sábado, 29 de dezembro de 2018

Raptos em Cleveland - Monstruosidade & Suicídio Egoísta na Prisão.

Ubiracy de Souza Braga
                                                 My hell lasted 11 years, yours is just beginning”. Michelle Knight

           
          Sociologicamente “Sequestros de Cleveland” representam raptos de três jovens mulheres: Amanda Berry, Georgina “Gina” DeJesus e Michelle Knight, ocorridos no início dos anos 2000, em anos diferentes, em Cleveland, estado de Ohio, Estados Unidos da América. As três, desaparecidas e mantidas em cativeiro por um período entre 9 - 11 anos por Ariel Castro numa casa da cidade, foram libertadas em 6 de maio de 2013. Ariel Castro trabalhou 22 anos como motorista de ônibus escolar em Cleveland, entre fevereiro de 1991 e novembro de 2012, quando “foi demitido por mau comportamento e por colocar em risco com direção perigosa as crianças que transportava”. Pouco mais de um mês depois de iniciar o cumprimento da pena que o manteria por toda a vida encarcerado, Ariel Castro suicidou-se se enforcando em sua cela individual da prisão do Centro de Reabilitação Correcional de Orient, Ohio, onde cumpria pena. O egoísmo é um estado onde os laços entre o indivíduo e os outros na sociedade são aparentemente fracos. Uma vez que o indivíduo está fracamente ligado à sociedade, terminar sua vida terá pouco impacto no resto da sociedade. Existem poucos laços sociais para impedir que o indivíduo se mate. Esta foi a causa vista por Durkheim entre divorciados. Em outras palavras, o indivíduo se mata para não sofrer com o fim de um relacionamento com outro indivíduo.  Michele Knight foi a primeira a ser sequestrada, com 21 anos. 
          Desaparecida desde 23 de agosto de 2002 ao sair da casa de um primo, no dia de uma audiência sobre a custódia de seu filho, de quem já havia perdido a custódia para o Estado, nunca mais foi vista. Depois de sua libertação, a polícia reconheceu que poucos esforços foram feitos para encontrá-la, em parte por ser já adulta e em parte por acreditarem que a jovem havia fugido com raiva por ter perdido a custódia do filho. De acordo com os policiais que a interrogaram após a libertação, ela havia aceito uma carona de Castro quando caminhava na rua na busca do local que seria a audiência, com a desculpa que tinha alguns cachorrinhos para doar, Ariel levou Michele para sua casa em 2207 Seymour Avenue, onde permaneceu presa num quarto trancado no andar superior. Knight foi a mais abusada pelo captor durante os anos de cárcere privado, sendo obrigada a abortar cinco vezes e necessitando uma reconstrução facial pelas surras que levou. Também perdeu a audição num ouvido. Foi libertada com 32 anos de idade. Amanda Berry desapareceu em 21 de abril de 2003, um dia antes de completar 17 anos, depois de sair do trabalho numa lanchonete Burger King. Berry também aceitou uma carona de Castro, depois dele lhe dizer que também tinha um filho que trabalhava na lanchonete. Levada para a mesma casa onde se encontrava Knight há mais de 6 meses, foi também mantida prisioneira. 
        Seu caso tomou as manchetes dos jornais e televisões, com vários comunicados de que seu corpo havia sido encontrado e pela busca incessante de sua mãe, Louwana Miller, por três anos atrás da filha desaparecida, até morrer de insuficiência cardíaca em 2006. O caso de Berry chegou a aparecer no programa de televisão America`s Most Wanted, em 2004, e reprisado duas vezes em 2005 e 2006, já ligado também ao desaparecimento de Georgina DeJesus, de 14 anos. Sua mãe, Louwana, também participou de um programa especial do Oprah Winfrey Show, em 2004, onde uma vidente, Sylvia Browne, afirmou que sua filha estava morta. Durante seu tempo no cativeiro, ela teve uma criança depois de estuprada por Ariel Castro, identificada com uma menina de seis anos depois da libertação, nascida em 25 de dezembro de 2006, extraordinário dia de Natal. O parto da criança, feito dentro de uma pequena piscina de plástico num quarto do cativeiro, teve a participação de Michele Knight, que foi ameaçada por Castro de ser morta caso o bebê morresse no parto. A paternidade do sequestrador foi confirmada após exame de DNA. Gina DeJesus desapareceu aos 14 anos, em 2 de abril de 2004, vista pela última vez falando de um telefone público na rua, no caminho entre a escola e sua casa. Gina era a melhor amiga da filha de Castro, Arlene, e falava ao telefone com a mãe dela, Grimilda Figueroa, separada de Castro há anos devido a maus tratos, para que as duas pudessem dormir na casa de Gina. 

                               
            A permissão foi negada e as duas se separaram. Mais uma vez, Castro apareceu e ofereceu uma carona à garota e a sequestrou, levando-a para o mesmo endereço do cativeiro das outras duas. Um ano após o desaparecimento de Gina, o FBI publicou um retrato falado de um suspeito, identificado com um hispânico, entre 25 e 35 anos, 1,78 m de altura, com cerca de 80 kg e olhos verdes, cavanhaque e possivelmente uma barba fina. Castro, que tinha 43 anos na época, lembrava o retrato. É hispânico, tem barba e cavanhaque, peso e altura aproximada à descrita, mas olhos marrons. O caso de DeJesus também foi retratado no programa America`s Most Wanted em 2004 junto com o de Amanda Berry e os dois desaparecimentos passaram anos no noticiário até 2012, quando a família fez uma vigília pela moça, para continuar a chamar a atenção para o desaparecimento. Imagens de uma dessas vigílias mostram nela a participação de Ariel Castro, identificado pela família, que informou que o sequestrador participava de buscas e procurava se manter próximo aos familiares da vítima. Sequestrada ainda no início da adolescência, Gina foi libertada aos 24 anos. A etnologia simmeliana demonstra que a compra de mulheres não se pratica exclusiva ou prioritariamente nos chamados “estágios inferiores da evolução cultural”. 
Ela nunca ocorre, no modo da economia individualista. Ela é submetida a formas e fórmulas estritas, ao respeito aos interesses familiares, a convenções precisas sobre a natureza e o montante do pagamento. Todo o seu desenrolar tem um caráter eminentemente social. Mas a organização dos casamentos que vem à luz com a compra das mulheres representa um imenso progresso diante das condições mais grosseiras do rapto nupcial, ou diante dessas relações sexuais de todo primárias, que não conheciam, sem dúvida, a promiscuidade absoluta, mas ignoravam, muito provavelmente também, a firme referência normativa que a compra socialmente regulada proporciona. Segundo a interpretação sociológica de Georg Simmel (1988),  “traduz claramente o papel social desse modo de casamento eminentemente pouco individual”. Como sabemos a evolução da humanidade sempre atravessa estágios em que: a) opressão da individualidade é o ponto de passagem obrigatório de seu livre desabrochar superior, em que a pura exterioridade das condições de vida se torna a escola da interioridade, b) em que a violência da modelagem produz uma acumulação de energia, destinada, em seguida, a gerar toda a especificidade pessoal. Do alto desse ideal é que, c) a individualidade plenamente desenvolvida, tais períodos parecerão, é claro, grosseiros e indignos. 
         Mas, para dizer a verdade, atenta Georg Simmel que, além de semear os germes positivos do progresso vindouro, já é em si uma manifestação do espírito exercendo uma dominação organizadora sobre a matéria-prima das impressões flutuantes, uma aplicação das personalidades especificamente humanas, procurando elas próprias fixar suas normas de vida - do modo mais brutal, exterior ou, mesmo, estúpido que seja -, em vez de recebê-las das simples forças da natureza. A horda “não protege mais a moça e rompe suas relações com ela, porque nenhuma contrapartida foi obtida por sua pessoa”.  Desnecessário dizer que o desvio às normas sociais ou normas morais dominantes de uma sociedade implica “coragem e determinação”. Contudo é frequentemente um processo social para garantir as mudanças políticas que mais tarde vêm a ser consideradas como sendo de interesse geral. Uma sociedade tolerante em relação ao comportamento desviante não sofrerá necessariamente uma ruptura social. O conceito de desvio aplica-se às condutas individuais ou coletivas que transgride as normas de uma dada sociedade, ou de um grupo. Refere-se à ausência ou falha de conformidade face às normas ou obrigações sociais. Um comportamento só pode ser qualificado de desviante por referência à sociedade em que surge. Pode, também, ser visto “como um atentado à ordem social”. 
        Pode, também, ser concebido como o signo de “incapacidade dos grupos e das sociedades em matéria de socialização”. Enfim, é um arquétipo de conformidade por relação a um grupo que não se identifica com o padrão normativo dominante da sociedade global. Em primeiro lugar, o livro Le Suicide. Étude de sociologie (cf. Durkheim, 1967) representou um dos pilares no campo da sociologia. Escrito pelo sociólogo francês Émile Durkheim e publicado em 1897, trata-se um “estudo de caso” de um suicídio, publicação única em sua época, que trouxe o exemplo de como uma monografia sociológica deveria ser escrita. Inúmeros estudos contemporâneos sobre o suicídio têm como escopo características individuais. Durkheim estudou as conexões entre os indivíduos e a sociedade. Procurou demonstrar com propriedade o quanto um ato individual é o resultado do meio social que o cerca, que, além disso, teria uma prova da utilidade da sociologia. Neste livro, o sociólogo francês Émile Durkheim desenvolveu o conceito de anomia, explorando as diferentes taxas de suicídio comparativamente entre religiosos protestantes e católicos, apresentando resultados estatísticos convincentes que comprovam o forte controle social entre os católicos resulta em menores índices de suicídio.  

Os indivíduos têm certo nível de integração com os seus grupos, o que o sociólogo Émile Durkheim chama de “integração social”. Níveis anormalmente baixos ou altos de integração social poderiam resultar num aumento das taxas de suicídio: a) níveis baixos porque baixa integração social resulta numa sociedade desorganizada, levando os indivíduos a se voltar para o suicídio como uma última alternativa; b) níveis altos porque as pessoas preferem destruir a si próprias a viver sob o grande exercício de controle da sociedade, o que resultou no caso de “suicídio egoísta” de Ariel Castro. O trabalho de Durkheim influenciou os proponentes das teorias sociais funcionalistas do controle social, e é frequentemente mencionado como um estudo pioneiro tornando-se sociológico clássico no pensamento ocidental.
Psicologicamente, em segundo lugar, temos, no limite o longo caso Josef Fritzl, o austríaco que admitiu ter mantido a própria filha em cativeiro durante 24 anos. Teria trabalhado na construção de uma hidrelétrica no Brasil na década de 1960, segundo uma reportagem do jornal austríaco Kurier. De acordo com o jornal, a informação foi obtida com um ex-colega de Fritzl, técnico em eletrônica que trabalhou, até 1967, para a Voest Alpine, uma empresa especializada na construção de usinas hidrelétricas com sede na cidade austríaca de Linz. Um inquilino que morou na casa do austríaco disse nesta reportagem que viu outro homem entrar no porão. Alfred Dubanovsky recebeu a visita de um homem que seria provaveelmente um encanador. - “Ele não recebia muitas visitas, às vezes parentes ou amigos”, afirmou o inquilino, que morou na casa por 12 anos. – “Mas uma vez ele me apresentou a um encanador, que teve permissão para ir ao porão”. A declaração de Dubanovsky coloca em dúvida a versão da polícia austríaca de que Fritzl não teve cúmplices.
            As três jovens foram aprisionadas por três irmãos, detidos após o chamado de Amanda: Ariel Castro, 52 anos, Pedro Castro, 54, e Onil Castro, 50. Fontes ouvidas pela imprensa local afirmaram que as mulheres teriam sido amarradas e a polícia encontrou correntes penduradas em um dos tetos. As três jovens desapareceram quando ainda eram adolescentes e foram mantidas reféns na mesma casa. Amanda tinha 16 anos quando desapareceu após sair do trabalho. A mãe dela, Louwanna Miller, morreu de ataque cardíaco em março de 2006, ainda incansável na busca pela filha. Gina tinha 14 anos em 2004 quando sumiu após deixar a escola. Michelle fora vista pela última vez em 23 de agosto de 2002, aos 21 anos de idade, depois de ter ido visitar uma prima, segundo o jornal Cleveland Plain Dealer. Os casos ocorreram na mesma região da cidade, nas proximidades da casa onde foram encontradas. Para as autoridades, as três estavam mortas. Ariel Castro foi descrito pelos vizinhos “como um amigável motorista de ônibus e músico”. O suspeito teria antecedentes criminais. Registros policiais demonstram que Castro foi preso por violência doméstica e por perturbação da ordem pública em 1993.  
                
   Ele também foi acusado de violentar sua ex-mulher em 2005, quebrando o nariz e as costelas dela. Os agentes confirmaram que o suspeito usava como endereço em documentos a casa transformada em cativeiro. Os outros dois acusados moravam em lugares diferentes. Nenhum deles estava na lista das buscas feitas pela polícia nos últimos 10 anos. Charles Ramsey, o vizinho que escutou Amanda Berry gritando por socorro, foi alçado a herói em Cleveland. Ele contou que costumava comer churrasco com o sequestrador e jamais suspeitou que as mulheres estivessem na casa.Para Georg Simmel diante do “conflito” (“Kampf”) os indivíduos vivem em relações de cooperação, mas também de oposição, portanto, os conflitos são parte mesma da constituição da sociedade. Momentos de crise, entre dois momentos de harmonia, vistos, portanto, numa função positiva de superação das divergências. Fundamenta uma episteme em torno da ideia de movimento, da relação, da pluralidade, da inexorabilidade do conhecimento, de seu caráter construtivista, cuja dimensão central realça o fugidio, o fragmento e o imprevisto. Seu panteísmo estético, no qual se entende que cada ponto, cada fragmento superficial e fugaz é passível de significado, de compreender  os traços significativos, do fragmento à totalidade da vida. O significado sociológico do “conflito”, em princípio, não foi contestado. 
O conflito é admitido por causar ou modificar grupos de interesse, unificações, organizações. Por outro lado, pode parecer paradoxal na visão comum se alguém perguntar se independentemente de quaisquer fenômenos que resultam de condenar ou que a acompanha, o conflito é uma forma de “sociação”. À primeira vista, isso soa como uma pergunta retórica. Mas se todas as interações entre os homens representam uma “sociação”, o conflito, afinal representa uma das interações mais vivas, que, além disso, não pode ser exercida por um indivíduo sozinho, deve certamente ser considerado como “sociação”. E, de fato, os fatores de dissociação tais como o ódio, inveja, necessidade, desejo, são algumas das causas da condenação, que irrompe por em função deles. Conflito é destinado a resolver dualismos divergentes, é uma maneira de conseguir algum tipo de unidade, mesmo que seja através da aniquilação de uma das partes em litígio. No caso de rapto de Ariel Castro, a jovem Knight desapareceu aos 21 anos, em 2002, Berry aos 16 em 2003 e DeJesus aos 14, em 2004. Enquanto prisioneiras, “as três jovens sofreram constantes abusos como espancamento e estupro, que resultou no nascimento de uma menina de Berry e múltiplos abortos causados em Knight. As mulheres viveram muito tempo na casa sem ver a luz do sol e amarradas por cordas e correntes em determinadas ocasiões”.

As três mulheres foram libertadas em 6 de maio de 2013, quando Amanda Berry, então já com 26 anos, aproveitou a oportunidade da saída de Ariel Castro da casa para gritar e esmurrar a porta pedindo socorro aos vizinhos, por conseguinte sendo resgatada por seus gritos ouvidos da rua e pela polícia. Junto com as três estava uma criança de seis anos, filha de Berry, nascida no cativeiro. O dono da casa, Ariel Castro, de 52 anos, foi preso pouco depois da libertação e levado à Corte Suprema sob as acusações de rapto e estupro coletivo, e teve a fiança fixada em U$8 milhões de dólares. Michele Knight foi a primeira a ser raptada, com 21 anos. Desaparecida desde 23 de agosto de 2002 ao sair da casa de um primo, no dia de uma audiência sobre a custódia de seu filho, de quem já havia perdido a custódia para o Estado, nunca mais foi vista. Depois de sua libertação, a polícia reconheceu que poucos esforços foram feitos para encontrá-la, em parte por ser  adulta e por acreditarem que a jovem havia fugido com raiva por ter perdido a custódia do filho. 
De acordo com os policiais que a interrogaram após a libertação, ela havia aceito uma carona de Ariel Castro quando caminhava na rua, mas em vez de ser levada para casa foi amarrada e levada para a casa de Castro em 2207 Seymour Avenue, onde permaneceu presa num quarto trancado no andar superior. Knight foi a mais abusada pelo raptor durante os anos de cárcere privado, sendo obrigada a abortar cinco (05) vezes e necessitando “uma reconstrução facial pelas surras que levou”. Também perdeu a audição num ouvido. Foi libertada com 32 anos de idade. Amanda Berry desapareceu em 21 de abril de 2003, um dia antes de completar 17 anos, depois de sair do trabalho numa lanchonete Burger King. Berry também “aceitou uma carona de Castro, depois de ele lhe dizer que também tinha um filho que trabalhava na lanchonete”. Levada para a mesma casa onde já se encontrava Knight há mais de seis meses foi também mantida prisioneira. Seu caso tomou as manchetes dos jornais e televisões, com vários comunicados de que seu corpo havia sido encontrado e pela busca incessante de sua mãe, Louwana Miller, por três anos atrás da filha desaparecida, até morrer de insuficiência cardíaca em 2006. 
O caso de Berry chegou a aparecer no programa de televisão: America`s Most Wanted, em 2004, e reprisado duas vezes em 2005 e 2006, já ligados também ao desaparecimento de Georgina DeJesus, de 14 anos. Sua mãe, Louwana, também participou de um programa especial do Oprah Winfrey Show, em 2004, onde uma vidente, Sylvia Browne, afirmou que sua filha estava morta. Durante seu tempo no cativeiro, ela teve uma criança depois de estuprada por Ariel Castro, identificada com uma menina de seis anos depois da libertação, nascida em 25 de dezembro de 2006. O parto da criança, feito dentro de uma pequena piscina de plástico num quarto do cativeiro, teve a participação de Michele Knight, que foi ameaçada por Ariel Castro de ser morta caso o bebê morresse no parto. A paternidade do sequestrador foi confirmada após exame de DNA. Depois de preso, ele confessou os raptos em detalhes e se autodescreveu como um homem de “sangue-frio, viciado em sexo e sem controle sobre seus impulsos sexuais” (“cold-blooded, sex addict, and with no control over their sexual urges”). 
Também admitiu ser o pai da filha de Amanda Berry e disse que os raptos não foram planejados, mas apenas impulsos de ocasião. Como parte de um “ritual macabro”, no período em que manteve as três mulheres presas ele comemorava a data do sequestro de cada uma delas com um bolo e as deixava ver na televisão as vigílias feitas por suas famílias em busca delas. Seu filho, Anthony Castro, declarou que, em suas visitas à casa, ela estava sempre trancada: - “Várias áreas dela eram proibidas para mim; havia cadeados no porão, no sótão e na garagem”. Em 2004, quando Anthony estudava Jornalismo, ele escreveu artigo sobre os desaparecimentos de Berry e DeJesus para o jornal Plain Press, e entrevistou a mãe de Gina. Três semanas antes da libertação das três jovens, Anthony contou que seu pai lhe perguntou se Amanda Berry algum dia seria encontrada; ele respondeu ao pai que acreditava que ela já estivesse morta, ao que Ariel retrucou: - “Mesmo? Você acha isso?”. Repetimos: “Como parte do ritual macabro que realizava no cativeiro onde mantinha três jovens como reféns, Ariel Castro, de 52 anos, comemorava com bolo e parabéns o aniversário de sequestro de Amanda Berry, Michelle Knight e Gina DeJesus, segundo a imprensa local. De acordo com a rede CNN, ele deixava que as vítimas assistissem pela televisão às vigílias de familiares e amigos” (cf. jornal O Globo, 09.05. 2013).  

Preso e acusado de 329 crimes, entre eles sequestro, violação e homicídio por ter provocado um aborto a uma das sequestradas ao espancá-la na barriga e deixá-la sem se alimentar, Ariel Castro declarou-se inocente ao Grande Júri. Em 12 de julho, mais 648 acusações foram apresentadas contra ele pela promotoria, que respondeu por um total de 977 crimes ligados ao caso. Em 1° de agosto, com a presença de Michele Knight, que depôs como testemunha de acusação em seu julgamento, Ariel Castro “foi condenado à prisão perpétua + 1000 anos, sem direito a liberdade condicional”. A casa onde as três reféns foram mantidas por quase dez anos “foi demolida (foto) em 7 de agosto de 2013, como parte dos acordos entre Ariel Castro, seus advogados e a promotoria, que lhe permitiram ser condenado à prisão perpétua ao invés de ser condenado à pena de morte”. Os norte-americanos têm graves problemas sociais e políticos com relação ao crime individual e a questão de preservação da memória coletiva, exceto com relação aos crimes de guerras ou ao ataque às torres gêmeas do Word Trade Center, como já observamos noutro lugar. Em 1º de agosto de 2013, seu julgamento, transmitido ao vivo pela televisão e pela rede mundial de computadores - Internet, foi realizado na Corte do Condado de Cuyahoga. O Condado de Cuyahoga, é um dos 88 condados do estado norte-americano do Ohio. 
A sede e maior cidade do condado é a famosa Cleveland. Foi fundado em 7 de junho de 1807. O condado possui uma área de 3 226 km², dos quais 1 184 km² estão cobertos por terra e 2 042 km² por água, uma população de 1 280 122 habitantes, e uma densidade populacional de 1 081,1 hab/km² (segundo o censo nacional de 2011). É o condado mais populoso do Ohio e o 29º mais populoso dos Estados Unidos da América. O juiz Michael Russo disse a Ariel Castro que “não havia lugar para ele nesta cidade, neste país e neste mundo” (“there was no place for him in this city, this country and this world”). Após o testemunho de Michelle Knight, a única das vítimas a depor como testemunha de acusação e que disse ao réu em Corte que “meu inferno durou 11 anos, o seu está apenas começando” (“my hell lasted 11 years, yours is just beginning”), Ariel Castro foi condenado à prisão perpétua + 1000 anos de prisão pelo conjunto de crimes dos quais foi acusado. - “Los funcionarios de la cárcel de Orient, Ohio, encontraron a Castro, de 52 años, ahorcado con una sábana en su celda hacia las 21.20 hora local (01.20 GMT), según las últimas fuentes citadas por New Breaker. Sus esfuerzos por reanimarle resultaron infructuosos. Trasladado al centro médico de la Universidad del estado de Ohio, fue confirmada su muerte a las 10.52 hora local”. 
Mesmo sendo submetido a um sistema de vigilância (Foucault) estreita por causa de seu estado emocional e de receios da direção da penitenciária a ataques de outros presos, com rondas em sua cela a cada 30 minutos após seu encarceramento. Castro foi encontrado enforcado em sua cela individual na noite de 3 de setembro, depois de cumprir pouco mais de um mês da pena, tendo sua morte sido confirmada às 22:52 (hora local), pelo hospital da Universidade Estadual de Ohio, após uma tentativa de ressuscitamento cardiopulmonar feita pela própria equipe médica do Centro de Recepção Correcional de Orient, onde cumpria pena. Dois meses após sua libertação, Gina, Amanda e Michelle gravaram um vídeo, disponível no Youtube, onde agradecem a preocupação de todos e as doações financeiras feitas a elas por pessoas, para que pudessem começar nova vida. 
Amanda falou da felicidade de estar de volta ao convívio de sua família e amigos e que a cada dia se sente mais forte; Gina, acompanhada de seus pais, agradeceu às doações feitas a ela e a Michelle, - a que mais tempo ficou sequestrada e a que mais fala no vídeo, agradeceu as doações que estão lhe ajudando a construir uma nova vida e disse que era “forte o suficiente para passar pelo inferno com um sorriso, com a cabeça erguida e com os pés firmes e sair dele” (“strong enough to go through hell with a smile, with your head up and your feet firm and leave it”). Michelle Knight, a única vítima a comparecer ao julgamento do sequestrador em 1 de agosto de 2013, onde leu um depoimento escrito como testemunha de acusação, ouviu dos bancos do tribunal a condenação de Castro à prisão perpétua. Para o que nos interessa, sobre os detalhes do cativeiro foram incluídos em Relatório policial com base na declaração das sequestradas, divulgados por uma TV local de Cleveland. A filha de Amanda, identificada como Jocelyn, de 6 anos, “teria nascido em uma piscina inflável dentro de casa” (“was born in an inflatable pool in the house”), de acordo o conselheiro municipal Brian Cummins em entrevista à emissora ABC. Depois de serem libertadas, as jovens contaram que passaram os primeiros anos de confinamento acorrentados no sótão. 
Eventualmente, elas eram soltas e andavam pela casa com portas e janelas trancadas. As autoridades confirmaram que as mulheres eram acorrentadas, passaram fome, sofreram abuso sexual, espancamento e abortos induzidos pelo captor. Na quarta-feira, Amanda e Gina DeJesus deixaram o hospital e ganharam festas ao chegarem em casa. Michelle permanece internada em um hospital local, mas passa bem. Ariel Castro teria ameaçado Michelle se Jocelyn não sobrevivesse e a jovem chegou a fazer respiração boca a boca quando a criança parou de respirar. Durante a gravidez, mãe e bebê não foram examinados por profissionais e técnicos da saúde. Nos dez anos de cativeiro, as sequestradas teriam saído de casa apenas duas vezes disfarçada. Seus irmãos, antes suspeitos de envolvimento no caso, também compareceram à audiência. Pedro Castro, de 54 anos, foi liberado após pagar uma multa de US$ 100 por um caso arquivado em julho de 2011. Onil, 50 anos, foi solto depois que a juíza Lauren Moore rejeitou as acusações de abuso de drogas. Os três homens foram detidos após a fuga das mulheres. Segundo a polícia, não há indícios de que os irmãos tenham envolvimento ou sabiam da existência das jovens. Elas foram encontradas vivas na casa de Castro, depois que um vizinho ajudou a arrombar uma porta da casa.
Bibliografia geral consultada.

COHEN, Jeffrey Jerome (Org.), Monster Theory. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1996; GOULD, Charles, Mythical Monsters. Landisville: Arment Biological press, 2000; STEVENSON, Robert Louis, O Médico e o Monstro. Porto Alegre: L&PM Editores, 2002; BLANCHER, Mercedes, A Violência Contra as Mulheres na Vida Cotidiana - Um Estudo no Livro da Aliança a partir do Êxodo 20, 22-23. Tese de Doutorado. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2004; MACIEL JUNIOR, Plínio de Almeida, Tornar-se Homem: O Projeto Masculino na Perspectiva de Gênero. Tese de Doutorado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia: Psicologia Clínica. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2006; COULOURIS, Daniela Georges, A Desconfiança em Relação à Palavra da Vítima e o Sentido da Punição em Processos Judiciais de Estupro. Tese de Doutorado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2010; CAMPOS, Mariana Teresa Ferreira de, Um Estudo Fenomenológico da Experiência de Rapto Parental. Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica. Lisboa: Instituto Universitário – Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida, 2012; Artigo: Relatório Final Confirma que Monstro de Cleveland Cometeu Suicídio. Disponível em: https://veja.abril.com.br/mundo/3/12/2013; Artigo: “O Suicídio do Monstro”. In: Revista Época, 09.09.2013; DURKHEIM, Émile,  Il Suicidio. Studi di Sociologia. Biblioteca Univ. Rizzoli, 2014; BOTEGA, Neury José, Crise Suicida - Avaliação e Manejo. Porto Alegre: Editora Artmed, 2015; ONODERA, Marcus Vinicius Kiyoshi; DE FILIPPO, Thiago Baldani Gomes (Coord.), Brasil e EUA: Temas de Direito Comparado. São Paulo: Escola Paulista de Magistratura, 2017; LUNARDI, Thaís Amoroso Paschoal, Coletivização da Prova: Técnicas de Produção Coletiva da Prova e seus Reflexos na Esfera Individual. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Direito. Setor de Ciências Jurídicas. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2018; SCAVACINI, Karen, O Suicídio é um Problema de Todos: A Consciência, a Competência e o Diálogo na Prevenção e Posvenção do Suicídio. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano. Instituto de Psicologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2018;  entre outros. 

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