sábado, 19 de julho de 2025

Porto de Poti, Georgia – Guerra Total & Centro Industrial e Portuário.

Tenho o caminho do que sempre quis, e um Saveiro pronto pra partir”. Criolo & Milton Nascimento

          A história social registrada de Poti e seus arredores abrange mais de 26 séculos. Na Antiguidade Clássica e no início da Idade Média, a área foi ocupada pela pólis grega de Fásis, estabelecida pelos colonos de Mileto, liderados por um certo Temístágoras, no final do século VII e provavelmente no início do século VI a.C. A famosa viagem semimitológica grega de Jasão e os Argonautas em busca do Velocino de Ouro teria entrado na Geórgia por este porto e viajado rio acima até o que é Kutaisi. Após muitos anos de incerteza e debate acadêmico, o local deste assentamento agora parece estar estabelecido, graças à arqueologia subaquática em condições difíceis. Aparentemente, o lago que o bem informado autor grego antigo Estrabão (cf. Zuliani, 1999) relatou como delimitando um lado de Fásis agora o engolfou, ou parte dele. No entanto, uma série de questões sobre a localização exata da cidade e a identificação de suas ruínas permanecem em aberto devido, em grande parte, aos processos geomorfológicos seculares da área, já que o curso inferior do Rioni é propenso a mudanças de curso através do pantanal. Fásis parece ter sido um importante centro de comércio e cultura na Cólquida no período clássico. A seção ao longo do rio Fásis era vital da presumida rota comercial da Índia para ir de encontro ao Mar Negro, atestada por Estrabão e Plínio.

       Oriundo de uma família influente e de condição social elevada, Estrabão terá nascido em torno de 64 a. C. em Amásia, no Ponto (Ásia Menor). Em sua formação teve como professores figuras ilustres como Aristodemo de Nisa, o velho, foi um gramático grego nascido em Nisa, filho de Menécrates e discípulo do célebre gramático Aristarco de Samotracia. William Smith acredita também que é o mesmo personagem citado na Escolástica de Pindaro com o nome de Aristodemo de Alexandria, pois residiu ali certo tempo. Regressando a Nisa tomou como pupilo a Estrabão. Baseado em Políbio, Estrabão terá escrito, primeiramente, uma obra de cariz historiográfico, intitulada: Historika Hypomnemata, da qual nos chegaram apenas alguns fragmentos. Contudo, a obra que o notabilizou foi, de fato, a Geographia, pois Estrabão começa por inferir que a Geografia é uma preocupação do filósofo, uma vez que trata também de coisas não só humanas, mas também divinas, à semelhança da Filosofia. Sobre seu ideário os principais testemunhos datam do período compreendido entre os séculos X e XV. No entanto as versões mais antigas de alguns excertos dos livros 2, 7 e 9 foram encontradas em papiros egípcios datados dos séculos II e III. Parte do livro 1 e dos livros 8 a 17 foi encontrada em finais do século V. Importa ainda referir que a Editio Princeps, por Aldus, foi publicada em Veneza, em 1516. A Geografia está dividida da seguinte forma. Na história da civilização todo povo que atinge um certo grau de desenvolvimento sente-se naturalmente inclinada à prática da educação. Ela é o princípio por meio do qual a comunidade conserva e transmite a sua peculiaridade tanto física quanto espiritual. 

       Uma educação consciente pode mudar a natureza física do homem e suas qualidades, elevando-lhe a capacidade a um nível superior. Mas o espírito conduz progressivamente à descoberta de si mesmo e cria, pelo conhecimento do mundo exterior e interior, formas melhores de existência humana. A natureza do homem, na sua dupla estrutura corpórea e espiritual, cria condições especiais para a manutenção e transmissão da sua forma peculiar e exige organizações físicas e espirituais, ao conjunto dos quais damos o nome de educação. Nela, a educação, o homem com sua prática social, atua a mesma força vital, criadora e plástica, que espontaneamente impele todas as espécies vivas à conservação e propagação de seu tipo social. É nela, porém, que essa expressão social atinge o mais alto grau de intensidade, através do esforço consciente do conhecimento e da vontade, dirigida para a consecução de um fim. Em nenhuma parte, o influxo da comunidade nos seus membros tem maior força que no constante ato de educar, em conformidade com o próprio sentir, cada nova geração. A estrutura política assenta nas leis e normas escritas e não escritas que a unem e unem os seus membros. O conceito de sociedade está ligado aos fatores territoriais, culturais, políticos e históricos que unem indivíduos, toda geração é assim o resultado da consciência viva, individual e coletivamente, de uma norma que rege uma comunidade humana, quer se trate da família, de uma classe social ou de uma profissão, quer se trate de um agregado humano mais vasto, como um grupo étnico ou um Estado.                       

A educação participa na vida e no crescimento da sociedade, tanto no seu destino exterior como na sua estruturação interna e desenvolvimento espiritual; e, uma vez que o desenvolvimento social depende da consciência dos valões que regem a vida humana, a história da educação está essencialmente condicionada pela transformação dos valões válidos para cada sociedade. À estabilidade das normas válidas corresponde a solidez dos fundamentos da educação. Da dissolução e destruição das normas advém a debilidade, a falta de segurança e até a impossibilidade absoluta de qualquer ação educativa. Acontece isto quando a tradição é violentamente destruída ou sofre decadência interna. Fora de dúvida, a estabilidade não é o indício seguro de saúde, porque reina também nos estados de rigidez senil, nos momentos finais de uma cultura: assim sucede na China confucionista pré-revolucionária, nos últimos tempos históricos da Antiguidade, nos derradeiros dias dos Judaísmo, uma religião monoteísta com raízes antigas, centrada na crença em um único Deus e na observância de leis e tradições transmitidas através da Torá e outros textos sagrados. É uma religião, filosofia e modo de vida com uma rica história, práticas e costumes distintos, em certos períodos da história da Igrejas, da arte e das escolas científicas. Segundo Jaeger (2011), é monstruosa a impressão gerada pela fixidez quase intemporal da história do antigo Egito, através de milênios; mas também entre os Romanos e a estabilidade comunal das relações sociais foi considerada como o valor mais alto e apenas se concedeu justificação limitada aos anseios e ideais inovadores. O Helenismo ocupa uma posição singular na história.

      Termópilas é um desfiladeiro localizado na Grécia Central que serviu de lugar praticado para violenta  batalha entre persas e espartanos. O conflito foi provocado pelo anseio do persa Xerxes de dominar o território e o povo espartano, o que foi negado pelo rei e general de Esparta de 491 a. C até a data de sua morte em 480 a.C. durante a batalha de Termópilas. Uma de suas ações mais importantes se deu por ocasião da invasão da Grécia pelos persas, em 481 a.C. Defendendo o desfiladeiro das Termópilas, que une a Tessália à Beócia, Leónidas e uma tropa de aproximadamente 7000 homens, sendo que apenas 300 eram espartanos, conseguiram repelir os ataques iniciais. Mas Xerxes I, rei da Pérsia, foi auxiliado pelo pastor Efialtes que o conduziu por um caminho que contornava o desfiladeiro, e pôde cercar o exército de Leónidas. Restavam apenas 300 espartanos e pouco mais de 1000 soldados tespienses e tebanos, que decidiram resistir lutando até a morte. Em 462 a.C. Efialtes foi responsável pela reforma do Areópago, controlado pela aristocracia, limitando o seu poder para julgar apenas os casos de homicídio e os crimes religiosos. Antes do século V a. C., o Areópago representava o conselho dos anciãos relativamente semelhante se pensarmos comparativamente ao extraordinário Senado romano. A origem do nome não é clara.

Etimologicamente em grego antigo, πάγος pagos significa “grande pedaço de rocha”. Areios poderia ter vindo de Ares ou do Erinyes, pois em seu pé foi erguido um templo dedicado às Erínias onde os que eram considerados assassinos costumavam encontrar abrigo para não enfrentar as consequências de seus atos criminosos. Mais tarde, o Romanos referido à colina rochosa como “Mars Hill”, após Marte, a versão romana do deus grego da guerra. Perto do Areópago também foi construída a basílica de Areopagitas Dionísio. Comparativamente sua composição era restrita aos que pelo status ocuparam cargos públicos importantes, neste caso o de Arconte. Em 594 a. C, o Areópago concordou em transferir suas funções para Solon para reforma. Ele instituiu reformas democráticas, reconstituiu seus membros e devolveu o controle à organização. Sob as reformas de Clístenes promulgadas em 508/507 a. C, o Boule (βουλή) ou conselho, foi expandido de 400 para 500 homens, e foi formado por 50 homens de cada um dos dez clãs ou phylai (φυλαί). Em 462 a. C., Efialtes passou por reformas que privaram o Areópago de quase todas as suas funções, exceto a de um tribunal de homicídio em favor de Heliaia, o tribunal supremo da Atenas antiga. A opinião generalizada entre os acadêmicos é de que a origem de seu nome é o verbo Ήλιάζεσθαι, que tem como significado συναθροίζεσθαι, “congregar”. Esta medida formal foi considerada impopular entre os aristocratas e levou ao seu assassinato em 461 a. C.A investigação moderna abriu imensamente o horizonte da história. A oikoumene dos Gregos e Romanos clássicos, que durante dois mil anos coincidiu com os limites do mundo, foi rasgada em todos os sentidos do espaço e perante o nosso olhar surgiram mundos espirituais até então insuspeitados. Quando deixa de ser um povo particular e nos inscreve como membros nos círculos de povos, começa a aparição dos Gregos. 

Foi por essa razão ou racionalização que a esse grupo de povos Werner Jaeger designou de helenocêntrico. É este o motivo porque, no decurso de nossa história, voltamos constantemente à Grécia. Este retorno e esta espontânea renovação de sua influência não significa que lhe tenhamos conferido, pela sua grandeza espiritual, uma autoridade imutável, fixa e independente do nosso destino. O fundamento de nosso regresso reside nas próprias necessidades vitais, por mais variadas que elas sejam através da História. É claro que, para nós e para cada um dos povos deste círculo, a Grécia e Roma aparecem como algo de radicalmente estranho. Esta separação analítica funda-se em parte no sangue e no sentimento, em parte na estrutura do espírito e das instituições, e ainda na diferença da respectiva situação histórica; mas entre esta separação e a que sentimos ante os povos orientais, distintos pela sua raça e pelo espírito, a diferença é gigantesca. Não se trata inclusive de um sentimento apenas de parentesco racial. É preciso distinguir a história nesse sentido quase antropológico da história que se fundamenta na união espiritual viva e ativa e na comunidade de um destino, quer seja o do próprio povo, quer o de um grupo de povos estreitamente unidos. Só nesta particularidade histórica se tem uma íntima compreensão e contato criador entre uns e outros. Só nela existe uma comunidade de ideais e de formas sociais e espirituais que se desenvolvem e crescem independentes das múltiplas interrupções e mudanças sociais e politicamente através das quais varia, mas também se cruza, choca, desaparece, quando se renova uma família de diversos outros povoamentos no âmbito na genealogia. A comunidade existe na totalidade dos povos ocidentais e entre estes e a historicidade da Antiguidade clássica.

Se considerarmos a história nesse sentido profundo, no sentido de uma comunidade radical, não poderemos supor-lhe como cenário o planeta inteiro e, por mais que alarguemos os nossos horizontes geográficos, as fronteiras dessa história jamais poderão ultrapassar a antiguidade daqueles que há vários milênios traçaram seu destino. Não é possível dizer até quando a Humanidade continuará a crescer na unidade de sentido que tal destino lhe assinala, pois o objetivo teórico e histórico de Werner Jaeger é apresentar a formação do homem grego, a Paidéia, no seu caráter particular e no seu desenvolvimento histórico. Não se trata de um conjunto de ideias abstratas em sua generalidade, mas da própria história da Grécia na realidade concreta do seu destino vital. Contudo, essa história vivida já teria desaparecido há longo tempo se o homem grego não a tivesse criado na sua forma perene. A ideia de educação representava para ele o sentido de todo o esforço humano. Era a justificação última da comunidade e individualidade humana. Mesmo os imponentes monumentos da Grécia arcaica são perfeitamente inteligíveis a esta luz, pois foram criados no mesmo espírito que os gregos consideraram a totalidade de sua obra criadora em relação aos outros povos da Antiguidade de que foram herdeiros. Augusto concebeu a missão do Império Romano em função da ideia da cultura grega. Sem a concepção grega da cultura não teria existido a Antiguidade como unidade histórica e mundo ocidental. É indiscutível que foi o momento em que os gregos situaram o problema da individualidade no cimo de seu desenvolvimento filosófico que principiou a história da personalidade europeia.

Roma e o Cristianismo agiram sobre ela. E da inserção desses fatores brotou o fenômeno do Eu individualizado. Mas não podemos entender de modo radical e preciso a posição do espírito grego na história da formação dos homens, se tomarmos um ponto de vista moderno. Vale mais partir, segundo Jaeger, da constituição rácica do espírito grego. A vivacidade espontânea, a sutil mobilidade, a íntima liberdade que, embora tenham parecido condições do rápido desabrochar daquele povo na inesgotável riqueza de formas que nos surpreende e espanta ao contato com os escritores gregos de todos os tempos, dos mais primitivos aos mais modernos, não tem as suas raízes no cultivo da subjetividade, como atualmente acontece; pertencem à sua natureza. Os gregos tiveram o sendo inato do que significa natureza. Sendo o conceito elaborado por eles em primeira mão, tem indubitável origem na sua constituição espiritual. Muito antes de o espírito grego ter delineado essa ideia, eles já consideravam as coisas do mundo numa perspectiva tal que nenhuma delas lhes aparecia como parte isolada do resto, mas sempre como um todo ordenado em conexão viva, na e pela qual tudo ganhava posição e sentido. Esta concepção é orgânica, porque nela todas as partes são consideradas membros de um todo. Sua tendência é clara de apreensão das leis do real. O estilo e a visão artística entre eles surgem, em primeiro lugar, pelo descobrimento como talento estético. Assentam num instinto humano e na interpretação através de um simples ato de visão, não na deliberada transferência de uma ideia para o reino da criação artística.

A idealização da arte, no entanto, só mais tarde aparece, no período clássico. Até na oratória grega encontramos os mesmos princípios formais que vemos na cultura ou na arquitetura. As formas literárias dos gregos surgem organicamente, na sua multíplice variedade e elaborada estrutura, das formas naturais e ingênuas pelas quais o homem exprime a sua vida, elevando-se daí à esfera ideal da arte e do estilo. Também na oratória, a sua aptidão para dar forma a um plano complexo e lucidamente articulado deriva simplesmente do sentido espontâneo e madurecido das leis que governam o sentimento, o pensamento e a linguagem, o lugar onde esta ideia reaparece mais tarde na história, ela é uma herança dos gregos, e aparece sempre que o espírito humano abandona a ideia de um adestramento em função de fins exteriores e reflete na essência a própria educação. O fato de os gregos terem sentido esta tarefa como algo grandioso e difícil e se terem consagrado a ela com ímpeto sem igual não se explica nem pela sua visão artística nem pelo espírito teórico. Desde as primeiras notícias que se disseminam na história da filosofia e têm deles, encontramos o homem no centro do seu pensamento.

            A forma humana dos seus deuses, o predomínio evidente do problema da forma humana na sua escultura e na sua pintura, o movimento consequente da filosofia desde o problema do cosmos até o problema do homem, que culmina em Sócrates, Platão e Aristóteles; a sua poesia, cujo tema inesgotável desde Homero até os últimos séculos é o homem e o seu duro destino no sentido pleno da palavra; e, finalmente, o Estado grego, cuja essência só pode ser correspondida sob o ponto de vista da formação do homem e da sua vida inteira: o grego é o antropoplástico. Tudo são raios de uma única e mesma luz, expressões de um sentimento vital antropocêntrico que não pode ser explicado nem derivado de nenhuma outra coisa e que penetra todas as formas do espírito grego. Assim, impossível não admitir que, entre os povos, a língua de Homero é, naturalmente, um problema em si. Mas adverte: trata-se de uma língua que ninguém nunca falou, afirma Knox (2011: 19). É uma língua artificial, poética – como propõe o estudioso alemão Witte, “a língua dos poemas homéricos é uma criação de versos épicos”. Era também uma língua difícil. Para os gregos da Era Dourada, isto é, o século V a. C., no qual inevitavelmente pensamos quando dizemos “os gregos”, o idioma de Homero estava longe de ser claro e era repleto de arcaísmos, no vocabulário, na sintaxe e na gramática, e incongruências: palavras e formas extraídas de diferentes dialetos e estágios distintos de desenvolvimento da língua. Ninguém nem sonharia em empregar a linguagem de Homero, à exceção dos bardos épicos, sacerdotes oraculares e parodistas eruditos. Isso não significa que fosse um poeta reconhecido apenas de eruditos e estudantes; os épicos homéricos eram familiares como as palavras do cotidiano na boca dos gregos comuns.

        Os livros I e II constituem uma longa introdução à obra; os livros III ao X descrevem a Europa, particularmente a Grécia (livros VIII-X); o Livro III é dedicado à Ibéria; os livros XI ao XVII descrevem a Ásia Menor; o livro XVII descreve a África (Egito e Líbia). Justiça espanhola proíbe manifestação a favor dos presos da ETA (Euskadi ta Askatasuna). Visitou Roma pela primeira vez em torno de 44 a. C., ano da morte de Júlio César, e desde então tomou contato com a cultura deste período, através de Senarco de Selêucia e Tirânio de Amiso, estes dois em Roma, o que se refletiu numa educação esmerada. Anos mais tarde, assistiria à ascensão de Augusto e à implementação do novo regime político – o Principado. Com a derrota de Marco Antônio na célebre batalha de Áccio, em 31 a. C., a República acabou por ceder, permitindo o aparecimento da figura do Imperador. Augusto assumiu o poder e em 9 a. C. mandou construir um dos monumentos mais marcantes da época, a Ara Pacis, como símbolo de uma nova era de paz, prosperidade e favorável à produção cultural, em oposição ao longo período de guerras civis que a antecederam. Estrabão escreveu a sua magnífica obra intitulada: Geographia inspirado nesta conjuntura histórica e social, ainda que o faça sob o domínio do imperador romano Tibério, provavelmente referente ao período historiográfico de 18 de setembro do ano 14 d.C. até à sua morte, a 16 de março do ano 37 d.C.

Contudo, à época de Estrabão, a Geografia não era uma novidade. Outros autores, já tinham escrito sobre semelhante temática, como Políbio, Posidônio, Crates, Hiparco, entre outros, sendo Homero considerado “o fundador da ciência geográfica”. Apesar de reconhecer a tradição que o antecede, Estrabão defende a pertinência da sua obra. Assim, a novidade da Geographia prende-se, sobretudo com a ideia consciente da expansão do Império Romano e com a consequente percepção de alargamento do território habitado. Na verdade, a concepção de mundo surge ainda no livro 1. Baseado em Homero, Estrabão defende que o mundo seria uma espécie de ilha, rodeada pelo Oceano e constituída por três continentes: Europa, Ásia e África, representada pela Libia. A prova vem do fato concreto como o próprio autor indica, sempre que o homem caminhou até aos confins da terra, ter encontrado mar. Nesta perspectiva, o mapa-múndi descrito por Estrabão na sua obra Geographia ganha uma configuração claramente correspondente. Geórgia é um país transcontinental localizado na fronteira entre a Europa Oriental e a Ásia Ocidental. Limita-se com a Rússia a Norte e a Leste, a Sul com a Turquia e a Arménia, a Leste e a Sul com o Azerbaijão e a Oeste com o mar Negro.

Sua capital é Tiblíssi, que é sua maior cidade. O país é uma República unitária, semipresidencial, com o governo eleito através de uma democracia representativa. Seu território é de 69 700 km² e sua população, conforme estimativas de 2017, é de cerca de 3,718 milhões de habitantes. Mais de um quarto da população vive na região de Tiblíssi, com outras grandes cidades sendo Cutáissi, Batumi e Rustavi. Durante a Era Clássica, reinos independentes estabeleceram-se no que é a Geórgia. Os reinos da Cólquida e Ibéria, cujas orientações religiosas vinham do paganismo georgiano com posterior influência zoroastriana, adotaram o cristianismo no início do século IV. O Reino da Geórgia atingiu o auge de sua força política e econômica durante o reinado de Davi IV e Tamara I, nos séculos XI e XII. No início do século XIX, a Geórgia foi anexada pelo Império Russo. Depois de um breve período de Independência, após a Revolução Russa de 1917, a Geórgia foi ocupada pela União Soviética em 1921, tornando-se a República Socialista Soviética Geórgia e parte da União Soviética. Após a Independência, em 1991, a Geórgia pós-socialista sofria de distúrbios civis e uma extraordinária crise econômica, social e política na maior parte do século XX, até a derradeira Revolução Rosa de 2003, depois que o novo governo introduziu reformas democráticas e econômicas.

            A Geórgia possui uma cultura bastante peculiar, sendo o único Estado no mundo a ter a língua georgiana como oficial, a principal entre as cartevélicas são uma família de línguas que são faladas principalmente na Geórgia, com algumas comunidades de falantes na Turquia, Irã e Rússia. Este grupo é classificado dentro das línguas caucasianas em geral, mas as línguas caucasianas meridionais não formam geneticamente um mesmo filo com as línguas caucasianas do Norte-centro e as caucasianas do Nordeste. Os georgianos, etnicamente, não se encaixam em nenhuma das etnias predominantes da Europa ou Ásia, e eram chamados na Antiguidade de colcos ou iberos. A maior parte da população religiosamente é adepta ao cristianismo ortodoxo, o qual é representado pela Igreja Ortodoxa Georgiana. Possui duas regiões independentes de fato, a Abecásia e a Ossétia do Sul, que obtiveram reconhecimento internacional limitado após a Guerra Russo-Georgiana. O Estado, e grande parte da comunidade internacional, considera as regiões como integrante de seu território soberano, sob ocupação militar russa. A Geórgia é um membro do Conselho da Europa, da Organização de Cooperação Econômica do Mar Negro, da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), e do Eurocontrol. A nação também aspira aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e à União Europeia (UE).

Os Gregos antigos: Estrabão, Heródoto, Plutarco, Homero, etc. e os Romanos: Tito Lívio, Tácito, etc., referem-se aos Georgianos antigos ocidentais como colcos, e aos Georgianos orientais como Iberos. Na Antiguidade, os habitantes da Geórgia eram também denominados iberos, em razão do Reino da Ibéria, que muito confundia os geógrafos antigos, que pensavam que este termo só se aplicava aos habitantes da Península Ibérica. O território da atualmente Geórgia era habitado por Homo erectus desde o Paleolítico. As tribos proto-georgianas apareceram pela primeira vez na história escrita no século XII a.C. Os primeiros indícios de vinho foram encontrados na Geórgia, onde jarros de vinho datados de 8 mil anos foram descobertos. Achados arqueológicos e referências em fontes antigas revelam elementos de formações políticas e estaduais, caracterizados por uma avançada metalurgia e técnicas de ourivesaria que remontam ao século VII a.C. Na verdade, a prática da metalurgia na Geórgia iniciou-se durante o sexto milênio a.C., como uma forma de associação com a Cultura de Shulaveri-Shomu. Uma pátera, que descreve Antínoo, desenterrada perto de Tiblíssi e exposta no Museu Nacional da Geórgia O primeiro povo reconhecido da história da Geórgia são os Diauehi do século XXIII a.C.). Muitos séculos depois surgem os primeiros Estados da região: Cólquida (século VII a.C.), Sispiritis (século VII a.C.) e Ibéria (século VI a.C.).

No século IV a.C., um reino unificado da Geórgia - um exemplo precoce da avançada organização estatal sob um rei e uma hierarquia aristocrática foi estabelecido. Na mitologia grega, Cólquida era o local do Velocino de Ouro procurado por Jasão e os Argonautas em Apolônio de Rodes, no conto épico Argonáutica. A incorporação do Velocino de Ouro no mito pode ter derivado da prática local de utilização de lã para peneirar pó de ouro dos rios. Reconhecido por seus nativos como Egrissi ou Lázica, Cólquida também foi o campo de batalha da Guerra Lázica, travada entre o Império Bizantino e o Império Sassânida da Pérsia. Depois que o Império Romano completou sua conquista da região do Cáucaso, sobre seu arquirrival, o Império Parta, os reinos da Geórgia foram, de forma intermitente, aliados dos romanos por quase 400 anos. Desde o século I, o culto de Mitra, crenças pagãs e o zoroastrismo eram comumente praticados na Geórgia. Em 337, o rei Meribanes III (284-361) declarou o “cristianismo como religião oficial do Estado”, dando um grande estímulo para o desenvolvimento da literatura, artes, e, finalmente, resultando numa significativa ação na formação da nação georgiana unificada. A aceitação do cristianismo por parte do rei Meribanes demonstrou a influência do reino vizinho sobre a Geórgia, perdurando por quase um milênio, determinando muito do presente e de sua identidade cultural. A aceitação levou ao declínio do zoroastrismo, de forma lenta, que até o século V ter se tornado como uma segunda religião estabelecida na Ibéria (Geórgia Oriental) e foi amplamente praticada.

Guerra total é a guerra que inclui todos e quaisquer recursos e infraestruturas associados a sociedade civil como alvos militares legítimos, mobiliza todos os recursos da sociedade para lutar na guerra e dá prioridade à guerra sobre as necessidades dos não combatentes. O termo foi definido como “uma guerra que não tem restrições em termos de armas usadas, o território ou combatentes envolvidos, ou os objetivos perseguidos, especialmente aquela em que as leis da guerra são desconsideradas”. Em meados do século XIX, os estudiosos identificaram a guerra total como uma classe separada de guerra. Em uma guerra total, a diferenciação entre combatentes e não combatentes diminui devido à capacidade dos lados opostos de considerar quase todos os humanos, incluindo os não combatentes, como recursos que são usados ​​no esforço de guerra. A frase “guerra total” remonta à publicação de 1935 das memórias do general alemão Erich Ludendorff (1865-1937) na 1ª grande guerra, Der Totale Krieg (“A Guerra Total”). Alguns autores estendem o conceito na esfera política até a obra clássica de Carl von Clausewitz, On War (1984), como “absoluter Krieg” (“guerra absoluta”), embora ele não tenha usado o termo; outros interpretam Clausewitz de maneira diferente. Guerra total também descreve em análise comprada a “guerre à outrance” francesa durante a Guerra Franco-Prussiana.

Em sua carta de 24 de dezembro de 1864 ao Chefe do Estado-Maior durante a Guerra Civil Americana, o general da União William Tecumseh Sherman escreveu que a União estava “não apenas lutando contra exércitos hostis, mas um povo hostil, e deve tornar velhos e jovens, ricos e pobres, sentir a mão dura da guerra, bem como seus exércitos organizados”, defendendo a marcha de Sherman para o mar, a operação que infligiu a destruição generalizada de infraestrutura na Geórgia. O General Emerson Curtis LeMay (1906-1990) da Força Aérea dos Estados Unidos atualizou o conceito para a Era Nuclear. Em 1949, ele propôs pela primeira vez que uma guerra total na era nuclear consistiria em lançar todo o arsenal nuclear em um único golpe avassalador, indo tão longe quanto “matar uma nação”. A Segunda Guerra Mundial foi a guerra total por excelência da modernidade. O nível de mobilização nacional de recursos em todos os lados do conflito, o espaço de batalha sendo contestado, a escala dos exércitos, marinhas e forças aéreas aumentadas por meio do recrutamento, a seleção ativa de alvos entre os não combatentes e as propriedades dos não combatentes, desrespeito geral pelos danos colaterais e os objetivos irrestritos dos beligerantes marcaram a guerra total em uma escala multicontinental sem precedentes e insuperável. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial (1945), nenhuma nação industrial travou uma guerra tão grande e decisiva.

O tempo, como a unidade negativa do ser-fora-de-si, é igualmente um, sem mais nem menos, abstrato, ideal. Ele é o ser, que, enquanto é, não é, e enquanto não é; ele é o vir-a-ser intuído, segundo Friedrich Hegel, isto é, analogamente, tal que são determinadas as diferenças simplesmente momentâneas, as que imediatamente se suprassumem como exteriores, isto é, que são apesar disso exteriores a si mesmas. O tempo é como o espaço uma pura forma de sensibilidade ou do intuir, é o sensível, mas, assim como a este espaço, também ao tempo não diz respeito a diferença de objetividade e de uma consciência subjetiva contra ela. Quando se aplicam estas determinações de espaço e tempo, então seria aquele a objetividade abstrata, este [o tempo], porém a subjetividade abstrata. O tempo é o princípio representativo que o Eu=Eu da autoconsciência pura; mas é o mesmo princípio ou o simples conceito ainda em sua total exterioridade e abstração – como o mero vir-a-ser intuído, o puro ser-em-si como um vir-fora-de-si. O tempo é igualmente contínuo como o espaço, pois ele é a negatividade abstratamente referindo-se a si e nesta abstração ainda não há nenhuma diferença real. No tempo, diz-se, tudo surge e perece, se se abstrai de tudo, a saber, do recheio do tempo e do espaço, fica de resto o tempo vazio como o espaço vazio, são então postas e representadas estas abstrações de exterioridade, como se elas fossem na realidade por si.

O real é limitado, e o outro para esta negação está fora dele, a determinidade é assim nele exterior a si, e daí a contradição de seu ser; a abstração opera nessa exterioridade de sua contradição e a inquietação da mesma é o próprio tempo. Por isso o finito é transitório e temporário, porque ele não é, como o conceito nele mesmo, a negatividade total, mas tem em si, como sua essência universal, entretanto – diferentemente da mesma essência – é unilateral, e se relaciona à mesma como à sua potência. Só o natural, na vida, na realidade concreta é, portanto, enquanto é finito, sujeito ao tempo; o verdadeiro, porém, a ideia, o espírito, é eterna. A intemporalidade absoluta é diferente da duração; é a eternidade que é sem o tempo naturalmente. Mas o próprio tempo é, em seu conceito, eterno; pois ele, não quer qualquer tempo, nem o agora, mas significativamente o tempo-enquanto-tempo, é seu conceito; este tempo, porém, como cada conceito em geral, é o eterno, e também é presente absoluto. O que não está no tempo é o sem-processo; o péssimo e o mais perfeito não estão no tempo, dura. A modernidade é inerentemente globalizante. Ela tanto germina a integração como a fragmentação. Nela desenvolvem-se as diversidades como também as disparidades. A dinâmica das forças produtivas e das relações de produção, em escala local, nacional, regional e mundial, produz interdependências e descontinuidades, evoluções e retrocessos, integrações e distorções, afluências e carências, tensões e contradições.

O péssimo, da pior qualidade, porque ele é uma universalidade abstrata, assim espaço, assim tempo mesmo; sua duração não é vantagem. O duradouro é mais altamente cotado do que o transitório; mas toda florescência, toda bela vitalidade tem morte cedo. Mas também o mais perfeito dura, não só o universal sem-vida, inorgânico, mas também o outro universal, o concreto em si, isto é, o gênero, a lei, a ideia, o espírito. Representa o processo total ou apenas um momento do processo que entra no tempo enquanto os momentos do conceito têm a aparência da independência; mas as diferenças excluídas portam-se como reconciliadas e retomadas à paz. A noção de desenvolvimento passa a ser central depois dessa concepção na filosofia da história e, para o bem ou para o mal até os nossos dias presentes. Mesmo a ideia de progresso, que implicava o depois poder ser explicado em função do antes, encalhou, de certo modo nos recifes materiais do século XX, ao sair das esperanças ou das ilusões que acompanharam a chamada “travessia do mar” aberto pelo século XIX. Isso é provável devido à extraordinária disponibilidade de armas nucleares, hic et nunc cujo poder destrutivo e implantação tornam uma “mobilização total dos recursos de um país”, como na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) logisticamente impraticável e estrategicamente irrelevante.

Essas armas são desenvolvidas e mantidas com orçamentos de defesa relativamente modestos em tempos de paz. No final da década de 1950, o impasse ideológico da chamada Guerra Fria entre o mundo ocidental e a União Soviética das Repúblicas Socialistas Soviética (URSS) resultou em milhares de armas nucleares sendo apontadas de um lado para o outro. Estrategicamente, o equilíbrio igual de poder destrutivo possuído por cada situação lateral passou a ser reconhecido como Destruição Mutuamente Assegurada (MAD), considerando que, analogamente, um ataque nuclear de uma superpotência resultaria em contra-ataque nuclear da outra. Isso resultaria em centenas de milhões de mortes em um mundo onde, em palavras amplamente atribuídas a Nikita Khrushchev (1894-1971): “os vivos invejarão os mortos”. Durante a Guerra Fria, as duas superpotências procuraram evitar o conflito aberto entre suas respectivas forças, já que ambos os lados reconheceram que tal conflito poderia facilmente aumentar e envolver rapidamente armas nucleares. Em vez disso, as superpotências lutaram entre si por meio de envolvimento em “guerras por procuração”, aumento militar e confrontos diplomáticos. No caso de “guerras por procuração”, last but not least, cada superpotência apoiou seus respectivos aliados em conflitos armados com forças alinhadas com a outra superpotência, no caso da Guerra do Vietnã (1955-1975) e na invasão soviética do Afeganistão. Durante as guerras iugoslavas, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) conduziu ataques contra a rede elétrica em território inimigo usando bombas de grafite.

Uma bomba de grafite é uma arma não letal usada para desativar uma rede elétrica. A bomba funciona espalhando uma nuvem densa de filamentos de carbono extremamente finos e quimicamente tratados sobre instalações de alta tensão isoladas a ar, como transformadores e linhas de energia, causando curtos-circuitos e a subsequente interrupção do fornecimento de energia elétrica em uma área, região ou até mesmo em um pequeno país inteiro. A arma é às vezes chamada de bomba de blecaute ou bomba leve porque seus efeitos diretos se limitam em grande parte à instalação de energia elétrica alvo, com risco mínimo de danos colaterais imediatos. Bombas de grafite geralmente consistem em uma lata de metal que é preenchida com bobinas de filamento de grafite e um dispositivo explosivo. O grafite é um condutor suficientemente bom e a corrente que flui na fibra imediatamente o vaporiza, criando um canal fino de gás, ionizado pela alta temperatura, ao redor do espaço anteriormente ocupado pela fibra. O gás ionizado, também um condutor, permite que mais corrente flua, elevando ainda mais a temperatura e criando um canal maior de gás ionizado até que a linha de alta tensão seja efetivamente curto-circuitada. Neste ponto, ou a proteção da linha cortam a energia, ou a linha falha devido à sobrecorrente. Em ambos os casos, a distribuição de energia é cortada. Como os sistemas de abastecimento de água e de tratamento de esgotos dependem da eletricidade, surtos generalizados de cólera e de doenças transmitidas pela água, que causaram um grande número de mortes de civis, foram a consequência direta da utilização desta bomba.

A Aliança Atlântica, frequentemente referida pela sigla em inglês NATO (North Atlantic Treaty Organization) e por vezes também chamada de Aliança Atlântica, é uma aliança militar intergovernamental baseada no Tratado do Atlântico Norte, assinado em 4 de abril de 1949, que constitui um sistema de defesa coletiva através do qual os seus Estados-membros concordam com a defesa mútua em resposta a um ataque por qualquer entidade externa à organização. A sede da NATO localiza-se na região de Bruxelas, na Bélgica, um dos 32 países membros da América do Norte e Europa. O mais recente, a Suécia, concluiu o processo de adesão em 5 de março de 2024 e entrou em 7 de março de 2024. Outros 21 países participam na Parceria para a Paz da organização, com 15 outros países envolvidos em programas de diálogo institucionalizado. O gasto militar combinado de dos membros da organização constitui mais de 55% do total de gastos militares de todo o mundo. Os gastos de defesa dos países membros devem ser superiores a 2% do PIB. A OTAN afirmou que o objetivo de seus ataques militares “era interromper a infraestrutura militar e as comunicações”. Em junho de 2024, o ministro das relações exteriores de do Estado de Israel, Israel Katz, em comunicado oficial de seu gabinete, afirmou que o Hezbollah viria a ser “destruído” e o Líbano “atingido com força” em um evento chamado de “guerra total”, no contexto do Conflito Israel–Hezbollah (2023–presente).

            Em 1982, o Hezbollah foi concebido por clérigos muçulmanos e financiado pelo Irã principalmente para lutar contra a invasão israelense do Líbano e continuou a resistir contra a ocupação israelense do Sul do Líbano durante a Guerra Civil Libanesa. As invasões israelenses de 1978 e 1982 criaram uma crise humanitária no Líbano; muitas aldeias no Sul foram destruídas e um grande número de xiitas foi deslocado de suas casas. Além disso, os xiitas há muito tempo eram sub-representados na política libanesa. Ambos os fatores fomentaram o ressentimento entre a população xiita local, tornando-os um terreno fértil para o recrutamento. O Hezbollah foi criado por comitês xiitas locais, sob a liderança de Ruhollah Khomeini. Suas forças foram treinadas e organizadas por um contingente de 1.500 Guardas Revolucionários Iranianos que chegaram do Irã com a permissão do governo sírio, que ocupava as terras altas do leste do Líbano. O Manifesto de 1985 publicado pelo Hezbollah listava suas três metas principais como “colocar um fim a qualquer entidade colonialista” no Líbano, levar os Falangistas à justiça “pelos crimes que perpetraram”, e estabelecer um regime islâmico no país. No entanto, segundo Adam Shatz, o Hezbollah vem fazendo poucas menções a respeito da fundação de um Estado islâmico, e não tem mais feito alianças seguindo tendências religiosas. Os líderes do partido são responsáveis, no entanto, por diversas declarações pedindo o fim do Estado de Israel como “entidade sionista”, “construída sobre terras arrancadas das mãos de seus proprietários”.  Hezbollah ou Hizbollah (“Partido de Alá” ou “Partido de Deus”) é uma organização política e paramilitar fundamentalista islâmica xiita libanesa.

O Hezbollah foi fundado em 1982 por clérigos libaneses em resposta à invasão israelense do Líbano. Inspirado pela Revolução Iraniana de 1979 e pelo modelo de governança islâmica do aiatolá Ruhollah Khomeini (1902-1989), o Hezbollah estabeleceu laços com o Irã. O Hezbollah é uma força significativa na política libanesa, responsável por diversos serviços sociais, além de operar escolas, hospitais e serviços agriculturais para milhares de libaneses. É considerado um movimento de existência legítimo por grande parte do mundo islâmico e árabe. O grupo, no entanto, é considerado uma organização terrorista pelos Estados Unidos da América, Reino Unido, Alemanha, Argentina, Austrália, Israel, Canadá, Países Baixos, pela Liga Árabe e pelo Conselho de Cooperação do Golfo. Em 2013 a União Europeia adicionou o braço armado do Hezbollah à lista de organizações que considera como terroristas, deixando de fora, porém o partido político em si. O partido, que começou apenas como uma pequena milícia, já se transformou numa organização que tem assentos no parlamento libanês, uma rádio e uma estação de TV via satélite, além de diversos programas de desenvolvimento social. O Hezbollah mantém um forte apoio entre a população xiita do Líbano, e conquistou algum apoio entre o resto da população do país, incluindo sunitas, drusos e cristãos, na sequência da Guerra do Líbano de 2006, e conseguiu mobilizar protestos de centenas de milhares de pessoas. Com outros grupos políticos do país iniciou os protestos políticos do Líbano de 2006-2008, em oposição ao governo do primeiro-ministro Fuad Siniora. Disputas posteriores envolvendo a manutenção pelo Hezbollah de sua rede de telecomunicações levaram a disputas, e militantes da oposição, liderados pelo partido, tomaram o controle de diversos bairros de Beirute Ocidental, anteriormente ocupados por milicianos do Movimento do Futuro, leais a Siniora; as áreas foram entregues então ao exército libanês.

Finalmente, com base no Acordo de Doha em 2008, o Hezbollah recebeu o poder de veto no parlamento libanês; além disto, formou-se um governo de unidade nacional, no qual o partido tem um ministro, e controla onze dos trinta assentos existentes. O Hezbollah recebe ajuda financeira do Irã e da Síria, além de doações de libaneses e de outros xiitas pelo mundo. O partido também ganhou uma força militar significante nos últimos anos. Apesar de uma certificação de junho de 2008, pelas Nações Unidas, de que Israel havia se retirado de todo o território libanês, em agosto daquele ano o novo gabinete de governo do Líbano aprovou uma proposta que assegura a existência do partido como uma organização armada, e garante o seu direito de “liberar ou recuperar terras ocupadas”, ou seja, as fazendas de Shebaa e os morros de Kafarshuba por Israel. Nos últimos anos, o Hezbollah goza de certa popularidade no mundo muçulmano xiita, por ter levado Israel a desocupar o Sul do Líbano, em junho de 2000. Todavia, também tem sido criticado por governos sunitas de diversos países e pela Irmandade Muçulmana, por seu envolvimento na guerra civil síria, em favor de Bashar al-Assad. O ministro do Exterior do Barém descreveu o chefe da Hezbollah como terrorista, e o ex-presidente do Egito, Mohamed Morsi, pediu que o Hezbollah pare sua agressão ao povo sírio. O Secretário de Estado dos Estados Unidos da América, Mike Pompeo, também acusou o Hezbollah de manter “células ativas” na Venezuela, o que foi negado pelo líder da organização. Segundo ele, o Hezbollah é “solidário com a política da Venezuela e com o estado venezuelano, contra a agressão dos Estados Unidos”, afirmando, ainda, que o Hezbollah não tem influência na Venezuela, nem células operando no país, e que a Venezuela também não precisa disso.

De 1992 a 2024, a organização foi liderada por Hassan Nasrallah. Ele foi morto em setembro de 2024, em ataque militar de Israel em Beirute, Líbano. Hassan Nasrallah foi o principal líder do Hezbollah e responsável por levar a organização à política libanesa. Historicamente durante a Antiguidade clássica a área foi ocupada pela pólis grega de Fásis, fundada por colonos de Mileto, liderados por um certo Temistágoras, no fim do século VII a. C. Após muitos anos de incerteza e ferrenhas disputas acadêmicas, o sítio exato desta cidade antiga parece ter sido determinado com alguma segurança, devido à arqueologia subaquática. O lago que Estrabão havia descrito como localizado próximo a um dos lados da cidade acabou por submergir boa parte dela. Uma série de questões que dizem respeito à exata localização da cidade e à identificação de suas ruínas permanecem sem respostas, devido principalmente aos processos geomorfológicos, exercidos desde séculos na região, à medida que as camadas mais baixas do rio Rioni acabaram sofrendo alterações no seu percurso, por toda a área pantanosa. Fásis parece ter sido um centro importante de comércio e cultura da Cólquida, por todo o período clássico. O trecho do rio Fásis fazia parte da rota comercial que ligava a Índia ao mar Negro, citada por Estrabão e por Plínio, o Velho. Na Terceira Guerra Mitridática (73–63 a.C.) Fásis passou ao comando do general romano Pompeu, o Grande, depois de penetrar na Cólquida pela Ibéria, quando ele assim encontrou com o legado Servílio, almirante da sua frota naval do Euxino, ocorrida em 65 a.C.

            Entretanto, foi a última e mais longa das três Guerras Mitridáticas travadas entre o rei Mitrídates VI do Ponto e seus aliados contra a República Romana. A guerra terminou com a derrota completa de Mitrídates e anexação do Reino do Ponto. O Reino da Armênia tornou-se um estado aliado de Roma. A longa guerra contra os piratas, liderada por Pompeu, foi um desdobramento da Primeira Guerra Mitridática e só terminou durante o intervalo entre a segunda e a terceira das guerras contra Mitrídates VI. O rei pôntico se aproveitou da mobilização romana e se aliou a Sertório – cuja revolta na Hispânia durou de 80 a 72 a.C. – para criar uma ameaça muito maior contra Roma, que teria que travar a guerra em dois fronts. A causa imediata do conflito foi a morte do rei Nicomedes IV da Bitínia, que deixou o Reino da Bitínia como herança aos romanos em 74 a.C. Aproveitando-se da revolta de Sertório nas províncias hispânicas, Mitrídates inicialmente não encontrou oposição. O Senado respondeu enviando os cônsules Lúcio Licínio Lúculo, governador da Cilícia, e Marco Aurélio Cota, governador da nova província da Bitínia, para contê-lo. Pompeu, o outro general romano à frente de um exército importante em seu tempo, estava na Gália e marchava para a Hispânia para enfrentar Sertório.  

O plano original era que Cota enfrentasse a frota de Mitrídates enquanto Lúculo avançaria por terra. A frota romana se baseou em Calcedônia enquanto o exército de Lúculo avançou pela Frígia para invadir o Reino do Ponto. O avanço havia começado quando Lúculo foi informado que Mitrídates havia marchado para Oeste e atacado Cota, que se viu forçado a se abrigar atrás da muralha da Calcedônia. Sessenta e quatro navios romanos foram capturados ou queimados e 3 mil romanos foram mortos. Lúculo alterou seus planos e seguiu para libertar. Depois de conseguir escapar para Nicomédia, Cota só pôde assistir, frustrado, a fuga de Mitrídates com sua frota para a cidade de Heracleia Pôntica através do Bósforo. Reunido a Lúculo em Nicomédia em 73 a.C., Cota recebeu a ordem de assegurar a retaguarda do exército tomando Heracleia, reforçada com uma guarnição de 4 mil homens de Mitrídates. Depois de chegar à costa Pôntica, Cota começou um cerco que só terminaria com o saque da cidade em 71 a.C., dois anos depois. Neste período, Cota foi forçado a dispensar um de seus questores, um tal Públio Ópio, acusado de conspirar contra os romanos aceitando suborno. Ópio foi defendido no processo por Cícero. Mitrídates enviou provisões para Amiso, que cerco de Amiso, e faz de Cabira sua residência de inverno. Seu exército tinha 40 mil soldados de infantaria e 4 mil ou 8 mil de cavalaria. Durante o cerco, Lúculo recebeu Oltaco (ou “Olcalbas”), um cita que era príncipe da Dardânia, enviado secretamente por Mitrídates para assassiná-lo.

Durante o período imperial romano, os judeus na Frígia, como em outras partes da Ásia Menor, formavam uma minoria próspera e estabelecida. Séculos antes, o rei selêucida Antíoco III (228–187 a.C.) reassentou 2 mil famílias judias da Mesopotâmia e da Babilônia na Lídia e na Frígia, com o objetivo de fortalecer o controle selêucida na região. Isso provavelmente significou realocar mais de 10.000 indivíduos para os territórios de Antíoco no Oeste da Ásia Menor. Os judeus receberam terras, isenções fiscais e grãos até que pudessem se sustentar com suas próprias colheitas. Antíoco alocou terras especificamente para vinhedos, indicando um escopo na viticultura, consistente com referências posteriores no Talmude sobre a produção de vinho da Frígia judaica. Evidências sugerem a existência de sinagogas em várias cidades, incluindo Icônio, que tinha uma população etnicamente mista, mas às vezes era considerada frígia. Em Sináda (Şuhut), um governante da sinagoga é mencionado, indicando a presença de uma sinagoga. Em Hierápolis (Pamukkale), uma inscrição de sarcófago do século III destaca a importância da sinagoga sagrada nas práticas funerárias. A sinagoga frígia mais bem documentada estava na Acmônia (Ahat), onde no reinado de Nero, Ioulia Severa, uma descendente da realeza da Galácia, financiou sua construção. Embora seu patrocínio possa não indicar simpatia pessoal pelo judaísmo, sugere apoio de círculos influentes.

Embora as condições para os judeus na Acmônia parecessem favoráveis na época da Severa, sua continuidade não é clara. No século III, as evidências da presença judaica na Acmônia aumentaram, incluindo lápides invocando maldições bíblicas contra violadores de túmulos, indicando a integração de práticas judaicas e posições influentes dentro da comunidade. Visitantes da Frígia teriam estado entre as multidões presentes em Jerusalém por ocasião do Pentecostes, conforme registrado em Atos 2:10. Em Atos 16:6, o apóstolo Paulo e seu companheiro Silas viajaram pela Frígia e pela região da Galácia proclamando o evangelho cristão. Seus planos parecem ter sido ir para a Ásia, mas circunstâncias ou orientações, “de maneiras que não nos são contadas, por impulsos internos, ou por visões noturnas, ou pelas declarações inspiradas daqueles entre seus convertidos que haviam recebido o dom de profecia”, os impediram de fazê-lo e, em vez disso, viajaram para o oeste em direção à costa. A heresia cristã reconhecida como Montanismo, e ainda reconhecida na Ortodoxia como “a heresia frígia”, surgiu na vila não identificada de Ardabau no século II d.C. e se distinguia pela espiritualidade extática e pelas sacerdotisas. Originalmente descrito como um movimento rural, acredita-se agora que tenha tido origem urbana, como outros desenvolvimentos cristãos. A nova Jerusalém que seus adeptos fundaram na vila de Pepouza foi agora identificada em um vale remoto que mais tarde abrigou um mosteiro. Enquanto isto, Lúculo deixou o cerco de Amiso sob o comando de Lúcio Licínio Murena e seguiu para atacar Cabira. Oltaco tentou assassinar Lúculo quando este dormia, mas foi impedido por Menedemo e fugiu para Mitrídates; ao chegar, denunciou um cita que queria desertar para Lúculo.

Após várias escaramuças, as forças romanas derrotaram as forças de Mitrídates, que fugiu para a Armênia, governada por Tigranes, seu genro. Em paralelo, Mitrídates enviou o eunuco Baco (ou “Báquides”) para o Ponto para matar suas irmãs, esposas e concubinas, que estavam em Farnácia. Dentre as vítimas, estavam Roxane e Estatira, suas irmãs, e Berenice de Quios e Monima de Mileto, suas concubinas. Depois da derrota e da fuga de Mitrídates, Cabira se rendeu incondicionalmente a Lúculo; Nisa, irmã de Mitrídates, foi deixada livre. Depois de Cabira, vários governadores de guarnições de Mitrídates se renderam a Lúculo, inclusive Estrabão, avô materno do geógrafo de mesmo nome. Marchando adiante, Lúculo conquistou a Armênia Menor, mas Amiso, ainda cercada, permaneceu resistindo. Eupatoria, por outro lado, que estava no caminho de Lúculo, foi capturada e arrasada. Deixando Lúculo no oriente, Cota retornou a Roma em 70 a.C. e foi aclamado por sua vitória em Heracleia. Porém, por volta de 67 a.C., Cota foi acusado de se apropriar do butim de guerra pelo tribuno Caio Papírio Carbão, um general romano, líder das forças sociais e políticas de Caio Mário na guerra civil entre Mário e Lúcio Cornélio Sula, condenado e expulso do Senado. Como vingança, o filho de Cota, também chamado Marco Aurélio, acusou Carbão também de extorsão. Em 69 a.C., Lúculo liderou uma invasão do Reino da Armênia, para onde Mitrídates VI havia fugido depois da Batalha de Cabira, e Tigranes, o Grande, genro e aliado de Mitrídates. Ele começou a campanha cercando a nova capital armênia, Tigranocerta. Tigranes retornou rapidamente da Síria, onde estava lutando contra uma revolta selêucida, com seu exército principal e tentou obrigar os romanos a uma batalha.

O exército de Lúculo aniquilou os armênios mesmo em desvantagem numérica de mais de dois para um na famosa Batalha de Tigranocerta. Esta batalha foi travada no mesmo dia (no calendário juliano) que a desastrosa Batalha de Aráusio trinta e seis anos antes. O próprio Tigranes se retirou para a região montanhosa ao Norte de seu reino para arregimentar um novo exército e para defender a capital tradicional, Artaxata. Enquanto isto, Lúculo marchou para o Sudeste e invadiu Gordiena que é equivalente ao moderno Curdistão, que ficava entre a Armênia e o Império Parta. Durante o inverno de 69-68 a.C., as duas partes iniciaram negociações com o xá, Ársaces XVI, que estava ocupado defendendo seu próprio reino contra um grande ataque de seu rival, o rei Fraates III da Báctria. No verão de 68 a.C., Lúculo marchou contra Tigranes e atravessou os montes Antitauro para atacar Artaxata. Tigranes foi provocado a atacar e, numa grande batalha às margens do rio Arsânias, Lúculo conseguiu vitória sobre exército armênio, mas Mitrídates conseguiu escapar. Ele desistiu do cerco e de um início prematuro do inverno no planalto armênio, suas tropas se amotinaram, se recusando a continuar a marcha.

Lúculo foi forçado a recuar para o Sul, de volta à região de Tigranocerta, a partir de onde ele marchou através de Gordiena até a região da antiga Assíria. No final do outono e início do inverno, Lúculo cercou e tomou Nísibis, a principal fortaleza armênia no Norte da Mesopotâmia. Em Nísibis durante o inverno de 68-67 a.C., a autoridade de Lúculo foi seriamente minada por causa de seu jovem cunhado, Públio Clódio Pulcro, que agia, aparentemente, a mando de Pompeu, que desejava ardentemente assumir o comando da campanha no oriente. Depois que um novo motim se espalhou por entre as legiões no oriente, o Senado finalmente enviou Pompeu para assumir o comando de Lúculo. Esta pausa na guerra permitiu que Tigranes e Mitrídates retomassem partes de seus respectivos reinos. Em 66 a.C., Fraates tornou-se xá dos partas e Mitrídates tentou forjar uma aliança, mas Pompeu se antecipou e o convenceu a invadir o Armênia. Na Batalha do Rio Lico, Pompeu derrotou o exército de Mitrídates, que fugiu novamente para a corte de Tigranes. Desconfiado de que Mitrídates havia sido a causa da sua briga com seu filho, também chamado Tigranes, mandou prender os embaixadores de dele. Depois de perceber que não poderia se refugiar na Armênia, Mitrídates fugiu novamente, desta vez para a Cólquida. De lá, ele seguiu para a região do Lago Meiotis até chegar ao Bósforo.

Enquanto isto, Pompeu assentou seus soldados veteranos e feridos em uma região da Capadócia, onde seria fundada a cidade de Nicópolis. Tigranes, o filho de Tigranes, o Grande, fugiu para a corte de Fraates, que o enviou para tomar a Armênia, mas ele acabou derrotado. Em desgraça, o jovem se refugiou com Pompeu, que o utilizou como guia em sua campanha pela região. Sem opções, Tigranes, o Grande, implorou a Pompeu e conseguiu que ele aceitasse devolver-lhe o Reino do Ponto em troca de todos os territórios que ele havia conquistado: Capadócia, Síria, Fenícia e Sofena. O jovem Tigranes, a quem Pompeu havia prometido Sofena, ficou irritado por não conseguir tomar para si o reino de seu pai e acabou desagradando Pompeu, que o levou prisioneiro para Roma. Durante o inverno de 66-65 a.C., Oroeses da Albânia atacou os romanos esperando pegá-los de surpresa, durante a Saturnália, mas é derrotado. Pompeu, ansioso por se vingar, foi obrigado a adiar seus planos por causa do inverno. Mitrídates fugiu com um pequeno exército da Cólquida, a moderna Geórgia, atravessando o Cáucaso para chegar até a Crimeia numa tentativa de juntar novo exército para enfrentar os romanos.

Depois de suspeitar das intenções pacíficas do rei Artoces da Ibéria, Pompeu invadiu o Reino da Ibéria antes que ele estivesse preparado, capturou a fortaleza de Armástica e conquistou os territórios até o rio Ciro. Artoces tentou novamente a paz, mas, depois de ser derrotado, acabou fugindo para além do Rio Peloro. No verão, depois que os romanos cruzaram o Rio Peloro, Artoces aceitou os termos de Pompeu, entregou seus filhos como reféns e firmou a paz com os romanos. Ainda na região do Cáucaso, Pompeu conquistou o Reino da Cólquida, e conseguiu derrotar o rei Oroeses da Albânia, que também pediu a paz. Em paralelo, Pompeu renovou sua aliança com Fraates III da Pártia, que estava em guerra contra Tigranes, o Grande, mas não o chama de rei dos reis, o que foi considerado ofensivo. Depois de chegar a em Fásis, na Cólquida, Pompeu se encontrou com Servílio, o almirante da frota romana do Êuxino (mar Negro), refez seu caminho para passar o inverno no Reino do Ponto, anexando a região como uma nova província romana. Em 63 a.C., Mitrídates recuou para a cidadela de Panticapeu. Seu filho mais velho, Macares, o rei do Bósforo Cimério, um reino reconhecido e reorganizado pelos romanos, se recusou a ajudar o pai e acabou assassinado por ordens dele. O filho mais novo de Mitrídates, Fárnaces II, apoiado por uma população mal preparada e cansada da guerra, liderou uma revolta contra o pai. Esta traição após derrota decisiva, levou Mitrídates a tentar se matar tomando veneno.

Essas leis são leis do puro pensar. Sabemos que o pensar é o universal em si, e, portanto, um saber que tem nele o ser, imediatamente; e no ser toda a realidade. Por isso tais leis são conceitos absolutos, e são indivisamente as essencialidades tanto da forma quanto das coisas. Uma vez que a universalidade, movendo-se em si, é o conceito simples que é cindido - o conceito dessa maneira tem conteúdo em si, e justamente um que é todo o conteúdo; só não é um ser sensível. É um conteúdo que não está em contradição com a forma, nem, de modo algum, separado dela. Ao contrário: é essencialmente a própria forma, já que essa não é outra coisa que o universal se separando em seus momentos puros. Essa forma ou conteúdo - tal como é para a observação como observação - recebe a determinação de um achado, dado; quer dizer um conteúdo apenas essente. Torna-se um calmo ser de relações, um grande número de essencialidades, que como conteúdo fixo em si e para si devem ter verdade em sua determinidade, e assim são de fato subtraídas à forma. Mas essa verdade absoluta de determinidades fixas, ou de múltiplas leis diversas, contradiz a unidade da consciência de si, ou seja, a unidade do pensar e da forma em geral. O que é enunciado como lei fixa e permanente em si pode ser somente como um momento da unidade refletindo-se em si, e surgir apenas como uma grandeza evanescente. Mas essas leis são arrancadas, pela operação que as examina, a esse conjunto coeso do movimento e expostas isoladamente, o conteúdo não lhes vem a faltar, pois têm nelas um conteúdo determinado; o que lhes falta é antes a forma, que é sua essência.

Em sua verdade, como momentos evanescentes na unidade do pensar, deveriam ser tomadas como saber, ou como movimento pensante, mas não como leis do saber. Mas o observar não é o saber mesmo, e não o conhece; ao contrário, inverte a natureza do saber dando-lhe a figura do ser, isto é, só entende a sua negatividade como leis do ser, na qual essas leis se mostram como em verdade são, a saber como momentos singulares evanescentes cuja verdade é tão somente o todo do movimento: o próprio saber. No primeiro caso, o espírito se comporta negativamente para consigo mesmo, enquanto singularidade; no outro caso, negativamente para consigo, enquanto universal. Conforme o primeiro lado, a independência só confere ao encontrado a forma da individualidade consciente em geral, e, no que respeita o conteúdo, permanece no interior da efetividade universal encontrada. Mas, conforme o outro lado, a independência confere a essa efetividade ao menos uma modificação peculiar, que não contradiz seu conteúdo essencial, ou seja, uma modificação pela qual o indivíduo, como efetividade especial e como conteúdo peculiar, se opõe àquela efetividade universal. Essa oposição vem a tornar-se crime quando o indivíduo suprassume essa efetividade de uma maneira apenas singular; ou vem a tornar-se outro - outro direito, outra lei e outros costumes, produzidos em lugar dos presentes, quando o indivíduo o faz de maneira universal para todos.  

A tentativa falhou por que o organismo de Mitrídates havia adquirido imunidade, contra uma grande quantidade de venenos por que ele preventivamente tomava pequenas doses frequentemente na tentativa de evitar ser assassinado. Segundo Apiano, Mitrídates ordenou ao gaulês Bituito, seu amigo e guarda-costas, que o matasse com sua espada. Seu corpo foi enterrado em Sinope ou Amaseia por ordem do próprio Pompeu que deu sequência à sua vitória com a criação da província da Síria e passou 64 e 63 a.C. pacificando a região. Em 63 a.C., ele cercou e capturou Jerusalém depois de receber um pedido para intervir na guerra civil entre Hircano II e Aristóbulo II pelo trono do Reino Asmoneu. Depois de ser introduzida ao cristianismo, Fásis tornou-se a sede de diocese grega, da qual um dos seus bispos, Ciro, tornou-se Patriarca de Alexandria, entre 630 e 641 d.C. Durante a Guerra Lázica, entre os bizantinos e os persas sassânidas (542-562), Fásis foi atacada, sem sucesso, pelas tropas persas. No século VIII o nome Poti foi registrado pela primeira vez nas fontes escritas georgianas, referem-se aos três sistemas de escrita utilizados para a língua georgiana: Asomtavruli, Nuskhuri e Mkhedruli. Destes, o Mkhedruli é o sistema de escrita padrão para o georgiano moderno e suas línguas relacionadas, enquanto Asomtavruli e Nuskhuri são usados principalmente pela Igreja Ortodoxa Georgiana em textos religiosos. Continuou a ser uma localidade estruturada no desenvolvimento do comércio marítimo, dentro do Reino da Geórgia, e era reconhecida pelos viajantes medievais europeus como Fasso. No século XIV, a República de Gênova estabeleceu uma feitoria comercial na cidade, que acabou tendo curta existência.

Em 1578, Poti foi conquistada pelo Império Otomano. Os turcos, que chamaram a cidade de Faş, construíram fortificações pesadas e a transformaram num de seus principais postos de fronteira no Cáucaso, onde havia um grande mercado de escravos. Um exército combinado dos príncipes da Geórgia ocidental recuperou Poti em 1640, porém a cidade caiu para os otomanos novamente em 1723. Outra tentativa fútil de libertar a cidade do jugo otomano foi feita pelas forças russo-georgianas em 1770 e 1771, e a partir do momento em que a Rússia tomou conta da maior parte do território georgiano, no século XIX, suas forças tentaram novamente destruir o forte turco em Poti. Apesar da empreitada eventualmente ser bem-sucedida, com o auxílio de tropas georgianas, em 1809, o Tratado de Bucareste forçou a devolução do território e da fortaleza aos otomanos. A próxima Guerra Russo-Turca trouxe a cidade definitivamente ao domínio russo, onde foi subordinada à gubernia (“província”) de Cutais, e recebeu o estatuto de cidade portuária em 1858. O porto marítimo foi construído entre 1863 e 1905. Em 1872, a cidade tornou-se o ponto final da Ferrovia Transcaucásica, que passava diretamente por Tbilisi.

Na Europa, existem basicamente quatro modelos constitucionais de gestão da administração pública, o modelo nórdico (Dinamarca, Finlândia, Suécia e Países Baixos), o modelo anglo-saxão (Reino Unido e Irlanda), o modelo renano ou continental (Áustria, Bélgica, França, Alemanha e Luxemburgo) e o modelo mediterrâneo (Grécia, Itália, Portugal e Espanha). Na América Latina a preferência é a representação do modelo mediterrâneo, a exemplo do Brasil. Vale lembrar que a nação é um produto cultural, político e social que surge na Europa a partir do fim do século XVIII e que se constitui efetivamente em uma “comunidade política imaginada”. Nesse processo de construção histórica, a relação entre o velho e o novo, o passado e o presente, a tradição e a modernidade são constantes e se revestem de importância fundamental, pois, a nação é uma comunidade de sentimento que tende a produzir um Estado próprio, é preciso invocar antigas tradições (reais ou inventadas) como fundamento natural da identidade nacional que está sendo criada. Isso tende a obscurecer o caráter histórico e relativamente recente dos Estados nacionais. Assim, como Estado-nação procura delimitar e zelar por suas fronteiras geopolíticas, ele também se empenha em demarcar suas fronteiras culturais, estabelecendo “o que faz e o que não faz parte da nação”. Através desse processo se constrói uma identidade nacional que procura dar uma imagem à comunidade abrangida por ela. Nesse sentido o processo de consolidação dos Estados-nações é extremamente recente. Mesmo em sociedades que atualmente parecem ser bem integradas.

Esta exploração humana dos trópicos não se processou, em verdade, por um empreendimento metódico e racional, não emanou de uma vontade construtora e enérgica: fez antes com desleixo e certo abandono. Dir-se-ia mesmo que se fez apesar de seus autores. E o reconhecimento desse fato não constitui, para Sérgio Buarque, menoscabo à grandeza do esforço português. Isto porque existe uma ética do trabalho, como existe uma ética da aventura. Assim, o indivíduo do tipo trabalhador só atribuirá valor moral positivo às ações que sente ânimo de praticar e, inversamente, terá por imorais e detestáveis as qualidades próprias do aventureiro – audácia, imprevidência, irresponsabilidade, instabilidade, vagabundagem – tudo, enfim, quanto se relacione com a concepção espaçosa do mundo, característica desse tipo. Por outro lado, as energias e esforços que se dirigem a uma recompensa imediata são enaltecidos pelos aventureiros; as energias que visam à estabilidade, à paz, à segurança pessoal e os esforços sem perspectiva de rápido proveito material passam, ao contrário, por viciosos e desprezíveis para eles. Nada lhes parece mais estúpido e mesquinho do que o ideal do trabalhador.

   

Na obra da conquista e colonização dos novos mundos coube ao “trabalhador”, papel muito limitado, quase nulo. Historicamente predispunha aos gestos e façanhas audaciosos, galardoando bem os melhores homens de grandes voos. E não foi fortuita a circunstância imediata de se terem encontrado neste continente, empenhados nessa obra, principalmente as nações onde o tipo ideal do trabalhador, encontrou ambiente menos propício. Essa pouca disposição para o trabalho, ao menos para o trabalho sem compensação próxima, essa indolência, como diz o deão Inge, não sendo evidentemente um estímulo às ações aventurosas, não deixa de constituir, com notável frequência, o aspecto negativo do ânimo quer gera as grandes empresas. Como explicar, sem isso, que os povos ibéricos mostrassem tanta aptidão para a caça aos bens materiais em fins do século XVIII? “Um português” comentava certo viajante em fins do século XVIII, “pode fretar um navio para o Brasil com menos dificuldade do que lhe é preciso para ir de cavalo de Lisboa ao Porto”. E essa ânsia de prosperidade sem custo, de títulos honoríficos, de posições e riquezas fáceis, tão notoriamente característica da gente de nossa terra, não é bem uma das manifestações precisamente mais cruas do espírito de aventura? Nesse ponto, precisamente, os portugueses e seus descendentes imediatos foram inexcedíveis. Procurando recriar aqui o meio de sua origem, fizeram-no com uma facilidade que ainda não encontrou, talvez, segundo exemplo na história. Aos portugueses e, em menor grau, aos castelhanos, coube, sem dúvida, a primazia no emprego do regime que iria servir de modelo à exploração latifundiária e monocultora adotada depois por outros povos.

E a boa qualidade das terras do Nordeste brasileiro para a lavoura altamente lucrativa de cana-de-açúcar fez com que essas terras se tornassem o cenário onde, por muito tempo, se elaboraria em seus traços mais nítidos o tipo de organização agrária mais tarde característico das colônias europeias situadas na zona tórrida. E verificou-se, frustradas as tentativas de emprego do braço indígena, que o recurso mais fácil estaria na introdução de escravos africanos. O que o português vinha buscar era, sem dúvida, a riqueza, mas riqueza que custa ousadia, não riqueza que custa trabalho. Não foi, por conseguinte, uma civilização tipicamente agrícola o que instauraram os portugueses no Brasil com a lavoura açucareira. Não o foi, em primeiro lugar, porque a tanto não conduzia o gênio aventureiro que os trouxe à América; em seguida, por causa da escassez da população do reino, que permitisse emigração em larga escala de trabalhadores rurais, e finalmente pela circunstância de a atividade agrícola não ocupar então, em Portugal, posição de primeira grandeza. Poucos indivíduos sabiam dedicar-se a vida inteira a um só mister sem se deixaram atrair por outro negócio aparentemente lucrativo. E ainda mais raros seriam os casos em que um mesmo ofício perdurava na mesma família por mais de uma geração, como acontecia normalmente em terras onde a estratificação social alcançara maior grau de estabilidade. Da tradição portuguesa, pouca coisa se conservou entre nós que não tivesse sido modificada ou relaxada pelas condições adversas do meio.

Bibliografia Geral Consultada.

GALLIE, Walter Bryce, Os Filósofos da Paz e da Guerra: Kant, Clausewitz, Marx, Engels e Tolstoi. Rio de Janeiro: Editora Artenova; Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1979; CLAUSEWITZ, Carl von, On War. Michael Howard; Peter Pareto (Ed.).Nova Jérsey? Princeton Univesity Press, 1984; BRAUDEL, Fernand, La Mediterranée et le Monde Méditerranée à l`Époque de Philippe II. Paris: Editeur Armand Colin, 1990; DOR, Joël, O Pai e Sua Função em Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1991; LLERA, Francisco José, “ETA: Ejercito Secreto y Movimiento Social”. In: Revista de Estudios Políticos. Número 78. Outubro-Dezembro de 1992; MERLEAU-PONTY, Maurice, Le Cinema et la Nouvelle Psychologie. Paris: Éditions Gallimard, 1996; ZULIANI, Fabiana de Mello, Passado e Presente em Estrabão: As Estruturas Espaço-temporais da Geografia e suas Relações com o Império Romano. Dissertação de Mestrado em Geografia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1999; LORDKIPANIDZE, Otar, Phasis: The River and City in Colchis. Stuttgart: Editor Franz Steiner Verlag, 2000; JONES, Stephen, Socialism in Georgian Colors: The European Road to Social Democracy, 1883-1917. Harvard: Harvard University Press, 2005; SCHRIJVER, Frans, Regionalism after Regionalization: Spain, France and the United Kingdom. Amsterdam: Amsterdam University Press, 2006; D’ALLONNES, Myriam Revault, El Poder de los Comienzos: Ensayo sobre la Autoridad. Buenos Aires: Amorrortu Editores, 2008; EVANS, Kelsey, A Survey of the Health Issues of Friesian Horses. Kansas: Sênior Applied Research Project Sterling College, 2010; WATERS, Matt, Pérsia Antiga: Uma História Concisa do Império Aquemênida, 550–330 a.C. Cambridge University Press, 2014; AUGÉ, Marc, O Antropólogo e o Mundo Global. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2014; COURTINE, Jean-Jacques; HAROCHE, Claudine, História do Rosto. Exprimir e Calar as Emoções (Do Século 16 ao Começo do Século 19). Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2016; MCKECHNIE, Paul, Cristianizando a Ásia Menor: Conversão, Comunidades e Mudança Social na Era Pré-Constantino. Nova Iorque (NY): Cambridge University Press, 2019; VIANA, Luar Samir Oliveira, Ondas Gravitacionais em Modelos Cosmológicos: Isotrópicos a Anisotrópicos. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Física. Centro de Ciências Exatas. Departamento de Física: Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo, 2025; entre outros.

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Holy Spider – Pecado, Limpeza Étnica & Felação, Narrativa Feminina.

                                                   O silêncio é o melhor remédio para a ignorância”. Iman Ali Nahy Al-Balagha                                     

      

        É a mais famosa coleção de sermões, cartas, tafsirs e narrações atribuídas a Ali, primo e genro de Maomé. Foi coletada por Xerife Razi, um estudioso xiita do século X. Reconhecido por seu conteúdo eloquente, é considerado uma obra-prima da literatura do islamismo xiita, terceira somente ao Alcorão e narrações proféticas. Nahjul al-Balaghah compreende várias questões de imersão cultural que abrangem os principais problemas da metafísica, teologia, fiqh, tafsir, hadith, profetologia, imanato, ética, filosofia social, história, política, administração, educação cívica, ciência, retórica, poesia e literatura. O livro reflete não apenas o espírito do início do Islã e os ensinamentos do Alcorão e do profeta islâmico Maomé, mas também serve como um guia para atravessar o futuro, à luz desses ensinamentos. Nahj al Balagha tem como representação social uma coleção de 241 sermões, 79 cartas e 489 enunciados. De acordo com cada nova publicação contra volumes anteriores, o número de sermões, cartas e declarações variou 238-241, 77 a 79, e 463-489. O livro narra a partir de Ali em uma ampla variedade de temas, que vão desde a criação do mundo, criação de Adão, fim do Universo que continuará se expandindo, e a chegada do Imame Mádi. Uma vez que o livro é obra literária destinada a demonstrar a eloquência de Ali, não reuniu todos os sermões de Ali. Em vez disso, apenas os segmentos considerados que possuem maior valor literário estão incluídos. 

Uma fonte alternativa do conteúdo do livro de Maomé Baqir al-Mahmudi representa todos discursos existentes de Ali, sermões, decretos, epístolas, orações e palavras que são encontradas em Nahjul al-Balaghah. Assim, com excepção de alguns aforismos, a fonte original de todo o conteúdo de Nahjul al-Balaghah foi determinada. Nahjul al-Balaghah foi escrito por Xerife Razi, um estudioso do século X. Mais de 300 anos depois de Ali. Até então, os sermões tinham sido transmitidos por via oral, entre as gerações, e portanto, o texto foi aberto à mudança e má interpretação. Não há cadeia de narração. As últimas páginas foram deixadas vazias, Xerife Razi diz que se deparou com novos sermões; destacando que Xerife Razi escreveu nada que se deparou. Xerife Razi não seguiu o mesmo nível de escrutínio como seguido por colecionadores de Hadith portanto Nahjul al-Balaghah não foi considerado como Sahih (autêntico ou correto) para o nível das coleções de Hadith. Vários estudiosos têm procurado rastrear as fontes de diferentes declarações e cartas coletadas em Nahjul al-Balaghah aos trabalhos compilados séculos antes do nascimento de Xerife Razi. A pesquisa mais meticulosa neste contexto foi feita por um estudioso sunita indiano Imtiyaz Ali Arshi, morreu em 1981. Ele conseguiu remontar as primeiras fontes de 106 sermões, 37 cartas e 79 palavras dispersas de Ali em seu próprio livro Istinad-e Nahj al-Balaghah, originalmente escrito em Urdu, e logo traduzido tanto para o idioma árabe em 1957, depois em inglês e persa.

                                   

Holy Spider tem como representação um longa-metragem de ficção policial coproduzido internacionalmente entre Alemanha, Dinamarca, França, Suécia lançado em 2022, dirigido pelo cineasta iraniano-dinamarquês Ali Abbasi que frequentou a Politécnica de Teerã até 2002, quando emigrou para a Suécia para estudar arquitetura no KTH Royal Institute of Technology em Estocolmo. O pecado é visto socialmente como uma violação das leis e normas estabelecidas pela religião, e o Islã ensina que ele é “um ato, não um estado”. A crença islâmica é que Deus julgará as ações de cada indivíduo no Dia do Juízo Final, pesando suas boas ações contra seus pecados, e aqueles cujos pecados superarem as boas ações serão punidos no inferno (Jahannam). O pecado (khiṭʾ) no Islã é qualquer ação que viole os mandamentos de Deus, um conceito central na ética islâmica. Termos como dhanb e khaṭīʾa são usados para se referir a pecados intencionais, enquanto khiṭʾ refere-se a pecados em geral, e ithm a pecados graves. Deixar de realizar as orações diárias (Salah), não pagar o zakat (que é caridade obrigatória), não jejuar no Ramadã sem motivo justificado, não realizar o Hajj (a peregrinação a Meca) quando financeiramente capaz, cortar laços familiares, cometer zina (adultério/fornicação), usar substâncias tóxicas (como por exemplo, álcool, que naturalmente mais visado), praticar jogos de azar e mentir sobre a religião são considerados pecados. Pecado é um termo  utilizado no contexto punitivo-religioso para o sentido da “transgressão ou qualquer violação deliberada da lei religiosa, moral ou divina”.              

Cada cultura tem sua própria interpretação do que significa “cometer um pecado”. Embora os pecados sejam geralmente considerados ações, qualquer pensamento, palavra ou ato considerado imoral, egoísta, vergonhoso, prejudicial ou alienante pode ser denominado pecaminoso. Além dos pecados mencionados, existem os “grandes pecados”, aqueles que são particularmente graves e que podem levar à punição. No contexto islâmico, por exemplo, a idolatria é considerada um pecado imperdoável, incluindo a criação socialmente de imagens relacionadas religiosamente ao divino, bem como na formação do caráter a arrogância e o egoísmo. A sociedade iraniana é fortemente influenciada pelos princípios islâmicos, e o conceito de pecado desempenha um papel significativo na vida cotidiana e nas relações sociais. A legislação iraniana, baseada em princípios islâmicos, prevê “punições para crimes relacionados ao pecado, incluindo penas de morte para alguns delitos graves”. Questões relacionadas a direitos humanos e civis no Irã, como “crimes sem vítimas e a punição de certos atos”, são frequentemente debatidas e avaliadas em relação aos princípios islâmicos e às leis do país. O Zoroastrismo, antigo iraniano, também possui suas próprias perspectivas sobre o pecado, enfatizando a importância do trabalho, da dedicação e da ética.                

O KTH Royal Institute of Technology é uma universidade pública situada em Estocolmo, Suécia, onde tem quatro campi. Foi fundado em 1827 e é a maior instituição de Ensino Superior em tecnologia da Escandinávia e uma das universidades técnicas líderes da Europa. Sua história social começa neste ano, quando o Teknologiska Institutet começou a dar cursos nos domínios tecnológicos com forte componente prática, com o objetivo merceológico de acompanhar a crescente procura de engenheiros no período de industrialização da Suécia. A escola era apreciada pela conjugação teórico-prática que dava sustentação aos próprios cursos. Em 1877, recebeu o nome de Kungliga Tekniska högskolan, reconhecendo assim a sua ligação à investigação. Estendeu os seus domínios além dos quatro ramos em 1867: mecânica, química, engenharia civil e engenharia de minas. Apareceram as áreas de arquitetura (1877), engenharia eléctrica (1901), engenharia naval (1912), topografia e física (1932), informática (1983) e economia (1990). Em 1917 a escola procurou instalar-se num novo campus no Norte de Estocolmo, desenhado pelo arquiteto Erik Julius Lallerstedt (1864-1955). Na década de 1950 foram instalados os primeiros reatores nucleares e emissores de TV da Suécia. Oferece instalações para áreas de biotecnologia e as telecomunicações.

             A cidade de Estocolmo foi fundada por volta de 1250, possivelmente por Berger Jarl, o regente do reino. O seu núcleo histórico estava então na ilha de Stadsholmen, sendo conhecida como a cidade entre as pontes, até aparecer a designação cidade antiga, hoje Gamla Stan. No século XIV era já considerada a capital do reino da Suécia. Continuou a ganhar importância, e no século XVII albergava todo o poder real do país, isto é, rei, parlamento e “instituições de poder” (ämbetsverk). Com a ascensão da Suécia a grande “potência regional” (stormakt), adquiriu um carácter internacional, atingindo uma população de 80 000 habitantes. Graças à industrialização, a cidade cresceu fortemente, e a sua área metropolitana, apelidada de Grande Estocolmo, continua a aumentar de extensão. Estocolmo é a capital e a maior cidade da Suécia. Sua localização, centrada em 19 ilhas e ilhotas, na saída do lago Mälaren para o mar Báltico, juntamente com a área continental circundante pertencente às províncias da Uppland e da Södermanland, tem sido historicamente importante. O termo “comuna de Estocolmo” designa o município que abrange a parte central de Estocolmo. O termo “cidade de Estocolmo” é geralmente usado para designar conjuntamente o espaço abrangido pelas comunas de Estocolmo, Nacka, Solna e Sundbyberg. O termo “área metropolitana de Estocolmo” indica o “condado de Estocolmo”. Em 2008, a área metropolitana era o lar de cerca de 21% da população da Suécia e contribuía com mais de 1/3 do PIB do país.

Ipso facto, é o maior geograficamente e mais importante centro urbano, cultural, político, financeiro, comercial e administrativo da Suécia desde o século XIII. É a sede do governo sueco, representado na figura do Riksdagen, o parlamento nacional do país, além de ser a residência oficial dos membros da monarquia sueca. Tem uma população total de 1 617 407 habitantes (2021), abrangendo não só a comuna de Estocolmo, mas também Nacka, Solna e Sundbyberg. É a sede da comuna de Estocolmo, a capital do condado de Estocolmo e a sede da diocese de Estocolmo. Uma vez que a capital sueca está situada sobre ilhas reconhecidas urbanisticamente por sua beleza, a cidade “é destino de turistas de todo o mundo, tendo sido apelidada nos últimos anos de Veneza do Norte”. Estocolmo é reconhecida arquitetonicamente pelos seus edifícios e monumentos extremamente bem preservados, por seus arborizados parques, por sua riquíssima vida cultural e gastronômica, e pela gigantesca qualidade de vida que oferece a seus moradores. Há décadas, Estocolmo figura estatisticamente como uma das cidades mais visitadas dos países nórdicos, com uma população mais de um milhão de turistas internacionais anualmente. Nos últimos anos, tem sido citada entre as cidades mais habitáveis do mundo, sendo uma das mais limpas, organizadas e seguras do mundo.

Depois de obter o bacharelado em artes em 2007, ele se matriculou na Escola Nacional de Cinema da Dinamarca, obtendo seu diploma em 2011 com o curta-metragem M for Markus. Ele vive em Copenhague e com um passaporte iraniano. Em 2018, Abbasi estreou seu segundo filme, Gräns. Ganhou o prêmio Un Certain Regard no Festival de Cinema de Cannes, e foi selecionado como representante sueco para melhor filme estrangeiro no 91º Oscar. Embora o filme não tenha recebido uma indicação nessa categoria, ele ganhou “uma indicação para melhor maquiagem e penteados”. Seu terceiro longa-metragem, Holy Spider, foi lançado em 2022 e como uma coprodução em língua persa entre Suécia, Dinamarca, França e Alemanha. Baseado na história real de Saeed Hanaei, um serial killer que tinha como alvo trabalhadoras do sexo e matou 16 mulheres de 2000 a 2001 em Mashhad, o filme retrata uma jornalista fictícia investigando um serial killer em Mashhad, no Irã. É uma cidade na província do Coração Razavi, da qual é capital. Localiza-se no Nordeste do país, próximo das fronteiras do Afeganistão e com o Turquemenistão. Com mais de três milhões de habitantes, é a segunda maior cidade do país. Até 2004, existiam 28 províncias. 

A partir daquele ano a província do Coração foi dividida em 3 novas províncias: Coração do Norte, Coração Razavi e Coração do Sul. Tem 118 851 km² e segundo censo de 2019, havia 6 768 000 residentes. As províncias são governadas pelo governador-geral. O filme retrata a investigação de uma jornalista fictícia buscando elucidar o caso, em meio a incompetência da polícia local. Selecionado para a competição pela Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes de 2022, teve sua estreia mundial em 22 de maio de 2022. Zar Amir Ebrahimi venceu o prêmio de interpretação feminina. Foi selecionado como o representante da Dinamarca na categoria Melhor Filme Internacional na 95ª edição do Oscar. O filme foi selecionado para competir pela Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes de 2022, onde estreou em 22 de maio de 2022. Zar Amir Ebrahimi, que estrelou o filme, ganhou o prêmio de melhor atriz do festival. Não por acaso, o filme foi selecionado como representante dinamarquês para melhor filme internacional no 95º Oscar, e fez parte da pré-lista de dezembro daquele ano. O último filme de Abbasi, The Apprentice, “um retrato social de um jovem chamado Donald Trump”, estreou no Festival de Cinema de Cannes de 2024. Vários contratos de distribuição estiveram em vigor para os Estados Unidos da América, Oriente Médio, Ásia, América do Sul, bem como de forma inclusiva para Europa Oriental e Ocidental.

Hanaei nasceu em 1962 e tinha relacionamento disfuncional com sua mãe, que o abusava violentamente; mais tarde, ele afirmou que ela “frequentemente o arranhava com as unhas com força suficiente para tirar sangue e tentava morder pedaços de sua carne”. Na época de seus assassinatos, ele era casado e tinha três filhos. Ele era trabalhador da construção civil de profissão e serviu como voluntário na Guerra Irã-Iraque, um conflito militar travado entre o Irã e o Iraque, resultado de disputas políticas e territoriais entre ambos os países. A guerra começou quando os iraquianos invadiram o território iraniano em 22 de setembro de 1980. Saddam Hussein, ditador do Iraque, esperava que o caótico Irã pós-revolução não tivesse condições de resistir ao avanço de suas tropas e invadiu sem declarar guerra formalmente, mas o progresso foi lento e o ataque acabou sendo repelido. Em 1982, os iranianos lançaram sua contraofensiva e tomaram a iniciativa. A guerra passou então a abranger aspectos religiosos, nacionalistas e sectários, com os curdos e xiitas demonstrando apoio ao Irã no esforço de guerra. O resultado foi um banho de sangue, com grandes perdas de vidas especialmente entre a população civil. O Conselho de Segurança das Nações Unidas buscou várias resoluções para tentar acabar com as hostilidades, mas a guerra só foi formalmente encerrada em 20 de agosto de 1988 após a Resolução 598 da ONU firmar um cessar-fogo aceito por ambos os lados. Na conclusão do conflito, as fronteiras retornaram ao status pré-guerra dos Acordos de Argel de 1975. Os últimos prisioneiros de guerra, contudo, só foram soltos em 2003, após a destituição de Saddam Hussein do poder.

A guerra foi extremamente custosa em termos de vidas e dinheiro para ambos os lados: Números oficiais apontam que mais de meio milhão de combatentes morreram, com um número similar de civis também perdendo a vida; milhares de pessoas foram feridas e outras milhares foram deslocadas de suas casas, causando uma crise humanitária. Centenas de bilhões de dólares também foram gastos, mas no final nenhum ganho territorial foi visto por qualquer um dos beligerantes. Este conflito foi comparado a Primeira Guerra Mundial em termos de táticas usadas, com uso grande de trincheiras com arame farpado e armadilhas, ninhos de metralhadoras e ataques de baioneta em ondas humanas pela terra de ninguém. Outro ponto marcante da guerra foi o uso indiscriminado de armas químicas, como o gás mostarda, por parte dos iraquianos contra tropas e civis iranianos e curdos. Muitos países muçulmanos e ocidentais apoiaram o Iraque com dinheiro, equipamentos e informações de inteligência como as imagens de satélite. Algumas nações apoiaram o Irã, muitas de forma clandestina, como o caso Irã-Contras. O conflito deixou ambos os lados extremamente fatigados, mas trouxe também alguns desdobramentos. O Iraque, embora financeiramente quebrado, tinha agora um poderoso exército a sua disposição. O Irã, apesar das perdas sofridas, viu sua revolução islamita sedimentada. A ONU, embora declaradamente não tenha tomado partido, não buscou imediatamente condenar as atrocidades cometidas a olhos vistos pelo Iraque, como seus ataques químicos contra civis, e se recusaram a identificar os iraquianos como os agressores, deles terem sido os primeiros a atacar até 11 de dezembro de 1991, quando Saddam passou a ser o principal antagonista da região após a Guerra do Golfo.

Hanaei tinha como alvo prostitutas na cidade oriental de Mashhad, um importante local de peregrinação religiosa onde fica o santuário do Imam Reza. Ele frequentemente tinha como meta viciados em drogas. Os assassinatos foram referidos como “assassinatos de aranha” pela imprensa iraniana “porque Hanaei atraiu as mulheres para sua casa, estrangulou-as e jogou seus corpos”. Saeed Hanaei ou Said Hanai (1962-2002) foi um assassino em série iraniano, preso em 2001 pelos assassinatos em torno de 16 mulheres em Mashhad. Era reconhecido como o “Assassino de Aranhas” pela maneira como atraía suas vítimas, principalmente prostitutas, de volta para sua casa antes de estrangulá-las. Sua prisão causou polêmica no Irã, com alguns extremistas religiosos expressando, curiosamente, “apoio à sua auto descrita luta” contra a “corrupção moral”. Ele foi executado pelo Estado por enforcamento em 8 de abril de 2002. O santuário Imam Reza é um complexo de santuários, imamzades e mausoléus xiitas, localizado em Mashhad, na província de Razavi Khorasan, Irã. l-Rida foi contemporâneo dos ca`ifas abássidas Harun al-Rashid (786–809) e seus filhos, al-Amin (809–813) e al-Ma`mun (813–833).

Em um afastamento repentino da política antixiita estabelecida pelos abássidas, possivelmente para mitigar as frequentes revoltas xiitas, al-Mamun convidou al-Rida para Merv em Khorasan, sua capital de fato, e o designou como herdeiro aparente, apesar da relutância de al-Rida, que aceitou a oferta com a condição de que ele não interferisse nos assuntos governamentais. A nomeação de Ali al-Rida pelo abássida al-Mamun imediatamente invocou uma forte oposição, particularmente entre os abássidas, que se revoltaram e instalaram Ibrahim ibn al-Mahdi, meio-irmão de Harun al-Rashid, como o anticalifa em Bagdá. Percebendo a severidade da oposição iraquiana, al-Mamun e sua comitiva deixaram Khorasan para Bagdá, acompanhados por al-Rida. O Imam, no entanto, morreu misteriosamente quando o grupo chegou a Tus em setembro de 818. Sua morte ocorreu logo após o assassinato de al-Fadl ibn Sahl, 13 de fevereiro de 818 d.C., o vizir persa de al-Mamun, que era visto publicamente como responsável por suas políticas pró-xiitas. O califa é frequentemente visto como responsável por ambas as mortes, pois fez concessões ao grupo árabe para facilitar seu retorno a Bagdá.  

Tus foi posteriormente substituída por uma nova cidade, chamada Mashhad, que se desenvolveu ao redor do túmulo de al-Rida como o local mais sagrado do Irã, para onde milhões de muçulmanos xiitas se reúnem anualmente em peregrinação. Também estão contidos no complexo a Mesquita Goharshad, um museu, uma biblioteca, quatro seminários, um cemitério, a Universidade Razavi de Ciências Islâmicas e outros edifícios. O complexo é um dos locais mais sagrados do islamismo xiita, é um importante centro turístico iraniano, e foi descrito como “o coração do Irã xiita” com 25 milhões de xiitas iranianos e não iranianos visitando o santuário a cada ano, a partir de 2007. O santuário cobre uma área de 267.079 m², enquanto os sete pátios que o cercam cobrem uma área de 331.578 m², totalizando 598.657 m² (6.443.890 pés quadrados). O complexo foi adicionado à Lista do Patrimônio Nacional do Irã em 6 de janeiro de 1932, administrado pela Organização do Patrimônio Cultural, Artesanato e Turismo do Irã e, em 2 de fevereiro de 2017, foi adicionado à lista provisória de Patrimônios Mundiais da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Nader Shah Afshar e os Shahs Qajar, que governaram o Irã de 1789 a 1925, expandiram os diversos locais do santuário. O complexo do santuário também passou por melhorias durante a Dinastia Qajar. No Cáucaso, a dinastia perdeu territórios para o Império Russo no século XIX, Geórgia oriental, o Daguestão, o Azerbaijão e a Armênia.

   

 Apesar das suas perdas territoriais, o Irã reinventou a noção iraniana de realeza e manteve uma relativa independência política, mas enfrentou grandes desafios à sua soberania, predominante por parte dos impérios russo e britânico. Conselheiros estrangeiros tornaram-se poderosos nos tribunais e nas forças armadas. Eles eventualmente dividiram o Irã Qajar na Convenção Anglo-Russa de 1907, criando zonas de influência russa e britânica e uma zona neutra. Ambos os pátios também foram reformados durante a monarquia de Mozaffar ad-Din Shah. Após o golpe de dezembro de 1911, a artilharia russa bombardeou os revolucionários que se refugiaram no santuário. Todo o complexo foi muito danificado em 1911, mas foi reparado depois de algum tempo. Em 13 de julho de 1935 (11º Rabi al-Thani 1354 AH), durante a rebelião da Mesquita de Goharshad, as forças armadas de Reza Shah, o monarca reinante do Irã e fundador da dinastia Pahlavi, invadiram o santuário e massacraram as pessoas reunidas na Mesquita de Goharshad. As pessoas estavam protestando contra as políticas de modernização do Xá, que muitos, especialmente entre o clero xiita, consideravam anti-islâmicas, incluindo a proibição do hijab para mulheres no Irã. Pouco antes da Revolução Iraniana, em 21 de novembro de 1978, tropas sob as ordens do regime de Mohammad Reza Shah, filho e sucessor de Reza Shah, mataram em torno de 12.000 pessoas dentro do santuário. Foi caracterizado por uma monarquia autoritária, com modernização e ocidentalização, mas também por crescente descontentamento popular que culminou na Revolução Islâmica de 1979. A cozinha do harém recebe de 10.000 a 40.000 visitantes por dia e, em eventos ocasionais, há registro etnográfico de que cozinha para até 250.000.

Durante o Ramadã, a Cozinha Comunitária alimenta aproximadamente um milhão de peregrinos e cidadãos. Em 20 de junho de 1994, ocorreu uma explosão de bomba no santuário. Para maximizar o número de vítimas, a explosão ocorreu na Ashura, um dos dias mais sagrados para os muçulmanos xiitas, quando centenas de peregrinos se reuniram para comemorar a morte de seu terceiro imã, Husayn ibn Ali. O ataque deixou pelo menos 25 mortos e pelo menos 70 feridos. A bomba era equivalente a 4,5 quilos (10 libras) de Trinitrotolueno, de acordo com especialistas. Embora um grupo militante sunita tenha reivindicado a responsabilidade, o governo iraniano colocou a culpa nos Mujahedin do Povo do Irã, e outros acusaram um militante paquistanês. Em 5 de abril de 2022, ocorreu um ataque a faca no santuário, matando dois clérigos xiitas e ferindo um terceiro. O autor, identificado como o estrangeiro Abdullatif Moradi, foi imediatamente preso, juntamente com outros seis acusados de auxiliá-lo. As vítimas eram membros ativos de comunidades culturais e de construção sem fins lucrativos, motivadas pelo antixiismo.

Holy Spider representa um filme de suspense policial em língua persa de 2022, coproduzido, coescrito e dirigido por Ali Abbasi, estrelado por Mehdi Bajestani e Zar Amir Ebrahimi. O jornalista Arezoo Rahimi, radicado em Teerã, chega à cidade sagrada iraniana de Mashhad para investigar um assassino em série que tem como alvo prostitutas de rua viciadas em drogas, apelidado de “Assassino de Aranhas” pela mídia. O assassino segue um padrão: pega mulheres em sua motocicleta, leva-as para um apartamento e as “estrangula com seus lenços de cabeça, antes de finalmente descartar seus corpos em áreas desertas nos arredores da cidade”. Rahimi se une a Sharifi, editora de um jornal local, para descobrir a identidade do assassino. Sharifi mantém contato com o assassino, Saeed Azimi, tendo sido escolhida por Saeed como uma espécie de assessora de imprensa. Saeed afirma estar “limpando a cidade” em nome do Imam Reza, o oitavo Imam xiita; ele é visto em lágrimas no santuário do Imam. Veterano da Guerra Irã-Iraque, Saeed é casado, tem três filhos e trabalha como operário da construção civil. Em seus esforços para investigar os assassinatos, Rahimi encontra resistência, tanto de parentes e amigos das vítimas, que temem ser ainda mais marginalizados por suas ligações com prostitutas, quanto de policiais que demonstram indiferença devido ao estigma social da prostituição.

Um policial tenta intimidar Rahimi com seu histórico; sua denúncia sobre o comportamento inadequado de um chefe anterior resultou em sua demissão. Por fim, Rahimi e Sharifi se sentem confiantes o suficiente na agenda, no local e nos padrões do assassino para atraí-lo para uma armadilha. Rahimi, se passando por uma prostituta, embarca na motocicleta de Saeed. Sharifi a segue de carro, mas os despista nas ruas secundárias da cidade. Rahimi, armada com um canivete e um gravador, planeja arrancar uma confissão do assassino e fugir, mas logo é dominada. Depois de gritar por socorro em voz alta, ela consegue escapar e ir até a polícia com as provas. Nos dias seguintes, Saeed é preso pela polícia. À medida que o caso vai a julgamento, Saeed conquista forte apoio público. Quando lhe é oferecida a oportunidade de alegar insanidade, ele reforça suas motivações religiosas, insistindo que é apenas “louco” pelo oitavo imã e por Deus. Quando Rahimi entrevista Saeed na prisão, ele confessa ter matado 16 mulheres e declara, de forma ameaçadora, que Rahimi teria sido sua 17ª vítima. No dia seguinte, Saeed é considerado culpado e condenado a 100 chicotadas e à morte. Saeed recebe a visita de seu sogro Haji e de seu advogado em sua cela, que lhe garantem que ele será poupado da pena de morte e no dia de sua execução, será secretamente levado de carro.

Quando chega o dia, Saeed é poupado das 100 chicotadas, mas, ao ser levado para a sala de execução, entra em pânico quando ninguém vem resgatá-lo, sendo executado por enforcamento. Após se despedir de Sharifi, Rahimi embarca em um ônibus de volta a Teerã. Durante a viagem, ela analisa as evidências em vídeo coletadas durante o caso, com uma pausa para uma entrevista com o filho adolescente de Saeed, Ali, na qual ele descreve com orgulho como seu pai dominava e estrangulava suas vítimas, antes de recriar os assassinatos de seu pai com sua irmã mais nova no papel de vítima. Abasi era um estudante em Teerã quando os assassinatos de 2000-2001 aconteceram e ficou perplexo com a resposta conservadora que anunciou Hanaei como um herói e com o tempo que a polícia levou para capturá-lo. Abbasi começou a escrever versões do filme logo após ver Hanaei entrevistado no documentário de Maziar Bahari de 2002, And Along Came a Spider, Abbasi disse: “De uma forma muito estranha, senti simpatia pelo cara, realmente contra a minha própria vontade. Acho que havia um elemento psicótico no aspecto de busca de prazer de seus assassinatos, a sexualidade distorcida e tudo mais, mas também havia essa estranha inocência nele. Era mais sobre como uma sociedade cria um assassino em série”. Os rascunhos iniciais seguiram os eventos mais fielmente, mas Abbasi se desviou deles e inventou o personagem de uma jornalista, pois sentiu, deveria se concentrar não apenas no assassino, mas na misoginia.

     

Além disso, ele achou difícil pesquisar os eventos devido à passagem do tempo e à inacessibilidade de certos documentos, bem como da família de Hanaei, motivando-o a mudar para uma narrativa com elementos mais fictícios. Abbasi disse: - Minha intenção não era fazer um filme sobre um serial killer. Eu queria fazer um filme sobre uma sociedade de assassinos em série. A misoginia profundamente enraizada na sociedade iraniana, não é especifica religiosa ou política, mas cultural. Em vez de fazer outro filme sobre as diferentes maneiras pelas quais um homem pode matar e mutilar mulheres, queremos sublinhar a complexidade da questão e os riscos de diferentes lados, especialmente em nome das vítimas. A personagem Rahimi foi baseada em uma jornalista que apareceu no documentário de Maziar Bahari discutindo o caso diante das câmeras e entrevistando Hanaei. Embora fosse de Mashhad, ela não investigou os crimes, mas cobriu os julgamentos com um artigo sobre a execução de Hanaei que inspirou Abbasi. Em suas últimas palavras “este não era o nosso acordo”, sugerindo que havia algum tipo de acordo com as autoridades. O filme é uma coprodução entre a One Two Films da Alemanha, a Profile Pictures da Dinamarca, a Nordisk Film Production da Suécia, a Why Not Productions da França e a Wild Bunch International.

A produção é 41,36% alemã, 31,05% dinamarquesa, 15,3% francesa e 12,29% sueca. Abbasi disse que isso ocorreu porque o governo iraniano interferiu. A produção então voltou para a Jordânia, onde as filmagens finalmente começaram em maio de 2021 e duraram 35 dias. Abbasi disse que Bajestani estava correndo um risco enorme ao interpretar o assassino. Amir Ebrahimi estava inicialmente envolvido no filme apenas como diretor de elenco, mas foi escalado como jornalista depois que um ator desistiu do papel. Na cena em que a personagem de Somayeh realiza uma felação, foi utilizado um pénis protético. Antes de tudo, politicamente, temos que admitir que o poder produz um saber, e não simplesmente favorecendo-o porque o serve, ou aplicando-o porque é útil; que poder e saber estão diretamente implicados; que não há relação de poder sem constituição correlata de um campo de saber, nem saber que não suponha e não constitua ao mesmo tempo relações de poder. Essas relações de “poder-saber” não devem então ser analisadas a partir de um sujeito do conhecimento que seria ou não livres em relação ao sistema de poder; mas é preciso considerar ao contrário que o sujeito que conhece, os objetos a conhecer e as modalidades de conhecimentos são outros tantos efeitos dessas implicações fundamentais do poder-saber e de suas transformações históricas.

Portanto, não é a atividade do sujeito de conhecimento que produziria um saber, útil ou arredio ao poder, mas o poder-saber, os processos e as lutas que o atravessam e que o constituem, que terminam as formas e os campos possíveis do conhecimento. Analisar o investimento políticas do corpo, de tal forma que o sofrimento, a ferida narcísica e a morte sejam sempre a um só tempo reivindicadas e temidas, a microfísica do poder supõe que se renuncie – no que se refere ao poder – à oposição articulada em torno da violência-ideologia, à metáfora da propriedade, ao modelo do contrato ou ao da conquista; no que se refere ao saber, que se renuncie à oposição do que é “interessado” e do que é “desinteressado”, ao modelo de conhecimento e ao primado do sujeito, de recolocar as técnicas punitivas, quer elas se apossem do corpo no ritual dos suplícios, quer se dirijam à alma  na história desse corpo político. Considerar as práticas mais como um capítulo da anatomia política do que uma consequência jurídica. Esta alma real e incorpórea não é absolutamente substância; é o elemento onde se articulam os efeitos de certo tipo de poder e a referência de um saber, a engrenagem pela qual as relações de poder dão lugar a um saber possível, e o saber reconduz e reforça os efeitos de poder.

Sobre essa realidade-referência, segundo Foucault, vários conceitos foram construídos pari passu e campos de análise foram demarcados: psique, subjetividade, personalidade, consciência etc. Sobre ela, técnicas e discursos científicos foram edificados; a partir dela, valorizaram-se as reivindicações morais do humanismo. Mas não devemos nos enganar: a alma, ilusão dos teólogos, não foi substituída por um homem real, objeto de saber, de reflexão filosófica ou de intervenção técnica. O homem de que nos falam e que nos convidam a liberar já é em si mesmo o efeito de uma sujeição bem mais profunda que ele. Uma “alma” o habita e o leva à existência, que é ela mesma uma peça no domínio exercido pelo poder sobre o corpo. A alma, efeito e instrumento de uma anatomia política; a alma prisão do corpo. O que estava em jogo não era o quadro rude demais ou ascético demais, rudimentar demais ou aperfeiçoado demais da prisão, era sua materialidade na medida em que ele é instrumento e vetor de poder; era toda essa tecnologia do poder sobre o corpo, que a tecnologia da “alma” – a dos educadores, dos psicólogos e dos psiquiatras – não conseguiram mascarar nem compensar, pela razão de que não passa de um de seus instrumentos. O que determina a escolha de um ponto de vista sobre o sujeito e o mundo são os objetivos pragmáticos.

   

Deixamos de lado a posse de uma teoria fundada em exigências lógicas ou achados empíricos incontestáveis. Isto quer dizer, que poder, interesse, dominação, realidade material, são indispensáveis à análise que nos habituaram a aceitar como verdadeira, pela força ou pela persuasão dos costumes. Para efeitos da ação, só existem eventos descritivos. A descrição preferida do intérprete será a mais adequada às suas convicções morais e não a mais iluminada pela Razão. Política é regulação da existência coletiva, poder decisório, disputa por posições de mando no mundo, confrontos entre mil formas. Violência em última análise. Assim, é também diferente da produção simbólica porque se exercita sobre o interesse dos agentes sociais, quando não sobre o seu próprio corpo. Não produz mensagens, discursos cotidianos, produz, todavia, obediências, obrigações, submissões, controles. Poder é uma relação social de mando e obediência. São decisões tomadas que se impõe num dado território ou unidade social. Todavia, convertem-se em atividades coercitivas, administrativas, jurídico-judiciárias e deliberativas.  A mesma pulsão escópica frequenta a ficção do real que cria leitores, que muda de legibilidade, e per se a complexidade urbana. Não é mais suficiente para compreender as estruturas de poder deslocar para os dispositivos e os procedimentos técnicos uma multiplicidade humana, capaz de transformar, disciplinar e depois gerir, classificar e hierarquizar todos os desvios concernentes à aprendizagem, saúde, justiça, forças armadas ou trabalho.

Na política contemporânea o que faz andar são relíquias de sentido e às vezes seus detritos, os restos invertidos de grandes ambições. Nome que no sentido preciso da história e da memória deixaram de ser próprios. Nesses núcleos simbolizadores se esboçam e talvez se fundem três funcionamentos distintos, mas, todavia, conjugados, das relações políticas entre práticas espaciais e significantes: o crível, o memorável e o primitivo. Outro aspecto da conjuntura é o crescimento do aparelho de produção, cada vez mais extenso e complexo, cada vez mais custoso também e cuja rentabilidade urge fazer crescer. A sociedade disciplinar, no momento de sua plena eclosão, assume ainda com o imperador o velho aspecto do poder de espetáculo. Além disso, o desenvolvimento dos modos disciplinares de proceder responde a esses dois processos, ou sem dúvida, à necessidade de ajustar sua correlação. O desenvolvimento das disciplinas marca a aparição de técnicas elementares e ajustadas do poder que derivam de uma economia totalmente diversa: mecanismos de poder que, em vez de vir em dedução, integram-se à eficácia simbólica produtiva dos aparelhos, ao crescimento dela e à utilização do que ela produz. As disciplinas substituem o esquema do envelhecido princípio “retirada-violência” que regia a economia ideológica e do poder através do princípio “suavidade-produção-lucro”. Devem ser tomadas como técnicas que permitem ajustar, segundo esse princípio, a multiplicidade dos homens e mulheres e a multiplicação dos aparelhos de produção: a produção de saber nas universidades e de aptidões tecnicistas na escola, a produção de saúde nos hospitais, a produção maquínicas da força coletiva de trabalho e de controle da coletividade com a autonomia do exército.

Mas o corpo também está diretamente mergulhado num campo político; as relações de poder têm alcance imediato sobre ele; elas o investem, o marcam, o dirigem, o supliciam, sujeitam-no a trabalhos, obrigam-no a cerimônias, exigem-lhe sinais. Este investimento político do corpo está ligado, segundo relações complexas e recíprocas, à sua utilização econômica; é, numa boa proporção, como força de produção que o corpo é investido por relações de poder e de dominação; mas em compensação sua constituição como força de trabalho só é possível se ele está preso num sistema de sujeição. Onde a necessidade é também um instrumento político cuidadosamente organizado, calculado e utilizado; o corpo só se torna força útil se é ao mesmo tempo corpo produtivo e submisso. Essa sujeição não é obtida só pelos instrumentos da violência simbólica ou da ideologia; pode muito bem ser direta, usar a força contra a força, agir sobre elementos materiais sem ser violenta; pode ser calculada, organizada, tecnicamente pensada, pode ser sutil, não fazer uso de armas nem de terror, como vem ocorrendo desde tempos imemoriais e, no entanto, continuar a ser de ordem física.  Quer dizer que poderá haver um “saber” delicado na manifestação do corpo que não é exatamente a ciência de seu funcionamento, e um controle de suas forças que é mais a capacidade de vencê-las: esse saber e esse controle é o que se chama “tecnologia política do corpo”. Essa tecnologia é difusa, raramente formulado em discursos contínuos e sistemáticos. Compõe-se de peças ou de pedaços; utiliza um material e processos sem relação entre si. 

   

O mais das vezes, apesar da coerência de seus resultados, ela não passa de “uma instrumentação multiforme”. Além disso, seria impossível localizá-la, como um emblema de cultura, uma farsa, quer num tipo definido de instituição, quer num aparelho de Estado. Estes recorrem a ela; utilizam-na, valorizam-na ou impõem algumas de suas maneiras de agir. Ela mesma, em seus mecanismo e efeitos, se situa num nível diferente. Trata-se de alguma maneira de uma microfísica do poder posta em jogo pelos aparelhos e instituições, mas cujo campo de validade na realidade se coloca de algum modo entre esses grandes funcionamentos e os próprios corpos com sua materialidade e suas forças. O estudo desta microfísica supõe que o poder nela exercido não seja concebido como uma propriedade, mas como uma estratégia, que seus efeitos de dominação não sejam atribuídos a uma “apropriação”, mas a disposições, a manobras, a táticas, a funcionamentos; que se desvende nele antes uma rede de relações sempre tensas, sempre em atividade, que um privilégio que se pudesse deste; que lhe seja dado como um modelo antes a batalha dos saberes perpétua, mas que o contrato que faz uma coesão ou uma conquista que se apodera de um domínio que não é um “privilégio” adquirido ou conservado das frações da classe dominante, mas o efeito de suas posições estratégicas – efeito manifestado e às vezes reconduzido pela posição dos que são dominados.

Esse poder, por outro lado, não se aplica pura e simplesmente como uma obrigação ou uma proibição, aos que “não têm”; ele os investe, passa por eles e por meio deles; apoia-se neles, do mesmo modo que eles, em sua luta contra esse poder, apoiam-se por sua vez nos pontos em que ele os alcança.  O que significa que essas relações se aprofundam dentro da sociedade, que não se localizam nas relações do Estado com os cidadãos ou na fronteira das classes e que não se contentam em reproduzir ao nível dos indivíduos, dos corpos, dos gestos e dos comportamentos, a forma geral da lei ou do governo; que se há continuidade realmente elas se articulam bem, nessa forma, de acordo com toda uma série de complexas engrenagens, não há analogia nem homologia, mas especificidade do mecanismo e de modalidade. Finalmente, não são unívocas; definem inúmeros pontos de luta, focos de instabilidade que penetram comportando cada um em seus riscos de conflito, de lutas e de inversão pelo menos transitória da relação de forças. A derrubada desses micropoderes não obedece à lei real do tudo ou nada; ele não é adquirido de uma vez por todas por um novo controle dos aparelhos nem por um novo funcionamento ou uma destruição das instituições; em compensação nenhum de seus episódios localizados por ser inscrito na história social senão pelos efeitos em toda a rede em que se encontra. Politicamente ela deve também dominar todas as forças que se formam a partir da própria constituição de uma multiplicidade organizada; deve neutralizar os efeitos de contrapoder que dela nascem e que formam resistência ao poder que quer dominá-la: agitações, revoltas, organizações espontâneas, conclui-os, ou seja, tudo o que pode se originar das conjunções horizontais. Daí o fato crível delas, as disciplinas, utilizarem processos de separação e de verticalidade. E de introduzirem entre os diversos elementos de planos de barreiras tão estanques quanto possível, de definirem redes hierárquicas precisas, em suma de oporem à força intrínseca e adversa da multiplicidade o processo da pirâmide contínua e individualizante, como é notável na estrutura autoritária de universidades públicas nordestinas brasileiras.

Elas devem também fazer crescer a utilidade singular de cada elemento da multiplicidade, mas por meios que sejam os mais rápidos e menos custosos, ou seja, utilizando a própria multiplicidade como instrumento desse crescimento: isto é, para extrair dos corpos o máximo de tempo e de forças, esses métodos de conjunto que são horários, os treinamentos coletivos, os exercícios, a vigilância ao tempo global e minuciosa, e que seus efeitos de utilidade próprios às multiplicidades, tornem-se mais útil que a simples soma dos elementos. É para fazer crescer os efeitos utilizáveis do múltiplo que as disciplinas definem táticas de distribuição, de ajustamento recíproco dos corpos, dos gestos e dos ritmos, de diferenciação das capacidades, de coordenação recíproca em relação a aparelhos ou a tarefas que proporcionam. A disciplina tem que fazer funcionar as relações de poder não acima, mas na própria trama das multiplicidades, da maneira mais discreta possível, articulada do melhor modo que as outras funções dessas multiplicidades como próprio, e também o menos dispendiosamente: atendem a isso instrumentos de poder anônimos e coextensivo à multiplicidade que regimentam, como a vigilância hierárquica, o registro contínuo, o julgamento e a classificação perpétuos. Em suma, substituir um poder que se manifesta pelo brilho dos que o exercem, por um poder que objetiva insidiosamente aqueles aos quais é aplicado; formar um saber a respeito destes, mais que patentear os sinais faustosos que circundam a prosopopeia das disciplinas, segundo Foucault, representam o conjunto das minúsculas invenções técnicas que permitiriam fazer crescer a extensão útil das multiplicidades, fazendo diminuir os inconvenientes do poder que, justamente para torna-las úteis, deve regê-las. A analítica do poder de Michel Foucault é insidiosa.

O Irã é um dos países mais antigos do mundo. Em 1.500 a. C., povos indo-arianos chegaram à região procedentes do rio Volga e da Ásia Central. Na região se estabeleceram as duas principais tribos arianas, os persas e os medos. Ambas chamaram estas terras de Irã, forma abreviada de Iran-sahr (país dos arianos). Outro povo viveu no Sul do Irá, na região que os gregos depois chamariam Persis, de onde procede o nome Pérsia, com que a região ficou historicamente reconhecida. Por sua localização espacial, o Irã esteve situado na encruzilhada de um conjunto de civilizações, impérios e rotas estratégicas, ligando Europa e Ásia. O Irã histórico e geográfico limita com o berço das grandes civilizações da Mesopotâmia, com o Império Russo, com a Ásia Central, com a Turquia, com a Península Arábica e o Golfo Pérsico, com a Índia, incluindo o atual Paquistão. O país foi teatro de permanentes invasões e alvo da cobiça de vizinhos imediatos e, na história contemporânea, disputado pelas potências. A cimitarra é uma espada de lâmina curva mais larga na extremidade livre, com gume no lado convexo, utilizada por certos povos orientais, tais como árabes, turcos e persas, especialmente pelos guerreiros muçulmanos. É a espada mais típica do Oriente Médio e da Índia muçulmana. Originária da Pérsia foi adotada pelos árabes e espalhou-se por todo o mundo islâmico até o século XIV. É originalmente uma espada de cavaleiros e cameleiros. Em muitos desses países, comparativamente, entretanto, suas espadas retas continuaram a ser preferidas para guerreiros a pé ou para fins cerimoniais.

   

 Comparável à katana japonesa, a cimitarra é também uma espada curva de um só gume extremamente cortante e ágil, feita com aço da melhor qualidade e também usada por piratas. As cimitarras reais são armas ágeis, leves e elegantes, mas, no cinema tornou-se um “clichê” demasiado frequente representá-las como armas imensas, geralmente nas mãos de um corpulento guarda de harém. Réplicas de tais armas na imaginação coletiva de Hollywood costumam ter cerca de 1 metro de comprimento, pesam o triplo de uma cimitarra, tanto quanto um montante. Exigiriam as duas mãos para serem manejadas. A cimitarra, scimitar em inglês, saif em árabe, shamshir no Irã, kilij na Turquia, pulwar no Afeganistão, talwar ou tulwar na Índia e Paquistão, representa uma espada de lâmina curva mais larga na extremidade livre, com gume no lado convexo, utilizada por certos povos orientais, tais como árabes, turcos e persas, especialmente pelos guerreiros muçulmanos. É a espada mais típica do Oriente Médio e da Índia muçulmana. Originária da Pérsia, foi adotada pelos árabes e espalhou-se pelo mundo islâmico até o século XIV.

É uma espada de cavaleiros e cameleiros. Em muitos desses países, espadas retas continuaram a ser preferidas para guerreiros a pé, ou para fins cerimoniais. Comparável à katana japonesa é também uma espada curva de um só gume extremamente cortante e ágil, feita com aço da melhor qualidade e também usada por piratas. Uma cimitarra tem de 90 cm a 1 m de comprimento e pesa de 1,0 kg a 1,5 kg. A cimitarra curta é uma variante menor e mais ágil da cimitarra, frequentemente usada aos pares, uma em cada mão. Uma típica espada cimitarra tem em torno de 56 cm de comprimento e pesa 500 gramas. A saif (espada em árabe) é a clássica espada longa árabe, usada desde os tempos pré-islâmicos. Os cavaleiros e cameleiros árabes passaram a preferir a cimitarra por volta do século XIV, mas a saif reta continuou a ser usada por guerreiros a pé e a ser o símbolo do status de nobres e príncipes. Uma típica saif tem cerca de 1 metro de comprimento total e pesa em torno de 1,2 kg. A escarcina representa uma pequena cimitarra outrora usada pelos persas. Seu aspecto é similar ao de uma adaga. As cimitarras reais são armas ágeis, leves e elegantes, mas, no cinema tornou-se um clichê demasiado frequente representá-las como armas imensas, geralmente nas mãos de um corpulento guarda de harém. Réplicas de tais armas da imaginação individual antropologicamente (o sonho) e coletiva (os mitos, os ritos, os símbolos) da cinematografia de Hollywood, nos Estados Unidos da América (EUA), costumam ter 1 metro, mas pesam o triplo de uma cimitarra normal, isto e, tanto quanto um montante. Exigiriam a habilidade das mãos para manejo. Na sociedade iraniana, o conceito de pecado está ligado ao Islã, a religião predominante no país, e é definido como qualquer ação que vá contra os mandamentos de Deus.

Bibliografia Geral Consultada. 

BLACKBURN, Richard James, O Vampiro da Razão: Um Ensaio de Filosofia da História. 1ª edição. Campinas: Editora da Universidade de Campinas, 1992; KATOUZIAN, Homa, State and Society in Iran: The Eclipse of the Qajars and the Emergence of the Pahlavi’s. Londres: I. B. Tauris, 2006; RICHARD, Yan, L`Iran, Naissance d`une République Islamique. Paris: Éditions de la Martiniere, 2007; MEIHY, Murilo Sebe Bon, Por Devoção à República: Nação e Revolução no Irã entre 1978 e 1988. Dissertação de Mestrado. Departamento de História. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2007; COGIOLLA, Osvaldo, A Revolução Iraniana. São Paulo: Editora Universidade Estadual Paulista, 2008; AFARY, Janet; ANDERSON, Kevin, Foucault e a Revolução Iraniana: As Relações de Gênero e as Seduções do Islamismo. São Paulo: Editor É Realizações, 2011; COSTA, Renato José da, A Influência dos Ulemás Xiitas nas Transformações Políticas Ocorridas no Irã Durante o Século XX: O Wilayat al-faqih e o Pragmatismo dos Aiatolás como Inviabilizadores na Expansão da Revolução Iraniana. Tese de Doutorado em História. Departamento de História Social. Universidade de São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, 2013; LANNES, Suellen Borges, A Formação do Império Árabe-Islâmico: História e Interpretações. Tese de Doutorado. Instituto de Economia. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2013; FOUCAULT, Michel, “A quoi rêvent les Iraniens?”. In: Le Nouvel Observateur, n° 727, Octobre 1978; pp. 16-22; 48-49; Idem, Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. 42ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2014; PELEGRINI, Mauricio Aparecido, Michel Foucault e a Revolução Iraniana. Dissertação de Mestrado.  Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2015; GOMES, Fabrício Alé, O Papel do Irã no Equilíbrio de Poder do Oriente Médio. Trabalho de Conclusão de Curso. Escola de Comando e Estado Maior do Exército. Rio de Janeiro: Escola Marechal Castello Branco, 2018; RITMAN, Alex, “Cannes: On the Hunt for an Iranian Serial Killer in Trailer for Ali Abbasi`s Competition Entry Holy Spider (Exclusive)”. In: The Hollywood Reporter, 17 de maio de 2022; CARVALHO, Marcelo Henrique de Souza, O Enigma da Democracia: Biopolítica, Estado de Exceção e Paradigma da Imunização. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. São Luís:  Universidade Federal do Maranhão, 2025; entre outros.