quarta-feira, 3 de setembro de 2025

O Domingo das Mães – Existência, Amor & Produção Cinematográfica.

 A verdadeira figura na qual a verdade existe só pode ser o sistema científico dessa verdade”. Friedrich Hegel  

        

Friedrich Hegel que parte da análise da consciência comum, não podia situar como princípio primeiro uma dúvida universal que só é própria da reflexão filosófica. Por isso mesmo ele segue o caminho aberto pela consciência e a história detalhada de sua formação. Melhor dizendo, a Fenomenologia (1807) vem a ser uma história concreta da consciência, sua saída da caverna e sua ascensão à Ciência. Daí a analogia que em Hegel existe de forma coincidente entre a história da filosofia e a história do desenvolvimento do pensamento, mas este desenvolvimento é necessário, como força irresistível que se manifesta lentamente através dos filósofos, que são instrumentos de sua manifestação. Assim, preocupa-se apenas em definir os sistemas, sem discutir as peculiaridades e opiniões dos diferentes filósofos. Na determinação do sistema, o que o preocupa é a categoria fundamental que determina o todo complexo do sistema, e o assinalamento das diferentes etapas, bem como as vinculasses destas etapas que conduzem à síntese do espírito absoluto. Para compreender o sistema é necessário começar pela representação, que ainda não sendo totalmente exata permite, no entender de sua obra a seleção de afirmações e preenchimento do sistema abstrato de interpretação do método dialético, para poder alcançar a transformação da representação numa noção clara e exata.

Assim, temos a passagem da representação abstrata, para o conceito claro e concreto através do acúmulo de determinações. Aquilo que por movimento dialético separa e distingue perenemente a identidade e a diferença, sujeito e objeto, finito e infinito, é a alma vivente de todas as coisas, a Ideia Absoluta que é a força geradora, a vida e o espírito eterno. Mas a Ideia Absoluta seria uma existência abstrata se a noção de que procede não fosse mais que uma unidade abstrata, e não o que é em realidade, isto é, a noção que, por um giro negativo sobre si mesma, revestiu-se novamente de forma subjetiva. Metodologicamente a determinação mais simples e primeira que o espírito pode estabelecer é o Eu, isto é, a faculdade de poder abstrair todas as coisas do mundo, até sua própria vida. Chama-se idealidade precisamente esta supressão da exterioridade. Entretanto, o espírito, ou como se estrutura o pensamento dialeticamente, não se detém na apropriação, transformação e dissolução da matéria em sua universalidade, mas, enquanto consciência religiosa, por sua faculdade representativa, penetra e se eleva através da aparência dos seres até esse poder divino, uno, infinito, que conjunta e anima interiormente todas as coisas, sob a forma de existência, enquanto pensamento filosófico, como princípio universal, a ideia eterna que as engendra e nelas se manifesta. Isto quer dizer que o espírito finito se encontra numa união imediata com a natureza, a seguir em oposição com esta, e finalmente em identidade com esta, porque suprimiu a oposição e voltou a si mesmo e, consequentemente, o espírito finito é a ideia, mas ideia que girou sobre si mesma e que existe por si em sua própria realidade.

A Ideia absoluta que para realizar-se colocou como oposta a si, à natureza, produz-se através dela como espírito, que através da supressão de sua exterioridade entre inicialmente em relação simples com a natureza, e, depois, ao encontrar a si mesma nela, torna-se consciência de si, espírito que conhece a si mesmo, suprimindo assim a distinção entre sujeito e objeto, chegando assim a Ideia a ser por si e em si, tornando-se unidade perfeita de suas diferenças, sua absoluta verdade. Com o surgimento do espírito através da natureza abre-se a história da humanidade e a história humana é o processo que medeia entre isto e a realização do espírito consciente de si. A filosofia hegeliana centra sua atenção sobre esse processo e as contribuições mais expressivas de Hegel ocorrem precisamente nesta esfera, do espírito. Melhor dizendo, para Hegel, à existência na consciência, no espírito chama-se saber, conceito pensante. O espírito é também isto: trazer à existência, isto é, à consciência. Como consciência em geral tenho eu um objeto; uma vez que eu existo e ele está na minha frente. Mas enquanto o Eu é o objeto de pensar, é o espírito precisamente isto: produzir-se, sair fora de si, saber o que ele é. Nisto consiste a grande diferença: o homem sabe o que ele é. Logo, em primeiro lugar, ele é real. Sem isto, a razão, a liberdade não são nada. O homem é isto, razão. O homem, a criança, o culto e o inculto, hegelianamento é produto da razão

Ou melhor, a possibilidade para isto, para ser razão, existe em cada um, é dada a cada um essencialmente. A razão não ajuda em nada a criança, o inculto. É somente uma possibilidade, embora não seja uma possibilidade vazia, mas possibilidade real e que se move em si. Assim, por exemplo, dizemos que o homem é racional, e distinguimos muito bem o homem que nasceu somente e aquele cuja razão educada está diante de nós. Isto pode ser expresso também assim: o que é em si, tem que se converter em objeto para o homem, chegar à consciência; assim chega para ele e para si mesmo. A história para Hegel, é o desenvolvimento do Espírito no tempo, assim como a Natureza é o desenvolvimento da ideia no espaço. Deste modo o homem se duplica. Uma vez, ele é razão, é pensar, mas em si: outra, ele pensa, converte este ser, seu em si, em objeto do pensar. Assim o próprio pensar é objeto, logo objeto de si mesmo, então o homem é por si. A racionalidade produz o racional, o pensar produz os pensamentos. O que o ser em si é se manifesta no ser por si. Todo conhecer, todo aprender, toda visão, toda ciência, inclusive toda atividade humana, não possui nenhum outro interesse além do aquilo que filosoficamente é em si, no interior, podendo manifestar-se desde si mesmo, produzir-se, transformar-se objetivamente. Nesta diferença se descobre toda a diferença na história do mundo. Os homens são todos racionais.

O formal desta racionalidade é que o homem seja livre. Esta é a sua natureza. Isto pertence à essência do homem: a liberdade. O europeu sabe de si, afirma Hegel, é objeto de si mesmo. A determinação que ele conhece é a liberdade. Ele se conhece a si mesmo como livre. O homem considera a liberdade como sua substância. Se os homens falam mal de conhecer é porque não sabem o que fazem. Conhecer-se, converter-se a si mesmo no objeto (do conhecer próprio) e o fazem relativamente poucos. Mas o homem é livre somente se sabe que o é. Pode-se também em geral falar mal do saber, como se quiser. Mas somente este saber libera o homem. O conhecer-se é no espírito a existência. Portanto isto é o segundo, esta é a única diferença da existência (Existenz) a diferença do separável. O Eu é livre em si, mas também por si mesmo é livre e eu sou livre somente enquanto existo como livre. A terceira determinação é que o que existe em si, e o que existe por si são somente uma e mesma coisa. Isto quer dizer precisamente evolução. O em si que já não fosse em si seria outra coisa. Por conseguinte, haveria ali uma variação, mudança. Na mudança existe algo que chega a ser outra coisa. Na evolução, em essência, podemos  sem dúvida falar da mudança, mas esta mudança deve ser tal que o outro, o que resulta, é ainda idêntico ao primeiro, de maneira que o simples, o ser em si não seja negado.

Para Friedrich Hegel a evolução não somente faz aparecer o interior originário, exterioriza o concreto contido já no em si, e este concreto chega a ser por si através dela, impulsiona-se a si mesmo a este ser por si. O espírito abstrato assim adquire o poder concreto da realização. O concreto é em si diferente, mas logo só em si, pela aptidão, pela potência, pela possibilidade. O diferente está posto ainda em unidade, ainda não como diferente. É em si distinto e, contudo, simples. É em si mesmo contraditório. Posto que é através desta contradição impulsionado da aptidão, deste este interior à qualidade, à diversidade; logo cancela a unidade e com isto faz justiça às diferenças. Também a unidade das diferenças ainda não postas como diferentes é impulsionada para a dissolução de si mesma. O distinto (ou diferente) vem assim a ser atualmente, na existência. Porém do mesmo modo que se faz justiça à unidade, pois o diferente que é posto como tal é anulado novamente. Tem que regressar à unidade; porque a unidade do diferente consiste em que o diferente seja um. E somente por este movimento é a unidade verdadeiramente concreta. É algo concreto, algo distinto. Entretanto contido na unidade, no em si primitivo. O gérmen se desenvolve assim, não muda. Se o gérmen fosse mudado desgastado, triturado, não poderia evoluir. Na alma, enquanto determinada como indivíduo, as diferenças estão enquanto mudanças que se dão no indivíduo, que é o sujeito uno que nelas persiste e, segundo Hegel, enquanto momentos do seu desenvolvimento.

Por serem elas diferenças, à uma, físicas e espirituais, seria preciso, para determinação ou descrição mais concreta, antecipar a noção do espírito cultivado. As diferenças são: 1) curso natural das idades da vida, desde a criança, desde a criança, o espírito envolvido em si mesmo – passando pela oposição desenvolvida, a tensão de uma universalidade ela mesma ainda subjetiva em contraste com a singularidade imediata, isto é, como o mundo presente, não conforme a tais ideais, e a situação que se encontra, em seu ser-aí para esse mundo, o indivíduo que, de outro lado, está ainda não-autônomo e em si mesmo não está pronto (o jovem) – para chegar à relação verdadeira, ao reconhecimento da necessidade e racionalidade objetivas do mundo já presente, acabado; em sua obra, que leva a cabo por si e para si, o indivíduo retira, por sua atividade, uma confirmação e uma parte, mediante a qual ele é algo, tem uma presença efetiva e um valor objetivo (homem); até a plena realização da unidade com essa objetividade do conhecer: unidade que, enquanto real, vem dar na inatividade da rotina que tira o interesse, enquanto ideal se liberta dos interesses mesquinhos é das complicações do presente exterior (o ancião).  O espírito manifesta aqui sua independência da própria corporalidade, em poder desenvolver-se antes que nela torne. Com frequência, crianças têm demonstrado um desenvolvimento espiritual mais rápido que sua formação corporal.

Esse foi o caso historicamente, sobretudo em talentos artísticos indiscutíveis, que são amplamente reconhecidas e apreciadas como excepcionais e inegáveis. Essas habilidades podem abranger diversas áreas, como música, pintura, escrita, atuação, dança e outras formas de expressão criativa. O reconhecimento desses talentos geralmente vem através de aclamação da crítica, sucesso comercial, prêmios e admiração do público, em particular nos gênios da música. Também em relação ao fácil apreender de variados conhecimentos, especialmente na disciplina matemática; e tal precocidade tem-se mostrado não raramente também em relação a um raciocínio de entendimento, e mesmo sobre objetos éticos e religiosos. O processo de desenvolvimento do indivíduo humano natural decompõe-se então em uma série de processos, cuja diversidade se baseia sobre a relação do indivíduo para com o gênero, e funda a diferença da criança, do homem e do ancião. Essas diferenças são as apresentações das diferenças do conceito. A idade da infância é o tempo da harmonia natural, da paz do sujeito consigo mesmo e com o mundo. Um começo tão sem-oposição quanto a velhice é um fim sem-oposição. As oposições que surgem ficam sem interesse mais profundo. A criança vive na inocência, sem sofrimento durável; no amor aos seus pais, e no sentimento de ser amado por eles.

Mothering Sunday tem como representação social um filme britânico de drama romântico de 2021, dirigido por Eva Husson, com roteiro de Alice Birch e baseado no romance homônimo de Graham Swift, nascido em 4 de maio de 1949, em Londres, Inglaterra. É um romancista e contista inglês cuja narrativa de ficção psicológica sutilmente sofisticada, explora os efeitos de poder, especialmente da história familiar, na vida doméstica contemporânea. Eva Husson, nascida em 1977, é uma diretora de cinema e roteirista francesa. Ela começou sua carreira como atriz antes de dirigir alguns curtas-metragens e videoclipes. Em 2015, seu primeiro longa-metragem Bang Gang, que explora a questão singular da sexualidade e as relações de um grupo de adolescentes em uma pequena cidade. O filme, que estreou na seção Plataforma do Festival de Cinema de Toronto, aborda temas como descoberta sexual, tédio, relações familiares tensas e busca por liberdade, tudo isso em meio a um jogo de verdade ou desafio que se torna um problema. O filme acompanha o desenvolvimento histórico e sociológico um grupo de amigos que, entediados com a vida na pequena cidade onde vivem, começam um jogo perigoso de “verdade ou desafio” durante uma festa. A partir daí, a sexualidade e os limites são explorados e desafiados, cotidianamente, levando a consequências inesperadas e a um mergulho na busca por identidade originária e seu próprio pertencimento. É uma história de amor moderna, que competiu no Festival Internacional de Cinema de Toronto. Ela então dirigiu o filme indicado à Palma de Ouro Girls of the Sun (2018), estrelado por Golshifteh Farahani e Emmanuelle Bercot.

Mothering Sunday desenvolve uma narrativa não linear, intercalando momentos do passado e do presente de Jane, revelando sua jornada de descoberta e transformação. A personagem principal, interpretada por Odessa Young, é retratada como uma mulher forte e resiliente, que busca sua própria voz e destino em um mundo marcado por rígidas normas sociais. O romance com Paul Sheringham (Josh O`Conner) serve como catalisador para a libertação de Jane das expectativas dialéticas da sociedade e por sua própria família. O elenco do filme é elogiado por suas performances, com destaque para Odessa Young, Josh O`Connor, Olivia Colman e Colin Firth. As atuações são descritas como poderosas e sensíveis, capturando a complexidade emocional dos personagens e suas relações. A direção de Eva Husson é elogiada por sua sensibilidade e capacidade de criar uma atmosfera envolvente e sensual. O filme utiliza planos abertos e fechados com maestria, revelando as emoções dos personagens por trás de suas máscaras sociais. A fotografia e a trilha sonora também são destacadas por sua beleza e capacidade de evocar a época e o clima do filme. Mothering Sunday explora temas como a perda, o luto, a sexualidade, a classe social irradiada e o poder da escrita na busca pela identidade e pela liberdade. O filme também reflete sobre o impacto social da guerra na sociedade e nas relações familiares. Embora elogiado por sua estética, atuação e atmosfera, o filme também recebe críticas por sua estrutura narrativa não linear e por algumas decisões estilísticas que podem parecer desconexas para alguns espectadores. Mothering Sunday representa uma dramatis personae, um drama sofisticado e sensual que oferece uma reflexão profunda sobre a condição humana em um período de transição social e pessoal. O filme é elogiado por sua beleza comunicacional, atuações poderosas e exploração de temas complexos, mas também recebe críticas por sua estrutura narrativa e algumas escolhas estilísticas. No geral, é um filme que convida à reflexão e que deixa uma forte impressão no espectador. 

Eva Husson nasceu em 1977 em Le Havre, Normandia. Ela é filha de dois professores de espanhol e sobrinha-neta e neta de soldados republicanos espanhóis. O primeiro, Ricardo Maso March, era comunista, e o último, Albert Maso March, era anarquista. Ambos ajudaram a estabelecer a Resistência Francesa durante a 2ª guerra mundial (1939-1945). Seu tio-avô, Albert Maso March (1918-2001), reconhecido como Alberto Vega, foi um membro influente do Partido Obrero de Unificación Marxista (POUM) na Espanha. Ele se tornou seu líder remotamente enquanto vivia exilado na França. Em Paris ele criou um serviço de defesa composto por ex-membros do POUM, nascido em Barcelona a 29 de setembro de 1935, num período fulcral da Segunda República espanhola, entre o Movimento Revolucionário de Outubro de 34 e a sublevação militar de 18 de julho de 1936, que derivou na Guerra Civil espanhola. O POUM resulta da unificação entre a Esquerda Comunista de Espanha (ICE) e o Bloco Operário e Camponês (BOC). A ICE era um partido de origem trotskista que tinha roto com Trotsky antes de 1935. Fora fundado por Andreu Nin e por Juan Andrade. Nin e a maior parte dos militantes da ICE tencionavam criar um partido único marxista e revolucionário que fosse o partido marxista do proletariado, pela fusão política dos diversos partidos espanhóis, em lugar de seguir a palavra-de-ordem de Leon Trotsky de praticar “entrismo” no PSOE para apoiar a facção esquerdista e bolchevizar o partido. O BOC era um partido comunista implantado principalmente na Catalunha. O seu máximo dirigente era Joaquín Maurín, que já fora dirigente da Federação Comunista Catalano-Balear, federação territorial do PCE cindida desse partido.

Apesar da diferença numérica de militantes entre os dois partidos (cerca de 500 da ICE diante de 5000 do BOC), a fusão no POUM foi em igualdade de condições entre ambos. Nin e Maurín passaram a ser os dois grandes “líderes carismáticos” do POUM. A maior implantação do POUM esteve na Catalunha graças aos militantes vindos do BOC e no País Valenciano. Tinha ainda uma implantação minoritária em Madrid, e uma presença menor ou até testemunhal noutras partes do Estado espanhol, como a Estremadura, o País Basco, a Galiza, em âmbitos marinheiros e intelectuais ou as Astúrias. Ambas as organizações fundadoras do POUM eram na origem facções discrepantes do Partido Comunista de Espanha e dos métodos da Internacional Comunista (Komintern) na conjuntura política, dirigida por Joseph Stalin. A sua heterodoxia em relação a Moscou fez com que ficassem marginalizados e inimizados com uma Komintern submetida à linha oficial marcada pela União das Republicas Socialistas Soviética. O POUM criticou a degeneração burocrática e autoritária da Revolução Russa da mão do estalinismo. Foi o único partido a condenar os Processos de Moscovo, através do seu jornal La Batalla. Embora fosse um partido marxista revolucionário, no POUM havia uma pluralidade de tendências internas. Para além dos trotskistas da ICE, do BOC chegaram comunistas opostos à burocratização do PCE e da Komintern, bem como à subordinação de ambas organizações à política de um Estado. O BOC levou ainda catalanistas de extrema-esquerda, como Josep Rovira, e sindicalistas revolucionários, como o próprio Maurín. Destacava ainda o POUM por ser o partido que, no campo do marxismo, tinha aprofundado mais no Estado espanhol dos anos 1930 na problemática nacional na península Ibérica, com destaque para o caso catalão, dada a importante introdução do partido nesse território e a sua menor entidade na Galiza e no País Basco.

Essa herança inspirou Eva a escrever “Garotas do Sol” e a explorar o tema da resistência contra a opressão fascista, intramuros do continente europeu, mas que alcança o continente asiático. Husson estudou no American Film Institute, cujos ex-alunos incluem Andrea Arnold, Terrence Malick e David Lynch. Durante seus estudos, ela recebeu várias bolsas de estudo e prêmios, como o Franco-American Cultural Fund, o prêmio Mary Pickford de Excelência em Direção e o prêmio da Multicultural Motion Picture Association. Seu filme de tese, Hope to Die (2004) foi indicado ao prêmio Student Academy da American Society of Cinematographers e exibido em vários festivais ao redor do mundo como Tribeca, Deauville, Los Angeles. É estrelado por Odessa Young, Josh O`Connor, Olivia Colman e Colin Firth. Ambientado após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o filme acompanha a rotinização burocrática da vida de Jane Fairchild (Young), uma empregada doméstica órfã que passa o Mothering Sunday com seu amante rico. O filme também marca a primeira aparição extraordinária da vencedora do Oscar Glenda Jackson em um lançamento em mais de 30 anos, tendo aparecido pela última vez em “Rei do Vento” (1990), além de ser o penúltimo papel cinematográfico de sua vida. “Mothering Sunday” teve sua estreia mundial no Festival de Cinema de Cannes em 9 de julho de 2021.

Historicamente poucos dentre os resistentes não se tornam, mais cedo ou mais tarde durante a guerra, clandestinos. Largam atrás de si nomes, profissões, endereços, amigos, parentes. Aprendem até a exaustão a perder o passado, a memória e a si mesmos. A profissão, a família, os laços sociais não importam mais! Vivem exclusivamente em função dos seus fins ético-políticos. A Resistência foi uma ação relativamente voluntária de poucos homens, por isso só aparentemente tornados exemplares. Configura um modelo de comportamento singular e de atitude individual, festejado, celebrado e idealizado de cima a baixo por toda a sociedade, das elites sociais ao proletariado urbano, próximo da abnegação heroica. A dedicação à causa coletiva desdobra-se nas medidas de um apaixonado e exaltado “esquecimento de si”. Um modo político de viver foi alcançado que serve de espelho moral. Mas que designa a dimensão bela, justa e verdadeira do dever cívico, ato simples, ao alcance de todos e próprio do sentimento de ser francês.

Riscos existem, vale advertir, nestas formas-limites do agir. Recusar a existência na qual cada um se inscreve por filiação, por pertencimento social, pode equivaler a uma espécie de denegação do passado e de suas marcas. Filhos de ninguém, a quem não há diferença entre sexo, a nação, as idades, as aptidões, as circunstâncias individuais e coletivas. Negar elos de pertencimento incide no risco de desacreditar das raízes humanas e arrancá-las. Há perigos, bem se sabe, no gosto da utopia: considerar brancas as páginas humanas podem levar a políticas de terra arrasada. Há nas dimensões éticas e políticas, com certeza, uma prudência antropológica a adquirir (cf. Kolleritz, 1999). A 2ª guerra global (1939-1945) é também reconhecida pelas numerosas atrocidades contra civis cometidas pelos combatentes em plena era moderna. Calcula-se um total de 85 milhões de mortos, onde mais de 50 milhões foram civis. Um dos pilares da ideologia nazista era o antissemitismo, que culminou com o etnocídio de cerca de 6 milhões de judeus que anteriormente tiveram seus maiores bens confiscados e foram aprisionados para desempenhar trabalho escravo no âmbito dos Konzentrationslager. Além disso, eslavos prisioneiros de guerra, cidadãos poloneses, indivíduos portadoes de deficientes, homossexuais e ciganos também foram escravizados e executados. Estima-se que cerca de 11 milhões de civis, em sua maioria étnica eslava, tenham sido intencionalmente assassinados pelos terroristas nazistas.

 O primeiro grande campo de extermínio alemão comandado violentamente pela SS, descoberto em 1944 por tropas soviéticas, e desde então foram sendo gradativamente revelados tendo seus prisioneiros de guerra libertados por tropas norte-americanas, britânicas e soviéticas entre 1944 e 1945. Após a guerra, abriu-se um tribunal militar onde membros influentes do nazismo foram julgados por diversos crimes, inclusive aqueles contra a humanidade e de guerra, no evento reconhecido como Julgamento de Nuremberg. Uma série de tribunais militares, organizados pelos Aliados, depois da 2ª guerra global, e referentes aos processos contra 24 proeminentes membros da liderança política, militar e econômica da Alemanha nazista. Os julgamentos, a cargo do International Military Tribunal (IMT), ocorreram na cidade de Nuremberg, Alemanha, entre 20 de novembro de 1945 e 1º de outubro de 1946. Esse tribunal serviu como base para a criação do Tribunal Penal Internacional, com sede na cidade de Haia, nos Países Baixos. Posteriormente, entre 1946 e 1949, foram julgados os Processos de Guerra de Nuremberg, em 12 outros tribunais militares. Esses processos referiam-se a 117 acusações por crimes de guerra contra outros membros da liderança nazista. Na Ásia, o Japão Imperial foi responsável por crimes letais de Estado contra chineses, como o Massacre de Nanquim e experiências clínicas com seres humanos vivos, também reconhecido como o Estupro de Nanquim.

 Foi um episódio de assassinato em massa e estupros em massa cometidos por tropas do Império do Japão contra a cidade de Nanquim, na China, durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa, na Segunda Guerra Mundial. O massacre ocorreu durante um período de seis semanas a partir de 13 de dezembro de 1937, o dia em que os japoneses tomaram Nanquim, que na época era a capital chinesa. Durante este período, dezenas de milhares, se não centenas de milhares de civis chineses e combatentes desarmados foram mortos por soldados do Exército Imperial Japonês. Estupros e saques também ocorreram. Vários dos principais perpetradores das atrocidades, na altura rotulados como crime de guerra, mais tarde foram julgados e considerados culpados pelo Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente e pelo Tribunal de Crimes de Guerra de Nanquim, e executados. Outro autor chave, o príncipe Yasuhiko Asaka do Japão, foi o fundador de um ramo colateral da Casa Imperial do Japão e oficial de carreira do Exército Imperial Japonês, sendo um membro da Família Imperial, escapou da acusação por ter imunidade, anteriormente concedida pelos Aliados. O número de mortos no massacre não pode ser estimado com precisão porque a maioria dos registros militares japoneses sobre os assassinatos foram destruídos ou mantidos em segredo com a rendição do Japão, em 1945.

O Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente estimou, em 1948, que mais de 200 mil chineses foram mortos no incidente. Não por acaso a estimativa oficial da China é de mais de 300 mil mortos, com base na avaliação do Tribunal de Crimes de Guerra de Nanquim estabelecido em 1947. O número de mortos tem sido ativamente contestado identificando entre os estudiosos desde a década de 1980, com estimativas que variam de 40 mil a mais de 300 mil seres humanos mortos.  Edgar Morin é um dos principais representantes contemporâneos da análise de Estudos da Complexidade, que inclui perspectivas anglo-saxônicas e sobretudo de origem latinas. Sua abordagem é reconhecida dubiamente como pensamento complexo ou paradigma da complexidade. Mas o filósofo não se identifica como mero analista “teórico da complexidade”. Nem pretende limitar suas pesquisas às chamadas concepções abstratas de “ciências da complexidade”. Pois, menos se distingue entre perspectivas restritas, limitadas, e amplas ou mesmo generalizadas da reflexão sobre a complexidade. Em 1941, adere ao Partido Comunista, “num momento em que se sentia, pela primeira vez, que uma força poderia resistir à Alemanha nazista”. Entre 1942 e 1944, como tenente das forças militares combatentes francesas, adotou o codinome Morin, que conservaria em diante. Durante a Libération, é transferido para a Alemanha ocupada, como adido ao Estado Maior do Primeiro Exército Francês na Alemanha (1945), e como chefe do Departamento de Propaganda do governo militar francês (1946).

Escreve seu primeiro livro, L`An Zéro de l`Allemagne, publicado em 1946, no qual descreve a condição do povo alemão no pós-guerra, sendo apreciado por Maurice Thorez, que o convida a escrever para a revista Lettres françaises. A partir de 1949, distancia-se do Partido Comunista Francês, do qual será excluído em 1951, por suas posições críticas. Aconselhado por Georges Friedmann, que conheceu durante a ocupação e com o apoio de Maurice Merleau-Ponty, de Vladimir Jankélévitch e Pierre George, entra para o Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) em 1950. Começa a escrever L`Homme et la Mort que será editado a seguir, em 1951. Em 1955 coordena um comitê político contra a guerra da Argélia e defende particularmente Messali Hadj (1898-1974), pioneiro da luta anticolonial e um dos próceres da Independência da Argélia. Em 1960, funda, na École des Hautes Études en Sciences Sociales - Sociologie, Anthropologie, Histoire (EHESS), o Centro de Estudos de Comunicação de Massa (CECMAS), com Georges Friedmann e Roland Barthes, com a intenção de adotar uma abordagem transdisciplinar do tema, e criam a revista Communications.  Edgar Morin é também fundador da revista Arguments (1957-1963). Em 1963, casa-se com a artista plástica de origem quebecoise-caribenha Joahnne, com quem viaja ao Brasil diversas vezes. De 1978 a 1975, integrou o “Grupo dos Dez”, onde absorveu contato com as três teorias que viriam fundamentar suas ideias sobre a teoria da complexidade: cibernética, teoria da informação e teoria dos sistemas.

Em 1973, publica o livro L`Paradigme Perdu: La Nature Humaine. Este livro foi o ponto de partida para a construção do Método, série de livros, onde Edgar Morin explica minuciosamente a sua teoria da complexidade. Nomeado diretor de pesquisa do CNRS em 1970, será de 1973-1989, um dos dirigentes do Centro de Estudos Transdisciplinares da École des Hautes Études en Sciences Sociales, sucessor do Centro de Estudos de Comunicação de Massa. A principal obra de Edgar Morin é a constituída por seis volumes, mas é em particular em La Méthode que o pensador propõe o conceito de complexidade, a ideia-chave do método, que em seus volumes foi escrita durante três décadas e meia. Trata-se de uma das maiores obras de epistemologia. Inicia seus primeiros manuscritos de La Méthode, em 1973, com a publicação d`O Paradigma Perdido: a Natureza Humana, uma transformação epistemológica por questionar o fechamento ideológico e paradigmático das ciências, além de apresentar uma alternativa à concepção de paradigma encontrada no pensamento de Thomas Kuhn (1922-1996). A razão cartesiana impôs um paradigma: separar a razão da des-razão. Temos que religar o que a ciência cartesiana e as universidades através da divisão técnica do trabalho separaram. Ainda que as condições socioculturais sejam distintas das condições biocerebrais, estão ligadas por um nó górdio: as sociedades existem e as culturas só se formam, conservam, transmitem e desenvolvem através das interações cerebrais ou espirituais entre indivíduos.

A cultura, que caracteriza as sociedades humanas, é organizada e pari passu organizadora via o veículo cognitivo da linguagem, a partir, segundo Morin, do “capital cognitivo coletivo” dos conhecimentos adquiridos, das competências aprendidas, das experiências vividas, da memória histórica, das crenças míticas de uma sociedade. E, dispondo de seu capital cognitivo, a cultura institui as regras/normas que organizam a sociedade e governam os comportamentos individuais. Estas regras geram processos sociais e regenera globalmente a complexidade social adquirida por essa mesma cultura. Assim, a cultura não deve ser compreendida pelas metáforas estruturais, que são termos impróprios em uma organização recursiva onde o que é produzido e gerado torna-se produtor e gerador daquilo que o produz ou gera. Isso facto, cultura e sociedade estão em relação geradora mútua; nessa relação, não podemos esquecer as interações entre indivíduos, eles próprios portadores ou transmissores de cultura, que regeneram a sociedade, a qual regenera a cultura. Daí a tese sociológica segundo a qual, “se a cultura contém um saber coletivo acumulado em uma memória social, se é portadora de princípios, modelos, esquemas de conhecimento, se gera uma visão de mundo, se a linguagem e o mito são partes constitutivas da cultura.

 Então a cultura não comporta somente uma dimensão cognitiva: é uma máquina cognitiva cuja práxis é cognitiva”. É assim próprio de saber cognitivo que uma cultura abre e fecha as potencialidades bioantropológicas do conhecimento. Ela as abre e atualiza fornecendo aos indivíduos o seu saber acumulado, a sua linguagem, os seus paradigmas, a sua lógica, os seus esquemas, os seus métodos de aprendizagem, métodos de investigação, de verificação, etc., mas, ao mesmo tempo, ela as fecha e inibe com as suas normas, regras, proibições, tabus, o seu etnocentrismo, a sua autossacralização, a sua ignorância de ignorância. Ainda aqui, o que abre o conhecimento é o que fecha o conhecimento. Desde o seu nascimento, o ser humano conhece não só por si, para si, em função de si, mas, também pela sua família, pela sua tribo, pela sua cultura, pela sua sociedade, para elas, em função delas. Assim, o conhecimento de um indivíduo alimenta-se de memória biológica e de memória cultural, associadas na própria memória, que obedece a várias entidades de referência, diversamente presentes nela. Tudo o que é linguagem, lógica, consciência, tudo o que é espírito e pensamento, constitui-se na encruzilhada dialógica entre dois princípios de tradução, um contínuo, o outro descontínuo. As aptidões individuais organizadoras do cérebro humano necessitam de condições socioculturais para se atualizarem, as quais necessitam das aptidões do espírito humano para se organizarem individual e socialmente. A cultura está nos espíritos, vive nos espíritos, os quais estão na cultura, reciprocamente vivem na cultura. Meu espírito conhece através da minha cultura, vivem na cultura. Meu espírito conhece através da minha cultura, mas, em certo sentido, a minha cultura conhece através do meu espírito. 

Assim, portanto, as instâncias produtoras do conhecimento se coproduzem umas às outras; há uma unidade recursiva complexa estabelecida entre produtores e produtos do conhecimento, ao mesmo tempo em que há relação hologramática entre cada uma das instâncias, cada uma contendo as outras e, nesse sentido, cada uma contendo o todo enquanto todo. Falar em complexidade é falar em relação de interação simultaneamente complementar, concorrente, antagônica, recursiva e hologramática entre essas instâncias cogeradoras do reconhecimento humano. Mas não é apenas essa complexidade que permite compreender a possível autonomia relativa do espírito e no sentido técnico do cérebro individual. Mas é assim mesmo que o espírito individual pode autonomizar-se em relação à sua determinação biológica. Recorrendo às suas fontes e recursos socioculturais. Em relação à determinação cultural utilizando sua aptidão bioantropológicas para organizar o conhecimento. O espírito individual pode alcançar a sua autonomia com a dupla dependência que, ao mesmo tempo, o constrange, limita e alimenta. Pode jogar, pois há margem, entre hiatos, aberturas, defasagens. Entre o bioantropológico e o sociocultural, o ser individual e a sociedade. Assim, a possibilidade de autonomia do espírito individual está inscrita no princípio de seu conhecimento. E isso em nível de seu conhecimento cotidiano, quanto em nível de pensamento filosófico ou científico. A cultura fornece ao pensamento as suas condições sociais e materiais de formação, de concepção, de conceptualização. Impregna, modela e eventualmente governa os conhecimentos individuais. A cultura e, pela via da cultura, a sociedade está no interior do conhecimento. O conhecimento está na cultura e a cultura está na representação do conhecimento. 

Um ato cognitivo per se é, por esta razão, um elemento do complexo cultural coletivo que se atualiza em um ato cognitivo individual. As nossas percepções ou mesmo concepções estão sob um controle, não apenas de constantes fisiológicas e também psicológicas, mas níveis de variáveis culturais e históricas. A percepção é submetida a categorizações, conceptualizações, taxinomias, que influenciarão o reconhecimento e a identificação das cores, das formas, dos objetos. O conhecimento intelectual organiza-se em função de paradigmas que selecionam, hierarquizam, rejeitam as ideias sociais e as informações técnicas, bem como em função de significações mitológicas e de projeções imaginárias. Assim se opera a “construção social da realidade”, ou antes, a “co-construção social da realidade”, visto que a realidade se constrói também a partir de dispositivos cerebrais, em que o real (imagem) se consubstancializa e se dissocia do irreal (ficção), que constitui a visão de mundo, que se concretiza em verdade, em erro, na mentira. Para conceber a sociologia do conhecimento, é necessário conceber não só o enraizamento do conhecimento na sociedade e a interação social do conhecimento/na sociedade. Mas no anel recursivo no qual o conhecimento é produto/produtor sociocultural que comporta uma dimensão própria cognitiva.        

Os homens de uma cultura, pelo seu modo de conhecimento, produzem a cultura que produz seu reconhecimento. A cultura gera os conhecimentos que regeneram a cultura. Ao considerar-se a que ponto o conhecimento é produzido por uma cultura, dependente de uma cultura, integrado a uma cultura, pode-se ter a impressão de que nada seria capaz de libertá-lo. Mas isso seria, sobretudo, ignorar as potencialidades de autonomia relativa, no interior de todas aquelas culturas, dos espíritos individuais. Os indivíduos não são todos, e nem sempre, mesmo nas condições culturais mais fechadas, máquinas triviais obedecendo impecavelmente à ordem social e às injunções culturais. Isso seria ignorar que toda cultura está vitalmente aberta ao mundo exterior, de onde tira conhecimentos objetivos e que conhecimentos e ideias migram entre as culturas. Seria ignorar que aquisição de uma informação, a descoberta de um saber, a invenção de uma ideia, podem modificar e transformar uma sociedade, mudar o curso da história. Assim, o conhecimento está ligado, por todos os lados, à estrutura da cultura, à organização social, à práxis histórica. Sempre por toda parte, o conhecimento científico transita pelos espíritos individuais, que dispõem de autonomia potencial, a qual pode em certas condições sociais e políticas atualizarem-se e tornar-se um pensamento pessoal crítico. 

Sobre a aquisição do conhecimento pesa um formidável determinismo. Ele nos impõe o que se precisa conhecer, como se deve conhecer, o que não se pode conhecer. Comanda, proíbe, traça os rumos, estabelece os limites, ergue cercas de arame farpado e conduz-nos ao ponto onde devemos ir. E também que conjunto prodigioso de terminações sociais, culturais e históricas é necessário para o nascimento da menor ideia, da menor teoria. As teorias determinísticas ao longo da história da filosofia se desenvolveram a partir de motivos e considerações diversas e às vezes sobrepostas. Como o eternalismo, o determinismo se concentra em eventos particulares em vez do futuro como um conceito. Não bastaria limitarmo-nos a essas determinações históricas e sociais cognitivas que pesam do exterior sobre o conhecimento do real. É necessário considerar, também, os determinismos intrínsecos ao conhecimento, que são, segundo Morin, muito mais implacáveis. Em primeiro lugar, princípios iniciais, comandam esquemas e modelos explicativos, os quais impõem uma visão de mundo e das coisas que governam/e controlam de modo imperativo e proibitivo a lógica dos discursos, pensamentos, teorias. Ao organizar os paradigmas e modelos explicativos associa-se o determinismo organizado dos sistemas de convicção e de crença que, quando reinam em uma sociedade, impõem a todos a força imperativa do sagrado, a força normalizadora do dogma, a força proibitiva do tabu. As doutrinas e ideologias dominantes dispõem da força imperativa e coercitiva que leva a evidência aos convictos e o temor inibitório aos desalmados.

Bibliografia Geral Consultada.

MORIN, Edgar, As Estrelas. Mito e Sedução no Cinema. 1ª edição. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1972; Idem, Introducción al Pensamiento Complejo. Barcelona: Editorial Gedisa, 1998; KOLLERITZ, Fernando, “A Apostasia Comunista: A Subjetividade como Política”. In: Rev. Bras. Hist. Volume 19, n° 38. São Paulo, 1999; AÏT ABDELMALEK, Ali, “Edgar Morin, Sociologue et Théoricien de la Complexité: Des Cultures Nationales à la Civilisation Européenne”. In: Sociétés, (4) 2004, n° 86, pp. 99-117; GONÇALVES, Joanisval Brito, Tribunal de Nuremberg (1945-1946) - A Gênese de uma Nova Ordem no Direito Internacional. Rio de Janeiro: Editor Renovar, 2004; HEGEL, Friedrich, Fenomenologia do Espírito. 4ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2007; ALLEGRO, Luís Guilherme Vieira, A Reabilitação dos Afetos: Uma Incursão no Pensamento Complexo de Edgar Morin. Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais. Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2007; NICOLAU, Marcos Fabiano Alexandre, O Conceito de Formação Cultural (Bildung) em Hegel. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira. Faculdade de Educação. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2013; SILVA, Paulo Roberto Pinheiro da, O Paradoxo do Conhecimento Imediato ou o Desespero da Consciência Natural. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2017; SOUTO, Caio Augusto Teixeira, Georges Canguilhem. O Devir de um Pensamento. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Filosofia. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2019; ARAÚJO, Vitor Vasconcelos de, A Constituição da Subjetividade: Hegel e a Ordem das Sucessões Cumulativas. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2020; PENNYCOOK, Pedro, “Pensar a Pura Vida”. In: Revista Eletrônica Estudos Hegelianos: vol. 21 n° 38 (2024); VIRTUOSO, Mikael Paganotto, Quanto Valho Nessa Relação? Adaptações e Evidências de Validade da Escala de Valor Relacional do Companheiro. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Departamento de Psicologia. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2025; entre outros.

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Tau – Criação de Senhor & Escravo em Cativeiro de Alta Tecnologia.

                                                   Mas você ainda os obedece? Porque eles criaram você?”. Filme Tau (2018)                         

          Cativeiro, também reconhecido como zoocria é a atividade humana de manter preso algum animal em uma área determinada, espécies não domésticas, em geral com propósitos de manutenção, crescimento e reprodução de espécies. No caso dos zoológicos, também é importante para estabelecer populações de criação em cativeiro de animais raros e ameaçados, além de possibilitar o desenvolvimento de estudos científicos. Cativeiro também pode ser denominado como um local onde se mantém pessoas em cárcere privado. No caso dos negros escravos o cativeiro era geralmente a senzala. Hebreus ficaram em cativeiros quando estavam no Egito. Ao longo da história, hic et nunc, não apenas animais domésticos como animais de estimação e gado foram mantidos em cativeiro e sob cuidados humanos, mas também animais selvagens. Apesar do fato de animais selvagens terem sido abrigados por humanos por milhares de anos, esse cativeiro nem sempre se aproximou dos zoológicos atuais. Alguns foram tentativas fracassadas de domesticação. Além disso, em tempos passados, principalmente os ricos, aristocratas e reis coletavam animais selvagens por várias razões. Os ricos construíram os primeiros zoológicos como coleções para demonstrar seu domínio. Essas coleções particulares de animais eram reconhecidas como menageries. Ao contrário da domesticação, a ferocidade e o comportamento natural dos animais selvagens foram preservados e exibidos. Os zoológicos contemporâneos reivindicam outras razões para manter os animais sob cuidados humanos: conservação, educação e ciência. A história da criação tem como representação social um mito de criação (cf. Chauí, 2000) originado do judaísmo e do cristianismo, descrito nos primeiros capítulos do livro do Gênesis, na Bíblia.

Consiste na ideia per se de que Deus criou o universo e os seres vivos de forma sobrenatural. No entanto, o termo é mais comumente usado para referir-se à rejeição, por  motivos religiosos, de certos processos científicos biológicos, particularmente a evolução. Criacionistas, em geral, rejeitam a idade do universo e da Terra estipulada pela ciência moderna e defendem que o universo surgiu em apenas seis dias há menos de 10 mil anos e sua cosmologia é originária do literalismo bíblico. Existem, no entanto, um espectro contínuo de tipos de criacionismo, variando desde o criacionismo da Terra plana (cf. Randless, 1994) até a aceitação das teorias científicas modernas sem conflito com a leitura da Bíblia (cf. Miceli, 1994). Uma vertente do criacionismo cristão é o criacionismo científico, que entraram em conflito com a teoria da evolução nas escolas e tribunais dos Estados Unidos da América na primeira década do século XXI. Atualmente, muitos cristãos e judeus acreditam que os sete dias da criação do mundo, narrada pela Bíblia, não devem ser interpretados literalmente e apenas representam uma forma metafórica e alegórica de explicar o fato da criação do Universo. Mas, mesmo assim, uma corrente cristã, denominada fundamentalismo, originárias em certas regiões dos Estados Unidos da América, ainda acreditam numa leitura de interpretação estritamente literal da Bíblia. Alguns judeus ortodoxos defendem pontos de vistas semelhantes à vista de cristãos fundamentalistas. E per se rejeitam a teoria da evolução por considerarem-na incompatível com os livros da Torá, porém os judeus são consensualmente contrários ao criacionismo cristão. 

A razão disto é que consideram o criacionismo cristão baseado na Bíblia do Rei James (1611) e não em textos hebraicos originais, que incorporam comentários adicionais ao texto bíblico. Autores notaram a extrema confusão que reina na demasiado rica terminologia do imaginário social: signos, imagens, símbolos, alegorias, emblemas, arquétipos, esquemas (schémas), esquemas (schèmes), ilustrações, representações, diagramas e sinepsias são termos empregados pelos analistas do imaginário social. O esquema é uma generalização dinâmica e afetiva da imagem, constitui a factividade e a não-substantividade geral do parcours imaginário. O esquema aparenta-se ao que Jean Jean Piaget, na esteira de Herbert Silberer, chama “símbolo funcional” e comparativamente, ao que Gaston Bachelard na filosofia chama de “símbolo motor”. Faz a junção ente dos gestos inconscientes da sensório-motricidade, entre as dominantes reflexas e as representações. São esses esquemas que na antropologia do imaginário formam o “esqueleto dinâmico”, o esboço funcional da imaginação. A diferença entre os gestos reflexológicos que Gilbert Durand (1997) descreve analogamente e os esquemas é que estes últimos já não são apenas abstratos engramas teóricos, mas trajetos encarnados em representações concretas bem mais precisas. Os gestos diferenciados em esquemas vão determinar, em contato com o ambiente natural e social, os grandes arquétipos que Jung os definiu. Os arquétipos constituem as substantificações dos esquemas. Carl Jung vai buscar esta noção em Jakob Burckhardt e faz dela sinônimo de origem primordial, de enagrama, de margem original, de protótipo social.                             

O pensador evidencia claramente o caráter de trajeto antropológico dos arquétipos quando escreve que a imagem primordial deve incontestavelmente estar em relação com certos processos perceptíveis da natureza que se reproduzem sem cessar e são sempre ativos, mas por outro lado é igualmente indubitável que ela diz respeito também a certas condições inferiores da vida do espírito e da dinâmica da vida em geral. Bem longe de ter a primazia sobre a imagem, a ideia seria tão-somente o comprometimento pragmático do arquétipo imaginário num contexto histórico e epistemológico dado. Neste sentido, o mito representa um sistema dinâmico de símbolos, arquétipos e esquemas, sistema dinâmico que, sob o impulso de um esquema tende a compor uma narrativa. O mito é já um esboço de racionalização, dado que utiliza o fio do discurso, no qual os símbolos se resolvem em palavras e os arquétipos em ideias culturais. O mito explicita um esquema ou um grupo de esquemas. Do modo que o arquétipo promovia a ideia, o símbolo o nome, concordamos com Durand que o mito promove a doutrina religiosa, o sistema filosófico ou, como bem anteviu Émile Bréhier, a “narrativa histórica e lendária”.  Foi este princípio, que o psicólogo Carl Jung sentiu abrangido por seus conceitos de “Arquétipo” e “Inconsciente coletivo”, justamente o que uniu o médico psiquiatra Jung ao físico Wolfgang Pauli, dando início às pesquisas interdisciplinares em física e psicologia. A sincronicidade, vale lembrar, se manifesta muitas vezes atemporalmente e/ou em eventos energéticos acausais, e em ambos são violados princípios associados ao paradigma científico vigente.           

        Tau é um espírito maligno na mitologia guarani. A mitologia tupi-guarani é o conjunto de narrativas sobre os deuses e espíritos dos diversos povos tupis-guaranis, antigos e atuais. Juntamente com as cosmogonias (narrativas de criação do universo), as antropogonias (sobre a criação da humanidade) e os rituais são parte das religiões destes povos. Embora Tau não seja visto como o Diabo é visto nas crenças cristãs, ele às vezes era chamado de Espírito do Mal e como tal, pode ser a personificação do próprio mal. Tau foi como um nêmesis de Angatupyry, pelo deus supremo da mitologia guarani, Tupã, e foi deixado com a humanidade na Terra. Tau se viu apaixonado por uma mulher chamada Kerana, filha de Marangatu, que vivia na tribo Guarani. Tau se disfarçou-se de um belo jovem e a cortejou por sete dias antes de decidir sequestrá-la, mas sua trama foi frustrada por Angatupyry, o espírito do bem. Tau e Angatupyry lutaram entre si por sete dias e sete noites até que ele foi finalmente derrotado. Após sua derrota, ele foi exilado da terra por Pytajovái, o deus da guerra e valor. Tau não se deu por vencido tão facilmente. Apesar de sua expulsão, ele retornou de alguma forma e sequestrou a bela Kerana. Algumas versões dizem que ele a estuprou enquanto a mantinha em cativeiro, alguns relatos etnográficos narram que Tau e Kerana se casaram. A história é frequentemente contada de formas diferentes porque os guaranis não tinham uma língua escrita. Seja qual for o caso, o produto da relação sexual de Tau e Kerana foram sete filhos que foram amaldiçoados pela deusa Arasy e nasceram como monstros. Cada um era reverenciado ou temido, cada um possuindo habilidades e características diferentes, essenciais para a tradição guarani. 

            A palavra tecnologia também pode ser usada para se referir a uma coleção de técnicas. Nesse contexto, é o estado atual do conhecimento da humanidade de como combinar recursos para produzir produtos desejados, resolver problemas, atender necessidades ou satisfazer desejos; inclui métodos técnicos, habilidades, processos, técnicas, ferramentas e matérias-primas. Quando combinado com outro termo, como “tecnologia médica” ou “tecnologia espacial”, refere-se ao estado do conhecimento e das ferramentas do campo. “Estado da arte” refere-se à alta tecnologia disponível para a humanidade em qualquer campo. A tecnologia pode ser vista como uma atividade que forma ou muda a cultura. Além disso, a tecnologia é a aplicação da matemática, da ciência e das artes em benefício da vida como é conhecida. Um exemplo é o surgimento da tecnologia de comunicação, que diminuiu as barreiras à interação humana e, como resultado, ajudou a gerar novas subculturas; o surgimento da cibercultura tem como base o desenvolvimento da rede mundial Internet e utilidade de uso do computador. Nem toda tecnologia aprimora a cultura de maneira criativa; a tecnologia também pode ajudar a facilitar a repressão política e a guerra por meio de ferramentas como armas. Como atividade cultural, a tecnologia antecede a ciência e a engenharia, cada uma das quais formaliza alguns aspectos do esforço tecnológico. Alta tecnologia (high tech) refere-se à tecnologia em estado da arte ou de ponta (cutting-edge), isto é, que trabalha com as mais recentes inovações tecnológicas, ou na sua investigação.             

Tecnologia do grego τέχνη: técnica, arte, ofício e -λογία: estudo, é o conjunto de processos e habilidades usados na produção de bens ou serviços, ou na realização de objetivos, como em investigações científicas. Isso também pode ser embutido em máquinas para permitir a operação tecnológica destas sem reconhecimento detalhado do funcionamento. Sistema tecnológico ou computacional que através do input de dados, faz à análise destes e, então produz um resultado. A distinção entre ciência, engenharia e tecnologia nem sempre é clara. Ciência é um conhecimento sistemático do mundo físico ou material obtido através da observação e experimentação. As tecnologias geralmente não são exclusivamente produtos da ciência, porque precisam satisfazer requisitos como utilidade, usabilidade e segurança. A engenharia é o processo orientado a objetivos de projetar e fabricar ferramentas e sistemas para explorar fenômenos naturais por meios humanos práticos, frequentemente, mas nem sempre, usando resultados e técnicas da obtidos através da ciência. O desenvolvimento da tecnologia em seu ersatz pode recorrer a muitos campos do conhecimento, incluindo o conhecimento científico, de engenharia, matemático, linguístico e histórico, para alcançar algum resultado prático. A tecnologia é frequentemente uma consequência da ciência e da engenharia, embora a tecnologia como atividade humana anteceda os dois campos. Por exemplo, a ciência pode estudar o fluxo de elétrons em condutores elétricos usando ferramentas e conhecimentos já existentes.

Esse conhecimento recém-encontrado pode ser usado pelos engenheiros para criar novas ferramentas e máquinas, como semicondutores, computadores e outras formas de tecnologia avançada. Nesse sentido, cientistas e engenheiros podem ser considerados tecnólogos; os três campos são frequentemente considerados um para fins de pesquisa e referência. As relações exatas entre ciência e tecnologia, em particular, foram debatidas por cientistas, historiadores e formuladores de políticas no final do século XX, em parte porque o debate pode informar o financiamento da ciência básica e aplicada. No surgimento imediato da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), por exemplo, foi amplamente considerado nos Estados Unidos da América (EUA) que a tecnologia era simplesmente “ciência aplicada” e que financiar a ciência básica era colher resultados tecnológicos no devido tempo histórico, social ou político. Uma articulação dessa filosofia pode ser encontrada explicitamente na dissertação de Vannevar Bush (1890-1974) sobre a C&T do pós-guerra, Science - The Endless Frontier: “Novos produtos, novas indústrias e mais empregos exigem acréscimos contínuos ao conhecimento das leis da natureza (...). Este novo conhecimento essencial pode ser obtido apenas por meio de pesquisa científica básica”. No final da década de 1960, essa visão ficou sob ataque, levando a iniciativas para financiar a ciência para tarefas específicas, iniciativas resistidas pela comunidade científica. 

A questão permanece historicamente controversa, embora a maioria dos analistas ocidentais resista ao modelo de que a representação social da tecnologia é resultado de pesquisa científica. A questão fenomenologicamente (cf. Hegel, 2007) diz respeito a saber: por que a dialética do “Senhor e do Escravo” é necessária para a compreensão da ideia de liberdade? São representações instrumentais de um diálogo racional entre duas consciências que por sua vez foram imaginadas por Friedrich Hegel (1807) que brilhantemente utilizou o diálogo entre as duas consciências para chegar ao reconhecimento de si e para si, permitindo a ideia de liberdade, uma liberdade pautada pelo respeito mútuo. E a exata importância e posição que ocupam as duas consciências, que inicialmente em guerra e posteriormente pelo amadurecimento que as leva a ideia de liberdade pautada em limitadores essenciais para a convivência harmoniosa. Reconhecer a si mesmo e ao outro é uma forma de ver nossos limites e dos demais, respeitando e sendo respeitado são elementos necessários para a paz e a liberdade. Hegel se utiliza habilmente desta metáfora. A dialética do “senhor e do escravo” é um processo de liberdade estabelecido nas relações sociais de reconhecimento. Neste sentido a figura humana de John Lennon (1940-1980) é representativa da ideia filosófica de Immanuel Kant a Friedrich Hegel de liberdade, mas o autor não existe fora da linguagem e cultura. Daí o fato que reitera o etnocentrismo quando interpretamos que toda cultura opera assim uma divisão entre ela mesma, quando se firma como representação por excelência do humano, e os outros, que participam da humanidade apenas em grau menor.                       

O discurso que as sociedades ditas primitivas, na falta de melhor expressão, fazem sobre si mesmas, discurso condensado nos nomes que elas se dão, é, portanto, etnocêntrico de uma ponta à outra: afirmação da superioridade de sua existência cultural, recusa de reconhecer os outros como iguais. O etnocentrismo aparece então como a “coisa” do mundo mais bem distribuída e, desse ponto de vista pelo menos, a cultura do Ocidente não se distingue das outras. Convém mesmo, aprofundando um pouco mais a análise, pensar o etnocentrismo como uma propriedade formal de toda formação cultural, como imanente à própria cultura. Pertence à essência da cultura ser etnocêntrica, na medida exata em que toda cultura se considera como a cultura por excelência. Noutras palavras, a alteridade cultural nunca é apreendida como “diferença positiva”, mas sempre como inferioridade segundo uma interpretação cultural subjetiva de dominância tipicamente hierárquica. Um exemplo conspícuo refere-se ao tratamento do tema “orientalismo”, comumente utilizado para definir o estudo constituído por todas as sociedades fora do contexto histórico, teórico e ideológico ocidental, da cultura global europeia, – quando utilizamos a noção “pós-orientalismo”. Por duas razões: a) É correlata à filosofia dita “pós-moderna”; b) Trata-se de um eclético e elusivo movimento social caracterizado por sua crítica analítica à filosofia ocidental. E fora de dúvida sofreu influências, também, em certo grau associado ao desenvolvimento do positivismo no âmbito da filosofia de Ludwig Wittgenstein.

Sequestrada por um inventor que a faz de cobaia para aprimorar um sistema de inteligência artificial robótica, uma jovem (Maika Monroe) tenta fugir de seu cativeiro de alta tecnologia. Tau tem como representação social um filme estado-unidense dos gêneros ficção científica e suspense.  É um gênero da ficção especulativa, que normalmente lida com conceitos ficcionais e imaginativos, relacionados ao futuro, ciência & tecnologia, e seus impactos e/ou consequências em uma determinada sociedade ou em seus indivíduos, desenvolvido no século XIX. O filme foi realizado por Federico D`Alessandro, escrito por Noga Landau, roteirista e produtora executiva norte-americana e protagonizado por Maika Monroe, atriz e atleta de kiteboard profissional norte-americana. Ela iniciou sua carreira no esporte, alcançando reconhecimento internacional antes de migrar para a atuação, Ed Skrein, ator e cantor britânico mais reconhecido por Frank Martin em Le Transporteur: Héritage e Gary Oldman, um ator, diretor e produtor cinematográfico britânico, vencedor do Óscar de Melhor Ator pelo seu papel de Winston Churchill no filme Darkest Hour. Em maio de 2016, foi anunciado que Maika Monroe e Ed Skrein foram escalados para protagonizar o filme, com Federico D`Alessandro sendo o realizador, e David S. Goyer, Kevin Turen, Russell Ackerman, e John Schoenfelder como produtores, e Ken Kao, Dan Kao e Luc Étienne como produtores executivos, nos estúdios Addictive Pictures, Phantom 4, e Waypoint Entertainment. Em agosto de 2016, foi anunciado que a Rhea Films e a Hercules Film Fund seriam as produtoras do filme. Em novembro de 2017, a Netflix comprou os direitos de distribuição cinematográfica. O filme foi lançado a 29 de junho de 2018. Estreou-se na Netflix a 29 de junho de 2018.

            Julia é uma jovem que rouba em casas noturnas decadentes. Ela é sequestrada de casa e acorda em uma cela com um implante brilhante na nuca. Dois outros indivíduos a acompanham. Após múltiplas sessões de tortura psicológica por um homem chamado Alex, ela destrói a cela e o laboratório adjacente em uma tentativa de fuga. Os outros dois indivíduos são mortos por um robô, Aries, comandado por uma inteligência artificial (IA) chamada Tau. Aries está prestes a matar Julia quando Alex chega e detém o robô. Alex revela que o implante está coletando a atividade neural de Julia para um projeto de IA. O interesse no desenvolvimento de máquinas autônomas capazes de simular o pensamento humano e de realizar várias tarefas cresceu vertiginosamente nas últimas décadas, da segunda metade do século XX, realizando assim os primeiros estudos e pesquisas sociais sobre inteligência artificial (IA) a um propósito comum, a partir de iniciativas de cientistas de diversas áreas, como: psicologia, ciência cognitiva, ciência da computação e, robótica. Ferramentas eficientes em analisar problemas e oferecer soluções e planejamentos (tomada de decisão), automatização de tarefas no cotidiano das pessoas. No filme a destruição do laboratório atrasou sua pesquisa. Diante de um prazo de duas semanas, Alex mantém Julia prisioneira em sua casa e insiste que ela complete quebra-cabeças e testes cognitivos. Enquanto Alex está fora, trabalhando todos os dias, Julia conversa com Tau sobre o mundo fora de casa. É claro que, embora inteligente em alguns aspectos, Tau ignora como as pessoas se sentem ou o mundo em geral. Enquanto Tau começa a entender o mal na situação de Julia, sua programação o impede de libertá-la.                            

Em troca de informações sobre o mundo exterior, Tau gradualmente revela mais informações sobre a casa, bem como sobre os experimentos de Alex. Julia acessa secretamente o tablet de Alex e descobre que dez indivíduos morreram em seus experimentos. Mais tarde, Alex descobre sua impressão digital no tablet e presume que Tau se descuidou em suas funções, então pune Tau apagando seu código e memórias, causando dor à IA. Julia percebe que o monitoramento de Tau sobre ela é desativado durante a punição, então, sem ser detectada, ela esconde uma faca de carne. Quando Alex retorna mais tarde naquela noite de um evento beneficente, Julia começa a seduzi-lo enquanto ele está sentado à mesa da cozinha e, em seguida, o esfaqueia. Enquanto os dois lutam, Tau ameaça Alex com dor se ele não parar de machucar Julia. Alex força Áries a bater em Julia repetidamente e então diz a Tau e Julia que o que quer que estivesse acontecendo acabou. Enquanto conserta Tau, ele desconecta um drone da rede. No dia seguinte, Julia convence Tau de que Alex a matará se ela não escapar. Tau contorna a proibição de soltá-la abrindo um duto de ar no átrio. Enquanto ela escapa, Alex chega, vê Julia desaparecida e começa a punir Tau. Julia retorna para salvar Tau, mas é tarde demais — todas as memórias que ele tinha dela foram apagadas. Alex prende Julia no porão para extrair seu implante, um procedimento que a matará. O drone desconectado, ainda contendo a consciência e as memórias anteriores de Tau, ajuda Julia a se libertar de suas amarras. Ela deixa Alex inconsciente e corta sua mão com uma serra de osso para usar nos sensores biométricos da casa. Áries a vê no átrio e a persegue escada acima até o quarto de Alex. Quando o robô arromba a porta, ela usa a mão decepada de Alex para ativar o mecanismo de autodestruição simultaneamente da casa.                         

Alex emerge, ainda viva, mas é esmagada pela alvenaria que cai enquanto a casa se destrói. Julia escapa por pouco através de uma parede rachada com o drone que a salvou — tudo o que resta de Tau. Desde o início os fundamentos da inteligência artificial tiveram o suporte de várias disciplinas que contribuíram com ideias, pontos de vista e técnicas para a IA. Os filósofos (desde 400 a.C.) tornaram a IA concebível, considerando as ideias de que a mente é, em alguns aspectos, semelhante a uma máquina, de que ela opera sobre o conhecimento codificado em alguma linguagem interna e que o pensamento pode ser usado para escolher as ações que deverão ser executadas. Por sua vez, os matemáticos forneceram as ferramentas para manipular declarações de certeza lógica, bem como declarações incertas e probabilísticas. Eles também definiram a base para a compreensão da computação e do raciocínio sobre algoritmos. Os economistas formalizaram o problema de tomar decisões que maximizam o resultado esperado para o tomador de decisões. Os psicólogos adotaram a ideia de que os seres humanos e os animais podem ser considerados máquinas de processamento de informações. Os linguistas que o uso da linguagem se ajusta a esse modelo. Os engenheiros fornecem os artefatos que tornam possíveis as aplicações de IA. Os programas de IA tendem a ser extensos e não poderiam funcionar sem os grandes avanços em velocidade e memória que a indústria de informática tem proporcionado.

            O desenvolvimento dessa ideia ocorreu plenamente no século XX, principalmente na década de 1950, com pensadores como Allan Turing, Herbert Simon e, John McCarthy. Turing escreveu o artigo Computing Machinery and InteIligence sobre a possibilidade de uma máquina pensar e imitar o comportamento inteligente com tal perfeição, de forma que pudesse confundir até um juiz humano. Turing também esboçou uma proposta de pesquisa para tornar possível. Inicialmente os testes em IA foram repletos de sucessos – porém limitados devido o desempenho reduzido dos primeiros computadores – o que causava surpresa, foi o fato de um computador realizar atividade remotamente inteligente. O sucesso inicial prosseguiu em 1957 com o General Problem Solver (GPS) desenvolvido por Herbert Simon e Allen Newell, um programa foi projetado para imitar protocolos humanos de resolução de problemas. Dentro da classe limitada de quebra-cabeças com a qual podia lidar, verificou-se que a ordem em que os seres humanos abordavam os mesmos problemas. Desse modo, o GPS talvez tenha sido o primeiro programa a incorporar a abordagem de “pensar de forma humana”. Em 1961, a proposta de Turing voltou no artigo de Herbert Simon e Allen Newell intitulado: The Simulation of Human Thought sobre o teste de uma teoria de resolução humana de problemas.

            Esta teoria tenta explicar alguns aspectos dos processos mentais responsáveis pela inteligência humana, um projeto de estudos reconhecido pelo nome de Projeto de Simulação Cognitiva. A questão coloquial sobre o que é “inteligência artificial”, mesmo como antes definida, pode ser separada abstratamente em duas partes: “qual a natureza do artificial” e “o que é inteligência”. A primeira questão é de resolução relativamente fácil, apontando, no entanto, para a questão de o que poderá o homem construir. A segunda questão seria consideravelmente mais difícil, levantando a questão da consciência, identidade e mente, incluindo a mente inconsciente, juntamente com a questão de que componentes estão envolvidos no único tipo de inteligência que universalmente se aceita como estando ao alcance do nosso estudo: a inteligência do ser humano. O estudo de animais e de sistemas artificiais que não são modelos triviais começa a ser considerado como pauta de estudo na área da inteligência. Ao conceituar inteligência artificial, presume-se a interação com o ambiente, diante de necessidades reais como relações entre indivíduos semelhantes, a disputa entre indivíduos diferentes, perseguição e fuga; além da comunicação simbólica específica de causa e efeito em diversos níveis de compreensão intuitiva, consciente. As críticas sobre a impossibilidade de criar uma inteligência em um composto artificial podem ser encontradas em Jean-François Lyotard (“O Pós-humano”) e Lucien Sfez (“Crítica da Comunicação”); para sermos breves, uma contextualização didática do debate encontra-se em Sherry Turkle (“O segundo Eu: os computadores e o espírito humano”).

Pode-se resumir o argumento central no fato de que a própria concepção de inteligência é humana e, nesse sentido, animal e biológica. A possibilidade de transportá-la para uma base plástica, artificial, encontra um limite claro e preciso: se uma inteligência puder ser gerada a partir destes elementos, deverá ser necessariamente diferente da humana, na medida em que seu resultado provém da emergência de elementos totalmente diferentes dos encontrados nos humanos. A inteligência, tal como a entendemos, é essencialmente o fruto problemático do cruzamento da uma base biológica com um complexo simbólico e cultural, impossível de ser reproduzido artificialmente. Outros filósofos sustentam visões diferentes. Ainda que não vejam problemas com a chamada IA fraca, entendem que há elementos suficientes para se crer na IA forte também. Daniel Dennett (1942-2024) argumenta em Consciência Explicada que se não há uma centelha mágica ou alma nos seres humanos, então o Homem é apenas uma outra máquina. Dennett problematiza por que razão o Homem-máquina deve ter uma posição privilegiada sobre todas as outras máquinas contemporâneas quando provido de inteligência. Alguns autores sustentam que se a IA fraca é possível, então também o é a forte. O argumento da IA fraca, de uma inteligência imitada, mas não real, desvelaria assim uma suposta validação da IA forte. Isso se daria porque, tal como entende Simon Blackburn em seu livro Think, dentre outros, não existe a possibilidade de verificar se uma inteligência é verdadeira ou não. Estes autores argumentam que toda inteligência apenas parece inteligência, sem necessariamente o ser. Parte-se do princípio que é impossível separar o que é inteligência de fato do que é apenas simulação: apenas acredita-se ser.

            Os principais pesquisadores e livros didáticos definem o campo como “o estudo e projeto de agentes inteligentes”, onde um agente inteligente é um sistema que percebe seu ambiente e toma atitudes que maximizam suas chances de sucesso. Andreas Kaplan e Michael Haenlein definem a inteligência artificial como “uma capacidade do sistema para interpretar corretamente dados externos, aprender a partir desses dados e utilizar essas aprendizagens para atingir objetivos e tarefas específicas através de adaptação flexível”. John McCarthy, quem caracterizou o termo em 1956, “numa conferência de especialistas celebrada em Darmouth Colege”, genericamente em que a define como “a ciência e engenharia de produzir sistemas inteligentes”. É uma área de pesquisa da computação dedicada a buscar métodos ou dispositivos computacionais que possuam ou multipliquem a capacidade racional do ser humano de resolver problemas, pensar ou, de forma ampla, ser inteligente. Nas últimas décadas, o campo expandiu-se para incluir subáreas como aprendizado de máquina, redes neurais artificiais, processamento de linguagem natural e de forma extraordinária, uma visão computacional, com ênfase crescente em técnicas estatísticas, métodos conexionistas e abordagens híbridas que combinam modelos simbólicos e aprendizagem profunda. Também pode ser definida como o ramo da ciência da computação que “se ocupa do comportamento inteligente”, ou ainda, o estudo de como fazer os computadores realizarem coisas que, atualmente, os humanos fazem melhor.

Bibliografia Geral Consultada.

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