sábado, 25 de maio de 2019

Defenestrações de Praga - Ato Político de Jogar Pessoas pela Janela.


                                                                                                      Ubiracy de Souza Braga

                                A vida errada não pode ser vivida corretamente”. Theodor Adorno

                                            

O mais importante no Instituto de Frankfurt, é claro, é que a visão europeia do Instituto transparecia sem seu trabalho. Como se poderia esperar, a teoria crítica foi aplicada ao problema mais proeminente da época: a ascensão do fascismo na Europa. Como assinalou Henry Pachter (1907-1980), muitos emigrados sem formação nem interesse político anteriores foram obrigados pelos acontecimentos a estudar o novo totalitarismo. Psicólogos como Ernest Kris examinaram a propaganda nazista, filósofos como Ernest Cassirer e a cientista política Hannah Arendt investigaram a formação do mito do Estado e as origens do totalitarismo, e romancistas como Thomas Mann escreveram alegorias da desintegração alemã. Nesse aspecto, histórico e pontual, o Instituto estava singularmente equipado para fazer uma contribuição importante. Começara a estudar os problemas da autoridade antes da emigração forçada. A teoria crítica fora desenvolvida, em particular, em resposta ao fracasso da teoria marxista tradicional para explicar a relutância do proletariado em cumprir seu papel histórico. Uma das razões primordiais do interesse de Max Horkheimer na psicanálise rinha sido a ajuda que ela poderia fornecer para dar conta do cimento metaforicamente falando, do ponto de vista psicológico da sociedade.

Theodor Adorno provocou em muitas pessoas reações de forte antipatia. Bertold  Brecht, por exemplo, achava-o pernóstico. Hannah Arendt, que o considerava presunçoso, acusou-o de ter adotado nos Estados Unidos, definitivamente o nome Adorno porque os norte-americanos tinham dificuldade para pronunciar Wiesengrund. O carioca José Guilherme Merquior descreve Adorno sendo “careca, gorducho e baixo” e diverte-se contando que durante um curso que ministrava em Frankfurt, entusiasmado com as passagens que lhe pareciam dialéticas, Adorno se punha na ponta dos pés e repetia, excitado, para os alunos: - “Minhas senhoras e meus senhores, isso é muito dialético” (“Meine damen und herren, das ist sehr dialektisch”). Talvez a própria proposta filosófica de Adorno tivesse, aos olhos da maioria das pessoas, algo de irritante e provocador. Desde a leitura de História e Consciência de Classe, de Georg Lukács, e do encontro com Walter Benjamin, na primeira metade dos anos 1920, Adorno se tornou marxista, a seu modo, pois fustigou Georg Lukács em Notas de literatura I, dizendo que seu erro básico se impõe em expressar de um ponto de vista diretamente da concepção de teoria.

Todavia, quando em seu livro História e Consciência de Classe foi publicado, estava sendo organizado o Instituto de Pesquisa social, que passaria a funcionar nos anos seguintes em articulação com a Universidade de Frankfurt/Main, mas preservando sua autonomia graças ao apoio financeiro que lhe dava o comerciante e veterano socialista Herman Weil, que havia regressado muito rico da Argentina. Felix Weil, filho do patrocinador, redigiu o memorando que definia o projeto do social Instituto, e no texto do memorando já se notava o eco das concepções defendidas por Lukács em 1922: assumia-se o compromisso de empreender pesquisas voltadas para a “compreensão da vida social em sua totalidade”. Adotava-se uma perspectiva disposta a avaliar as questões presentes em cada campo da atividade na inter-relação dinâmica de umas com as outras, reconhecendo a inserção delas no processo histórico. A sede da organização foi inaugurada no campus da Universidade de Frankfurt/Main em 22 de junho de 1924. Na prática, apesar de seu elevado nível qualitativo, a produção teórica dos pesquisadores do Instituto nos anos de 1920 não se caracterizou por uma notável criatividade. Sobre a história do Instituto existe uma vasta bibliografia. Depois de 1936, o Instituto de Frankfurt deu aulas na divisão de extensão e patrocinou palestras de estudiosos europeus convidados, como o notável teórico trabalhista inglês Harold Laski, Morris Ginsberg e Celestin Bouglé, abertas à comunidade universitária.

Quando assumiu o projeto do Instituto de Frankfurt em 1930, em seguida anunciou um estudo empírico sobre a mentalidade dos trabalhadores na República de Weimar.  Nas anotações que redigiu na segunda metade dos anos 1940 e publicou em 1951 como o título, Minima Moralia, Adorno também abordou o tema das novas formas da ideologia que apareciam nas condições da chamada “indústria cultura”. A convicção de Adorno é sempre a de que a falsidade da ideologia passa a ser perversamente mais importante à medida que ela, a ideologia, alimenta a pretensão de corresponder à realidade. E essa pretensão se fortalece ao máximo quando o sujeito é induzido a crer que alcançou uma visão global satisfatória, um conhecimento confiável no todo, do conjunto articulado das coisas compreendidas. A indústria cultural conferiu poderes avassaladores à capacidade que a ideologia dominante possui de induzir o pensamento, a refelxão e propriamente a questão da atenção e mesmo do olhar, a percepção, para os pontos por ela fortemene iluminados. A “indústria cultural” possibilitou a criação e o funcionamento de sociedades quase que “totalmente administradas”, que já não precisam se empenhar em justificar suas prescrições e imposições: a massa dos consumidores tende a aceita-las passivamente, considerando-as normais, legitimadas pelo simples fato de existirem.                  

Para a ideologia dominante, “tudo é opinião”, mas algumas opiniões são falsas e outras são corretas. O poder de persuadir os indivíduos no âmbito de escolha das opiniões corretas está ligado à capacidade da ideologia dominante de se apoiar em todo um vasto sistema educativo, em toda uma organização de formação cultural corrompida que é proporcionado ao amplo público consumidor. Mas eficazmente do que o conjunto das escolas, analisadas posteriormente por Pierre Bourdieu, a indústria cultural serve à multidão de produtos culturais simplificados, vulgarizados, amontoados acriticamente. Os professores se convencem de que estão ajudando seus alunos a avançar pouco a pouco na assimilação da cultura. Os alunos, massificados, lisonjeados com a semi-cultura, satisfazem-se com o que lhes está sendo dado, e são induzidos a preservar o que lhes parece ser o seu saber, e o seu patrimônio cultural, reagindo contra quaisquer objeções dos eternos questionadores, sempre insatisfeitos, ou contra as investidas insensatas de uma crítica radical. A cultura nem sempre foi contraditória, por isso não devemos idealizá-la. No século XX, com a esmagadora predominância de critérios imediatistas e utilitários, esses valores críticos da cultura sofrem um brutal esvaziamento e as pessoas vão deixando de ter a capacidade de reconhecê-los, se por acaso com eles se defrontarem.           

            Dois incidentes políticos da história social da Boêmia são reconhecidos como as “Defenestrações de Praga”. O primeiro ocorreu em 1419 e o segundo em 1618. Sociologicamente é o termo frequentemente utilizado para se referir ao ato público. Ambos foram estopins de prolongados conflitos irradiados além da Boêmia. O termo defenestração significa “o ato de jogar alguém ou alguma coisa pela janela”. Refere-se, contudo, especificamente ao ato de atirar pessoas com a intenção de assassinar ou ao caso de suicídio. O termo provém da palavra latina para janela, “fenestra”, em francês “fenêtre”, em italiano “finestra” e em alemão “Fenster”. A primeira ocorreu no início das guerras hussitas. O reformador da igreja Jan Hus, declarado herético pelo Concílio de Constança, morreu na fogueira em 6 de julho de 1415, mas ele ainda tinha partidários, liderados por Jan Zelivsky. Na sequência ocorrida em 30 de julho de 1419, envolveu a recusa dos membros do conselho da cidade em libertar prisioneiros hussitas. Rapidamente, seus partidários tomaram o prédio e lançaram pela janela sete membros do conselho da cidade, que caem sobre as lanças e o povo termina por matá-los. A multidão ataca em seguida as igrejas e monastérios leais à Igreja Católica. A primeira defenestração é histórica e simultaneamente pragmática, pois “marcou a transição da conversa para a ação”, que conduziu às prolongadas guerras hussitas que envolveram as ações militares contra e entre os seguidores de Jan Hus na Boêmia de 1420 hic et nunc  ao ano 1434 com a vitória dos Hussitas moderados.   

            Um terceiro incidente político ocorre na história social e política contemporânea brasileira de amor e ódio ao presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT). Um áudio divulgado pela internet põe ao vivo uma conversa por rádio, expressando nitidamente opinião intolerante em relação ao presidente: - “manda esse lixo janela abaixo” ao avião que o transportava para a cidade de Curitiba. A Força Aérea Brasileira (FAB) confirmou do ponto de vista tecnológico a autenticidade que “os dois áudios recentes envolvendo comunicações aeronáuticas e contendo comentários externos são verdadeiros”, ocorrendo nas torres do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo ao Aeroporto de Bacacheri situado no município de Curitiba, estado do Paraná onde se encontrava o juiz envolvido na trama de prisão política do presidente da República de acordo com a chamada “Operação Laja-Jato”. Segundo o comunicado, as referências a Lula “não foram emitidas por controladores de voo”. A intromissão pode eventualmente configurar crime ou infração administrativa, prevista no Código Brasileiro da Aeronáutica, Lei 7. 565 de 19/12/1986 que regulamenta o tráfego aéreo do país. Especialistas aeronáuticos ouvidos pelos jornalistas da rede Globo (G1), “acreditam ser difícil a Aeronáutica conseguir descobrir de onde partiu a interferência à frequência de rádio usada pela torre de controle, possivelmente a torre de controle de Bacacheri”.



            A torre de controle é uma parte do aeródromo responsável pelo controle de tráfego aéreo nas proximidades deste aeródromo. Costuma ser a estrutura mais alta de um aeroporto, sendo que a sua altura pode variar entre alguns poucos metros a várias dezenas de metros. Ela possui esta altura de acordo com a sua necessidade de visão das áreas cujo controle aéreo ela efetua, seja em terra ou no ar. Formalmente a torre de controle presta o denominado: a) Serviço de Controle de Aeródromo; b) Serviços de Alerta e, c) Serviço de Informações de Voo. O serviço de controle de aeródromo é prestado quando num aeródromo existe torre de controle e relativo a aeródromos, pode haver diversos tipos de operação, sendo a principal aquela referente aos Aeródromos com Torre de Controle com serviço de informação quando se diz “aeródromo controlado”. A comunicação social entre a torre de controle e os pilotos das aeronaves é efetuada através de rádios comunicadores, respeitados por sua qualidade e confiabilidade técnica, os quais ficam sintonizados nas frequências que estão compreendidas potência entre 118,00 MHz e 136,00 MHz.
            A defenestração, no caso concreto da aplicação a pessoas, foi uma prática historicamente recorrente no século XVII, embora já viesse do século anterior, tendo sido usada na matança de São Bartolomeu, nomeadamente na Guerra dos Trinta Anos. Ficou famoso o episódio das Defenestrações de Praga (1618), tendo os nobres protestante da Boémia invadido o castelo da capital e arremessado representantes do Governo Imperial pelas janelas. Este foi, a par da demolição de duas Igrejas Luteranas na Boémia por parte das forças católicas do Sacro Império Romano-Germânico, um dos episódios determinantes na deflagração do conflito no continente. Uma suposta defenestração ocorreu em Portugal, no contexto da Restauração da Independência. A vítima teria sido o Secretário de Estado Miguel de Vasconcelos, personagem odioso aos olhos dos portugueses por colaborar com a Dinastia Filipina, no dia 1° de dezembro de 1640, atirado das janelas do Paço da Ribeira para o Terreiro do Paço. 
No entanto, embora o corpo tenha sido de fato atirado pela janela, Miguel de Vasconcelos já tinha sido morto a tiro pelos conjurados. Antes disso, também em Portugal, nos momentos tensos da crise de 1383-1385, o bispo de Lisboa, D. Martinho de Zamora, de origem castelhana e por isso suspeito de colaborar com o inimigo, foi atirado pelas janelas da Sé de Lisboa em 1383, pela população enraivecida. No dia 29 de março de 2008 a pequena criança Isabella Nardoni, de 5 anos de idade, foi defenestrada do 6° andar de edifício em São Paulo, naquele reconhecido Caso Isabella Nardoni. Em 20 de dezembro de 2009, o ex-modelo e figurante de TV, Wesley Félix Pereira, cometeu suicídio ao defenestrar-se do 10° andar do prédio no Rio de Janeiro.  No dia 22 de julho de 2018 a advogada brasileira Tatiane Spitzner, foi jogada da sacada do 4º andar do prédio no centro de Guarapuava, na região central do Paraná. O marido dela, Luis Felipe Manvailer, foi preso e indiciado pelo crime. O laudo do exame de necropsia do Instituto Médico Legal (IML) confirma que “a morte de Tatiane Spitzner foi por asfixia mecânica, causada por esganadura e com sinais de crueldade”. A mesma pulsão escópica diante desse acontecimento sinistro frequenta, comparativamente a ficção que realiza e cria leitores, mas que muda de legibilidade a complexidade urbana.


O estado atual da arte e da civilização é fruto principalmente da escolaridade e inserção cultural. É um produto de sua natureza individual, da formação doméstica e da existência social, mais do que de sua preparação disciplinar. Esta palavra significa um ato de dedicação moral. E de dedicação a fundo, positiva tanto aos extremos como ao que fica entre eles, como culto, cultivo e cultura são três aspectos articulados da mesma linha de reflexão desde quando nos aperfeiçoamos pela cultura do Espírito. Muda o objeto da dedicação, mas significa sempre uma entrega total do ser para alcançar a essência através das aparências, de modo a tirar do cultivo da terra o alimento do nosso corpo, da cultura intelectual o aperfeiçoamento do nosso espírito e da universidade o reconhecimento da plenitude da verdade. Esse radical culto pode, portanto apresentar três sentidos. O sentido individual de representação é o que chamamos academicamente de “cultura intelectual”. Tem um sentido meramente subjetivo e significa a passagem de controle da informação à formação do saber e da personalidade burocrática institucionalizada. O segundo é objetivo e significa a conquista de elementos característicos das instituições e de representação de uma coletividade.
O terceiro é na universidade o homem de certo modo habita e não habita. Se por habitar entende-se uma residência. Quando se fala em habitar, representa-se costumeiramente um comportamento que o homem cumpre e realiza em meio a vários outros modos de comportamento. Não habitamos simplesmente, mas construir significa originariamente habitar. E a antiga palavra construir (“bauen”) diz que o homem é à medida em que habita. Mais que isso, significa ao mesmo tempo: proteger e cultivar, a saber, cultivar o campo, cultivar a vinha. Construir significa cuidar do crescimento que, por si mesmo, dá tempo aos seus frutos. No sentido de proteger e cultivar, construir não é o mesmo que produzir. Note bem: em oposição ao cultivo, construir diz edificar. Ambos os modos de construir – construir como cultivar, em latim, “colere”, cultura, e construir como edificar construções, “aedificare” – estão contidos no sentido próprio de “bauen”. No sentido de habitar, ou construir, permanece, para a experiência cotidiana do homem. Aquilo que desde sempre é, como a linguagem diz de forma tão exclusiva e bela, “habitual”. Isto esclarece porque acontece um construir por detrás dos múltiplos modos de habitar, por detrás das atividades de cultivo e edificação. O sentido próprio de construir, a saber, habitar, cai no esquecimento. Em que medida construir pertence ao habitar? Esta é a constituição da nova obscuridade. Quando construir e pensar são indispensáveis para habitá-lo. Ambos são insuficientes para habitá-lo se cada um se mantiver isolado, distantes, cuidando do que é seu ao invés de escutar um ao outro. A casa é um conceito central para os seres humanos.
O regime de dedicação exclusiva (DE) nas Instituições de Ensino Superior está apoiado no inciso I, do art. 14, do Decreto n° 94. 664 de 23 de julho de 1987, que determina que o professor de carreira no Magistério Superior, submetido a este regime, tem a obrigação de prestar quarenta horas semanais de trabalho em dois turnos diários completos e o impedimento de exercer outra atividade remunerada, seja ela pública ou privada. A rotina dos docentes de um modo geral, ao contrário de outros profissionais, acaba tendo seus dias de folga ocupados por atividades referentes ao sobretrabalho.  Não foi o capital que inventou o sobretrabalho, dizia Marx, pois o crescimento da intensidade do trabalho produz não só mais bens materiais como também mais valor. Em qualquer lugar onde uma parte da sociedade possui o monopólio dos meios de produção, o operário tem de, livremente ou não, acrescentar tempo de trabalho excedente ao tempo de trabalho necessário para a sua autoconservação, de modo a produzir os meios de vida para os donos dos meios de produção. O principal objetivo da Dedicação Exclusiva (DE) é o de criar um grupo majoritário de pessoas comprometidas produtivamente com a instituição, mas a experiência demonstra que isso não tem funcionado. Ainda não entenderam que muito mais “eficiente” do que assoberbar o docente com inúmeras atividades, principalmente ocupando-os em classe, é criar um ambiente adequado à prática do exercício teórico de ensino & pesquisa. Os professores universitários brasileiros têm três regimes de trabalho nas universidades, a saber: 20 horas, 40 horas e o regime dedicação exclusiva.
A cultura intelectual, portanto, em sentido próprio, refere-se a cada pessoa humana em particular e como um todo irredutível. A nova obscuridade representa um modelo hierárquico que implica um caráter de universalidade das estruturas em oposição, sem que as ideologias assimétricas se modifiquem ou ultrapassem, pois o que pode ocorrer, em termos de temporalidade, é a produção de níveis diferentes sem alterar o quadro global. Somos um ersatz: a cultura social é subsidiária da cultura intelectual, já que a sociedade existe para o homem e não o homem para a sociedade do trabalho. Não há cultura intelectual liberta sem cultura social individualizada e aprimorada. A cultura intelectual representa a passagem técnica necessária de domínio e de controle social da informação da individualidade no processo de formação. Aglutinamos e assimilamos esses elementos técnicos e sociais exteriores, de tipo variado ou mesmo contraditório, simplificando-os a unidade irredutível e elaborando com isso a nossa personalidade. Essa personalidade se projeta socialmente para fora no sentido da atividade cognitiva de comunicação e de criação, que vai por sua vez fecundar a coletividade abstratamente.
Fernando Haddad em sua 1ª aula na USP. Ag. O Globo.
  O regime da DE determina que o professor terá de se dedicar integralmente a universidade, sem ter outro vínculo empregatício. O artigo 22 do Estatuto do Magistério Superior da lei nº 8.352, de 2002, prevê a redução de carga horária em sala de aula, para que docentes em regime de trabalho de dedicação exclusiva possam atuar mais tempo em pesquisa, extensão e pós-graduação, orientação de mestrado, doutorado, etc. Conforme o estatuto a carga horária seria de 8 horas de aula. Na prática, a Dedicação Exclusiva virou letra morta. A grande maioria dos docentes fere a Dedicação Exclusiva através da acumulação de cargos e comissões, em pós-graduações ou ensinando em diversos turnos de trabalho. Uma forma de punição docente é a dispersão de horas trabalho em sala de aula, em tempos e dias diferentes, em manhãs/noites como escopo para ocupar as classes, sem racionalizar o trabalho docente. Ipso facto construir e pensar pertence ao habitar.  Portanto, quando aprendemos a pensar, compreendemos que tanto um como outro, provém da obra de longa experiência de um incessante de pensar.
O tema da diferença e da identidade cultural assim como o reconhecimento da diversidade e da diferença apresenta-se como irredutível a esquemas explicativos gerais eficazes. É justamente isso que torna o debate profícuo e particularmente criativo e aberto. A sua riqueza consiste justamente na multiplicidade de perspectivas que interagem. Que não podem ser reduzidas a um único código e/ou a um único esquema proposto como modelo transferível universalmente. Tal debate polissêmico e polifônico é motivado, contudo, por uma necessidade teórica, histórica e ideológica que se manifesta nas mais diferentes práticas sociais. Na governabilidade o estereótipo resulta como um instrumento das frações das classes dominantes que justifica a incoerência de determinadas atitudes, assim como comportamentos pessoais e perversos individual ou coletivamente no âmbito dos conflitos sociais e políticos gerados nas sociedades. Com a ascensão dos fascistas a universidade volta à cena pública. 
As universidades públicas necessitam com urgência uma reforma administrativa em seu staff acadêmico, apesar do modelo de organização variar de instituição para instituição. Não queremos perder de vista que a palavra função pode ser empregada de duas maneiras bastante diferente. Sociologicamente, ora designa um sistema de movimentos vitais, fazendo-se abstração das suas consequências, ora exprime a relação de correspondência que existe entre esses movimentos e algumas necessidades sociais. Perguntar-se qual é a função da divisão social do trabalho é, portanto, procurar a que necessidade ela corresponde. Quando tivermos resolvido essa questão, poderemos ver se essa necessidade é da mesma natureza que aquelas a que correspondem outras regras de conduta cujo caráter moral não é discutido. Quando escolhemos esse termo, é porque qualquer outro seria inexato ou equívoco. Não podemos empregar o de objetivo ou de objeto de pensamento e falar do fim da divisão social do trabalho, porque seria supor que a divisão do trabalho existe tendo em vista os resultados que vamos consequentemente determinar.
 O termo de resultados ou de efeitos tampouco poderia satisfazer-nos, porque não desperta nenhuma ideia de correspondência. Ao contrário, a palavra papel ou função, no sentido positivo que Émile Durkheim emprega, tem a grande vantagem de implicar nessa ideia, mas sem nada prejulgar quanto à questão de saber como essa correspondência se estabeleceu, se ela resulta de adaptação intencional ou preconcebida ou de um ajuste emerge a posteriori. Nada, à primeira vista, parece tão fácil como determinar o papel/função da divisão do trabalho. Por aumentar a força produtiva e a habilidade do trabalhador, ela é condição necessária do desenvolvimento intelectual e material das sociedades; é indiscutivelmente fonte da civilização. Por outro lado, como se presta de bom grado à civilização um valor absoluto, sequer se pensa em procurar outra função para a divisão do trabalho. No caso acadêmico das universidades públicas estaduais e federais brasileiras, a representação acadêmica do decano, quando há, é importante, como é o caso das universidades católicas e algumas de tradição pública.
O decano pode ser considerado a pessoa mais velha de certo grupo ou turma de  pessoas, classe, instituição ou corporação, e deve ser considerado em alguns casos comparados ao sub-reitor da universidade. Os decanatos são unidades administrativas ligadas tecnicamente à Reitoria que coordenam e fiscalizam as atividades de ensino & pesquisa ocorridas nas universidades. A função de cada decanato é fazer com que os departamentos e/ou coordenações que compõem e formam a Universidade funcionem de forma eficaz, segundo determinado grau acadêmico, sob a forma de títulos conferidos pela instituição de ensino em reconhecimento oficial pela conclusão, com sucesso, de todos os requisitos do curso, do ciclo ou de uma etapa de estudos superiores. O moderno sistema de graus acadêmicos desenvolveu-se a partir da universidade medieval europeia, acompanhando posteriormente, a expansão globalizada deste tipo de instituição. Os graus de Bacharel, Licenciado, Mestre e Doutor, concedidos pelas antigas universidades da Europa acabaram por ser adotados nas diversas sociedades do Mundo. Em alguns casos são comparados ao staff de sub-reitores de uma universidade.
A vida social deriva inexoravelmente de uma dupla fonte: a similitude das consciências e a divisão do trabalho social. O indivíduo é socializado no primeiro caso, porque, não tendo individualidade própria, confunde-se como seus semelhantes, no seio de um mesmo tipo coletivo; no segundo, porque, tendo uma fisionomia e uma atividade pessoais que o distinguem dos outros, depende deles na mesma medida em que se distingue e, por conseguinte, da sociedade que resulta de sua união. A similitude das consciências dá origem a regras jurídicas que, sob a ameaça de medidas repressivas, impõem a todos suas crenças e práticas uniformes; quanto mais for pronunciada, mais a vida social se confunde completamente com a vida religiosa, e mais as instituições econômicas são vizinhas do hiperconsumismo. A divisão social do trabalho dá origem a regras jurídicas que determinam a natureza e as relações das funções divididas, mas cuja violação acarreta apenas medidas reparadoras sem caráter expiatório. As regras da moral e direito profissional são imperativas como tantas outras.


            De todos os elementos técnicos e sociais da civilização, a ciência é o único que, em certas condições, apresenta um caráter moral. As sociedades tendem cada vez mais a considerar um dever para o indivíduo desenvolver sua inteligência, assimilando as verdades científicas estabelecidas. É que a ciência nada mais é que a consciência levada a seu mais alto ponto de clareza. Nunca é demais repetir que para que as sociedades possam viver nas condições de existência que lhes são dadas, é necessário que o campo da consciência, tanto individual como social, se estenda e se esclareça. De fato, como os meios em que elas vivem se tornam cada vez mais complexos e, por conseguinte, cada vez mais móveis, para durar é preciso que elas mudem com frequência. Por outro lado, quanto mais obscura uma consciência, mas é refratária à mudança social, porque não vê depressa o bastante que é necessário mudar, nem em que sentido é preciso mudar; ao contrário, uma consciência esclarecida sabe preparar de antemão a maneira de se adaptar a essa mudança risível. Eis porque é necessário que a inteligência guiada disciplinarmente pela ciência adquira uma importância maior no curso da vida coletiva.  Elas fazem o indivíduo a agir visando fins que não lhe são próprios, a fazer concessões, aceitar compromissos, a levar em conta interesses superiores aos seus.
Por conseguinte, mesmo onde a sociedade repousa da maneira mais completa na divisão do trabalho, ela não se resolve numa poeira de átomos justapostos, entre os quais só se podem estabelecer contatos externos e passageiros. Mas seus membros são unidos por vínculos que se estendem muito além dos momentos tão curtos em que a troca se consuma. Cada uma das funções que eles exercem é, de maneira constante, dependente das outras e forma com elas um sistema solidário. Como consequência, da natureza da tarefa escolhida derivam deveres permanentes. Por comprimirmos determinada função doméstica ou social, somos pegos numa rede de obrigações de que não temos o direito de nos emancipar. Há, sobretudo, um órgão em relação ao qual nosso estado de dependência aumenta cada vez mais: o Estado. Os pontos que estamos em contato com ele se multiplicam, assim como as ocasiões em que ele tem por encargo chamar-nos ao sentimento da solidariedade comum. Toda sociedade é uma sociedade moral, mas certos aspectos desse caráter social são mais pronunciados nas sociedades organizadas. Forma-se, um sentimento do estado de dependência em que se encontra a estimar-se por seu justo valor, isto é, a só se ver como parte de um todo estruturado,  uma parte que se integra ao todo e este que se articula na diversidade da particularidade.
Tais sentimentos são capazes de inspirar não apenas esses sacrifícios cotidianos que garantem o desenvolvimento regular da vida social cotidiana, mas também, eventualmente, atos de renúncia completa e de abnegação exclusiva. Por seu lado, a sociedade aprende a ver seus membros que a compõem não mais como coisas sobre as quais têm direitos, mas como cooperadores que ela não pode dispensar e para com os quais tem deveres. É erroneamente, pois, que se opõe a sociedade que deriva da comunidade de crenças à que tem por base a cooperação, concedendo à primeira apenas um caráter moral e não vendo na segunda mais que um agrupamento econômico. Na realidade, a cooperação também tem sua moralidade intrínseca. Há apenas motivos para crer, que, em nossas sociedades, essa moralidade ainda não tem todo o desenvolvimento que lhes seria necessário desde já.  Daí resulta duas grandes correntes da vida social, a que correspondem dois tipos de estrutura não menos diferentes. Dessas correntes, a que tem sua origem nas similitudes sociais corre a princípio só e sem rival. Nesse momento, ela se confunde com a própria vida social e pouco a pouco, canaliza-se, rarefaz-se, enquanto a segunda vai engrossando seu caldo como o oleiro o faz. Do mesmo modo, a estrutura segmentária é mais recoberta pela outra, mas sem nunca desaparecer por completo a reprodução da individualidade e o papel na divisão social de trabalho.

Bibliografia geral consultada.
FRY, Peter, Para Inglês Ver: Identidade e Política na Cultura Brasileira. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1982; Artigo: “FHC foi Aposentado aos 37 anos e Ruth se Aposentou aos 55 anos”. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/13/05/1998; NASCIMENTO, Alásia Ramos Santos de, Educação e Carpe Diem: Reflexões sobre Teoria Pedagógica no Filme Sociedade dos Poetas Mortos. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2003; ADORNO, Theodor, “Introdução à Personalidade Autoritária”. In: Critical Theory and Society - A Reader. Trad. de Francisco Rudiger, 1989; Idem, Dialéctica Negativa. Madrid: Ediciones Taurus, 1992; Idem, “O Ensaio como Forma”. In: Notas de Literatura I. São Paulo: Editora 34, pp. 15-45; 2003; Idem, Minima Moralia: Reflexões a partir da Vida Lesada. Rio de Janeiro: Editor Azougue, 2008; GUILHON LEMOS, Sólon Sales, Dialética Negativa: Formação e Resistência em Theodor Adorno. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Educação Brasileira. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2013; BÁRBARA, Lenin Bicudo, “A Vida e as Formas da Sociologia de Simmel”. In: Tempo Social. Revista de Sociologia. Universidade de São Paulo, vol. 26, n°  2, novembro de 2014; DANTAS, André Vianna, Do Socialismo à Democracia: Dilemas da Classe Trabalhadora no Brasil Recente e o Lugar da Reforma Sanitária Brasileira. Programa de Pòs-Graduação - Doutorado. Escola de Serviço Social. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2014; BURGINSKI, Vanda Micheli, O ´Novo` Desenvolvimentismo da Cepal: Contrarreforma do Estado, Empregabilidade e Redução de Direitos no Século XXI. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Política Social. Departamento de Serviço Social. Instituto de Ciências Humanas. Brasília: Universidade de Brasília, 2016; MACHADO, Fábio Puper, VídeoHQescultura: Uma Poética Narrativa. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual. Faculdade de Artes Visuais. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2017; SMAILI, Soraia Soubhi, “A Criminalização dos Cientistas na Era dos Ataques às Universidades”. Disponível em: http://sinprominas.org.br/14/03/2018; TOCHERO, Tahiane e MÉDICI, Daniel, “Manda esse Lixo Janela Abaixo”. Áudio durante voo de Lula para Curitiba entra na frequência do  Aeroporto de Congonhas. In: https://g1.globo.com/09/04/2018; entre outros.

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