quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Memória do Haiti - Rituais Vodu & Permanência de Rebeliões.


      Ubiracy de Souza Braga*

                                                           Eu acredito em tudo. De Hudu eu não tinha nem conhecimento”. Kate Hudson 
  


              Down Beat, é expressão norte-americana dedicada ao jazz. Seu primeiro número foi lançado comercialmente em 1935, em Chicago. O seu nome deriva da expressão musical downbeat, também interpretado como ruído de “uma batida”. A Down Beat publica os resultados das enquetes anuais realizadas entre os seus leitores e críticos sobre uma grande variedade de categorias musicais. A Down Beat Jazz Hall of Fame inclui os vencedores das pesquisas feitas tanto entre os críticos como entre os leitores. Os resultados da enquete entre os leitores são publicados em dezembro e dentre os críticos em agosto; é considerada a “Bíblia do jazz”. Em 2013, o músico fez a trilha sonora: “O Menino e o Mundo”, quando concorreu ao Óscar de melhor filme de animação em 2016. Down Beat, norte-americana dedicada ao jazz. Seu primeiro número foi lançado em 1935, em Chicago. O seu nome deriva da expressão musical downbeat, também interpretado como ruído de “uma batida”. A Down Beat publica os resultados das enquetes anuais realizadas entre os seus leitores e críticos sobre uma grande variedade de categorias musicais. A Down Beat Jazz Hall of Fame inclui os vencedores das pesquisas feitas tanto entre os críticos como entre os leitores. Os resultados da enquete entre os leitores são publicados em dezembro e dentre os críticos em agosto; é a Bíblia do Jazz. Em 2013, o músico fez a trilha sonora: “O Menino e o Mundo”, durante o Óscar de filme de animação em 2016.           
              Vodu, escrito em francês vaudou e haitiano: vodou, sua grafia está etimologicamente ligada à palavra vodṹ, originária da língua “fon” falada no Benin e no Togo, país da região ocidental da África limitado a norte pelo Burquina Faso e pelo Níger, a leste pela Nigéria, a sul pela Enseada do Benim e a oeste pelo Togo, cujo significado tem como representação “espírito ancestral”. Como nas demais religiões, o “vodu haitiano” possui uma cosmogonia na qual o praticante busca a compreensão e o sentido da existência terrena. Baseado na religião tradicional dos “ewés” e dos “fons” do Benim e do Togo, o vodu haitiano conta ainda com influências de outros povos africanos, indígenas e do catolicismo. A maioria dos africanos que foram trazidos como escravos para o Haiti eram da Costa da Guiné da África ocidental, e seus descendentes foram os primeiros praticantes de vodu haitiano. A sobrevivência do sistema de crenças no admirável Novo Mundo é notável, embora as tradições tenham se modificado com o tempo. Uma das maiores diferenças entre o vodu da África Ocidental e o haitiano é que os africanos “transplantados” ao Haiti, conforme a reconhecida tipologia de Darcy Ribeiro, correspondentes às nações modernas criadas pela migração de populações europeias para novos espaços mundiais, procuram reconstituir formas de vida idênticas às de origem. Cada um deles estruturou-se segundo modelos econômico e social da nação de que provinha, levando adiante, nas terras adotivas, constituindo processos de renovação que já operavam nos velhos contextos europeus.
  Suas características referem-se à homogeneidade cultural que mantiveram pela origem comum de sua população, ou que plasmaram pela assimilação dos novos contingentes. A maioria destes contingentes veio ter à América como trabalhadores rurais aliciados mediante contratos que os submetiam a anos de trabalho servil. Embora em sua grande parte tenha conseguido, mais tarde, ingressar na categoria social de granjeiros livres e de artesãos também independentes. Integram o bloco de “Povos-Transplantados” a Austrália e a Nova Zelândia, em certa medida também formadores dos bolsões neo-europeus de Israel, da reconhecida União Sul-Africana e da então devastada Rodésia. Etnograficamente obrigados a disfarçar os seus “lwa” (les lois), ou espíritos, em santos católicos romanos, mediante um processo sociológico chamado sincretismo religioso. O Haiti foi o primeiro país latino-americano a declarar-se Independente (cf. Roupert, 2011). Os movimentos insurrecionais da população escrava, numericamente com uma superioridade aparente esmagadora, começaram a se tornar frequentes. Em 1754 havia 465 mil escravos, e a fração da classe dominante era composta por insignificantes 5 mil brancos, comparativamente, sendo o restante de negros e mulatos livres e brancos pobres. Nesse ano desencadeou-se a revolta do escravo Mackandal, que utilizou os ritos do vodu para aterrorizar os senhores e unir os escravos contra eles. Após quatro anos de guerrilhas, Mackandal foi preso e condenado à fogueira como “feiticeiro”, mas diz-se que fugiu pouco antes da execução. Em consequência, os franceses passaram a reprimir o vodu. Lembrando que a maior proibição foi realizada durante o período da repressão ao Vodu que ironicamente culminou na libertação do Haiti. 
 

François Mackandal falecido em 1758 foi um líder do Maroon haitiano em Saint-Domingue. Ele era um africano que é por vezes descrito como sacerdote vodu haitiano, ou “houngan”. Algumas fontes descrevem-no como um muçulmano, levando alguns pesquisadores a especular que ele era de Senegal, Mali, ou Guiné. No entanto, ele não era nem cristão, nem muçulmano. A associação de Mackandal com “magia negra” parece ser uma consequência de seu uso de veneno, derivados de plantas naturais. O escravo Mackandal, um “houngan” conhecedor de venenos, organizou uma ampla trama para envenenar os mestres, seus suprimentos de água e animais. O movimento étnico-social espalhou o terror entre os grandes proprietários de escravos e matou centenas antes do segredo de Mackandal foi torturado como um escravo. Traído por um dos seus membros, foi capturado e queimado vivo em 1758 na praça pública  Cap-Haïtien. O escritor Alejo Carpentier resgata o heroísmo de Mackandal em um de seus romances, “O Reino deste Mundo” (1966), no qual se identifica o “real maravilhoso” do escritor. Ela narra a saga de Ti Noel, escravo negro de monsieur Lenormand de Mezy, que fazia parte da elite francesa branca que dominava o Haiti antes de sua Independência. O protagonista desenvolve a vida na região e seus trabalhos em meados do século XVIII.
          Surge a figura histórica – real e racional do escravo Mackandal, que se torna especialista em ervas, cogumelos e outros itens naturais após perder um braço em uma máquina de cortar cana, fato comum nos engenhos no Nordeste do Brasil, neste caso com a revelação de um intelectual arguto e notável no âmbito da historiografia nordestina.  Depois de surpreender a todos e sumir sem deixar sinais, marcas e vestígios, o foragido entra em contato com Ti Noel para envenenar alguns animais de seu amo. A partir daí, inicia-se uma onda reativa sequencial de envenenamentos e mortes quase que inexplicáveis, causando furor nos comandantes. A busca pelo rapaz é intensa, mas os presos articulados politicamente em degredo diziam que nunca iria ser pego, pois “se transformava em animais para se infiltrar nos locais sem ser notado”. Certo dia, porém, Mackandal aparece em meio á multidão de negros é capturado e queimado vivo por degredo. Suas ideias de libertação e união do escravo, ficaram vivas como “social irradiado” dentre os que o ouviam.
        Quando os negros e os ameríndios fugitivos (ou amefricanos) se juntaram e subsistiram de forma independente, eles se chamavam Maroons. Nas Ilhas do Caribe, eles formaram bandos e em algumas ilhas, acampamentos armados. Comunidades Maroons enfrentaram grandes chances de sobreviver dos colonos, obter alimentos para viver de subsistência e reproduzir e aumentar seus números. À medida que os plantadores assumiram mais terra para as culturas, os Maroons começaram a perder terreno nas pequenas ilhas. Mas em algumas ilhas maiores foram organizadas comunidades capazes de prosperar cultivando e caçando. Eles cresceram numericamente à medida que mais negros escaparam de plantations e se juntaram a seus bandos. Buscando separar-se dos brancos, os Maroons ganharam poder e em meio a hostilidades crescentes, invadiram e saquearam plantações e armaram os plantadores até que os plantadores começaram a temer uma revolta maciça dos negros escravizados. As primeiras comunidades costumavam ser deslocadas. Em torno de 1700, os Maroons haviam desaparecido das ilhas menores. A sobrevivência sempre foi difícil, historicamente, pois os Maroons tiveram que lutar contra os atacantes, além de tentar cultivar alimentos. Um dos Maroons mais influentes foi François Mackandal, um “houngan” (sacerdote) Vodu, que liderou uma espetacular rebelião de 6 anos contra os proprietários de plantações que precederam a Revolução Haitiana.
 
Marie Laveau (1794-1881) - mutatis mutandis - foi uma reconhecida praticante de vodu dos Estados Unidos da América, sendo chamada de Rainha dos Vodus. Muito pouco é conhecido com algum grau de certeza sobre a vida de Marie Laveau. Supõe-se que ela nasceu no bairro francês de Nova Orleans, Louisiana em 1794, filha de um agricultor branco e uma mulher negra. Ela casou-se com Jacques Paris, um negro livre, em 4 de agosto de 1819; sua certidão de casamento foi conservada na Catedral de Saint Louis, em Nova Orleans. Sobre sua carreira como paranormal, pouco pode ser dito conclusivamente. Diz-se que tinha uma cobra chamada Zumbi. Tradições orais não representam autobiografia. Terezinha de Oliveira Nogueira da Cota sugere que a parte oculta de sua magia era uma mistura sincrética de crenças católicas com espíritos de cultos africanos e outros conceitos religiosos. Alega-se também que seu suposto poder mágico provinha, na verdade, de uma rede de informantes nas casas dos figurões nas quais ela tinha trabalhado como cabeleireira, e que ela era dona de um bordel. Ela especializou-se em obter informações privilegiadas de seus patrões ricos ao, aparentemente, instaurar medo nos servos destes a quem ela “curava” com a utilização de seu método de interpretação de  males misteriosos, os quais ela pode ter causado ou sugerido, numa espécie de Síndrome de Munchausen profissional. Em 16 de junho de 1881, os jornais de Nova Orleans publicaram que Marie Laveau havia morrido.
         Isto é digno de nota, porque ela teria continuado a ser vista na cidade após esta data. Afirma-se que uma de suas filhas com M. Glapion assumiu seu nome e prosseguiu a prática mágica após a morte dela. Como nas demais religiões, o vodu haitiano possui uma cosmogonia na qual o praticante busca a compreensão e o sentido da existência terrena. Baseado na religião tradicional dos “ewés” e dos “fons” do Benin e do Togo, o vodu haitiano conta ainda com influências de outros povos africanos, indígenas e do catolicismo. Em primeiro lugar, o praticante do vodu acredita em um Deus único e supremo, o qual é o criador de tudo. Dependendo da orientação do praticante, esse Deus supremo pode ser distinguido do Deus dos brancos, como no discurso dramático proferido pelo “oungan” Dutty Boukman em Bois Caïman, que iniciou a Revolução Haitiana, mas pode também ser considerado como o mesmo Deus da Igreja Católica com outro nome. No entanto, Bondye é distante de sua criação: por isso, não possui culto específico, embora todas as preces no vodu sejam proferidas inicialmente a ele. São as loas (“lwa”), espíritos (“lespri”), mistérios (“mistè”), santos ou anjos, os próprios antepassados que o voduísta invoca para ajudá-lo: os intermediários entre o mundo físico dos humanos e Deus.
Marie Laveau, pintura de Frank Schneider.
O culto como representação dos antepassados é, um fato etnográfico, uma das bases da religião vodu haitiana: muitas loas, como Agassou, um antigo rei do Daomé, por exemplo, são ancestrais que foram elevados à categoria de divindade. Do ponto de vista antropológico o voduísta adora Deus e serve às loas e espíritos, com honra e respeito como membros mais velhos de uma casa. Na história social do Haiti existem três tradições do vodu: a Rada que cultua os loas/vodus vindos diretamente da África, a Petwo, loas originários não da África, mas do próprio Haiti e a Kongo, de origem nas culturas do Congo-Angola, estatisticamente de tradição minoritária. Os loas “rada” são considerados mais benevolentes e paternais, enquanto que os “petwo” são vistos e temidos por serem mais agressivos. No entanto, não se pode afirmar que um é “bom” ou “mal” em relação ao outro. Os loas, de acordo com sua natureza, podem ser “quentes” ou “frios”: frios são os loas “rada” e quentes, os “petwo”. Os loas “petwo” são mais rigorosos e requerem mais atenção aos detalhes indiciários de seus rituais mais do que os loas “rada”. Não por acaso ambos podem ser perigosos se irritados ou contrariados.
               Os valores culturais que o vodu haitiano engloba centram-se em torno das ideias de honra e respeito - a Deus, aos espíritos, à família, à sociedade e a si mesmo. Há uma preocupação quanto ao que é apropriado ou não para cada pessoa: por exemplo, o que é apropriado a alguém com Danbala Wedo como sua “cabeça” pode ser diferente do que é apropriado a alguém com Ogou Feray como sua cabeça. O amor e a sustentação dentro da família da sociedade de vodu parecem ser a consideração mais importante. A generosidade em dar à comunidade e aos pobres é também um valor importante. As dádivas vêm através da comunidade e há a ideia de que se deve estar disposto a retribuir. Uma vez que o vodu haitiano tem tal orientação para a comunidade, não há a prática solitária na religião, exceto a de pessoas separadas geograficamente de seus antepassados e casa. Uma pessoa sem um relacionamento de algum tipo com pessoas idosas não estará praticando vodu como se compreende no Haiti e entre haitianos. A religião do vodu haitiano é antes uma tradição extática do que baseada na fertilidade e não discrimina homens gays e mulheres lésbicas, ou outras pessoas de maneira alguma. De fato, há “ounfò”, ou templos, no Haiti cujo clero é inteiramente de gays e lésbicas. No vodu haitiano, a orientação sexual do praticante não é de nenhuma importância em um ambiente ritual. Ver-se-á apenas como uma maneira através da qual o deus fez uma pessoa. Os espíritos ajudam a cada pessoa simplesmente ser a pessoa.
Comparativamente, em Cuba, havia comunidades Maroons nas montanhas, onde refugiados africanos que escaparam da brutalidade da escravidão e os Taínos se refugiaram. Antes que estradas fossem construídas nas montanhas de Porto Rico, o abrutalhado brush mantive muitos maroons escapados escondidos nas colinas do sudoeste, onde muitos também se casaram com os nativos. Os negros escapados buscaram refúgio longe das plantations costeiras de Ponce. Os restos dessas comunidades permanecem, por exemplo, em Viñales, Cuba, e Adjuntas, Porto Rico. Comunidades Maroons surgiram em muitos lugares no Caribe como São Vicente e Ilha de São Domingues, por exemplo, mas nenhuma foi vista como uma grande ameaça para os britânicos como a Maroons jamaicanos. Um governador britânico assinou um tratado em 1738 e 1739 prometendo a eles 2,500 acres (1,012 ha) em dois locais, para acabar com a guerra entre as comunidades. Em troca, eles concordariam em capturar outros negros fugidos. Eles receberam uma recompensa de dois dólares por cada retorno africano. A partir do final do século XVII, os jamaicanos Maroons lutaram contra os colonos britânicos para um sorteio e, eventualmente, assinaram tratados no século XVIII que efetivamente os libertaram mais de 50 anos antes da abolição do tráfico de escravos em 1807. Os Maroons jamaicanos são em grande medida autônomos e isolados da sociedade jamaicana. O isolamento usado por vantagem pelos antepassados levou  suas comunidades a ficar entre as mais inacessíveis da ilha.

Entre a deposição de Boyer e a intervenção imperialista dos norte-americanos, o Haiti conheceu vinte e um governantes que tiveram final trágico. Digno de nota foi Faustin Solouque, que, nomeado presidente em 1847, conquistou a República Dominicana em 1849 e foi proclamado imperador, promovendo um renascimento das práticas vodus e apoiando-se nos negros. A luta pela Independência dos dominicanos levou à derrocada de seu governo, tendo sido deposto em 1858 e exilado. Dos demais governantes, um presidente foi envenenado, outro morreu na explosão de seu palácio, outros foram condenados à morte e um deles, Vilbrum Sam, foi linchado pelo povo. Os norte-americanos impuseram uma nova Constituição e se comprometeram a respeitar a soberania do país. Seguiram-se sucessivos governos das elites creoles. A presença das tropas norte-americanas parecia impedir a guerra civil, porém não puderam conter a fragilidade dos governos mal constituídos, nem a constante oposição dos nacionalistas, que não desejavam a continuidade das tropas estrangeiras. Em 1934, os Estados Unidos da América retiraram suas tropas e, em 1941, abdicaram do controle alfandegário.
Revoltados por essa lei, que fazia os haitianos lembrarem-se dos tempos da escravidão francesa, Charlemagne Péralte e Benoit Batraville lideraram uma rebelião, envolvendo 40.000 pessoas, na região montanhosa do norte do Haiti, que atacou e derrotou as forças policiais locais, chegando a ocupar a região durante algum tempo. Em 1946, uma rebelião popular derruba o presidente mulato Elis Lescot, levando ao poder o negro Dumarsais Estimé, que é destituído por um golpe militar liderado por Raoul Magloire em 1950. Durante o governo de Magloire, contudo, é promulgada uma nova Constituição que, pela primeira vez, “dá ao povo haitiano o direito de eleger diretamente o presidente”. Raoul Magloire, porém, decide perpetuar-se no poder com o apoio do exército, o que provoca uma violenta reação de tipo guerrilha popular, resultando na renúncia do presidente. Segue-se novo período de instabilidade societária: nos nove meses seguintes à queda de Magloire, o Haiti reconhece brevemente sete governantes de formas diferentes. Finalmente, em 1957, após eleições, embora de validade duvidosa, é eleito o intelectual negro François Duvalier.
O período mais sombrio na história do Haiti iniciou-se em 1957 com a ditadura de François Duvalier. Médico sanitarista com aparente prestígio mundial, devido a suas ligações com o movimento negro, realizara excelente trabalho junto às populações rurais no combate à malária, sendo apelidado de Papa Doc. O regime montou um aparato de repressão militar que perseguiu seus opositores, torturando-os e assassinando muitos deles. A repressão era encabeçada pela milícia secreta dos tontons macoutes, cuja tradução livre é: “bichos papões”. Apoiado no vodu Papa Doc morreu em 1971, após ter promulgado uma constituição em 1964 que lhe dera um mandato vitalício e ter conseguido que seu filho menor fosse declarado seu sucessor. Seu filho Jean Claude Duvalier, o Baby Doc, que assumiu o poder aos 19 anos, deu continuidade ao regime ditatorial imposto e herdado pelo pai. Governou até 1986, quando foi deposto por um golpe militar. Os militares que assumiram o poder sucederam-se no governo por vários anos. A esperança de redemocratização surgiu em 1990. Ocorreram eleições livres e elegeram o padre salesiano Jean-Bertrand Aristide para presidente.
O Haiti de 1986 a 1990 foi diligente com uma série de governos provisórios. Em 1987, uma nova Constituição foi feita. Em dezembro de 1990, Jean-Bertrand Aristide foi eleito com 67% dos votos. Porém poucos meses depois, Aristide foi deposto por um novo golpe militar e a ditadura foi restaurada no Haiti. Em 1994, Aristide retornou ao poder, com auxílio dos Estados Unidos. Mesmo assim, o ciclo de violência, corrupção e miséria não foi rompido. Em dezembro de 2003, sob uma pressão crescente foge para a África e o Haiti sofre intervenção internacional pela Organização das Nações Unidas. No início de 2010 o país passa pela pior tragédia natural da história em 12 de janeiro um terremoto assola o país que praticamente atinge toda a capital de porto príncipe aonde milhares pessoas morrem e outras ficam sem teto e sem comida. O pais  convive com a ajuda de Organizações Não-Governamentais de todo o mundo e no dia 28 de novembro foram marcadas as eleições para esse país sofrido, mas guerreiro com um povo alegre e acima de tudo esperançoso. Após ter estudado gestão de negócios na Faculdade de Gembloux na Bélgica e biologia na Universidade de Pisa na Itália, René Garcia Préval elegeu-se, antes de ser Presidente, Primeiro Ministro no período de 13 de fevereiro a 11 de outubro de 1991, durante o governo de Aristide. Nasceu em Porto Príncipe em 1943 e em sua vida social e política envolveu-se com ideais de natureza caracteristicamente socialista.
Empossado em 7 de fevereiro de 1996 governou o Haiti até 7 de fevereiro de 2001, no primeiro mandato. Em 7 de maio de 2006 assume o segundo mandato, até 14 de maio de 2011, quando passa a presidência para Martelly, eleito por voto direto em segundo turno. A marca de seus governos foi o exercício democrático. Apesar das questões de fraudes eleitorais, manipulação do sistema eleitoral, entre outros, fato é que Préval foi o primeiro presidente eleito por voto direto que terminou seu mandato de forma democrática. Préval iniciou uma tímida retomada do crescimento do país antes do terremoto de 2010. Mas a crise financeira mundial de 2008, quase anulou seus esforços para minimizar a pobreza do país. A presença da Mission des Nations Unies pour la Stabilisation en Haïti (Minustah) garantiu a pacificação interna, o desarmamento da população e a estabilidade necessárias para as indispensáveis ações sociais, políticas e econômicas que o país necessita. René Préval pôde desfrutar de parte desta estabilidade, pelo menos até janeiro de 2010. Porém, as mediadas tomadas não atingiram seus objetivos esperados e o país continuou mergulhado na recessão. Contudo, Préval enfrentou seu maior desafio no “pós-sismo” de janeiro de 2010. Se havia algum desenvolvimento social e econômico no Haiti, em 12 de janeiro de 2010 foi destruído pelo sismo que arrasou Porto Príncipe, deixando milhares de mortos e desabrigados. Os problemas ganharam nova dimensão internacional. René Préval teve sua imagem desgastada diante de tanta falta de recursos humanos e materiais para seu empreendimento político.

A pedido dos membros do governo haitiano, e com base em Resolução do Conselho de Segurança, a ONU decidiu enviar ao país uma Missão de Paz e Estabilização – a Mission des Nations Unies pour la Stabilisation en Haïti (Minustah). Um general brasileiro comanda a componente militar da missão, que conta com soldados de dezenas de países, e é integrada majoritariamente por tropas de nações sul-americanas. O Brasil e seus vizinhos aceitaram a convocação da ONU por um imperativo de solidariedade. Não podíamos ficar indiferentes à crise político-institucional e ao drama humano do Haiti.  E o fizemos convictos de que a tarefa da Minustah não se limitava à segurança, mas abrangia também o fortalecimento da democracia, a afirmação da soberania política do povo do Haiti e o apoio ao desenvolvimento sócio- econômico do país. Daí a atitude respeitosa e não truculenta – de verdadeira parceria com a população local – que tornou-se sua marca registrada. A situação de segurança se transformou profundamente: os riscos de guerra civil foram neutralizados, a ordem pública restabelecida e os bandos de delinquentes derrotados. O país foi pacificado e o Estado reassumiu o controle de todo o território nacional. Além disso, a Minustah tem contribuído para equipar e treinar uma força haitiana de segurança. Dez anos depois do início da Missão, os haitianos têm demonstrado insatisfação diante da longa permanência de tropas da ONU no seu país.
Por duas vezes, exatamente em setembro de 2011 e maio de 2013 - o senado haitiano aprovou, por unanimidade, resoluções políticas adequadas exigindo o fim da Minustah, sigla derivada do francês: Mission des Nations Unies pour la Stabilisation en Haiti. Entretanto, o conservador Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas decidiu manter as tropas cautelosamente no processo democrático do Haiti até 2016. – “Quando um país mantém tropas em outro, sem que este o queira, estamos diante de uma ocupação. Não existe outra maneira de chamar", declarou o senador haitiano Jean Charles Moise, durante visita ao Brasil, em maio de 2014. Na ocasião, Moise, que faz oposição ao governo de Michel Martelly, fez um pedido: - “O que posso dizer aos brasileiros é que suas tropas não podem nos ajudar lá. Queremos a ajuda dos brasileiros, por isso pedimos que o Brasil substitua seus tanques de guerra por tratores agrícolas”. A ocupação tem sido acusada de colaborar com a repressão e a corrupção e, além disso, com “a epidemia de cólera de 2010, na qual soldados nepaleses com cólera defecaram no Rio Artibonite, contribuindo para a disseminação da doença que tinha sido erradicada desde o século XIX no país”. Veillons!
Bibliografia geral consultada.

GORENDER, Jacob, “O Épico e o Trágico na História do Haiti”. In: Estudos Avançados, 18 (50), 2004; JAMES, Cyril Lionel Robert, Os Jacobinos Negros: Toussaint L`Ouverture e a Revolução de São Domingos. São Paulo: Boitempo Editorial, 2007; HANDERSON, Joseph, Vodu no Haiti - Candomblé no Brasil: Identidades Culturais e Sistemas Religiosos como Concepções de Mundo Afro-Latino-Americano. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Instituto de Sociologia e Política. Pelotas: Universidade Federal de Pelotas, 2010; ROUPERT, Catherine Ève, Histoire d`Haïti: La Première République Noire du Nouveau Monde. Paris: Éditions Perrin, 2011; KAMINSKI, Anelise Gomes Vaz, As Limitações das Intervenções Humanitárias da ONU: O Caso do Haiti. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2011; BAPTISTA, José Renato, Sè Tou Melanje: Uma Etnografia sobre o Universo Social do Vodu Haitiano. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Antropologia. Rio de Janeiro: Museu Nacional, 2012; FELIPPE, Eduardo Ferraz, A Resignação de Sísifo: Tradição, Cultura Política e História na Obra do Moderno Vetusto Alejo Carpentier (1928-1980). Tese de Doutorado em História. Departamento de História. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2013; SILVA, Luiz Inácio Lula da, “Não Vamos nos Esquecer do Haiti”. In: https://jornalggn.com.br/17/02/2014; SEGUY, Franck, A Catástrofe de Janeiro de 2010, a Internacional Comunitária e a Recolonização do Haiti. Tese de Doutorado. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2014; JOSEPH, Jean Anel, Missão e Igreja Local: Um Estudo do Vodu Haitiano no Contexto do Pluralismo Religioso. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Teologia. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2015; VASCONCELOS, Alex Donizete, Identidades Haitianas na História, na Literatura e em Discursos Midiáticos do Haiti, da República Dominicana e dos Estados Unidos (2004-2014). Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História. Faculdade de História. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2016; DIMURO, Gina, “The Real Story of Marie Laveau, New Orleans Witchy Voodoo Queen”. In: https://allthatsinteresting.com/28/03/2018; entre outros.

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