Ubiracy de Souza Braga
“Se você não conhece nem o inimigo nem a si
mesmo, perderá todas as batalhas”. Sun Tzu
As
estruturas sociais de classe, gênero e etnia são geralmente reduzidas às imagens do social e vividas através do meio de
reprodução das imagens e de estilo de vida no processo concreto de globalização.
Queremos dizer com isto, que a estrutura implica pelo contrário, certo
dinamismo transformador. O substantivo “estrutura”, acrescentando a atributos
com sufixos tomados da etimologia da palavra “forma”, e que, na falta de melhor
expressão, utilizamos metaforicamente, significando simplesmente duas coisas:
são dinâmicas e sujeitas a transformações por modificações de um dos termos, e
constituem modelos taxionômicos e pedagógicos, quer dizer, que servem
comodamente para a classificação, mas que podem servir, dado que são
transformáveis, para modificar os níveis de análise por nós considerados no
âmbito do imaginário individual (o sonho) e coletivo (os mitos, os símbolos, os ritos). Desnecessário dizer que estamos de
acordo com uma aproximação mais evidente entre Claude Lévi-Strauss da tradição de Radcliffe-Brown.
Em
todas as nações e nacionalidades envolvidas em emblemas tais como Oriente
Médio, África do Sul, Índia, Rússia, Estados Unidos, Europa, América Latina,
Caribe, ou, Primeiro, Segundo e Terceiro Mundo; ou ainda Centro
e Periferia; para não repetir Ocidente e Oriente em todas as nações e nacionalidades há problemas raciais,
pouco evidentes ou agudos, antigos ou recentes, que se desenvolvem, mas não se
resolvem. Uma pesquisa global, no sentido que emprega Ianni (1997) "demonstra que a consciência étnica está realmente
em ascensão, como uma força política"; e que as fronteiras dos Estados
nacionais, conforme se acham presentemente desenhadas, estão sendo
crescentemente desafiadas por essa tendência. O caráter contrastivo destas
identidades constitui, portanto, um atributo essencial da identidade étnica. O
processo histórico de segregação de Fortaleza tornou-a uma cidade triste, solitária
e vazia no Centro da cidade. Sem bares ou restaurantes que sirvam bebida
alcóolica numa área superior a 50 mil m². Sem boemia e segurança pública. Dos 119 bairros que a capital possui, 88, 22% tem Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é baixo ou muito baixo e só 11, 7 % médio ou alto o que representa sociologicamente segregação humana.
No
Brasil, diversos são os fatores sociais e políticos apontados como causa do
surgimento das “cidades-dormitório” como ocorre na cidade de Fortaleza. Dentre
eles, podem ser destacados os processos de conurbação e metropolização marcados
pela expansão urbana de áreas com baixo dinamismo econômico, elevado
crescimento populacional e que, ocupada por população de baixa renda residente
em assentamentos precários. Há uma associação quase que imediata do processo de
metropolização ao surgimento das “cidades-dormitório” (cf. Ojima; Silva; Pereira, 2007) baseado no modelo
dicotômico marxista “centro-periferia”. Essas dinâmicas alteram a apropriação
do espaço sob a óptica da contradição marxista na relação centro-periferia de
modo a evidenciar novas centralidades. Assim, a identidade produzida pela
identidade contrastiva aparece como
uma identidade que surgiu historicamente de uma oposição. Para tentar delimitar
analiticamente a identidade étnica, é necessário reconhecer os “mecanismos de identificação” que
contém a identidade em constante processo histórico e social. Através do desenvolvimento histórico de
contato, os grupos étnicos em relação (em conjunção) desenvolvem uma
“consciência de si da situação”, o que significa que a identidade étnica varia
de acordo com as diversidades e diferenças de contato.
O
símbolo não sendo já de natureza linguística deixa de se desenvolver numa só
dimensão. As motivações que ordenam os símbolos não apenas já não formam longas
cadeias de razões, mas nem sequer cadeias. A explicação linear do tipo de
dedução lógica ou narrativa introspectiva já não basta para o estudo das
motivações simbólicas. A classificação dos grandes símbolos da imaginação em categorias
motivacionais distintas apresenta, com efeito, pelo próprio fato da não
linearidade e do semantismo das imagens, grandes dificuldades.
Metodologicamente, se se parte dos objetos bem definidos pelos quadros da
lógica dos utensílios, como faziam as clássicas “chaves dos sonhos”, segundo as
estruturas antropológicas do imaginário, cai-se rapidamente, pela massificação
das motivações, numa inextricável confusão. Parecem-nos mais sérias as
tentativas para repartir os símbolos segundo os grandes centros de interesse de
um pensamento, certamente perceptivo, mas ainda completamente impregnado de
atitudes assimiladoras nas quais os acontecimentos perceptivos não passam de
pretextos para os devaneios imaginários. Tais são as classificações
mais profundas de analistas das motivações do simbolismo religioso ou da
imaginação de modo geral literária.
Tanto
escolhem como norma classificativa uma ordem de motivação cosmológica e astral,
na qual são as grandes sequências das estações, dos meteoros e dos astros que
servem de indutores à fabulação, tanto são os elementos de uma física primitiva
e sumária que, pelas suas qualidades sensoriais, polarizam os campos de força
no continuum homogêneo do imaginário;
tanto, enfim, se suspeita que são os dados sociológicos do microgrupo ou de
grupos que se estendem aos confins do grupo linguístico que fornecem quadros
primordiais para os símbolos. Quer a imaginação
estreitamente motivada seja pela língua, seja pelas funções sociais, se modele
sobre essas matrizes sociológicas e antropológicas, quer pelos seus genes
raciais intervenham bastante misteriosamente para estruturar os conjuntos
simbólicos, distribuindo seja as mentalidades imaginárias, sejam os rituais
religiosos, querem ainda, com uma matriz evolucionista, se tente estabelecer
uma hierarquia das grandes formas simbólicas e restaurar a unidade no dualismo
de Henri Bergson das Deux Sources,
quer enfim que atravessando a técnica da psicanálise se tente encontrar uma
síntese entre as pulsões de uma libido em evolução e as pressões recalcadoras
do microgrupo familiar. São estas diferentes classificações das motivações
simbólicas que precisamos criticar antes de estabelecer um método de análise
pretensamente firme na ordem das motivações.
Ares, reconhecido como Marte pelos romanos, era o deus da guerra, do derramamento de sangue e da violência e o único filho de Zeus e Hera. A
trajetória evoca um movimento, mas resulta ainda de uma projeção sobre um
plano, de uma redução. Estratégia refere-se ao cálculo das relações de força
que se torna possível a partir do momento em que um sujeito de querer e poder é
isolável em um ambiente. Ela postula um lugar capaz de ser circunscrito como um
próprio e, portanto capaz de servir de base a uma gestão de suas relações com
uma exterioridade distinta. A nacionalidade política, econômica ou científica
foi construída segundo esse modelo estratégico. Para descrever essas práticas
cotidianas que produzem sem capitalizar, isto é, sem dominar o tempo, segundo
Certeau, impunha-se um ponto de partida por ser o foco exorbitado da cultura
contemporânea e de seu consumo: a leitura. Da televisão ao jornal, da
publicidade a todas as epifanias mercadológicas, a nossa sociedade canceriza a
vista, mede a realidade por sua capacidade de mostrar ou de se mostrar e
transforma as comunicações em viagens do olhar. Até a economia, transformada em
“semiocracia”, fomenta uma hipertrofia da leitura. O binômio produção-consumo
poderia ser substituído por seu equivalente: escritura-leitura. A leitura (da imagem ao texto) parece,
aliás, constituir o ponto máximo de passividade que caracterizaria o
consumidor, constituído em voyeur
(troglodita ou nômade) em uma sociedade do espetáculo.
Enfim,
os gestos diferenciados em esquemas sociológicos vão determinar, em contato com
o ambiente natural, os grandes arquétipos mais ou menos como Jung os definiu.
Os arquétipos constituem as substantificações essenciais dos esquemas. Esta
noção em Jacob Burckhardt é sinônima de “origem primordial”, de “enagrama”, de
“imagem original”, de “protótipo”. Metáforas de guerra quando Carl Jung
evidencia claramente o caráter de trajeto antropológico dos arquétipos quando
escreve: - “A imagem primordial deve incontestavelmente estar em relação com
certos processos perceptíveis da natureza que se reproduzem sem cessar e são
sempre ativos, mas por outro lado é igualmente indubitável que ela diz respeito
também a certas condições interiores da vida do espírito e da vida em geral”.
Este arquétipo, intermediário entre os esquemas subjetivos culturalmente e as reproduções
de imagens fornecidas pelo ambiente perceptivo, é como representar o número da
linguagem que a intuição percebe.
Decerto,
Jung insiste, sobretudo, no caráter coletivo e inato das imagens primordiais,
mas sem entrar nessa metafísica das origens e sem aderir à crença em
“sedimentos mnésicos” acumulados do decurso da filogênese podemos fazer nossa
uma observação capital do psicanalista, que vê nesses substantivos simbólicos
que são os arquétipos “o estádio preliminar, a zona matricial da ideia”.
Contudo, bem longe de ter a primazia sobre a imagem, a ideia seria tão-somente
o comprometimento pragmático do arquétipo imaginário num contexto histórico e
epistemológico dado. No âmbito da guerra,
sublinhamos a importância essencial dos arquétipos que constituem o ponto de
junção entre o imaginário individual (os sonhos) e coletivo (os mitos, os
ritos, os símbolos) e os processos racionais. É que, com efeito, os arquétipos
se ligam a imagens individuais e coletivas muito diferenciadas pelas culturas e
nas quais vários esquemas se vêm imbricar. Encontram-nos então em presença do
símbolo em sentido estrito, símbolos que assumem tanto mais importância quanto
são ricos em sentidos diferentes.
No
prolongamento dos esquemas explicativos, arquétipos e simples símbolos modernos
pode-se considerar o mito. Lembramos, todavia, que não estamos tomando este
termo na concepção restrita que lhe dão os etnólogos, que fazem dele apenas o
reverso representativo de um ato ritual. Entendemos por mito, “um sistema
dinâmico de símbolos, arquétipos e esquemas, sistema dinâmico que, sob o
impulso de um esquema, tende a compor-se na narrativa”. O mito é já um esboço
de racionalização, dado que utiliza o fio do discurso, no qual os símbolos se
resolvem em palavras e os arquétipos em ideias. O mito explicita um esquema ou
um grupo de esquemas. Do mesmo modo que o arquétipo promovia a ideia e que o
símbolo engendrava o nome, podemos dizer que o mito promove a doutrina
religiosa, o sistema filosófico ou, como bem observou Bréhier, a narrativa
histórica e lendária. O método de convergência evidencia o mesmo isomorfismo na
constelação e no mito. Enfim, para sermos breves, este isomorfismo dos
esquemas, arquétipos e símbolos no seio dos sistemas míticos ou de constelações
estáticas pode levar-nos a verificar a existência de protocolos normativos das
representações imaginárias, bem definidos e relativamente estáveis, agrupados
em torno dos esquemas originais e que antropologicamente a literatura refere-se
como estruturas.
Aí
se mesclam diversidades e desigualdades de tipos sociais e narrativas,
compreendendo manifestações religiosas e linguísticas, mas sempre envolvendo
alguma forma de racialização das
relações étnicas e sociais. Produzidas ao longo de migrações, escravismos e
outras formas de trabalho forçado, convívios pacíficos, conflitos inesperados, progrons, genocídios, revoluções,
guerras. Assim, não é difícil admitir, de acordo com Ianni (1997), que o
tribalismo, adormecido por séculos, reacende para destruir nações e
nacionalidades. Sempre que há um contexto de crise social, há o risco de que as
intolerâncias se acentuem. Aliás, está acontecendo uma incrível “racialização
do mundo”, embora ocorram desde as grandes navegações, os acontecimentos nos
últimos anos do século XX estão acentuando a intolerância racial em escala
mundial. Em 1978 Edward Said publicou a sua obra mais conhecida, Orientalismo, na qual analisa a visão
ocidental arquetípica oriental, mais concretamente do mundo árabe. Segundo o
autor, o Ocidente criou uma visão distorcida
do Oriente como o “Outro”, numa tentativa de diferenciação que servia os
interesses do colonialismo. Na
construção do argumento central do livro Said analisou uma série de discursos
literários, políticos e culturais que iam desde textos das Cruzadas ou de
Shakespeare, nos quais encontrou um denominador comum: a representação dos
habitantes do mundo oriental como bárbaros.
Neste
sentido vale lembrar que a contribuição engelsiana conferiu ao marxismo que
engloba uma teoria econômica, uma teoria sociológica, um método filosófico e
uma visão revolucionária de mudança social, o caráter particular de
Antropologia, contrariando a generalização metodológica. A partir das pesquisas
antropológicas de L. H. Morgan, lidas e anotadas por Marx, formulou Engels a
teoria antropológica do Estado, na obra: ”Der Ursprung der Familie, des
Privateigentums und des Staats” (2000), cujos pressupostos não estavam em sua
reflexão anterior, nem de forma sistêmica e embasada na história e na
antropologia. A sua importância na literatura de diversos países, ocorre que
muitos antropólogos se valeram do arcabouço marxista para entender sociedades
não capitalistas e sociedades camponesas. Não só a escola estruturalista
francesa, da segunda metade do século XX, com Maurice Godelier e Claude
Meillassoux são notáveis exemplos. Com o surgimento da Antropologia moderna,
como admite Leslie White, este influenciou a geração de antropólogos próximos ao
marxismo, como Marshal Sahlins, antes de seu “acerto de contas” no ensaio:
“Cultura e Razão Prática”, assim como Erick Wolf e Elman Service.
O
volumoso tomo de Bachofen estava escrito em alemão, isto é, na língua da nação
que menos se interessava, então, pela pré-história da família contemporânea.
Por isso permaneceu ignorado. O sucessor imediato de Bachofen nesse terreno
entrou em cena em 1865, sem jamais ter ouvido falar dele. Esse sucessor foi J.
F. Mac Lennan, o polo oposto de seu predecessor. Ao invés do místico genial,
temos aqui um árido jurisconsulto; em lugar de uma exuberante e poética
fantasia, as plausíveis combinações de um arrazoado de advogado. Mac Lennan
encontra em muitos povos selvagens, bárbaros e até civilizados, dos tempos
antigos e modernos, uma forma de matrimônio em que o noivo, só ou assistido por
seus amigos, deve arrebatar sua futura esposa da casa dos pais, simulando um
rapto com violência. Este costume deve ser vestígio de um costume anterior,
pelo qual os homens de uma tribo obtinham mulheres tomando-as realmente de
outras tribos, pela força. Por outro lado, e com frequência não menor,
encontramos em povos não civilizados certos grupos que em 1865, ainda eram
muitas vezes identificados com as próprias tribos, no seio dos quais era
proibido o matrimônio, vendo-se os homens obrigados a buscar esposas – e as
mulheres, esposos – fora do grupo; enquanto isso, outro costume existe, em
outros povos, pelo qual os homens de determinado grupo só devem procurar suas
esposas no seio de seu próprio grupo social.
Mac
Lennan chama as primeiras de tribos exógamas; e as segundas, de endógamas e, de
imediato, sem maior investigação, estabelece uma antítese bem definida entre
“tribos” exógamas e endógamas. E, ainda quando as suas próprias investigações científicas
sobre a exogamia lhe evidenciam que, em muitos casos, senão na maioria, ou
mesmo em todos, essa antítese só existe na sua imaginação, nem por isso deixa
de toma-la como base para toda a sua teoria. De acordo com ela, as tribos
exógamas não podiam tomar mulheres senão de outras tribos, o que apenas podia
ser feito mediante rapto, dada a guerra permanente entre as tribos,
característica do estado selvagem. De onde provém a exogamia? Em sua opinião,
as ideias de consanguinidade e incesto nascidas mais tarde nada têm a ver com
ele. Sua causa poderia ser o costume entre eles de matar as crianças do sexo
feminino logo após seu nascimento.
Disso
resultaria um excedente de homens em cada tribo, tomada separadamente, tendo
como consequência imediata a posse de uma mesma mulher, em comum, por vários
homens, isto é, a poliandria. Daí decorria, por sua vez, que a mãe de uma
criança era conhecida, mas não o pai; por isso, a ascendência era contada pela
linha materna, e não paterna pelo direito paterno. E da escassez de mulheres no
seio da tribo, atenuada, mas não suprimida pela poliandria, advinha, ainda,
outra consequência, que era precisamente o rapto sistemático de mulheres de
outras tribos. Para Mac Lennan, como a exogamia e a poliandria procedem de uma
só causa, do desequilíbrio numérico entre os sexos, devemos considerar que,
“entre todas as raças exógamas, existiu primitivamente a poliandria”. O mérito
de Mac Lennan consiste em ter indicado a difusão geral e a grande importância
do que ele chama de exogamia. Quanto ao fato da existência de grupos exógamos,
não o descobriu e muito menos o compreendeu.
Além disso, também Morgan observara e
descrevera perfeitamente o mesmo fenômeno, em 1847, em suas cartas sobre os
iroqueses, e em 1851 na Liga dos Iroqueses, ao passo que a mentalidade do
advogado de Mac Lennan causou confusão ainda maior sobre o assunto do que a
causada pela fantasia mística de Bachofen no terreno do direito materno. Outro
mérito de Mac Lennan consiste em ter reconhecido como primária a ordem de
descendência baseada no direito materno, conquanto, também aqui, conforme
reconheceu mais tarde, Bachofen se lhe tenha antecipado. Mas, também neste
ponto, ele não vê claro, pois fala, sem cessar, “em parentesco apenas por linha
feminina” (“kinship through females only”), empregando continuamente essa
expressão, exata apara um período anterior, na análise de fases posteriores de
desenvolvimento, em que, se é verdade que a filiação e o direito de herança
continuam a contar-se exclusivamente segundo a linha materna, o parentesco por
linha paterna reconhecida e expressa na estreiteza de critério
do jurisconsulto, que forja um termo jurídico socialmente fixo e continua
aplicando-o, sem modifica-lo.
Não
obstante, sua teoria foi acolhida na Inglaterra com grande aprovação e
simpatia. Mac Lennan foi considerado por todos como o fundador da história da
família e a primeira autoridade na matéria. A proposta de uma antropologia da
guerra não é nenhuma novidade no âmbito dos estudos antropológicos. Concebida
por alguns autores como uma espécie de especialização temática da antropologia
política, a antropologia da guerra pretende constituir-se como um corpo em
torno de conhecimentos sobre os mecanismos sociais de produção de violência,
conflitos e guerras. Keith Otterbein num artigo de 1999 descreve o percurso
desses estudos disciplinares demarcando quatro períodos: o período da fundação
(1850 a 1920); o período clássico (1920-1960); a idade dourada (1960-1980); e o
período atualmente. Quer dizer, o período da fundamentação e ipso facto de institucionalização ocorre antropologicamente com Lewis Morgan e Edward
Tylor e caracteriza-se essencialmente pela coleta de dados empíricos e por uma
visão evolucionista das práticas guerreiras das sociedades ditas primitivas.
Etnograficamente
o período clássico é atravessado por duas tendências distintas: a) a
continuação de uma linha analítica de cariz ainda evolucionista, concentrada no
estabelecimento de tipologias comparativas sobre os procedimentos violentos e
guerreiros em diferentes sociedades primitivas; b) o surgimento do mito do “selvagem
pacífico”. No primeiro caso o autor destaca um texto de Bronislaw Malinowski (1941),
no qual estabelece seis tipos sociais de conflitos armados, segundo uma escala “dos
menos violentos aos mais violentos”. São eles: 1) as lutas entre membros do mesmo
grupo, 2) as lutas como mecanismos jurídicos de regulação de diferenças entre
indivíduos, 3) razias militares com carácter recreativo, 4) as guerras enquanto
expressão política de um protonacionalismo, 5) expedições militares com fins de
pilhagem organizada, 6) guerras como instrumento de política nacional. Nesta
tipologia só os últimos dois tipos de violência, ou de guerras propriamente ditas imperialistas, assumem um caráter
verdadeiramente moderno e letal como ocorreu recentemente com o ataque dos aviões ocorridos em 11 de setembro às torres gêmeas.
Lembrando
ainda que em torno do agrupamento imaginário de imagens que ela é suscetível de
se articular numa estrutura mais geral e que não são agrupamentos rígidos.
Assim como, por um lado, de formas imutáveis pelos traços tipológicos dos
indivíduos, e por outro lado, que ligam as suas transformações sociais às
pressões históricas e antropomórficas numa filosofia pretensamente de análise
do imaginário que se interrogue sobre a forma comum que integra esses regimes
heterogêneos e sobre a significação funcional dessa forma de imaginação e do
conjunto das estruturas e dos regimes que ela subsumiu. Na ordem da produção
simbólica, o objeto carece de unicidade e singularidade, pois, objetos tornam-se simulacros indefinidos
uns dos outros e, juntamente com os objetos, os homens que os produzem. A
pretensa objetividade do mundo erigido a partir da racionalização técnica
corresponde à universalização de um modelo arbitrário advindo da generalização
da economia política na forma da lei do valor. A partir do código, considerado
como sistema de signos generalizados, a simulação opera a inversão das relações
entre o real e sua representação, estabelecendo simples oposições binárias que
permitem a objetividade do discurso e o controle dos objetos. Em relação ao
discurso, reduzindo o signo ao puro jogo dos significantes, anula a relação
entre significante e significado necessária ao processo de significação.
Bibliografia
geral consultada.
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Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 1991; BACHOFEN, Johann Jakob, El Matriarcado: Una Investigación sobre la
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