e começou sua educação formal no Colégio Jesuíta de Langres, na França. Seus pais eram Didier Diderot (1685–1759), um cuteleiro, e sua esposa Angélique Vigneron (1677–1748). Três dos cinco irmãos de Diderot chegaram à idade adulta, Denise Diderot (1715–1797), Pierre-Didier Diderot (1722–1787) e Angélique Diderot (1720–1749). Ingressou no colégio jesuíta de Langres em 1723 (data mais provável). O ensino fornecido pelos jesuítas, que detinham o monopólio da educação secundária na França de então, enfatizava o ensino das línguas clássicas (grego e latim) e uma atenção rigorosa às orações católicas, o que visava a atenuar a influência humanista e secular. Diderot foi um aluno muito perspicaz e recebeu até mesmo algumas menções honrosas e premiações em virtude de seu excelente desempenho escolar. Em 1726, o bispo de Langres concede, a Diderot, a “tonsura”, uma cerimônia religiosa em que o bispo dá um corte no cabelo do ordinando ao conferir-lhe o primeiro grau de Ordem no clero, chamado também de prima tonsura. Tudo indicava que o jovem Denis seguiria uma carreira eclesiástica. A família de Diderot esperava que ele herdasse a prebenda de seu tio, o cônego Didier Vigneron. Contudo, por uma série de infortúnios (o testamento em que o tio legava a prebenda ao sobrinho se tornou inválido porque só chegou a Roma após a morte de seu autor), Diderot não recebeu o benefício esperado, embora recebesse a alcunha de abade (abbé) por parte de seus concidadãos.

Por motivos ainda não inteiramente esclarecidos, em 1728, aos dezesseis anos, Diderot parte para Paris e passa a frequentar o colégio de Harcourt (Liceu Saint-Louis). Em 1732, recebe o grau de mestre em artes na Universidade de Paris. Pouco se sabe sobre os primeiros anos de Diderot em Paris. Sabe-se que considerou a possibilidade de estudar direito, que sua conduta foi motivo de preocupação para seu pai e que passou por dificuldades financeiras. Diderot iniciou sua carreira como tradutor. Em 1743, ele traduz a Grecian History, de Temple Stanyan. É, contudo, a tradução de An Inquiry Concerning Virtue or Merit, de Ashley-Cooper, 3º Conde de Shaftesbury, sob o título Essai sur le Mérit et la Vertu, publicado em 1745, que Diderot se torna um pouco mais conhecido. A primeira peça relevante da sua carreira literária é Lettres sur les aveugles a l`usage de ceux qui voient, em que sintetiza a evolução do seu pensamento desde o deísmo até ao ceticismo e o materialismo ateu, e tal obra culminou em sua prisão. Sua obra-prima é a edição da Encyclopédie (1750-1772) ou Dictionnaire Raisonné des Sciences, des Arts et des Métiers, onde buscou reportar todo o conhecimento que a humanidade havia produzido até sua época. Demorou 21 anos para ser editada, e é composta por 28 volumes. Mesmo que, na época, o número de pessoas que sabia ler fosse pouco, ela foi vendida com sucesso. Denis conseguiu uma fortuna. Deu continuidade com empenho e entusiasmo apesar de alguma oposição da Igreja Católica e dos poderes estabelecidos. Escreveu também algumas outras peças teatrais de pouco êxito. Destacou-se particularmente nos romances, nos quais segue as normas dos humoristas ingleses, em especial de Sterne: A Religiosa, O Sobrinho de Rameau, Jacques, o fatalista e seu mestre. Escreveu vários artigos de crítica de arte. Foi um dos primeiros autores que fizeram da literatura um ofício, mas sem esquecer jamais que era um filósofo.

           O corpo, notoriamente, percorre a história da ciência e da filosofia. De Platão a Bergson, passando por Descartes, Espinosa, Merleau-Ponty, Freud, Marx, Nietzsche, Weber e Foucault, a definição de corpo demonstra um puzzle. Quase todos reconhecem a profusão da visão dualista de Descartes, que define o corpo como uma substância extensa em oposição à substância pensante. Podemos perceber que seguindo este modo de compreensão, sobretudo com o advento da modernidade, o corpo foi facilmente associado a uma maquina. O corpo foi pensado como um mecanismo elaborado por determinados princípios que alimentam as engrenagens desta máquina promovendo o seu bom funcionamento. Isto quer dizer que através dos exercícios de abstinência e domínio que constituem a ascese necessária, o lugar atribuído ao conhecimento de si torna-se mais importante: a tarefa de se pôr à prova, de se examinar, de controlar-se numa série de exercícios bem definidos, coloca a questão da verdade – da verdade do que se é, do que se faz e do que é capaz de fazer – no cerne da constituição do sujeito moral. E, finalmente, o ponto de chegada dessa elaboração é ainda e sempre definido pela soberania do indivíduo sobre si mesmo. 

Neste aspecto Michel Foucault nos adverte sobre a questão abstrata da analítica do poder que se constitui o marco histórico e pontual de “docilidade dos corpos”.  Para ele o soldado é, antes de tudo, alguém que se reconhece de longe; que leva os sinais naturais de seu vigor e coragem, as marcas também de seu orgulho: seu corpo é o brasão de sua força e de sua valentia: e se é verdade que deve aprender aos poucos o ofício das armas – essencialmente lutando – as manobras como a marcha, as atitudes como o porte da cabeça se originam, em boa parte, de uma retórica corporal de honra. Eis como ainda no início do século XVIII se descrevia a figura ideal do soldado. Mas na segunda metade deste século, o soldado se tornou algo que se fabrica; de uma massa informe, de um corpo inapto, fez-se a máquina de que se precisa; corrigiram-se aos poucos as posturas: lentamente uma coação calculada percorrer cada parte do corpo, assenhoreia-se dele, dobra o conjunto, torna-o perpetuamente disponível, e se prolonga, em silêncio, no automatismo dos hábitos; em resumo, foi “expulso o camponês” e lhe foi dada a “fisionomia de soldado”. Ipso facto, houve, durante a época clássica, uma descoberta do corpo como objeto e alvo de poder. Encontraríamos sinais dessa grande atenção dedicada então ao corpo que se manipula, modela-se, treina-se, que obedece, responde, torna-se hábil ou cujas forças se multiplicam descrito como “homem-máquina”.

O grande livro do homem-máquina foi descrito simultaneamente em dois registros: no anátomo-metafísico, cujas primeiras páginas haviam sido escritas por Descartes e que os médicos, os filósofos continuaram; o outro, técnico-político, constituído por um conjunto de regulamentos militares, escolares, hospitalares e por processo empíricos e refletidos para controlar ou corrigir as operações do corpo. Dois registros bem distintos, pois se tratava ora de submissão e utilização, ora de funcionamento e de explicação: corpo útil, corpo inteligível. E, entretanto, de um ao outro, pontos de cruzamento. “O homem-máquina” de Julien Offray La Metrie (1709-1751) é ao mesmo tempo uma redução materialista da alma e uma teoria geral do adestramento, no centro dos quais reina a noção de “docilidade” que une ao corpo analisável o corpo manipulável. Em sua significação específica é dócil um corpo que pode ser submetido, que pode ser utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado. Contudo, os famosos autômatos, por seu lado, não eram apenas uma maneira de ilustrar o organismo; eram também, na falta de melhor expressão, bonecos políticos, modelos reduzidos de poder: obsessão de Frederico II (1712-1786), rei minucioso das pequenas máquinas, dos regimentos bem treinados e dos longos exercícios.          

Para Michel Foucault metodologicamente a questão a responder é a seguinte: Nesses esquemas de docilidade, em que o século XVIII teve tanto interesse, o que há de tão novo? Não é a primeira vez, certamente, que o corpo é objeto de investimentos tão imperiosos e urgentes; em qualquer sociedade, o corpo está preso no interior de poderes mito apertados, que lhe impõem limitações, proibições ou obrigações. Muitas coisas, entretanto, são novas nessas técnicas. A escala, em primeiro lugar, do controle; não se trata de cuidar do corpo, massa, grosso modo, como se fosse uma unidade indissociável, mas de trabalha-lo detalhadamente; de exercer sobre el uma coerção sem folga, de mantê-lo ao mesmo nível prático da mecânica – movimentos, gestos, atitudes, rapidez: poder infinitesimal sobre o corpo ativo. O objeto, em seguida, do controle: não, ou mais, os elementos significativos do comportamento ou a linguagem do corpo, mas a economia, a eficácia dos movimentos, sua organização interna; a coação se faz mais sobre as forças que sobre os sinais; a única cerimônia que realmente importa é a do exercício. A modalidade, enfim, implica uma coerção ininterrupta, constante, que vela sobre os processos da atividade mais que sobre seu resultado e se exerce de acordo com uma codificação que esquadrinha ao máximo o tempo, o espaço, os movimentos. 

Esses métodos que permitem o controle minucioso das operações do corpo, que realizam a sujeição constante de suas forças e lhes impõem uma relação de docilidade-utilidade, são o que podemos chamar disciplinas. Muitos processos disciplinares existiam há muito tempo: nos conventos, nos exércitos, nas oficinas também. Mas as disciplinas se tornaram no decorrer dos séculos XVII e XVIII fórmulas gerais de dominação. Diferentes da escravidão, pois não se fundamentam numa relação de apropriação dos corpos; é até a elegância da disciplina dispensar essa relação custosa e violenta obtendo efeitos de utilidade pelo menos igualmente grandes. Mas também ocorre que são diferentes também da domesticidade, que é uma relação social de dominação constante, global, maciça, não analítica, ilimitada e estabelecida sob a forma de vontade de poder singular do patrão, sendo quase seu “capricho”. Diferentes da vassalidade que é uma relação de submissão altamente codificada, mas longínqua e que se realiza menos sobre as operações do corpo que sobre os produtos do trabalho e as marcas rituais de obediência. Diferentes do ascetismo e das “disciplinas” de tipo monástico, que têm por função realizar renúncias mais do que aumentos de utilidade e obediência, têm como fim um aumento do domínio de cada um sobre seu próprio corpo.

O momento histórico das disciplinas é o momento em que nasce uma arte do corpo humano, que visa não unicamente o aumento de suas habilidades, nem tampouco aprofundar sua sujeição, mas a formação de uma relação que no mesmo mecanismo o torna tanto uma política das coerções que são um trabalho sobre o corpo, uma manipulação calculada de seus elementos, de seus gestos, de seus comportamentos. O corpo humano entra numa maquinaria de poder que o esquadrinha, o desarticula e o recompõe. Uma “anatomia política”, que é também igualmente uma “mecânica do poder”, está nascendo; ela define como se pode ter o domínio sobre o corpo dos outros, não simplesmente para que façam o que se quer, mas ara que operem como se quer, com as técnicas segundo a rapidez e a eficácia que se determina. A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos dóceis.  A disciplina aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas mesmas forças (em termos políticos de obediência). Em uma palavra: ela associa o poder do corpo; faz dele por um lado uma “aptidão”, uma “capacidade” que ela procura aumentar; e inverte por outro lado a energia, a potência que poderia resultar disso, e faz dela uma relação de sujeição estrita. Se a exploração econômica separa a força e o produto do trabalho, a coerção disciplinar estabelece no corpo o elo coercitivo entre uma aptidão aumentada e uma dominação acentuada. 

 Entendida como consumo cultural, a prática do culto ao corpo situa-se como preocupação geral de mobilidade social, que perpassa as estratificação de classes sociais e faixas etárias, apoiada num discurso clínico difuso que se refere tanto a questão estética, quanto a preocupação alimentar com a saúde. Nas sociedades contemporâneas há uma crescente apropriação do corpo, com a dieta alimentar e o consumo excessivo de cosméticos, impulsionados pelo processo de massificação da propaganda/consumo a desde o desenvolvimento econômico dos anos 1980, onde o corpo ganha mais espaço, principalmente nos meios midiáticos. Nesse sentido, as fábricas de imagens estéticas do vencedor como o cinema, televisão, publicidade, revistas etc., têm contribuído para isso. Ipso facto, nos leva a pensar que a imagem da eterna fonte de juventude, associada ao corpo perfeito e ideal, ao sucesso na educação, no trabalho e na vida amorosa atravessa as etnias e classes sociais, compondo de maneiras diferentes diversos estilos de vida.

Mas essa soberania amplia-se numa experiência onde a relação assume a forma, não somente de uma dominação, mas de “um gozo sem desejo e sem perturbação”. É possível dizer que não há idade para se ocupar consigo. Mas uma espécie de idade de ouro na chamada “cultura de si”, sendo subentendido com isso, evidentemente, que esse fenômeno só concerne aos grupos sociais. Ou seja, aqueles que querem salvar-se devem viver cuidando-se sem cessar. Ademais, é reconhecida a amplitude ética tomada historicamente em Sêneca pelo tema da aplicação a si próprio. Para ele é para consagrar-se a esta ética que é preciso renunciar às outras ocupações: poder-se-ia desse modo tornar-se disponível para si próprio. Sêneca dispõe de um vocabulário para designar as formas que o “cuidado de si” deve tomar e a pressa com a qual se procura unir-se a si mesmo. Apressa-te,  para o objetivo: - “dize adeus às esperanças vãs, acorre em tua própria ajuda se te lembras de ti mesmo, enquanto ainda é possível”.
Caio Musônio Rufo, célebre filósofo estoico do primeiro século e professor de Epiteto, recomendava vivamente as formas naturais que lhes permitem ficar face a face consigo mesmo, recolher o próprio passado, colocar diante de si o conjunto da vida social transcorrida, familiarizar-se, através da leitura, com os preceitos e os exemplos nos quais se quer inspirar e encontrar, graças a uma vida examinada, os princípios essenciais de uma conduta racional. É possível ainda, no meio ou no fim da própria carreira, livrar-se de suas diversas atividades e, aproveitando esse declínio da idade onde admitimos que os desejos ficam apaziguados, para consagrar-se sendo Sêneca, no trabalho filosófico ou, como referia Spurrima, na calma de uma existência agradável e feliz, “à posse de si próprio”. Esse tempo não é vazio, mas povoado por exercícios, tarefas práticas, atividades diversas em seu dia a dia.
Ocupar-se de si não é sinecura. Existem os cuidados com o corpo, os quais devemos tratar sem os excessos da chamada técnica de perfeição da corpolatria, os regimes de saúde, os exercícios físicos sem excesso, a satisfação, tão medida quanto possível, as necessidades físicas. Existem as meditações, as leituras, as anotações ou conversações, e que mais tarde serão certamente relidas. A rememoração das verdades religiosas ou científicas que já se sabe, mas de que convém reapropriar-se ainda melhor cotidianamente com a escrita e o treinamento da memória. Marco Aurélio exemplifica a anacorese expressa em si próprio, de reativação de princípios e de argumentos racionais que persuadem a não deixar-se irritar na coletividade com os outros, outrossim, com os acidentes, nem tampouco com as coisas. Trata-se de um longo trabalho disciplinar de reativação dos princípios gerais e de argumentos racionais que persuadem a não deixar-se irritar com os outros, com as picuinhas e nem com os acidentes, nem tampouco com as coisas. Tem-se um dos pontos mais importantes dessa atividade consagrada a si. Ela não constitui um exercício da solidão.  O exercício da leitura, da reflexão e da escrita já se tratava de uma verdadeira prática social, isto é, consumindo a unidade teoria e prática, em vários e múltiplos sentidos, da forma vitalista, biopsíquica.                     
Mas toda essa aplicação a si não possuía como único suporte social a existência das escolas, do ensino técnico e dos profissionais da direção da alma. Ela encontrava, facilmente, seu apoio em todo o feixe de relações habituais de parentesco, de amizade ou de obrigação. Quando, no exercício do “cuidado de si”, faz-se apelo ao outro, o qual se advinha que possui aptidão para dirigir e para aconselhar, faz-se uso de um direito através do hábito, da cultura, da formação. E é um dever que se realiza quando se proporciona ajuda ao outro ou quando se recebe com gratidão as lições que ele pode lhe dar. Acontece também do jogo entre os cuidados de si e a ajuda do outro inserir-se em relações preexistentes às quais ele dá uma nova “coloração” e um calor maior. O cuidado de si – ou os cuidados que se tem com o cuidado que os outros devem ter consigo mesmos – aparece então como uma intensificação das relações sociais. Sêneca dedica um consolo à sua mãe, no momento em que ele próprio está no exílio, para ajudá-la a suportar essa infelicidade atual e, talvez, mais tarde, infortúnios maiores. O “cuidado de si” aparece, portanto, intrinsecamente ligado a uma espécie de serviço da alma que comporta a possibilidade de um jogo de trocas com o outro e de um sistema de obrigações recíprocas, de interpretação e de camaradagem, de conflito e sociabilidade.
No oceano da linguagem progressivamente disseminado, mundo sem margens e sem âncoras, cada discurso particular atesta a ausência do lugar que, no passado, era atribuído pela organização de um cosmos e, portanto, a necessidade de cortar para si um lugar por uma maneira própria de tratar um departamento por língua. Noutros termos, pelo fato de perder seu lugar, o indivíduo nasce como sujeito. O lugar que lhe era outrora fixado por uma língua cosmológica, ouvida como uma vocação e colocação numa ordem do mundo torna-se agora um nada, uma espécie de vácuo, que obriga o sujeito a apoderar-se de um espaço, colocar-se a si mesmo, segundo Michel de Certeau, “como um produtor da escritura. A ideologia dominante se muda em técnica, tendo por programa essencial fazer uma linguagem e não mais lê-la. A própria linguagem deve ser fabricada: “escrita. Não há direito que não se escreva sobre corpos. Ele domina o corpo. A própria ideia de indivíduo isolável do grupo se instaurou com a necessidade, sentida pela justiça penal, de corpos que devem ser marcados por um castigo e, pelo direito matrimonial, de corpos que se devem marcar com um preço nas transações entre coletividades. Do nascimento ao luto, o direito se apodera dos corpos para fazê-los seu texto. Seja como for, sempre é verdade que a lei se inscreve sobre os corpos. 
Daí importância social e afetiva  de se compreender no campo da imagem, de sua reprodução, recepção, influência, de sua relação com o sonho, o devaneio, a criação e a ficção, a substituição das mediações pelos meios de comunicação, posto que contenha em si uma possibilidade de violência, a partir da constituição do novo regime de ficção que hoje afeta, contamina e penetra a vida social. Ipso facto é que temos a sensação de sermos colonizados, mas sem saber precisamente por quem: pelas práticas autoritárias do Estado, a política, futebol, arte, música, drogas, ecologia, raça, etnia, poder, consumo, trabalho, rede mundial de comunicação - Internet, nacionalidade, cultura, sexualidade, honra, prestígio, etc. O inimigo não é facilmente identificável e, a partir daí é normal questionar-se sobre o papel da cultura ou da ideia que fazemos dela nestes últimos 150 anos. Decisivamente, é a mídia que forma e conforma, ou influencia as nações e nacionalidades. E não há dúvida de que as situações culturais e sociais em que se inserem os indivíduos e as coletividades são fundamentais no processo de elaboração ou desenvolvimento da consciência.
            Embora os princípios da ética naturista sejam praticamente universais existem diferenças, de nível social de cada país nas regras de conduta definidas pelas Federações nacionais. O código de ética naturista aprovado pela Federação Brasileira de Naturismo especifica e reforça práticas sociais que garantem o bem-estar comum. Os naturistas cristãos são os cristãos que praticam o naturismo ou o nudismo, representando uma parte do movimento naturista/nudista. Compreendem e creem que o corpo humano foi a maior criação de Deus, portanto não pode ser vergonhoso nem precisa ser escondido. Naturistas cristãos podem ser vistos em quase todas as denominações da cristandade, “sem nenhum conflito com os ensinos da Bíblia, vivendo as suas vidas e adorando a Deus sem nenhuma roupa”. Entretanto a maioria tem vários desacordos com a filosofia da “Nova Era” e o humanismo que é comum entre os outros naturistas. Isto inclui a rejeição absoluta de todas as formas de adoração à natureza.
A palavra naturismo provém do francês naturisme, que é a doutrina filosófica que se baseia num modo de vida em harmonia com a natureza, caracterizado pela prática do nudismo em grupo, que tem por intenção favorecer o autorrespeito, o respeito pelo outro e o cuidado com o ambiente. Difundido a partir do período de entre-guerras do século XX que se estende do fim da 1ª grande guerra, em 11 de novembro de 1918, até o início da guerra mundial, em 1° de setembro de 1939, em alguns países da Europa, especialmente Alemanha, França e Países Baixos, o naturismo chegou ao mundo ocidental e se notabilizou pela sua prática mais marcante: o nudismo. Em vários países foram oficializadas algumas praias para a prática do nudismo. Existindo assim parques de campismo, piscinas e outros locais de acesso condicionado onde se pratica a nudez social. A prática ocorre de forma livre em praias de forma mais ou menos generalizada, e aceite, em particular em zonas mais afastadas dos restantes banhistas. 
            O naturismo gospel é assim chamado, por que seus praticantes e defensores da doutrina afirmam que é uma forma de representação para se aproximar da natureza e consequentemente de Deus. Para estes adeptos cristãos é uma relação social normal praticar o naturismo, que é visto como uma forma de religação com  a comunhão com Deus. Os defensores desta prática argumentam que o nudismo é de Deus e que é algo imanente da natureza.  Encaram como se fosse à última revelação dada pelo altíssimo desde os tempos que o evangelista João esteve na ilha de Patmos. Uma igreja no Estado norte-americano da Virginia o pastor e os congregados celebram os cultos nus. Contudo, a prática do nudismo não ficará em locais próprios para isso, como praias, por exemplo, o ato já está chegando a algumas igrejas do Brasil e essa novidade não vem agradando algumas pessoas. De acordo com dados de sites gospel muitos evangélicos estão praticando nudismo dentro das congregações, influenciados pelos denominados “Naturistas cristãos” da Pensilvânia (EUA) que estão ganhando seguidores no Brasil.

           William Penn garantiu o direito de liberdade de expressão religiosa dentro de sua colônia. Penn planejou pessoalmente o primeiro assentamento inglês permanente, nomeando-o de Filadélfia. A cidade foi fundada em 1685. Penn posteriormente explorou o interior da colônia, e pagando aos nativos indígenas pelas terras que o Rei Charles II lhe dera. Além disso, Penn instituiu as nações indígenas tratamento igualitário com relação a um branco em julgamentos. Isto fez com que os indígenas e os colonos europeus tivessem boas relações até meados do século XIX — mais do que em qualquer outra colônia do nordeste dos Estados Unidos. Graças à noção de liberdade de expressão religiosa, muitos escoceses, irlandeses e alemães instalaram-se no estado. A Pensilvânia é um dos estados mais industrializados e urbanizados norte-americano, tendo sido um dos berços da industrialização que se iniciou em meados do século XIX.
A Pensilvânia é uma grande produtora de produtos alimentícios e de produtos químicos e eletrônicos em geral. A Pensilvânia é famosa pela região de Pennsylvania Dutch, localizado no sul do estado. A região é famosa pela sua cultura, especialmente culinária e arquitetura alemã, e pela sua grande população de origem alemã. Em inglês, Pennsylvania Dutch significa “Pensilvânia holandesa”, fazendo com que muitos anglófilos pensem que a região tenha sido habitada por imigrantes de origem neerlandesa. De fato, o nome “Dutch” foi uma derivação da palavra alemã “deutsch”, que significa alemão na língua alemã e é também a origem do nome Neerlandês em inglês. A região de Pennsylvania Dutch é famosa nos Estados Unidos e no Canadá, sendo uma região de cunho turístico, histórico e preservação cultural da Pensilvânia. A população da Pensilvânia é majoritariamente branca em áreas como o norte do estado e em torno de Pittsburgh. Já a região metropolitana de Filadélfia e os condados que a cercam possuem grandes números de afro-americanos, hispânicos, asiáticos e árabes.
A prática social que já tem se consolidado em países como os Estados Unidos da América e Austrália, também chegou ao Brasil. Porém de forma naturalmente ainda  tímida. Do pastor às crianças, da avó à irmã mais jovem, quase ninguém se esquiva dessa forma pouco formal de louvor. E não são poucos os adeptos desta prática. Eles se chamam “naturistas cristãos”. Os fiéis da igreja White Tail, em Southampton, ficam nus durante o culto, e acompanham atentamente o sermão do pastor Allen Parker. - “Todos os frequentadores de nossa igreja são apenas seres humanos. Sem riqueza pessoal ou aparência glamorosa, todas as pessoas são iguais”, justifica o pastor Parker. No Brasil prática do nudismo tem crescido entre evangélicos, mas não apenas nos locais destinados aos encontros sociais sem roupa, como praias, por exemplo, mas também em templos durante a celebração dos cultos e em reuniões de leitura da Bíblia e oração. 
            Após este período o naturismo começou a se difundir, não só na Europa, mas também nos Estados Unidos da América. Hoje muitos países contam com adeptos do movimento, embora a aceitação da prática seja desigual, consoante suas culturas dos vários países. Em 1974 a Federação Internacional de Naturismo definiu os princípios naturistas, que é a definição atual de naturismo adotada por todas as entidades naturistas do mundo: - “Um modo de vida em harmonia com a natureza, caracterizado pela prática do nudismo em grupo, que tem por intenção favorecer o autorrespeito, o respeito pelo outro e o cuidado com o ambiente”.  A relação entre nudez coletiva e desenvolvimento do indivíduo está no conceito de “aceitação do corpo”, na descoberta de que o corpo é um todo não havendo divisão entre honra e o indecoroso. Ao conviverem com a nudez do próximo não são chocados nem agredidos pelo corpo e sentem que o respeito é possível sem artifícios. Em contato com a própria essência e deixando para trás o que é acessório. - “somos todos iguais, apesar das diferenças”.

          A Federação Brasileira de Naturismo (FBrN), como meio de garantir um padrão ético de comportamento entre suas áreas filiadas, edita as seguintes Normas Éticas aprovadas em Assembleia Geral Extraordinária, no dia 07 de dezembro de 1996 no Sitio Ibatiporã, em Porto Feliz - São Paulo: 1 – Falta Grave -  As condutas abaixo relacionadas, com grau de intensidades examinado pelos Conselhos Deliberativos dos Clubes, em primeira instância, e pelo Conselho Maior da FBrN, em segunda e última instância, são motivos para expulsão de seus agentes dos quadros sociais e das áreas naturistas regidas pelas entidades filiadas à FBrN. Ter comportamento sexualmente ostensivo e/ou praticar atos de caráter sexual ou obscenos nas áreas públicas; Praticar violência física como meio de agressão a outrem; Utilizar meios fraudulentos para obter vantagens para si ou para terceiros; Portar ou utilizar drogas tóxicas ilegais; Causar danos à imagem pública do Naturismo ou das áreas naturistas.

        2 – Comportamento InadequadoAs condutas relacionadas, com grau de intensidade e reincidência examinadas pelos Conselhos na forma referida no Item 1, constituem motivos para advertências, suspensão e expulsão dos seus agentes dos quadros sociais e das áreas regidas pelas entidades filiadas à FBrN. Concorrer para a discórdia por intermédio de propostas inconvenientes com conotação sexual; Fotografar, gravar ou filmar outros naturistas, sem a permissão dos mesmos; Utilizar aparelhos sonoros em volume que possa interferir na tranquilidade alheia, e/ou desrespeito aos honorários de silêncio regulamentados; Causar constrangimento pela prática de atitudes inadequadas; Portar-se de forma desrespeitosa ou discriminatória permanente e, relação a outros naturistas ou visitantes; Deixar lixo em locais inadequados; Provocar danos à flora e à fauna, ou à imagem do Naturismo; Satisfazer necessidades fisiológicas em áreas impróprias, ou exceder-se na ingestão de bebidas alcoólicas, causando constrangimento a outros naturistas; Utilizar assentos de uso comum sem a devida proteção higiênica; Apresentar-se vestido em locais e horários exclusivos de nudismo, sendo tolerado às mulheres o top less, durante o período menstrual. As presentes Normas Éticas do Naturismo Brasileiro (NENB) – devem ser fixadas em locais públicos e visíveis, além de distribuídas e divulgadas entre naturistas e visitantes das áreas de prática naturista filiadas à FBrN.

        A questão de gênero tem definido, tradicionalmente, a interpretação brasileira de suas próprias práticas sexuais. Desde o início do período colonial até nossos dias, um sistema de proibições religiosas relativamente formais, se bem que nem sempre inflexível, reforçou as divisões técnicas entre masculino e feminino e ao mesmo tempo, ampliou o significado implícito das próprias relações sexuais, envolvendo-as numa economia simbólica diferente, questionando-as em termos não apenas de seus significados na vida cotidiana normal, mas de suas repercussões na vida eterna. Essa ênfase nas implicações internas dos atos sexuais confirma a ideologia das relações de gênero para a percepção do universo sexual, através de modernização conservadora que têm marcado a vida brasileira para o que poderia parecer à primeira vista uma estrutura conceitual marcadas de ideias científicas e pseudocientíficas sobre a vida sexual, altamente racionalizadas, oriundas grandemente dos progressos na psicologia, sexologia e sociologia e mesmo das ideias protofascistas europeias, mas que não trataremos agora. Acreditamos que, em nenhum espaço e lugar contemporâneo a variação e multiplicidade fundamentais dessa configuração são mais evidentes desde os primórdios da colonização como aquilo que se descreve como o “domínio da experiência erótica”.

Historicamente desde o início do período colonial até nossos dias, um sistema de proibições religiosas relativamente formal, se bem que nem sempre inflexível, reforçou as divisões de gênero e, ao mesmo tempo, amplificou concretamente o significado implícito das próprias relações sexuais, envolvendo-as numa economia simbólica diferente, questionando-as em termos não apenas de seus significados na vida cotidiana normal, mas de suas repercussões na vida eterna. Isto porque, antes como depois, unindo a questão do significado à do poder, e existindo simultaneamente para a grande maioria dos brasileiros contemporâneos, os conceitos de gênero na cultura popular, a renúncia à carne na ideologia cristã e a interrogação de desejos perigosos no moderno pensamento científico e médico delineiam um quadro elaborado de possíveis práticas sexuais, algumas definidas como permitidas, outras como proibidas. Em resumo, o conceito de sacanagem liga noções de agressão e hostilidade, brincadeira e diversão, excitação sexual e prática erótica num único complexo simbólico. Para os brasileiros é no domínio erótico que a transgressão sexual não apenas se torna possível, mas de fato altamente valorizada. Estes avanços são deslocamentos do imaginário individual (o sonho) e coletivo (os mitos, os ritos, os símbolos) produzidos no embate entre o poder patriarcal e as forças emergentes que visam em última instância emancipar a alteridade como instituição social. É uma prática com características novas como o próprio Brasil e sua inserção no contexto de âmbito global.
Bibliografia geral consultada.
DESCAMPS, Marc-Alain, Le Nu et le Vêtement. Paris: Éditions Universitaires, 1972; BOLOGNE, Jean-Claude, Histoire de la Pudeur. Paris: Olivier Urban Editeur, 1986; SIMMEL, Georg, Filosofia do Amor. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1993; URBAIN, Jean-Didier, Sur la Plage: Moeurs et Coutumes Balnéaires. Paris: Payot & Petit Rivages, 1994; COBRA, Geny de Oliveira, Corpo e Identidade: Um Estudo Funcional da Organização Biopsíquica da Identidade. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 1999; REIS, João Paulo Cordeiro, Da Praia aos Poros: Uma Etnografia do Naturismo na Praia de Abricó (Rio de Janeiro). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia. Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2008; AZEREDO, Verônica Pacheco de Oliveira, O Corpo em Nietzsche a partir de uma Leitura da Genealogia da Moral. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Departamento de Filosofia. Instituto de Filosofia, Artes e Cultura. Ouro Preto: Universidade Federal de Ouro Preto, 2008; AMARAL, Marcela Corrêa Martins, Culto ao Corpo e Estilo de Vida entre as Mulheres. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Instituto de Ciências Sociais. Departamento de Sociologia. Brasília: Universidade de Brasília, 2009; OLIVEIRA, Eduardo Carrascosa de, O Naturismo e os Paradoxos da Identidade na Sociedade Contemporânea. Tese de Doutorado. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2012; MORRIS, Nina Jane, Feeling Nature: Naturism, Camping, Environment and the Body in Britain, 1920-1960. Thesis Doctor of Philosophy. Reino Unido: University of Hull, 2013; APROBATO, Valéria Cristiane, Culturas do Corpo e da Juventude nas Redes Sociais Digitais: Uma Cartografia dos Imaginários Midiáticos e do Culto de Celebridades no Instagram. Tese de Doutorado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2018; VIEIRA, Marina Cavalcante, Figurações Primitivistas: Trânsitos do Exótico entre Museus, Cinema e Zoológicos Humanos. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais e Humanas. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2019;  entre outros.

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