“Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho”. Clarice Lispector
Quando
Friedrich Hegel morreu em 1831, o corpo violentamente decapitado de Maria
Antonieta “jazia numa vala comum em Paris”. Napoleão e a Revolução clássica
haviam percorrido seus caminhos. Os ingleses e a revolução de Metternich haviam
se encarregado do grande homem. A República norte-americana tomara seu lugar
entre as potências imperialistas e seus navios com máquinas velozes percorriam
os sete mares. Goethe serenamente observava uma vida de conflitos fundida em
forma clássica e selava seu épico de Fausto, o homem universal que
transcende o mundo da sensualidade. A tragédia Fausto é, sem dúvida
alguma, um dos textos que emoldura a Goethe com extraordinária repercussão
universal. Nela, pode-se dizer, o poeta expressa a existência. Barão d’ Holbach
estava fora de moda, mas um garoto de treze anos em Trier, Marx, nascido no ano
em que Hegel se tornara professor de filosofia da Universidade de Berlim, já
começava a descobrir a filosofia que significava e logo iria ressuscitar
Holbach em uma forma mais dinâmica do que o romantismo e que varreria o mundo,
até a China, com uma paixão do intelecto mais poderosa do que qualquer coisa
que Werther tenha conhecido. Clarice Lispector foi uma escritora nascida na
Ucrânia e naturalizada brasileira, mas declarava, quanto a sua brasilidade,
ser pernambucana, sendo considerada uma das escritoras mais importantes do
século XX e a maior escritora judia desde Franz Kafka.
A
escritora dizia não ter aparentemente nenhuma ligação com a Ucrânia e que sua
“verdadeira” pátria era o Brasil. Pouca gente se dá conta de que uma das
escritoras mais talentosas da literatura brasileira viveu em Maceió. Trata-se
de Clarice Lispector, que passou alguns anos de sua infância na capital
alagoana. Inicialmente, a família passou um breve período em Maceió, até se
mudar para o Recife, onde Clarice cresceu e onde, aos oito anos, perderia a
mãe. Aos quatorze anos de idade, transfere-se com o pai e as irmãs para o Rio
de Janeiro, onde a família estabilizou-se, e onde o seu pai viria a falecer, em
1940. Sua obra literária tem como escopo cenas cotidianas e enredos
psicológicos, sendo considerada uma de suas principais características a
epifania de personagens comuns em momentos do cotidiano. Predomina em suas
obras o nível de análise psicológico, visto que o narrador segue o fluxo do
pensamento e o monólogo interior das personagens. As ações sociais, quando
ocorrem, destinam-se a ilustrar características psicológicas das personagens.
São comuns enredarem-se histórias sem começo, meio ou fim. Por isso, ela se
dizia, do ponto de vista da criação, ser mais que uma escritora, irradiando uma
ideia afetiva nas palavras, porque registrava em palavras aquilo que sentia.
Mais que histórias, seus livros apresentam impressões. Logo, o enredo pode fragmentar-se. O espaço exterior também tem importância secundária, uma vez que a narrativa se concentra no espaço mental das personagens. Características físicas das personagens ficam em segundo plano. Muitas personagens não apresentam sequer nome. As personagens criadas por Clarice Lispector descobrem-se num mundo absurdo; esta descoberta dá-se normalmente diante de um fato inusitado, pelo menos inusitado para a personagem. Esse fato socialmente provoca um desequilíbrio interior que mudará a vida da personagem para sempre. O espaço exterior também tem importância secundária, uma vez que a narrativa se concentra no espaço mental das personagens. Características físicas das personagens ficam em segundo plano. Muitas personagens não apresentam sequer nome. As personagens criadas por Clarice Lispector descobrem-se num mundo absurdo; esta descoberta dá-se normalmente diante de um fato inusitado, pelo menos inusitado para a personagem. Esse fato provoca um desequilíbrio interior que mudará a vida da personagem para sempre. Logo, o enredo pode fragmentar-se. O espaço exterior também tem importância secundária, uma vez que a narrativa se concentra no espaço mental das personagens. Características físicas das personagens em segundo plano.
A
religião é definida como um sistema cultural de comportamentos e práticas,
moralidades, crenças, cosmovisões de mundo, textos considerados sagrados,
lugares santificados, profecias, ética ou organizações sociais, que geralmente
relacionam a humanidade com elementos sobrenaturais, transcendentais e
espirituais; no entanto, não há consenso acadêmico sobre o que precisamente
constitui uma religião. Historicamente foram propostas várias etimologias para
a origem religio. Cícero, na sua obra De Natura Deorum (45 a.C.) afirma que o
termo se refere a relegere, reler, sendo característico das pessoas religiosas
prestarem muita atenção a tudo o que se relacionava com os deuses, relendo as
escrituras. Esta proposta etimológica sublinha o caráter repetitivo do fenômeno
religioso, bem como o aspecto intelectual. Mais tarde, Lactâncio (séc. III e IV
d.C.) rejeita a interpretação de Cícero e afirma que o termo vem de religare, e
que a religião “é um laço de piedade” para religar os humanos a Deus. No livro
A Cidade de Deus, Agostinho de Hipona (século IV d.C.) afirma que religio
deriva de religere. Através da religião a humanidade reelegia de novo a Deus,
do qual se tinha separado. Mais tarde, na obra De Vera Religione, Agostinho
retoma a interpretação de Lactâncio, que via em religio uma relação com
“religar”. Diferentes religiões podem ou não conter vários elementos que vão
desde o divino, coisas sagradas, fé, um ser sobrenatural ou seres sobrenaturais
ou “algum tipo de intimidade e transcendência que fornecerá normas e poder para
o resto da vida”.
As
práticas religiosas podem incluir rituais, sermões, comemoração ou veneração de
divindades e/ou santos, sacrifícios, festivais, festas, transes, iniciações,
serviços funerários, serviços matrimoniais, meditação, oração, música, arte,
dança, serviço público ou outros aspectos da cultura humana. As religiões têm
histórias e narrativas que podem ser preservadas em escrituras, símbolos e
lugares sagrados, que visam principalmente dar sentido à vida. As religiões
podem conter histórias simbólicas ou metafóricas, que às vezes são consideradas
verdadeiras pelos seguidores, que também podem tentar explicar a origem da
vida, o universo e outros fenômenos. Tradicionalmente, a fé, além da razão, tem
sido considerada uma fonte de crenças religiosas. Há uma estimativa de 10 mil
religiões diferentes em todo o mundo. Cerca de 84% da população mundial é
afiliada ao cristianismo, islã, hinduísmo, budismo ou alguma forma de religião
popular. A demografia religiosamente não afiliada inclui aqueles que não se
identificam com nenhuma religião em particular, ateus e agnósticos. Embora os
religiosos não afiliados tenham crescido globalmente, muitos deles ainda mantêm
várias crenças religiosas. O estudo da religião compreende uma ampla variedade
de disciplinas acadêmicas, como teologia, religião comparada e estudos
científicos sociais. As teorias da religião oferecem várias explicações sociais para as
origens e seus significados e o funcionamento da religião, incluindo os
fundamentos ontológicos na imaginação do ser e da crença religiosos. No entanto, as
Filipinas, um país predominantemente católico romano, não comemora mais o
Carnaval desde a dissolução da festa de Manila em 1939, representando o último
carnaval no país.
Muitas
personagens não apresentam sequer nome. As personagens criadas por Clarice
Lispector descobrem-se num mundo absurdo. Mas esta descoberta dá-se normalmente
diante de um fato inusitado - pelo menos inusitado para a personagem. Ocorre a
“epifania” como a representação do momento em que a personagem sente uma “luz
iluminadora” de sua consciência, contraditória, no sentido hegeliano, que a
fará despertar para a vida contradições, perplexidades que noutra
instância nela não fariam a menor diferença. Carnaval é um festival do “cristianismo
ocidental” que ocorre antes da estação litúrgica da Quaresma. Os
principais eventos ocorrem tipicamente durante o mês de fevereiro ou início de
março, o período historicamente reconhecido mundialmente como Tempo da
Septuagésima ou pré-quaresma. O Carnaval normalmente envolve uma festa pública
e/ou desfile, combinando alguns elementos circenses, máscaras e uma festa
pública de rua. As pessoas usam trajes durante muitas dessas celebrações,
permitindo-lhes perder a sua individualidade cotidiana e experimentar um
sentido elevado de unidade social. O consumo excessivo de álcool, de carne e
outros alimentos proscritos durante a Quaresma é extremamente comum. Outras
características comuns do carnaval incluem batalhas simuladas, como lutas de
alimentos; sátira social e zombaria das autoridades e uma inversão geral das
regras e normas do dia a dia. O termo Carnaval é tradição com utilidade
de uso pragmática em regiões com uma grande presença católica.
A
tragédia do Estádio do Heysel, na Bélgica, ocorreu no dia 29 de maio de
1985, quando estava para ser disputada a final da Taça dos Campeões Europeus,
que opunha o Liverpool, de Inglaterra, e a Juventus, de Itália. Esta tragédia,
juntamente com a tragédia de Hillsborough, é uma das mais importantes
relacionada com uma manifestação desportiva e o fenômeno do hooliganismo. A
possibilidade de confrontos entre os adeptos de ambas as equipes foi, desde
início, ponderada pelas autoridades belgas, que anunciaram uma série de medidas
de segurança a tomar: 1. proibição da venda de álcool em estabelecimentos
próximos do estádio; 2. revista a todos os espectadores à entrada para o jogo,
e, 3. um total de 1500 policiais para salvaguardar a segurança. Todavia, a
maior parte dos bares continuou a trabalhar normalmente e a servir os hooligans
de ambas as equipas. A causa do tumulto foi atribuída por testemunhas oculares
aos torcedores do Liverpool que bebiam muito. Os distúrbios começaram ainda
fora do estádio com ingleses e italianos a trocarem provocações. Uma joalheria
foi roubada e lesada em 150 mil euros (em valores econômicos da moeda atuais).
Por volta das 19 horas, uma grande parte dos espectadores já se encontrava
dentro do recinto do Heysel. Contrariamente ao esquema de segurança previsto de forma fria e calculista pela corporação da polícia, o lado Norte do estádio estava partilhado por adeptos das duas
formações, separados apenas por uma pequena barreira e alguns polícias.
Meia
hora depois, os britânicos lançaram o primeiro “ataque” brutal e os distúrbios
começaram a ganhar proporções incontroláveis. As grades que separavam as
bancadas cederam à pressão humana e deram lugar à tragédia. Dezenas de
espectadores italianos foram espezinhados por hooligans, que usaram barras de
ferro para bater nos rivais. Com a pressão dos espectadores em pânico, o muro
caiu, arrastando na queda mais algumas dezenas de pessoas. A expectativa em
relação ao jogo era grande e a UEFA decidiu pela realização do mesmo. O balanço
final da tragédia apontou 39 mortos e um número indeterminado de feridos. A
polícia não efetuou nenhuma detenção. Os hooligans ingleses foram
responsabilizados pelo incidente, o que resultou na proibição das equipas
inglesas participarem em competições europeias por um período de cinco anos. As
reações do povo inglês foram todas no sentido da reprovação e incredulidade
pelos atos violentos dos adeptos do Liverpool, o que levou a própria rainha
Isabel II a condenar publicamente o comportamento dos hooligans e a apoiar a
suspensão das equipas inglesas. O jogo em si ficou em segundo plano, mas acabou
com a nada comemorada vitória da Juventus por estreitos 1x0, no placar, marcado por Michel Platini,
o astro do clube italiano, na cobrança de um pênalti.
Nos
países historicamente luteranos, como, por exemplo, a Suécia, a Noruega e a
Estônia, entre outras nações, a celebração é reconhecida como Fastelavn,
e em áreas urbanas com uma alta concentração de anglicanos e metodistas, como a
Grã-Bretanha e o Sul dos Estados Unidos da América, as celebrações
pré-quaresmais, juntamente com observâncias penitenciais, ocorrem na
terça-feira de carnaval. Nas nações eslavas ortodoxas orientais, o Maslenitsa
é celebrado durante a última semana antes da Grande Quaresma. Na Europa
germanófila e nos Países Baixos, a temporada de Carnaval tradicionalmente abre
no 11/11 e muitas vezes às 11:11 a.m. Isto remonta às celebrações antes da
época de Advento ou com celebrações de colheita da Festa de São
Martinho. O Carnaval moderno, realizado com indícios de tecnologias de
produção e consumo para os desfiles e fantasias, é produto da sociedade
vitoriana do século XX. A cidade de Paris foi o principal modelo exportador da
festa carnavalesca para o mundo. Cidades como Nice, Santa Cruz de Tenerife,
Nova Orleans, Toronto e Rio de Janeiro se inspiraram no Carnaval parisiense
para implantar suas novas festas carnavalescas. O Rio de Janeiro criou e
exportou o estilo de fazer carnaval com desfiles de Escolas de Samba para
outras cidades do mundo globalizado, também famosas como os exemplos de São Paulo, Tóquio e Helsinque. Gradualmente, a autoridade
eclesiástica começou a perceber que o resultado desejado não poderia ser
alcançado simplesmente através da proibição das tradições, o que acabou levando a um grau de
cristianização da festividade.
Os
festivais passaram, então, a fazer parte da liturgia e do ano litúrgico. Embora
formando gradativamente uma boa parte integrante do calendário cristão, em
regiões católicas, particularmente, muitas tradições carnavalescas se
assemelham àquelas do período pré-cristão. Acredita-se que o Carnaval italiano
seja, em parte, derivado das festividades romanas antigas da Saturnália
e da Bacchanalia. As Saturnálias, por sua vez, podem ser baseadas
nas festas dionisíacas da Grécia Antiga e em festivais orientais. Enquanto
desfiles medievais e festivais como Corpus Christi eram sancionados pela
Igreja, o Carnaval também era uma manifestação da cultura folclórica medieval.
Muitos costumes locais do Carnaval podem derivar de rituais pré-cristãos
locais, tais como os ritos elaborados que envolvem figuras mascaradas no Fastnacht
germânico. No entanto, evidências ainda são insuficientes para estabelecer uma
origem direta da Saturnália ou outras festas antigas com o Carnaval. Não
existem relatos etnográficos completos de saturnais e as características da
festa, como reviravoltas de papéis sociais, igualdade temporária, máscaras e
rompimento de regras permitidas. Essas semelhanças podem representar recursos
culturais que podem incorporar múltiplos significados e funções. A Páscoa
começa com a ressurreição de Jesus, seguida por um período liminar que termina
com o renascimento. O Carnaval inverte a questão simbólica com o “Rei Carnaval”,
que ganha vida e um período liminar que segue antes de sua morte. Ambas as
festas são calculadas pelo calendário lunar. Tanto Jesus quanto o “Rei Carnaval”
podem ser vistos como figuras expiadoras que fazem um presente ao povo
com suas mortes.
Do
ponto de vista antropológico, o carnaval é um ritual de reversão, no qual os
papéis sociais são invertidos e as normas de comportamento social são
suspensas. A letra da música foi escrita pelos compositores Luís Antônio e Jota
Júnior, em 1952, mas reconhecida na voz da cantora Marlene, narra a história
social de Maria Mercedes Chaves Roy. Nascida em Diamantina, em Minas Gerais, a
menina, que chegou a capital fluminense aos 11 anos de idade, viveu nas ruas
dos 13 aos 16 anos e foi prostituta até os 33. Ícone do Carnaval carioca, Maria
sambou pela primeira vez com uma lata d'água na cabeça aos 18 anos. – “Saía
dançando na avenida apenas nas pontas dos dedos. Ajoelhava e sentava no chão,
esticava as pernas sentava nos pés, como uma bailarina, equilibrando a lata
apenas com o pescoço. Não deixava cair nenhuma gota de água para fora!”. Foram
45 anos de desfiles na Avenida Marquês de Sapucaí por inúmeras escolas, entre
elas Salgueiro, Portela, Estácio de Sá, Padre Miguel e Beija-Flor. Na
Antiguidade, mutatis mutandis, os povos consideravam o inverno como um
“reino de espíritos” que precisavam ser expulsos para que clima do verão
voltasse. O carnaval, analogamente pode assim ser considerado como um rito de
passagem da escuridão para a luz, do inverno ao verão: uma celebração de
fertilidade, a primeira festa de primavera do Ano Novo. Entre os antigos
egípcios havia as festas de Ísis e do boi Ápis; entre os hebreus, a festa das
sortes; entre os gregos antigos, as bacanais; na Roma Antiga, as lupercais,
as saturnais. Festins, músicas estridentes, danças, disfarces e
licenciosidade formavam o fundo destes regozijos.
Os
gauleses tinham festas análogas, especialmente a grande festa do inverno que é
marcada pelo adeus à carne e a partir dela se fazia um período de abstinência e
jejum, como o seu próprio nome resiliente em latim Carnis Levale o
indica. Outros estudiosos compreendem a origem do nome romano para a festa do Navigium
Isidis (“navio de Isis”), onde a imagem de Ísis era levada à praia “para
abençoar o início da temporada de velejamento”. O festival era um grande e
caloroso desfile de máscaras que seguia um barco de madeira decorado,
representando a origem dos carros alegóricos dos carnavais modernos e
contemporâneo propriamente dito. É
preciso compreender, em primeiro lugar, que a experiência religiosa da não
homogeneidade do espaço constitui uma experiência primordial, que corresponde a
uma fundação do mundo. Não se trata de uma especulação teórica, mas de uma
experiência religiosa primária, que precede toda a reflexão sobre o mundo. É a
rotura operada no espaço que permite a constituição do mundo, porque é ela que
descobre o “ponto fixo”, o centro de toda a orientação futura. Quando o sagrado
se manifesta por uma hierofania qualquer, não só há rotura na homogeneidade do
espaço, como também revelação de uma realidade absoluta, que se opõe à não
realidade da imensa extensão envolvente. A manifestação do sagrado funda
ontologicamente o mundo. Na extensão homogênea e onde não é possível nenhum
ponto de referência, a hierofania revela um “ponto fixo” absoluto, um “centro”.
Resiliente
é um termo que descreve a capacidade de um indivíduo se adaptar positivamente a
situações adversas, superar desafios e se recuperar de experiências negativas.
Uma pessoa resiliente consegue manter o equilíbrio emocional e a funcionalidade
mesmo diante de pressão, estresse ou traumas. A resiliência não significa
ausência de sofrimento, mas sim a habilidade de lidar com as dificuldades de
forma construtiva e seguir em frente. Em resumo, ser resiliente implica. Adaptabilidade:
Capacidade de se ajustar a novas circunstâncias e desafios. Resistência:
Habilidade de suportar pressões e adversidades sem se desestruturar. Recuperação:
Capacidade de se recuperar de eventos negativos e seguir em frente. Otimismo:
Tendência a manter uma visão positiva mesmo em situações difíceis. Autoconfiança:
Crença na própria capacidade de lidar com os desafios. A resiliência é uma
habilidade que pode ser aprendida e desenvolvida ao longo da vida, trazendo
benefícios para a saúde mental e o bem-estar geral. E, contudo, nessa existência
do espaço profano ainda intervêm valores que, de algum modo, lembram a não
homogeneidade específica da experiência religiosa do espaço. Existem locais
privilegiados, qualitativamente diferentes dos outros: a paisagem natal ou os
sítios dos primeiros amores, ou certos lugares na primeira cidade estrangeira
visitada na juventude. Esses lugares praticados guardam mesmo para o homem mais
francamente não religioso, uma qualidade excepcional: são os “lugares sagrados”
do seu universo privado, como se neles um ser não religioso tivesse tido a
revelação de outra realidade, diferente daquela de que participa em sua
existência.
Uma
função ritual análoga é transferida para o limiar das habitações humanas, e é
por essa razão que este último goza de tanta importância. Numerosos ritos
acompanham a passagem do limiar doméstico: reverências ou prosternações, toques
devotados com a mão etc. No interior do recinto sagrado, o mundo profano é
transcendido, torna-se possível a comunicação com os deuses; deve existir uma
“porta” para o alto, por onde os deuses podem descer a Terra e o homem pode
subir simbolicamente ao céu. Em segundo lugar, para a experiência profana, o
espaço é homogêneo e neutro: nenhuma rotura diferencia qualitativamente as
diversas partes de sua massa. O espaço geométrico pode ser cortado e delimitado
seja em que direção for, mas sem nenhuma diferenciação qualitativa e, portanto,
sem nenhuma orientação – de sua própria estrutura. Basta que nos lembremos da
definição do espaço dada por um clássico da geometria. O conceito do espaço
homogêneo e a historicidade desse conceito, tendo em vista que foi adotado pelo
pensamento filosófico e científico desde a Antiguidade, constituem um problema
completamente diferente. O que interessa à nossa interpretação sociológica é a subsunção real, de forma concomitane com a experiência do espaço tal como é vivida pelo homem não religioso, diante de um
rito de passagem - o carnaval - quer dizer, por um homem que recusa a
sacralidade do mundo.
Como
ritual uma existência profana jamais se encontra no estado puro. Seja qual for
o grau de dessacralização a que optou por uma vida profana não consegue abolir
completamente o comportamento religioso. Nesse sentido, a Igreja pode ser
entendida como uma pessoa, desse Thomas Hobbes, isto é, que ela tenha o
poder de querer, de pronunciar, de ordenar, de ser obedecida, de fazer leis ou
de praticar qualquer espécie de ação. Se não existir a autoridade de uma
congregação legítima, qualquer ato praticado por um conjunto de pessoas é um ato
individual de cada um dos presentes que contribuíram para a prática desse ato.
Não um ato conjunto, como se fosse de um só corpo. Não é um ato dos ausentes ou
daqueles que, estando presentes, eram contra a sua prática. Uma Igreja pode ser
definida, segundo Hobbes, como um conjunto de pessoas que professam a religião
cristã, ligadas à pessoa de um soberano, que ordena a reunião e que determina,
segundo seus princípios, quando não deverá haver reunião. Em todos os Estados
semelhantes assembleias são ilegítimas, se não são autorizadas pelo soberano
civil, constitui uma assembleia ilegítima a reunião da Igreja em qualquer
Estado em que tiver sido proibida. É
neste sentido que não há na Terra, portanto, qualquer Igreja universal à qual
todos os cristãos devam obedecer, uma vez que não há nenhum poder aos quais
todos os outros Estados estejam sujeitos. Nos domínios dos diversos
príncipes e estados, existem cristãos, mas cada um deles se sujeita ao Estado
do qual é membro, não podendo, por conseguinte, sujeitar-se às ordens de
qualquer outra pessoa.
Assim,
uma Igreja capaz de mandar, julgar, absolver, condenar ou praticar qualquer
outro ato é o mesmo que um Estado civil formado por homens cristãos; o Estado
civil tem esse nome por serem seus súditos os homens, enquanto a Igreja é assim
denominada pelo fato de seus súditos serem os cristãos. Governo espiritual e
temporal são apenas palavras trazidas ao mundo ocidental para confundir os
homens, enganando-os quanto a seu soberano legítimo. É preciso haver um único
governante, do contrário se origina a facção e a guerra civil, entre a Igreja e
o Estado, entre os espiritualistas e os temporalistas, entre a espada da
justiça e o escudo da fé, e, o que é pior ainda, no próprio coração de cada
cristão, entre o cristão e o homem. Chamam-se pastores os doutores
da igreja, bem como os soberanos civis. é um título conferido por uma variedade
de igrejas cristãs a indivíduos de reconhecida importância, particularmente nos
campos da teologia ou doutrina católica. Entretanto, se entre os pastores não
houver alguma subordinação, de forma que haja apenas um chefe dos pastores,
serão ministrados aos homens doutrinas contrárias, que poderão ser falsas, e
uma delas necessariamente o será. O soberano civil é o chefe dos pastores,
segundo a lei natural. Embora o poder tanto do Estado, enquanto representação
de um conjunto de práticas e saberes sociais, quanto da religião estar nas mãos
dos reis, nenhum deles deixou de ser fiscalizado em seu uso, a não ser quando
eram bem quistos por suas capacidades naturais ou por sua fortuna.
As
divisões mais básicas no cristianismo contemporâneo ocorrem entre a Igreja
Católica Romana, a Igreja Católica Ortodoxa e as denominações formadas durante
e depois da Reforma Protestante. As maiores diferenças entre Ortodoxia e
Catolicismo são culturais e hierárquicas, enquanto as denominações Protestantes
apresentam diferenças teológicas mais acentuadas para com as duas primeiras,
bem como grande diversificação doutrinária entre suas vertentes. As análises
comparativas entre grupos denominacionais devem ser feitas com pesquisa e
alguma cautela. Em alguns grupos, congregações são partes de uma organização
eclesiástica monolítica, enquanto que em outros grupos, cada congregação
representa uma organização autônoma independente. Comparações numéricas também
podem ser consideradas problemáticas, no sentido sociológico, pois alguns
grupos contam como membros, de forma seleta, tanto os adultos batizados, quanto
os filhos batizados dos fiéis, enquanto outros grupamentos admitem entre pares
e somente contabilizam os fiéis adultos. Incardinação e excardinação,
numa nomenclatura própria da Igreja Católica consagrada no Código de Direito
Canônico e a partir da raiz simbólica do “cardo” tal como cardeal, é receber ou
liberar padres ou diáconos por determinado tempo. A primeira refere-se ao ato
de admitir ou receber formalmente numa diocese um sacerdote pertencente à
outra, e para a segunda, corresponde ao seu oposto (ou antônimo) que é o
desligar ou demissão de um clérigo da jurisdição duma para outra.
Pode
acontecer que incardinar seja concretamente a adscrição de um membro de clero a
uma Igreja particular, a uma prelazia pessoal, ou a um instituto de vida
consagrada, uma ordem religiosa ou uma congregação, uma sociedade
particularizada que tenha faculdade de adscrever clérigos “acéfalos” ou
“vagos”. O Concílio Vaticano II (ou Vaticano II) foi o 21º Concílio Ecumênico
da Igreja Católica, realizado em quatro sessões entre 1962 e 1965. Intercedeu
não só normalizando, mas de fato determinando que se revissem as suas
normas, de modo que correspondessem melhor às necessidades pastorais, no
sentido de adaptá-las aos tempos, para o bem-comum de toda a Igreja. Na coordenação dos trabalhos na Igreja, o
ministério eclesiástico, divinamente instituído, é exercido em diversas Ordens
pelos que desde a Antiguidade são chamados bispos, presbíteros e diáconos. Eles
recebem o Sacramento da Ordem, nos seus três diferentes graus, para
serem “os pastores do povo de Deus”. A Ordem é um dos sete sacramentos do
catolicismo que confere o poder e a graça de exercer funções e ministérios
eclesiásticos que se referem ao culto de Deus e à salvação das almas, e que
imprime na alma de quem o recebe o caráter de ministro de Deus. Pela imposição
das mãos e pelas palavras do bispo, este sacramento faz dos homens diáconos ou
presbíteros. Atribui-se aos presbíteros os poderes em nome de Jesus, de perdoar
os pecados e consagrar o pão e o vinho em corpo e sangue de Jesus Cristo,
representando a eucaristia e de conferir, conforme o seu grau, os outros
sacramentos. Dentre os graus da Ordem, o
supremo entre eles é pelo Episcopado, com a plenitude do
Sacerdócio; em seguida o Presbiterado ou Sacerdócio simples; depois o Diaconato
e as Ordens que se chamam menores.
O
Sacerdócio é necessário na Igreja, porque sem ele os fiéis estariam privados do
Santo Sacrifício da Missa e da maior parte dos Sacramentos. Não teriam quem os
instruísse na fé, e ficariam como “ovelhas sem pastor à mercê dos lobos”; em
suma, não existiria a Igreja como Cristo a instituiu. O sacramento da Ordem é
dividido em duas hierarquias: “Ordens Menores”, as que não consagram de modo
definitivo quem as recebia: hostiário, leitor, exorcista e acólito. A palavra
hóstia, em latim, quer dizer vítima, que entre os hebreus, era o cordeiro, sem
culpa, imolado em sacrifício a Deus. E, respectivamente “Ordens Maiores”, as
que consagram de modo definitivo ao serviço de Deus: subdiaconato, diaconato,
presbiterado e episcopado. Após as reformas litúrgicas do Concílio Vaticano II,
o papa Paulo VI extinguiu as quatro “Ordens Menores” e o subdiaconato. Pelas Cartas
Apostólicas Ministeria Quædam, de 15 de agosto de 1972, o Papa Paulo VI
manteve o leitorato e o acolitato como ministérios da Igreja
Latina, podendo ser concedidos a leigos e sendo obrigatórios aos candidatos ao
diaconato e ao presbiterado. Com a denominação de apenas Ordem ficaram os graus
de diaconato, presbiterado e episcopado. Os católicos da Fraternidade
Sacerdotal São Pio X e das associações tradicionais usam todas as ordens
constituídas.
Por
divina instituição, pelo sacramento da Ordem, alguns dentre os fiéis, pelo
caráter indelével com que são assinalados, são constituídos ministros sagrados,
isto é, são consagrados e delegados a fim de que, personificando Cristo, cada
qual no seu respectivo grau apascente o povo de Deus, “desempenhando o múnus de
ensinar, santificar e governar”. Na Igreja Católica, somente um varão batizado
pode receber validamente a ordenação sagrada. Os presbíteros (padres ou
sacerdotes) são os cooperadores da ordem episcopal e participam e exercem com o
bispo o único sacerdócio de Cristo. Em virtude do Sacramento da Ordem, são
consagrados, à imagem de Cristo, sumo e eterno sacerdote, para pregar o
Evangelho, apascentar os fiéis e celebrar o culto divino. Sacerdotes diocesanos
são aqueles que estão incardinados em uma diocese e se dedicam plenamente no
serviço de pastoreio desta porção da Igreja. São padres diocesanos trabalhando,
padres incardinados residentes incorporados definitivamente na diocese e nela
exercem seu ministério. O Estado nacional tende a regular a vida doméstica
mediante o controle sobre a família e a administração da vida privada. Trata-se
de um processo contraditório, pois originariamente a economia pertencia ao
domínio do chefe da família e a política à cidadania na polis. A esfera privada
da família, fenômeno pré-político na Grécia Antiga, transformou-se num
interesse coletivo controlado pelo monopólio de um Estado soberano, e como a
esfera privada e a esfera pública correlacionam-se reciprocamente.
A passagem das preocupações da esfera privada da família e da casa para o domínio da política anulou a oposição clássica entre a polis e o oikos. A esfera privada atual teve a sua origem nos últimos períodos do Império Romano. Numa época em que devido à desagregação do Império, os cidadãos procuravam afirmar os seus direitos privados nomeadamente o direito de propriedade no espaço público como resposta aos ataques dos bárbaros. Na modernidade, a sociabilidade e a política situam-se no domínio do individualismo possessivo. Ipso facto, o carnaval é um festival de representação do cristianismo ocidental que ocorre antes da estação litúrgica da Quaresma. Os principais eventos ocorrem durante o mês de fevereiro ou início de março, durante o período historicamente conhecido como “Tempo da Septuagésima” ou pré-quaresma. O carnaval normalmente envolve uma festa pública e/ou desfile combinando alguns elementos artísticos circenses, máscaras e uma festa de rua pública. As pessoas usam trajes durante muitas dessas celebrações, permitindo-lhes perder a sua individualidade cotidiana e experimentar um sentido elevado de unidade social. As etimologias populares afirmam que a palavra vem da expressão do latim tardio “carne vale”, que significa “adeus à carne”, condicionando o período de jejum que se aproxima. No entanto, esta interpretação não é apoiada por provas filológicas. A expressão “carne levare” do italiano é uma possível origem, que significa “remover a carne”, uma vez que a carne é proibida para o consumo durante a Quaresma. O consumo excessivo de álcool, de carne e outros alimentos proscritos durante a Quaresma é comum. Outras características similares incluem batalhas simuladas, lutas de alimentos, sátira social ou política e zombaria das distorções das autoridades da inversão das regras e normas do dia-a-dia.
A indústria cultural possibilitou,
desde as primeiras décadas no século XX, a criação e o funcionamento de
sociedades totalmente administradas, que já não precisam se empenhar em
justificar suas prescrições e imposições sociais. Sociedade de consumo é um
termo utilizado para designar o tipo de sociedade que se encontra numa avançada
etapa de desenvolvimento industrial capitalista e que se caracteriza pelo
consumo massivo de bens e serviços disponíveis, graças a elevada produção. O
conceito de sociedade de consumo está ligado ao de economia de mercado, aquela
que encontra o equilíbrio entre oferta e demanda através da livre circulação de
capitais, produtos e pessoas, sem intervenção estatal, e, por fim, ao conceito
de capitalismo. Em virtude dos fatos sociais, do ponto de vista sociológico e antropológico,
entende-se que esses exageros característicos das sociedades de consumo são
provenientes de fatores sociais e principalmente culturais. A massificação
dos consumidores contemporâneos tende a aceitá-las passivamente,
considerando-as normais, legitimadas pelo simples fato de existirem. Se para a
ideologia dominante em uma sociedade determinada, tudo é opinião, não devemos
perder de vista que algumas opiniões são falsas e outras corretas. O poder de
persuadir os indivíduos das opiniões corretas está ligado à capacidade da
ideologia da propaganda, que interpela o indivíduo constituindo-o em sujeito de
consumo, com a capacidade de apoiar num vasto sistema reprodutivo educativo.
Articulado sob as formas de organização da cultura, corrompida, proporcionado
ao público consumidor.
Do
ponto de vista econômico não há dúvida de que o desenvolvimento, partindo de
valores para chegar aos preços passa pela intermediação do valor do dinheiro,
mas o valor do dinheiro afeta a todos os preços da mesma forma. A questão do
valor é subjacente e explica, de fato, as relações entre os preços das
mercadorias que refletem as relações entre as quantidades de trabalho
socialmente necessário contidas nelas. As relações entre os preços, que na
teoria de Marx são fundadas no valor-trabalho, vêm expressas, a grosso modo, na
teoria econômica convencional pelo conceito de preços relativos. Os preços –
obviamente de mercado – têm nos valores de mercado seu centro de gravitação. E
no curto prazo são as variações nas quantidades de trabalho socialmente necessárias
que afetam mais fortemente os preços de produção, pois afetam o preço de custo
das mercadorias individuais, tanto produzidos por capitais específicos quanto
na sua interação social no mercado, que impõe a tendência à equalização
constante das taxas de lucro dos capitais individuais. O valor de mercado, em
economia, refere-se ao valor que um produto atinge no mercado, baseando-se na
concorrência de mercado e lei de oferta e procura. Costuma-se contrapor o valor
de mercado ao valor real do produto. O valor de mercado da roupa de grife
famosa pode ir muito acima ou abaixo do seu valor, dependendo da
estação que condiciona a escala dos preços dos produtos.
Juízo
significa, primeiramente, organização e subsunção do individual e particular ao
geral e universal, procedendo-se então a uma avaliação ordenada com a aplicação
de parâmetros pelos quais se identifica o concreto e de acordo com decisões.
Por trás de todos esses juízos há um prejulgamento, um preconceito. Somente o
caso individual é julgado, não o próprio parâmetro ou a questão de ele ser ou
não uma medida adequada do objeto que está sendo medido. Num dado momento,
emitiu-se um juízo sobre o parâmetro, mas agora esse juízo foi adotado,
tornando-se, por assim dizer, um meio para se emitirem futuros juízos. Mas
juízo pode significar algo totalmente diferente e sempre significa de fato
quando nos confrontamos com algo que nunca vimos e para o que não temos nenhum
parâmetro à disposição. Esse juízo que não conhece parâmetro só pode recorrer à
evidência do que está sendo julgado, e seu único pré-requisito é a faculdade de
julgar, o que tem muito mais a ver com a capacidade de discernir do que com a
capacidade de organizar e subordinar. Tais juízos sem parâmetros nos são
bastante familiares quando se trata de questões de estética e gosto,
historicamente, como observou Immanuel Kant (1724-1804), na filosofia, que não
se podem discutir, mas de que se pode, seguramente, discordar e concordar. Na
vida cotidiana isso se verifica em face da situação desconhecida, que
fulano ou beltrano um juízo correto ou equivocado.
Do
ponto de vista antropológico, o carnaval é um ritual de reversão, no qual os
papéis sociais são invertidos e as “normas de comportamento são suspensas”, no
sentido foucaultiano. Na Antiguidade, os povos consideravam o inverno como um
“reino de espíritos” que precisavam ser expulsos para que clima do verão
voltasse. O carnaval pode assim ser considerado como um rito de passagem da
escuridão para a luz, do inverno ao verão: uma celebração de fertilidade, a
primeira festa de primavera do Ano Novo. Entre os antigos egípcios havia as
festas de Ísis e do boi Ápis; entre os hebreus, a festa das sortes; entre os
gregos antigos, as bacanais; na Roma Antiga, as lupercais, as saturnais.
Festins, músicas estridentes, danças, disfarces e licenciosidade formavam o
fundo destes saborosos regozijos. Pelo seu lado, os gauleses tinham festas
análogas, especialmente a grande festa do inverno a que é marcada pelo adeus à
carne que a partir dela se fazia um grande período de abstinência e jejum, como
o seu próprio nome origina-se em latim “carnis levale” que o indica. Outros
estudiosos defendem ardorosamente a origem do nome romano para a festa do Navigium
Isidis, onde a representação social da imagem de Ísis era levada à praia
para abençoar o início da boa temporada de velejamento.
O
festival consistia em um desfile de máscaras que seguia um barco de madeira
decorado, possivelmente a origem dos carros alegóricos dos carnavais modernos e
contemporâneo propriamente dito. Enquanto a sociedade civil se prepara para a
grande festa secular do Brasil, as igrejas evangélicas se organizam para
dedicar os quatro dias do feriado a um momento de grande espiritualização e
adoração a Deus. O retiro espiritual representa um conjunto de práticas religiosas
e atividades evangélicas que proporcionam tempo aos participantes para olhar os
principais pontos da vida, o que está bem, o que está mal e como melhorar.
Retiros podem ter diversos formatos e duração, uma forma comum tem dois dias de
duração (final de semana) e é realizado em uma casa de retiro, um local que
permite contato com a natureza e tranquilidade. São ministradas palestras por
sacerdote e leigos, há atividades sociais como Santa Missa, Terço
e Via Sacra, entre outras práticas representadas sob a forma de piedade.
Milhares de jovens encontram-se na aparente contramão na história, daquilo
que se espera que eles façam no carnaval e se unem em encontros cristãos, com
direito a pregação, louvor e oração.
A
Igreja Renascer em Cristo, por exemplo, é uma das inúmeras denominações
que, todos os anos, organiza um retiro para os jovens do ministério. E porque
diversão não é pecado, os cada vez mais populares acampamentos evangélicos de
carnaval reservam espaço na agenda para várias brincadeiras, atividades
esportivas, shows, passeios e mergulhos na piscina, para afastar o calor.
Outras igrejas seguem a mesma ideia privatista e promovem acampamentos durante
o feriado de carnaval, tudo como parte da estratégia de evangelização em uma
festa tão tradicional e popular entre os “não crentes”. Vários jovens levam
convidados para os acampamentos e muitas pessoas têm sido edificadas pela
pregação da palavra e atuação do Espírito Santo nos acampamentos das igrejas.
Várias outras igrejas seguem a mesma ideia e promovem acampamentos durante o
feriado de carnaval, tudo como parte da estratégia de evangelização em uma
festa tão tradicional e popular entre os “não crentes”. O objetivo é afastar
jovens do carnaval, promovendo eventos como conferências e retiros religiosos. A
autoridade eclesiástica com a sua experiência milenar, facilmente começou a perceber que o resultado desejado não poderia
ser alcançado apenas através da proibição das tradições, o que acabou levando a um
grau de cristianização da festividade.
Os
festivais passaram então a fazer parte da liturgia e do ano litúrgico. Embora
formando uma parte integrante do calendário cristão, particularmente em regiões
católicas, muitas tradições carnavalescas se assemelham àquelas do período
pré-cristão. Acredita-se que o carnaval italiano seja em parte derivado das
festividades romanas antigas da Saturnália e da Bacchanalia. As Saturnálias,
por sua vez, podem ser baseadas nas festas dionisíacas da Grécia Antiga e em
festivais orientais. Enquanto desfiles medievais e festivais como Corpus
Christi eram sancionados pela Igreja, o carnaval também era uma
manifestação da cultura folclórica medieval. Muitos costumes hic et nunc
do carnaval podem derivar de rituais pré-cristãos determinados, regionalizados,
tais como os ritos de passagem elaborados que envolvem figuras mascaradas no
Fastnacht germânico. No entanto, evidências ainda são insuficientes para
estabelecer uma origem direta da Saturnália ou outras festas antigas com o
carnaval. Não existem relatos etnográficos absolutamente completos de saturnais
e as características da festa, como reviravoltas de papéis sociais, igualdade
social temporária, máscaras e rompimento de regras permitidas, que
comparativamente entre si, não constituem necessariamente aspectos coerentes
com esses festivais. Essas semelhanças podem representar um acúmulo de
recursos culturais que podem incorporar múltiplos significados e funções.
Por exemplo, a Páscoa começa com a ressurreição de Jesus, seguida por um período liminar que termina com o renascimento. O carnaval inverte isto com o “Rei Carnaval”, que ganha vida e um período liminar que segue de sua morte. Ambas as festas são calculadas pelo calendário lunar. Tanto Jesus quanto o “Rei Carnaval” podem ser vistos como figuras expiadoras que fazem um presente ao povo com suas respectivas mortes. Da Itália, as tradições do carnaval se espalharam para Espanha, Portugal e França, e da França para a Nova França na América do Norte. De Espanha e Portugal, se espalhou com a colonização para o Caribe e a América Latina. No início do século XIX na Renânia alemã e Países Baixos, a tradição medieval enfraquecida também foi revivida. Continuamente nos séculos XVIII e XIX, como parte dos abusos cometidos contra judeus na Saturnália em Roma, rabinos de guetos eram forçados a marchar através das ruas da cidade usando trajes ridículos, sendo expostos à multidão. Uma petição da comunidade judaica de Roma enviada em 1836, ao Papa Gregório XVI com o objetivo de parar com os abusos anuais saturnalistas obteve uma negação: - “Não é oportuno fazer qualquer inovação”. Há registro na Renânia que em 1823, o primeiro desfile de carnaval moderno ocorreu em Colônia. Algumas das tradições reconhecidas, incluindo desfiles e máscaras, foram registradas pela primeira vez na Itália medieval. O carnaval de Veneza, um famoso festival anual realizado no Itália, reconhecido por suas fantasias elaboradsa e máscaras, foi, culturalmente durante muito tempo, do ponto de vista merceológico tanto quanto comunicativo, o carnaval mais famoso, embora Napoleão tenha abolido a festa em 1797 e só em 1979 a tradição tenha sido restaurada.
O
conceito de carnaval na sociedade norte-americana, em particular, remete a uma
especialização espacial típica das “sociedades complexas”, onde as relações
sociais seriam individualizadas e marcadas por especializações espaciais. O
traço fundamental é o individualismo e a ideologia igualitária que,
historicamente, corresponde ao indivíduo como categoria política, econômica,
moral, social e religiosa. Em sistemas sociais assim constituídos, a vida
social deixa de ser marcada pela totalidade, perdendo, por conseguinte sua
complementariedade fundamental, aquela que se reflete em grupos tribais no
encaixe entre as metades, os clãs ou linhagens que precisam existir, caso
contrário o universo social ficaria desfalcado e irremediavelmente ferido.
Raros são os momentos em que percebemos o poder e o peso da totalidade com sua
rede de ultradeterminações. Um desses momentos, no caso brasileiro durante o
carnaval, é um ritual ideológico universalizante e abrangente, envolvendo o
sistema complexos de determinações sociais e permitindo no seu bojo todos os
personagens, gestos, fantasias e músicas. O carnaval norte-americano mais do que uma situação, é um lugar praticado. Através da Entre o carnaval
do Rio de Janeiro e de Nova Orleans, que Roberto DaMatta procurava revelar que, a festividade estava marcada pela ideologia “do encontro e
da comunhão, muito nítida no concurso desinibido dos sexos e das classes
sociais”.
O
carnaval de Nova Orleans parecia realizar justamente o oposto: é
localizado, ao passo que o do Rio de Janeiro e generalizado. Isto é, não
pertence somente a uma cidade, mas a todo o país. Em New Orleans, o carnaval é
uma festa especializada, da cidade, do mesmo modo que o Patriot`s Day, o
Easter Parede, o Veleid Prophet`s Ball e o Cherry Blossom
Festival são, respectivamente especialidades das cidades de Boston, Nova
York, St. Louis e Washington. Outro aspecto é que o carnaval brasileiro, embora
se realize em quatro dias, é percebido como uma festa compacta: “é tempo do
Carnaval”. Um momento especial, onde tudo pode ocorrer; um período em que o
mundo social fica pleno de potencialidade e deixa de ser focalizado por
meio de seus mediadores sociais ordinários. O carnaval do Rio de Janeiro e,
portanto, sem temor a erro, do Brasil é, então um período em que se ganha em
liberdade e anonimato, vale dizer, em campo de manobra social.
Como
os bailes e desfiles são atividades separadas, tendo como contraponto toda a
sorte de encontros privados, quando a população se divide entre ricos e pobres,
negros, negros e brancos, o carnaval de Nova Orleans é percebido como algo
exclusivo de uma classe, em que elementos de discriminação antissemita e
antiitaliana são também encorajados. Assim, os grupos participam do carnaval
como entidades corporificadas dando ênfase ao local da cidade de onde vêm a sua
cor, posição social e escola a que se foliam. No Rio de Janeiro, o carnaval se
ordena em duas categorias básicas: o carnaval de rua e o carnaval de clube. Não
aprece haver dúvidas de que carnaval é um rito em que o princípio social da
inversão é aplicado de modo consistente. Mas inverter é apenas um mecanismo
lógico, e nem sempre conduz o evento social numa mesma direção. Nos Estados
Unidos da América, onde uma ideologia individualista e igualitária opera no
cotidiano, permite-se que, no mundo invertido do carnaval, a hierarquização dos
grupos seja abertamente admitida. A tese de Roberto Da Matta é que precisamente
essa hierarquia é que permite relacionar de um ponto de vista fenômenos tão separados e aparentemente distintos quanto as fraternidades
universitárias, a formação de clubes e sociedades secretas como a extremista Ku
Klux Klan e o Mardi Grass de Nova Orleans.
No caso brasileiro, quase tudo se passa no lusco-fusco ao inverso. É precisamente por poder colocar tudo fora de lugar que o carnaval é frequentemente associado a “uma grande ilusão”, ou “loucura”. A transformação do carnaval brasileiro é, pois, aquela da hierarquia cotidiana na igualdade mágica de um momento passageiro. De modo que, no carnaval, os marginais anônimos que formam esse segmento social do subúrbio, do morro e da “escola de samba” se transformam em “professores” e “doutores” de samba e de ritmo. A inversão do carnaval brasileiro é, neste sentido, diversa da do carnaval hierarquizado norte-americano, em que a brecha que a sociedade abre em sua rotina transforma os marginais e inferiores que, são muito significativamente chamados de “indivíduos”, isto é, alguém sem ninguém e sem posição social, em pessoas e as pessoas que não são as donas do sistema em indivíduos, isto é, uma massa justaposta e indiferenciada de cidadãos, de forma massificada quase todos com os mesmos direitos para cantar, dançar e brincar algo que é contrário, interpela a ideologia hierárquica brasileira como sujeito; já que, nesse período, ninguém deve ritualizar relações sociais utilizando o clássico “você sabe com quem está falando?”, fórmula e rito de passagem autoritário que transforma o indivíduo pragmaticamente em “autoridade de pessoa”.
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Dissertação de Mestrado. Program de Pós-Graduação em Psicanálise. Rio de
Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2024; Artigo: “Carnaval
2025: Mais de 53 Milhões de Foliões Devem Lotar Ruas e Avenidas Pelo País”. Disponível
em: https://www.gov.br/turismo/24/02/2024; entre outros.
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