“A obra original de Cotrugli não recebeu a devida ênfase”. Anderson Betti Frare
Não
há registro oficial da data de nascimento de Dante. Ele informa ter nascido sob
o signo de Gêmeos, entre fim de maio e meados de junho. A referência mais
confiável é a data de 25 de maio de 1265. Dante, na verdade, é uma abreviação
de seu real nome, Durante. Nasceu numa importante família florentina, cujo
apelido era, na realidade, Alighieri, comprometida politicamente com o partido
dos guelfos, uma aliança política envolvida em lutas com outra facção de
florentinos: os gibelinos. Os guelfos estavam ainda divididos em “guelfos
brancos” e “guelfos negros”. Dante, no “Inferno” (XV, 76), pretende dizer que a
sua família tem raízes na Roma Antiga, ainda que o familiar mais antigo que se
lhe reconhece citado pelo próprio Dante, no livro “Paraíso”, (XV, 135), seja
Cacciaguida do Eliseu, que terá vivido, quando muito, à volta do ano 1100 (o
que, relativamente ao próprio Dante, não é muito antigo). O seu pai, Alighiero
di Bellincione, foi um “guelfo branco”. Não sofreu, porém, qualquer represália
após a vitória do partido gibelino na Batalha da Montaperti. Essa consideração
por parte dos próprios inimigos denota, com alguma segurança, o prestígio da
família. A mãe de Dante chamava-se Bella degli Abati, nome algo
comentado por significar “a bela dos abades”, ainda que Bella seja uma
contração de Gabriella. Morreu quando Dante contava com cinco anos ou seis
anos de idade. Alighiero rapidamente se casou com Lapa di Chiarissimo Cialuffi.
Há controvérsia ao casamento, propondo autores que os
dois se tenham unido sem contrair matrimônio, graças a dificuldades levantadas ao casamento de viúvos. Dela nasceram o irmão de Dante, Francesco e
Tana (Gaetana), sua irmã.
A Batalha de Montaperti foi
travada em 4 de setembro de 1260 entre Florença e Siena, na Toscana, como parte
do conflito social entre os Guelfos e os Gibelinos. Os florentinos foram derrotados.
Foi a batalha mais sangrenta travada na Itália medieval, com mais de 10 000
mortes. Um ato de traição durante a batalha é registrado por Dante Alighieri na
seção Inferno da Divina Comédia. Ocorreu na cidade de mesmo nome na
Toscana, hoje parte de Castelnuovo Berardenga, poucos quilômetros a leste de
Siena. As tropas guelfas lideradas por Florença e as tropas gibelinas lideradas
por Siena enfrentaram-se, tornando-as partidárias dos poderes papais e dos do
império. A vitória dos gibelinos produziu um domínio plurianual de grupos
pró-imperiais na Toscana. Os conflitos comerciais surgiram entre as potências
locais envolvidas, sobretudo Siena e Florença. O regimento pró-romano foi
derrubado em Florença, e os guelfos encontraram refúgio em Luca. Alguns anos
depois, os Guelfos ganharam como aliado Carlos de Anjou, que conseguiu derrotar
os Staufers em duas batalhas em 1266 e 1268. Enquanto Florença, mais uma vez
uma Guelfa, se tornou a metrópole da Toscana, Siena iniciou um lento declínio. Cerca de 18 000 infantaria e cerca de 1 800
cavalaria estavam disponíveis para Siena. Esta força total de 19 800 soldados
era composta da seguinte forma: Siena (400 cavalaria e 7 600 infantaria),
Condado de Siena (3 000 infantaria), Pisa (300 cavalaria e 2 700 infantaria),
Mercenários alemães (aprox. 800 cavalaria e aprox. 2 000 infantaria, que foram
levados para apoiar Farinata degli Uberti), Cortona (aprox. 1 300 infantaria),
domínio dos Aldobrandeschi (aprox. 100 cavalaria e aprox. 1 000 infantaria),
gibelinos que fugiram (cerca de 200 cavaleiros). Além disso, Siena foi apoiada
por Manfredo da Sicília.
Com a idade de doze anos, em 1277, sua família impôs o casamento com Gemma, filha de Messe Manetto Donati, prática comum, tanto no arranjo quanto na idade. Era dada uma importância “excepcional à cerimônia que decorria num ambiente muito formal, com a presença de um notário”. Dante teve vários filhos de Gemma. Como acontece, geralmente, com pessoas famosas, apareceram muitos supostos filhos do poeta. É provável, no entanto, que Jacopo, Pietro e Antonia fossem, realmente, seus filhos. Antonia tomou o hábito de freira, com o nome de Irmã Beatriz. Um outro homem, chamado Giovanni, reclamou também a filiação, mas, apesar de ter estado com Dante no exílio, restam algumas dúvidas quanto à pretensão. Pouco se sabe sobre a educação de Dante, presumindo-se que tivesse estudado em casa, de forma autodidata. Sabe-se que estudou a poesia toscana, talvez com a ajuda de Brunetto Latini (numa idade posterior, como se dirá de seguida). A poesia toscana centrava-se na Scuola poética siciliana, um grupo cultural da Sicília que se dava a conhecer, na altura, na Toscânia. Esse interesse depressa se alargou a outros autores, dos quais se destacam os menestréis e poetas provençais, além dos autores da Antiguidade Clássica latina, de entre os quais elegia, preferencialmente, pensadores ilustres como Virgílio, ainda que também tivesse conhecimento da obra de Horácio, Ovídio, Cícero e, de forma superficialmente, Tito Lívio, Séneca, Plínio, o Velho e outros dentre os quais encontramos bastante referências na extraordinária Divina Comédia, sobre os fundamentos da fé cristã, escrito por Dante Alighieri no século XIV e dividido em três partes: o Inferno, o Purgatório e o Paraíso.
É
importante referir que durante estes “séculos escuros” (em italiano Secoli
Bui), expressão usada por alguns para referir-se à Idade Média,
designando-a como “Idade das trevas” - noção que hoje é rebatida por muitos
historiadores que demonstram que essa época foi muito mais rica culturalmente
do que aquilo que a tradição pretende demonstrar), a península Itálica era
politicamente dividida em um complexo mosaico de pequenos estados, de modo que
a Sicília estava tão longe, cultural e politicamente, de Florença quanto a
Provença. As regiões do que hoje é a Itália ainda não compartilhavam a mesma
língua nem a mesma cultura, também em virtude das vias de comunicação
deficitárias. Não obstante, é notório o espírito curioso de Dante que, sem
dúvida, pretendia estar a par das novidades culturais a um nível internacional.
Aos dezoito anos, com Guido Cavalcanti, Lapo Gianni, Cino da Pistoia e, pouco
depois, Brunetto Latini, Dante lança o Dolce Stil Nuovo. Na Divina
Comédia (Inferno, XV, 82), faz-se uma referência especial a Brunetto
Latini, onde se diz que terá instruído Dante. Tanto na Divina Comédia como na Vita
Nuova depreende-se que Dante se terá interessado por outros meios de
expressão como a pintura e a música. Ainda jovem (18 anos), conheceu Beatrice
Portinari, a filha de Folco dei Portinari, ainda que, crendo no próprio Dante,
a tenha fixado na memória quando a viu pela primeira vez, com nove anos (teria
Beatriz, nessa altura, oito anos). Há quem diga que Dante a viu
uma única vez, nunca tendo falado com ela. Não há elementos biográficos que
comprovem.
É difícil interpretar no que consistiu essa paixão, mas, é certo, foi de importância fulcral para a cultura italiana. É sob o signo desse amor que Dante deixou a sua marca profunda no Dolce Stil Nuovo e em toda a poesia lírica italiana, abrindo caminho aos poetas e escritores que se lhe seguiram para desenvolverem o tema do Amor (Amore) que, até então, não tinha sido tão enfatizado. O amor por Beatriz (tal como o amor que Petrarca demonstra por Laura, ainda que numa perspectiva diferente) aparece como a justificativa da poesia e da própria vida, quase se confundindo com as paixões políticas, igualmente importantes para Dante. Quando Beatriz morreu, em 1290, Dante procurou refúgio espiritual na filosofia da Literatura latina. Pelo Convívio, sabemos que leu a De Consolatione Philosophiae, de Boécio, e a De Amicitia, de Cícero. Dedicou-se, pois, ao estudo da filosofia em escolas religiosas, como a Dominicana de Santa Maria Novella, tanto mais que ele próprio era membro da Ordem Terceira de São Domingos. Participou nas disputas entre místicos e dialéticos, que se travavam em Florença nos meios acadêmicos, e que se centravam em torno das duas ordens religiosas mais relevantes. Por um lado, os franciscanos, que defendiam a doutrina dos místicos (São Boaventura), e, por outro, os dominicanos, que se socorriam das teorias de Tomás de Aquino. A sua paixão pela filosofia é criticada por Beatriz (representando a Teologia), no “Purgatório”.
Dante participou, também, na vida militar. Em 1289, combateu ao lado dos cavaleiros florentinos, contra os de Arezzo, na batalha de Campaldino, em 11 de junho. Em 1294, estava com os soldados que escoltavam Carlos I, Conde de Anjou (também referido por vezes como Martel) quando este estava em Florença. Foi, também, médico e farmacêutico; não pretendia exercer essas profissões, mas, segundo uma lei de 1295, todo nobre que pretendesse tomar um cargo público devia pertencer a uma das guildas (Corporazioni di Arti e Mestieri - ou seja, “Corporação de Artes e Ofícios”). Ao entrar na guilda dos boticários, Dante podia, assim, ascender à vida política. Esta profissão não era, de todo, inadequada para Dante, já que, na época, os livros eram vendidos nos boticários. De 1295 a 1300, fez parte do “Conselho dos Cem” (o conselho da comuna de Florença), onde fez parte dos seis priores que governavam a cidade. O envolvimento político de Dante acarretou-lhe vários problemas. O papa Bonifácio VIII tinha a intenção de ocupar militarmente Florença. Em 1300, Dante estava em San Gimignano, onde preparava a resistência dos guelfos toscanos contra as intrigas papais. Em 1301, o papa enviou Carlos de Valois, (irmão de Felipe o Belo, rei de França), como pacificador da Toscânia. O governo de Florença, no entanto, já recebera mal os embaixadores papais, semanas antes, de forma a repelir qualquer influência da Santa Sé. O Conselho da cidade enviou uma delegação a Roma, com o fim de indagar ao certo as intenções do Sumo Pontífice. Dante chefiava essa delegação.
É
próprio da concepção de teoria per se admitir a crítica externa,
conforme as regras aceita pela continuidade que cuida, suscita e critica as
teorias. O campo de existência das teorias é recente e frágil. Constituiu-se
pela primeira vez há vinte séculos em Atenas, onde a instauração da filosofia
abriu uma esfera livre de debate de ideias sem sanção, exclusão, nem liquidação
dos participantes. Depois, a ciência europeia criou o seu próprio campo, onde
toda teoria deve obedecer às regras empíricas, regras lógicas limitadoras e
aceitar a verificabilidade que poderiam desmenti-las. Um sistema de ideias
permanece teoria enquanto aceita a regra do jogo competitivo e crítico,
enquanto manifesta maleabilidade interna: capacidade de adaptação e modificação
na articulação entre seus subsistemas, assim como a possibilidade de abandonar
um subsistema e de substituí-los por outro. Uma teoria é capaz de
modificar as suas variáveis que se definem nos termos do seu sistema. Em
consequência, as características fechadas dela são contrabalanceadas pela busca
de concordância entre a coerência e dos dados que evidencia: é isso
que constitui a racionalidade. Depende da interpretação daqueles que habitam o
mundo onde se aplica. A teoria sobrevive das trocas simbólicas,
linguísticas e científicas com o mundo real. Enquanto teoria metaboliza o real
para sobreviver. O tipo aberto é ligado às regras pluralísticas estruturais que
alimenta.
As esferas filosófica e científica são de existência democrática liberal para as teorias. Dizer concepção de abertura teórica necessita de condições externas favoráveis significa dizer que todas as formas de sistema de ideias tendem a fechar-se por si mesmo. O dogmatismo e a ortodoxia são tendências naturais, contrabalançadas somente por condições exteriores. Racionalidade e racionalização têm um mesmo tronco comum: a busca de coerência. Mas, enquanto a racionalidade está aberta ao que resiste à lógica e mantém o diálogo com o real, a racionalização integra à força o real na lógica do sistema e crê, então, possuí-lo. Essa tendência racionalizadora equivale aqui à profunda tendência idealista de todo sistema de ideias a absorver a realidade que nomeia, designa, descreve, explica. Sob certo ponto de vista noológico, os sistemas de ideias não se alimentam somente de energias e paixões humanas, evidenciadas pelo empirismo lógico. Ipso facto centrifugam e esvaziam o real que evidenciam. Desvelando as “leis” que governam o mundo, as teorias da ciência aspiram à soberania dessas leis. A inveterada tendência a tomar o mapa pelo território, a palavra pela coisa, a ideia pela realidade, depende do espírito humano, de sua aptidão crítica e autocrítica, favorecida pelas situações culturais pluralistas e abertas. O “remédio” só pode estar na abertura do sistema, o qual depende da abertura do espírito humano.
A partir do ideário do Renascimento, o mundo é requestionado (cf. Hale, 2003); depois que Cristóvão Colombo (1451-1506) do chão aumentou a Terra e Copérnico e Galileu diminuíram-na no céu. Deus é requestionado, assim como o homem; a interdependência dessas reflexões determina uma problematização generalizada, de fato alongada. A perda dos antigos fundamentos de inteligibilidade e de crença suscita a procura incessante de novos fundamentos e a formação ininterrupta de novos sistemas filosóficos, os quais levantam mais questões do que fornecem respostas, o que relança em constante permanência a busca. E, assim, a noosfera filosófica europeia desenvolve-se com uma intensidade prodigiosa apresentando duas faces opostas e atreladas: de um lado, uma atividade critica, que já não se exerce apenas, nem principalmente, sobre a religião, mas sobre os próprios sistemas racionais (racionalizadores), sobre as ideias dominantes, os princípios, os fundamentos; por outro lado, a elaboração ininterrupta de sistemas, até o maior de todos, Friedrich Hegel; a partir dele a história da filosofia será um corpo a corpo sem tréguas entre o pensamento antissistemático. A cultura serve como laboratório noológico, onde se pode poder observar a formação, o florescimento dos sistemas, seus conflitos, suas simbioses, suas trocas, suas corrupções, suas escleroses, as suas mutações, os seus rejuvenescimentos, mas também as suas agonias.
Na história social e da técnica do
Renascimento não existia o que se poderia chamar de “economia italiana”. Havia
muitas economias, algumas diversas de âmbito regional e outras de âmbito
internacional, localizadas todas elas na unidade geográfica e espacial da
península. Duas cidades à beira de rios e duas às margens dos mares, Milão e
Florença, Genova e Veneza, formavam o quadrilátero da prosperidade da Itália
durante a Renascença. Nenhuma delas possuía população superior a 100 mil
habitantes. Mas, em contrapartida, tinham energia e disposição suficiente para
capitanear a liderança econômica da península, como tino para estenderem seus
interesses tanto para o coração da Europa em direção às cidades alemãs,
francesas a flamengas como para Constantinopla e o restante do Levante.
Dedicavam-se como atividade econômica ao comércio de luxo: seda, brocados,
âmbar, especiarias, ouro e prata, como às atividades que atendiam o consumo
cotidiano, como têxteis, tendo em vista que em Florença, além da Casa dos Médici
(cf. Abreu e Lima, 2012), foi um poderoso centro lanífero. Veneza também
acolheu uma formidável indústria naval para dar sustento ao seu império de
comunicação marítimo que se estendia pelas ilhas gregas e alcançava vários
portos do mar Negro. A comunicação marítima gerou uma burguesia
pródiga, sequiosa de ostentar posição de mando e desejosa de preservar-se
através da cultura e do patrocínio das artes.
A
competição entre as diversas cidades fez a glória dos artistas de seu tempo histórico e social,
muitos deles foram cobiçados por várias cortes que os prodigalizavam com
recursos monetários, promoção e prestígio. Não por acaso, em geografia urbana,
hinterlândia corresponde a uma área geográfica que pode se tratar de um
município ou um conjunto de municípios servida por um porto e a este conectada
por uma rede de transportes, através da qual recebe e envia mercadorias ou
passageiros do porto ou para o porto. Trata-se, portanto, da área de influência
de uma cidade portuária que, por concentrar significativa atividade econômica,
pode engendrar uma rede urbana, constituída por centros urbanos menores.
Posteriormente, o conceito passou a ser utilizado também no caso de cidades não
portuárias que são “cabeças-de-rede”. O termo pode ser aplicado à área que
circunda um centro de comércio, ou de setor de serviços e da qual provêm os
seus clientes. O conceito foi aplicado à área de ex-colônias na África, apesar de não serem parte da colônia, eram por ela
influenciadas.
A história da colonização da
África encontra-se documentada desde que os fenícios começaram a estabelecer
colônias na costa africana do Mediterrâneo, por volta do século X a.C.
Seguiram-se os gregos a partir do século VIII a.C., os romanos no século II
a.C., os vândalos, que tomaram algumas colônias romanas já no século V da nossa
era, seguidos pelo Império Bizantino, no século seguinte, os árabes, no século
VII e, finalmente, os estados modernos da Europa, a partir do século XIV. O
processo de ocupação territorial, exploração econômica e domínio político do
continente africano por potências europeias tem início no século XV e
estende-se até a metade do século XX. Ligada à expansão marítima europeia, a
primeira fase do colonialismo africano surge da necessidade de encontrar rotas
alternativas para o Oriente e novos mercados produtores e consumidores. No
século XIV, exploradores europeus chegaram a África. Através de trocas com
chefes locais, os europeus conseguiram milhões de africanos e os exportar para
vários pontos do mundo naquilo que ficou conhecido como a escravidão.
A história social da África é
reconhecida no Ocidente por manuscritos que datam da Antiguidade Clássica. No
entanto, vários povos deixaram testemunhos etnográficos ainda mais antigos das
suas civilizações. Para, além disso, terem sido encontrados os mais antigos
fósseis de hominídeos, com cerca de cinco milhões de anos, permitindo
considerá-la o “berço da humanidade”, do ponto de vista de sua evolução social
com a descoberta de Charles Darwin, de que o homem detém o centro da espécie,
do ponto de vista histórico de Karl Marx, em que os homens fazem a história,
mas não como eles querem e, claro, psicológico, com a descoberta de Sigmund
Freud em que o homem não detém o centro de sua individualidade. O Egito foi
provavelmente o primeiro Estado a constituírem-se na África há cerca de 5000
anos, mas outros reinos ou cidades-Estados se foram sucedendo ao longo dos
séculos. Podem referir-se os Estados de Kush e Meroé, no Nordeste de África, o
primeiro Estado nacional do Zimbabwe e o reino do Congo que, historicamente, só floresceram como sociedade entre os séculos X e XV.
África seria para os egípcios, o berço da humanidade. Com o enfraquecimento das Metrópoles europeias, desenvolveu-se na África um nacionalismo caracterizado pelo anti-imperialismo e pela busca de soberania política e econômica. O século XIX marcou o devassamento da África pela civilização da Europa industrializada, acarretando profundas modificações nas populações locais. A África sempre sofreu o impacto ambiental e demográfico das transformações políticas mundiais. Em primeiro lugar “Afri” era o nome de vários povos que se fixaram perto de Cartago no Norte de África. O seu nome é geralmente relacionado com os fenícios como “afar”, que significa “poeira”, embora uma teoria de 1981 tenha afirmado que o nome também deriva de uma palavra de berbere, “ifri”, palavra que significa “caverna”, em referência à gruta onde residiam. No tempo dos povos romanos, Cartago passou a ser a capital da Província de África, que incluiu também a parte costeira da moderna Líbia. Os romanos utilizaram o sufixo “-ca” denotando a noção etimológica de “país ou território”.
A história social da África é reconhecida no Ocidente por manuscritos que datam da Antiguidade Clássica. No entanto, vários povos deixaram testemunhos etnográficos ainda mais antigos das suas civilizações. Para, além disso, terem sido encontrados os mais antigos fósseis de hominídeos, com cerca de cinco milhões de anos, permitindo considerá-la o “berço da humanidade”, do ponto de vista de sua evolução com a descoberta de Charles Darwin, de que o homem detém o centro da espécie, do ponto de vista histórico de Karl Marx, em que os homens fazem a história, mas não como eles querem e, claro, psicológico, com a descoberta de Sigmund Freud em que o homem não detém o centro de sua individualidade. O Egito foi provavelmente o primeiro Estado a constituírem-se na África há cerca de 5000 anos, mas outros reinos ou cidades-estados se foram sucedendo neste continente, ao longo dos séculos. Podem referir-se os Estados de Kush e Meroé, ainda no Nordeste de África, o primeiro Estado nacional do Zimbabwe e o reino do Congo que, historicamente, mas só aparentemente floresceram como sociedade entre os séculos X e XV. África seria para os egípcios, o berço da humanidade. Com o enfraquecimento das Metrópoles europeias, desenvolveu-se na África um nacionalismo caracterizado pelo anti-imperialismo e pela busca de soberania política e econômica. O século XIX marcou o devassamento pela civilização da Europa industrializada, com profundas modificações nas populações. A África sofreu o impacto ambiental e demográfico das transformações políticas mundiais.
Em primeiro lugar “Afri” era o nome de vários povos que se fixaram perto de Cartago no Norte de África. O seu nome é geralmente relacionado com os fenícios como “afar”, que significa “poeira”, embora uma teoria de 1981 tenha afirmado que o nome deriva da palavra de berbere, “ifri”, palavra que significa “caverna”, em referência à gruta onde residiam. Com os romanos, Cartago passou a ser a capital da Província de África, que incluiu também a parte costeira da moderna Líbia. Os romanos utilizaram o sufixo “-ca” denotando a noção etimológica de “país ou território”. Mais tarde, o reino muçulmano de “Ifriqiya”, atualmente reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como Tunísia, também preservou o nome. Outras etimologias têm sido apontadas como originárias para a antiga denominação “África”. No século I, por exemplo, o historiador judeu Flavius Josephus (Ant. 1.15) afirmou ter sido nomeado para “Epher”, neto de Abraão, segundo o Génesis (25:4), cujos descendentes, em sua interpretação, tinha invadido a Líbia. “Aprica”, palavra latina que significa: “ensolarados”, mencionada por Isidoro de Sevilha, século VI, no manuscrito “Etymologiae”. Ou ainda, “Aphrike”, palavra grega que significa: “sem frio”. Esta foi proposta pelo historiador Leo Áfricanus (1488-1554), que sugeriu a palavra grega “Aphrike”, significando “frio e horror”, combinado com o prefixo privativo “-um”, indicando assim “um terreno livre de frio e de horror”. Massey, em 1881, afirmou que o nome deriva do egípcio “af-rui-ka”, que significa “para virar em direção a abertura do Ka” e que remete para o útero ou berço.
Em segundo lugar, o termo conflito étnico identifica qualquer conflito que tenha em sua essência o choque de pessoas com origens religiosas, raciais, culturais ou geográficas. O enfrentamento violento está sempre presente e por vezes as ações são tão extremizadas que violam as determinações do Código de Guerra. É o caso do genocídio, que leva a morte milhares ou milhões de pessoas, sem distinção entre civis e militares, homens, mulheres ou crianças. Em alguns casos, especialmente no Oriente Médio, o termo conflito religioso é usado no lugar de conflito étnico porque os motivos religiosos são bem mais destacados em relação aos demais. E, por fim, o continente africano que é marcado por uma série de conflitos étnicos. A maioria dos problemas sociais, políticos e culturais africanos está ligada a fatores desse tipo, o que é uma consequência da exploração imperialista que as (mal) ditas potências capitalistas desenvolveram no continente negro. Em 1956, as autoridades prenderam Nelson Mandela e decidiram condená-lo à morte pelo crime de traição. No entanto, a repercussão internacional de sua prisão e julgamento serviram para que o líder ficasse em liberdade. Depois disso, Nelson Mandela continuou a conduzir os protestos pacíficos contra a ordem estabelecida. Em março de 1960, um trágico episódio incitou Nelson Mandela a rever seus meios de atuação política. Naquele mês, um protesto que tomou conta das ruas da cidade de Sharpeville resultou na morte de vários manifestantes desarmados. Depois disso, Nelson Mandela decidiu se empenhar na formação estratégica do Lança da Nação, um braço armado guerrilheiro do Congresso Nacional Africano (CNA). O governo segregacionista logo saiu em busca dos líderes dessa facção política e, em 5 de agosto de 1962, o líder estudantil Nelson Mandela foi mais uma vez preso.
No dia 21 de março de 1960, ocorreu na cidade de Sharpeville, na província de Gauteng, na África do Sul, um protesto, realizado pelo Congresso Pan-Africano (PAC). O protesto reagia expressivamente contra a Lei do Passe, que obrigava os negros da África do Sul a usarem uma caderneta na qual estava escrito aonde eles poderiam ir. Cerca de vinte mil manifestantes reuniram-se em Sharpeville, uma cidade negra nos arredores de Johannesburg, e marcharam calmamente, num protesto pacífico. A polícia sul-africana conteve o protesto com um massacre através de rajadas de metralhadora. Morreram 69 pessoas, e cerca de 180 ficaram feridas. Após esse dia, a opinião pública mundial focou sua atenção pela primeira vez na questão do regime apartheid. No dia 21 de novembro de 1969, a Organização das Nações Unidas programou o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, que passou a ser comemorado todo dia 21 de março, a partir do ano seguinte. No século XIX, a África foi toda dividida entre os países imperialistas que buscavam suas matérias-primas e as zonas de influência no continente. A divisão do território foi toda feita sem se levar em consideração as diferenças étnicas em cada região, deixando, muitas vezes, grupos rivais, ou, pelo menos, de práticas culturais muito distintas vivendo em um mesmo território. As consequências desse processo são vistas até hoje, marcando os grandes problemas de instabilidade social e política no continente.
No caso africano, podemos citar o genocídio de Ruanda, no qual milhares de tutsis foram mortos por hutus; os conflitos no Chifre da África, ocasionando em devastação da região; e os conflitos na Nigéria, onde tem ocorrido de forma intermitente diversos confrontos político-ideológicos entre grupos religiosos e o governo do país. Não queremos perder de vista que Stephen Bantu Biko (1946-1977) fora um ativista antiapartheid da África do Sul pelo desempenho das lutas pela democracia nas década de 1960 e 1970. Tal como posteriormente veio à lume Nelson Mandela líder estudantil, fundou o “Black Consciousness Movement”, que capacitava e mobilizava grande parte da população negra urbana. Desde sua morte sob a custódia da polícia, ele foi chamado de mártir de um movimento antiapartheid. Enquanto vivia, através de seus escritos e ativismo tentou arregimentar as pessoas negras, e era famoso por seu slogan “black is beautiful”, que o próprio descreveu como: - “você está bem como você é, comece a olhar para si mesmo como um ser humano”. Mesmo que Biko nunca tenha sido do Congresso Nacional Africano, foi incluído no panteão dos heróis de luta, indo tão longe como à utilização de sua imagem para cartazes de campanha nas primeiras eleições não raciais da África do Sul em 1994. Nelson Mandela disse a respeito de Biko: - “Eles tiveram que matá-lo para prolongar a vida do [regime] apartheid”. Nelson Mandela nasceu em família de nobreza tribal, numa pequena aldeia do interior aonde possivelmente viria a ocupar cargo de chefia, abandonou este destino aos 23 anos ao seguir para a capital Johanesburgo e iniciar atuação política.
Consciente iniciou sua militância política antes mesmo de terminar a faculdade de Direito, ao se unir ao Congresso Nacional Africano (CNA) - organização que tinha como principal objetivo combater a segregação racial no país. Após divergências com a cúpula da entidade, Mandela e o embate ficariam ainda mais duros após 1948, quando chegou ao poder o Partido Nacional, que oficializou o regime apartheid. Depois do massacre de Sharpeville em 1960, passou a defender a “resistência armada” e coordenar uma grande campanha de sabotagem contra alvos militares e do governo. Acabou preso, sob a forjada e mentirosa acusação de traição e terrorismo. Da farsa política de sua prisão tornou-e o prisioneiro mais famoso do século XX, o político mais galardoado em vida, sendo responsável pela refundação de seu país - uma sociedade multiétnica. Ainda que a Itália não gozasse de unidade territorial, por razões históricas e políticas com inúmeros estados independentes, sendo este o maior problema político dos seus intelectuais. De Petrarca a Maquiavel, do ponto de vista da economia, ela liderou as principais inovações bancárias e financeiras, bem como acelerou o processo de monetarização da economia medieval, tornando-a habilitada para a prática mercantil em larga escala.
Benedetto Cotrugli (1416-1469) nasceu em uma família de comerciantes na cidade marítima de Dubrovnik, reconhecida como Ragusa, é uma cidade no Sul da Dalmácia, Croácia, perto do Mar Adriático. Originalmente com o nome oficial de Communitas Ragusina, no século XIV passou a chamar-se Respublica Ragusina, título mencionado pela primeira vez na historiografia italiana em 1385. No entanto, era já uma República sob o seu nome consagrado anteriormente, embora o seu reitor, o chefe de Estado, fosse nomeado por Veneza e não pelo Conselho Maior de Ragusa. Em italiano, chamava-se Repubblica di Ragusa; em croata moderno, chamava-se Dubrovačka Republika. O nome eslavo Dubrovnik deriva da palavra dubrava, “um bosque de carvalhos”, segundo uma reconhecida etimologia popular. O nome Dubrovnik aplicado à cidade do Adriático é registado pela primeira vez na Carta de Ban Kulin (1189). As principais cidades costeiras do Mar Adriático incluem Veneza, Trieste e Bari na Itália; Split e Dubrovnik na Croácia; e Durrës na Albânia. Além dessas, existem muitas outras cidades e ilhas encantadoras ao longo da costa, como Zadar, Rijeka e Koper. O termo eslavo começou a ser usado paralelamente a Ragusa pelo menos desde meados do século XIV. O nome latim, italiano e dálmata Ragusa talvez derive do nome Lausa; foi posteriormente alterado para Rausium, Rhagusium, Ragusium ou Rausia e mesmo Lavusa, Labusa, Raugia e Rachusa e finalmente para Ragusa.
Outra teoria é que o termo Ragusa deriva, ou pelo menos está relacionado, com o vocábulo proto-albanês rāguša que significa uva, o que condiz com albanês moderno rrush (que significa uva), de acordo com Vladimir Orel (1852-2007), um linguista, professor e etimologista russo. Na Universidade Estatal de Moscou, estudou linguística teórica (1971) e linguística estrutural (1973). Defendeu sua tese de doutorado em 1981, realizando uma análise comparativa das línguas eslavas nos Bálcãs. De lá até 1990, trabalhou no Instituto de Estudos Eslavos e Balcânicos em Moscou, onde concluiu sua segunda tese de doutorado em 1989 sobre a gramática histórica do albanês. Entre 1989 e 1990, lecionou na Universidade Estatal de Moscou. Após sua emigração para Israel, ele continuou a lecionar na Universidade Hebraica de Jerusalém entre 1991 e 1992. Mais tarde, se transferiu para a Universidade de Tel Aviv, onde lecionou no Departamento de Estudos Clássicos de 1992 a 1997, com escopo em linguística comparada, mitologia e folclore, história e filosofia. Em 1994 trabalhou no Instituto Shalom Hartman em Jerusalém, onde se dedicou aos estudos bíblicos, e nos dois anos seguintes atuou como pesquisador visitante no Wolfson College, em Oxford. Os últimos dois anos em Israel (1997-99) ele passou na Universidade Bar-Ilan. Nada havia no comércio internacional de seu tempo e espaço que não passasse pelas mãos dos argutos italianos. Umas mutuamente dependentes, outras empenhavam-se periodicamente numa feroz rivalidade comercial. Surgiram certas concentrações densas de população, servindo as cidades como polos de atração para imigrantes prósperos das aldeias das terras baixas ou trabalhadores ocasionais das montanhas, como portos de abrigo para negociantes, prestamistas e caçadores de fortunas. Atraindo cereais, sal, combustível, madeira, matérias-primas industriais e suprimentos para a construção, as cidades criaram uma demanda que estimulou o desenvolvimento além das fronteiras internas das regiões onde estavam localizadas. A Lombardia, Toscana, Ligúria, Veneza e sua hinterlândia geraram empresários dispostos e bem estruturados tecnicamente, além de inventivos, mas também aventureiros e colonizadores, cuja influência se projetou para a Europa setentrional e ocidental, para além do Mediterrâneo oriental.
Embora Petrarca e Maquiavel sejam figuras importantes do Renascimento italiano, suas abordagens e focos são distintos. Petrarca, conhecido como poeta e humanista, valorizava a literatura clássica e a experiência individual, enquanto Maquiavel, um pensador político, focava na análise pragmática do poder e da política. Ambos, no entanto, compartilhavam uma paixão pelo classicismo e a ideia da Itália unificada, diferentes perspectivas sobre como alcançá-la. Petrarca foi um humanista, enfatizando o estudo dos clássicos gregos e romanos para o desenvolvimento intelectual. Reconhecido por seus sonetos e poemas, especialmente aqueles dedicados a Laura, sua musa inspiradora. Embora vivesse em um período de cidades-estados, Petrarca demonstrava orgulho da identidade italiana e da cultura clássica. Petrarca não se dedicou à política de forma sistemática, mas sua visão da Itália unificada e livre de influências estrangeiras ecoa em alguns de seus poemas. Maquiavel é famoso por sua obra Il Príncipe, que analisa a aquisição e manutenção do poder político, defendendo que os fins justificam os meios. Maquiavel enfatiza a importância da astúcia, da manipulação e do pragmatismo na política, muitas vezes ignorando considerações morais.
Via a unificação da Itália como uma necessidade para superar a fragmentação política e a influência estrangeira, e via o príncipe como o líder capaz de realizar essa tarefa. Maquiavel estudou a história romana e a obra de Cícero, buscando exemplos de como a política era conduzida na antiguidade. Ambos admiravam a cultura clássica e a literatura antiga, embora com diferentes propósitos. Ambos compartilhavam o desejo de uma Itália unificada e livre da influência estrangeira, embora Maquiavel tenha desenvolvido essa ideia de forma mais explícita e sistemática. Petrarca defendia a virtude como um valor moral e individual, enquanto Maquiavel a relacionava com a capacidade do príncipe de manter o poder e a ordem. Maquiavel reconhecia a importância do povo para o príncipe, enquanto Petrarca expressava seu orgulho pela identidade italiana. Enquanto Petrarca se dedicou à poesia e ao humanismo, Maquiavel se concentrou na análise política e na busca pela unificação da Itália, ambos foram influenciados pelo legado da antiguidade clássica.
Niccolò di Bernardo dei Machiavelli (1469-1527) viveu a juventude sob o esplendor político da República Florentina durante o governo de Lourenço de Médici. A têmpera é a mistura usada em pintura, constituída de gema e clara de ovo, água e pigmentos em pó. Também é obtida misturando-se ingredientes oleosos com uma solução de água e cola. O artista pinta sobre um painel revestido de cola e gesso. Quando a têmpera é “corretamente aplicada” (fortuna), distribuída em finas camadas, “não fica transparente, nem completamente opaca” (virtù). A têmpera foi aperfeiçoada na Idade Média e utilizada na maioria dos quadros de cavalete, do séc. XIII até o séc. XV. Como sinônimo de têmpera tem-se: a austeridade, o caráter, a consistência, o feitio, a índole, a rijeza e o temperamento, o que reitera “A Itália nos tempos de Maquiavel” (cf. Larivaille, 1988). Após uma adequada educação humanista, ingressou na burocracia do governo republicano de 1498, sendo empregada como secretário dos Dez de Guerra, a comissão responsável pela condução dos negócios militares e diplomáticos. Instalado em 1310 para investigar a conspiração de Baiamonte Tiepolo, tornou-se talvez o mais famoso de todos os órgãos de Estado do Renascimento antes de Maquiavel.
Não foi literalmente um “Conselho de dez”. Era-lhe obrigatoriamente adicionada uma zonta de 20 membros não-votantes. Os conselheiros eram nomeados por um ano, com desqualificação de um ano antes de ser permitida a sua recondução. A responsabilidade do Conselho consistia em proteger o Estado de traição, interna ou externa; além de receberem relatórios regulares sobre os indivíduos, remetidos por reitores e outros funcionários nos territórios venezianos, empregava espiões e, ocasionalmente assassinos etc. Finalmente, até 1582, quando suas funções foram transferidas para o Senado, fiscalizava a produção e uso de artilharia, balas e pólvora. Neste cargo, etnograficamente, Maquiavel “observou o comportamento de grandes nomes da época e a partir dessa experiência retirou alguns postulados para sua obra”. O defeito básico dos governantes e estadistas que Maquiavel conheceu consistia na fatídica inflexibilidade diante da mudança das circunstâncias políticas. César Borgia mostrava-se em todos os momentos arrogante em sua autoconfiança. Maximiliano, sempre cauteloso e excessivamente hesitante. Julio II, impetuoso e por demais agitado. Não souberam acomodar sua personalidade às exigências dos tempos. Ao invés disso, tentaram remodelar os tempos segundo sua personalidade. Este julgamento de Maquiavel constitui o cerne da análise da liderança política em Il Principe (1513). Serviu em Florença 14 anos, mas afastado do cargo escreveu suas obras. Como renascentista se utilizou de autores e conceitos da Antiguidade clássica inovadora.
Um dos principais autores foi Tito Lívio (50 a. C.-17 d. C.), além de outros lidos através de traduções latinas, e entre os conceitos apropriados por ele, encontram-se o de virtù, entendido como um traço de caráter que distinguia o homem enérgico, probo, corajoso, até arrojado (mas não imprudente), da sua contraparte convencionalmente virtuosa, tornando-o menos vulnerável às cavilações da “fortuna”. A fortuna é o imprevisível, o acaso, a sorte. A virtù é o saber como atuar de acordo com a necessidade do momento, é a “vontade-força”, qualidade fundamental do Príncipe. Tal como Maquiavel encerrava O Príncipe, com a “vontade-força” na expectativa de que surgisse na Itália dilacerada do seu tempo uma figura magnífica, despida de preconceitos, que lançasse mão de quaisquer recursos, mesmo que inescrupulosos, para unificar o país ameaçado pelos bárbaros, Nietzsche-Zaratustra esperava o mesmo na emergência de um “super-homem” (Übermensch). A singularidade do pensamento ideológico e filosófico de Nietzsche é que foi exposta por meio de um grande poema: “Assim falou Zaratustra” (“Also spracht Zarathustra”), iniciado em 1883. Nele o filósofo-poeta se apresenta atrás da roupagem do profeta iraniano Zaratustra ou Zoroastro (que viveu ao redor de 600 a. C. e que compôs o Zend-E-Avesta, dividido em cinco Gathas, ou “canções proféticas”), anunciando a boa nova da chegada do super-homem (após ter passado anos no alto de uma montanha, o profeta, exilado numa caverna, para onde havia se retirado a fim de meditar, tinha como companhia apenas uma águia e uma serpente).
Dali Zaratustra desce para vaticinar a vinda daquele que irá superar o homem: o super-homem (Übermensch). Em Maquiavel quando virtù e “fortuna” caminham juntas, o resultado é a vitória - como podemos observar nos exemplos históricos - em caso contrário, a derrota na política. Exumada pelo interesse humanista na mitologia clássica, essa personificação das forças que desafiam e frustram os esforços humanos foi utilizada, muitas vezes, como um subterfúgio convencional para evitar “a invocação da vontade de Deus” na explicação dos fenômenos que pareciam racionalmente inexplicáveis, quer se tratasse de “um revés no amor ou no campo de batalha”. A ideia de “fortuna” em Maquiavel vem da “deusa romana da sorte” e representa as coisas inevitáveis que acontecem aos seres humanos. Não se pode saber a quem ela vai fazer bens ou males e ela pode tanto levar alguém ao poder como tirá-lo de lá, embora não se manifeste apenas na política. Como sua vontade é desconhecida, não se pode afirmar que ela nunca lhe favorecerá. Ela (pois tanto o substantivo “fortuna” quanto a personificação, “Fortuna”, eram femininos, refletindo a opinião dos homens e da lei de que as mulheres deviam ser identificadas com a irracionalidade) era invocada mais comumente num contexto político durante a incapacidade da Itália para fazer frente às sucessivas ondas de invasão estrangeira depois de 1494.
Em Florença ocorreu um fato estranho. Um frade, de nome Savonarola, que comandava a cidade, previu-lhe uma invasão estrangeira em punição pelo seu gosto pelo luxo e lassidão. Carlos VIII não avançou sobre o lugar e tomou o caminho de Roma, aonde chegou a 31 de dezembro de 1494. Ali ele conseguiu prender o Príncipe Djem, filho do sultão turco Bajazet. Em seguida, a 22 de fevereiro de 1495, tomou posse de Nápoles, e passou a viver em um ambiente festivo em função de seus sucessos. Politicamente em Veneza e Florença, criaram Estados expansionistas, assentes nas guildas ou governados por patrícios que tinham no comércio sua base de atividade, cujo objetivo era, pelo menos em parte, reunir a força física que protegesse, promovesse e disciplinasse a empresa. Cidades como Roma, Palermo, Nápoles, Messina, eram essencialmente centros de consumo, cujas receitas provenientes de propriedades rurais ou benefícios ou impostos, eram gastos por barões, cortesãos, funcionários ou cardeais. Mas podiam ainda assim, pela demanda de serviços de mercadores e financistas mais engenhosos e produtivos do que os seus próprios habitantes, estimular a capacidade inventivas de outros italianos e ajudar a distribuir a riqueza. Quando os historiadores econômicos falam de ascensão ou declínio da Itália, estão usualmente discorrendo sobre o êxito ou o fracasso das grandes regiões inovadoras, dentro do quadrilátero formado por Gênova, Milão, Veneza e Florença, na manutenção da liderança em transporte, indústria, práticas financeiras e comerciais, que tinham estabelecido nos começos do século XV, e na defesa da parcela do comércio mundial. Parte da prosperidade assim gerada podia escoar-se para outras regiões comparativamente reconhecidas da Itália.
A
mudança oficial do nome de Ragusa para Dubrovnik entrou em vigor após a Primeira
Guerra Mundial (1914-1818) e a inclusão da cidade na Jugoslávia. Apesar de
todas as variações e da eslavização do nome da entidade ocorrida após a
inclusão na Jugoslávia, o antigo Estado é reconhecida na historiografia como a
República de Ragusa. É um dos destinos turísticos mais importantes do
Mediterrâneo, um porto marítimo e o centro do condado de Dubrovnik-Neretva. Esta
cidade-estado era reconhecida por seu envolvimento significativo nas redes
comerciais do Mediterrâneo, que foram fundamentais para o desenvolvimento
cultural e econômico da região. Desde jovem, Cotrugli esteve imerso no vibrante
ambiente comercial de Ragusa. O envolvimento de sua família no comércio
proporcionou-lhe uma exposição precoce às complexidades das atividades
mercantis, uma educação para membros da nobreza ragusana. Essa
experiência provavelmente despertou seu interesse por teorias e
práticas econômicas, que ele posteriormente explorou em seus manuscritos
temáticos.
A
República de Ragusa, sendo um centro de comércio internacional, ofereceu a
Cotrugli insights sobre as interações econômicas mais amplas em todo o
Mediterrâneo. Essas experiências formativas desempenharam um papel crucial na
formação de sua perspectiva sobre comércio e trocas comerciais, que ele
articulou em sua obra seminal, Livro sobre a Arte do Comércio (“Della Mercatura
e del Mercante Perfetto”). Como diplomata do Reino de Nápoles, que compreende a
parte Sul da península Itálica, foi o restante do antigo Reino da Sicília, após
a secessão da ilha da Sicília como resultado da rebelião de Vésperas sicilianas
de 1282. Reconhecido por seus contemporâneos como o Reino da Sicília, é
apelidado de Reino de Nápoles para distingui-lo da classe política baseada na
ilha. Durante grande parte de sua existência, o reino foi disputado entre as
dinastias francesa e aragonesa. Em 1816, os reinos foram novamente unidos para
formar o Reino das Duas Sicílias. Passou cerca de 15 anos na Corte de Nápoles,
onde liderou muitas discussões sobre comércio e aprimorou seus pensamentos
sobre assuntos humanistas. De 1451 a 1469, viveu em Nápoles. Ele morreu em
Áquila.
A
República de Ragusa governou uma área compacta do Sul da Dalmácia cujas
fronteiras finais foram formadas em 1426. O seu território compreendia a costa
continental de Neum, a Norte, até à península de Capo d`Ostro (Península de
Prevlaka), a Sul. Incluía ainda a península de Sabbioncello (Pelješac) e as
ilhas de Lagosta (Lastovo) e Meleda (Mljet), e algumas ilhas mais pequenas,
como Calamotta (Koločep), Isola di Mezzo (Lopud) e Sipano (Šipan). No século
XV, a República de Ragusa também adquiriu as ilhas de Korčula, Brač e Hvar
durante cerca de oito anos. No entanto, tiveram de ser abandonadas devido à
resistência dos pequenos aristocratas locais que simpatizavam com a República
de Veneza, que lhes concedia alguns privilégios. No século XVI, as unidades da República eram: cidade de Ragusa (Dubrovnik), os
condados (Konavle, Župa dubrovačka (Breno), Slano, Dubrovačko Primorje (Litoral
Ragusino), Ston e as ilhas de Šipan, Lopud e Koločep) e as capitanias (Cavtat,
Orebić e Janjina) com magistrados nomeados pelo Conselho Maior. Lastovo
e Mljet eram comunidades semiautônomas, cada uma com seu estatuto e
forma de governo.
O historiador Nenad Vekarić utilizou provas fiscais do litoral de Dubrovnik (em croata: Dubrovačko Primorje) e um recenseamento para descobrir que a República de Ragusa tinha uma população de quase 90 000 habitantes em 1500. Desde então, até 1700, a população diminuiu: na primeira metade do século XVI, tinha mais de 50 000 habitantes; na segunda metade do século XVI, entre 50 000 e 60 000; na década de 1630, cerca de 40 000; e em 1673-1674, apenas 26 000 habitantes. Na segunda metade do século XV, devido à expansão otomana, Ragusa recebeu um grande número de refugiados cristãos da Bósnia e da Herzegovina, oferecendo-lhes as terras menos férteis. Numerosas epidemias, a Guerra de Cândia de 1645-1669, o terramoto de 1667 e a emigração reduziram consideravelmente o número de habitantes. A população da República nunca mais voltou a atingir os níveis anteriores. A Constituição republicana de Ragusa era estritamente aristocrática. A população estava dividida em três classes: nobreza, cidadãos e plebeus, que eram principalmente artesãos e agricultores (servos, coloni e libertos). Todo o poder efetivo estava concentrado nas mãos da aristocracia. Os cidadãos só podiam ocupar cargos de menor importância; os plebeus não tinham voz no governo. O casamento entre membros de diferentes classes sociais era proibido.
Enquanto
a República esteve sob o domínio de Veneza (1204-1358), o duque que era de fato
o chefe do Estado (latim: comes, italiano: conte, croata: knez) era um nobre
veneziano. A partir de 1358, o chefe de Estado nominal era reconhecido como
reitor (em italiano rettore, em croata knez) e passou a ser eleito, sendo
sempre um patrício da República de Ragusa, escolhida pelo Conselho Maior. A
duração do mandato do reitor era de apenas um mês e a pessoa podia ser reeleita
ao fim de dois anos. O reitor vivia e trabalhava no Palácio dos Reitores. A
expressão “time is money” foi popularizada por Benjamin Franklin em 1748, no
seu ensaio “Advice to a Young Tradesman”. No entanto, a ideia de que o tempo é
valioso e deve ser usado de forma eficiente já era discutida antes dele.
Franklin, um dos pais fundadores dos Estados Unidos da América, utilizou a
frase: “Remember that time is money” no ensaio, enfatizando a importância de
não desperdiçar tempo, pois cada momento perdido poderia ser usado para ganhar
dinheiro. A expressão se tornou um aforismo, transmitindo a ideia de que o
tempo é um recurso limitado e valioso, semelhante ao dinheiro, e deve ser usado
de forma produtiva. Apesar da popularização por Franklin, há registros
etnográficos da ideia de que o tempo é valioso antes dele. Um comerciante
croata, Benedetto Cotrugli, já havia escrito em seu livro “Della Mercatura et
Del Mercante Perfetto” no século XV. O jornal The Free-Thinker já havia
publicado algo similar em 1719. Enquanto Franklin é reconhecido por popularizar
a frase, a ideia de que tempo é dinheiro já circulava bem antes dele.
A
organização do governo baseava-se no modelo da República de Veneza: os órgãos
administrativos eram o Conselho Maior (Consilium maius, Maggior Consiglio,
Velje vijeće), o Conselho Menor (Consilium minus, Minor Consiglio, Malo vijeće)
(a partir de 1238) e o Senado (Consilium rogatorum, Consiglio dei Pregadi,
Vijeće umoljenih) a partir de 1253. O chefe de estado era o reitor. O Conselho
Maior era constituído apenas por membros da aristocracia; todos os nobres
tomavam assento aos 18 anos de idade, a partir de 1332, quando o conselho foi
encerrado, pela Serrata del Maggior Consiglio Raguseo, e apenas os membros
masculinos das famílias nobres ragusinas tinham assento. Era o órgão supremo de
governo e de produção de legislação que (depois de 1358) elegia os outros
conselhos, funcionários e o reitor. Todos os anos, os membros do Conselho Menor
eram eleitos pelo Conselho Maior. Juntamente com o reitor, o Conselho Menor
tinha funções executivas e cerimoniais. Era composto, primeiro, por onze
membros e, depois de 1667, por sete membros. O poder principal estava nas mãos
do Senado, que tinha 45 membros com mais de 40 anos de idade, eleitos por um
ano também pelo Conselho Maior. Inicialmente tinha apenas funções sociais consultivas,
mas, durante o século XVI, o Senado tornou-se verdadeiramente um governo
da República. No século XVIII, o Senado era de fato consagrado uma instituição máxima da
República e os senadores tornaram-se os nobres da nobreza.
Bibliografia
Geral Consultada.
LEFORT, Claude, Le Travail de l’Oeuvre Machiavel. Paris: Editeur Gallimard, 1986; LARIVAILLE, Paul, Itália no Tempo de Maquiavel. Rio de Janeiro; Editora Companhia das Letras, 1988; BATH, Sérgio, Maquiavelismo: A Prática Política Segundo Nicolau Maquiavel. São Paulo: Editora Ática, 1992; DEBUS, Allen George, El Hombre y la Naturaleza en el Renacimiento. México: Fondo de Cultura Económica, 1996; ABRAHÃO, Miguel Martins, O Strip do Diabo. São Paulo: Editor Agbook, 2009; MARTINS, Anderson Bastos, Onde Fica o Meu País? O Exílio e a Migração Ficção Pós-Apartheid de Nadine Gordimer. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Letras: Literatura. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2010; STENGEL, Richard, Os Caminhos de Mandela. Porto Alegre: Editor Globo, 2010; ABREU e LIMA, Fellipe de Andrade, A Ideia de Cidade no Renascimento. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2012; BRAGA, Ubiracy de Souza, “Nelson Rolihlahla Mandela: Um Homem Justo”. In: Jornal O Povo. Fortaleza, 14 de dezembro de 2013; LEONARDI, Evandro Marcos, Conflito Civil e Liberdade no Pensamento Republicano de Maquiavel. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2015; NOGUEIRA, Liliana Grubel, O Mercador no Livro de Arte do Comércio (1458), de Benedeto Cotrugli (1416-1469). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 2019; FRARE, Anderson Betti; FERNANDES, Carla Milena Goncalves; HORZ, Vagner; BARBOSA, Marco Aurélio Gomes, “Manual Mercador da Idade Média sobre Negócios e Contabilidade: A Arte do Comércio por Benedetto Cotrugli em 1458”. In: Enfoque: Reflexão Contábil, 41(1), 23-38; 2022; BIONDO, Valéria, Franklin e seus Aforismos Educativos: Um Modo de Existência e de Conduta Moral e da Racionalização da Sexualidade. Tese de Doutorado em Educação Escolar. Faculdade de Ciências e Letras. Araraquara: Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho, 2023; NOCELLI, Lavinia; CAPPELLARI, Carola, “A Forma Única de Conhecer o Lado Secreto de Veneza”. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/16/11/2024; URBINA, Carlos, “¿Por qué Pacioli y no Cotrugli?”. In: Contaduría Universidad De Antioquia, (86), 137–158, 2025; entre outros.
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