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sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Gente de Bem: É Possível Ser Alguém Assim na Vida Cotidiana?

Aos homens sobrevive o mal que fazem, mas o bem quase sempre com seus ossos fica enterrado”. Shakespeare

                                   

           The Land of Steady Habits é um filme de comédia dramática norte-americana de 2018, escrito, dirigido e coproduzido por Nicole Holofcener e baseado no romance de mesmo nome de Ted Thompson, formado no Iowa Writers` Workshop, onde recebeu uma bolsa Truman Capote. Teve sua estreia mundial no Festival Internacional de Cinema de Toronto em 12 de setembro de 2018 e foi lançado em 14 de setembro de 2018 pela Netflix. Não queremos perder de vista o que particulariza a sociologia, é que ela lida com fenômenos sociais no plano em que eles podem ser descritos, objetivamente, através de propriedades da porção social do meio ambiente dos organismos e dos processos que nela ocorrem. Em consequência, não lhe cabe assim estudar os organismos como tais, nem as propriedades deles, que determinam ou condicionam seus comportamentos. Compete-lhes, especificamente, estudar os comportamentos sociais em si mesmos, como parte da rede relacional de interdependências e interações sociais, caracteristicamente da espécie de organização em luta. O sociólogo, pesquisa em um plano altamente abstrato, isolando e analisando relações que definem de imediato, o nível de complexidade alcançado pelas diferentes manifestações da vida.

Para Florestan Fernandes (1920-1995), nosso excelso pesquisador, comparativamente, da mesma maneira que o biólogo e o psicólogo sabem que os processos biológicos e psicológicos são condicionados pelas situações sociais da vida dos organismos, o sociólogo reconhece que os processos sociais são regulados por elementos e mecanismos extra-sociais, de natureza biológica, psicológica ou biopsicológica. Apenas, concentra evidentemente sua atenção nas propriedades reais dos aspectos sociais da vida, que são objeto de sua especialidade no campo da ciência. Vale lembrar que a sociologia não se interessa, indiscriminadamente, pelo estudo dos fenômenos sociais. Ela trata-os na medida em que estes traduzem ou exprimem certo estado de sociabilidade e coordenação supraindividual de reações ou de comportamentos de organismos coexistentes nas mesmas unidades de vida. No plano abstrato de análise, seu ponto de referência, na descrição de tais categorias sociais, não é o “organismo”, sua estrutura e mecanismos, mas, a própria teia de interações sociais. Melhor dizendo, a ordem social, inerente às diversas modalidades de manifestações organizada da vida, oferece-nos o ponto de referência através do qual devem ser descritos sociologicamente.

Nesse caso, os organismos vivem em condições que convertem a agregação ou a associação em necessidade vital. A sociedade não se opõe à natureza, ao contrário, pois representa o seu prolongamento na organização dos processos comunicativos de vida. À luz de tais argumentos impõe-se, sobretudo, considerar três fatos básicos. Primeiro, a ordem social parece constar entre os fundamentos do equilíbrio da natureza, nos níveis de organização da vida que requerem, normalmente, a agregação ou a associação dos organismos. Em segundo lugar, sua importância relativa da ordem social, na determinação do equilíbrio da natureza, é incontestavelmente variável, por serem muito diversas as necessidades que ela parece preencher nos diferentes níveis de organização da vida. Terceiro, a estabilidade da ordem social parece ser amplamente afetada por fatores e mecanismos extra-sociais, mas, inversamente, também parece claro que, em dadas condições, a instabilidade da ordem social resulta de elementos e de processos sociais, o que lhe confere influência causal para alterar o padrão de equilíbrio da natureza. Quanto ao primeiro fator, é possível distinguir, grosso modo, quatro níveis de organização da vida, em vista da estrutura dos organismos e a propriedade da natureza do intercâmbio que eles conseguem desenvolver com o meio em que vivem. 

No filme Gente de Bem (The Land of Steady Habits, 2018) Anders Hill se divorciou recentemente de Helene, aposentou-se precocemente de um emprego em finanças e está tendo dificuldades para lidar com isso. Preston, seu filho adulto, é um viciado em drogas em recuperação que mora com Helene na casa da família. Preston, que se formou na Northwestern University, agora está trabalhando como especialista em leitura com sua mãe, que lhe conseguiu o emprego. Anders ainda ama sua “ex”, apesar de dormir com outras pessoas desde o divórcio. Ele aparece na festa anual de Natal que ela organiza com Sophie Ashford, sua vizinha. Sentindo-se isolado, ele sai e se junta ao filho de Sophie e Mitchell, Charlie, e alguns de seus amigos. Instado a fumar em um bong, ele fica surpreso ao descobrir que a maconha está misturada com PCP. Charlie sofre uma overdose e é levado ao hospital. Anders conta ao seu terapeuta que fumou drogas com Charlie na festa e fica surpreso ao saber que seu terapeuta também estava presente. Ainda o dono legal da casa que ele deixou para Helene, ele é responsável pela hipoteca. Seis meses atrasado nos pagamentos, ele percebe que não pode se aposentar e pagar a casa. Anders pede um empréstimo a um amigo, que o leva a um clube de strip-tease onde ele conhece Barbara. Anders e Barbara se dão bem e dividem um táxi. Anders dá seu antigo endereço, bêbado, entrando em sua antiga casa com sua chave, chateando Helene, Preston e o namorado de Helene, Donny. Mais tarde, ela é forçada a demitir Preston depois que ele pega dinheiro de um aluno para um jogo de pôquer. Preston diz a ela que Anders não pode pagar a hipoteca. 

Dias depois, Preston vai ao apartamento de Anders para revelar que tem um emprego de entregador, mas está sem teto porque Helene o expulsou. Anders diz que ele também não pode ficar e que precisa crescer. Charlie mais tarde visita Anders, dizendo que ele escapou para evitar a reabilitação e pede que ele cuide de sua tartaruga de estimação. Anders inicialmente ameaça ligar para os pais de Charlie, mas eles vão para o clube figurado de Charlie. No começo, eles usam drogas enquanto Charlie conta a ele sobre sua história em quadrinhos na Laika. Anders decide levá-lo para casa, mas ele escapa. Preston entrega vinho a um antigo colega de classe que é dono de uma casa grande e está esperando seu primeiro filho. Depois de insultá-lo, ele sai e encontra seu carro quebrado. Incapaz de terminar suas entregas, ele chama um caminhão de reboque que o deixa perto dos trilhos do trem. Preston pensa em beber uma grande garrafa de champanhe, mas em vez disso a coloca na frente de um trem que se aproxima. No caminho de volta para seu jipe, Preston descobre o cadáver de Charlie atrás de uma árvore. A morte de Charlie faz com que Preston seja bem-vindo de volta à casa de Helene. Na véspera de Natal, quando os Hills e os Ashfords tradicionalmente celebram o jantar juntos, Preston encontra seu pai em um quarto de hotel e o convence a vir para o jantar. Durante o jantar, Anders revela que ele e Charlie usaram drogas juntos. Isso motiva Sophie a contar a ele que Helene o estava traindo por dois anos. Mitchell então ataca Anders, apagando seu charuto no meio da testa de Anders. Poucos meses depois, Helene vendeu a casa enquanto ela e Donny planejavam seu casamento no Havaí. Preston decidiu cursar pós-graduação na cidade de Nova York e conseguiu seu próprio apartamento. Anders, continuando a namorar Barbara, está se acomodando na vida de aposentado e cuidando da tartaruga de Charlie.

A esses níveis analíticos aplicamos qualificações provisórias e precárias, que se justificam, segundo Fernandes, no estado atual de nossos conhecimentos: a ordem biótica, a ordem biossocial, a ordem psicossocial e a ordem sociocultural. A primeira, traduz a condição mais elementar da capacidade dos organismos de estabelecer interação social com outros organismos da mesma espécie ou de espécies diferentes. A segunda, aparece em um nível mais complexo da organização da vida, no qual os organismos dispõem da capacidade, biologicamente condicionada, de se locomoverem e de interagirem entre si. Tal ordem representa o produto do concurso de fatores orgânicos estáveis, embora se possa presumir que fatores supra-orgânicos chegam a desempenhar algum papel social na interação de organismos entre si ou com o meio.  A terceira, envolve uma combinação mais complexa na operação dos fatores orgânicos, de caráter psicobiológico, e de fatores sociais, inerentes à maneira pela qual os indivíduos aprendem a viver em grupo e a reagir apropriadamente à presença de outros organismos, da mesma espécie ou de espécies diferentes. A quarta, põe-se diante da modalidade de organização da vida na qual os fatores orgânicos são corrigidos e complementados por fatores supra-orgânicos.

Mas, em sociologia, o que se pode chamar de ordem social, em cada um desses níveis abstratos de organização da vida, é, portanto, algo extremamente variado. A rigor, só no nível humano os fatores sociais da vida alcançam uma expressão criadora comparável à influência dos fatores orgânicos dos demais seres níveis. Daí a conclusão de que as expressões mais altas da vida social acham seus fundamentos em tendências de agregação ou de associação que são universais entre os seres vivos, das plantas e aos dos animais. Segundo as considerações desenvolvidas, a ordem social constitui um sistema de referências de caráter universal. Onde os organismos se agregarem ao se associarem socialmente, existirão certas regularidades no modo de existência ou da convivência deles entre si. Enfim, metodologicamente, a noção de ordem social denota essas regularidades, quaisquer que sejam suas origens, as condições que os suportem, estruturalmente, e os fatores que determinam, dinamicamente, sua continuidade ou sua instabilidade. Em suma, como ocorre com o biólogo e o psicólogo, o sociólogo lida com os fenômenos da vida. Apenas, trata-os de um ponto de vista especial, que o leva a estudar, sistematicamente, as influências exercidas pelas condições coletivas de existência sobre os mecanismos adaptativos dos seres vivos. Sua unidade de trabalho não são nem os organismos nem as propriedades que eles possuem. Mas o modo pelo qual os organismos se congregam socialmente e as consequências históricas e sociais que daí advém para as formas de organização da vida em uma sociedade. 

Anders Hill (Ben Mendelsohn) é um homem rico e pai de família, mas está descontente e sem amor pela vida. Na esperança de se renovar, ele decide abandonar a sua sólida carreira e sua amada família para recomeçar a vida em um condomínio. Aos poucos, ele descobre que sente falta de sua vida antiga, e tenta reconquistá-la. Riqueza é a situação referente à abundância na posse de bens materiais, tais como dinheiro e propriedades móveis, imóveis e semoventes, sendo, portanto, o contrário de pobreza. Também se aplica à condição de alguém ter, em abundância, um determinado bem de valor. A riqueza também pode ser medida pelo acesso aos serviços básicos, como saúde, etc. Diferentes visões e definições acerca do que se tem de saúde e doença permeiam a história da humanidade, sobretudo a inserção desses conceitos sob os contextos cultural, social, político e econômico. Rica é a pessoa que acumulou substancial riqueza em relação à sociedade na qual vive. A riqueza implica acordo social que faça valer o direito de propriedade, através de numerosos meios legais de proteção e sentido da vida.

            Desde o início da década de 1990, as vendas globais de filiais têm superado as exportações comerciais como principal veículo de fornecimento de bens e serviços aos mercados estrangeiros. A aparente prosperidade econômica e social das empresas transnacionais é impressionante, pois a maior parcela dentre as 100 maiores empresas do mundo é composta exatamente por estas empresas. Em 1992, as 100 maiores companhias detinham ativos que giravam por volta dos 3,4 trilhões de dólares estadunidenses, dos quais cerca de 1,3 trilhões eram mantidos fora dos seus países de origem. Além disso, as 100 maiores empresas transnacionais representam cerca de um terço do investimento estrangeiro direto (IED) de seus países de origem. Desde meados da década de 1980, tem havido um grande aumento no investimento direto no âmbito estrangeiro das empresas transnacionais. Ademais, entre 1988 e 1993, o estoque de investimento estrangeiro – que é uma medida da capacidade produtiva das empresas transnacionais fora dos seus países de origem - cresceu de 1,1 para 2,1 trilhões de dólares estadunidenses em valor estimado.

Em relação aos países pouco mormente industrializados, também nota-se um grande aumento no investimento estrangeiro realizado pelas empresas transnacionais, desde meados da década de 1980. Tal investimento, em conjunto com empréstimos bancários privados, cresceu de forma muito mais acentuada do que as ações estatais para o desenvolvimento nacional ou do que os empréstimos bancários multilaterais – aqueles realizados por instituições internacionais como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial ou os bancos de desenvolvimento regionais. Os governos dos países em desenvolvimento, sobrecarregados pelas dívidas, pela baixa no preço das comodites, pelo ajustamento estrutural e pelo desemprego, têm visto as empresas transnacionais, nas palavras da revista The Economist, como “personificação” da modernidade e de riqueza, plenas de tecnologia, ricas em capitais e postos de trabalho qualificados. Como resultado, observa-se, a tendência dos governos dos países em desenvolvimento de capitalizar mais o investimento econômico das empresas transnacionais inicial por meio da liberação das restrições ao investimento e pela privatização das empresas estatais.  

Em compensação social as empresas transnacionais veem os países menos industrializados não apenas sob o aspecto singular de potencial aumento de seu mercado consumidor, mas também como alternativa produtiva em razão dos custos operacionais mais baixos, menores salários e menor regulação ambiental e de saúde que estes países apresentam. Na segunda metade do século XX, ficou clara a relação conflituosa entre empresas multinacionais e o Estado. De um lado, existe o interesse estatal de gerar crescimento econômico, trazer investimento internacionalmente, avanços tecnológicos, empregos e benefícios da atuação de empresas mundiais. Por outro lado, existe a questão da exploração de recursos naturais nacionais, da remessa de lucros para a matriz e de minar o desenvolvimento de empresas nacionais nascentes. Por serem mundiais, essas empresas conseguem comparar as características de cada país e analisar a relação de custo-benefício de cada localidade, vis-à-vis podendo até barganhar eficazmente com os governos a instalação de unidades, obtendo condições especiais para poder atuar.  

Esse fato que não é simplesmente econômico, gera uma contradição em que existe um favorecimento das maiores empresas em detrimento de pequenos negócios, levando-os a uma ampla concorrência. A regulamentação das empresas multinacionais no plano internacional é tema de crescente interesse da vida cotidiana. A lógica de mercado das empresas multinacionais é a da maximização do lucro, orientando seus investimentos pela busca de oportunidades de expansão comercial, aliada à “segurança jurídica” propiciada pela existência de regras contratuais claras e respeitadas por um sistema jurídico eficaz. O Estado compete no mercado internacional para atrair os investimentos estrangeiros para seu território e vice-versa, mesmo que isso implique em fazer concessões passíveis de atingir o consumo do mercado interno, o qual o Estado também deve em tese proteger. Os chamados “países desenvolvidos” buscam certa moralização de determinadas condutas das empresas transnacionais, o estabelecimento de condições de igualdade de concorrência e uma legislação simplificada e fundada no direito internacional, em substituição das diversas legislações, os chamados “países em desenvolvimento” buscam reequilibrar as desigualdades existentes entre as empresas multinacionais e locais, além de também possuírem interesse na moralização das condutas dessas empresas.

            A trivialização do conhecimento não faz produto do conhecimento apenas um produto determinado, faz também dele um produto qualquer. Mas as ideias podem tornar-se ideológicas, na medida em que sua estrutura socialmente obedece às estruturas socioprofissionais. Sua produção integra-se entre os outros processos de produção e a cultura torna-se cognoscível a partir das categorias econômicas do capital e do mercado. Mas nem a informação, nem a concepção de teoria, nem o pensamento abstrato, nem a cultura são produtos triviais, ainda que mais não seja pelo fato de serem, ao mesmo tempo, produtos/produtores e, mesmo comportando a questão urbana hologramaticamente a dimensão socioeconômica, não poderiam ser reduzidas a isso. A redução trivializante não teme exercer-se como sujeito sobre o conhecimento científico. Este nível abstrato como qualquer outro é apropriado pelo pensamento, como a religião e através da ciência, com suas relações de força e monopólios, suas lutas e suas estratégias, seus interesses e seus prováveis ganhos. Mas, por seu lado, os estudos de etnografias dos laboratórios, estes que parecem ter dinamismo, demonstram-nos como se estabelecem essas mediações complexas dos pesquisadores, em função de posições, ou status, as lutas e a utilização de alguns truques diabólicos pelo reconhecimento per se, pelo prestígio ou pela glória, com as negociações necessárias ao estabelecimento de uma prova, os ritos de passagem na pesquisa e na universidade. A motivação primeira do cientista é a notoriedade.

Mas não se pode reduzir o interesse científico ao interesse econômico, a vontade de pesquisar ao desejo de prestígio, a sede de conhecimento à sede de poder, em alguns casos terrenos sim. A sociologia não pode ser considerada uma concepção que exclui o indivíduo ou que, no máximo, o tolera. É uma concepção humanista, mas que deve implicá-lo e explicitá-lo. Sobre a aquisição do conhecimento pesa um formidável determinismo encouraçado de coerção. Ele nos impõe o que se precisa conhecer, como se deve conhecer, o que não se pode conhecer. Comanda, proíbe, traça os rumos, estabelece os limites, ergue muralhas e conduz-nos ao ponto onde devemos ir. E também que conjunto prodigioso de determinações sociais, culturais e históricas é necessário para o nascimento da menor ideia, e per se da menor teoria. Não bastaria limitarmo-nos a essas determinações que pesam do exterior sobre o conhecimento. É necessário considerar os determinismos intrínsecos ao conhecimento, que são, segundo Morin, muito mais implacáveis. Em primeiro lugar, princípios, comandam esquemas e modelos explicativos, os quais impõem visão de mundo e das coisas que se governam/controlam de modo imperativo e proibitivo a lógica dos discursos, pensamentos, teorias sociais. 

Com maior razão, o mesmo vale para a arte, que é absolutamente refratária a tudo o que parece uma obrigação, porque é o domínio da liberdade. É um luxo e um adorno que talvez seja bonito ter, mas que não se pode ser obrigado a adquirir: o que é supérfluo não se impõe. Ao contrário, amoral é o mínimo indispensável, o estritamente necessário, o pão cotidiano sem o qual as sociedades civis não podem viver. A arte corresponde à necessidade de que temos de difundir nossa atividade social sem objetivo, pelo prazer de difundi-la, enquanto a moral nos obriga a seguir um caminho determinado em direção a um objetivo definido – e quem diz obrigação diz, com isso, coerção. Conquanto possa estar animada por essas ideias morais ou ver-se envolvida na evolução moral própria, a arte não é moral por si mesma. A observação estabelecida nos indivíduos, como nas sociedades, de um tal desenvolvimento intemperante das faculdades estéticas é um grave sintoma do ponto de vista da moralidade. Vale lembrar, segundo Durkheim (2010) que de todos os elementos da civilização, a ciência é o único que, em certas condições, apresenta um caráter moral. De fato, as sociedades tendem cada vez mais a considerar um dever para o indivíduo desenvolver sua inteligência, assimilando as verdades científicas que são estabelecidas. Há número de conhecimentos que devemos possuir.

Ninguém é obrigado a se lançar no grande turbilhão industrial; ninguém é obrigado a ser artista; mas todo o mundo é obrigado a não ser ignorante. Essa obrigação é, inclusive, sentida com tamanha força que, em certas sociedades, não é apenas sancionada pela opinião pública, mas pela lei. Aliás, não é impossível entrever de onde vem esse privilégio especial da ciência. É que a ciência nada mais é do que a consciência levada a seu mais alto ponto de clareza. Ora, para que as sociedades possam viver nas condições de existência que lhe são dadas, é necessário que o campo da consciência, tanto individual como social, se estenda e se esclareça. Os meios em que elas vivem se torna cada vez mais complexos e, por conseguinte, cada vez mais móveis, para durar é preciso que elas mudem com frequência. Por outro lado, sabemos o quanto mais obscura uma consciência, mais é refratária à mudança, porque não vê depressa o bastante que é necessário mudar, nem em que sentido é preciso mudar; ao contrário, uma consciência esclarecida sabe preparar de antemão a maneira de se adaptar a essa mudança social. Eis porque é necessário que a inteligência guiada pela ciência adquira uma importância maior no curso da vida coletiva. Mas a ciência que todo o mundo é assim chamado a possuir não merece ser designada por esse nome. Não é a ciência, é no máximo sua parte comum a mais geral. Ela se reduz a um pequeno número de conhecimentos indispensáveis, que só são exigidos de todos por estarem disponíveis ao alcance de todos. A ciência supera infinitamente esse nívelamento vulgar. Ela compreende o que é vergonhoso ignorar, como um navio na praia, que é possível saber.

Ela não supõe apenas, nos que a cultivam, essas faculdades médias que todos possuem, mas disposições especiais. Senão a uma elite, não é obrigatória; mas não é necessária a ponto de a sociedade reclamá-la imperativamente. É vantajoso estar munido dela; nada há de imoral em não a adquirir.  Paris, a capital de D’Amour, foi palco de um extraordinário e concreto romance. Ao organizar os paradigmas e modelos explicativos associa-se o determinismo organizado dos sistemas de convicção e de crença que, quando reinam em uma sociedade, impõem a todos a força imperativa do sagrado, a força normalizadora do dogma, a força proibitiva do tabu. As doutrinas e ideologias dominantes dispõem também da força imperativa e coercitiva que evidencia aos convictos e o temor inibitório aos desalmados. A partir deste fundamento etnográfico, compreendemos que ordem, desordem e organização são elementos essenciais para o entendimento da questão da complexidade, pois se desintegram e se desorganizam ao mesmo tempo na história singular da vida. Constata-se que o sentido da realidade se dá por meio da relação do todo com as partes e vice e versa em uma análise integradora em que não é pertinente examinar como tal a partir de uma única matriz de racionalidade.

A desordem torna-se indispensável para a organização social da vida humana, pois a sociedade é dependente de acontecimentos/fatos que possam modificar a ordem já estabelecida para gerar novos meios de organização entre os sujeitos. Há um imprinting cultural, matriz que estrutura o conformismo, e há uma normalização que o impõe. O imprinting é um termo que Konrad Lorentz propôs para dar conta da marca incontornável pelas primeiras experiências do jovem animal, como o passarinho que, ao sair do ovo, segue como se fosse sua mãe, o primeiro ser vivo ao seu alcance. Há um imprinting cultural que marcam os humanos, desde o nascimento, com o selo da cultura, primeiro familiar e depois da escola e da proximidade com a igreja e sua relação normativa comunitária, prosseguindo na universidade ou na profissão. Contrariamente à orgulhosa pretensão dos intelectuais e cientistas, o conformismo cognitivo não é de modo algum uma marca de subcultura que afeta principalmente as camadas subalternas da sociedade. Os subcultivados sofrem um imprinting e uma normalização atenuados e, diz Morin, há “mais opiniões pessoais diante do balcão de café do que num coquetel literário”.

Embora contrariados em contradição com seu desenvolvimento liberal intelectual que permite a expressão de desvios e de ideias e formas escandalosas, o imprinting e a normalização crescem paralelamente com a aquisição real da cultura. O imprinting cultural determina à desatenção seletiva, que nos faz desconsiderar tudo aquilo que não concorde com as nossas crenças, e o recalque eliminatório, que nos faz recusar toda informação inadequada às nossas convicções, ou toda objeção vinda de fonte técnica considerada ruim. A normalização manifesta-se de maneira repressiva ou intimidatória. Cala os que teriam a tentação de duvidar ou de contestar. A normalização, portanto, com seus subaspectos de conformismo, exerce uma prevenção contra o desvio e elimina-o, se ele se manifesta. Mantém, impõe a norma do que é importante, válido, inadmissível, verdadeiro, errôneo, imbecil, perverso. Indica os limites a não ultrapassar. As palavras que não devem proferir. Os conceitos a desdenhar, as teorias a desprezar. O imprinting assimila a perpetuação dos modos de conhecimento e verdades estabelecidas. Obedece a processos de tribunais: uma cultura produz modos de conhecimento entre os homens dessa própria cultura. Através do seu modo de conhecimento, reproduzem a legitimidade que produz esse conhecimento. As crenças que se impõem são fortalecidas pela fé que as suscitaram. Se reproduzem não somente os conhecimentos, mas as estruturas e os modos reguladores que determinam a invariância desses próprios conhecimentos.                    

É isto exatamente o que ocorre. A prova disso, no entanto, ocorre com as anulações de concursos quando não surge o candidato certo. Mas o inegavelmente ridículo é quando operam um parecer contrário. Sustentando que a carreira do pesquisador não apresenta o desempenho (fálico) estimulado, ultrapassado pela quase “meia verdade”, caraterizada pelo conceito de estigma especificamente propalado por um cientista político estudioso das relações concretas de poder nas instituições. Mas isso não deve mascarar ou anular a originalidade complexa da comunidade/sociedade constituída pela trupe de cientistas, nem as ideias fixas, as obsessões intelectuais, themata, autônomas e dissociadas da estrutura social, que animam ou dispensam a busca específica da verdade objetiva da qual Michel Foucault, com razão, apoiando-se na exterioridade visível que Magritte nomeia seus quadros fabulosos infere dizendo: “Ceci n`est pas um pipe”, para impor respeito à denominação. René Magritte praticava tanto o surrealismo realista, como de uma forma muito interessante o realismo mágico. Começou a imitar a vanguarda, mas precisava realmente de uma linguagem mais poética e viu-se influenciado pela pintura metafísica de Giorgio de Chirico.

Nesse espaço quebrado e à deriva, que exige respeito, estranhas relações se tecem, intrusões se produzem, bruscas invasões destrutoras, quedas de imagens em meios às palavras, fulgores verbais que atravessam os desenhos e fazem-no voar em pedaços. Pacientemente, Paul Klee (1879-1940) constrói um espaço sem nome nem geometria, entrecruzando a cadeia dos signos e a trama das figuras. Magritte, quanto a ele, mina em segredo um espaço que parece mante na disposição tradicional. Mas ele o cava com palavras: e a velha pirâmide da perspectiva está carcomida em seu secreto mórbido está aponto de ruir, a sair de si própria e isolar-se. A arte da conversa, segundo Foucault (2016: 49) cotidianamente, “é a gravitação autônoma das coisas que fizeram suas próprias palavras na indiferença dos homens, impondo-a a eles, sem mesmo que eles o saibam, em sua tagarelice cotidiana”.  De fato, há nas formas sociais de motivação científica, um complexo variável e instável de interesse e desinteresse, do qual as buscas do graal de verdade, objetividade científico-social, elucidação são partes integrantes. Assim, a cegueira sobre tudo o que não é ambição, conhecimento e interesse social e vaidade nos esclarece apenas sobre as motivações e os comportamentos dos que semeiam a cegueira. O que ocorre é que à sombra do paradigma dominante, que o jovem Marx, na Alemanha, insistia em referir-se a ideologia dominante e um intenso cretinismo, coquetel de racionalização delirante, de sofística refinada e de grosseria determinista, trivializou pela força o não-trivial.

Ele se manifestou na biologia no determinismo pangenético, na linguística, na antropologia, na psicanálise e, evidentemente, na sociologia, na qual a complexidade das interações sociedade, a cultura e a sociedade e os indivíduos, foi ocultada pela concepção ao mesmo tempo determinista e trivial da sociedade e a organização do conhecimento; pisoteia todo o que deriva da criação intelectual; reduz a teoria e as ideias a puros objetos, produtos, instrumentos. Todas as interpretações deterministas, redutoras, trivializante têm algo em comum, por um lado, a ignorância do complexo das condições negativas ou permissivas favoráveis ao conhecimento e à ideia autônomos e, e por outro lado, uma rejeição extraordinária da ideia de indivíduo, inventor, criador; de resto, é aterrador ver o ódio suscitado entre os autores, os inventores e os criadores dessa desindividualização pela própria ideia de autor, inventor e criador. Percy Adlon é diretor, produtor e roteirista alemão. É considerado como um dos mais respeitados profissionais do cinema alemão, Adlon trabalhou como ator socialmente, antes de se tornar reconhecido como produtor de documentários. Em 1981, escreveu e dirigiu sua primeira peça teatral, Celeste, um espetáculo de teatro de sombras de médio formato, quase sem texto, com temática da mitologia onde as imagens poéticas das sombras. Um relato etnográfico dos últimos dias de Proust, narrado pela empregada. Um dos principais expoentes do cinema alemão, o filme Estação Doçura (1985), narra a história de uma atendente de funerária que seduz um condutor de metrô, o tornou reconhecido.

         Basta inferimos historicamente sobre a noção expressa: “Primum non nocere ou primum nil nocere” é um termo latino da bioética que significa “primeiro, não prejudicar”. A origem do termo geralmente é atribuída a Hipócrates (460 a. C. -377 a. C.), o pai da medicina, que escreveu que “o médico deve... ter dois objetivos, fazer o bem e evitar fazer o mal”. Também reconhecido como princípio da não maleficência. Geralmente usada por profissionais de saúde, em referência a necessidade de evitar riscos, custos e danos desnecessários aos pacientes ao fazer exames, diagnosticar, medicar ou fazer cirurgias.  Nas sociedades de classes as relações de propriedade são expressões jurídicas das relações materiais de produção. Assim, nas sociedades de classes, as relações de produção são relações entre classes sociais, proprietários e não proprietários. As relações de produção, conjuntamente com as forças produtivas são os componentes básicos do modo de produção material da sociedade. As relações de produção mais importantes são aquelas que se estabelecem entre os proprietários dos meios de produção e os trabalhadores apartados politicamente do controle social dos meios de produção. Isso porque todo processo produtivo, desde o pensamento econômico de Marx, conta com pelo menos dois agentes sociais básicos: trabalhadores e proprietários dos meios materiais de produção. A origem histórica das empresas multinacionais remonta ao processo de colonização e de expansão imperialista dos países da Europa Ocidental, iniciado no começo do século XVI, com Inglaterra e Holanda primus inter pares. Durante este período, diversas empresas, como a famosa Companhia Holandesa das Índias Orientais, foram criadas para realizar a comercialização de bens oriundos do Extremo Oriente, da África e das Américas.

Todavia, a estruturação das empresas transnacionais como reconhecemos surgiu apenas no século XIX, com o advento do capitalismo industrial e o desenvolvimento no sistema fabril, baseado na mecanização intensiva da produção, no desenvolvimento de melhores técnicas de estocagem e na criação de meios de transporte mais rápidos. Nas duas primeiras décadas após a 2ª guerra mundial, as empresas internacionais norte-americanas dominaram o investimento estrangeiro, enquanto as corporações europeias e japonesas passaram a desempenhar um papel maior nesse cenário. Na década de 1950, os bancos americanos, europeus e japoneses começaram a investir enormes somas de dinheiro na indústria, encorajando fusões corporativas e promovendo a concentração do capital. Os grandes avanços tecnológicos no transporte marítimo e aéreo, bem como a informatização e a facilitação dos meios de comunicação propiciaram que as empresas internacionais investissem em países e mercado de comércio internacional, resultando na rápida internacionalização. Enquanto isso, os recursos publicitários ajudaram a garantir parcela maior do mercado consumidor às empresas internacionais, ultrapassando os limites territoriais dos países de origem das empresas, com a instalação de filiais, em países em busca de mercado consumidor de energia, matéria-prima e mão de obra.

            Para garantir sua soberania contra um dos maiores impérios do mundo, Taiwan apostou na tecnologia e desenvolveu o Escudo de Silício, uma estratégia que evita o ataque dos vizinhos chineses. O termo foi criado por Craig Addison, um jornalista que escreve para o veículo jornalístico The South China Morning Post. O profissional lançou o livro: Silicon Shield: Taiwan`s Protection Against Chinese Attack (2001) e entrevista à BBC falando sobre o tema. O primeiro esclarecimento que o jornalista fez é que Taiwan não possui um escudo de verdade, como os antimísseis que Israel utiliza para evitar ataques aéreos da Palestina. As fabricantes do produto vêm tentando aumentar sua capacidade de produção e alterar os seus processos de fabricação. No caso, a terminologia funciona como uma estratégia da ilha, já que ela é líder mundialmente na fabricação de chips semicondutores. Os produtos básicos, que são essenciais na fabricação de celulares, computadores, videogames e carros, são geralmente produtos feitos de silício e acabam sustentando parte da economia moderna. Um ataque chinês ao país poderia afetar a produção dos chips e causar um déficit não só na economia chinesa, mas mundial. - O “escudo de silício” é semelhante ao conceito de Destruição Mútua Assegurada que teve sua progênie na Guerra Fria no estreito de Taiwan tão prejudicial à China quanto as relações internacionais entre Taiwan e os Estados Unidos da América.

            Os Estados Unidos usaram a Agência Central de Inteligência (CIA) para minar os governos “neutros” ou “hostis” do Terceiro Mundo e apoiar os aliados. Em 1953, o presidente Eisenhower implementou a Operação Ajax, operação secreta de golpe para derrubar o primeiro-ministro iraniano, Mohammad Mosaddegh, que foi popularmente eleito e inimigo do Reino Unido no Oriente Médio desde a nacionalização da Companhia Anglo-Iraniana de Petróleo, de propriedade britânica, em 1951. Winston Churchill disse aos Estados Unidos que Mosaddegh estava “cada vez mais se voltando para a influência comunista”. O xá pró-ocidental, Mohammad Reza Pahlevi, assumiu o controle como um monarca autocrático. Os impérios coloniais ocidentais na Ásia e na África entraram em colapso nos anos seguintes a 1945. Na Guatemala, uma república das bananas, o golpe de Estado guatemalteco de 1954 derrubou o presidente de esquerda Jacobo Árbenz com apoio sustentado materialmente da CIA. O governo pós-Arbenz, melhor dizendo, uma junta militar liderada por Carlos Castillo Armas que revogou uma lei progressista de Reforma Agrária, devolveu propriedades nacionalizadas pertencentes à United Fruit Company, criou um Comitê Nacional de Defesa Contra o Comunismo e uma Prevenção Penal Lei Contra o Comunismo, a pedido dos Estados Unidos.

O governo indonésio não alinhado de Sukarno enfrentou uma grande ameaça à sua legitimidade a partir de 1956, quando vários comandantes regionais começaram a exigir autonomia de Jacarta. Depois que a mediação falhou, Sukarno tomou medidas para remover os comandantes dissidentes. Em fevereiro de 1958, os comandantes militares dissidentes no centro de Sumatera (coronel Ahmad Hussein) e no Sul de Sulawesi (coronel Ventje Sumual) declararam o governo revolucionário da República da Indonésia - movimento permesta destinado a derrubar o regime de Sukarno. A eles se juntaram muitos políticos civis do Partido Masyumi, como Sjafruddin Prawiranegara, que se opunham à crescente influência do partido comunista Partai Komunis Indonésia. Devido à sua retórica anticomunista, os rebeldes politicamente receberam armas, fundos e outras ajudas secretas da CIA até Allen Lawrence Pope (1928-2020), um piloto norte-americano, ser abatido após um bombardeio a Ambon em abril de 1958. O governo central respondeu lançando invasões militares aéreas e marítimas das fortalezas rebeldes Padang e Manado. Precisamente no final de 1958, os rebeldes foram derrotados e os últimos grupos de guerrilhas rebeldes restantes se renderam em agosto de 1961.

Na República do Congo, independente da Bélgica desde junho de 1960, o presidente Joseph Kasa-Vubu, que havia sido implantado pela CIA, ordenou a demissão do primeiro-ministro democraticamente eleito Patrice Émery Lumumba, nascido como Élias Okit`Asombo, foi um líder anticolonial e político quinxassa-congolês e do gabinete governamental em setembro. Na crise do Congo que se seguiu, o coronel Mobutu Sese Seko, apoiado pela CIA, rapidamente mobilizou suas forças para tomar o poder através de um golpe militar e trabalhou com agências de inteligência ocidentais para assassinar Lumumba. Na Guiana Britânica, o candidato esquerdista do Partido Popular Progressista (PPP), Cheddi Jagan, conquistou o cargo de ministro-chefe em uma eleição administrada colonialmente em 1953, mas foi rapidamente forçado a renunciar ao poder após a suspensão da Constituição federal da nação ainda dependente do Reino Unido. Envergonhados pela vitória eleitoral esmagadora do partido supostamente marxista de Jagan, os britânicos aprisionaram a liderança do PPP e manobraram a organização em uma ruptura divisória em 1955, criando uma divisão entre Jagan e seus colegas do PPP. Cheddi Jagan venceu novamente as eleições coloniais em 1957 e 1961; apesar da mudança britânica para uma reconsideração de sua visão do Jagan de esquerda como um comunista de estilo soviético naquele momento, os Estados Unidos da América pressionaram a união política do Reino Unido a reter a Independência da Guiana até que uma alternativa a Jagan pudesse ser identificada, apoiada e trazida no cargo.

Desgastados pela guerra de guerrilha comunista pela independência do Vietnã e derrotados pelos rebeldes comunistas vietnamitas na Batalha de Dien Bien Phu, em 1954, os franceses aceitaram o abandono negociado de sua participação colonial no Vietnã. Na Conferência de Genebra, foram assinados acordos de paz, deixando o Vietnã dividido entre uma administração pró-soviética no Vietnã do Norte e uma administração pró-ocidental no Vietnã do Sul, em uma divisão marcada no 17º paralelo Norte. Assim foi estabelecido o Paralelo 17, que determinou que o norte do país seria ocupado por chineses, e o Sul, por britânicos. Nesse contexto social e político, um movimento de independência tinha surgido no Vietnã, o Vietminh. Esse grupo de orientação comunista formou um governo autônomo no país. Entre 1954 e 1961, os Estados Unidos de Eisenhower enviaram ajuda econômica e assessores militares para fortalecer o regime pró-ocidental do Vietnã do Sul contra os esforços comunistas de desestabilizá-lo.  Muitos países emergentes da Ásia, África e América Latina rejeitaram a pressão para escolher lados na competição Ocidente-Oriente. Em 1955, na Conferência de Bandung, na Indonésia, dezenas de governos do Terceiro Mundo resolveram ficar de fora da Guerra Fria. É um termo da Teoria dos Mundos que descrevia os países que não estavam alinhados de forma claramente com os países centrais da Guerra Fria. O Terceiro Mundo englobava países capitalistas subdesenvolvidos, como o Brasil, a Índia, o México, a Argentina, o Chile, a Bolívia e a maioria dos países africanos e do subcontinente indiano. O consenso alcançado em Bandung culminou com a criação do Movimento Não Alinhado, com sede em Belgrado, em 1961. Enquanto isso, Nikita Kruschev ampliou a política de Moscou para estabelecer laços de afinidade eletiva com a Índia e importantes Estados neutros. Os movimentos de independência no Terceiro Mundo transformaram a ordem do pós-guerra e mundo mais pluralista de nações descolonizadas da África e do Oriente Médio e de crescente nacionalismo na Ásia e na América Latina.

Seja por necessidade econômica, necessidade de proteção ambiental ou de retorno financeiro. Simultaneamente, a natureza da efemeridade dos programas computacionais e a lógica pragmática da indústria de softwares induziram também o ideário do conceito como é visto amplamente nos Mass mídia de descarte e atualização de mercadorias. De forma complementar, o desenvolvimento da indústria automobilística entrou no patamar de configuração social dos veículos, também por questões de reciclagem e descarte que alimentariam a cadeia produtiva desde a fonte, em termos de reduzir a espessura das latarias e materiais em função da absorção de impactos em colisões. Este elemento, de origem investigativa com base em pesquisas de colisão, com modelos e bonecos, por si só inseriu também em parte a necessidade de redução da resistência mecânica e, portanto, durabilidade material das latarias, fato perceptível no senso comum da população. Estas diferenças produziram uma geração familiarizada com a baixa durabilidade e efemeridade dos produtos socialmente produzidos. Neste ambiente volátil, por vezes hostis assistimos à queda das profissões e a relativização de outras, a lógica do trabalho então reconhecida das profissões e novas carreiras adquiriram novo significado e grau de comprometimento.

A geração Y foi desta forma superexposta a novo nível de informação, afastada dos trabalhos braçais e sobrecarregada de prêmios e facilidades materiais em troca de pouco, ou nenhum esforço físico. Em parte, este processo social ocorreu devido a uma aparente compensação inegável a partir dos pais, originários da geração X, possivelmente tentando compensar a lacuna material pelo qual podem ter passado, se comparadas às prosperidades econômicas da geração X com a da Y. Possivelmente tentando viver um nível de materialismo econômico através de seus filhos e netos. Eles cresceram vivendo em ação, estimulados por atividades técnico-científicas, fazendo por gosto tarefas múltiplas. Acostumados a conseguirem o que querem, talvez, sem esforço ou prazos consideráveis, não se sujeitam às tarefas subalternas de início de carreira e desejam salários ambiciosos cedo, em geral com a suposição de que conhecimento e currículo técnico tornam desnecessários outros atributos profissionais. É comum que os jovens dessa geração troquem de emprego com frequência em busca de oportunidades que ofereçam mais desafios e crescimento profissional, ou em função de uma evasão de cérebros e de dificuldades típicas de inúmeras novas carreiras. A discrepância na percepção sobre o trabalho e carreira é evidente em fóruns na internet. Observa-se o confronto de gerações e o discurso divergente, criticando a postura da geração Y como um aparente “sem interesse” e diversos adjetivos utilizados socialmente.                       

Uma característica básica que define esta geração humana é a utilidade de uso de aparelhos de tecnologia, como telefones celulares de última geração, os chamados smartphones (“telefones inteligentes”), para muitas outras finalidades além de apenas fazer e receber ligações como é característico das gerações anteriores. A geração Y, também reconhecida por “geração do milênio”, representava, primeiro em 2012, cerca de 20% da população global. Desenvolveram-se num mundo digital e estão familiarizados com dispositivos móveis e comunicação social dita em tempo real. Como tal são um tipo específico de consumidores, exigentes, bem informados e com peso na tomada de decisões de compra. São a primeira geração verdadeiramente globalizada. Cresceram com a tecnologia e usam-na desde a primeira infância. A rede internet é, para eles, uma necessidade essencial e, com base no acesso facilitado, desenvolveram uma grande capacidade em estabelecer e manter relações pessoais próximas que à distância. A tecnologia e os dispositivos móveis (tablets e smartphones) em particular, criaram condições de comunicação para a geração Y como nenhuma geração o tinha feito, permitindo partilhar experiências, trocar impressões, comparar, aconselhar, criar e divulgar “conteúdos”, o fundamento das redes sociais. Em 2016, dados estatísticos demonstram que esses Millenials, já estavam investindo extraordinariamente mais tempo assistindo vídeos, em smartphones do que praticamente assistindo TV ao vivo.

A geração do milênio tem a expectativa de obter informação e entretenimento disponíveis em qualquer lugar e em qualquer altura. Afirma-se mesmo que eles têm que sentir que controlam o ambiente em que estão inseridos, tendendo a obter informação de forma fácil e rápida e ainda que estarem aptos a ter vidas menos estruturadas. Enquanto grupo social crescente, tem se tornado o público-alvo das ofertas de novos serviços e na difusão de tecnologias, muitas vezes em função da velocidade e revenda de produtos praticamente idênticos, através do imaginário da necessidade absoluta de atualização de software e/ou hardware, como ícone de condição de inserção social e econômica. As empresas desses segmentos visam a atender essa nova geração de consumidores, que constitui um público exigente, atualizado e ávido por inovações. Aparentemente e às vezes preocupados com o ambiente das cidades e as causas sociais, têm um ponto de vista diferente das gerações anteriores, que viveram épocas de guerras e grande desemprego. Mas se engana quem pensa que a geração Y é um “mar de rosas”. Nascidos de pós-utopias e modificação de visões políticas e existenciais, a chamada Geração Y cresceu em meio a um crescente individualismo, egoísmo e extremada competição. Não são jovens que, igualmente, têm a mesma consciência das gerações da contracultura.  

E também, como as informações aparecem numa progressão geométrica e circulam a uma velocidade e tempo jamais vistos, o conhecimento tende a ser encarado com superficialidade. A geração Y desenvolveu-se num contexto macroeconômico pós-guerra fria, onde as dicotomias extremas foram em parte dissolvidas, ipso facto com simbologia principal a queda do Muro de Berlim e os partidos políticos multiplicaram-se e assimilaram características dos outros, tornando a percepção desta geração, com relação a que posicionamento tomar, mais complexa e sem base que a da geração X. A dinâmica sociopolítica e econômica e a efemeridade dos elementos sociais produziram ideologias instáveis e flexíveis, de forma que o partidarismo e o estímulo do liberalismo ao consumo, abriram fendas pouco nítidas a esta geração. Os homens de uma cultura, pelo seu modo de conhecimento, produzem a cultura que produz seu reconhecimento. A cultura gera os conhecimentos que regeneram a cultura. Ao considerar-se a que ponto o conhecimento é produzido por uma cultura, dependente de uma cultura, integrado a uma cultura, pode-se ter a impressão de que nada seria capaz de poder libertá-lo. Mas isso seria, sobretudo, ignorar as potencialidades de autonomia relativa, no interior de todas aquelas culturas, dos espíritos individuais. Os indivíduos não são todos, e nem sempre, mesmo nas condições mais fechadas, máquinas triviais obedecendo à ordem social e às injunções culturais. Seria ignorar que toda cultura está vitalmente aberta ao mundo exterior, de onde retira objetivos e que conhecimentos e ideias migram entre as culturas.

Seria ignorar que aquisição de uma informação, a descoberta de um saber, a invenção de uma ideia, podem modificar e transformar uma sociedade, mudar o curso da história. Assim, o conhecimento está ligado, por todos os lados, à estrutura da cultura, à organização social, à práxis histórica. Sempre por toda parte, o conhecimento científico transita pelos espíritos individuais, que dispõem de autonomia potencial, a qual pode em certas condições sociais e políticas atualizarem-se e tornar-se um pensamento pessoal crítico. Nada, à primeira vista, parece tão fácil como determinar o papel da divisão do trabalho. Acaso seus esforços não são reconhecidos por todos? Por aumentar ao mesmo tempo social a força produtiva e a habilidade do trabalho, ela é condição necessária do desenvolvimento intelectual e material das sociedades; é a fonte da civilização. Por outro lado, como se presta de bom grado à civilização um valor absoluto, sequer se pensa em procurar outra função para a divisão do trabalho. Que ela tenha mesmo esse resultado, é o que não se pode pensar em discutir. Mas se ela não tivesse nenhum outro e não servisse a outra coisa, não se teria razão alguma para lhe atribuir um caráter moral. De fato, os serviços que ela presta assim são quase completamente estranhos à vida moral, ou, pelo menos, têm com ela apenas relações muito indiretas e distantes. Embora seja corrente responder às diatribes de J.-J. Rousseau com diatribes em sentido inverso, não está em absoluto provado que a civilização seja uma coisa plenamente constituída de moral. Para solucionar a questão, não se pode referir a análises de conceitos, que são necessariamente subjetivos; seria necessário, conhecer um fato capaz de servir para medir o nível de moralidade média e observar em seguida como ele varia, à medida que a civilização progride. Infelizmente, falta-nos essa unidade de medida, mas possuímos uma para a imoralidade coletiva. Se aliás, analisarmos esse complexo mal-definido a que chamamos civilização, descobrimos que os elementos de que é composto são desprovidos de caráter moral. É o suposto de análise que sustentamos no ensaio.       

Bibliografia Geral Consultada.

FAULKNER, Harold Underwood, História Económica de los Estados Unidos. Buenos Aires: Editora Nueva, 1954; LLOYD, Geoffrey Ernest Richard, Le Temps Dans la Pensée Grecque. Paris: Editeur Organisation des Nations Unies, 1972; GILLESPIE, John, Population Genetics. A Concise Guide. Baltimore/London: The Johns Hopkins University Press, 1998; ROMANO, Vicente, Desarrollo y Progreso: Por una Ecologia de la Comunicación. Barcelona: Editorial Teide, 1993; DARWIN, Charles, A Origem das Espécies e a Seleção Natural. São Paulo: Editora Hemus, 2003; LINDEN, Ricardo, Algoritmos Genéticos. Uma Importante Ferramenta da Inteligência Computacional. Rio de Janeiro: Catálogo Brasport, 2006; ALLEGRO, Luís Guilherme Vieira, A Reabilitação dos Afetos: Uma Incursão no Pensamento Complexo de Edgar Morin. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2007; MORIN, Edgar, Edwige, L`Inséparable. Paris: Éditions Fayard, 2009; AMSDEN, Alice Hoffenberg, A Ascensão do Resto: Os Desafios ao Ocidente de Economias com Industrialização Tardia. São Paulo: Editora Unesp, 2009; DURKHEIM, Émile, Da Divisão do Trabalho Social. 4ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2010; DUARTE, Luiz Fernando Dias, “O Nervosismo como Categoria Nosográfica no Começo do Século XX”. In: História, Ciências da Saúde – Manguinhos. Rio de Janeiro, vol. 17, supl. 2, dez. 2010, pp. 313-326; FREITAS, Francisco Augusto Canal, Habitar o Hábito: Reflexão e Origem da Cidade no Pensamento de Walter Benjamin. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2012; FOUCAULT, Michel, “De Espaços Outros”. In: Revista de Estudos Avançados. São Paulo, vol. 27, n° 79, pp. 113-122, 2013; HARVEY, David, Cidades Rebeldes: Do Direito à Cidade à Revolução Urbana. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2014; JUNQUEIRA, Flávia, A Teatralidade na Vida Cotidiana. Dissertação de Mestrado. Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2014; LELOUP, Jean-Yves, Une Danse Immobile. Paris: Éditions Du Relie, 2015; AFTEL, Mandy, Essência e Alquimia. Belo Horizonte: Editor Laszlo, 2020; ALVAREZ, Gabriel, A problemática do Direito à Cidade no Urbano Contemporâneo. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2023; entre outros.   

quarta-feira, 5 de junho de 2024

Um Homem de Sorte – Moinho, Modernidade & Progresso Social.

                                                             O coração do homem é como um moinho que trabalha sem parar”. Martin Lutero

O cinema dinamarquês na década de 1990 foi dominado pelo cineasta Lars von Trier. Seus filmes Europa (1991), Breaking the Waves (1996), The Idiots (1998) e Dancer in the Dark (2000) receberam grande atenção internacional e foram indicados a vários prêmios. O Dogme 95 Collective, representou um movimento social cinematográfico internacional lançado a partir de um manifesto publicado em 13 de março de 1995 em Copenhague, na Dinamarca. Os autores foram os cineastas dinamarqueses Thomas Vinterberg e Lars von Trier. Chamou a atenção do mundo ocidental do cinema internacional com seus estritos “votos de castidade” ou regras para cineastas que forçam os cineastas a se concentrarem na pureza da história e nas performances dos atores, em vez de efeitos especiais e outros dispositivos cinematográficos. O primeiro filme Dogme 95, The Celebration (Festen, 1998), dirigido por Thomas Vinterberg, recebeu muitos prêmios no circuito internacional de festivais de cinema e foi nomeado pela Los Angeles Film Critics Association e pelo New York Film Critics Circle como “o melhor filme de língua estrangeira filme do ano”. Os membros do Dogme 95 Collective eram von Trier, Vinterberg, Kristian Levring e Søren Kragh-Jacobsen. Embora o movimento Dogme 95 tenha se originado na Dinamarca, cineastas de todo o mundo logo experimentaram as diretrizes rígidas e buscaram a certificação para seus filmes como Dogme. Além disso, o próprio filme Dogma (1995)de Lars von Trier, Idioterne (1998), iniciou uma onda separada de filmes mainstream de arte com sexo não simulado. Lars von Trier também fez história cinematográfica ao ter sua empresa Zentropa sendo a primeira empresa de cinema mainstream do mundo “a produzir filmes pornográficos hardcore”.

Três desses filmes: Constance (1998), Pink Prison (1999) e o crossover adulto/mainstream All About Anna (2005), foram realizados principalmente para um público feminino e foram extremamente bem sucedidos na Europa, com os dois primeiros sendo diretamente responsáveis pela “legalização da pornografia em março de 2006 na Noruega”. O cinema dinamarquês continua a ser influenciado positivamente pelo Estado através do bem-sucedido Danish Film Institute (DFI), fundado em 1972. É a agência nacional de cinema e cultura cinematográfica do Ministério da Cultura. DFI apoia o desenvolvimento, produção e distribuição de filmes e administra os arquivos nacionais. Os programas de apoio também se estendem à educação cinematográfica de coproduções internacionais e à promoção internacional em festivais de cinema. Apenas uma semana antes de vencer em Göteborg, A House Made of Splinters (2022) recebeu o World Cinema Documentary Directing Award em seu lançamento mundial em Sundance. – “As in Heaven” estreou no Festival de Cinema de Toronto (2021) e ganhou duas Conchas de Prata em San Sebastian de Melhor Diretor para Tea Lindeburg, o primeiro dinamarquês a ganhar este prêmio, e de melhor desempenho para Flora Ofelia Hofmann Lindahl, mais reconhecida como Flora Ofelia, cantora e atriz dinamarquesa que venceu o concurso de canto do Festival Eurovisão da Canção (2015), com sua canção “Du Du Du Du” e desde então apareceu na série de televisão Cry Wolf e no longa-metragem As in Heaven, dividindo o prêmio com Jessica Chastain. São reconhecidos os vencedores do Festival de San Sebastián, que penetraram na sua 58ª edição. O Festival Internacional de Cinema de San Sebastián decorreu de 17 a 25 de setembro, no País Basco espanhol, em San Sebastián.

A DFI Film House é aberta ao público e abriga a Cinemateca nacional. Inclui uma biblioteca, um arquivo de fotos e pôsteres e um arquivo de filmes. A DFI apoia a produção de 20-25 longas-metragens e 25-30 documentários e curtas-metragens todos os anos. Existem três tipos de apoio: o esquema do comissário de cinema, o esquema de mercado e o de desenvolvimento de talentos na New Danish Screen. A DFI incentiva parcerias internacionais e permite 5-9 coproduções menores em longas-metragens e 4-6 coproduções menores em documentários por ano. Uma pedra angular da política cinematográfica dinamarquesa é financiar filmes infantis e juvenis para os quais 25% de todos os subsídios são alocados. DFI recebeu críticas por falta de inovação - notavelmente, Dogme 95 aconteceu apesar do financiamento do Film Institute - e às vezes é acusado de nepotismo e compadrio, por exemplo, quando o comissário de cinema Mikael Olsen de 1998 a 1999 deu luz verde a 28 milhões de coroas de dinheiro de subsídio para seu amigo de infância Peter Aalbæk Jensen, é um produtor cinematográfico dinamarquês que em 1992, com Lars von Trier, fundou a produtora cinematográfica dinamarquesa Zentropa e mais tarde um enorme complexo de estúdios Filmbyen. Seu pai era o escritor Erik Aalbæk Jensen (1923-1997), depois passou a trabalhar para ele “em uma posição de alto escalão”. O Danish Film Institute, no entanto, também alcançou alto nível de profissionalismo, policompetente, para lembrarmos de Edgar Morin, mesmo que mais ou menos reservado para alguns gêneros e empresas de produção selecionados, principalmente Nordisk Film, Zentropa e Nimbus Film. Em fevereiro de 2008, a Nordisk Film comprou metade da Zentropa, que coproduz com a Nimbus Film, mas esses monopólios financiados (cf. Hilferding, 2011) por impostos e sancionados pelo Estado muito raramente são desaprovados na Dinamarca.

Gothersgade corre ao longo do antigo curso original da Muralha Oriental do antigo Anel de Fortificação de Copenhague. Originalmente Ny Kongensgade, literalmente “Rua do Novo Rei”, foi estabelecido por volta de 1647 depois que a Muralha Oriental foi tomada em uma direção mais ao norte para expandir a cidade fortificada com uma grande área nova reconhecida como Nova Copenhague. Nesse ponto, a rua só ia até o local da atual Estação Nørreport, onde se encontrava como fortificações a Nordeste do North City Gate. Em 1870, após o desmantelamento das fortificações e o nivelamento dos seus terrenos, a rua foi alargada em seu comprimento atual. Em 1892, a primeira usina pública de eletricidade de Copenhague, a Gothersgade elektriske Centralstation, foi inaugurada na esquina de Gothergade e Adelsgade. Foi instalado atrás das fachadas das casas em direção a Gothergade e era incomum por sua localização central. Foi ampliado e modernizado diversas vezes. Contudo, desde 1994 ela funciona apenas como subestação de distribuição de eletricidade e aquecimento central. Em 1920-1930, uma seção de Gothersgade dos extraordinários Jardins do Castelo de Rosenborg ao Lago Sortedam foi ampliada.

O filme Um Homem de Sorte (2018) baseado no livro “Lykke-Per” (1898-1904), de Henrik Pontoppidan, nascido em Fredericia, em 24 de julho de 1857 e morto em Copenhagen, em 21 de agosto de 1943, foi um escritor galardoado com o Nobel de Literatura de 1917. Os três romances que considerados como as principais obras de Pontoppidan foram escritos de 1890 a 1920. Nestas obras estabeleceu, segundo ele próprio, uma versão dinamarquesa do romance como “ampla descrição da sociedade”, na tradição de Honoré de Balzac (1799-1850) e Émile Zola (1840-1902). Centrada num herói, ele apresenta um quadro da Dinamarca de seu tempo da luta constitucional entre Conservadores e Liberais, da industrialização in statu nascendi, dos conflitos culturais e do despertar dos movimentos sociais revolucionários. Dirigido por Bille August, o longa-metragem narra a história social de Peter Andreas Sidenius (Esben Smed), um talentoso estudante de engenharia que cresceu ambientado com uma família religiosa na cidade de Jutland, na Dinamarca. Ao ser admitido na faculdade, o jovem abandona raízes religiosas do Luterano pai para tentar a sorte em Copenhague.  Com carta de aceitação, o jovem se sente encorajado a romper com os pais religiosos, e parte para onde deverá viver pelos próprios meios, sem auxílios nem privilégios. Em Copenhague, conhece figurações que irão desempenhar papéis fundamentais em sua psicologia, revelando vícios e virtudes. Um Homem de Sorte revela um protagonista multifacetado e movido por sentimentos contraditórios.

A única oportunidade na vida em que os indivíduos têm de buscar sozinhos a realização dos anseios pessoais, predominantemente com base em suas próprias decisões, envolve um tipo especial de risco. O conceito de figuração, segundo Elias (2006) distingue-se de outros conceitos teóricos da sociologia por incluir expressamente os seres humanos em sua formação social. Contrasta com um tipo dominante de formação de conceitos que se desenvolve sobretudo na investigação de objetos sem vida, portanto no campo da física e da filosofia para ela orientada. Há figurações de estrelas, per se como as de plantas e de animais. Mas apenas os seres humanos formam figurações uns com os outros. O modo de sua vida conjunta em grupos grandes e pequenos é, de certa maneira, singular e sempre co-determinado pela transmissão de conhecimento de uma geração a outra, por tanto por meio do ingresso singular do mundo simbólico específico de uma figuração sociológica já existente de seres humanos. Às quatro dimensões espaço-temporais indissoluvelmente ligadas se soma, no caso dos seres humanos, uma quinta, a dos símbolos socialmente apreendidos. Sem sua apropriação, sem, por exemplo, o aprendizado de uma determinada língua especificamente social, culturalmente os seres humanos não seriam capazes de se orientar no seu mundo nem de se comunicar uns com os outros. Um ser humano adulto, que não teve acesso aos símbolos da língua e conhecimento de grupo permanece fora das figurações humanas, pois não é um humano; é um ser a-social.

As diversas definições funcionalistas de controle social, por exemplo, são demasiado amplas e vagas, e, portanto, seria legítimo indagar, escolhendo-as mais ou menos ao acaso, para inferir que resultam em termos de um controle, isto é, qualquer estímulo ou complexo de estímulos que provoca uma determinada reação. Assim, pois, todos os estímulos são controles, pois representam a direção do comportamento por influências grupais, estimulando ou inibindo a ação individual ou grupal. O controle social pode ser definido, portanto, como a soma total ou, antes, o conjunto de padrões culturais, símbolos sociais, signos coletivos, valores culturais, ideias e idealidades, comparativamente tanto como atos quanto como processos diretamente ligados a eles, pelo qual a sociedade inclusiva, cada grupo particular, e cada membro individual participante superam as tensões e os conflitos entre si, através do equilíbrio temporário, e se dispõem a novos esforços criativos. Ipso facto, em toda a dimensão da vida associativa deverá haver algum ajustamento de relações sociais tendentes a prevenir a interferência de direitos e privilégios entre os indivíduos. De maneira mais específica, são três as funções do que podem ser estabelecidas pelo meio de trabalho e de controle social: a obtenção e a manutenção da ordem, da proteção social e da eficiência social.

O seu emprego na sociologia contribuiu consideravelmente para produzir uma simplificação do ponto de vista técnico-metodológica ou redução sociológica na análise dos problemas sociais, conseguida proporcionalmente, graças à compreensão positiva da integração das contradições correspondentes no sistema de organização das sociedades e da importância relativa de cada um deles, como e enquanto expressão do jogo social. Embora obscuro e equívoco, em seu significado corrente, o conceito de controle social é necessário à sociológica na modernidade, encontraram um sistema de referências propício à sua crítica analítica científica, seleção lógica e coordenação metódica. O crescimento de um jovem convivendo e habitando comum em figurações humanas, como processo social e experiência, assim como o conjunto do aprendizado de um determinado esquema de autorregulação na relação social com os seres humanos, é condição indispensável ao desenvolvimento rumo à humanidade. Neste sentido, não queremos perder de vista que “socialização” e “individualização” de um ser humano, são nomes diferentes para o processo. Cada ser humano assemelha-se aos outros, e é, ao mesmo tempo, diferente de todos os outros. Por vezes teorias sociológicas ou filosóficas deixam sem resolver o essencial da relação dialética entre indivíduo e sociedade.

O convívio dos seres humanos tem sempre, mesmo no caos, na desintegração, na maior desordem social, uma forma absolutamente determinada. É isso que o conceito de figuração exprime. O processo de concentração física de força pública se acompanha de uma desmobilização da violência ordinária. A violência física só pode ser aplicada por um agrupamento especializado, especialmente mandatado para esse fim, claramente identificado no seio da sociedade pelo uniforme, portanto um agrupamento simbólico, centralizado e disciplinado. A noção de disciplina, sobre a qual Max Weber escreveu páginas magníficas, é capital: não se pode concentrar a força física sem, ao mesmo tempo, controla-la, do contrário é o desvio da violência física, e o desvio da violência física está para a violência física assim como o desvio de capitais está para a dimensão econômica: ou seja, é o equivalente da concussão. A violência física pode ser concentrada num corpo formado para esse fim, claramente identificado em nome da sociedade em si pelo uniforme simbólico, especializado e disciplinado, isto é, capaz de obedecer como um só homem a uma ordem central que, em si mesma, não é geradora de nenhuma ordem. O conjunto das instituições mandatadas para garantir a ordem, a saber, as forças públicas e de justiça, são separadas pouco a pouco do mundo social corrente. Essa concentração do capital físico se realiza num duplo aspecto e contexto. Para uns, o desenvolvimento do exército profissional está ligado à guerra, assim como o imposto sobre o trabalho humano e renda econômica e social; mas há também a guerra interior, a guerra civil, a arrecadação do imposto como uma espécie de guerra civil.

Na cidade grande, o rapaz tenta divulgar um projeto acadêmico com potencial revolucionário no controle de fornecimento de energia e iluminação pública na cidade. Em pleno final do século XIX, ao invés de usar o carvão, como matéria-prima, que é finito, a energia “seria captada das forças da natureza, como o vento e as ondas do mar. Neste sentido para atrair atenção ao seu trabalho, Peter passa a frequentar a casa da família Solomon e logo se interessa por Jakobe (Katrine Greis-Rosenthal), a filha mais velha, que é noiva de Eybert (Rasmus Bjerg).  O bom trabalho de Esben Smed é essencial para o andamento do filme. O drama do século XIX apresenta três histórias sociais sobre o seu protagonista. sua relação com a religião após uma infância complicada, seu interesse por diversas mulheres e sua batalha contra os seus “monstros interiores” enquanto convive em sociedade. O mérito da obra de Bille August é apresentar que o mesmo orgulho que motiva Peter pode representar seu fim, o que pragmaticamente quer dizer, segundo Max Weber: “fim é a representação de um resultado que se converte em causa de uma ação”.

Entretanto se o protestantismo Luterano é a religião oficial, sua influência na sociedade dinamarquesa não se assemelha nem um pouco à influência religiosa de formação nem um pouco exercido no restante do continente europeu.  O protagonista demonstra que tem o controle da situação quando o assunto é seu emprego, mas se perde para a arrogância quando precisa demonstrar gentileza. Sem conseguir resolver seus problemas com os pais, Peter prefere ter uma angústia permanente. E essa angústia transforma a vida de diversas pessoas, seja para o lado positivo ou negativo. O diretor não se apressa para o desenvolvimento ficcional – são 2 horas e 47 minutos sem o menor receio de alongar as cenas. Apesar de ser a proposta do filme, sua duração também joga contra seu próprio enredo. Quer dizer, não existe uma grande cena, um ápice na história de Peter. As cenas são direcionadas para servir aos sentimentos do personagem de Smed. O roteiro, que o diretor divide a coautoria com Anders Frithiof August, retomando o questionamento relevante na história de Peter: os valores enraizados na infância podem influenciar através da memória na criação e desenvolvimento de ideias de um adulto.

O filme Um Homem de Sorte é um extraordinário exemplo de penetração da revolucionária modernidade da arte, sem distanciar-se da proximidade com a humildade e o altruísmo, que são pródigos benefícios que deveriam aparecer naturalmente nas pessoas, independente da vocação religiosa. A obra reforça também a importância de cada pessoa lutar contra seus próprios preconceitos para permitir-se um desaguar com a felicidade. A busca pelo revolucionário é plausível desde que o egoísmo abra espaço para a humildade. Filho de um vigário da Jutlândia e pertencente a uma antiga família de vigários de carreira e per se de notáveis escritores, Pontoppidan não desistiu aparentemente da formação técnico-metodológica como engenheiro, mas trabalhou como professor primário, tendo-se dedicado ao jornalismo independente e à escrita a “tempo inteiro” (tout court) fazendo a sua estreia literária em 1881. Quanto ao estilo, Pontoppidan tem sido descrito como “naturalista inato”. A sua linguagem parece pura, simples e facilmente, mas muitas vezes está carregada de símbolos e sugestões claras secretas, ironia disfarçada e descrições objetivas. Ele revia com frequência os trabalhos anteriores, simplificando-os, mas mudando a sua trama ou aguçando a sua atitude.

As motivações que ordenam os símbolos não apenas já não formam longas cadeias de razões, mas nem sequer cadeias. A explicação linear tipicamente de dedução lógica ou narrativa introspectiva não basta para o estudo das motivações simbólicas. A classificação dos grandes símbolos da imaginação em categorias motivacionais distintas apresenta, com efeito, pelo próprio fato da não linearidade e do semantismo das imagens, grandes dificuldades. Metodologicamente, se se parte dos objetos bem definidos pelos quadros da lógica dos utensílios, como faziam as clássicas “chaves dos sonhos”, segundo as estruturas antropológicas do imaginário, cai-se rapidamente, pela massificação das motivações, numa inextricável confusão. Parecem-nos mais sérias as tentativas para repartir os símbolos segundo os grandes centros de interesse de um pensamento social, certamente perceptivo, mas ainda completamente impregnado de atitudes assimiladoras nas quais os acontecimentos perceptivos não passam de pretextos para os devaneios imaginários. Tais são algumas questões, as classificações profundas das motivações do simbolismo religioso ou da imaginação de modo geral literária.

No prolongamento dos esquemas explicativos, arquétipos e simples símbolos modernos podem-se considerar o mito. Lembramos, todavia, que não estamos tomando este termo na concepção restrita que lhe dão os etnólogos, que fazem dele apenas o reverso representativo de um ato ritual. Entendemos por mito, “um sistema dinâmico de símbolos, arquétipos e esquemas, sistema dinâmico que, sob o impulso de um esquema, tende a compor-se na narrativa”. O mito é já um esboço de racionalização, dado que utiliza o fio do discurso, no qual os símbolos se resolvem em palavras e os arquétipos em ideias. O mito explicita um esquema ou um grupo de esquemas. Do mesmo modo que o arquétipo promovia a ideia e que o símbolo engendrava o nome, podemos dizer que o mito promove a doutrina religiosa, o sistema filosófico ou, como bem observou Émile Bréhier (1876-1952), a narrativa histórica e lendária. O método de convergência evidencia o mesmo isomorfismo na constelação e no mito. Enfim, para sermos breves, este isomorfismo dos esquemas, arquétipos e símbolos no seio dos sistemas míticos ou de constelações estáticas pode levar-nos a verificar a existência de protocolos normativos das representações imaginárias, bem definidos e relativamente estáveis, agrupados nos esquemas originais e que vis-à-vis a literatura refere-se como estruturas.

A atividade dialética surge esboçada em princípio como atividade e a partir da análise da noção de “corpúsculo”. Tendo como certo que o filósofo deve tentar compreender a novidade da linguagem e ao mesmo tempo aprender a formar noções e conceitos novos para resistir aos conhecimentos comuns e à memória cultural, Bachelard, tentando precisar a noção de “corpúsculo”, rememora uma sequência de teses: o corpúsculo não é um pequeno corpo. Não é fragmento de substância. O corpúsculo não tem dimensões absolutas definidas. Só existe nos limites do espaço em que atua.  Correlativamente, se o corpúsculo não tem dimensões definidas, não tem, portanto, forma reconhecida. Melhor dizendo, o elemento não tem geometria. E, ipso facto, não se lhe pode atribuir um lugar muito preciso em virtude do princípio da indeterminação na Física de Werner Heisenberg (1927), a sua localização é submetida a tais restrições que a função de existência situada não tem mais valor absoluto. Em várias circunstâncias, a microfísica põe como um verdadeiro princípio a perda da individualidade do corpúsculo. Enfim, trata-se de comprender e assinalar uma última tese que contradiz o axioma fundamental do chamado atomismo filosófico.

Complementarmente com as suas reflexões acerca da imaginação criadora e da poética, Bachelard infere que os corpúsculos, não sendo dados dos sentidos, “nem de perto nem de longe”, também não são dados escondidos. No entanto, apenas é possível conhecê-los, descobrindo-os, ou melhor, inventando-os, porque eles são a prova de que algo está no limite da invenção e da descoberta. Admirável é, então, a referência que Bachelard faz à noção de intuição trabalhada. Em Études, no ensaio “Idealismo discursivo” ele sublinha que tem alguma confiança e garantia na intuição para descrever positivamente o seu ser íntimo. Diz mesmo que o fato de exercermos uma preparação discursiva dá à intuição uma nova Jeunesse. De maneira que aconselha a fecharmos os olhos como uma forma de nos prepararmos para termos uma visão do nosso ser. A intuição será a via refletida de renunciar aos acidentes na história e significa um recurso metafísico de compreensão “de si”. Interessa, então, a intuição trabalhada e não a intuição imediata, a intuição que permite uma espécie de “repouso”, mesmo sabendo que na ciência, esse “repouso” na intuição pode ser “quebrado” por uma nova necessidade de rigor metafísico e pela necessidade de encadear mais forte as teorias sociais. Esta valorização da intuição intelectual em detrimento da intuição sensível torna-se nítida quando o realismo das primeiras deve pôr-se entre parêntesis, uma vez que a apreensão do real não se satisfaz com imagens primeiras, isto, já presente na alegoria da caverna.

As imagens podem ser então, se quisermos ser “boas” e “más”, indispensáveis e perigosas, dependendo da moderação no seu uso e da instância da redução em que as imagens devem permanecer quando as queremos usar para descrever um mundo que não se vê, ou fenômenos que não aparecem. Na ciência é preciso ir das imagens às ideias e este caminho é de análise, de discussão e de ordenação. Com certeza, também de polêmica, uma razão polêmica pode pensar-se como uma razão que tanto sabe afirmar, em reação às negações oficiais antecedentes, como negar afirmações anteriores a partir dos valores da verificação e da descoberta; uma razão polêmica crítica e introduz “nãos” que passam a desempenhar um papel pedagógico decisivo na produção de conhecimento por darem a compreender que na interpretação toda a afirmação não é sinônimo de conhecimento e que aquilo que é dado como verdadeiro aparece, muitas vezes, sob um fundo de erros e de ignorâncias tomadas como antecedentes. O espírito, exigindo aproximações sucessivas da experiência deve afastar-se daquelas teses cartesianas da razão.  O novo espírito sabe-se que todo o problema da intuição se encontra subvertido, trabalhado. Enfim, a reflexão teórica não escolhe manter as práticas à distância de seu lugar, de maneira que tenha de sair para analisá-las, mas basta-lhe invertê-las para se encontrar em casa. Ela repete o corte que efetua. Este lhe é imposto através e pelo condiconamento em si da própria história.

Os procedimentos sem discurso são coligidos e fixados em uma região que o passado organizou e que lhes dá o papel, determinante para a teoria, de ser constituídos em “reservas” selvagens para o saber esclarecido. Esses procedimentos foram aos poucos adquirindo um valor fronteiriço, à medida que a razão que surgiu da Aufklärung ia determinando suas disciplinas, suas coerências e seus poderes. Aparecem então como alteridades e “resistências”, relativas às escrituras científicas cujo rigor e operatividade se vão precisando a partir do século XVIII. Em nome do mesmo progresso, vê-se ocorrer o diferenciamento, de um lado, das artes (ou maneiras) de fazer, cujos títulos se multiplicam na literatura popular, objetos de crescente curiosidade dos “observadores do homem” e, de outro lado, as ciências esboçadas por uma nova configuração do saber.  A distinção não se refere mais essencialmente ao binômio tradicional da “teoria” e da “prática”, especificado pela separação entre a “especulação” que decifra o livro do cosmos, e as “aplicações” concretas, mas visa duas operações diferentes, uma discursiva (na e pela linguagem) e a não discursiva. Desnecessário dizer que, desde o século XVI, a ideia de método abala progressivamente a relação entre o conhecer e o fazer, a partir das práticas do direito, da retórica, mudadas pouco a pouco em “ações” discursivas que se exercem em terrenos diversificados e, portanto, em técnicas de transformação de um ambiente, impõe-se o esquema fundamental de um discurso que organiza a maneira de pensar em maneira de fazer, em gestão racional de uma produção em operação regulada sobre campos apropriados. Eis o “método”, semente da cientificidade moderna.

No fundo, o método sistematiza a arte que Platão já colocava sob o signo da atividade. Mas é por um discurso que ele ordena um saber-fazer. Portanto, a fronteira não separa mais dois saberes hierarquizados, um especulativo, o outro ligado às particularidades, um ocupado em ler a ordem cósmica e o outro às voltas com os pormenores das coisas no quadro que lhe é fixado pelo primeiro, mas ela opõe as práticas articuladas pelo discurso às que (ainda) não o são. Trocando em miúdos, admitimos que do “saber-fazer” não discursivo, per se sem escritura, não é o discurso do método do que é ao mesmo tempo escritura e ciência, assim pensando qual será o estatuto? É refeito de operatividades múltiplas, mas selvagens. Essa proliferação não obedece à lei do discurso, mas obedece já à lei da produção, valor último da economia fisiocrata e depois capitalista. Ela contesta, portanto, à escritura científica o seu privilégio de organizar a produção. Ela irrita e estimula volta e meia os técnicos da linguagem. Pede uma conquista, não como de práticas desprezíveis, mas ao contrário de saberes “engenhosos”, “complexos” e “operativos”. De Francis Bacon e Christian Wolff ou Jean Beckmann, faz-se gigantesco esforço para colonizar essa imensa reserva comparativamente de “artes” e “ofícios” que, por não conseguirem ainda articular-se em torno de uma ciência, podem ser já introduzidos na linguagem pela “descrição” etnográfica e, deste modo, levados a uma maior idealização da “perfeição”.  

Mediante esses dois termos e com a “descrição” que depende da narratividade e a “perfeição” que tem em mira uma otimização técnica, compreendemos que a posição das “artes” é fixada perto, mas fora da ciência. A arte é, portanto, um saber que opera fora do discurso esclarecido e que provavelmente lhe falta. Mais ainda, esse saber-fazer precede, por sua complexidade, a ciência esclarecida. O princípio de uma operação etnológica sobre essas práticas já se acha então posto: o seu isolamento social pede uma espécie de “educação” que, graças a uma inversão linguística, vai introduzi-las no campo da escritura científica. Fato notável, desde o século XVIII ao XX, os etnólogos ou os historiadores e depois sociólogos consideram as técnicas respeitáveis em si mesmas. Destacam aquilo que fazem. Não sentem a necessidade de interpretar. Basta descrever. Ao contrário, consideram como “lendas” que significam outra coisa diferente do que dizem as histórias pelas quais um grupo social situa ou simboliza suas atividades. Estranha disparidade entre o tratamento dado às práticas sociais e dado aos discursos. Onde o primeiro registra uma “verdade” do fazer, o outro decodifica as “mentiras” do dizer. As breves descrições do primeiro tipo contrastam, aliás, com as interpretações prolixas que fizeram dos mitos ou das lendas um objeto privilegiado pelos profissionais da linguagem, “clérigos” com longa experiência, com procedimentos hermenêuticos transmitidos dos juristas aos professores e/ou etnólogos para glosar e “traduzir” em textos científicos ou documentos referenciais.

Para sermos breves, a pergunta é: existiria então uma ciência onde “tudo seja fruto da reflexão”? Seja como for, usando um vocabulário bem próximo da Enciclopédia (que mencionava o contemplar), cabe à teoria “refletir” esse “todo”. De modo ainda mais geral, para Émile Durkheim a sociedade é uma escritura que só se faz legível por ele. Aqui existe um saber já escrito nas práticas, mas ainda não esclarecido. A ciência fornecerá o espelho para torná-lo legível, com o discurso “refletindo” uma operatividade imediata e precisa, mas privada da linguagem e consciência, já sábia, mas paradoxalmente inculta. A arte constitui em relação à ciência um saber em si mesmo, desde Friedrich Hegel (1770-1831), essencial. Posição perigosa para a ciência, pois só lhe resta poder dizer o saber que lhe falta. Entre a ciência e a arte, considera-se não uma alternativa, mas a complementaridade e, se possível, a articulação. A literatura se muda em repertório dessas práticas desprovidas de copyright tecnológico. São elas ainda que logo vão ocupar um lugar privilegiado nos relatos dos clientes nas salas das instituições psiquiátricas ou nos consultórios dos psicanalistas. Noutras palavras há quem forneça às práticas genuinamente o escrínio de liberdade.

No tempo, diz-se, tudo surge e tudo passa e perece, se se abstrai de tudo, do recheio do tempo e do recheio do espaço, fica de resto o tempo vazio comparativamente como o espaço vazio – isto é, são então postas e representadas estas abstrações de exterioridade, como se elas fossem existentes por si. Mas não é o que no tempo surja e pereça tudo, porém o próprio tempo é este vir-a-ser, surgir e perecer, o abstrair essente. O real de análise é bem diverso do tempo, mas também essencialmente idêntico a ele. O real é limitado, e o outro para esta negação está fora dele, a determinidade é assim nele exterior a si, e daí a contradição de seu ser; a abstração opera nessa exterioridade de sua contradição e a inquietação da mesma é o próprio tempo. O finito é transitório e temporário, porque ele não é, como ocorre na representação do conceito nele mesmo, a negatividade total, mas em si, como sua essência universal, entretanto, diferentemente da mesma essência, é unilateral, e se relaciona à mesma essência como à sua potência. Mas tais conceitos na sua identidade conseguem livremente existente para si, Eu=Eu, é “em si” e “para si” a absoluta negatividade e liberdade. Por isso o tempo não é potência dele, nem ele está no tempo nem é algo temporal. Mas ele é muito mais a potência do tempo, como sendo este apenas esta negatividade como exterioridade. Só o natural, é, enquanto é finito, sujeito ao tempo; na constituição da ideia, o espírito que é eterno.

Intuição trabalhada, como a entendera e descrevera o filósofo Gaston Bachelard, significa assumir com essa ideia a existência nominal de dois polos necessariamente presentes no universo cultural humano. O polo da objetividade e polo da subjetividade, todavia, entrelaçados e mediados complexamente nos duros e doces caminhos da constituição da mediação científica assim como dos demais caminhos existentes, esta ideia cara à concepção de ciência nestes tempos. O pensamento e a dimensão filosófica de Bachelard se faz contemporâneo na atualidade potente de sua reflexão. Felizmente fora da dinâmica consensual entre pesquisadores, pois é conhecido por sua filosofia não cartesiana, não bergsoniana, não aristotélica e não kantiana, visto que sua obra excede a epistemologia e a estética e comunicação com diferentes áreas de saber. Representou o que se chamou de “novo espírito científico” que, ao refletir sobre episteme, o conhecimento, problematiza o erro em sua positividade e a importância real da retificação. Seu novo racionalismo aberto e dinâmico, histórico e factual, inova a concepção de imaginação social, é porque explora os devaneios e desconfia das metáforas progressivas. A formação natural das expectativas não leva em consideração os fatores comparativos previstos na sociedade como muito incertos. Embora, em determinadas situações, fatos sociais que ocorrem de modo muito incertos possam se tornar decisivos, tornando-se um guia razoável para as decisões correntes e os eventos a que se atribui um grau elevado de uma profunda confiança. Foi um “filósofo da solidão feliz” que de instantes poéticos nos desestabiliza nas incertezas do mundo real objetivo.

A intuição, um sentimento que os seres humanos afirmam manifestar ao tomar uma decisão sobre algo ou uma situação, como forma de representação do conhecimento consiste na capacidade de reconhecer algo sem de fato ainda entender seu funcionamento. Está fundamentada na noção inicial que temos sobre algo, noção esta que nasce da experiência sensorial e/ou de uma análise superficial das características que compõe determinado elemento. Tomando como base esta noção inicial, conseguimos entender de forma pouco esclarecida do que se trata determinado elemento e já nos dispomos a emitir juízos acerca do mesmo. Todas estas concepções do homem, que se expressam de diversas formas, nasceram a partir da análise que seus sentidos o proporcionaram fazer. Mas há algo a mais nisto. Não bastariam ele olhar para a pedra e sentir seu peso para concluir estas coisas. Teria o homem que pensar por associação, por comparação. Entre habilidades ou competências importa destacar a relação contígua entre o ser capaz de pensar e o ser capaz de aprender e se basear em outras experiências. Têm-se nas reflexões anteriores, um exemplo desta forma básica de entender o mundo que nos cerca. O pensamento por associação. O conhecimento que se constrói através de memórias de experiências passadas e logo comparações com experiências presentes.

O raciocínio intuitivo hic et nunc da forma como foi apresentado, revela-nos uma superficialidade na forma de compreender o mundo. Retomando ao exemplo do homem: o mesmo não saberia explicar o porquê de nenhuma de suas conclusões, visto que ele se baseou somente em suas antigas experiências. Os fatos usados para formar a conclusão, não são compreendidos pelo homem, ele apenas sabe que são tal como são e aceita isso como natural. Além dessas substâncias e de outras, que estão em menor quantidade, o ar, por exemplo, também apresenta gotículas de água, poeira, e sobretudo partículas de vírus, bactérias e outro micro-organismos. Não entende ele, no plano abstrato da teoria “como” e nem o “por que” daqueles fatos sociais do dia a dia se apresentarem daquela maneira. Tudo que ele sabe, foi captado pelos sentidos, guardado em sua memória. Utilizado em seu dia-a-dia para entender o mundo que lhe é anterior e está ao seu redor.  Para se compreender as embarcações a vela, tinha-se que trabalhar, ao menos por algum tempo, tendo como utilidade de uso a habilidade das próprias mãos. Entretanto, curiosamente, ao mesmo tempo, todos os oficiais navais, ao menos durante o período do século XVIII em diante, se viam, e queriam ser vistos pelos outros, nesta relação como gentlemen.

Apesar de ser reconhecido como um homem de posições e atitudes Pontoppidan continua a ser um dos mais discutidos escritores dinamarqueses modernos. Isto em parte por causa do seu carácter pessoal. Pontoppidan era um homem de muitos paradoxos: um nítido liberal no seu tempo, mas um firme patriota, um puritano anticlerical, uma natureza lutadora, mas desiludida, colaborando com os socialistas, mas sempre de uma posição independente e individualista. Mas também em parte devido ao seu estilo que muitas vezes tem sido considerado como ambíguo e impenetrável; a sua mistura de parcialidade e objetividade tem frequentemente confundido leitores e críticos e, de fato, liberais, radicais, conservadores, direitistas e socialistas, todos tentaram encontrar os seus próprios ideais nas obras dele. Ele tem sido considerado como o total antagonista de Georg Brandes e, melhor dizendo, seu aluno mais correto. De todos os escritores avançados modernos, Pontoppidan é o mais influente e o que viveu mais. Os seus escritos críticos marcam-no pioneiro da literatura dinamarquesa do século XX. Os conservadores têm-se inspirado na sua crítica do modernismo após a I Guerra Mundial. Estabeleceu um padrão de “romances sobre a sociedade”, que continua a ser relevante.

A primeira fase da sua obra caracteriza-se por uma crítica social rebelde, tal como se revoltou contra os antecedentes privilegiados da sua própria família. Numa frase famosa, Henrik Pontoppidan zombou da latinização passada do apelido da sua família, Pontoppidan, a partir do seu original dinamarquês Broby. Broby, significa literalmente ponte (na) cidade ou, em latim, Pons Oppidum. Henrik Pontoppidan zombou desta prática, que teve lugar no século XVII, como “a má ideia do hábito de pessoas educadas, de decorar o seu bom nome dinamarquês com um Adrienne (vestido feminino usado na época para dançar) latino, uma ridícula plumagem de pavão”. Em contos prosaicos descreve impiedosamente a vida dos camponeses e dos proletários do país, com quem ele vivia em contacto próximo. Ele foi talvez o primeiro escritor dinamarquês progressista a quebrar com o retrato idealizado dos agricultores. Os contos desta época estão recolhidos em Landsbybilleder (Retratos de Aldeia, 1883) e Fra Hytterne (A partir das Cabanas, 1887). É de importância a coletânea de contos políticos de 1890 Skyer (Nuvens), uma descrição mordaz da Dinamarca sob a autoritária semi-ditadura dos conservadores, tanto condenando os opressores como desprezando a falta de insatisfação dos dinamarqueses. Após este período histórico e pontual, ele concentrou-se cada vez mais em problemas psicológicos e naturalistas sem desistir do seu compromisso eminentemente social. A revisão em 1889 de Messias, por Pontoppidan e a sua peça Den gamle Adam (O velho Adão) de 1890, foram publicadas anonimamente e desencadearam uma polêmica após serem acusadas equivocadamente de blasfemas. O editor Ernst Brandes(1844-1892) foi multado em 300 coroas por “Messias”, em dezembro de 1891, desgraçadamente tendo-se suicidado em 1892.

Há muito é lugar comum compreender que o discurso filosófico correlacionou verdade e ser. Se verdade se encontra, justificadamente, num nexo originário com o ser, então o fenômeno da verdade remete ao âmbito da problemática ontológica fundamental. Três teses caracterizam a apreensão tradicional da essência da verdade e a opinião gerada em torno de sua primeira definição: 1. O “lugar” da verdade é o enunciado (o juízo). 2. A essência da verdade reside na “concordância” entre o juízo e seu objeto. 3. Aristóteles, o pai da lógica, não só indicou o juízo como o lugar originário da verdade, como também colocou em voga a definição da verdade como “concordância”. A famosa questão, com a qual se supunha colocar os lógicos em apuros, é a seguinte: O que é a verdade? Se ela consiste na concordância do conhecimento com o seu objeto deve distinguir-se dos demais. Um conhecimento é falso quando não concorda com o objeto a que é submetido, mesmo que tenha algo que possa valer para outros objetos. O que significa o termo “concordância”? A concordância de algo com algo tem o caráter da relação de algo com algo. Toda concordância e, também, toda “verdade” é uma relação. Mas nem toda relação é uma concordância. Um sinal assinala para o assinalado.

A indivisibilidade de controle e consentimento tornam necessário que se percebam as organizações formais como sistemas cooperativos, ampliando a estrutura de referência dos relacionados com a manipulação de recursos da organização. No ponto de ação da decisão executiva, o aspecto econômico da organização proporciona instrumentos inadequados de controle da estrutura concreta. Esta ideia poderá ser prontamente percebida se se voltar a atenção para o papel do indivíduo na economia da organização. Do ponto de vista da organização como sistema formal, os homens são encarados funcionalmente, quanto ao seu papel, como participantes de segmentos determinados do sistema cooperativo. Na realidade, porém, os indivíduos se mostram propensos à despersonalização, a exceder os limites de seu papel segmentário, para participar como integrais. Os sistemas formais não podem abranger as modificações assim introduzidas e, consequentemente, falham como instrumento de controle, quando se confia apenas neles. O indivíduo integral cria novos problemas para a organização, em parte por causa das necessidades de sua própria personalidade, parcialmente porque traz consigo um conjunto de hábitos arraigados, talvez, como obrigações com determinados grupos especiais fora da organização. Na adequação de sistemas formais de coordenação, as necessidades individuais não permitem a devida atenção às metas enunciadas do sistema, naturalmente em que se incluem. O perigo inerente à delegação surge essencialmente daí. A delegação é um ato de organização, relacionado com designações formais de funções e poderes.

Em tese, estas designações se referem a papéis ou funções oficiais, e não ao indivíduo, como tal, que nem sempre coincide com as metas do sistema formal. Ipso fato, a importância teórica da ênfase abstrata do sistema cooperativo como tal origina-se da introspecção, que permite verificar determinadas ações e consequências que são determinadas independentemente da personalidade das pessoas no caso envolvidas. Assim, ao aludir ao paradoxo da organização - a tensão criada pelas consequências inibitórias de determinados tipos de estruturas não-convencionais nas organizações, não significa que as próprias pessoas estejam em dúvida ou enfrentando dilemas. É a natureza das consequências da interação de interesses divergentes que cria a condição, resultado este que poderá surgir independentemente a percepção consciente ou das qualidades dos participantes individuais. Sistemas de ação racional são característicos tanto de indivíduos como de organizações. Reconhecer a relevância sociológica das estruturas formais da ciência, nada tem a ver com a importância, ao longo deste caminho, com a natureza da autoridade nas organizações formais, encarecendo os fatores sociais de coesão e persuasão como fontes legais ou coercitivas. Tal redefinição é, a mesma com que se introduziu o conceito de Eu, que se origina na filosofia da história de Friedrich Hegel, como sendo histórico e social, e só depois no âmbito da sociologia.

Da mesma forma, a definição de autoridade, é condicionada por fatores sociológicos de sentimento e coesão ou, de forma mais generalizada, a definição de organizações formais como sistemas cooperativos apenas marca os limites iniciais de elaboração de um procedimento na organização do processo de trabalho. Assinalar é uma relação ente o sinal e o assinalado, mas não uma concordância. Decerto, nem toda concordância significa uma espécie de convenientia, tal como se fixou na definição de verdade. A ela pertence estruturalmente uma espécie de “perspectiva”. O que é isso em cuja perspectiva concorda aquilo que, na adaequatio, se relaciona? Ao esclarecer a relação de verdade, deve-se também considerar a especificidade dos membros da relação. Em que perspectiva intellectus e res concorda? Será que, em seu modo de ser e em seu conteúdo essencial, eles proporcionam algo em cuja perspectiva pode concordar? Caso seja impossível uma igualdade entre eles, por não pertencerem à mesma espécie, não será, segundo a hermenêutica então possível que ambos (intellectus e res) sejam semelhantes? A partir dessas questões evidencia-se que, para se esclarecer a estrutura da verdade, não basta simplesmente pressupor esse todo relacional, mas é preciso reconduzir o questionamento a seu contexto ontológico que sustenta esse todo como tal.

Mas será necessário para isso arrolar toda a problemática epistemológica referente à relação sujeito-objeto? Ou será que a análise pode restringir-se à interpretação da “consciência (Bewusstsein) imanente da verdade”, permanecendo-se, portanto, “na esfera” do sujeito? Segundo a opinião geral, só o conhecimento é verdadeiro. Conhecer, porém, é julgar. Em todo julgamento, deve distinguir a ação de julgar enquanto processo psíquico real e o conteúdo julgado enquanto conteúdo ideal. Deste último, diz-se que é “verdadeiro”. Em contrapartida, o processo psíquico real é simplesmente dado ou não. O conteúdo ideal do juízo é, pois, o que se acha numa relação de concordância. E esta diz respeito a um nexo entre o conteúdo ideal do juízo e a coisa real sobre a qual se julga. Em seu modo de ser, a concordância é real, ideal ou nenhuma destas? Como se deve apreender ontologicamente a relação entre o ente ideal e o real simplesmente dado? Essa relação subsiste e consiste em juízos fáticos não somente entre o conteúdo do juízo e o objeto real, mas também entre o conteúdo ideal e a ação real de julgar; e aqui a relação não será manifestamente mais “intrínseca”? Enfim, a questão é: quando é que o fenômeno da verdade se torna expresso no próprio conhecimento? Sem dúvida, quando o conhecimento se mostra como verdadeiro. É, portanto, a própria verificação de si mesmo que lhe assegura a sua verdade. No contexto fenomenal dessa verificação, é que a relação de concordância deve tornar-se visível. O sociólogo não observa a realidade social e sim práticas. Deve ser um homem que sente, não deve ser jamais um homem que acredita.

Bibliografia Geral Consultada.

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