Filme 12 Anos de Escravidão: Ajustando o Foco das Lentes?
Ubiracy de Souza Braga
“A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo o lugar”. Martin Luther King Jr.
Martin
Luther King Jr. nascido Michael King Jr na cidade de Atlanta, em 15 de janeiro
de 1929 e assassinado em Memphis, 4 de abril de 1968, foi um pastor batista e
ativista político norte-americano que se tornou a figura mais proeminente e
líder do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos da América (EUA) de
1955 até seu assassinato em 1968. Luther King é amplamente reconhecido pela
luta dos direitos políticos através da não-violência e desobediência civil,
inspirado por suas crenças cristãs e o ativismo não-violento de Mahatma Gandhi. Martin Luther King liderou em 1955 o boicote aos ônibus de Montgomery e posteriormente
se tornou o primeiro presidente da Conferência da Liderança Cristã do Sul
(abreviado em inglês como SCLC). Como presidente da SCLC, ele liderou sem
sucesso em 1962 a luta contra a segregação em Albany, e foi um dos
participantes que organizaram os protestos não-violentos de 1963 em Birmingham.
King ajudou na organização da Marcha sobre Washington onde ele ditou seu
famoso discurso “I Have a Dream” aos pés do Memorial de Lincoln.
Em
14 de outubro de 1964, King ganhou o Prêmio Nobel da Paz por combater o
racismo nos Estados Unidos através da resistência não-violenta. Em 1965, ele
ajudou a organizar as Marchas de Selma a Montgomery. Nos seus últimos anos, ele
ampliou seu ativismo contra a pobreza e a Guerra do Vietnã. O diretor J. Edgar
Hoover do Federal Bureau of Investigation (FBI) ou Departamento Federal
de Investigação é uma unidade de polícia do Departamento de Justiça dos Estados
Unidos achava Luther King um liberal radical e fez dele alvo do programa de
contrainteligência a partir de 1963. Os agentes do FBI o investigaram por
possíveis laços comunistas, ameaçaram tornar público suas supostas relações
extraconjugais e o denunciaram para agentes governamentais e, em 1964, mandaram
a Luther King uma carta ameaçadora anônima, o qual ele interpretou como uma
tentativa de alguém a incentivá-lo a cometer suicídio.
Antes
de sua morte, o reverendo Luther King estava planejando uma ocupação em
Washington, D.C., que seria denominada Campanha dos Pobres, quando ele
foi assassinado em 4 de abril de 1968, em Memphis. Sua morte causou forte
reação popular e foi seguida por manifestações em várias cidades dos Estados
Unidos. Alegações que o assassino convicto de Luther King, James Earl Ray, ter
sido coagido ou agido em conjunto com agentes do governo persistiram por
décadas após o tiroteio. King foi premiado postumamente com a Medalha
Presidencial da Liberdade e a Medalha de Ouro do Congresso. O Dia
de Martin Luther King foi estabelecido como feriado em cidades e estados
dos Estados Unidos da América a partir de 1971; o feriado foi promulgado a
nível federal por uma legislação assinada pelo presidente Ronald Reagan em
1986. Centenas de estradas nos EUA foram renomeadas em sua honra, e um condado
em Washington foi dedicado a ele. O Martin Luther King Jr. Memorial no National
Mall em Washington D.C. foi inaugurado em sua homenagem em 2011.
A questão da escravidão continuaria a polarizar politicamente os Estados Unidos durante toda a primeira metade do século XIX, efetivamente dividindo o país entre os estados escravos e livres, na altura da linha Mason–Dixon. Durante o governo de Thomas Jefferson, o Congresso dos Estados Unidos passou uma lei proibindo a importação de escravos, em 1808, embora o tráfico ilegal, via Flórida espanhola, continuasse comum. O comércio interno de escravos, contudo, permaneceu legal e cresceu consideravelmente já que a demanda das plantações, movida principalmente pelo algodão no Sul, aumentava ano a ano. Na primeira metade do século XIX, mais de um milhão de escravos foram vendidos no sul, especialmente próximos a fronteira, e levados para as plantações no extremo sul do país em migrações forçadas. Nesse contexto, embora crianças não pudessem ser separadas de suas mães antes de completarem 12 anos, a prática era comum, assim como estupros a mulheres. Embora passassem por um processo de desumanização e maus tratos, as comunidades afro-americanas no Sul foram se desenvolvendo e tentavam preservar sua cultura. Em 1865, havia mais de 4 milhões de afro-americanos em condição de escravidão. No sul dos Estados Unidos, em 1860, eles eram 3,5 milhões (31% da população), com 25% da população branca no Sul tendo ao menos um escravo trabalhando para ele de forma permanente aluguel de escravos, também era uma opção comum para aqueles que não podiam pagar para manter um. No país como um todo, antes da guerra civil começar, cerca de 8% das famílias de americanos brancos tinha escravos.
O
filme 12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave) do diretor inglês
SteveMcQueen tem como escopo a “saga de
Northup”, um drama universal, na sua relação social de poder e dominação e
atemporal, nos seus aspectos dinâmicos na sociedade contemporânea: a) como a
luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos da América (EUA) e, b)
a eleição à presidência do negro Barack Obama, quanto em: c) àqueles aspectos
que permanecem diacrônicos como o racismo. Com o vigor narrativo e o apuro
visual que exibiu em seus dois longas-metragens anteriores, “Fome” (2008) e
“Shame” (2011), McQueen, artista plástico por formação, fez “12 Anos de
Escravidão” ser reconhecido por historiadores sociais e ativistas como aquele
que mais fielmente reproduz o cenário de degradação moral, desumanização e
violência física impostas pelo sistema escravagista norte-americano. Solomon
Northup foi protagonista de uma saga absurdamente trágica, se já não é um
truísmo, em seu minucioso relato na autobiografia (1853) visto na obra de
ficção. Temos analiticamente um advogado opositor da escravatura (Brad Pitt)
que luta institucionalmente pela liberdade desse homem.
A história social da escravidão (ou escravatura) nos Estados Unidos da América inicia-se no século XVII, quando práticas escravistas similares aos utilizados pelos espanhóis e portugueses em colônias na América Latina, e termina em 1863, com a Proclamação de Emancipação de Abraham Lincoln, realizada durante a Guerra Civil Americana. Na origem da guerra tem-se, grosso modo, a escravidão e dois modelos econômicos opostos. O norte em expansão econômica graças à industrialização, à proteção ao mercado interno e à mão-de-obra livre e assalariada, e o sul numa economia baseada na plantação e no escravismo. As diferenças culturais e políticas entre os estados do norte e do sul, ao contrário da dicotomização feita por alguns estudiosos, não são tão acentuadas, como é analisado por Lewis Cecil Gray no ensaio: “History of Agriculture in the Southern United states to 1860. Contributions to American Economic History” (1933).
Durante a maioria do
século XVII e parte do século XVIII, escravos do sexo masculino eram em maior
número que escravas do sexo feminino, fazendo com que os dois grupos tivessem
experiências distintas nas colônias. Vivendo e trabalhando em uma ampla
variedade de circunstâncias e regiões, homens e mulheres afro-americanos
tiveram variadas experiências de escravidão. Com o aumento de mulheres
africanas sequestradas, bem como os
escravos nascidos nas colônias, estupros
cresceram entre 1730 e 1750. - “A singularidade da situação das mulheres afro-americanas
é que ela situa-se no cruzamento de duas das mais bem desenvolvidos ideologias na América, sobre as mulheres
e sobre o Negro”. Possuindo identidades femininas e identidades negras,
mulheres africanas escravizadas enfrentaram racismo e sexismo. A partir de 1700
e 1740, um número estimado de 43.000 escravos foi levado para a Virgínia e, a
exceção de 4.000 escravos, que foram sequestrados diretamente da África.
No
período histórico da Revolução Americana (1775-1783), o status de escravo havia sido
institucionalizado “como uma casta racial”, na parte mais baixa da hierarquia
social, formada quase que exclusivamente por negros de ascendência africana,
amparada por provisões legais dentro Constituição do país. Em 1789, o número de
pessoas de cor livres que eram cidadãos e podiam votar era quase nulo. Porém,
pouco tempo depois da guerra de independência, as primeiras Leis Abolicionistas
foram passadas nos Estados do norte e o movimento para abolir a escravidão
cresceu na primeira metade do século XIX. Os Estados nortistas dependiam de mão
de obra livre e a maioria tinha abolido a escravidão por volta de 1805, embora
nem todos os escravos tenham sido libertados de fato, imediatamente. A expansão
da indústria do algodão no extremo sul após a invenção da máquina de tecer, fez
com que a demanda por trabalho escravo no sul dos Estados Unidos aumentasse. Os
escravagistas tentaram expandi-la para os Estados novos formados nos
territórios do oeste para que assim eles pudessem manter sua influência
política pela nação. Os líderes políticos sulistas queriam anexar Cuba como um
território escravagista.
Pesquisas recentes sugerem que o
número de mulheres e homens transportados neste período foi semelhante,
incluindo um elevado número de filhos. Como a maioria dos escravos provinham da
África Ocidental, suas culturas eram centrais de meados ao fim do século XVIII
da escravidão na Virgínia. Valores africanos foram predominantes e as culturas
das mulheres da África Ocidental tinham fortes representações. Algumas
representações culturais predominantes formavam os poderosos laços entre mãe e
filho e entre as mulheres na comunidade feminina. Entre o grupo étnico Ibo da
atual Nigéria, em particular, que incluía entre um terço e metade dos escravos
no início do século XVIII, a autoridade feminina (a omu) “administrava sobre uma ampla variedade de questões
importantes para as mulheres, em particular, e para a comunidade como um todo”.
O grupo étnico lbo representava pessoas
trazidas para a Chesapeake, que pode
se referir a várias localidades nos Estados Unidos porém, em geral, os
africanos vieram traficados de uma variada gama de culturas. Todos vieram de
comunidades onde as mulheres eram fortes, e foram introduzidas sociedade
patriarcal, violentamente racista e exploradora; homens brancos normalmente
caracterizavam todas as mulheres negras como uma erotização sexual, visando
justificar seu abuso sexual e miscigenação.
O caráter capitalista da “plantation” escravista do sul, análogo aos estados do norte, era em certa medida uma contradição, mas em última instância, de oposição assimétrica no sentido formal marxista interno ao sistema econômico. Contudo, em sua complementaridade uma economia escravista tende a inibir o desenvolvimento econômico de uma sociedade capitalista, tal como apontado, neste caso pelo sociólogo Max Weber em seu livro: The Theory of Social and Economic Organization. Além disso, o retorno dos lucros de volta à produção, no caso de Marx, presente no norte industrializado, não ocorria da mesma forma nos estados do sul, que tinha uma acentuada tendência a um consumo intenso, daí o binômio: produção-consumo. Assim, norte e sul diferem-se na medida em que o primeiro possui um progresso econômico qualitativo com o retorno dos lucros à produção, e o sul, por sua vez, ao dirigir seus lucros em escravos e terras, possui um progresso econômico quantitativo, levando em consideração a só aparente baixa produtividade da mão-de-obra escrava.
Esse fato histórico e ideológico (cf. Bailyn, 2003; Braga, 2012) se deve à mentalidade escravista do proprietário sulista, que investia na compra de escravos como “fator de produção”, pois “dava prestígio e segurança econômica e social numa sociedade dominada pelos plantadores”. Os consequentes saltos qualitativos na produção nortista levaram os proprietários sulistas a uma aguda disputa com os proprietários do norte. Se for aceita a condição capitalista para os estados do sul (Karl Marx), assim como para os estados do norte (Max Weber), tem-se então uma sociedade capitalista que impediu o desenvolvimento do próprio capitalismo, fato que historicamente tende a revoltas, guerras e revoluções, ainda mais considerando que o Sul apresentava economicamente problemas de produção de produtos para o consumo interno. Relatos do escravo Frederick Douglass demonstram que algumas plantações não forçavam seus escravos a trabalharem no período festivo do Natal. O motivo não era altruísta, essa folga era concedida para liberar tensão psicológica entre os trabalhadores, como ocorre comparativamente no período de “carnaval” para que eles continuassem sendo explorados mais um ano.
Não era uma prática comum a todos os donos de escravos, mas pelos relatos, não era algo tão raro também. Apesar do tráfico de escravos ser proibido em 1815, o contrabando continuou até o ano de 1860, enquanto que no Norte crescia a campanha pela abolição. O Compromisso do Missouri de 1820, autoriza a escravidão apenas abaixo do paralelo 36º. O apoio que ainda poderia existir no Norte a favor da escravidão esvaiu-se com o livro A Cabana do Pai Tomás, de Harriet Elizabeth Stowe, uma ardente abolicionista que o publicou em 1852. No final de 1860, o Estado da Carolina do Sul já havia se declarado fora da União, fato este que culminou na formação dos Estados Confederados da América. Poucos meses após a eleição de Abraham Lincoln (1809-1865), um republicano contrário à escravidão, a confederação, de cunho separatista, já aglomerava 11 Estados: Virgínia, Carolina do Norte, Carolina do Sul, Geórgia, Flórida, Alabama, Mississippi, Louisiana, Arkansas, Texas e Tennessee. Assim, a guerra civil se deflagra e deixa um saldo de centenas de milhares de mortos e uma legião de negros marginalizados. Nenhum programa governamental é previsto para sua integração profissional e econômica. O Sul permanece militarmente, mas isso acontece até 1877, favorecendo o surgimento de outras novas religiões como uma que se chama: Os cavaleiros da Camélia Branca, essa perseguia os negros violentamente e defendia a segregação racial. Na linguagem teórica, as palavras e expressões ipso facto funcionam como conceitos teóricos. Mas em sua periodização histórica, teórica e ideológica as palavras e expressões funcionam sempre de forma distinta, porque se referem a concepção de uma determinada teoria da história. A dificuldade própria da terminologia teórica consiste, pois, em que, por detrás do significado usual da palavra, é preciso sempre discernir o seu significado conceptual, que é sempre diferente do significado usual corrente nas fontes, nas atas, nos documentos oficiais, no âmbito da formação discursiva. Na sua significação mais geral deve nos permitir a compreensão que tem por efeito o conhecimento de um objeto: a narrativa da história. É assim que a história abstrata ou a história em geral não existem, no sentido exato do termo, mas apenas a história real, ou “como efetivamente ocorreu” (“essen Sie tatsächlich, es passierte”), desses objetos concretos e singulares que enformam a experiência da humanidade. A tradição marxista concebe o Estado como um “aparelho repressivo”, uma “máquina de repressão”, ou, “comitê executivo da classe dominante” que permite às classes dominantes assegurar a sua dominação sobre a classe operária, extorquindo desta última a mais-valia. O Estado é, antes de tudo, o “Aparelho de Estado”, termo que compreende não somente o “aparelho especializado”, mas também o exército que intervém como força repressiva de apoio em última instância, o Chefe de Estado, o Governo e a Administração, definindo o Estado como força de execução e de intervenção repressiva a serviço das frações da classe dominante. A rejeição hegeliana parte da própria negação de “estruturas hegelianas” em Marx, onde a totalidade expressiva de Hegel cede lugar, na análise crítica de Louis Althusser, ao todo-estruturado. É um todo sobredeterminado (“uberdeterminierung”) com níveis de análise e instâncias (instare) relativamente autônomas. Na configuração social das esferas de ação há, diferente da lógica dialética, “todos parciais”, sem prioridade de um “centro”. Em nível de análise do econômico opera-se a rejeição da “unicausalidade econômica” da história e das lutas sociais e políticas atribuindo-se a instâncias, então determinadas do discurso como o político e ideológico, o “peso” de instâncias decisivas, dominantes em ser determinantes. Enfim, a guerra civil se deflagra e deixa um saldo de centenas de milhares de mortos e uma legião de negros marginalizados. Nenhum programa governamental é previsto para sua integração profissional e econômica. O Sul permanece militarmente, mas isso acontece até 1877, favorecendo o surgimento de outras novas religiões como uma que se chama Os cavaleiros da Camélia Branca, essa perseguia os negros violentamente e defendia a segregação racial. Todas essas diferenças elencadas, não só nos aspectos produtivos, mas também em diferenças de mentalidades, tal como observadas por Alexis Tocqueville, estão diretamente ligadas à questão da escravidão. O orgulho pela plantation sulista, a posse de escravos, os problemas produtivos — tudo remete à escravidão, fator que pretendeu-se colocar como força matriz da Guerra Civil. A “era dos linchamentos” teve seu epicentro no Sul dos Estados Unidos da América. Se iniciou depois do fim da Guerra Civil americana e da declaração formal de fim da escravidão, em 1863. Para os pesquisadores, não se trata de coincidência. - “Depois da Guerra Civil, cerca de 4 milhões de escravos negros se tornaram livres e passaram a competir com os brancos (por empregos) nas economias dos estados do Sul”, explica Tolnay. - “Os negros foram ameaçados até que ficaram completamente privados de direitos de participação política, por volta do ano 1900, e o Sul ficou governado pelo sistema de castas raciais, no qual havia uma clara linha de separação entre a ´raça branca superior` e a ´raça negra subordinada`”.
Apesar de ser uma parte importante da história dos Estados Unidos, a “era dos linchamentos” é pouco reconhecida. Para mudar isso, em 26 de abril, foi inaugurado o Monumento Nacional pela Paz e Justiça em Montgomery, no Estado americano do Alabama. - “Diga o nome de um afro-americano linchado entre 1877 e 1950? A maior parte das pessoas não conhece nenhum. Milhares de pessoas morreram, mas não se pode nomear uma sequer? Por quê? Porque não temos falado sobre isso”, comentou Bryan Stevenson, fundador da EJI, sobre o motivo por trás da criação do Monumento. O Monumento espera apresentar para o público o contexto da história do terror racial nos Estados Unidos, com o uso de recursos artísticos. Além disso, foram criados mais de 800 memoriais de aço de cerca de 2 metros de altura, um para cada condado dos Estados Unidos onde afro-americanos foram linchados. Neles, estará grafado o nome das vítimas. Cada um desses monumentos tem uma réplica, que a EJI espera entregar para as regiões correspondentes. A ideia é que as esculturas sejam expostas nos próprios locais, recordando as violentas histórias racistas de linchamento.
O “pesadelo de Northup”, interpretado por Chiwetel Ejiofor, teve início em 1841, antes da guerra civil que oficializaria o fim da escravidão nos EUA. Ele vivia em Saratoga, no estado de Nova York, com a mulher e os três filhos (foto), e trabalhava como carpinteiro e músico, animando festas na região. Dois homens convidaram Northup para se apresentar em um circo em Washington. Constituíam-se em chefe de mercenários, bandidos, guerrilheiros como ocorrera historicamente na Itália medieval e renascentista. Neste caso, analogamente eram criminosos a serviço de fazendeiros do sul escravocrata que patrocinavam o sequestro de negros livres ao norte e, com aval de autoridades, falsificavam documentos de posse. Northup foi vendido a diferentes senhores até cruzar com o mais cruel deles, Edwin Epps (Michael Fassbender). Na fazenda de Epps, onde passou a maior parte de seu tempo de cativeiro, ele testemunhou horrores como os vividos pela jovem escrava Patsey (Lupita Nyong'o), alvo do furor sexual de seu dono e dos mais sádicos castigos. Filmes recentes como “Django Livre”, de Quentin Tarantino, e “Lincoln”, de Steven Spielberg, reacenderam o tema no cinema, mas nenhum deles atinge a força histórica, humanista e política representada em “12 Anos de Escravidão”.
Indicado ao Oscar de direção, McQueen pode se tornar o primeiro cineasta negro a conquistar o prêmio. 12 Years a Slave estreou no Festival de Telluride em 30 de agosto de 2013 e tem sido amplamente elogiado pela crítica. Depois de estar em desenvolvimento há algum tempo, o filme foi anunciado oficialmente em agosto de 2011 com McQueen dirigindo e Chiwetel Ejiofor estrelando como Solomon Northup, um negro livre que foi sequestrado e vendido como escravo na Deep South. McQueen comparou a conduta de Ejiofor “de classe e dignidade” à de Sidney Poitier e Harry Belafonte. Em outubro de 2011, Michael Fassbender que atuou em filmes anteriores Hunger e Shame de McQueen se juntaram ao elenco. Chiwetel Umeadi Ejiofor, nascido em Londres, em 10 de julho de 1977 é um ator britânico, filho de pais nigerianos, cujos antepassados eram igbos.um dos maiores grupos étnicos africanos. Habitam o leste, sul e sudeste da Nigéria, além de Camarões e da Guiné Equatorial e falam a língua igbo é uma língua falada na Nigéria por cerca de 20-25 milhões de pessoas, os igbos, especialmente na região sudeste, anteriormente reconhecida como Biafra e em partes da região sul-sudeste da Nigéria. É escrita em alfabeto latino. O igbo é uma língua tonal, como o ioruba ou o chinês.
Foram um dos povos mais atingidos pelos traficantes no comércio transatlântico de escravos. Também existem populações significativas nos Estados Unidos e em Trinidad e Tobago.Em 2006 recebeu duas indicações ao prêmio Golden Globe por Melhor performance. Em 2013, interpretou Solomon Northup em 12 Anos de Escravidão, pelo qual recebeu indicações ao Óscar, Globo de Ouro e Screen Actors Guild, juntamente com o BAFTA Award de Melhor Ator. No início de 2012, o resto dos papéis foi lançado, e as filmagens estavam programadas para começar no final de junho de 2012. Para captar a linguagem e dialetos da época e regiões o professor de dialeto Michael Buster foi trazido para ajudar o elenco na alteração de seu discurso, cuja presença alterou o modo como os personagens se portam e falam no decorrer do filme. Para recriar o sotaque dos escravos, que não foi documentado, ele fez uma aposta ousada: misturou o sotaque dos idosos da Louisiana com o modo de falar de uma colega queniana, cujo inglês é ainda carregado com os modos de falar africanos. A linguagem tem uma qualidade literária relacionada com o estilo de escrita do dia e da forte influência do Bíblia do Rei Jaime. O estudioso de cultura e história afro-americano Henry Louis Gates Jr. foi consultor no filme.
Bibliografia geral consultada.
GRAY, Lewis Cecil, History of Agriculture in the
Southern United States to 1860. Contribution to American Economic History.
Washington DC: Editor Carnegie Institute of Washington, 1933; TOCQUEVILLE,
Alexis, De la Democratie en Amerique. Paris: Éditions Gallimard, 1951;
FAULKNER, Harold Underwood, The Decline of Laissez Fare, 1897-1917. New York Press,
New York, 1951; Idem, Historia Económica de los Estados Unidos. Buenos
Aires: Editora Nueva, 1954; STAMPP, Kenneth Milton, La Esclavitud en los
Estados Unidos (la ´Instituición Peculair`). Trad. esp. Barcelona:
Ediciones Oikos tau, 1966; HOBSBAWM, Eric, Storia del Marxismo: I – Il
Marxismo al Tempi di Marx. Roma: Giulio Einaudi Editor, 1975; GENOVESE,
Eugene, A Economia Política da Escravidão. Rio de Janeiro: Editora
Pallas, 1976; Idem, A Terra Prometida: O Mundo que os Escravos Criaram. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1988; BERLIN,
Ira, “Time, Space, and the Evolution of Afro-American Society on British
Mainland North América”. In:
The American Historical Review, vol. 85, nº 1, pp. 44-78, February,
1980; MINTZ, Sidney; PRICE, Richard, O
Nascimento da Cultura Afro-Americana: Uma Perspectiva Antropológica. Rio de
Janeiro: Editora Pallas; Rio de Janeiro: Universidade Cândido Mendes, 2003;
BAILYN, Bernard, As Origens Ideológicas da Revolução Americana. Bauru:
Editora da Universidade Sagrado Coração, 2003; NORTHUP, Solomon, Doze Anos
de Escravidão: A História Real de Solomon Northup. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2014; BAPTIST, Edward, The
Half Has Never Been Told: Slavery and the Rise of American Capitalism. New York: Basic
Books Editor, 2014; PARRON, Tamis Peixoto, A Política da Escravidão na Era
da Liberdade: Estados Unidos, Brasil e Cuba, 1787-1846. Tese de Doutorado.
Programa de Pós-Graduação em História Social. Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2015; MARQUESE, Rafael;
SALLES, Ricardo (Org.), Escravidão e Capitalismo Histórico no Século XIX:
Cuba, Brasil e Estados Unidos. Rio de Janeiro: Editora Civilização
Brasileira, 2016; entre outros.
_________________
* Sociólogo (UFF),
Cientista Político (UFRJ) e Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e
Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado
da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza:
Universidade Estadual do Ceará. Artigo publicado originalmente no blog Espaço
Acadêmico sob a direção do sociólogo Antônio Ozaí da Silva.
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