“A verdadeira figura na qual a verdade existe só pode ser o sistema científico dessa verdade”. Friedrich Hegel
Friedrich Hegel que
parte da análise da consciência comum, não podia situar como princípio primeiro
uma dúvida universal que só é própria da reflexão filosófica. Por isso mesmo
ele segue o caminho aberto pela consciência e a história detalhada de sua formação.
Melhor dizendo, a Fenomenologia (1807) vem a ser uma história concreta
da consciência, sua saída da caverna e sua ascensão à Ciência. Daí a analogia
que em Hegel existe de forma coincidente entre a história da filosofia e a
história do desenvolvimento do pensamento, mas este desenvolvimento é
necessário, como força irresistível que se manifesta lentamente através dos
filósofos, que são instrumentos de sua manifestação. Assim, preocupa-se apenas
em definir os sistemas, sem discutir as peculiaridades e opiniões dos
diferentes filósofos. Na determinação do sistema, o que o preocupa é a
categoria fundamental que determina o todo complexo do sistema, e o
assinalamento das diferentes etapas, bem como as vinculasses destas etapas que
conduzem à síntese do espírito absoluto. Para compreender o sistema é
necessário começar pela representação, que ainda não sendo totalmente exata
permite, no entender de sua obra a seleção de afirmações e preenchimento do
sistema abstrato de interpretação do método dialético, para poder
alcançar a transformação da representação numa noção clara e exata.
Assim, temos a passagem
da representação abstrata, para o conceito claro e concreto através do acúmulo
de determinações. Aquilo que por movimento dialético separa e distingue
perenemente a identidade e a diferença, sujeito e objeto, finito e infinito, é a
alma vivente de todas as coisas, a Ideia Absoluta que é a força geradora, a
vida e o espírito eterno. Mas a Ideia Absoluta seria uma existência abstrata se
a noção de que procede não fosse mais que uma unidade abstrata, e não o
que é em realidade, isto é, a noção que, por um giro negativo sobre si mesma,
revestiu-se novamente de forma subjetiva. Metodologicamente a determinação mais
simples e primeira que o espírito pode estabelecer é o Eu, isto é, a faculdade de poder
abstrair todas as coisas do mundo, até sua própria vida. Chama-se idealidade
precisamente esta supressão da exterioridade. Entretanto, o espírito, ou como
se estrutura o pensamento dialeticamente, não se detém na apropriação, transformação e
dissolução da matéria em sua universalidade, mas, enquanto consciência
religiosa, por sua faculdade representativa, penetra e se eleva através da
aparência dos seres até esse poder divino, uno, infinito, que conjunta e anima
interiormente todas as coisas, sob a forma de existência, enquanto pensamento filosófico, como princípio
universal, a ideia eterna que as engendra e nelas se manifesta. Isto quer dizer
que o espírito finito se encontra numa união imediata com a natureza, a seguir
em oposição com esta, e finalmente em identidade com esta, porque suprimiu a
oposição e voltou a si mesmo e, consequentemente, o espírito finito é a ideia,
mas ideia que girou sobre si mesma e que existe por si em sua própria
realidade.
A Ideia absoluta que para realizar-se colocou como oposta a si, à natureza, produz-se através dela como espírito, que através da supressão de sua exterioridade entre inicialmente em relação simples com a natureza, e, depois, ao encontrar a si mesma nela, torna-se consciência de si, espírito que conhece a si mesmo, suprimindo assim a distinção entre sujeito e objeto, chegando assim a Ideia a ser por si e em si, tornando-se unidade perfeita de suas diferenças, sua absoluta verdade. Com o surgimento do espírito através da natureza abre-se a história da humanidade e a história humana é o processo que medeia entre isto e a realização do espírito consciente de si. A filosofia hegeliana centra sua atenção sobre esse processo e as contribuições mais expressivas de Hegel ocorrem precisamente nesta esfera, do espírito. Melhor dizendo, para Hegel, à existência na consciência, no espírito chama-se saber, conceito pensante. O espírito é também isto: trazer à existência, isto é, à consciência. Como consciência em geral tenho eu um objeto; uma vez que eu existo e ele está na minha frente. Mas enquanto o Eu é o objeto de pensar, é o espírito precisamente isto: produzir-se, sair fora de si, saber o que ele é. Nisto consiste a grande diferença: o homem sabe o que ele é. Logo, em primeiro lugar, ele é real. Sem isto, a razão, a liberdade não são nada. O homem é isto, razão. O homem, a criança, o culto e o inculto, hegelianamento é produto da razão.
Ou melhor, a possibilidade para isto, para ser razão, existe em cada um, é dada a cada um essencialmente. A razão não ajuda em nada a criança, o inculto. É somente uma possibilidade, embora não seja uma possibilidade vazia, mas possibilidade real e que se move em si. Assim, por exemplo, dizemos que o homem é racional, e distinguimos muito bem o homem que nasceu somente e aquele cuja razão educada está diante de nós. Isto pode ser expresso também assim: o que é em si, tem que se converter em objeto para o homem, chegar à consciência; assim chega para ele e para si mesmo. A história para Hegel, é o desenvolvimento do Espírito no tempo, assim como a Natureza é o desenvolvimento da ideia no espaço. Deste modo o homem se duplica. Uma vez, ele é razão, é pensar, mas em si: outra, ele pensa, converte este ser, seu em si, em objeto do pensar. Assim o próprio pensar é objeto, logo objeto de si mesmo, então o homem é por si. A racionalidade produz o racional, o pensar produz os pensamentos. O que o ser em si é se manifesta no ser por si. Todo conhecer, todo aprender, toda visão, toda ciência, inclusive toda atividade humana, não possui nenhum outro interesse além do aquilo que filosoficamente é em si, no interior, podendo manifestar-se desde si mesmo, produzir-se, transformar-se objetivamente. Nesta diferença se descobre toda a diferença na história do mundo. Os homens são todos racionais.
O formal desta
racionalidade é que o homem seja livre. Esta é a sua natureza. Isto pertence à
essência do homem: a liberdade. O europeu sabe de si, afirma Hegel, é objeto de
si mesmo. A determinação que ele conhece é a liberdade. Ele se conhece a si
mesmo como livre. O homem considera a liberdade como sua substância. Se os
homens falam mal de conhecer é porque não sabem o que fazem. Conhecer-se,
converter-se a si mesmo no objeto (do conhecer próprio) e o fazem relativamente
poucos. Mas o homem é livre somente se sabe que o é. Pode-se também em geral
falar mal do saber, como se quiser. Mas somente este saber libera o homem. O conhecer-se
é no espírito a existência. Portanto isto é o segundo, esta é a única diferença
da existência (Existenz) a diferença do separável. O Eu é livre em si,
mas também por si mesmo é livre e eu sou livre somente enquanto existo como
livre. A terceira determinação é que o que existe em si, e o que existe por si
são somente uma e mesma coisa. Isto quer dizer precisamente evolução. O em si
que já não fosse em si seria outra coisa. Por conseguinte, haveria ali uma
variação, mudança. Na mudança existe algo que chega a ser outra coisa.
Na evolução, em essência, podemos sem
dúvida falar da mudança, mas esta mudança deve ser tal que o outro, o que
resulta, é ainda idêntico ao primeiro, de maneira que o simples, o ser em si
não seja negado.
Para Friedrich Hegel a
evolução não somente faz aparecer o interior originário, exterioriza o concreto
contido já no em si, e este concreto chega a ser por si através dela,
impulsiona-se a si mesmo a este ser por si. O espírito abstrato assim adquire o
poder concreto da realização. O concreto é em si diferente, mas logo só em si,
pela aptidão, pela potência, pela possibilidade. O diferente está posto ainda
em unidade, ainda não como diferente. É em si distinto e, contudo, simples. É em
si mesmo contraditório. Posto que é através desta contradição impulsionado da
aptidão, deste este interior à qualidade, à diversidade; logo cancela a unidade
e com isto faz justiça às diferenças. Também a unidade das diferenças ainda não
postas como diferentes é impulsionada para a dissolução de si mesma. O distinto
(ou diferente) vem assim a ser atualmente, na existência. Porém do mesmo modo
que se faz justiça à unidade, pois o diferente que é posto como tal é anulado
novamente. Tem que regressar à unidade; porque a unidade do diferente consiste
em que o diferente seja um. E somente por este movimento é a unidade
verdadeiramente concreta. É algo concreto, algo distinto. Entretanto contido na
unidade, no em si primitivo. O gérmen se desenvolve assim, não muda. Se
o gérmen fosse mudado desgastado, triturado, não poderia evoluir. Na alma,
enquanto determinada como indivíduo, as diferenças estão enquanto mudanças que
se dão no indivíduo, que é o sujeito uno que nelas persiste e, segundo Hegel,
enquanto momentos do seu desenvolvimento.
Por serem elas
diferenças, à uma, físicas e espirituais, seria preciso, para determinação ou
descrição mais concreta, antecipar a noção do espírito cultivado. As diferenças
são: 1) curso natural das idades da vida, desde a criança, desde a criança, o
espírito envolvido em si mesmo – passando pela oposição desenvolvida, a tensão
de uma universalidade ela mesma ainda subjetiva em contraste com a
singularidade imediata, isto é, como o mundo presente, não conforme a tais
ideais, e a situação que se encontra, em seu ser-aí para esse mundo, o
indivíduo que, de outro lado, está ainda não-autônomo e em si mesmo não está
pronto (o jovem) – para chegar à relação verdadeira, ao reconhecimento da
necessidade e racionalidade objetivas do mundo já presente, acabado; em sua
obra, que leva a cabo por si e para si, o indivíduo retira, por sua atividade,
uma confirmação e uma parte, mediante a qual ele é algo, tem uma presença
efetiva e um valor objetivo (homem); até a plena realização da unidade com essa
objetividade do conhecer: unidade que, enquanto real, vem dar na inatividade da
rotina que tira o interesse, enquanto ideal se liberta dos interesses
mesquinhos é das complicações do presente exterior (o ancião). O espírito manifesta aqui sua independência
da própria corporalidade, em poder desenvolver-se antes que nela torne. Com
frequência, crianças têm demonstrado um desenvolvimento espiritual mais rápido que sua formação corporal.
Esse foi o caso historicamente,
sobretudo em talentos artísticos indiscutíveis, que são amplamente reconhecidas
e apreciadas como excepcionais e inegáveis. Essas habilidades podem abranger
diversas áreas, como música, pintura, escrita, atuação, dança e outras formas
de expressão criativa. O reconhecimento desses talentos geralmente vem através
de aclamação da crítica, sucesso comercial, prêmios e admiração do público, em
particular nos gênios da música. Também em relação ao fácil apreender de
variados conhecimentos, especialmente na disciplina matemática; e tal
precocidade tem-se mostrado não raramente também em relação a um raciocínio de
entendimento, e mesmo sobre objetos éticos e religiosos. O processo de
desenvolvimento do indivíduo humano natural decompõe-se então em uma série de
processos, cuja diversidade se baseia sobre a relação do indivíduo para com o gênero,
e funda a diferença da criança, do homem e do ancião. Essas diferenças são as
apresentações das diferenças do conceito. A idade da infância é o tempo da
harmonia natural, da paz do sujeito consigo mesmo e com o mundo. Um começo tão
sem-oposição quanto a velhice é um fim sem-oposição. As oposições que surgem
ficam sem interesse mais profundo. A criança vive na inocência, sem sofrimento
durável; no amor aos seus pais, e no sentimento de ser amado por eles.
Mothering Sunday tem como representação social um filme britânico de drama romântico de 2021, dirigido por Eva Husson, com roteiro de Alice Birch e baseado no romance homônimo de Graham Swift, nascido em 4 de maio de 1949, em Londres, Inglaterra. É um romancista e contista inglês cuja narrativa de ficção psicológica sutilmente sofisticada, explora os efeitos de poder, especialmente da história familiar, na vida doméstica contemporânea. Eva Husson, nascida em 1977, é uma diretora de cinema e roteirista francesa. Ela começou sua carreira como atriz antes de dirigir alguns curtas-metragens e videoclipes. Em 2015, seu primeiro longa-metragem Bang Gang, que explora a questão singular da sexualidade e as relações de um grupo de adolescentes em uma pequena cidade. O filme, que estreou na seção Plataforma do Festival de Cinema de Toronto, aborda temas como descoberta sexual, tédio, relações familiares tensas e busca por liberdade, tudo isso em meio a um jogo de verdade ou desafio que se torna um problema. O filme acompanha o desenvolvimento histórico e sociológico um grupo de amigos que, entediados com a vida na pequena cidade onde vivem, começam um jogo perigoso de “verdade ou desafio” durante uma festa. A partir daí, a sexualidade e os limites são explorados e desafiados, cotidianamente, levando a consequências inesperadas e a um mergulho na busca por identidade originária e seu próprio pertencimento. É uma história de amor moderna, que competiu no Festival Internacional de Cinema de Toronto. Ela então dirigiu o filme indicado à Palma de Ouro Girls of the Sun (2018), estrelado por Golshifteh Farahani e Emmanuelle Bercot.
Mothering Sunday desenvolve uma narrativa não linear, intercalando momentos do passado e do presente de Jane, revelando sua jornada de descoberta e transformação. A personagem principal, interpretada por Odessa Young, é retratada como uma mulher forte e resiliente, que busca sua própria voz e destino em um mundo marcado por rígidas normas sociais. O romance com Paul Sheringham (Josh O`Conner) serve como catalisador para a libertação de Jane das expectativas dialéticas da sociedade e por sua própria família. O elenco do filme é elogiado por suas performances, com destaque para Odessa Young, Josh O`Connor, Olivia Colman e Colin Firth. As atuações são descritas como poderosas e sensíveis, capturando a complexidade emocional dos personagens e suas relações. A direção de Eva Husson é elogiada por sua sensibilidade e capacidade de criar uma atmosfera envolvente e sensual. O filme utiliza planos abertos e fechados com maestria, revelando as emoções dos personagens por trás de suas máscaras sociais. A fotografia e a trilha sonora também são destacadas por sua beleza e capacidade de evocar a época e o clima do filme. Mothering Sunday explora temas como a perda, o luto, a sexualidade, a classe social irradiada e o poder da escrita na busca pela identidade e pela liberdade. O filme também reflete sobre o impacto social da guerra na sociedade e nas relações familiares. Embora elogiado por sua estética, atuação e atmosfera, o filme também recebe críticas por sua estrutura narrativa não linear e por algumas decisões estilísticas que podem parecer desconexas para alguns espectadores. Mothering Sunday representa uma dramatis personae, um drama sofisticado e sensual que oferece uma reflexão profunda sobre a condição humana em um período de transição social e pessoal. O filme é elogiado por sua beleza comunicacional, atuações poderosas e exploração de temas complexos, mas também recebe críticas por sua estrutura narrativa e algumas escolhas estilísticas. No geral, é um filme que convida à reflexão e que deixa uma forte impressão no espectador.
Eva Husson nasceu em
1977 em Le Havre, Normandia. Ela é filha de dois professores de espanhol e
sobrinha-neta e neta de soldados republicanos espanhóis. O primeiro, Ricardo
Maso March, era comunista, e o último, Albert Maso March, era anarquista. Ambos
ajudaram a estabelecer a Resistência Francesa durante a 2ª guerra mundial
(1939-1945). Seu tio-avô, Albert Maso March (1918-2001), reconhecido como
Alberto Vega, foi um membro influente do Partido Obrero de Unificación
Marxista (POUM) na Espanha. Ele se tornou seu líder remotamente enquanto
vivia exilado na França. Em Paris ele criou um serviço de defesa composto por
ex-membros do POUM, nascido em Barcelona a 29 de setembro de 1935, num
período fulcral da Segunda República espanhola, entre o Movimento
Revolucionário de Outubro de 34 e a sublevação militar de 18 de julho de 1936,
que derivou na Guerra Civil espanhola. O POUM resulta da unificação entre a Esquerda
Comunista de Espanha (ICE) e o Bloco Operário e Camponês (BOC). A ICE era um
partido de origem trotskista que tinha roto com Trotsky antes de 1935. Fora
fundado por Andreu Nin e por Juan Andrade. Nin e a maior parte dos militantes
da ICE tencionavam criar um partido único marxista e revolucionário que fosse o
partido marxista do proletariado, pela fusão política dos diversos partidos
espanhóis, em lugar de seguir a palavra-de-ordem de Leon Trotsky de praticar “entrismo”
no PSOE para apoiar a facção esquerdista e bolchevizar o partido. O
BOC era um partido comunista implantado principalmente na Catalunha. O seu
máximo dirigente era Joaquín Maurín, que já fora dirigente da Federação
Comunista Catalano-Balear, federação territorial do PCE cindida desse partido.
Apesar da diferença
numérica de militantes entre os dois partidos (cerca de 500 da ICE diante de
5000 do BOC), a fusão no POUM foi em igualdade de condições entre ambos. Nin e
Maurín passaram a ser os dois grandes “líderes carismáticos” do POUM. A maior
implantação do POUM esteve na Catalunha graças aos militantes vindos do BOC e
no País Valenciano. Tinha ainda uma implantação minoritária em Madrid, e uma
presença menor ou até testemunhal noutras partes do Estado espanhol, como a
Estremadura, o País Basco, a Galiza, em âmbitos marinheiros e intelectuais ou
as Astúrias. Ambas as organizações fundadoras do POUM eram na origem facções
discrepantes do Partido Comunista de Espanha e dos métodos da Internacional
Comunista (Komintern) na conjuntura política, dirigida por Joseph Stalin.
A sua heterodoxia em relação a Moscou fez com que ficassem
marginalizados e inimizados com uma Komintern submetida à linha oficial
marcada pela União das Republicas Socialistas Soviética. O POUM criticou a
degeneração burocrática e autoritária da Revolução Russa da mão do estalinismo.
Foi o único partido a condenar os Processos de Moscovo, através do seu jornal La
Batalla. Embora fosse um partido marxista revolucionário, no POUM havia uma
pluralidade de tendências internas. Para além dos trotskistas da ICE, do BOC
chegaram comunistas opostos à burocratização do PCE e da Komintern, bem como à
subordinação de ambas organizações à política de um Estado. O BOC levou ainda
catalanistas de extrema-esquerda, como Josep Rovira, e sindicalistas
revolucionários, como o próprio Maurín. Destacava ainda o POUM por ser o
partido que, no campo do marxismo, tinha aprofundado mais no Estado espanhol
dos anos 1930 na problemática nacional na península Ibérica, com destaque para
o caso catalão, dada a importante introdução do partido nesse território e a
sua menor entidade na Galiza e no País Basco.
Essa herança inspirou
Eva a escrever “Garotas do Sol” e a explorar o tema da resistência contra a opressão fascista, intramuros do
continente europeu, mas que alcança o continente asiático. Husson estudou no
American Film Institute, cujos ex-alunos incluem Andrea Arnold, Terrence Malick
e David Lynch. Durante seus estudos, ela recebeu várias bolsas de estudo e
prêmios, como o Franco-American Cultural Fund, o prêmio Mary Pickford
de Excelência em Direção e o prêmio da Multicultural Motion Picture
Association. Seu filme de tese, Hope to Die (2004) foi indicado ao
prêmio Student Academy da American Society of Cinematographers e exibido
em vários festivais ao redor do mundo como Tribeca, Deauville, Los Angeles. É
estrelado por Odessa Young, Josh O`Connor, Olivia Colman e Colin Firth.
Ambientado após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o filme acompanha a rotinização burocrática da vida de Jane Fairchild (Young), uma empregada doméstica órfã que
passa o Mothering Sunday com seu amante rico. O filme também marca a
primeira aparição extraordinária da vencedora do Oscar Glenda Jackson em um lançamento em mais
de 30 anos, tendo aparecido pela última vez em “Rei do Vento” (1990), além de
ser o penúltimo papel cinematográfico de sua vida. “Mothering Sunday” teve sua
estreia mundial no Festival de Cinema de Cannes em 9 de julho de 2021.
Historicamente poucos
dentre os resistentes não se tornam, mais cedo ou mais tarde durante a guerra,
clandestinos. Largam atrás de si nomes, profissões, endereços, amigos,
parentes. Aprendem até a exaustão a perder o passado, a memória e a si mesmos.
A profissão, a família, os laços sociais não importam mais! Vivem
exclusivamente em função dos seus fins ético-políticos. A Resistência foi uma
ação relativamente voluntária de poucos homens, por isso só aparentemente
tornados exemplares. Configura um modelo de comportamento singular e de atitude
individual, festejado, celebrado e idealizado de cima a baixo por toda a
sociedade, das elites sociais ao proletariado urbano, próximo da abnegação
heroica. A dedicação à causa coletiva desdobra-se nas medidas de um apaixonado
e exaltado “esquecimento de si”. Um modo político de viver foi alcançado que
serve de espelho moral. Mas que designa a dimensão bela, justa e verdadeira do
dever cívico, ato simples, ao alcance de todos e próprio do sentimento de ser
francês.
Riscos existem, vale
advertir, nestas formas-limites do agir. Recusar a existência na qual cada um
se inscreve por filiação, por pertencimento social, pode equivaler a uma
espécie de denegação do passado e de suas marcas. Filhos de ninguém, a quem não
há diferença entre sexo, a nação, as idades, as aptidões, as circunstâncias
individuais e coletivas. Negar elos de pertencimento incide no risco de
desacreditar das raízes humanas e arrancá-las. Há perigos, bem se sabe, no
gosto da utopia: considerar brancas as páginas humanas podem levar a políticas
de terra arrasada. Há nas dimensões éticas e políticas, com certeza, uma
prudência antropológica a adquirir (cf. Kolleritz, 1999). A 2ª guerra global
(1939-1945) é também reconhecida pelas numerosas atrocidades contra civis
cometidas pelos combatentes em plena era moderna. Calcula-se um total de 85
milhões de mortos, onde mais de 50 milhões foram civis. Um dos pilares da
ideologia nazista era o antissemitismo, que culminou com o etnocídio de cerca
de 6 milhões de judeus que anteriormente tiveram seus maiores bens confiscados
e foram aprisionados para desempenhar trabalho escravo no âmbito dos Konzentrationslager.
Além disso, eslavos prisioneiros de guerra, cidadãos poloneses, indivíduos portadoes de deficientes,
homossexuais e ciganos também foram escravizados e executados. Estima-se que
cerca de 11 milhões de civis, em sua maioria étnica eslava, tenham sido
intencionalmente assassinados pelos terroristas nazistas.
O primeiro grande campo de extermínio alemão comandado violentamente pela SS, descoberto em 1944 por tropas soviéticas, e desde então foram sendo gradativamente revelados tendo seus prisioneiros de guerra libertados por tropas norte-americanas, britânicas e soviéticas entre 1944 e 1945. Após a guerra, abriu-se um tribunal militar onde membros influentes do nazismo foram julgados por diversos crimes, inclusive aqueles contra a humanidade e de guerra, no evento reconhecido como Julgamento de Nuremberg. Uma série de tribunais militares, organizados pelos Aliados, depois da 2ª guerra global, e referentes aos processos contra 24 proeminentes membros da liderança política, militar e econômica da Alemanha nazista. Os julgamentos, a cargo do International Military Tribunal (IMT), ocorreram na cidade de Nuremberg, Alemanha, entre 20 de novembro de 1945 e 1º de outubro de 1946. Esse tribunal serviu como base para a criação do Tribunal Penal Internacional, com sede na cidade de Haia, nos Países Baixos. Posteriormente, entre 1946 e 1949, foram julgados os Processos de Guerra de Nuremberg, em 12 outros tribunais militares. Esses processos referiam-se a 117 acusações por crimes de guerra contra outros membros da liderança nazista. Na Ásia, o Japão Imperial foi responsável por crimes letais de Estado contra chineses, como o Massacre de Nanquim e experiências clínicas com seres humanos vivos, também reconhecido como o Estupro de Nanquim.
Foi um episódio de assassinato em massa e
estupros em massa cometidos por tropas do Império do Japão contra a cidade de
Nanquim, na China, durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa, na Segunda Guerra
Mundial. O massacre ocorreu durante um período de seis semanas a partir de 13
de dezembro de 1937, o dia em que os japoneses tomaram Nanquim, que na época
era a capital chinesa. Durante este período, dezenas de milhares, se não
centenas de milhares de civis chineses e combatentes desarmados foram mortos
por soldados do Exército Imperial Japonês. Estupros e saques também ocorreram.
Vários dos principais perpetradores das atrocidades, na altura rotulados como
crime de guerra, mais tarde foram julgados e considerados culpados pelo
Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente e pelo Tribunal de Crimes
de Guerra de Nanquim, e executados. Outro autor chave, o príncipe Yasuhiko
Asaka do Japão, foi o fundador de um ramo colateral da Casa Imperial do Japão e
oficial de carreira do Exército Imperial Japonês, sendo um membro da Família
Imperial, escapou da acusação por ter imunidade, anteriormente concedida pelos
Aliados. O número de mortos no massacre não pode ser estimado com precisão
porque a maioria dos registros militares japoneses sobre os assassinatos foram
destruídos ou mantidos em segredo com a rendição do Japão, em 1945.
O Tribunal Militar
Internacional para o Extremo Oriente estimou, em 1948, que mais de 200 mil
chineses foram mortos no incidente. Não por acaso a estimativa oficial da China é de mais de
300 mil mortos, com base na avaliação do Tribunal de Crimes de Guerra de
Nanquim estabelecido em 1947. O número de mortos tem sido ativamente contestado identificando
entre os estudiosos desde a década de 1980, com estimativas que variam de 40
mil a mais de 300 mil seres humanos mortos.
Edgar Morin é um dos principais representantes contemporâneos da análise
de Estudos da Complexidade, que inclui perspectivas anglo-saxônicas e sobretudo
de origem latinas. Sua abordagem é reconhecida dubiamente como pensamento
complexo ou paradigma da complexidade. Mas o filósofo não se
identifica como mero analista “teórico da complexidade”. Nem pretende limitar
suas pesquisas às chamadas concepções abstratas de “ciências da complexidade”.
Pois, menos se distingue entre perspectivas restritas, limitadas, e amplas ou
mesmo generalizadas da reflexão sobre a complexidade. Em 1941, adere ao Partido
Comunista, “num momento em que se sentia, pela primeira vez, que uma força
poderia resistir à Alemanha nazista”. Entre 1942 e 1944, como tenente das
forças militares combatentes francesas, adotou o codinome Morin, que
conservaria em diante. Durante a Libération, é transferido para a
Alemanha ocupada, como adido ao Estado Maior do Primeiro Exército Francês na
Alemanha (1945), e como chefe do Departamento de Propaganda do governo militar
francês (1946).
Escreve seu primeiro
livro, L`An Zéro de l`Allemagne, publicado em 1946, no qual descreve a
condição do povo alemão no pós-guerra, sendo apreciado por Maurice Thorez, que
o convida a escrever para a revista Lettres françaises. A partir de
1949, distancia-se do Partido Comunista Francês, do qual será excluído em 1951,
por suas posições críticas. Aconselhado por Georges Friedmann, que conheceu
durante a ocupação e com o apoio de Maurice Merleau-Ponty, de Vladimir
Jankélévitch e Pierre George, entra para o Centre National de la Recherche
Scientifique (CNRS) em 1950. Começa a escrever L`Homme et la Mort
que será editado a seguir, em 1951. Em 1955 coordena um comitê político contra
a guerra da Argélia e defende particularmente Messali Hadj (1898-1974),
pioneiro da luta anticolonial e um dos próceres da Independência da Argélia. Em
1960, funda, na École des Hautes Études en Sciences Sociales - Sociologie,
Anthropologie, Histoire (EHESS), o Centro de Estudos de Comunicação de
Massa (CECMAS), com Georges Friedmann e Roland Barthes, com a intenção de
adotar uma abordagem transdisciplinar do tema, e criam a revista Communications. Edgar Morin é também fundador da revista Arguments
(1957-1963). Em 1963, casa-se com a artista plástica de origem
quebecoise-caribenha Joahnne, com quem viaja ao Brasil diversas vezes. De 1978
a 1975, integrou o “Grupo dos Dez”, onde absorveu contato com as três teorias
que viriam fundamentar suas ideias sobre a teoria da complexidade: cibernética,
teoria da informação e teoria dos sistemas.
Em 1973, publica o
livro L`Paradigme Perdu: La Nature Humaine. Este livro foi o ponto de
partida para a construção do Método, série de livros, onde Edgar Morin
explica minuciosamente a sua teoria da complexidade. Nomeado diretor de
pesquisa do CNRS em 1970, será de 1973-1989, um dos dirigentes do Centro de
Estudos Transdisciplinares da École des Hautes Études en Sciences Sociales,
sucessor do Centro de Estudos de Comunicação de Massa. A principal obra de
Edgar Morin é a constituída por seis volumes, mas é em particular em La
Méthode que o pensador propõe o conceito de complexidade, a
ideia-chave do método, que em seus volumes foi escrita durante três décadas e
meia. Trata-se de uma das maiores obras de epistemologia. Inicia seus primeiros
manuscritos de La Méthode, em 1973, com a publicação d`O Paradigma
Perdido: a Natureza Humana, uma transformação epistemológica por questionar
o fechamento ideológico e paradigmático das ciências, além de apresentar uma
alternativa à concepção de paradigma encontrada no pensamento de Thomas Kuhn
(1922-1996). A razão cartesiana impôs um paradigma: separar a razão da
des-razão. Temos que religar o que a ciência cartesiana e as
universidades através da divisão técnica do trabalho separaram. Ainda que as
condições socioculturais sejam distintas das condições biocerebrais, estão
ligadas por um nó górdio: as sociedades existem e as culturas só se formam,
conservam, transmitem e desenvolvem através das interações cerebrais ou
espirituais entre indivíduos.
A cultura, que caracteriza as sociedades humanas, é organizada e pari passu organizadora via o veículo cognitivo da linguagem, a partir, segundo Morin, do “capital cognitivo coletivo” dos conhecimentos adquiridos, das competências aprendidas, das experiências vividas, da memória histórica, das crenças míticas de uma sociedade. E, dispondo de seu capital cognitivo, a cultura institui as regras/normas que organizam a sociedade e governam os comportamentos individuais. Estas regras geram processos sociais e regenera globalmente a complexidade social adquirida por essa mesma cultura. Assim, a cultura não deve ser compreendida pelas metáforas estruturais, que são termos impróprios em uma organização recursiva onde o que é produzido e gerado torna-se produtor e gerador daquilo que o produz ou gera. Isso facto, cultura e sociedade estão em relação geradora mútua; nessa relação, não podemos esquecer as interações entre indivíduos, eles próprios portadores ou transmissores de cultura, que regeneram a sociedade, a qual regenera a cultura. Daí a tese sociológica segundo a qual, “se a cultura contém um saber coletivo acumulado em uma memória social, se é portadora de princípios, modelos, esquemas de conhecimento, se gera uma visão de mundo, se a linguagem e o mito são partes constitutivas da cultura.
Então a cultura não comporta somente uma dimensão cognitiva: é uma máquina cognitiva cuja práxis é cognitiva”. É assim próprio de saber cognitivo que uma cultura abre e fecha as potencialidades bioantropológicas do conhecimento. Ela as abre e atualiza fornecendo aos indivíduos o seu saber acumulado, a sua linguagem, os seus paradigmas, a sua lógica, os seus esquemas, os seus métodos de aprendizagem, métodos de investigação, de verificação, etc., mas, ao mesmo tempo, ela as fecha e inibe com as suas normas, regras, proibições, tabus, o seu etnocentrismo, a sua autossacralização, a sua ignorância de ignorância. Ainda aqui, o que abre o conhecimento é o que fecha o conhecimento. Desde o seu nascimento, o ser humano conhece não só por si, para si, em função de si, mas, também pela sua família, pela sua tribo, pela sua cultura, pela sua sociedade, para elas, em função delas. Assim, o conhecimento de um indivíduo alimenta-se de memória biológica e de memória cultural, associadas na própria memória, que obedece a várias entidades de referência, diversamente presentes nela. Tudo o que é linguagem, lógica, consciência, tudo o que é espírito e pensamento, constitui-se na encruzilhada dialógica entre dois princípios de tradução, um contínuo, o outro descontínuo. As aptidões individuais organizadoras do cérebro humano necessitam de condições socioculturais para se atualizarem, as quais necessitam das aptidões do espírito humano para se organizarem individual e socialmente. A cultura está nos espíritos, vive nos espíritos, os quais estão na cultura, reciprocamente vivem na cultura. Meu espírito conhece através da minha cultura, vivem na cultura. Meu espírito conhece através da minha cultura, mas, em certo sentido, a minha cultura conhece através do meu espírito.
Assim, portanto, as instâncias produtoras do conhecimento se coproduzem umas às outras; há uma unidade recursiva complexa estabelecida entre produtores e produtos do conhecimento, ao mesmo tempo em que há relação hologramática entre cada uma das instâncias, cada uma contendo as outras e, nesse sentido, cada uma contendo o todo enquanto todo. Falar em complexidade é falar em relação de interação simultaneamente complementar, concorrente, antagônica, recursiva e hologramática entre essas instâncias cogeradoras do reconhecimento humano. Mas não é apenas essa complexidade que permite compreender a possível autonomia relativa do espírito e no sentido técnico do cérebro individual. Mas é assim mesmo que o espírito individual pode autonomizar-se em relação à sua determinação biológica. Recorrendo às suas fontes e recursos socioculturais. Em relação à determinação cultural utilizando sua aptidão bioantropológicas para organizar o conhecimento. O espírito individual pode alcançar a sua autonomia com a dupla dependência que, ao mesmo tempo, o constrange, limita e alimenta. Pode jogar, pois há margem, entre hiatos, aberturas, defasagens. Entre o bioantropológico e o sociocultural, o ser individual e a sociedade. Assim, a possibilidade de autonomia do espírito individual está inscrita no princípio de seu conhecimento. E isso em nível de seu conhecimento cotidiano, quanto em nível de pensamento filosófico ou científico. A cultura fornece ao pensamento as suas condições sociais e materiais de formação, de concepção, de conceptualização. Impregna, modela e eventualmente governa os conhecimentos individuais. A cultura e, pela via da cultura, a sociedade está no interior do conhecimento. O conhecimento está na cultura e a cultura está na representação do conhecimento.
Um ato cognitivo per se é, por esta razão, um elemento do complexo cultural coletivo que se atualiza em um ato cognitivo individual. As nossas percepções ou mesmo concepções estão sob um controle, não apenas de constantes fisiológicas e também psicológicas, mas níveis de variáveis culturais e históricas. A percepção é submetida a categorizações, conceptualizações, taxinomias, que influenciarão o reconhecimento e a identificação das cores, das formas, dos objetos. O conhecimento intelectual organiza-se em função de paradigmas que selecionam, hierarquizam, rejeitam as ideias sociais e as informações técnicas, bem como em função de significações mitológicas e de projeções imaginárias. Assim se opera a “construção social da realidade”, ou antes, a “co-construção social da realidade”, visto que a realidade se constrói também a partir de dispositivos cerebrais, em que o real (imagem) se consubstancializa e se dissocia do irreal (ficção), que constitui a visão de mundo, que se concretiza em verdade, em erro, na mentira. Para conceber a sociologia do conhecimento, é necessário conceber não só o enraizamento do conhecimento na sociedade e a interação social do conhecimento/na sociedade. Mas no anel recursivo no qual o conhecimento é produto/produtor sociocultural que comporta uma dimensão própria cognitiva.
Os homens de uma cultura, pelo seu modo de conhecimento, produzem a cultura que produz seu reconhecimento. A cultura gera os conhecimentos que regeneram a cultura. Ao considerar-se a que ponto o conhecimento é produzido por uma cultura, dependente de uma cultura, integrado a uma cultura, pode-se ter a impressão de que nada seria capaz de libertá-lo. Mas isso seria, sobretudo, ignorar as potencialidades de autonomia relativa, no interior de todas aquelas culturas, dos espíritos individuais. Os indivíduos não são todos, e nem sempre, mesmo nas condições culturais mais fechadas, máquinas triviais obedecendo impecavelmente à ordem social e às injunções culturais. Isso seria ignorar que toda cultura está vitalmente aberta ao mundo exterior, de onde tira conhecimentos objetivos e que conhecimentos e ideias migram entre as culturas. Seria ignorar que aquisição de uma informação, a descoberta de um saber, a invenção de uma ideia, podem modificar e transformar uma sociedade, mudar o curso da história. Assim, o conhecimento está ligado, por todos os lados, à estrutura da cultura, à organização social, à práxis histórica. Sempre por toda parte, o conhecimento científico transita pelos espíritos individuais, que dispõem de autonomia potencial, a qual pode em certas condições sociais e políticas atualizarem-se e tornar-se um pensamento pessoal crítico.
Sobre a aquisição
do conhecimento pesa um formidável determinismo. Ele nos impõe o que se precisa
conhecer, como se deve conhecer, o que não se pode conhecer. Comanda, proíbe,
traça os rumos, estabelece os limites, ergue cercas de arame farpado e
conduz-nos ao ponto onde devemos ir. E também que conjunto prodigioso de
terminações sociais, culturais e históricas é necessário para o nascimento da
menor ideia, da menor teoria. As teorias determinísticas ao longo da história
da filosofia se desenvolveram a partir de motivos e considerações diversas e às
vezes sobrepostas. Como o eternalismo, o determinismo se concentra em eventos
particulares em vez do futuro como um conceito. Não bastaria limitarmo-nos a
essas determinações históricas e sociais cognitivas que pesam do exterior sobre
o conhecimento do real. É necessário considerar, também, os determinismos
intrínsecos ao conhecimento, que são, segundo Morin, muito mais implacáveis. Em
primeiro lugar, princípios iniciais, comandam esquemas e modelos explicativos,
os quais impõem uma visão de mundo e das coisas que governam/e controlam de
modo imperativo e proibitivo a lógica dos discursos, pensamentos, teorias. Ao
organizar os paradigmas e modelos explicativos associa-se o determinismo
organizado dos sistemas de convicção e de crença que, quando reinam em uma sociedade,
impõem a todos a força imperativa do sagrado, a força normalizadora do dogma, a
força proibitiva do tabu. As doutrinas e ideologias dominantes dispõem da força
imperativa e coercitiva que leva a evidência aos convictos e o temor inibitório
aos desalmados.
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