“A arte é a forma mais intensa de individualismo que o mundo já conheceu”. Oscar Wilde
As montanhas sempre fizeram parte da história humana por se tratarem de obstáculos a serem transpostos em viagens, explorações ou migrações. Até à Idade Média, os homens evitavam os cumes aos quais levantavam rumores e lendas, e em 1387 os magistrados de Lucerna fecharam o monge Niklaus Bruder (1417-1487) e cinco outros religiosos que haviam tentado subir o Monte Pilatus da região. Em 1492, Antoine de Ville escalou o Monte Aiguille, na França, apesar das inúmeras superstições existentes a respeito de seu cume. Em 1744 ocorre a chegada ao cume, chamada pelos montanhistas de “conquista”, do Monte Titlis, nos Alpes berneses; em 1770, a do Monte Buet, no Maciço do Giffre, Alpes Ocidentais, e em 1779 o Monte Vélan, nos Alpes Peninos, também é conquistado. O alpinismo moderno, porém, nasceu em 8 de agosto de 1786, quando dois franceses, o médico Michel Paccard (1757-1827) e o cristaleiro Jacques Balmat (1762-1834), motivados por um prêmio oferecido por Horace-Bénédict de Saussure (1740-1799), o fundador do alpinismo, venceram os 4 810 metros do Monte Branco, na fronteira entre França e Itália. As cotações são notas que definem o grau de dificuldade de cada desafio. Os maiores para alpinismo são as escaladas das montanhas com mais de 8 000 metros de altitude, todas no Himalaia, e das montanhas mais altas dos Alpes, Pirenéus, Cordilheira dos Andes e Montanhas Rochosas, bem como as extensas paredes verticais, como Torres Trango e Eiger. Há outros desafios importantes, a saber, as três grandes vertentes Norte dos Alpes.
O montanhismo não deve ser assim confundido com o alpinismo que exige boa condição física, um equipamento de montanha apropriado, uma técnica de progressão que lhe é própria, e necessita a presença de um guia para escolher o trajeto e assegurar a cordada. O alpinismo toma uma dimensão importante com os grandes nomes do alpinismo inglês como Edward Whymper (1840-1911), Albert Frederick Mummery (1855-1895), Frederick Gardiner (1850-1919), naquilo que ficou reconhecido como a “idade de ouro do alpinismo”, na passagem do século XIX para XX quando se verifica uma corrida à conquista de montanhas inexploradas. As mais altas perspectivas deveriam abrir-se ao alpinismo depois da conquista do Monte Branco pelo naturalista Horace Bénédict de Saussure (1740-1789) e os seus companheiros em 1786-1787. Assim, em 1868, os ingleses conquistaram os principais picos do Cáucaso. Na cordilheira dos Andes, o Chimborazo (6267 metros) foi vencido em 1880, e o Aconcágua (6959 metros) em 1897. Em 1889 foi conquistado o Kilimanjaro (5895 metros), na África, e o Monte McKinley (6194 metros), no Alasca, em 1913. O Monte Everest, ponto culminante do planeta, com 8848 metros de altitude, foi finalmente conquistado pelo neozelandês Edmund Hillary (1918-2008) e pelo xerpa, Tenzing Norgay (1914-1986), em 1953, representado pelo povo que habita a região montanhosa do Himalaia, especialmente a região no Nepal, reconhecido pelas suas qualidades nativas e pelo trabalho como guias e carregadores de montanha.
A partir de 1900, o alpinismo começa a desenvolver-se como técnica de desporto de competição, tendo começado como a escalada chamada de artificial. Wilhelm Welzenbach (1899-1934) é o primeiro a atacar-se às cascatas de gelo usando crampons especiais, uma peça formada por um conjunto de picos (pontas) destinados a serem presos à sola da bota do alpinista ou do escalador para permitir a sua progressão, é que ele estabelece uma escala de dificuldades no plano abstrato das vias de ascensão artificiais. Em 1925, escalada a face Norte do Dent d`Hérens, seguido pelo Fiescherhorn e o Weisshorn entre 1930 e 1933. A ascensão da face Norte do Cervin em 1931 inaugura a série dos últimos grandes desafios. Em 1938 Anderl Heckmair e Ludwig Vörg conquistam com Fritz Kasparek (1910-1954) e Heinrich Harrer (1912-2006) a face Norte do Eiger. Em 1978, a União Internacional das Associações de Alpinismo junta cinco graus na escala das dificuldades, a chamada “cotação de montanha”, criadas por Willelm Welzenbach em 1947. Entre 1950 e 1964, “os 8000” do Himalaia foram todos conquistados devido a verdadeiras expedições. A que foi conduzida pelo suíço Albert Eggler (1913-1998) foi a segunda a atingir o cume do monte Everest, logo depois da expedição de Edmund Hillary (1919-2008) e Tenzing Norgay (1914-1986) a 29 de maio de 1953, e a primeira ascensão do Lhotse foi em 1956. É a quarta montanha mais alta do mundo contemporâneo, possuindo ligação real com o monte Everest pela coluna Sul. Dada a proximidade com o Everest, tem um baixo valor de proeminência topográfica (610 metros) e de isolamento topográfico (2, 42 km). Até outubro de 2003 haviam subido ao topo do Lhotse, totalizando participação de 243 alpinistas; sendo que 11 de forma letal.
Em 1960, os alpinistas realizaram sob direção de Max Eiselin a primeira expedição do Dhaulagiri. Depois do tirolês Reinhold Messner e o polaco Jerzy Kukuczka (1948-1989), o suíço Erhard Loretan (1959-2011) conquista por sua vez os 14 cumes com mais de 8000 metros de altitude. O flanco ocidental do Lhotse é conhecido como a face de Lhotse. Todos os alpinistas que vão pela coluna sul do Everest devem escalar esta parede de 1125 metros constituída de gelo glacial. Esta face levanta-se em declives de 40 e 50 graus com protuberâncias ocasionais de 80 graus. Os primeiros alpinistas a atingirem o seu cume foram os suíços chefiados por Albert Eggler em 18 de maio de 1956. O primeiro português a atingir o seu cume foi João Garcia, em 21 de maio de 2005, sem recurso a oxigénio artificial. A sua equipa também integrava o alpinista português Hélder Santos, que devido a intoxicação alimentar foi forçado a descer previamente. Em 1978, a União Internacional das Associações de Alpinismo juntou cinco graus à escala normalizada das dificuldades técnicas criadas por Wilhelm Welzenbach em 1947, e que historicamente na origem de escala numérica só contava seis. A temporada de escalada ao monte Everest já registrou ao menos onze mortes em 2019. A elevada letalidade verificada nesta temporada não está relacionada apenas às condições extremas, típicas para uma extraordinária montanha com mais de 8 mil metros de altura. A combinação do excesso de alpinistas, que ocorre com o despreparo de boa parte deles, pode dar pistas para a catástrofe de ordem humana sobre desastres naturais.
O filme The Gorge (2025) é estrelado por Miles Teller,
Anya Taylor-Joy e Sigourney Weaver. Seu enredo segue a trilha aberta por dois
atiradores de elite que recebem ordens para guardar um desfiladeiro profundo
sem saber o que há dentro: proteger lados opostos de um desfiladeiro remoto e
ultrassecreto por um ano, sem contato social com seus colegas ou com o mundo
exterior. Dois agentes altamente treinados se aproximam à distância após serem
enviados para proteger lados opostos de um desfiladeiro misterioso. Quando um
mal emerge, eles precisam trabalhar juntos para sobreviver ao que está lá
dentro. Levi Kane, um ex- fuzileiro naval, é recrutado por uma mulher
misteriosa chamada Bartholomew para proteger a torre Oeste. Drasa, uma agente
secreta lituana frequentemente contratada pelo Kremlin, guarda a torre Leste.
Levi sofre de pesadelos induzidos por Transtorno de Estresse Pós-Traumático. É
um distúrbio de saúde mental que surge após a exposição a um evento traumático,
como um acidente grave, desastre natural ou violência, enquanto o pai de Drasa,
Erikas, com uma doença terminal, planeja cometer suicídio no Dia dos Namorados,
também chamado de Dia de São Valentim ou Festa de São Valentim, é comemorado em
14 de fevereiro. Originou-se como um dia de exaltação da festa cristã em
homenagem ao mártir chamado Valentim e, por meio de tradições populares
posteriores, também se tornou uma celebração cultural, religiosa e
comercialmene significativa de romance e amor em muitas regiões do mundo.
Existem várias histórias sociais de martírio associadas a
vários pesonagens São Valentim ligados a 14 de fevereiro, incluindo um relato
da prisão de São Valentim de Roma por ministrar aos cristãos perseguidos sob o
Império Romano no século III. De acordo com uma tradição antiga, São Valentim
restaurou a visão da filha cega de seu carcereiro. Numerosas adições
posteriores à lenda a relacionaram melhor com o tema do amor: a tradição afirma
que São Valentim realizou casamentos para soldados cristãos que foram proibidos
de se casar pelo imperador romano; um embelezamento do século XVIII à lenda
afirma que ele escreveu à filha do carcereiro uma carta assinada “Seu Valentim”
uma despedida antes de sua execução. Levi substitui seu antecessor JD, um
ex-cabo da Marinha Real Britânica , que explica que o local é mantido oculto
por poderosas antenas de camuflagem e que as torres são armadas para conter
criaturas monstruosas dentro do desfiladeiro, apelidadas de “Homens Ocos”. JD
alerta sobre o “Straydog”, um protocolo de emergência desconhecido, e que
batalhões de soldados enviados ao desfiladeiro no final da década de 1940 não retornaram. Acreditando estar sendo exfiltrado, JD é morto por ordem de
Bartholomew. Após meses sem novidades, Drasa viola o protocolo de não
comunicação em seu aniversário, iniciando uma conversa com Levi por meio de
placas escritas e uma competição de tiro ao alvo. Uma onda de Homens Ocos tenta
sair do desfiladeiro, mas Drasa e Levi usam seus rifles, torres e
minas para defender- se um ao outro. São temas sempre sobrepostos e
fragmentários.
Com o passar do tempo, eles criam laços à distância. Seis
meses depois de seu posto, Levi atravessa o desfiladeiro de tirolesa para
jantar com Drasa. Eles passam uma noite romântica juntos, e ele revela que está
escrevendo um poema para ela. Na manhã seguinte, quando Levi retorna à sua
torre, seu cabo se rompe quando minas são detonadas por Homens Ocos, forçando-o
a saltar de paraquedas no desfiladeiro. Armando-se, Drasa salta de paraquedas
atrás dele. A dupla descobre que toda a vida vegetal e animal dentro do
desfiladeiro sofreu mutação cruzada, incluindo os Homens Ocos, que se revelaram
os soldados desaparecidos de décadas passadas. Lutando contra as formas de vida
hostis, Drasa e Levi encontram a fonte das mutações: um laboratório de pesquisa
de armas biológicas da 2ª Guerra Mundial(1939-1945), abandonado após um terremoto causar
um vazamento de contaminante que produz sintomas em cinco dias. Desde então, a instalação é mantida pela
Darklake, uma empresa privada de defesa que extrai amostras híbridas na
esperança de criar supersoldados. Drasa e Levi pari passu descobrem que
o Straydog é o protocolo original à prova de falhas para esterilizar o local
com uma explosão nuclear.
O dinheiro e o trabalho podem existir e existiram historicamente antes de explicar a formação do capital, dos bancos, do trabalho assalariado, etc. Neste sentido objetivo do desenvolvimento humano, podemos dizer que a categoria mais simples pode exprimir relações dominantes de um todo menos desenvolvido ou, pelo contrário, relações subordinadas de um todo mais desenvolvido. Relações que existiam antes que o todo se desenvolvesse no sentido que encontra a sua expressão numa categoria mais concreta. Nesta medida, lembra Marx, que a evolução do pensamento abstrato, que se eleva do mais simples ao mais complexo, corresponderia ao processo histórico real. Por outro lado, podemos dizer que há formas de sociedade muito desenvolvidas, mas a quem falta maturidade, e nas quais descobrimos as formas mais elevadas de economia, como, por exemplo, a cooperação, uma divisão do trabalho desenvolvida e assim por diante, sem que exista necessariamente nenhuma forma de moeda: o Peru, pré-capitalista, por exemplo. Também entre os eslavos, o dinheiro e a troca que o conduziu não aparecem (ou aparecem pouco) no interior de cada comunidade, mas aparecem nas suas fronteiras, no comércio com comunidades. A troca surge nas relações comunitárias entre si, muito antes de aparecer nas relações dos membros no interior de uma só e mesma comunidade.
Embora o dinheiro apareça muito cedo e desempenhe um papel
múltiplo, é na Antiguidade, enquanto elemento dominante, apanágio das nações
determinadas unilateralmente, de nações comerciais continentais. E mesmo na
Antiguidade de menor duração, claramente entre os gregos e os romanos, ele só
atinge o seu completo desenvolvimento, postulado na aurora da sociedade
burguesa moderna, no período de sua dissolução. Esta categoria social, no
entanto, tão simples, só aparece com todo o seu vigor nos Estados mais
desenvolvidos. O sistema monetário, por exemplo, situa ainda de forma
perfeitamente objetiva, como coisa exterior a si, a riqueza do dinheiro. Um
enorme progresso é devido ao talento do escocês Adam Smith, que rejeitou toda a
determinação particular da atividade criadora de riqueza, considerando apenas o
trabalho puro e simples, isto é, nem o trabalho industrial, nem o trabalho
comercial, nem o trabalho agrícola, mas todas estas formas de trabalho no seu
caráter comum. Com a generalidade abstrata da atividade criadora de riqueza
igualmente se manifesta, então, a generosidade do objeto na determinação da
riqueza, o produto considerado em absoluto, ou ainda o trabalho em geral, mas
enquanto trabalho passado, objetivado num objeto.
A ideia de dominar a sociedade por meio de algum tipo de
consenso não é nova. O perturbador problema por meio do confronto decorrente da
apropriação capitalista da mais-valia perseguia a economia política clássica
praticamente desde o início, e sua última grande figura, Ricardo, não tentou
ocultar as inconciliáveis contradições envolvidas. Em 1799 Ricardo teve o
primeiro contato com A Riqueza das Nações, de Adam Smith, tendo se
impressionado profundamente com o livro. Sua primeira participação no debate
público deu-se dez anos depois, em 1809, tratando de questões de economia
monetária. O debate era sobre a livre conversibilidade da moeda inglesa, a
possibilidade de converter-se qualquer libra emitida pelo governo britânico em
ouro, no momento em que se desejasse. Esta conversibilidade, o pilar do que
conhecemos como padrão-ouro, estava suspensa desde 1797 em função da
desvalorização das notas em relação à cotação do ouro. Um processo de
inflação, de aumento dos preços das mercadorias em relação à unidade monetária,
fizera com que o governo suspendesse a garantia no pagamento com ouro de suas notas. Ricardo colocou-se desde o primeiro momento como defensor da conversibilidade, argumentando que o deslizamento do valor da moeda
provocava quebra de confiança nos contratos e favorecia os “devedores ociosos e
pródigos em detrimento do credor industrioso e frugal”.
Mas foi sob as circunstâncias de sua interpretação das causas
da inflação que Ricardo trouxe uma contribuição que permaneceu desde então
presente no debate econômico global. Para Malthus, importante economista da
época e que desenvolveria intenso debate com Ricardo em outras questões,
divergindo quase sempre, embora ambos desfrutassem de uma grande amizade, a
causa da inflação estava na elevação dos preços dos cereais, devida à
ocorrência de guerras que prejudicavam o abastecimento. Ricardo mudou o rumo da
discussão ao apontar que a causa do aumento dos preços residia no excesso de
emissões de notas pelo Tesouro inglês, que deveria, para restabelecer a
paridade, recolher o excesso de papel-moeda na mesma proporção da elevação de
preços havida. Formulava uma das primeiras versões no plano econômico da Teoria
Quantitativa da Moeda - segundo a qual o nível geral de preços guarda estrita
proporcionalidade com a quantidade de bens e serviços transacionada na economia
e com a quantidade de moeda em circulação, dados os hábitos de pagamentos da
comunidade. Esta teoria tem-se mantido para vertentes da teoria econômica até
os dias de hoje e, embora polêmica por seus efeitos, serve de base para as
doutrinas ortodoxas de combate à inflação.
As conclusões de Ricardo, melhor expressas em uma nova
intervenção sob o título de Propostas para um Numerário Seguro, de 1910,
serviram de base para a formação do Bullion Comittee, que endossaria
suas propostas e recomendaria a volta da conversibilidade da moeda o que ocorreu
em 1821. O regime de padrão-ouro serviria de base para os sistemas monetários
europeus até a eclosão da 1ª grande guerra (1914-1918). Ricardo afirmava que,
sob o padrão-ouro, a estabilidade monetária e os fluxos de capitais entre os
países poderiam ser regulados automaticamente, sem a intervenção dos governos
nacionais, apenas se fossem deixadas operando as forças de livre mercado. Imagine-se
um país em que por qualquer razão os preços internos estivessem em elevação em
relação ao ouro poderia ser, por exemplo, pela ocorrência sistemática de
superávit na balança comercial, com acúmulo do metal e sua desvalorização ante
os demais bens. Nesta situação, a livre concorrência propiciaria um fluxo de
oferta de bens estrangeiros, fazendo escoar-se o excesso de ouro das importações e reequilibrando os preços internos. A situação oposta,
de diminuição de preços internos pela escassez de ouro, seria resolvida pelo
aumento das exportações e recuperação do lastro metálico.
Outro importante debate foi marcado pela participação de
Ricardo e nasceu daí a redação dos Princípios de Economia Política e
Tributação. A discussão era sobre as “corn laws”, leis inglesas que
sobretaxavam os cereais importados abaixo de determinado nível de preços. O
objetivo destas leis era proteger os produtores domésticos de cereais da
concorrência externa, fazendo, no entanto, com que os preços de importantes
produtos da subsistência dos trabalhadores ingleses ficassem mais caros. A
polêmica antepunha os industriais e populações urbanas, de um lado, aos
produtores agrícolas e proprietários de terras, de outro, e Ricardo, ferrenho
defensor dos interesses industriais, passou a atacar as “corn laws”. Em seu
texto de 1815 intitulado: Um Ensaio Sobre a Influência do Baixo Preço do Trigo
Sobre os Lucros do Capital, Mostrando a Inconveniência das Restrições à
Importação, Ricardo demonstrava que a proteção aos produtores nacionais de
cerais menos eficientes fazia aumentar a proporção da renda da terra e dos salários
que deveriam ser maiores em relação aos preços dos demais bens para acomodar os
preços maiores dos bens da cesta básica em relação aos lucros. Esta
transferência de renda dos setores dinâmicos para os menos eficientes fazia
diminuir a intensidade da acumulação e do crescimento da economia. A
superioridade da argumentação lógica de Ricardo, ainda que não tenha convencido
seus opositores, pois os grandes debates de economia dificilmente produzem
consensos, reforçou a notoriedade do autor e o colocou em contato estreito com
importantes economistas da época, tais como James Mill e Malthus, que o
incentivaram decisivamente a escrever uma obra que reunisse todo o seu
pensamento econômico.
Esta obra, uma reelaboração do Ensaio sobre as “corn laws”,
transformou-se nos Princípios, a primeira grande sistematização teórica em
economia após A Riqueza das Nações, de Adam Smith. Já no prefácio de
Princípios, Ricardo descreve qual era o problema central da economia política:
“determinar as leis que regem a distribuição do produto total da terra entre as
três classes, o proprietário da terra, o dono do capital necessário para seu
cultivo e os trabalhadores, que entram com o trabalho para o cultivo da terra”.
Notamos já neste ponto que o problema central de Ricardo divergia do de Adam
Smith na Riqueza das Nações. Para este, a questão central estava em investigar
as causas do crescimento das nações, que era a fonte de onde provinham os
estímulos à acumulação de capital. Para Ricardo, a acumulação era um problema
relativamente simples, já que era determinada pela manutenção das taxas de
lucros em determinados patamares, garantindo a reinversão. O problema central
era da distribuição do produto total entre as três categorias. E os lucros eram
vistos como resíduos, formados após a dedução dos custos de produção (aí
incluídos os salários) e da renda da terra. Como se dava a distribuição? O
esquema economicamente de Ricardo utilizava-se da produção agrícola porque existiam aí,
segundo ele, características especiais que levavam a determinar um circuito através da distribuição
nos outros setores.
Os salários eram fixados pelo cálculo nível mínimo necessário
para garantir a subsistência dos trabalhadores. Ricardo adotava a teoria de
Malthus segundo a qual o salário apontava para a subsistência, porque se se
elevasse, induziria ao aparecimento de um número maior de trabalhadores (pelo
aumento do número de filhos dos operários), que faria, através da concorrência,
o nível dos salários baixar novamente até a subsistência. Do contrário, um
nível abaixo da subsistência faria os salários retornarem ao patamar natural,
pela escassez de trabalhadores que seria causada. E quanto à formação da renda
da terra? Para Ricardo, a renda da terra devia-se à escassez de terras e à
diferenciação das produtividades entre elas. Em uma situação ideal, em que
todas as terras cultivadas obtivessem a mesma produtividade, não haveria, de
acordo com o autor, a formação de uma renda diferenciada na terra. Os lucros
seriam simplesmente o resíduo do produto após a dedução dos custos (para
simplificar, consideremos como custos somente a parcela dos salários). Ocorre
que, em uma situação real, a pressão populacional exige a ocupação de terras
menos férteis para a produção de alimentos. Suponhamos que todas as terras
anteriormente ocupadas tivessem a mesma fertilidade e que a pressão exigisse o cultivo de uma nova porção de terras com qualidade
inferior.
A produção nesta terra exibirá um produto líquido menor
(produto total menos os salários pagos) e, portanto, determinará uma taxa de
lucro inferior. Como o sistema opera sob condições de livre concorrência, esta
nova taxa de juros impor-se-á ao resto do sistema. Nas terras de qualidade
superior, aparecerá agora um resíduo que será a renda da terra. Com a
diminuição do produto líquido, a renda diferenciada da terra nada mais será do
que um pagamento efetuado aos proprietários do recurso escasso, impondo uma redução
da mesma magnitude sobre os lucros e diminuindo a taxa de acumulação do sistema
e, portanto, a taxa de investimento, já que, segundo o esquema de Ricardo, são
os capitalistas que investem. Ficava então determinado para Ricardo o esquema
de distribuição e de determinação da taxa de lucros e do potencial de
acumulação. Num esquema de livre concorrência, a distribuição entre retorno do
capital e pagamentos aos proprietários de terras se dava de acordo com a
ocupação das terras. Prosseguindo-se ao limite a ocupação das terras menos
férteis, chegar-se-ia à situação em que o produto líquido extraído da terra de
menor fertilidade seria suficiente apenas para cobrir a parcela de custos, o
pagamento da subsistência dos trabalhadores, no esquema simplificado; em todas
as terras de maior fertilidade, seriam geradas rendas diferenciadas de
magnitudes crescentes apropriadas pelos proprietários de terras, como dedução
do produto líquido.
A taxa de lucro estaria então reduzida a um mínimo e o
sistema entraria em estagnação, gerando apenas o suficiente para repor o
desgaste do capital no processo produtivo - este era o chamado estado
estacionário que Ricardo via como produto inevitável da expansão do sistema. É
claro que poderiam ocorrer fatos que adiassem momentaneamente a chegada do
estado estacionário. Era o caso das inovações tecnológicas na agricultura
fazendo aumentar a produtividade em todas as terras e barateando a parcela
destinada à reprodução da classe trabalhadora. Era o caso também do comércio
internacional, que poderia evitar o efeito da ocupação das terras menos férteis
com a compra pelo país de produtos com maior produtividade no exterior,
evitando-se assim a rebaixa geral na taxa de lucros. Daí o porquê de Ricardo
ter defendido com tanto rigor a extinção das “corn laws” na Inglaterra. Ricardo
era um aplicado defensor do liberalismo no comércio internacional. Como vimos
acima, para ele, as transações entre os países eram um mecanismo poderoso para
infundir ânimo aos sistemas econômicos. Em sua visão, as trocas internacionais
seriam vantajosas mesmo em uma situação em que um determinado país tivesse
maior produtividade que o outro na produção de todas as mercadorias. Ele criou
o famoso exemplo do comércio de tecidos e vinhos proporcional entre dois países em torno da economia de seu império: a Inglaterra e Portugal.
A teoria das Vantagens Comparativas de Ricardo foi a base para a construção de
toda uma vertente de teorias de comércio internacional que dominou por muito
tempo o debate econômico. O esquema lógico ricardiano fornecia o substrato do
sistema de comércio mundial ancorado no padrão-ouro e no livre-cambismo.
Se o sistema do padrão-ouro recebeu abalo definitivo após a 1ª grande guerra (1914-18), a teoria das vantagens comparativas ainda tinha muita força entre os economistas da maioria dos países na entrada dos anos 1950, quando se iniciava a etapa da rápida industrialização nos países subdesenvolvidos. E foi com ela que tiveram de dialogar com os defensores da industrialização latino-americana, quando se tratava de demonstrar que seus países necessitavam industrializar-se - ainda que daí resultasse uma produção menos eficiente que a das indústrias congêneres dos países mais avançados. Para demonstrar o desacerto das proposições retiradas do esquema ricardiano de vantagens comparativas, os economistas latino-americanos diziam que o universo ricardiano não podia funcionar perfeitamente nas condições que se apresentavam nas trocas entre os países centrais e a periferia, porque os pressupostos do livre-cambismo não ocorriam de maneira perfeita - nem os ganhos de produtividade ocorridos nos países centrais eram repassados aos preços dos produtos, melhor dizendo, a organização dos trabalhadores e o monopólio das novas tecnologias faziam reter estes lucros sob a forma de salários maiores, lucros extraordinários ou de repasses ao Estado de Bem-Estar, nem na periferia os ganhos de produtividade podiam ser retidos em função da desorganização do mercado de trabalho, pela heterogeneidade entre os setores econômicos.
A indiferença em relação a um gênero determinado de
trabalho pressupõe a existência de uma totalidade muto desenvolvida de gêneros
de trabalho reais, dentre os quais nenhum é absolutamente predominante. Assim,
as abstrações mais gerais só nascem, em resumo, com o desenvolvimento concreto
mais rico, em que um caráter aparece como comum a muitos, como comum a todos.
Esta abstração do trabalho em geral não é somente o resultado mental de
uma realidade concreta de trabalhos. A indiferença em relação a esse trabalho
determinado corresponde a uma forma de sociedade na qual os indivíduos mudam
com facilidade de um trabalho para outro, e na qual o gênero preciso de
trabalho é para eles fortuitos, logo indiferente. Aí o trabalho tornou-se não
só no plano das categorias, mas na própria realidade, um meio de criar a
riqueza em geral e deixou, enquanto determinação, de constituir um todo com os
indivíduos, em qualquer aspecto particular.
A abstração mais simples e válida para todas as sociedades, só aparece,
no entanto, sob esta forma abstrata como verdade prática enquanto categoria da
sociedade mais moderna. Mas precisamente por causa de sua natureza abstrata,
para todas as épocas históricas da humanidade, não são menos, sob a forma
determinada desta mesma abstração, o produto de condições sociais e históricas e só se
conservam nestas condições e no quadro propriamente destas.
A realidade concreta é simplificadamente “tudo o que existe”.
Em sentido mais livre, o termo inclui tudo o que é, seja ou não perceptível,
acessível ou entendido pela filosofia, ciência, arte ou qualquer outro sistema
de análise. O real é tido como aquilo que existe fora ou dentro da mente. A
ilusão quando existente é real e verdadeira em si mesma. Ela não nega sua
natureza. Ela diz sim a si mesma. A realidade interna ao ser, seu mundo das
ideias, imaginário, individual e coletivo, idealizado no sentido de tornar-se
ideia, e ser ideia, pode - ou não - ser existente e real também no mundo
externo. O que não nega a realidade da sua existência enquanto ente imaginário,
idealizado. Quanto ao externo - o fato sociológico de poder ser percebido só pela mente -
torna-se sinônimo de interpretação da realidade, de uma aproximação com
a verdade. A relação íntima entre realidade e verdade, o modo em como a mente
apreende a realidade, está no cerne da questão da imagem como representação
sensível do objeto e da ideia do objeto como interpretação ideal, mental.
Portanto, ter a mente tranquila em meio à agitação humana e aos estímulos que estamos
expostos na modernidade contemporânea não é uma atividade que pode parecer um
luxo.
Enfatizando essas atividades sociais desenvolveu-se o
conceito de indústria cultural. A linguagem do discurso autoral é vista numa
ótica estreitamente unidimensional, onde a instrumentalização das coisas
torna-se instrumentalização dos indivíduos, desconsiderando-se a intervenção
dos homens na vida social e omitindo a complexidade da dimensão simbólica de
apropriação do real omnipresente em todo o ato comunicativo. Perceber as
sociedades de controle de forma unidimensional equivale a pensar as instituições
como instância separadas e isoladas das dinâmicas sociais. A análise concreta
das relações de poder nas instituições (família, Estado, universidade, etc.)
que são par excellence, as protagonistas da inserção social, lideram o processo
de constituição das identidades e regulam a sociedade. O processo ad infinitum
de evolução social, envolve então a permanente produção de subjetividades
modulada por instituições híbridas e diferentes combinações fora das
instituições. A crise das instituições significa, justamente, que as fronteiras
entre elas estão sendo derrubadas, de modo que a razão lógica capitalista de pensar
que funcionava, principalmente, dentro das paredes institucionais se espalhava em termos de globalidade/totalidade por todo o terreno social. Do ponto de vista da comunicabilidade o efeito social
específico move a causa e a causalidade se move em espiral em geral no
irracionalismo.
Não por acaso, todo comportamento humano passa a ter valor comunicativo
e, como a comunicação não ocorre sobre fatos sociais fora das relações sociais,
entendemos que todo processo de trabalho é um processo de comunicação, embora
nem todo processo de comunicação seja um processo de comunicação. Onde o
processo de produção se caracteriza por elementos imateriais ligados às
capacidades cerebrais e cognitivas, a cooperação entre trabalhadores, não pode
realizar sua atividade na reprodutibilidade técnica, reduzida e confundida com
a cooperação tecnológica e comercial. A utilização da força de trabalho é o
próprio trabalho. O processo de trabalho é o processo de sua valorização. O
comprador da força de trabalho, o capitalista, a consome fazendo com que seu
vendedor trabalhe. Desse modo, este último se torna actu aquilo que ante era
apenas potentia, a saber, força de trabalho em ação, trabalhador. Para
incorporar seu trabalho em mercadorias, ele tem de incorporá-lo, antes de mais
nada, em valores de uso, isto é, em coisas que sirvam à satisfação de
necessidades de algum tipo. Assim, o que o capitalista faz o trabalhador
produzir é um valor de uso particular, um artigo determinado. A produção de
valores de uso ou de bens não sofre alteração em sua natureza pelo fato de ser para
o capitalista e sob seu controle, razão pela qual devemos, de início,
considerar o processo de trabalho fora de qualquer forma social
determinada.
O trabalho é, antes de tudo, um processo entre o homem e a natureza, processo este em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a natureza. Ele se confronta com a matéria natural como uma potência natural. Agindo sob a natureza externa modificando-a por esse movimento, ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza. Ele desenvolve as potências que nela jazem latentes e submete o jogo de suas forças sociais a seu próprio domínio. Lembra Marx, que um incomensurável intervalo de tempo separa o estágio em que o trabalhador se apresenta no mercado como vendedor de sua própria força de trabalho daquele em que o trabalho humano ainda não se desvencilhou de sua forma instintiva. Quando um valor de uso resulta do processo de trabalho como produto, nele estão incorporados, como meios de produção, outros valores de uso, produtos de processos de trabalho anteriores. O mesmo valor de uso que é produto desse trabalho constitui o meio de produção de um trabalho ulterior, de modo que os produtos são não apenas resultado, mas também condição do processo de trabalho. The Gorge representa um filme de ação e ficção romântico norte-americano de 2025, dirigido por Scott Derrickson e escrito por Zach Dean.
Eles encontram um jipe funcionando com um guincho de reboque, usam-no para sair do desfiladeiro enquanto lutam contra os Homens Ocos e concordam em se separar por cinco dias para garantir que não sejam infectados pelos mutagênicos. Durante a conversa mensal de Levi pelo rádio, Bartholomew admite que ela trabalha para Darklake e ordena que ele mate Drasa. Ciente de que os dois atiradores descobriram a verdade, Bartholomew envia uma equipe para eliminá-los. Bartholomew e seus homens chegam e encontram as torres abandonadas. Drasa e Levi superam os drones armados enviados em seu encalço e destroem as antenas de camuflagem, expondo o local à vigilância e acionando a detonação do Straydog. Bartholomew e seus homens morrem na explosão, e a área é destruída, enquanto Drasa se separa de Levi e completa sua autoquarentena de cinco dias. Ela chega à França, um país de ememória de antigos desenhos da caverna de Lascaux, o Teatro Romano de Lyon e o Palácio de Versalhes atestam a sua rica história, para se encontrar com Levi, que não aparece, e descobre que ele deixou o poema completo em um envelope com a inscrição: “Se eu não conseguir, abra ao pôr do Sol”. Algum tempo depois, Drasa começa uma nova vida como garçonete em um restaurante local. Ela é surpreendida por Levi, que se atrasou devido uma lesão, e os dois se beijam.
A trivialização do conhecimento não faz produto do
conhecimento apenas um produto determinado, faz também dele um produto
qualquer. Mas as ideias podem tornar-se ideológicas, na medida em que sua
estrutura socialmente obedece às estruturas socioprofissionais. Sua produção
integra-se entre os outros processos de produção e a cultura torna-se
cognoscível a partir das categorias econômicas do capital e do mercado. Mas nem
a informação, nem a concepção de teoria, nem o pensamento abstrato, nem a
cultura são produtos triviais, ainda que mais não seja pelo fato de serem, ao
mesmo tempo, produtos/produtores e, mesmo comportando a questão urbana
hologramaticamente a dimensão socioeconômica, não poderiam ser reduzidas a
isso. A redução trivializante não teme exercer-se como sujeito sobre o
conhecimento científico. Este nível abstrato como qualquer outro é apropriado
pelo pensamento, como a religião e através da ciência, com suas relações de
força e monopólios, suas lutas e suas estratégias, seus interesses e seus prováveis
ganhos. Mas, por seu lado, os estudos de etnografias dos laboratórios, estes
que parecem ter dinamismo, demonstram-nos como se estabelecem essas mediações
complexas dos pesquisadores, em função de posições, ou status, as lutas em torno do individualismo fóbico, a
utilização de alguns truques diabólicos pelo reconhecimento, pelo
prestígio ou pela glória, com as negociações ao estabelecimento da prova, os ritos de passagem na pesquisa e na universidade. Entretanto, a motivação
primeira do cientista é e sempre será a notoriedade.
Mas não se pode reduzir o interesse científico ao interesse
econômico, a vontade de pesquisar ao desejo de prestígio, a sede de
conhecimento à sede de poder, em alguns casos terrenos sim. A sociologia não
pode ser considerada uma concepção que exclui o indivíduo ou que, no máximo, o
tolera. É uma concepção humanista, mas que deve implicá-lo e explicitá-lo.
Sobre a aquisição do conhecimento pesa um formidável determinismo encouraçado
de coerção. Ele nos impõe o que se precisa conhecer, como se deve conhecer, o
que não se pode conhecer. Comanda, proíbe, traça os rumos, estabelece os
limites, ergue muralhas e conduz-nos ao ponto onde devemos ir. E também que
conjunto prodigioso de determinações sociais, culturais e históricas é
necessário para o nascimento da menor ideia, e per se da menor teoria. Não
bastaria limitarmo-nos a essas determinações que pesam do exterior sobre o
conhecimento. É necessário considerar os determinismos intrínsecos ao
conhecimento, que são, segundo Morin, muito mais implacáveis. Em primeiro
lugar, princípios, comandam esquemas e modelos explicativos, os quais impõem
visão de mundo e das coisas que se governam/controlam de modo imperativo e
proibitivo a lógica dos discursos, pensamentos, teorias sociais.
Com maior razão, o mesmo vale para a arte, que é absolutamente refratária a tudo o que parece uma obrigação, porque é o domínio da liberdade. É um luxo e um adorno que talvez seja bonito ter, mas que não se pode ser obrigado a adquirir: o que é supérfluo não se impõe. Ao contrário, amoral é o mínimo indispensável, o estritamente necessário, o pão cotidiano sem o qual as sociedades civis não podem viver. A arte corresponde à necessidade de que temos de difundir nossa atividade social sem objetivo, pelo prazer de difundi-la, enquanto a moral nos obriga a seguir um caminho determinado em direção a um objetivo definido – e quem diz obrigação diz, com isso, coerção. Conquanto possa estar animada por essas ideias morais ou ver-se envolvida na evolução moral própria, a arte não é moral por si mesma. A observação estabelecida nos indivíduos, como nas sociedades, de um tal desenvolvimento intemperante das faculdades estéticas é um grave sintoma do ponto de vista da moralidade. Vale lembrar, segundo Durkheim (2010) que de todos os elementos da civilização, a ciência é o único que, em certas condições, apresenta um caráter moral. De fato, as sociedades tendem cada vez mais a considerar um dever para o indivíduo desenvolver sua inteligência, assimilando as verdades científicas que são estabelecidas. Há número de conhecimentos que devemos possuir.
Ninguém é obrigado a se lançar no grande turbilhão industrial; ninguém é obrigado a ser artista; mas todo o mundo é obrigado a não ser ignorante. Essa obrigação é, inclusive, sentida com tamanha força que, em certas sociedades, não é apenas sancionada pela opinião pública, mas pela lei. Aliás, não é impossível entrever de onde vem esse privilégio especial da ciência. É que a ciência nada mais é do que a consciência levada a seu mais alto ponto de clareza. Ora, para que as sociedades possam viver nas condições de existência que lhe são dadas, é necessário que o campo da consciência, tanto individual como social, se estenda e se esclareça. Os meios em que elas vivem se torna cada vez mais complexos e, por conseguinte, cada vez mais móveis, para durar é preciso que elas mudem com frequência. Por outro lado, sabemos o quanto mais obscura uma consciência, mais é refratária à mudança, porque não vê depressa o bastante que é necessário mudar, nem em que sentido é preciso mudar; ao contrário, uma consciência esclarecida sabe preparar de antemão a maneira de se adaptar a essa mudança social. Eis porque é necessário que a inteligência guiada pela ciência adquira uma importância maior no curso da vida coletiva. Mas a ciência que todo o mundo é assim chamado a possuir não merece ser designada por esse nome. Não é a ciência, é no máximo sua parte comum a mais geral. Ela se reduz a um pequeno número de conhecimentos indispensáveis, que só são exigidos de todos por estarem disponíveis ao alcance de todos. A ciência supera infinitamente esse nívelamento vulgar. Ela compreende o que é presumivelmente vergonhoso ignorar, como um navio na praia, que é possível saber.
Ela não supõe apenas, nos que a cultivam, essas faculdades
médias que todos possuem, mas disposições especiais. Senão a uma elite, não é
obrigatória; mas não é necessária a ponto de a sociedade reclamá-la
imperativamente. É vantajoso estar munido dela; nada há de imoral em não a
adquirir. Paris, a capital de D’Amour,
foi palco de um extraordinário e concreto romance. Ao organizar os paradigmas e
modelos explicativos associa-se o determinismo organizado dos sistemas de
convicção e de crença que, quando reinam em uma sociedade, impõem a todos a
força imperativa do sagrado, a força normalizadora do dogma, a força proibitiva
do tabu. As doutrinas e ideologias dominantes dispõem também da força
imperativa e coercitiva que evidencia aos convictos e o temor inibitório aos
desalmados. A partir deste fundamento etnográfico, compreendemos que ordem,
desordem e organização são elementos essenciais para o entendimento da questão
da complexidade, pois se desintegram e se desorganizam ao mesmo tempo na
história singular da vida. Constata-se que o sentido da realidade se dá por
meio da relação do todo com as partes e vice e versa em uma análise integradora
em que não é pertinente examinar como tal a partir de uma única matriz de
racionalidade.
A desordem torna-se indispensável para a organização social
da vida humana, pois a sociedade é dependente de acontecimentos/fatos que
possam modificar a ordem já estabelecida para gerar novos meios de organização
entre os sujeitos. Há um imprinting cultural, matriz que estrutura o
conformismo, e há uma normalização que o impõe. O imprinting é um termo que
Konrad Lorentz propôs para dar conta da marca incontornável pelas primeiras
experiências do jovem animal, como o passarinho que, ao sair do ovo, segue como
se fosse sua mãe, o primeiro ser vivo ao seu alcance. Há um imprinting
cultural que marcam os humanos, desde o nascimento, com o selo da cultura,
primeiro familiar e depois da escola e da proximidade com a igreja e sua
relação normativa comunitária, prosseguindo na universidade ou na profissão.
Contrariamente à orgulhosa pretensão dos intelectuais e cientistas, o
conformismo cognitivo não é de modo algum uma marca de subcultura que afeta as camadas subalternas da sociedade. Os subcultivados sofrem um
imprinting e uma normalização atenuados e, diz Morin, há “mais opiniões
pessoais diante do balcão de café do que num coquetel literário”.
Embora contrariados em contradição com seu desenvolvimento
liberal intelectual que permite a expressão de desvios e de ideias e formas
escandalosas, o imprinting e a normalização crescem paralelamente com a
aquisição real da cultura. O imprinting cultural determina à desatenção
seletiva, que nos faz desconsiderar tudo aquilo que não concorde com as nossas
crenças, e o recalque eliminatório, que nos faz recusar toda informação
inadequada às nossas convicções, ou toda objeção vinda de fonte técnica
considerada ruim. A normalização manifesta-se de maneira repressiva ou
intimidatória. Cala os que teriam a tentação de duvidar ou de contestar. A
normalização, portanto, com seus subaspectos de conformismo, exerce uma
prevenção contra o desvio e elimina-o, se ele se manifesta. Mantém, impõe a
norma do que é importante, válido, inadmissível, verdadeiro, errôneo, imbecil,
perverso. Indica os limites a não ultrapassar. As palavras que não devem
proferir. Os conceitos a desdenhar, as teorias a desprezar. O imprinting
assimila a perpetuação dos modos de conhecimento e verdades estabelecidas.
Obedece a processos de tribunais: uma cultura produz modos de conhecimento
entre os homens dessa própria cultura. Através do seu modo de conhecimento,
reproduzem a legitimidade que produz esse conhecimento. As crenças que se
impõem são fortalecidas pela fé que as suscitaram. Se reproduzem não somente os
conhecimentos, mas as estruturas e os modos reguladores que determinam a
invariância desses próprios conhecimentos.
É isto exatamente o que ocorre. A prova disso, no entanto,
ocorre com as anulações de concursos quando não surge o candidato certo. Mas o
inegavelmente ridículo é quando operam um parecer contrário. Sustentando que a
carreira do pesquisador não apresenta o desempenho (fálico) estimulado,
ultrapassado pela quase “meia verdade”, caraterizada pelo conceito de estigma
especificamente propalado por um cientista político estudioso das relações
concretas de poder nas instituições. Mas isso não deve mascarar ou anular a
originalidade complexa da comunidade/sociedade constituída pela trupe de
cientistas, nem as ideias fixas, as obsessões intelectuais, themata,
autônomas e dissociadas da estrutura social, que animam ou dispensam a busca
específica da verdade objetiva da qual Michel Foucault, com razão, apoiando-se
na exterioridade visível que Magritte nomeia seus quadros fabulosos infere
dizendo: “Ceci n`est pas um pipe”, para impor respeito à denominação. René
Magritte praticava tanto o surrealismo realista, como de uma forma muito
interessante o realismo mágico. Começou a imitar a vanguarda, mas precisava
realmente de uma linguagem mais poética e viu-se influenciado pela pintura
metafísica de Giorgio de Chirico.
Nesse espaço quebrado e à deriva, que exige respeito,
estranhas relações se tecem, intrusões se produzem, bruscas invasões
destrutoras, quedas de imagens em meios às palavras, fulgores verbais que
atravessam os desenhos e fazem-no voar em pedaços. Pacientemente, Paul Klee
(1879-1940) constrói um espaço sem nome nem geometria, entrecruzando a cadeia
dos signos e a trama das figuras. Magritte, quanto a ele, mina em segredo um
espaço que parece mante na disposição tradicional. Mas ele o cava com palavras:
e a velha pirâmide da perspectiva está carcomida em seu secreto mórbido está
aponto de ruir, a sair de si própria e isolar-se. A arte da conversa, segundo
Foucault (2016: 49) cotidianamente, “é a gravitação autônoma das coisas que
fizeram suas próprias palavras na indiferença dos homens, impondo-a a eles, sem
mesmo que eles o saibam, em sua tagarelice cotidiana”. De fato, há nas formas sociais de motivação
científica, um complexo variável e instável de interesse e desinteresse, do
qual as buscas do graal de verdade, objetividade científico-social, elucidação
são partes integrantes. Assim, a cegueira sobre tudo o que não é ambição,
conhecimento e interesse social e vaidade nos esclarece apenas sobre as
motivações e os comportamentos dos que semeiam a cegueira. É que à
sombra do paradigma dominante, que o jovem Marx, na Alemanha, insistia em
referir-se a questão expressa pela ideologia dominante e um intenso cretinismo, coquetel de
racionalização delirante, de sofística refinada e de grosseria determinista,
trivializou pela força o não-trivial.
Bibliografia Geral Consultada.
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