“Apenas os que dialogam podem construir pontes e vínculos”. Papa Francisco
Francisco,
S.J., nascido Jorge Mario Bergoglio, em Buenos
Aires, em 17 de dezembro de 1936 e morto na cidade do Vaticano, em 21 de abril
de 2025, foi o 266º Papa da Igreja Católica, Bispo de Roma e Soberano da Cidade
do Vaticano de 13 de março de 2013 até a data da sua morte. Foi o primeiro
Bispo de Roma a ser membro da Companhia de Jesus (Jesuítas), o primeiro nascido
nas Américas e no Hemisfério Sul, bem como o primeiro pontífice não nascido na
Europa em mais de 1 200 anos e o primeiro papa a utilizar o nome de Francisco.
Tornou-se arcebispo de Buenos Aires em 28 de fevereiro de 1998 e foi elevado ao
cardinalato em 21 de fevereiro de 2001, véspera da festa da Cátedra de São
Pedro, com o título de Cardeal-presbítero de São Roberto Belarmino, por São
João Paulo II. Foi eleito papa em 13 de março de 2013. No decorrer de sua vida
pública, Papa Francisco destacou-se por sua humildade, preocupação com os
pobres e compromisso com o diálogo inter-religioso. Francisco teve uma
abordagem menos formal ao papado do que seus antecessores, tendo escolhido
residir na casa de hóspedes Domus Sanctae Marthae, em vez de nos
aposentos papais do Palácio Apostólico usado por papas anteriores. Ele
sustentava que a Igreja deveria ser mais aberta e acolhedora. Não apoiava o
capitalismo definido “selvagem”, o marxismo de Karl Marx (1818-1883), ou as versões
marxistas da Teologia da Libertação. Francisco manteve as visões tradicionais
da Igreja em relação ao aborto, casamento, ordenação de mulheres e celibato
clerical. Opunha-se ao consumismo e apoiava a ação sobre as mudanças
climáticas, escopo de seu papado com a promulgação da Encíclica Laudato si'. Na
diplomacia internacional, ajudou a restaurar as relações diplomáticas entre os
Estados Unidos e Cuba e apoiou a causa dos refugiados durante as crises
migratórias da Europa e da América Central. Desde 2018, é um oponente vocal tradicional do neonacionalismo. Enteretanto, seu papado deu ênfase ao combate de abusos sexuais por membros do clero
católico, tornando obrigatórias as denúncias e responsabilizando quem as omite.
Jorge Mario Bergoglio nasceu numa família de imigrantes italianos. O seu pai, Mario Giuseppe Bergoglio, nascido na cidade de Turim (Piemonte) em 2 de abril de 1908 e falecido em 24 de setembro de 1961, era um trabalhador ferroviário. Sua mãe, Regina Maria Sivori, nascida em Buenos Aires, de pais de origem piemontesa e lígure, em 28 de novembro de 1911 e falecida em 8 de janeiro de 1981, era dona de casa. Casaram-se na capital argentina no dia 12 de dezembro de 1935. Mario Giuseppe também jogava basquetebol no San Lorenzo, um dos cinco grandes do futebol argentino e cujas origens haviam sido impulsionadas por um padre. Jorge tornar-se-ia torcedor sanlorencista, tendo afirmado que não perdeu nenhum jogo do título argentino de 1946, quando tinha dez anos. Em carta aos dirigentes do clube que o visitaram uma semana após tornar-se Papa, relembrou: “Tem vindo à minha memória, belas recordações, começando desde a minha infância. Segui, aos dez anos, a gloriosa campanha de 1946. Aquele gol de Pontoni!”. Nascido e criado no bairro de Flores, sede do San Lorenzo, o Papa Francisco era o mais velho de cinco filhos: Oscar Adrián Bergoglio (1938–1997), Marta Regina Bergoglio (1940–2007), Alberto Horácio Bergoglio (1942–2010) e Maria Elena Bergoglio, nascida em 1948, sua única irmã viva. Inicialmente, alguns órgãos de imprensa teriam afirmado que Jorge Bergoglio fez graduação e mestrado em química, na Universidade de Buenos Aires, porém mais tarde se verificou que esta informação era incorreta, tendo ele apenas um diploma técnico em química pela Escuela Técnica Industrial n° 27 Hipólito Yrigoyen, Buenos Aires, Argentina. Na juventude, teve uma doença respiratória que infelizmente numa operação de remoção lhe fez perder um pulmão.
Durante a sua adolescência, teve uma namorada, Amalia. Ingressou no noviciado da Companhia de Jesus em 11 de março de 1958. Fez o juniorado em Santiago, Chile. Graduou-se em Filosofia em 1960, na Universidade Católica de Buenos Aires. Entre os anos 1964 e 1966, ensinou Literatura e Psicologia, no Colégio Imaculada, na Província de Santa Fé, e no Colégio do Salvador, em Buenos Aires. Graduou-se em Teologia em 1969. Recebeu a ordenação presbiteral no dia 13 de dezembro de 1969, pelas mãos de Dom Ramón José Castellano. Emitiu seus últimos votos na Companhia de Jesus em 1973, quando também foi nomeado Mestre de Noviços, no Seminário da Villa Barilari, em San Miguel. No mesmo ano foi eleito superior provincial dos jesuítas, na Argentina. Em 1980, após o período do provincialato, retornou a San Miguel, para ensinar em uma escola dos jesuítas. No período de 1980 a 1986 foi reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel. Após obter seu doutorado na Alemanha, foi confessor e diretor espiritual em Córdoba. Francisco falava fluentemente o castelhano (sua língua materna), italiano, relativamente bem francês e alemão, e pouco o inglês, assim como o português e o latim. Em 20 de maio de 1992, o Papa João Paulo II o nomeou bispo auxiliar de Buenos Aires, com a ser titular de Auca (Aucensi). Sua ordenação episcopal deu-se a 27 de junho de 1992, pelas mãos do cardeal Quarracino, de Dom Emilio Ogñénovich e de Dom Ubaldo Calabresi. Em 3 de junho de 1997, foi nomeado arcebispo coadjutor de Buenos Aires. Tornou-se arcebispo de Buenos Aires no dia 28 de fevereiro de 1998. Foi nomeado ordinário para os fiéis de rito oriental sem ordinário próprio, pelo populismo católico do Papa João Paulo II (1920-2005), em 30 de novembro de 1998.
A famosa frase: - “No futuro, todos terão seus quinze minutos de fama”, como profetizou certa vez o cineasta e pintor norte-americano Andy Warhol, reconhecido pelos coloridos retratos da glamorosa Marilyn Monroe e Elvis Presley tornou-se sua marca na modernidade. Mais do que isso, sua fama parece ter se tornada eterna, como tem ocorrido no tempo e espaço quando é cada vez mais celebrada. É o que garante o jornal norte-americano The New York Times. No primeiro semestre de 2015, por exemplo, foram programadas pelo menos três mostras com criações de Andy Warhol nos Estados Unidos da América. Em uma extensa reportagem sobre o legado de um dos criadores e principal representante da Pop Art, o jornal divulgou que nada menos que 40 exposições com obras do artista, muitas delas até então inéditas para o público, “inundarão museus e instituições de arte nos próximos cinco anos”. Isso porque a fundação que leva o nome de Andy Warhol está na terceira fase de um projeto que visa popularizar cada vez mais o trabalho do artista, morto em 1987. É neste sentido que a fundação doou mais de 14 mil obras, sobretudo fotografias e gravuras, “com a condição de que os museus as exibam no prazo de cinco anos”. Já foram distribuídas, desde 1999, 52.786 obras do artista para 322 instituições diversas, sobretudo em seu significado nos Estados Unidos da América. Neste sentido, marca é a representação simbólica de uma entidade, qualquer que seja ela, objeto/símbolo que permite identificá-la de um modo imediato como, por exemplo, um sinal de presença, uma simples pegada. Na teoria social da comunicação, isto é, em sua dimensão, pode ser um signo, um símbolo ou um ícone.
Uma simples palavra pode referir uma marca. O termo é frequentemente
usado hoje em dia como referência a uma determinada empresa: um nome, uma marca
verbal, imagens ou conceitos que distinguem o produto, serviço ou a própria
empresa. Quando se fala em marca, é comum estar se referindo, na maioria das
vezes, a uma representação gráfica no âmbito e competência do designer, onde a
marca pode ser representada graficamente por uma composição de símbolo ou
logotipo, tanto individualmente quanto combinados. No entanto, o conceito de
marca é bem mais abrangente que a sua representação gráfica. Marca não é um
conceito fácil de definir. A marca em essência representa produção-consumo com
uma série específica de atributos, benefícios e serviços uniformes aos
compradores. A garantia de qualidade surge entre marcas, mas a marca é um
símbolo mais complexo, pois em princípio, a relação social entre complexo e
símbolo, coincide em muitos aspectos do desejo, comparativamente, pois ambos se
enraízam num núcleo de significado arquetípico. Analogamente se referem
sociologicamente enquanto um conjunto de práticas e saberes sociais a unidades
de geração que desenvolvem perspectivas, reações e posições políticas e
afetivas diferentes em relação a um mesmo mercado de consumo editorial. O nascimento
em um contexto idêntico, mas em um período específico, faz surgirem
diversidades nas ações dos sujeitos. Outra característica é a adoção ou criação
de estilos distintos pelos indivíduos, mesmo vivendo em um mesmo nível
social. A unidade geracional constitui uma adesão mais concreta em relação
àquela estabelecida pela conexão geracional.
Mas
a forma como grupos sociais da mesma conexão geracional lida com os fatos
históricos vividos, por sua geração, fará surgir distintas unidades geracionais
no âmbito da mesma conexão geracional no conjunto da sociedade. O sociólogo Karl
Mannheim não esconde sua preferência pela abordagem histórico-romântica alemã.
E destaca que este é um exemplo bastante claro de como a forma de se colocar
uma questão pode variar de país para país, assim como de uma época para outra. Ipso
facto, sociologicamente falando a relação social entendida por globalização
representa um dos processos de aprofundamento da divisão internacional do
trabalho, da integração econômica, social e política, em seus extremos que
teria sido impulsionado pela redução dos meios sociais de comunicação dos
países no final do século XX e início do século XXI. Embora vários estudiosos
situem a origem da globalização em tempos modernos, Marx analisou a sua
história social e econômica na gênese do industrial capitalista relacionado com
os chamados descobrimentos/achamentos do Novo Mundo pelos europeus. Um país com imprensa
livre hoje pode ter acesso, algumas vezes por televisão por assinatura ou
satélite, a emissoras de difusão de comunicação, desde a NHK do Japão a Cartoon
Network norte-americana. A globalização é analisada por sociólogos,
historiadores e cientistas políticos como o movimento social sob o qual se
constrói o processo de hegemonia econômica, política e cultural ocidental sobre
as demais nações. Esta nova dominação é constituída por redes assimétricas, e
as relações de poder se dão mais pela via cultural e econômica do que pelo uso
coercitivo de força.
Historicamente
as ordens mendicantes de franciscanos e dominicanos, formam uma
resposta surgida do interior da Igreja face a movimentos similares, mas que se
tinham colocado à margem e sobretudo fora da Igreja. Foram, portanto, uma
resposta a uma necessidade social política, cultural e religiosa daqueles
tempos. As suas características eram essencialmente urbanas: vida em
comunidade, vida itinerante, vida de pobreza como exemplo e pregação. Ao invés
das antigas ordens religiosas, especialmente os beneditinos, dedicados ao
trabalho manual e agrícola, estas novas ordens vão marcar e surgem e simultâneo
com o despontar da nova classe, a burguesia, constituída por comerciantes,
pequenos artificies, operários e serventes nas cidades. O seu carácter aberto e
não elitista, democrático na organização interna, a grande mobilidade que se
conjuga no tempo e lugar com a abertura das rotas comerciais na Europa, vão
tornar estas ordens religiosas atrativas para toda uma nova classe social,
urbana, em crescimento de literacia, ascendente social e politicamente, com
novas formas de expressão na retórica, na literatura, na arte e arquitetura e
na teologia. A ordem nasceu sob o signo
da verdade (Veritas, em latim), isto é o estudo, a pesquisa e a reflexão
e pregação da verdade revelada por Jesus Cristo e pela Igreja. Daí que não
surpreenda que este empreendimento comunicativo e de trabalho dentre inúmeros
membros da ordem se tenham tornado famosos teólogos, escritores e doutores da
Igreja. A sua atividade de ensino e da busca intelectual, tiveram como fruto
grande pensadores, e deram inúmeros contributos para a história social da
Europa e do mundo.
Nos quase oito séculos de história desta
ordem, inúmeros foram os seus membros que se destacaram, entre os quais se
realça Santo Tomás de Aquino, Santa Catarina de Siena, Santo Alberto Magno,
Beato Inocêncio V, Papa Bento XI, São Pio V, Papa Bento XIII, Henri Dominique
Lacordaire, Fr. Luís Beltran, Beato Raimundo de Cápua, Bartolomeu Las Casas,
São Raimundo de Penaforte, São Vicente Ferrer, São Francisco Coll e o Prêmio
Nobel da Paz de 1958, Dominique Pire. Em Portugal será de lembrar Frei Luís de
Sousa, André de Resende, S. Frei Gil, Fr. Soeiro Gomes, Frei Bartolomeu dos
Mártires, Teresa de Saldanha, Frei Francisco Foreiro, Frei Jerónimo de
Azambuja, Frei Luís de Soto Mayor, entre muitos outros. Após sofrerem tortura
física, os frades informam aos policiais o horário e o local de reunião do
grupo, onde Marighella costumava receber recursos oriundos dos frades.
Marighella foi então surpreendido e executado por policiais do velho Departamento
de Ordem Política e Social (Dops) paulista, sob o comando do delegado
Sérgio Paranhos Fleury. O Dops, criado em 30 de dezembro de 1924, foi o órgão
do governo brasileiro, utilizado principalmente durante o Estado Novo e mais
tarde na Ditadura Militar de 1964, cujo objetivo era censurar e reprimir
movimentos políticos e sociais contrários ao regime no poder. O órgão, que tinha
a função de assegurar e disciplinar a ordem militar no país foi instituído em
17 de abril de 1928 pela lei nº 2304 que tratava de reorganizar a Polícia do
Estado. Frei Betto, refugia-se no Rio Grande do Sul onde é encontrado, preso, e
une-se ao restante do grupo no presídio de Tiradentes, na capital São Paulo, em
1971. Os frades são posteriormente julgados e sentenciados a quatro anos de
reclusão em regime fechado. A única exceção é Frei Tito, que é libertado como
valor de troca do suíço Giovanni Enrico Bucher, com outros presos
políticos, em 11 de junho de 1970.
Frei
Tito não supera as sequelas psicológicas sofridas após ser preso e torturado:
comete suicídio. De acordo com Durkheim (2014), os indivíduos têm certo nível
de integração com os seus grupos, o que ele chama de integração social. Níveis
anormalmente baixos ou altos de integração social poderiam resultar num aumento
das taxas de suicídio: a) níveis baixos porque baixa integração social resulta
numa sociedade desorganizada, levando os indivíduos a se voltar para o suicídio
como uma última alternativa; b) níveis altos porque as pessoas preferem
destruir a si próprias a viver sob o grande exercício de controle da sociedade,
o que resultou no caso de suicídio egoísta no território norte-americano de
Ariel Castro. O trabalho de Durkheim influenciou os proponentes das teorias
sociais funcionais do controle, e é frequentemente mencionado como um estudo
sociológico clássico. Baseado em um dos três livros em que Frei Betto descreve
suas experiências na prisão, “Batismo de Sangue” é impactante e expõe de forma
nua e crua o que representou a ditadura civil-militar brasileira. O roteiro do
longa-metragem Batismo de Sangue é uma adaptação do livro homônimo de Frei
Betto, vencedor do prêmio Jabuti. O filme dirigido por Helvécio Ratton ganhou
os prêmios de Melhor Diretor e Melhor Fotografia no Festival de Brasília. A
película retrata a vida de cinco frades dominicanos e o desenrolar de seus
dias, cheios de perseguições, torturas e sofrimentos. Resistentes à ditadura
militar e movidos por ideais cristãos, os frades Tito, Betto, Oswaldo, Fernando
e Ivo passam a apoiar logística e politicamente o grupo guerrilheiro Ação
Libertadora Nacional, comandado por Carlos Marighella. Durante os primeiros
anos da ditadura instalada em 1964, jovens frades seguidores de São Domingos
desempenharam papel importante na oposição às forças armadas. Eles deram
cobertura à ALN, grupo guerrilheiro comandado por Carlos Marighella –
ex-deputado federal e um dos principais opositores do governo. Os frades
defendiam que viver o evangelho era integrar-se à comunidade através de
práticas sociais concretas, que defendessem os injustiçados. Pagaram o preço com perseguição, cadeia, tortura e exílio.
Frente
ao endurecimento do regime e das prisões de pessoas mais próximas a eles, os
cinco seminaristas são obrigados a se separar. Aos poucos, os que não conseguem
sair do país são presos – no meio da noite ou na rua, sem qualquer aviso prévio
e sem dar informações aos parentes e amigos, que ficam sem notícias alguma do
que está sendo feito dos presos políticos. Junto com as prisões, começam as
torturas. Aqueles que não têm parentes influentes, como é o caso de Betto,
sofrem violências intermináveis e são obrigados a delatar amigos e
companheiros. O filme demonstra também o lado psicológico dos torturados. Por
mais que estes queiram resistir, a tortura é forte demais e eles acabam cedendo
às pressões. Apesar dos nomes falsos e de todas as principais medidas de
segurança tomadas, um a um, eles vão caindo nas armadilhas do Aparelho
Repressivo de Estado. Dentro da prisão, cada um resiste também como pode e se
apoia nas possibilidades de comunicação e do que melhor poderá conseguir lutar
pela sua sobrevivência. É neste sentido que os freis, já presos, celebram uma
missa. Cercados por um contexto político em que os torturadores tentam ao nível
ideológico desacreditá-los de tudo que foi importante para eles. Em um lugar em
que muitos perdem a fé e a esperança no que estão fazendo, rezar uma missa e
relembrar tudo o que os trouxe até ali é dar força a si mesmos e aos outros, é
uma maneira de resistir à repressão e reafirmar sua rebeldia. Na linguagem
teórica as palavras e expressões funcionam como conceitos.
Foi
criado cardeal no Consistório Ordinário Público de 2001, ocorrido em 21 de
fevereiro de 2001, presidido pelo Papa João Paulo II (1920-2005), recebendo o
título de cardeal-presbítero de São Roberto Belarmino. Curiosamente, quando foi
nomeado, convenceu centenas de argentinos a não viajarem para Roma. Em vez de
irem ao Vaticano celebrar a nomeação, inversamente, “pediu que dessem o
dinheiro da viagem aos pobres”. Foi membro dos seguintes dicastérios, os
departamentos ou órgãos da Cúria Romana, a estrutura administrativa central da
Igreja Católica, que são responsáveis por diferentes áreas da vida e da missão
da Igreja, funcionando de forma semelhante a ministérios de um governo civil: Congregação
para o Clero; Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos; Congregação
para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica; Pontifícia
Comissão para a América Latina; Pontifício Conselho para a Família. O cardeal
Bergoglio foi eleito em 13 de março de 2013, no segundo dia do conclave,
escolhendo o nome de Francisco. Ele é o primeiro jesuíta a ser eleito Papa, o
primeiro Papa do continente americano, do Hemisfério Sul e o primeiro não
europeu investido como bispo de Roma em mais de 1 200 anos, desde Papa Gregório
III, que nasceu na Síria e governou a Igreja Católica entre 731-741. Quando lhe
foi perguntado, na Capela Sistina, se aceitava a escolha, disse: “Eu sou um
grande pecador, confiando na misericórdia e paciência de Deus, no sofrimento,
aceito”. O Habemus Papam foi através de Jean-Louis Pierre Tauran.
É
difícil escapar à impressão de que em geral as pessoas usam medidas falsas,
dizia Freud (2011), com razão, sobre a questão tópica do mal-estar na
civilização, de que buscam poder, sucesso, riqueza para si mesmas e admiram
aqueles que os têm, assim subestimando os autênticos valores da vida. E, no
entanto, corremos o risco, num julgamento assim genérico, de esquecer a
variedade do humano - last but not least – e de sua vida psíquica. Existem
homens que não deixam de ser venerados pelos contemporâneos, como Herman Hesse
(1877-1962), embora sua grandeza repouse em qualidades e realizações
inteiramente alheias aos objetivos e ideais da multidão. Provavelmente se há de
supor que apenas uma minoria reconhece esses grandes homens, enquanto a maioria
os ignora. Mas a coisa, é claro, pode não ser tão simples assim, devido à
incongruência entre as ideias e os atos das pessoas e à diversidade dos seus
desejos. A ideia de que o homem adquire noção de seu vínculo com o mundo por um
sentimento imediato, desde o início orientado para isso, é tão estranha,
ajusta-se tão mal à nossa trama, que podemos tentar uma explicação
psicanalítica, isto é, genética para esse sentimento. A seguinte linha de
pensamento se oferece. Normalmente nada é mais seguro do que o sentimento de
nós mesmos, de nosso Eu. Este Eu nos aparece como autônomo, unitário,
bem demarcado de tudo o mais. Que esta aparência é enganosa, que o Eu na
verdade, se prolonga para dentro, sem fronteira nítida, numa entidade psíquica
inconsciente a que denominamos Id, à qual ele serve de fachada – isto
aprendemos com a psicanálise, mas que não é bem o nosso caso, na
sociologia que propugnamos.
De
todo modo a patologia nos apresenta um grande número de estados em que a
delimitação do Eu ante o mundo externo se torna problemática, e nos faz
lembrar a expressão de despedida do extraordinário filósofo Gilles Deleuze que
tomamos de empréstimo, através das palavras, entre as palavras, que se vê e que
se ouve: - “A vergonha de ser um homem: haverá razão melhor para escrever?”. Ipso
facto, no prefácio à 2ª edição da obra Da Divisão do Trabalho Social, de
Émile Durkheim (2010) lembra-nos da ideia que ficou na penumbra na primeira
edição e que parece útil ressaltar e determinar melhor, pois ela esclarecerá
melhor algumas partes do presente trabalho. Trata-se do papel que os
agrupamentos profissionais estão destinados a desempenhar na organização social
dos povos contemporâneos. Mas o que proporciona, particularmente nos dias de
hoje, excepcional gravidade a esse estado é o desenvolvimento então
desconhecido, que as funções econômicas adquiriram nos últimos dois séculos,
aproximadamente. Estamos longe do tempo em que eram desdenhosamente abandonadas
às classes inferiores, pois diante delas, vemos as funções militares,
administrativas, religiosas recuarem cada vez mais. Somente as funções
científicas, adverte o pragmático sociólogo, que encetou sua obra magnífica em
torno de dez anos de produção ininterrupta, de reconhecimento, estão em
condição de disputar-lhes o lugar – e ainda assim, a ciência contemporaneamente
só tem prestígio na medida em que pode servir à prática, isto é, em grande
parte, condicionada na vida às “profissões econômicas”. É por isso que se pode
dizer que elas são ou tendem a ser essencialmente de tipos industriais.
Uma
forma de atividade generalizada que tomou lugar na vida social não pode,
evidentemente, permanecer tão desregulamentada, em seu desempenho e atividade,
sem que disso resulte os impactos sociais sobre a divisão do trabalho e as mais
profundas perturbações. Mas sofrer no trabalho não é uma fatalidade. É, em
particular, como decorre e testemunhamos, uma fonte de desmoralização geral
real. Pois, precisamente porque as funções econômicas absorvem o maior número
de cidadãos, para o pleno desenvolvimento da vida social, há uma multidão de
indivíduos, como dizia Freud, cuja vida transcorre quase toda no meio
industrial e comercial; a decorrência disso é que, como tal meio é pouco
marcado pela moralidade, a maior parte da existência transcorre fora de toda e
qualquer ação moral. A tese funcionalista expressa na pena de Émile Durkheim,
como uma espécie de antídoto da civilização, e que o sentimento do dever
cumprido se fixe fortemente em nós, é preciso que as próprias circunstâncias em
que vivemos permanentemente desperto. A atividade de uma profissão só pode ser
regulamentada eficazmente por “um grupo próximo o bastante dessa mesma
profissão para conhecer bem seu funcionamento, para sentir todas as suas
necessidades e poder seguir todas as variações destas”. O único grupo que
corresponde a essas condições é o que seria formado por todos os agentes de uma
mesma condição reunidos num mesmo corpo. E que a sociologia durkheimiana
conceitua de corporação ou grupo profissional. É na ordem econômica que o grupo
profissional existe tanto quanto a moral profissional. Desde que com a supressão técnica das antigas corporações, não se fizeram mais do que
tentativas fragmentárias e incompletas para reconstituí-las em novas bases
sociais.
Os
únicos agrupamentos dotados de permanência são os que se chamam sindicatos,
seja de patrões, seja de operários. Historicamente, temos aí in statu nascendi
o começo e o princípio ético de uma organização profissional, mas ainda de
forma rudimentar. Isto porque, em primeiro lugar, um sindicato é uma associação
privada, sem autoridade legal, desprovida, por conseguinte, de qualquer poder
regulamentador. O número deles é teoricamente ilimitado, mesmo no interior de
uma categoria industrial; e, como cada um é independente dos outros, se não se
constituem em federação e se unificam, não há neles nada que exprima a unidade
da profissão em seu conjunto de práticas e saberes sociais. Não só os
sindicatos de patrões e de empregados são distintos uns dos outros, o que é
legítimo e necessário, como não há entre eles contatos regulares. Não existe
organização comum que os aproxime sem fazê-los perder sua individualidade e na
qual possam elaborar em comum uma regulamentação que, estabelecendo suas
relações mútuas, imponha-se a ambas as partes com a mesma autoridade; por
conseguinte, é sempre a “lei dos mais forte” que resolve os conflitos, e o estado
de guerra subiste inteiro. Salvo no caso de seus atos pertencentes à esfera
moral comum estão na mesma situação. A tese sociológica in statu nascendi
é: para que uma moral e um direito profissionais possam se
estabelecer nas diferentes profissões, é necessário, pois, que a corporação, em
vez de permanecer um agregado confuso e sem unidade, se torne, ou antes, volte
a ser, um grupo definido, organizado, uma instituição pública.
Jean-Louis
Pierre Tauran nascido em Bordeaux, em 5 de abril de 1943 e morto em Hartford, em
5 de julho de 2018, foi um cardeal francês, Presidente-emérito do Pontifício
Conselho para o Diálogo Inter-Religioso e camerlengo da Câmara
Apostólica. Em 13 de março de 2013, foi encarregado de anunciar ao mundo a
escolha do Papa Francisco, com a célebre frase Habemus Papam. Nascido em
Bordeaux, França, seu nome de batismo é Louis-Pierre. Ele recebeu o sacramento
da confirmação em 5 de junho de 1955, a partir de Paul-Marie-André Richaud,
arcebispo de Bordeaux, futuro cardeal. Estudou na Pontifícia Universidade
Gregoriana, em Roma, licenciado em filosofia e teologia, e doutorado em Direito
Canônico de 1973 e no Instituto Católico de Toulouse. Também estudou na
Pontifícia Academia Eclesiástica, em Roma. Além de seu francês nativo, ele fala
espanhol, inglês e italiano. Ordenado padre em 20 de setembro de 1969, em
Bordeaux, por Marius Maziers, arcebispo de Bordeaux. Foi pároco na arquidiocese
de Bourdeaux. Entrou no serviço diplomático da Santa Sé em 1975. Secretário da
Nunciatura, na República Dominicana, entre 1975 e 1978. Secretário da
Nunciatura no Líbano, entre 1979 e 1983. Foi membro no Conselho para os
Assuntos Públicos da Igreja a partir de julho de 1983. Participou de missões no Haiti, de 1984 e Beirute e Damasco, em 1986 e da delegação
da Santa Sé para a Conferência sobre Segurança e Cooperação
Europeia, Conferência sobre o Desarmamento, em Estocolmo, na Suécia e no Fórum
Cultural em Budapeste, e sucessivas reuniões em Viena.
A
Cidade do Vaticano possui uma rede de comunicação social de transportes
razoavelmente bem desenvolvida considerando comparativamente a sua grandeza
espacial. Como país com 1,05 km de comprimento e 0,85 km de largura, que tem um
sistema de transporte de pequenas dimensões, sem aeroportos ou estradas. Existe
um heliporto e uma ferrovia de bitola padrão conectando-se à rede da Itália e à
estação de São Pedro de Roma por uma ferrovia de 852 m, onde apenas 300 m estão
dentro do território do Vaticano. O Papa João XXIII foi o primeiro Papa a fazer
uso desta estrada de ferro e o Papa João Paulo II a usou também, embora muito
raramente. O transporte ferroviário no Vaticano é utilizado principalmente para
transporte de mercadorias. Como a Cidade do Vaticano não tem aeroporto, pois é
um dos poucos estados independentes no mundo sem tal infraestrutura, é servida
pelos aeroportos que servem Roma, o Aeroporto Internacional de Roma e, em menor
medida, o Aeroporto de Roma Ciampino, que serve como porta de entrada e partida
para visitas internacionais do Papa. A cidade é servida por um sistema de
telefone moderno e independente, pela Farmácia do Vaticano e pelos correios. O
sistema postal foi fundado em 11 de fevereiro de 1929, e dois dias mais tarde
tornou-se operacional. Em 1 de agosto, o estado começou a liberar seus próprios
selos postais, sob a autoridade do Gabinete Filatélico e Numismático da Cidade
do Vaticano.
O serviço postal da cidade é, por vezes, reconhecido como “o melhor do mundo”, e as cartas chegam ao seu destino antes do serviço postal de Roma. O Vaticano também controla seu próprio domínio de Internet, rede mundial de computadores, que está registrado como (.va). O serviço de banda larga é amplamente fornecido na Cidade do Vaticano. À Cidade do Vaticano foi também atribuído um prefixo de rádio, HV, e às vezes é usada por operadores de rádio amador. A Rádio Vaticano, que foi organizada por Guglielmo Marconi (1874-1937), faz transmissões em frequências de ondas curtas, ondas médias e FM e na rede Internet. Suas principais antenas de transmissão estão localizadas em território italiano. Serviços de televisão são fornecidos através de uma outra entidade, o Centro Televisivo do Vaticano. O jornal L`Osservatore Romano é oficialmente semimultilingue da Santa Sé. É publicado por uma empresa privada, sob a direção de leigos católicos, mas como relatórios sobre as informações oficiais. No entanto, os textos oficiais de documentos estão na Acta Apostolicae Sedis, o jornal oficial da Santa Sé, que tem um apêndice para documentos da Cidade do Vaticano. Rádio Vaticano, o Centro Televisivo Vaticano, L`Osservatore Romano não são órgãos de Estado do Vaticano, distinta da Santa Sé, listadas no Anuário Pontifício, que os coloca na separadamente na seção “Instituições ligadas com a Santa Sé”, à frente das secções de serviço diplomático da Santa Sé no estrangeiro e ao Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé, após o que é colocado na seção sobre o Estado da Cidade do Vaticano.
A cultura do Vaticano é obviamente correspondente à cultura da Igreja Católica e o seu expoente são as obras de arquitetura como a Basílica de São Pedro, a Arquibasílica de São João de Latrão, a Praça de São Pedro, a Capela Sistina e a coleção dos Museus Vaticanos. O palácio onde reside o Papa tem 5 mil quartos, duzentas salas de espera, 22 pátios, 100 gabinetes de leitura, 300 casas de banho e dezenas de outras dependências destinadas a recepções diplomáticas. Dos fogões vaticanos saíram tentações como os ovos beneditinos (um capricho de Bento XI), a lagosta com trufa branca (habitual nas coroações do Renascimento), a mousse de faisão ao molho chaudfroid (prato preferido de Pio VI) ou o maçapão de água de rosas (uma iguaria na Idade Média). A arquitetura do Vaticano, o canto gregoriano cantado pelo Coro da Capela Sistina, além das vestimentas e símbolos utilizados pelo Papa, pelos Cardeais e pelos soldados da Guarda Suíça, são considerados como uns dos principais resquícios da cultura medieval na atualidade. A Biblioteca Apostólica Vaticana e as coleções dos Museus Vaticanos são da mais alta importância histórica, científica e cultural. Em 1984, o Vaticano foi adicionado pela UNESCO para a lista do Patrimônios Mundiais; é o único que consiste em um Estado inteiro. Além disso, é o único local registrado na UNESCO como um centro monumental no “Registo Internacional dos Bens Culturais sob Proteção Especial” de acordo com a Convenção para a Proteção dos Bens Culturais em Caso de Conflito Armado de Haia, assinada em 1954. No território do Vaticano existem vários edifícios de origem muito antiga. Contudo, existem propriedades que não estão na Cidade do Vaticano, mas que, em virtude do Tratado de Latrão assinado entre a Santa Sé e a Itália, estão sujeitas à extraterritorialidade com isenção de impostos e expropriação.
Vaticano
ou Cidade do Vaticano, em italiano: Stato della Città del Vaticano, é a
sede da Igreja Católica e uma cidade-Estado soberana sem costa marítima, cujo
território consiste de um enclave murado dentro da cidade de Roma, capital da
Itália. Com cerca de 44 hectares (0,44 km²) e com uma população estimada de 1
000 habitantes, é a menor entidade territorial do mundo administrada por um
Estado. O Tratado de Latrão, de 1929, que criou a cidade-Estado do
Vaticano, descreve-a como uma nova criação (preâmbulo e no artigo III) e não
como um vestígio dos muito maiores Estados Pontifícios (756–1870), que
anteriormente abrangiam a região central da Itália. A maior parte desse
território foi absorvida pelo Reino de Itália em 1860 e a porção final, a
cidade de Roma, com uma pequena área perto dela, dez anos depois, em 1870. Os
papas residem nesta harmoniosa área, que em 1929 tornou-se Cidade do Vaticano,
desde o retorno de Avinhão em 1377. Antes, residiam no Palácio de Latrão
na colina Célio, no lado oposto da cidade de Roma, local que Constantino cedeu
ao Papa Milcíades em 313. A assinatura dos Acordos que estabeleceram o novo
Estado teve recepção “lugar praticado” de produção de feitos de poder, neste último edifício, dando origem ao nome Tratado
de Latrão, pelo qual é reconhecido. A Cidade do Vaticano é um Estado
eclesiástico (ou teocrático-monárquico), governado pelo bispo de Roma, o Papa.
Nos primeiros mil anos da história católica, diferentes variedades do cristianismo se desenvolveram nas áreas cristãs ocidental (latino) e oriental da Europa. Embora a maioria das igrejas de tradição oriental não esteja mais em comunhão com a Igreja Católica, historicamente, após o Grande Cisma de 1054, atualmente participam igrejas particulares autônomas de ambas as tradições, também conhecidas como "igrejas sui iuris". A maior e mais conhecida é a Igreja Latina, a única igreja de tradição ocidental, com mais de 1 bilhão de membros em todo o mundo. Relativamente pequenas em termos de aderentes em comparação com a Igreja Latina, são as 23 igrejas católicas orientais autônomas, com um número combinado de 17,3 milhões de seguidores, de acordo com estimativas de 2010. A Igreja Latina é governada pelo papa e por bispos diocesanos designados diretamente por ele. O papa exerce um papel patriarcal direto sobre a Igreja Latina, que é considerada a parte original e ainda principal do cristianismo ocidental, uma herança de certas crenças e costumes originários da Europa e do noroeste da África, alguns dos quais são herdados por muitas denominações cristãs que traçam suas origens na Reforma Protestante. Uma igreja sui iuris é definida no Código de Cânones para as Igrejas Orientais como um “grupo de fiéis cristãos unidos por uma hierarquia” que é reconhecido pelo Papa em sua capacidade de autoridade suprema em questões de doutrina dentro da igreja. O termo é uma inovação do CCEO para denotar a relativa autonomia das Igrejas Católicas Orientais, que estão em comunhão com o Papa, mas possuem estruturas de governança e tradições litúrgicas separadas das da Igreja Latina.
Algumas igrejas católicas orientais são governadas por um patriarca que é eleito pelo sínodo dos bispos dessa igreja, outras são chefiadas por um arcebispo maior, outras estão sob uma metropolita e outras são organizadas como eparquias individuais. Cada igreja tem autoridade sobre os detalhes de sua organização interna, ritos litúrgicos, calendário litúrgico e outros aspectos de sua espiritualidade, sujeitos apenas à autoridade do papa. A Cúria Romana tem um departamento específico, a Congregação para as Igrejas Orientais, para manter relações com elas. Países, regiões ou grandes cidades são servidas por igrejas específicas conhecidas como dioceses na Igreja Latina, ou eparquias nas Igrejas Católicas Orientais, cada uma supervisionada por um bispo. Segundo dados estatísticos de 2008, a Igreja Católica possui 2 795 dioceses. Os bispos em um determinado país são membros de uma conferência episcopal nacional ou regional. As dioceses são divididas em paróquias, cada uma com um ou mais padres, diáconos ou ministros eclesiais leigos. As paróquias são responsáveis pela celebração diária dos sacramentos e pela pastoral dos leigos. De acordo com estimativas de 2016, hic et nunc existem 221,7 mil paróquias em todo o mundo. Na Igreja Latina, os homens católicos podem servir como diáconos ou sacerdotes, recebendo ordenação sacramental. Homens e mulheres podem servir como ministros extraordinários da comunhão, como leitores, ou como coroinhas. Historicamente, meninos e homens só foram autorizados a servir como “servidores de altar”; no entanto, desde os anos 1990, meninas e mulheres também são permitidas para esse tipo de serviço. Os católicos ordenados, bem como os membros dos leigos, podem entrar na vida consagrada, seja individualmente, como eremita ou “virgem consagrada”, ou ingressando em um instituto de vida consagrada, melhor dizendo, um instituto religioso ou um instituto secular, no qual recebe votos confirmando seu “desejo de seguir os três conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência”. Os conselhos evangélicos, em um contexto afetivo cristão, são geralmente entendidos como princípios e práticas inspirados na vida e ensinamentos de Jesus, que podem ser seguidos por pessoas que buscam uma vida mais radicalmente dedicada a Deus e ao serviço do próximo. Exemplos de institutos de vida consagrada são osque ocorrem entre os beneditinos, os carmelitas, os dominicanos, os franciscanos, os missionários da caridade, os legionários de Cristo e as irmãs da misericórdia.
“Institutos religiosos” é um termo moderno
que abrange “ordens religiosas” e “congregações religiosas”, que já foram
distinguidas no direito canônico. Os termos “ordem religiosa” e “instituto
religioso” tendem a ser usados como sinônimos coloquialmente. Por meio de
instituições de caridade católicas e além, a Igreja Católica é o maior provedor
não governamental de educação e saúde no mundo. A maior parte dos funcionários
públicos são os clérigos católicos de diferentes origens étnicas e nacionais. É
o território soberano da Santa Sé e de residência do Papa, referido como o
Palácio Apostólico. O tratado e os pactos associados receberam o nome do
Palácio de Latrão, onde foram assinados em 11 de fevereiro de 1929, e o
parlamento italiano os ratificou em 7 de junho de 1929. O tratado reconheceu a
Cidade do Vaticano como um Estado independente sob a soberania da Santa Sé. O
governo italiano também concordou em dar à Igreja Católica Romana “uma
compensação financeira pela perda dos Estados Pontifícios”. Em 1948, o Tratado
de Latrão foi reconhecido na Constituição da Itália como regulador das
relações entre o Estado e a Igreja Católica. O tratado foi significativamente
revisado em 1984, acabando com o status do catolicismo como “a única
religião estatal”. Francesco Pacelli foi o braço direito do secretário de
Estado de Pio XI, Pietro Gasparri, durante as negociações do Tratado de
Latrão. Durante a unificação da Itália em meados do século 19, os Estados
Pontifícios sob Pio IX resistiram à incorporação à nova nação, mesmo quando
quase todos os outros países italianos se juntaram a ela; entretanto, o sonho
de Camillo Cavour de proclamar o Reino da Itália a partir dos degraus da
Basílica de São Pedro não se concretizou.
O nascente Reino da Itália invadiu e ocupou a Romagna, a parte oriental dos Estados Pontifícios em 1860, deixando o Lácio nos domínios do papa. O Lácio, incluindo a própria Roma, foi ocupado e anexado em 1870. Nos anos seguintes, as relações entre o papado e o governo italiano foram hostis, e os direitos soberanos do papa ficaram reconhecidos como a Questão Romana. Os chamados Estados Pontifícios, para sermos breves, que compunham a parte central da península Itálica, pertenciam à Igreja Católica desde os tempos medievais, tendo sido doados pelo rei franco Pepino, o Breve, ao papa. No ano de 754, o papa Estêvão II recebeu de Pepino o ducado de Roma e as terras conquistadas dos lombardos com o título de Patrimônio de São Pedro. Em 1861, os italianos promoveram a unificação política da península, mas não conseguiram anexar Roma, dada a forte presença militar francesa em apoio ao papa. Em 1870, os alemães, liderados pelo Reino da Prússia, declararam guerra à França, durante o processo de unificação alemã. Napoleão III retirou as tropas francesas de Roma. Aproveitando este momento, os italianos anexaram Roma ao Reino de Itália. O papa Pio IX não aceitou a perda do “Patrimônio de São Pedro” e declarou-se prisioneiro do governo italiano, dando origem à Questão Romana. A conclusão da terceira guerra de Independência italiana não passou sem consequências para a situação política interna. Tanto os seguidores de Giuseppe Mazzini (1805-1872), político, maçom e revolucionário da unificação italiana, quanto os católicos lançavam violentas acusações contra a forma de administração moderada. A isto juntou-se a crise do governo Bettino Ricasoli (1809-1880) e sua substituição por um governo presidido por Urbano Rattazzi em 10 de abril de 1867. Foi neste clima político fervoroso, envenenado pelas malditas polêmicas e marcado pela invenção crescente impopularidade do governo, que amadureceu a última empresa do chamado “partido de ação”, intencionado marchar sobre Roma um pequeno exército de voluntários comandado por Giuseppe Garibaldi (1807-1882) e a jogar “a carta da insurreição popular na capital”.
Ainda uma vez Rattazzi politicamente assumiu atitude ambígua, antes aprovando tacitamente a empresa, e depois chamado por Napoleão III a respeitar os empenhos assumidos pelo governo italiano, fazendo prender Garibaldi em Sinalunga, na província de Siena em 24 de setembro de 1867 e forçando-o a estadia obrigatória em Caprera. Mas com isto não conseguiu parar a ação. Poucos dias depois, evitando o bloqueio naval em volta da ilha, Garibaldi conseguiu chegar até a Toscana e assumir o comando de mais de 9 mil voluntários. No mesmo tempo, Napoleão III julgando que foram violados os Acordos, ordenou a partida de Tolone de uma expedição de 20 000 homens com destino a Roma para garantir a proteção do papa. Uma primeira tentativa de insurreição falhou entre os dias 22 e 23 de outubro de 1867: um grupo de voluntários, guiado pelos irmãos Enrico e Giovanni Cairoli (1842-1869), penetrou na cidade com objetivo de levar armas para os revolucionários, mas deparou-se com os guardas pontifícios em Villa Glori. Os mortos foram 76, incluindo dois irmãos comandantes. Três dias mais tarde Giuseppe Garibaldi, chegando em Monterotondo, próximo de Roma, obrigou a guarnição pontifícia a se render, mas em 3 de novembro de 1867, em Mentana, último posto avançado no caminho da capital, sofreu uma dura derrota por parte da guarnição francesa que tinha acabado de desembarcar em Civitavecchia e que era superior em número e sobretudo armada com os novíssimos fuzis Chassepots, que eram recarregáveis pela culatra.
A adoção do fuzil Chassepot em 30 de agosto de 1866 foi acelerada pela vitória do Reino da Prússia sobre a Áustria em Sadová, obtida em boa parte graças ao uso do moderno fuzil Dreyse, depois pela adoção pelo Reino da Baviera do fuzil Werder M1869. O fuzil Chassepot foi fabricado pela Manufacture d`armes de Saint-Étienne (MAS), Manufacture d`Armes de Châtellerault (MAC), Manufacture d`Armes de Tulle (MAT) e, até 1870, na Manufacture d`Armes de Mutzig no antigo Château des Rohan. Muitos também foram fabricados sob contrato na Inglaterra, os Chassepots “Potts et Hunts” entregues à Marinha Francesa, na Bélgica (em Liège) e na Itália em Brescia (pela Glisenti). O número aproximado de fuzis Chassepot disponíveis para a “Armée de terre” em julho de 1870 era de 1 037 555 unidades. Além disso, os fabricantes estaduais podiam entregar 30 mil novos fuzis por mês. Os fabricantes de armas na Inglaterra e na Áustria também produziram fuzis Chassepot para apoiar o esforço de guerra francês. O arsenal Steyr na Áustria entregou 12 mil carabinas Chassepot e 100 mil peças para a França em 1871. A fabricação do fuzil Chassepot terminou em fevereiro de 1875, quatro anos após o fim da Guerra Franco-Prussiana, com aproximadamente 700 mil outros fuzis Chassepot fabricados entre setembro de 1871 e julho de 1874. O Chassepot recebeu o nome de seu inventor, Antoine Alphonse Chassepot (1833–1905), que, a partir de meados da década de 1850, construiu várias formas experimentais de fuzis por retrocarga.
Os
dois primeiros modelos do Chassepot ainda usavam o sistema de espoleta de
percussão. O terceiro modelo, usando um sistema semelhante ao fuzil de agulha
Dreyse prussiano, tornou-se o fuzil de serviço francês em 30 de agosto de 1866.
No ano seguinte, fez sua primeira aparição na Batalha de Mentana em 3 de
novembro de 1867, onde infligiu graves perdas sobre as tropas de Giuseppe
Garibaldi. Foi relatado no Parlamento francês que “Les Chassepots ont fait
merveille!”. As pesadas balas de chumbo
cilíndricas disparadas em alta velocidade pelo fuzil Chassepot causaram feridas
que foram ainda piores do que as do fuzil Minié. Em 1868, todo o exército
francês ativo foi rearmado com o Chassepot. Na Guerra Franco-Prussiana
(1870-1871), o Chassepot encontrou sua contraparte prussiana, o fuzil Dreyse. O
Chassepot tinha várias vantagens sobre o Dreyse. Ele apresentava um obturador
de borracha na “cabeça” do ferrolho para fornecer uma vedação de gás mais
eficiente. Embora tenha disparado um calibre menor (11 mm vs. 15,4 para o
Dreyse), a munição do Chassepot tinha mais pólvora (5,68 gramas contra 4,85
gramas), resultando em maior velocidade de saída (436 metros por segundo, 33%
sobre o Dreyse), a trajetória mais plana e um alcance mais longo. Assim, as
miras do Chassepot poderiam ser elevadas até 1 600 metros, enquanto a
configuração de miras máxima do Dreyse era de apenas 600 metros. O Chassepot
pesava 4,1 kg contra 4,57 kg do fuzil de agulha. Também era mais curto (1 310
mm vs. 1 424 mm). Após a guerra, 20 mil fuzis Chassepot capturados foram
vendidos ao Xá da Dinastia Persa Cajar. O excedente do Chassepot foi exportado
para a China. Guerreiros do Império Etíope foram equipados com fuzis
Chassepot durante a Primeira Guerra Ítalo-Etíope de 1896.
A
Guarda Suíça Pontifícia, também conhecida como Guarda Suíça Papal ou
simplesmente Guarda Suíça, é uma força armada, guarda de honra e unidade de
segurança protetora, mantida pela Santa Sé que protege o Papa e o Palácio
Apostólico dentro do território do Estado da Cidade do Vaticano. Estabelecida
em 1506 pelo Papa Júlio II, está entre as unidades militares mais antigas em
operação contínua, e às vezes é chamada de "o menor exército do mundo”. A Guarda Suíça é reconhecida por seu uniforme
de gala da era renascentista, consistindo de uma túnica listrada em vermelho,
azul escuro e amarelo, capacete alto com plumas e armas tradicionais, como a
alabarda. Os guardas desempenham suas funções de proteção em trajes funcionais
e com armas de fogo modernas. Desde a tentativa de assassinato do Papa João
Paulo II em 1981, a Guarda tem dado maior ênfase às suas funções não
cerimoniais e tem visto treinamento aprimorado em antimilitares irregulares,
ataques estilo comando , contrainteligência , táticas de contra-atirador,
contraterrorismo , combate a curta distância, desarmamento e descarte de bombas
, proteção executiva, resgate de reféns, inteligência humana, evacuação médica
, reconhecimento , direção tática, serviços médicos táticos e tiro rápido
tático com armas de pequeno porte. A Guarda Suíça é uma unidade militar de
elite e altamente seletiva em seu recrutamento: os candidatos devem ser homens
católicos suíços solteiros, com idade entre 19 e 30 anos e pelo menos 1,74
metros, que tenham concluído o treinamento básico com as Forças Armadas Suíças
e possuam um diploma profissional ou Ensino Médio.
Em
2024, havia 135 membros. A missão de segurança da Guarda Suíça estende-se às
viagens apostólicas do Papa, ao palácio pontifício de Castel Gandolfo e ao
Colégio Cardinalício quando o trono papal está vago. Embora a Guarda atue como
vigilante da Cidade do Vaticano, a segurança geral e a aplicação da lei da
cidade-estado são conduzidas pelo Corpo de Gendarmaria da Cidade do Vaticano,
que é um órgão separado. A Guarda Suíça Pontifícia tem suas origens no século
XV. O Papa Sisto IV (1471-1484) aliou-se à Confederação Suíça e construiu
quartéis na Via Pellegrino após prever a possibilidade de recrutar mercenários
suíços. O pacto foi renovado pelo Papa Inocêncio VIII (1484-1492) para usar
tropas suíças contra o Duque de Milão. Alexandre VI (1492-1503) posteriormente
utilizou os mercenários suíços durante sua aliança com o Rei da França. Durante
o reinado dos Bórgias, começaram as Guerras Italianas, nas quais os mercenários
suíços eram presença constante nas linhas de frente entre as facções em guerra,
às vezes pela França, às vezes pela Santa Sé ou pelo Sacro Império
Romano-Germânico. Os mercenários se alistaram quando souberam que o Rei Carlos
VIII da França entraria em guerra com Nápoles. Entre os participantes da guerra
contra Nápoles estava o Cardeal Giuliano della Rovere, o futuro Papa Júlio II
(1503-1513), que conhecia bem os suíços, tendo sido Bispo de Lausanne anos
antes. A expedição fracassou, em parte graças às novas alianças realizadas por
Alexandre VI contra os franceses.
Quando
o Cardeal della Rovere se tornou Papa Júlio II em 1503, ele pediu à Dieta Suíça
que lhe fornecesse um corpo constante de 200 mercenários suíços. Isso foi
possível graças ao financiamento dos mercadores alemães de Augsburg, Ulrich e
Jacob Fugger, que haviam investido no Papa e acharam adequado proteger seu
investimento. É uma cidade no Sul do estado alemão da Baviera. É a capital e
sede de administração da Suábia bem como da respectiva região administrativa
(Bezirk). Atualmente, a cidade tem cerca de 270 000 habitantes e é desse modo a
terceira maior cidade da Baviera, depois de Munique e Nuremberg. Augsburgo é
uma “cidade independente” (Kreisfreie Städte) ou distrito urbano (Stadtkreis),
ou seja, possui estatuto de distrito (kreis). Situa-se na confluência
dos rios Wertach e Lech. Em setembro de 1505, o primeiro contingente de 150
soldados partiu em marcha para Roma, sob o comando de Kaspar von Silenen
(1467-1517), e entrou na cidade em 22 de janeiro de 1506, agora considerada a
data oficial da fundação da Guarda. – “Os suíços veem a triste situação da
Igreja de Deus, Mãe do Cristianismo, e percebem quão grave e perigoso é que
qualquer tirano, ávido por riquezas, possa atacar impunemente a Mãe comum do
Cristianismo”, declarou o teólogo suíço Ulrico Zuínglio (1484-1531), que mais
tarde se tornou um reformador protestante.
O
Papa Júlio II (1443-1513) concedeu mais tarde à Guarda o título de “Defensores
da liberdade da Igreja”. A força variou muito em tamanho ao longo dos anos e,
ocasionalmente, foi dissolvida e reconstituída. Seu engajamento hostil mais
significativo foi em 6 de maio de 1527, quando 147 dos 189 Guardas, incluindo
seu comandante Caspar Röist (1478-1527), morreram lutando contra as tropas do
Sacro Imperador Romano Carlos V na resistência feita pela Guarda Suíça durante
o Saque de Roma, a fim de permitir que Clemente VII escapasse pelo
Passetto di Borgo, escoltado pelos outros 42 guardas. O último campo de batalha
está localizado no lado sul da Basílica de São Pedro, perto do Campo Santo
Teutônico (Cemitério Alemão). Clemente VII foi forçado a substituir a
Guarda Suíça esgotada por um contingente em torno de 200 mercenários alemães (Custodia
Peditum Germanorum). Em 1537, o Papa
Paulo III (1468-1549) ordenou que a Guarda Suíça fosse reintegrada e enviou o
Cardeal Ennio Filonardi (1466-1549) para supervisionar o recrutamento. O sentimento
antipapal na Suíça dificultou o recrutamento. Em 1548, o papado chegou a um
Acordo com o prefeito de Lucerna, Nikolaus von Meggen, para empossar 150 novos
guardas suíços sob o comandante Jost von Meggen, sobrinho do prefeito. Nikolaus foi o prefeito de Lucerna em 1548. A Guarda Suíça tornou-se associada à família de Franz Ludwig Pfyffer von Altishofen, (1699-1772),
militar suíço, 15º Comandante da Guarda Suíça Pontifícia Pfyffer von Altishofen
que forneceu nove em cada dez comandantes entre 1652 e 1847.
Forçado
a recuar em território italiano, Garibaldi foi preso pelas tropas do rei e
enviado de volta para Caprera. A onda de indignação da opinião pública contra o
governo, presidido pelo general Luigi Federico Menabrea, sucedido a Urbano
Rattazzi em 27 de outubro de 1867 no auge da crise romana, e contra a França
foi muito forte e juntou-se à crise aberta pela lei sobre o moído. Em 14 de
dezembro de 1869 o governo Menabrea foi forçado a demitir-se e foi substituído
por um ministério presidido por Giovanni Lanza, que se valeu, como ministro das
finanças, da obra muito eficaz de Quintino Sella. Tratava-se de uma virada em
relação aos governos anteriores, regidos por homens de confiança do rei (o chamado
“partido da corte”), quase sempre reconhecido sem a prerrogativa de experiência
política e econômica. Ele dedicou-se primeiro ao “saneamento financeiro” e
equilíbrio do balanço, assumindo providências muito severas, entre as quais o
aumento dos impostos diretos e indiretos, cortes nas despesas militares,
redução dos escritórios centrais e periféricos. O governo Lanza gozou também da
situação internacional particularmente favorável e aproveitou-se deste fato
para resolver definitivamente a Questão Romana. O conflito que eclodiu em 19 de
julho de 1870 entre França e Reino da Prússia criou as condições necessárias para
“uma fácil intervenção militar pelo Reino de Itália”. No começo de agosto de
1870, Napoleão III foi forçado a retirar a pequena expedição que estacionava no
Lácio, enquanto na Itália aumentava a pressão popular para que o governo
acelerasse uma solução baseada na força bruta da política.
Em 1º de setembro de 1870, o imperador Napoleão III foi feito prisioneiro pelos prussianos e no dia 4, em Paris, foi proclamada a República. No dia 5, o governo italiano decidiu por unanimidade ocupar Roma. O conde Gustavo Ponza de S. Martino foi enviado para a capital para tentar uma solução pacífica com o papa Pio IX. O rei Vítor Emanuel II oferecia ao papa “todas as garantias necessárias para a independência espiritual da Santa Sé”, mas o papa recusou decididamente qualquer negociação. Assim o exército italiano, comandado pelo general Cadorna, invadiu o Estado Pontifício sem encontrar resistência. Foi necessário usar a força somente para entrar em Roma: em 20 de setembro de 1870 a artilharia italiana abriu uma brecha nos muros perto da Porta Pia e a cidade foi conquistada. Morreram 49 soldados italianos e 19 soldados pontifícios. Em 2 de outubro de 1870, um plebiscito sancionou a anexação de Roma e do Lácio ao Reino de Itália: em 135 188 votantes, 133 681 foram favoráveis e 1 507 contrários. Um mês mais tarde, Pio IX propagou a encíclica Respicientes na qual declarou “injusta, violenta, nula e inválida” a ocupação italiana, isto é, “denunciou a condição de cativeiro do pontífice e excomungou o rei da Itália”. De sua parte, politicamente, o senado italiano votou, em 27 de janeiro de 1871, a transferência da capital de Florença para Roma com “94 votos favoráveis e 39 contrários”. Desaparecia assim o último território do poder temporal da Igreja Católica e no mesmo tempo foram subtraídos, ao movimento democrático, um objetivo e um argumento de agitação política que no passado haviam qualificado sua ação. Desde então a esquerda mudará sua identidade assumindo conotações profundamente diferentes.
Os
católicos, ao contrário, não modificaram sua posição de rígida contraposição em
relação ao novo estado italiano, não obstante o parlamento havia votado uma lei
das garantias de 21 de março de 1871, com a qual assegurava para a Igreja a
absoluta liberdade de culto e a soberania sobre os prédios do Vaticano, de
Latrão e da casa de Castel Gandolfo considerados fora do território
(extraterritorialidade), destinando também para a mesma, uma côngrua, doação
anual, igual àquela que o erário pontifício pagava para o mantimento da corte
do Papa. Passaram-se alguns decênios para ser removida a absoluta e taxativa
proibição de Pio IX de participar, mesmo que com o voto, da vida política (non
expedit). Ao lado da questão social, constituída pela revolta meridional,
se flanqueava, porém, sem entrelaçar, a questão da conclusão do processo de
unificação, começando pela questão romana que se tornou mais incandescente pela
decisão do primeiro parlamento italiano de declarar, na sessão de 27 de março
de 1861, Roma capital do Reino de Itália quando ainda a cidade estava
firmemente nas mãos do papa, garantido pelo apoio das principais potências da
Europa. A favor de uma rápida conquista de Roma mobilizou-se em particular o
Partido de Ação e mais em geral os democratas. Depois que os moderados
conseguiram dirigir e controlar plenamente o processo de unificação, para a
corrente democrática a questão romana permaneceu praticamente como o único
cavalo de batalha e único tema qualificativo para conservar e recuperar uma
identidade e uma presença política significativa. De fato, socialmente, ela
servia particularmente para que a corrente democrática alcançasse seu objetivo.
Em
primeiro lugar a relevância internacional da questão romana a colocava
no centro dos difíceis equilíbrios da complexa rede de alianças tecidas pelos
moderados no contexto europeu. Fazer precipitar a situação acelerando e
forçando o processo de unificação (pondo a questão romana em termos revolucionários)
significaria colocar em gravíssima dificuldade a direita, fazer emergir suas
contradições e colocar em crise toda a política externa. Tanto mais que a onda
de geral simpatia da qual gozou a revolução italiana entre as potências
liberais, andou rapidamente apagando-se, e a Itália, que com a unificação ficou
maior do que o previsto, agora era vista com geral desconfiança. Em segundo
lugar a impossibilidade de separar a questão romana dá problemática
político-religiosa exasperava a contraposição entre o intransigente
anticlericalismo (e por certos aspectos anticatolicismo) dos democratas e a
lógica de mediação e de compromissos de uma parte da direita. A fórmula
separatista de Cavour "livre Igreja em livre estado" baseava-se de
fato na ideia de um compromisso estável entre Estado liberal e Igreja católica,
fundado sobre a renúncia, por parte da segunda, ao próprio poder temporal em
troca do domínio espiritual, e sobre o empenho do primeiro a garantir não
somente a plena liberdade religiosa, mas o “primado ético-civil do catolicismo
como base da vida nacional”. Neste sentido orientaram-se as negociações
iniciadas pelo Conde de Cavour com a Santa Sede, e continuada por Bettino
Ricasoli, que em 12 de junho de 1861 sucedeu a Cavour na guia do governo.
Católico praticante, o barão Ricasoli tentou convencer o Papa Pio IX para uma
solução negociada, e de abrandar a posição francesa sobre a questão. Mas
recebeu uma dupla recusa: Pio IX defendeu o próprio poder temporal com
intransigência, opondo um seco “non possumus” (não podemos).
A Constituição da República Italiana
pós-Segunda Guerra Mundial (1939-1945), adotada em 1948, afirma que as relações
entre o Estado e a Igreja Católica “são reguladas pelos Tratados de Latrão”. Em
1984, a concordata foi significativamente revista. Ambos os lados declararam: “O
princípio da religião católica como única religião do Estado italiano,
originalmente referido pelos Pactos de Latrão, será considerado como não
estando mais em vigor”. O apoio financeiro estatal exclusivo para a Igreja
também foi encerrado, e substituído por financiamento através de um imposto de
renda pessoal dedicado chamado “otto per mille”, ao qual outros grupos
religiosos, cristãos e não cristãos, também têm acesso. A partir de 2013, havia
outros dez grupos religiosos com acesso. A concordata revista regulava as
condições sob as quais o Estado concede reconhecimento legal aos casamentos
eclesiásticos e às declarações eclesiásticas de nulidade dos casamentos. O
acordo também acabou com o reconhecimento estatal de títulos de cavaleiro e
títulos de nobreza conferidos pela Santa Sé, o direito do Estado de solicitar
honras eclesiásticas para aqueles escolhidos para desempenhar funções
religiosas para o Estado ou a casa real, e o direito do Estado de apresentar
objeções políticas à proposta de nomeação de bispos diocesanos. Em 2008, foi
anunciado que o Vaticano não adotaria mais imediatamente todas as leis
italianas, citando conflitos extraordinários sobre questões de direito à vida
após o julgamento e decisão do caso Eluana Englaro (1970-2009), uma mulher
italiana que entrou em um estado vegetativo persistente em 18 de janeiro de
1992, na sequência de um acidente de carro e, posteriormente, se tornou o leitmotiv
de uma batalha judicial e política entre apoiantes e opositores da
eutanásia. Pouco depois de Eluana tinha sido mantida em suporte artificial de
vida, seu pai pediu para ter seu tubo de alimentação e removido para permitir
que ela morra naturalmente. As autoridades recusaram o seu pedido,
mas a decisão foi alterada.
Bibliografia
Geral Consultada.
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