Ubiracy de Souza Braga
“O dinheiro não traz felicidade - para quem não sabe o que fazer com ele”. Machado de Assis
A classe média brasileira, criada pela expansão do emprego público e pela criação de empregos privados em geral, tem sido representada pelos trabalhadores que prestam serviços diretamente aos grupos empresariais e por extensão das elites econômicas e elites políticas, como os profissionais com ensino superior empregado em funções medianas em empresas. Os profissionais com ensino superior, funcionários públicos em empregos bem situados, composto por médicos do sistema público, advogados e profissionais liberais concursados. Os funcionários de escritório mais requalificados, de empresas privadas ou estatais, composto por diretores e supervisores de colégios privados e escolas públicas, bancários de postos intermediários, delegados de polícia em início de carreira, enfermeiras experientes, etc. Enfim, inclusive pelos trabalhadores manuais de maior requalificação, os operários especializados e semiespecializados de indústrias públicas e privadas, composto por mecânicos, eletricistas, encanadores, metalúrgicos, fresadores, instrumentistas, inspetores de qualidade, torneiros mecânicos e de cargos recém-criados de inovação.
Na esfera da vida social a luta
política é uma das questões que sempre marcaram a dialética entre capital e
trabalho. Mas a esfera social onde a ideologia manifesta mais explicitamente
seu poder de enviesamento é, com certeza, o campo da atividade intelectual. O
sujeito da ação política é alguém que quer conhecer o quadro em que age; que
quer poder avaliar o que pode e o que não pode fazer. Mas, ao mesmo tempo, é um
sujeito que depende, em altíssimo grau, de motivações particulares, sua e dos
outros para agir. A política é levada,
assim, a lidar com duas referências contrapostas, legitimando-se através da
universalidade dos princípios e viabilizando-se por meio das motivações
particulares. Mas vale lembrar que os caminhos trilhados na política (ou na
universidade) evitam a opção por uma dessas linhas extremadas: o doutrinarismo,
o oportunismo crasso, o cinismo ostensivo ou a completa e absurda indiferença.
São frequentes as combinações de elementos de tais direções, porém combinados
em graus e dimensões diversas. E é nessa combinação
hábil que se enraíza a ideologia política. Sua atividade interpretativa também
pode ser criativa, de modo que ao interpretar um caso, determinado ator social
aplicaria e criaria um direito novo, praticamente legislando.
As três dimensões da atividade
acadêmica, ensino, pesquisa e extensão, vêm se tornando
dependentes de um processo burocrático incontrolável, submetido a normas e
dependências que conduz a distorções com a plena identidade da atividade de
pesquisa de Tese de Titular em Sociologia que se desenvolve por ação complementar dos
docentes, em ambientes de ensino e de caracterização muito individualizada. Os
ambientes de pesquisa que identificam um nível elevado e próprio dessa
atividade acadêmica são raros. O departamento é, insofismável e claramente, um
órgão estanque, burocrático e corporativo por excelência, organizando-se em
núcleos ou laboratórios por meio de projetos específicos, diretamente, com as
agências de financiamento públicas. Nos órgãos públicos o padrão de
funcionalidade burocrática tem identidade própria. O sujeito da ação funcional,
individual ou coletivamente, é um agente do poder público, tanto na atividade
meio como na atividade fim. O poder público é uma instituição em nome da qual exerce uma administração regida por leis, normas,
regulamentos e códigos de conduta que em tese devem ser cumpridos, mas na realidade social em que vivemos, a prática, na teoria é outra.
Não
raras vezes, no âmbito comportamental, a noção de poder público assume uma
indefinição conceitual, carregada de subjetividades culturais à medida de atribuições e
responsabilidades. A forma de comportamento na dinâmica burocrática,
administrativa e acadêmica, das universidades se reporta em grande parte, às
competências distribuídas e amparadas no sistema normativo instituído. Os
conflitos ditos de competência e desempenho resultam do confronto da autoridade
com uma forma de comportamento não desejada, porém amparada em normas, regras e
leis. Uma das consequências é que a responsabilidade pelos resultados de cada
um é sempre neutralizada ou desculpada a partir do contexto em que cada um de
nós atuou. Consequentemente muito pouca responsabilidade individual é atribuída
a cada um de nós, do ponto de vista institucional no caso das universidades. A
sociedade brasileira rejeita a avaliação
e a universidade padece com ela, geralmente vista como algo negativo, como representação
simbólica de uma ruptura de um universo aparentemente amigável, homogêneo e
saudável, no qual a competição, vista como um mecanismo social profundamente
negativo encontra-se ausente. Tendo em vista que, na universidade não há
“premiação” para o bom professor em nenhum aspecto, mas aqueles que
fazem pesquisa e orientam alunos, fazem porque querem fazer, porque podem
fazê-lo, não porque a universidade lhes gratifica.
Isto
quer dizer que através dos exercícios de abstinência e de domínio que
constituem a askesis necessária, o
lugar atribuído ao conhecimento de si torna-se mais importante: a tarefa de se
pôr à prova, de se examinar, de controlar-se numa série de exercícios bem
definidos, coloca a questão da verdade – da verdade do que se é, do que se faz
e do que é capaz de fazer – no cerne da constituição do sujeito moral. E,
finalmente, o ponto de chegada dessa elaboração é ainda e sempre definido pela
soberania do indivíduo sobre si mesmo. Mas essa soberania amplia-se numa
experiência onde a relação assume a forma, não somente de uma dominação, mas de
um gozo sem desejo e sem perturbação. É possível dizer que não há idade para se
ocupar consigo. Mas uma espécie de idade de ouro na chamada “cultura de si”,
sendo subentendido com isso, evidentemente, que esse fenômeno só concerne aos
grupos sociais. Ou seja, aqueles que querem salvar-se devem viver cuidando-se
sem cessar. Ademais, é conhecida a amplitude ética tomada em Sêneca pelo tema
da aplicação a si próprio: é para consagrar-se a esta que é preciso renunciar
às outras ocupações: poder-se-ia desse modo tornar-se disponível para si
próprio. Sêneca dispõe de um vocabulário para designar as diferentes formas que
o “cuidado de si” deve tomar e a pressa com a qual se procura unir-se a si
mesmo. Apressa-te, pois para o objetivo: - “dize adeus às esperanças vãs,
acorre em tua própria ajuda se te lembras de ti mesmo, enquanto ainda é
possível”.
Pode-se
também interromper de tempos em tempos as próprias atividades ordinárias e fazer
um desses retiros que Caio Musônio Rufo, célebre filósofo estoico do primeiro
século e professor de Epiteto, dentre outros, recomendava vivamente: eles
permitem ficar face a face consigo mesmo, recolher o próprio passado, colocar
diante de si o conjunto da vida transcorrida, familiarizar-se, através da
leitura, com os preceitos e os exemplos nos quais se quer inspirar e encontrar,
graças a uma vida examinada, os princípios essenciais de uma conduta racional.
É possível ainda, no meio ou no fim da própria carreira, livrar-se de suas
diversas atividades e, aproveitando esse declínio da idade onde os desejos
ficam aparentemente apaziguados, consagrar-se inteiramente, como Sêneca, no
trabalho filosófico ou, como referia Spurrima, na calma de uma existência
agradável, “à posse de si próprio”. Esse tempo não é vazio: ele é povoado por
exercícios, por tarefas práticas, atividades diversas em seu dia a dia. Ocupar-se de si não é
uma sinecura. Existem os cuidados com o corpo, sem os excessos da chamada “corpolatria”, os regimes de saúde, os
exercícios físicos sem excesso, a satisfação, tão medida quanto possível, as
necessidades. Existem as meditações, as leituras, as anotações sobre livros ou conversações ouvidas, e que mais tarde serão certamente relidas, a
rememoração das verdades que se sabe, mas que convém apropriar-se melhor.
Marco Aurélio nos dá um exemplo de anacorese em si próprio, de reativação de princípios e de argumentos racionais que persuadem a não deixar-se irritar com os outros nem com os acidentes, nem tampouco com as coisas. Esse tempo não é vazio, ele é povoado por exercícios, por tarefas práticas, atividades diversas. Ocupar-se de si não é uma sinecura. Existem os cuidados com o corpo, os regimes de saúde, os exercícios físicos sem excesso, a satisfação, tão medida quanto possível, as necessidades. Existem as meditações, as leituras, as anotações que se toma sobre livros, ensaios ou conversações ouvidas, e que mais tarde serão relidas, a rememoração das verdades que já se sabe, mas de que convém apropriar-se ainda melhor. Marco Aurélio fornece, assim, um exemplo de “anacorese em si próprio”: trata-se de um longo trabalho de reativação dos princípios gerais e de argumentos racionais que persuadem a não deixar-se irritar com os outros, nem com os acidentes, nem tampouco com as coisas. Tem-se aí um dos pontos mais importantes dessa atividade consagrada a si mesmo. Ela não constitui um exercício comumente visto da solidão. Em verdade, o exercício da leitura, da reflexão e da escrita se tratava de uma verdadeira prática. E isso, em vários e múltiplos sentidos.
Marco Aurélio nos dá um exemplo de anacorese em si próprio, de reativação de princípios e de argumentos racionais que persuadem a não deixar-se irritar com os outros nem com os acidentes, nem tampouco com as coisas. Esse tempo não é vazio, ele é povoado por exercícios, por tarefas práticas, atividades diversas. Ocupar-se de si não é uma sinecura. Existem os cuidados com o corpo, os regimes de saúde, os exercícios físicos sem excesso, a satisfação, tão medida quanto possível, as necessidades. Existem as meditações, as leituras, as anotações que se toma sobre livros, ensaios ou conversações ouvidas, e que mais tarde serão relidas, a rememoração das verdades que já se sabe, mas de que convém apropriar-se ainda melhor. Marco Aurélio fornece, assim, um exemplo de “anacorese em si próprio”: trata-se de um longo trabalho de reativação dos princípios gerais e de argumentos racionais que persuadem a não deixar-se irritar com os outros, nem com os acidentes, nem tampouco com as coisas. Tem-se aí um dos pontos mais importantes dessa atividade consagrada a si mesmo. Ela não constitui um exercício comumente visto da solidão. Em verdade, o exercício da leitura, da reflexão e da escrita se tratava de uma verdadeira prática. E isso, em vários e múltiplos sentidos.
Toda essa aplicação a si não possuía como único suporte social a existência das
escolas, do ensino técnico e dos profissionais da direção da alma. Ela encontrava,
facilmente, seu apoio em todo o feixe de relações habituais de parentesco, de
amizade ou de obrigação. Quando, no exercício do “cuidado de si”, faz-se apelo
ao outro, o qual se advinha que possui aptidão para dirigir e para aconselhar,
faz-se uso de um direito através do hábito, da cultura, da formação. E é um
dever que se realiza quando se proporciona ajuda ao outro ou quando se recebe
com gratidão as lições que ele pode lhe dar. Acontece também do jogo entre os
cuidados de si e a ajuda do outro inserir-se em relações preexistentes às quais
ele dá uma nova “coloração” e um calor maior. O cuidado de si – ou os cuidados
que se tem com o cuidado que os outros devem ter consigo mesmos – aparece então
como uma intensificação das relações sociais. Sêneca dedica um consolo à sua
mãe, no momento em que ele próprio está no exílio, para ajudá-la a suportar
essa infelicidade atual e, talvez,
mais tarde, infortúnios maiores. O “cuidado de si” aparece, portanto, intrinsecamente
ligado a uma espécie de serviço da alma que comporta a possibilidade de um jogo
de trocas com o outro e de um sistema de obrigações recíprocas, de
interpretação e de camaradagem, de conflito e sociabilidade.
A
mobilidade é mais frequentemente medida de forma quantitativa em termos de
mudança de mobilidade econômica, tais como mudanças na renda ou riqueza. A
ocupação é outra medida utilizada na pesquisa de mobilidade, o que geralmente
envolve tanto a análise quantitativa quanto qualitativa dos dados. No entanto,
outros estudos podem concentrar-se na classe social. A mobilidade pode ser
intrageracional, dentro da mesma geração ou entre gerações, entre uma ou mais
gerações. Vale lembrar que a classe média brasileira está plenamente integrada
nos modernos padrões de consumo de massas. Todavia, estatisticamente a
distribuição das classes sociais no Brasil é distorcida pela desigualdade
social e econômica, na medida em que os 10 % mais ricos da população nacional,
quase toda parcela da classe alta chegavam, em 1980, a controlar 50,9% de toda
a renda disponível no país. Se somarmos a esse contingente a parte mais rica da
classe média brasileira, ou seja, outros 10 % da população nacional, notaremos
que essa parcela de apenas 20% controlaria quase 67% de toda a renda nacional.
A mobilidade social é dependente da
estrutura de status sociais e
ocupações em uma dada sociedade. A extensão de diferentes posições sociais e a
maneira pela qual elas são interdependentes e se relacionam fornecem a
estrutura social global de tais posições. Estas dimensões diferentes de
mobilidade social podem ser classificadas em termos de tipos de “capital” que
contribuem para mudanças na mobilidade diferentes. Adicionando-se a isso as
diferentes dimensões da estrutura econômica, as formas de prestígio e poder
temos o potencial de complexidade de determinado sistema de estratificação
social. Além disso, em que sociedade pode ser vista como variáveis
independentes que podem explicar diferenças na mobilidade social, em diferentes
tempos sociais e lugares, em diferentes sistemas de estratificação. A tese central do nacionalismo desenvolvimentista tem como representação social o desenvolvimento econômico e a consolidação da nacionalidade constituindo dois aspectos do mesmo processo emancipatório. O desenvolvimento dependeria, assim, de uma consciência nacional mobilizada em torno de uma vontade no plano global de desenvolvimento. Na esfera cultural, a retórica do início dos anos 1960, tanto de “direita” como de “esquerda”, para lembrarmo-nos da ciosa interpretação de Norberto Bobbio, foi demarcada pelo uso corrente das categorias sociais “povo” e “nação”, ou nacional- popular. Os movimentos sociais no caso emblemático do Centro Popular de Cultura (CPC), além do discurso anti-imperialista adotaram uma postura vanguardista, de que a autêntica cultura popular é aquela produzida por artistas e intelectuais que optaram por ser povo - enquanto a cultura do povo era considerada arcaica e atrasada.
Neste sentido é que compreendemos as variáveis que contribuem como intervenientes para a avaliação do rendimento, ou riqueza, e quando afetam o status, classe social e a desigualdade no âmbito da mobilidade social. Estes incluem sexo ou gênero, raça ou etnia e idade. Na modernidade o “capital cultural” representa o processo de distinção entre os aspectos econômicos da classe e bens culturais poderosos, descritos por P. Bourdieu três tipos que situam uma pessoa em uma determinada categoria social: o capital econômico; o capital social e o capital cultural. O capital econômico inclui recursos econômicos, tais como dinheiro, crédito e outros bens materiais. O capital social inclui recursos que se alcançam com base nos membros do grupo, redes de influência, relações e apoio de outras pessoas. O capital cultural é uma vantagem que uma pessoa tem que lhes dá um status mais elevado na sociedade, como a educação, as habilidades, ou qualquer outra forma de reconhecimento. Normalmente, as pessoas com todos os três tipos de capital têm um status elevado na sociedade, tendo em vista que a cultura da classe social superior é mais orientada para o raciocínio formal e o pensamento abstrato. Ele também descobriu que o ambiente em que a pessoa se desenvolve tem um grande efeito político sobre os recursos culturais que uma pessoa vai ter a seu dispor.
Neste sentido é que compreendemos as variáveis que contribuem como intervenientes para a avaliação do rendimento, ou riqueza, e quando afetam o status, classe social e a desigualdade no âmbito da mobilidade social. Estes incluem sexo ou gênero, raça ou etnia e idade. Na modernidade o “capital cultural” representa o processo de distinção entre os aspectos econômicos da classe e bens culturais poderosos, descritos por P. Bourdieu três tipos que situam uma pessoa em uma determinada categoria social: o capital econômico; o capital social e o capital cultural. O capital econômico inclui recursos econômicos, tais como dinheiro, crédito e outros bens materiais. O capital social inclui recursos que se alcançam com base nos membros do grupo, redes de influência, relações e apoio de outras pessoas. O capital cultural é uma vantagem que uma pessoa tem que lhes dá um status mais elevado na sociedade, como a educação, as habilidades, ou qualquer outra forma de reconhecimento. Normalmente, as pessoas com todos os três tipos de capital têm um status elevado na sociedade, tendo em vista que a cultura da classe social superior é mais orientada para o raciocínio formal e o pensamento abstrato. Ele também descobriu que o ambiente em que a pessoa se desenvolve tem um grande efeito político sobre os recursos culturais que uma pessoa vai ter a seu dispor.
A
desigualdade social reproduzida através da classe social está relacionada ao
poder aquisitivo, ao acesso à renda, à posição social, ao nível de escolaridade
e ao padrão de vida existente entre as frações da classe dominante que controlam
direta ou indiretamente o Estado, através de efeitos de poder político, na
educação e trabalho, reproduzindo inexoravelmente uma estrutura social implantada
e difundida pelos métodos de trabalho e de produção no âmbito das esferas sociais
e de poder dominante. A divisão da sociedade em classes é consequência dos
diferentes papéis que os grupos sociais têm no processo de produção, ocupado
por cada classe que depende o nível de fortuna e de rendimento, o gênero de
vida e numerosas características culturais das diferentes classes. Classe
social define-se como conjunto de agentes sociais nas mesmas condições no
processo de produção e que têm afinidades eletivas políticas e ideológicas.
E
esse problema não estava relacionado exclusivamente ao trabalho manual e às
classes trabalhadoras. Basta pensarmos na referência ao capitão Hawdon, ou
Nemo, de A casa abandonada, de Charles
Dickens. O personagem era um ex-oficial do Exército que ganhava a vida fazendo
trabalhos temporários como jurista. Mas no caso de Marx, lembra Jones (2017:
357), não se tratava de pobreza no sentido comum da palavra. Em 1862, sugestão de Lassale de que a de Marx trabalhasse para ganhar
dinheiro com a condessa Von Hatzfeldt, sua companheira, foi recebida como um indizível
desrespeito ao status social deles e provocou um dos mais repulsivos insultos
de Marx. – “Imagine só! Esse sujeito, sabendo do caso americano etc. [a perda
dos rendimentos do Tribune], e
portanto da situação de crise em que me encontro, teve a insolência de
perguntar se eu cederia uma das minhas fihas à la Hatzfeldt como “dama de
companhia”. Uma justificativa para o comportamento era que isso seria determinado pela
necessidade de garantir o futuro das filhas. Em julho de 1865, admitiu: - “É
verdade que minha casa está acima de meus meios, e que temos, além disso,
vivido melhor este ano do que foi o caso antes. Mas é o único jeito de as
meninas se estabelecerem socialmente, com vistas a assegurar o seu futuro”.
As novas abordagens sociológicas em
termos de classe “c” em seguida de “nova classe média” constitui a pauta do
debate, pós-governos Lula-Dilma pelo volume dos trabalhos analíticos e estatísticos
realizados e pelo impacto de sua linha interpretativa. Não se trata apenas de
uma linha de estudo e de transformação brasileira, mas de algo que diz respeito
as dinâmicas globais. No Brasil, desde 2001, a desigualdade em termos de renda
diminuiu regularmente. A renda per capita
dos 10% mais ricos da população aumentou em média de 1,49% ao passo que a dos
mais pobres tem aumentado 6,79%. Isso num movimento oposto ao que caracterizou
o Brasil, Rússia, Índia e China (BRIC), que juntos formam um grupo
político de cooperação intercontinental. Em 14 de abril de 2011, o “S” foi oficialmente
adicionado à sigla para formar o BRICS, após a admissão da África do Sul. Em consequência,
a pobreza diminuiu constantemente desde 2003. - “Estimamos que, entre 1993 e
2011, 59,8 milhões de brasileiros (o equivalente a uma République française) chegaram à condição
social de nova classe média”. Mas a mobilidade chegou mesmo a ritmos consistentes no
período conjuntural de 2003 a 2011, quando 40 milhões de brasileiros entraram
para a classe média que passou assim de 65,9 a 105,5 milhões de pessoas, ou
seja, um aumento de 60%. Segundo as previsões estatísticas, até 2014, mais 12
milhões migrariam para a classe “C” e 7,7 milhões irão para a as classes “B” e
“A”. Com exceção do Nordeste, as classes A, B e C serãode 75% da população.
- “A nova classe média brasileira é filha da combinação do crescimento com a
equidade, que difere de nossa história pregressa e daquilo que ocorre nas
últimas décadas em países emergentes e desenvolvidos onde a concentração de
renda sobe”.
Mudanças na composição orgânica da
sociedade brasileira desestabilizaram crenças e ideologias arraigadas sobre “desigualdade
social, a pobreza e a mobilidade”. De acordo com Kopper e Damo (2018), a
linguagem da “nova classe média” articulou, simultaneamente, diferentes
acepções da mobilidade econômica, refletindo-se ainda como um índice de
desigualdade social e de distribuição de renda. Neste debate, Nova Classe Média
difere em espírito da expressão “nouveau riche”, que acima de tudo discrimina a
origem das pessoas. Nova classe média não é definida pelo ter, mas pela
dialética entre ser e estar olhando para a posse de ativos e para decisões de
escolha entre o hoje e o amanhã. Eles informariam as necessidades e valores desse
novo segmento de pessoas, e sua focalização em subpopulações como um todo e da
“nova classe média” em particular: os negros, as mulheres e os jovens. A
possibilidade de proclamar o Brasil um país de “classe média” chamou a atenção
do governo federal. Foi formulado um novo de estratificação que buscava mapear
e sistematizar conceitos de classe média com vistas à sua aplicação à realidade
brasileira. A iniciativa desembocou no projeto social intitulado: Vozes da Classe Média, que
perdurou até 2015, procurando decifrar as expectativas e desejos dessa
população urbana para aperfeiçoar a formulação de políticas econômicas do Estado.
A tese da “nova classe média”
conduziu Marcelo Neri (2010) a uma rápida ascensão e queda política. Na
transição do governo Lula para o governo Dilma Rousseff, a partir de 2011, o
economista passou a participar de avaliações de programas sociais e de reuniões
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES). Em 2012,
assumiu a presidência do IPEA e, em março de 2013, com a saída de Moreira
Franco para a Secretaria de Aviação Civil (SAC), tornou- se ministro interino
da SAE, sendo oficializado no ano seguinte no mesmo cargo, onde deu
continuidade à agenda de pesquisas sobre classe média e introduziu novas
metodologias, como o índice de satisfação com a vida, mensurado pelo Gallup World Poll. Nesse mesmo período,
Neri foi escolhido como um dos cem brasileiros mais influentes, segundo
pesquisa anual realizada pela revista Época.
Tomando como ponto de partida o trabalho seminal de Marcelo Neri (2010), as páginas
dos jornais, dentro e fora do país passaram a escrever a crônica da “nova classe
média”. Em novembro de 2009, a revista The
Economist publicou uma reportagem de capa intitulada “Brazil takes off ”, à
luz da imagem do Cristo Redentor decolando. Imagens que antes clamavam pelo
combate à pobreza eram agora substituídas por comportadas famílias de classe
média sorridentes posando em ambientes domésticos com objetos de consumo. Outras
procuravam acentuar os contrastes e ambivalências que ainda existiam, à frente muitas
vezes de suas precárias habitações em “zonas periféricas” de cidades. Embora
não fosse unanimidade, a tese da “nova classe média” expandiu-se no circuito
midiático, político e científico.
Bibliografia
geral consultada.
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Baima, Recherche sur la Classe Moyènne à Fortaleza. Doutorado em
Geographie et Amenagement du Territoire. Université de Toulouse II - Le Mirail,
França, 1984; BONELLI, Maria da Gloria, A Classe Media do Milagre a Recessão: Mobilidade Social, Expectativas e Identidade Coletiva. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1997; BOITO JR. Armando, Classe Média e Sindicalismo. Col. Primeira Versão. Campinas, vol.
123, pp. 1-40, 2004; GAGGI, Massimo; NARDUZZI, Edoardo, El Fin de la Clase Media y el Nacimiento de la Sociedad de Bajo Coste. Madri: Editor Lengua de Trapo, 2007; SOUZA, Amaury; LAMOUNIER,
Bolívar, A Classe Média Brasileira:
Ambições, Valores e Projetos de Sociedade. Rio de Janeiro: Editor Elsevie;
Distrito Federal: Confederação Nacional da Indústria, 2010; NERI, Marcelo, A
Nova Classe Média: O Lado Brilhante dos Pobres. Rio de Janeiro: Centro de Políticas
Sociais/Fundação Getúlio Vargas, 2010; GARCIA,
Maria Teresa, O Crescimento da Classe C
no Brasil e as Mudanças na Narrativa dos Telejornais. Dissertação de
Mestrado em Ciências Sociais. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, 2015; LAVAL, Christian, “et alii”, Marx & Foucault. Lectures, Usages, Confrontations.
Paris: Éditions La Découverte, 2015; DÓRIA, Kim Wilheim,
O Horror não Está no Horror: Cinema de Gênero, Anos Lula e Luta de Classes
no Brasil. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Meios e
Processos Audiovisuais. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2016; GROHMANN, Rafael do Nascimento, As Classes Sociais na Comunicação: Sentidos Teóricos do Conceito. Tese de Doutorado. Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2016; KOPPER,
Moisés; DAMO, Arlei Sander, “A Emergência e Evanescência da Nova Classe Média Brasileira”. In: Horiz. Antropol. Porto Alegre, ano
24, n° 50, pp. 335-376, jan./abr. 2018; GREENE, Joshua, Tribos Morais: A Tragédia da Moralidade do Senso Comum.1ª edição. Rio de Janeiro: Editora Record, 2018; entre outros.
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