domingo, 13 de abril de 2025

Beijos Que Matam – Inconsciência, Rapto & Suspense Criminal.

          O amor e o desejo são as asas do espírito das grandes façanhas”. Johann Wolfgang von Goethe

          

        Friedrich Hegel define a Fenomenologia como desenvolvimento e cultura, no sentido de afinamento da consciência natural acerca da ciência, isto é o saber filosófico, o saber do Absoluto; por sua vez indica a necessidade de uma progressiva evolução. Em último lugar, Hegel precisa a técnica teórica do desenvolvimento fenomenológico e em que sentido este método é precisamente obra própria da consciência que faz sua aparição na experiência, em que sentido é suscetível de ser repensado em sua necessidade pela filosofia. A lei cujo desenvolvimento necessário engendra todo o universo é a da dialética, segundo a qual toda ideia abstrata, a começar pela de ser considerada no seu estado de abstração, afirma necessariamente a sua negação, a sua antítese, de modo que esta contradição exige para se resolver a afirmação de uma síntese mais compreensiva que constitui uma nova ideia, rica em desenvolvimento, ao mesmo tempo, do conteúdo das duas outras. Se o saber é um instrumento, no sentido de utilidade de uso no âmbito científico, isto supõe que o sujeito do saber e seu objeto se encontram separados; por conseguinte, o Absoluto é distinto do conhecimento: nem o Absoluto poderia ser saber de si mesmo, nem o saber, fora da dialética, poderia ser saber do Absoluto. Contra tais pressupostos a existência da ciência filosófica, que conhece efetivamente, é já uma afirmação. É nesta dualidade o que reconhecia Friedrich Schelling (1775-1854) quando opunha o saber fenomênico e o saber absoluto, mas não demonstrava os laços entre um e outro.

Uma vez colocado o saber absoluto não se vê como é possível no saber fenomênico, e o saber fenomênico por sua parte fica separado do saber Absoluto. Hegel retorna ao saber fenomênico, ao saber típico da consciência comum, e pretende demonstrar como aquele conduz necessariamente ao saber Absoluto, ou também que ele mesmo é um saber absoluto que, todavia, não se sabe como tal. Entretanto, Friedrich Hegel que parte da análise da consciência comum, não podia situar como princípio primeiro uma dúvida universal que só é própria da reflexão filosófica. Por isso mesmo ele segue o caminho aberto pela consciência e a história detalhada de sua formação. Ou seja, sabemos que a Fenomenologia do ponto de vista da representação, vem a ser uma história concreta da consciência, sua saída da caverna e sua ascensão à Ciência. Daí a analogia que em Hegel (1770-1831) existe de forma coincidente entre a história da filosofia e a história do desenvolvimento do pensamento, mas este desenvolvimento é necessário, como força irresistível que se manifesta lentamente através dos filósofos, que são instrumentos de sua manifestação. Assim, preocupa-se apenas em definir os sistemas, sem discutir as peculiaridades e opiniões constituídas através dos diferentes filósofos. Na determinação do sistema, o que o preocupa é a categoria fundamental que determina o todo complexo do sistema, e o assinalamento das diferentes etapas na vida concreta, bem como as formas que nestas etapas conduzem à síntese do espírito absoluto.  A substância simples do espírito se divide em torno da consciência. 

         Assim como a consciência do ser sensível abstrato passa à percepção, assim também a certeza imediata do ser ético; e como, para a percepção sensível, o ser simples se torna uma coisa de propriedades múltiplas, assim para a percepção ética, o caso do agir é uma efetividade de múltiplas relações éticas. Contudo, como para a percepção sensível a supérflua multiplicidade das propriedades se condensa na oposição essencial entre singularidade e universalidade – com maior razão para a percepção ética, que é a consciência substancial e purificada -, a multiplicidade dos momentos éticos se torna a dualidade de uma lei da singularidade e de uma lei da universalidade. Porém cada uma dessas massas da substância permanece [sendo] o espírito todo. Se, na percepção sensível, as coisas não têm outra substância a não ser as duas determinações de singularidade, aqui essas determinações exprimem apenas a oposição superficial recíproca dos dois lados. Assim, a substância ética é nessa determinação a substância efetiva, o espírito absoluto realizado na multiplicidade da consciência aí-essente. O espírito é a comunidade, que para nós, ao entrarmos na figuração prática da razão em geral, era a essência absoluta; e que aqui emergiu em sua verdade para si mesmo, como essência ética consciente, e como essência para a consciência, que nós temos por objeto. É o espírito que é para si enquanto se mantem no reflexo dos indivíduos, e que é em si – ou substância -, enquanto os contém em si mesmo. Como substância efetiva, o espírito é um povo, como consciência efetiva, é cidadão do povo. Essa consciência tem sua essência no espírito simples, e tem a certeza de si mesma na efetividade desse espírito, no povo total, e imediato sua verdade, não em algo que não é efetivo; mas em um espírito que existe e vigora.              

O sociólogo Norbert Elias, por outro lado, leitor de Hegel, distingue os seres humanos como indivíduos e também como sociedade, entendendo com isso, que quando uma pessoa diz “sociedade” e a outra escuta, elas se entendem sem dificuldade. Mas será que realmente nos entendemos? A sociedade, como sabemos, somos todos nós; é um grande número de pessoas reunidas. Mas um bom número de pessoas reunidas na Índia e na China forma um tipo de sociedade diferente da encontrada na América ou na Grã-Bretanha; a sociedade composta por muitos indivíduos na Europa do século XII era diferente da encontrada nos séculos XVI ou XX. E, embora todas essas sociedades certamente tenham consistido e consistam em nada além de muitos indivíduos, é claro que a mudança de uma forma de convívio para outra não foi planejada por nenhum deles. Pelo menos, é impossível constatar que qualquer pessoa dos séculos XII ou mesmo XVI tenha trabalhado deliberadamente pelas sociedades de nossos dias, que assumem a forma de Estados nacionais altamente industrializados. Que tipo de formação é esse, que só existe diante de um grande número de pessoas, só continua a funcionar quando pessoas, tomadas isoladamente, querem e fazem certas coisas, mas cuja estrutura e transformações independem das intenções de qualquer pessoa em particular? Quando se examina as respostas dadas a essas e outras questões sociológicas similares, vê-se confrontado, em termos gerais, com dois amplos campos opostos de indagação. As paixões forma arrefecidas pela distância temporal. 

         Escólio: Um psicólogo forense (Morgan Freeman) de Washington viaja até a Carolina do Norte para investigar o aparente sequestro de sua sobrinha, que desapareceu do campus universitário em meio a outros sequestros similares. Ele está praticamente certo que as jovens vítimas femininas dos recentes sequestros estão vivas, pois quem está executando estes raptos é um “colecionador”. No entanto, ele não sabe se sua sobrinha está entre as possíveis vítimas, mas consegue ser ajudado por uma médica (Ashley Judd) que estava no cativeiro, conseguiu escapar e garante que várias jovens estão vivas, inclusive quem ele procura. O investigador decide então caçar o sequestrador, que usa o pseudônimo de “Casanova”. Beijos Que Matam (Kiss the Girls) é um filme de thriller e drama norte-americano, com trechos falados em mandarim, baseado no bestseller “Kiss the Girls” do escritor James Patterson realizado em 1997 pelo cineasta Gary Fleder. Teve uma sequência em 2001, também estrelada por Morgan Freeman que voltou a interpretar o personagem Alex Cross, chamada Along Came a Spider (2001), um filme teuto-canado-estadunidense pari passu dos gêneros policial e suspense, dirigido por Lee Tamahori, um diretor de filmes da Nova Zelândia. Iniciou a carreira como artista de comerciais e fotógrafo, no final dos anos 1970. Tamahori é descendente māori pelo lado de seu pai e britânica pelo de sua mãe. O roteiro de Marc Moss adapta livro do mesmo nome, de 1993, escrito por James Patterson, mas com eliminação de muitos elementos-chave.

        A maioria da população da Nova Zelândia é de ascendência europeia (67,6%), sobretudo britânica, enquanto os nativos māori, ou seus descendentes, tornaram-se minoria societária (14,6%). Asiáticos e polinésios não māori também são grupos de minoria significativa (16,1%), especialmente em áreas urbanas. A língua mais falada é o inglês, introduzida pelos colonizadores britânicos, embora também sejam considerados idiomas oficiais línguas nativas, como a língua māori. A  Nova Zelândia é um país desenvolvido e industrializado do mundo ocidental/oriental globalizado, e que se posiciona muito bem em análises comparativas internacionais sobre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), qualidade de vida, “esperança” de vida, alfabetização, educação pública, paz, prosperidade, liberdade econômica, facilidade de fazer negócios, aparente falta de corrupção política e econômica, liberdade de imprensa, democracia e proteção das liberdades civis e de direitos políticos. Suas cidades também estão entre consideradas “mais habitáveis do mundo”. Aotearoa, muitas vezes traduzido como “terra da longa nuvem branca” é o nome māori contemporâneo para a Nova Zelândia e também é usado internacionalmente no inglês neozelandês. Haka são os representantes das danças típicas do povo Māori. Geralmente demonstram a paixão e intimidação. É usada para dar boas-vindas a visitantes e tribos inimigas. Segundo o povo Maori, Tama-nui-to-ra, o Deus do Sol, tinha duas mulheres, sendo uma delas Hine-raumati, a virgem do verão (perdendo este estatuto!), da qual nasceu Tane-rore, creditado pela origem culturalmente da dança. Tane-rore representa o vento nos dias quentes de verão, na dança coreografado com o tremor de mãos. Os All Blacks se preparando para a haka no final da Copa das Três Nações, contra a Austrália, de 2005.

Atualmente o Haka é reconhecido mundialmente pela performance de intimidação no início dos jogos de Rugby da seleção da Nova Zelândia (All Blacks), que costuma antes de seus jogos executar uma haka específica chamada Ka Mate. Antes da dança o chefe grita como um grito para iniciar, coisa que no caso dos All Blacks é feita pelo jogador de sangue maori mais velho, nāo sendo este necessariamente capitão da equipe. As palavras são utilizadas nāo só para incitar quem está realizando a dança, mas também para recordar-se o seu comportamento correto. Muitas vezes o tom utilizado para gritar o refrão é o mesmo no curso de toda a exibição, ou seja, quanto mais alto, estridente e agressivo, feroz e brutal, mais vai incentivar mais o grupo - e intimidar o adversário. Na língua māori, a palavra Māori representa toda a grandeza de uma cultura. Em lendas e outras tradições orais, a palavra distinguia seres humanos mortais de divindades e espíritos. Maori tem cognatos em outras línguas da Polinésia, comparativamente como na língua havaiana (Maoli) e na língua taitiana (Maohi), e provavelmente todos têm sentidos semelhantes. Os primeiros exploradores europeus às ilhas da Nova Zelândia se referiam às pessoas que lá encontraram como aborígenes, nativos ou também chamados neozelandeses. Māori permaneceu como o termo usado pelos maoris “para descreverem a si mesmos”. Em 1947, vale lembrar que o Departamento de Relações Nativas foi renomeado, alternando para Departamento de Relações Maoris para reafirmar a decisão. Não existe registro etnográfico de assentamento na Nova Zelândia antes dos viajantes māoris; por outro lado, evidências arqueológicas indicam que os primeiros habitantes vieram do leste da Polinésia e se tornaram os maoris. Na Nova Zelândia há uma riqueza enorme quanto à tatuagem. E a tatuagem mais importante é feita no rosto.

Para muitas culturas, a mão, o rosto e o pescoço ficam fora da pintura corporal. Para os maoris, o homem cobre todo o rosto quanto mais nobre ele é ou pela sua posição social. A tatuagem dá status dentro da tribo ou clã. A colonização europeia da Nova Zelândia foi relativamente recente. Os māoris representaram a última comunidade a ser influenciada pelos europeus. A identidade maori foi estudada por Ranginui Walker (1997) antropólogo de formação acadêmica e política como chefe do Departamento de Estudos Maori da Universidade de Auckland desde 1992, além de dirigente do Conselho do Distrito Maori de Auckland e membro fundador do Conselho Maori da Nova Zelândia. Sua trajetória como pesquisador e política como dirigente vincula-se estreitamente às lutas pela obtenção de direitos e melhorias na condição social dos Maori, nas quais desempenhou papel de destaque nos últimos anos. Natural de Whakatohea, na Ilha do Norte, é descendente dos Opotiki. Publicou dois livros: Nga Tau Tohetoe. The Years of Anger (1987) e Ka Whawhai Tonu Matou: Struggle Without End (1990) – ambos sobre as formas de organização social e atuação política do movimento maori –, além de mais de quarenta artigos sobre educação, ativismo e política maori. 

- Em 1967, fui contratado, afirma em depoimento Walker, para ensinar na Universidade de Auckland, quando comecei a cursar o doutorado. Minha principal área de interesse era a antropologia social e tive como professor Ralph Piddington (1906-1974), que, por volta de 1950, criou o Departamento de Antropologia. Ele havia estudado com Malinowski e, assim, muito do seu interesse estava voltado para os desenvolvimentos malinowskianos, como a teoria das necessidades, as noções de estrutura e função social etc.  Estes foram meus estudos iniciais em antropologia, com uma ênfase muito grande no trabalho de campo. - No mestrado, decidi que faria minha dissertação sobre as relações sociais dos estudantes Māoris no Teacher’s College e os ajustes necessários para conviverem com o grupo europeu dominante. Cursei as disciplinas do doutorado entre 1966 e 1967, e escolhi como tema de tese a migração dos Maori do interior para a cidade. Concentrei-me em um bairro e fui a todas as reuniões de comitês, grupos e organizações. Encontrei um processo muito dinâmico, com os Maori tendo de aprender a viver em uma economia monetária: a economia de subsistência tinha de ser posta de lado, pois vivendo na cidade não havia meios de buscar alimentos como faziam no campo, ou à beira-mar; era preciso encontrar um emprego, controlar as despesas, enfrentar a vida. Interessava-me a maneira como essas pessoas formavam organizações para ajudar umas às outras a se ajustarem.

            A geografia da Carolina do Norte é variada. A região Oeste do estado possui um terreno altamente acidentado, coberto por diversas altas cadeias montanhosas e vales profundos. O ponto mais alto do Leste dos Estados Unidos localiza-se na Carolina do Norte. É o Monte Mitchell, com seus 2 037 metros de altitude. À medida que se viaja, as cadeias montanhosas e os vales dão lugar gradualmente a terrenos relativamente planos. A região da Carolina do Norte próxima ao oceano Atlântico é coberta por diversos pântanos e lagos. A Carolina do Norte é um grande centro industrial. Sua principal fonte de renda é a indústria de manufatura. É a maior produtora nacional de cigarro, que utiliza muito do tabaco, do qual o estado é a maior produtor nacional, cultivado no estado. Outras fontes de renda importantes são o turismo, a prestação de serviços educacionais, financeiros e imobiliários. O primeiro assentamento inglês no continente americano foi a Colônia de Roanoke, fundada na ilha de Roanoke, em 1585. Parte dos colonos desta colônia retornaram à Inglaterra ainda em 1585. Quando estes colonos retornaram para Roanoke, em 1587, aqueles que haviam ficado, haviam desaparecido misteriosamente, deixando como único vestígio uma misteriosa palavra gravada em uma árvore: Croatoan. A região que atualmente constitui a Carolina do Norte posteriormente faria parte da colônia inglesa de Carolina, nomeado em homenagem ao rei Carlos II de Inglaterra. Em 1712, a colônia de Carolina separou-se em duas distintas colônias, a Carolina do Norte e a do Sul. Incluía toda a região que constitui o estado de Tennessee.

A Carolina do Norte foi a primeira colônia britânica a votar oficialmente pela independência após o início da guerra da independência. Após o fim da revolução e da independência dos Estados Unidos, a Carolina do Norte tornou-se o 12º estado norte-americano, em 21 de novembro de 1789. Em 1861, a Carolina do Norte representou um dos 11 estados sulistas que se sucederam da União e formaram os Estados Confederados da América, desencadeando a extraordinária guerra civil. Nenhum estado confederado perdeu mais soldados do que a Carolina do Norte; soldados provenientes do estado responderam no total por cerca de 25% das baixas confederadas. Segundo diz a lenda, foi na guerra civil americana que a Carolina do Norte ganhou seu atual cognome, The Tar Heel State (O estado do calcanhar de piche). O piche fora uma das principais fontes de renda da Carolina do Norte durante o período colonial. Durante uma dada batalha ocorrida no estado vizinho da Virgínia, tropas confederadas recuaram, deixando tropas da Carolina do Norte sozinhas contra as forças da União. Após a batalha, que resultou em vitória confederada, os soldados teriam afirmado que fariam uso de piche nos calcanhares de tropas aliadas para evitar que estes “desgrudassem” (isto é, fugissem) da batalha. Outro cognome do Estado é Old North State (Velho estado do Norte).

Parte das pessoas aborda as formações sócio-históricas como se estas tivessem sido concebidas, planejadas e criadas, tal como agora se apresentam ao observador retrospectivo, por diversos indivíduos ou organismos governamentais. Embora com frequência alguns indivíduos dentro desse campo geral possam ter algum nível de consciência de que seu tipo de explicação não é realmente satisfatório, por mais que distorçam suas ideias de modo a fazê-las corresponderem aos fatos, o modelo conceitual a que estão presos continua a ser o da criação racional e deliberada de uma obra – como um prédio ou uma máquina – por pessoas individuais. Quando têm diante de si instituições sociais específicas, como os parlamentos, a polícia, os bancos, os impostos, os livros etc., eles procuram para explicá-las, as pessoas que originalmente tiveram a ideia dessas instituições ou que primeiro a puseram em prática. Quer dizer, ao lidarem com um gênero literário, buscam o escritor que serviu de modelo para os outros. Ao depararem com formações em que esse tipo ideal de explicação é difícil, como a linguagem ou o Estado, enquanto práticas sociais, que, ao menos procedem como se essas formações sociais pudessem ser explicadas da mesma forma que as outras, as que seriam deliberadamente produzidas por pessoas isoladas para fins específicos.

Podem, por exemplo, acreditar em verdade que a existência da linguagem é suficientemente explicada ao se assinalar sua função social coletivamente de meio de comunicação entre as pessoas, ou que a dos Estados se explica ao se argumentar que a finalidade do Estado tenha como representação a manutenção da ordem, como se, no curso da história da humanidade, a linguagem ou a organização das pessoas sob a forma de Estados tivesse sido criada para essa finalidade específica, em algum momento, por indivíduos isolados, como resultado do pensamento racional. E, com frequência, ao serem confrontados com fenômenos sociais que obviamente não podem ser explicados por esse modelo, e caso da evolução social dos estilos artísticos ou do processo civilizador, seu pensamento estanca, sem fazer perguntas. Opostamente é amiúde tratada com desdém.  Suspense criminal tem como representação determinada, um gênero que combina filmes ou séries que misturam investigação de crimes articulados com suspense. Os melhores exemplares desse gênero conseguem equilibrar a tensão com a revelação gradual de informações cruciais. A ficção investigativa é um subgênero da ficção policial e da ficção de mistério em que um investigador ou detetive, seja ele profissionalmente, ou provavelmente amador ou aposentado, investiga um crime, geralmente um assassinato.

Isto é, um “homicídio voluntário”, especialmente o cometido com premeditação, o ato de matar alguém de forma dolosa ou premeditada. A depender da jurisdição, distingue-se do “homicídio culposo”, que é aquele em que, embora haja culpa, não há dolo, não há intenção de matar, sendo o resultado de uma ação ou omissão desatenta do agente, a saber: imprudência, negligência ou imperícia. O gênero de investigação começou por volta da mesma época que a “ficção especulativa” e outros gêneros de ficção, em meados do século XIX, e permaneceu extremamente popular, principalmente em romances. Geralmente se distingue da ficção convencional e de outros gêneros, tais como ficção histórica ou ficção científica, mas os limites convencionais são indistintos. A ficção policial tem vários subgêneros, do ponto de vista da divisão do trabalho social, incluindo “ficção de detetive”, como o whodunit, drama de tribunal, ficção hard-boiled e thrillers jurídicos. A escrita hard-boiled é associada à ficção noir, termo que se refere a literatura e cinematografia que exploram temas de mistério, suspense e moralidade. Surgiu historicamente nos Estados Unidos da América na década de 1930.

            A maioria dos chamados “dramas criminais” se concentra na investigação e explicação do crime, mas não apresenta o tribunal. Suspense e mistério são elementos-chave quase onipresentes no gênero. Histórias juvenis com The Hardy Boys, como são chamados os irmãos adolescentes detetives amadores Frank e Joe Hardy, Nancy Drew e The Boxcar Children que também permaneceram impressas por várias décadas. Alguns dos heróis mais famosos da ficção investigativa incluem C. Auguste Dupin, um detetive fictício criado por Edgar Allan Poe (1809-1849), Sherlock Holmes, um personagem de ficção da literatura britânica criado pelo médico e escritor Sir Arthur Conan Doyle (1859-1930) e Hercule Poirot, um grande detetive fictício e protagonista da maioria dos livros de Agatha Christie (1890-1976), popular escritora britânica pragmática, que atuou como romancista, contista, dramaturga e poetisa, com um dos mais famosos detetives da ficção policial. Segundo o Guiness Book, Christie é a romancista mais bem sucedida da história da literatura popular mundial em número total de livros vendidos, uma vez que suas obras, juntas, venderam cerca de quatro bilhões de cópias ao longo dos séculos XX e XXI, cujos números totais só ficam atrás das obras literárias vendidas do dramaturgo e poeta William Shakespeare (1564-1616) e da Bíblia, uma antologia de textos religiosos ou escrituras sagradas para o cristianismo, judaísmo, samaritanismo e outras religiões. Foi tido como o maior escritor do idioma inglês e considerado o maior dramaturgo da história.  Não se trata de mais uma exceção à regra, claro está, mas sociologicamente de uma explicação. Agatha Christie (1890-1976), tinha uma relação muito próxima com o editor Billy Collins, responsável pelas publicações da escritora na Harper Collins.

Em correspondências descobertas recentemente, não só a relação amistosa dos dois, mas também as desavenças, ficam evidentes em alguns momentos específicos. Essas correspondências provam que, além da proximidade, naturalmente os dois também tinham divergências. Em mais de uma situação, o editor e a escritora discordaram sobre as capas dos livros. Um dos exemplos mais emblemáticos foi quando a Rainha do Crime detestou a capa: Os doze trabalhos de Hércules, mas Bill Collins a publicou mesmo assim. - “O design da capa de Hércules ocasionou as observações e sugestões mais complicadas e obscenas da minha família. Tudo o que posso dizer é: tente novamente!”, argumentou a escritora no escrito. Em outra situação, um de seus livros foi publicado antes da aprovação final. Ela viu o exemplar de seu último lançamento nas mãos de um fã, que a cumprimentou pelo trabalho. Christie ficou furiosa: - “Acho que está tratando seus autores de forma vergonhosa”, escreveu carta para Collins. Contudo, evidentemente as desavenças eram menores do que o lucro que a relação dos dois proporcionava. Em uma ocasião, Bill Collins até ofereceu um carro de presente para Christie, um Jaguar, mas a escritora o recusou, pois estava “muito velha para se divertir”. A conversa deles passava do profissional para o pessoal. Em setembro de 1940, Collins perguntou à escritora se poderia ficar com seu jardineiro, Midgley, cuja esposa “estava desgastada” e queria mudança de cenário. Christie mais tarde perguntou a Collins, cujo irmão era um tenista famoso, se ele poderia arranjar bolas de tênis através de suas conexões de Wimbledon, já que era mais difícil de encontrá-las durante a guerra.

Filosoficamente, desde David Hume (1711-1776), em seu ceticismo filosófico, as ideias produzem as imagens de si mesmas em novas ideias. Mas como supomos que as primeiras são derivadas de impressões, continua sendo verdade que todas as nossas ideias simples procedem, mediata ou imediatamente das impressões correspondentes. Esse é o primeiro princípio que a filosofia de Hume estabelece na ciência da natureza humana. Pois cabe notar que a presente questão, a respeito da anterioridade de nossas impressões ou formação de ideias, é a mesma que produziu tanto barulho sob outra formulação, quando se discutiu se haveria ideias inatas, ou se todas as ideias derivam da sensação e da própria reflexão. A fim de comprovar que as ideias de extensão e de cor não são inatas, os filósofos nada mais fazem que demonstrar que elas são transmitidas por nossos sentidos. Para comprovar que as ideias de paixão e desejo são inatas, eles observam que experimentamos previamente em nós mesmos essas emoções. A faculdade pela qual repetimos nossas impressões da primeira vez se chama memória e depois da outra forma, imaginação. Mas se examinarmos esses argumentos, veremos que eles nada comprovam, senão que as ideias em sua essência são precedidas por outras percepções mais vívidas, das quais derivam e as quais elas representam. Como a imaginação humana pode separar todas as ideias simples, e uni-las novamente da forma que bem lhe aprouver, nada seria mais inexplicável que as operações dessa faculdade, essencialmente, se ela não fosse guiada por alguns princípios universais, que a tornam, em certa medida, uniforme em todos os momentos e lugares. Fossem as ideias inteiramente soltas e desconexas, apenas o acaso as ajuntaria; e seria impossível que as mesmas ideias simples se reunissem de maneira regular em ideias complexas se não houvesse a união entre elas, alguma qualidade associativa, pela qual uma ideia naturalmente introduz outra.

Esse princípio de união entre as ideias não deve ser considerado uma conexão inseparável, tampouco devemos concluir que, sem ele a mente não poderia juntar duas ideias – pois nada é mais livre que essa faculdade. Devemos vê-lo apenas como uma força suave, que comumente prevalece, e que é a causa pela qual, entre outras coisas diversas, as línguas se correspondem de modo tão estreito umas às outras: pois a natureza de alguma forma aponta a cada um de nós as ideias simples mais apropriadas para serem unidas em uma ideia complexa. As qualidades não dão origem a tal associação, e que levam a mente, dessa maneira, na direção de interpretação de uma ideia a outra, são três, a saber: semelhança, contiguidade no tempo e no espaço, e causa e efeito. Melhor dizendo, que as ideias da memória são muito mais vivas e fortes que as da imaginação, e que a primeira faculdade pinta seus objetos em cores mais distintas que todas as formas que possam ser usadas pela última. Ao nos lembrarmos de um acontecimento passado, sua ideia invade nossa mente com força, ao passo que, na imaginação, a percepção é fraca e lânguida, e apenas com muita dificuldade pode ser conservada firme e uniforme pela mente durante todo o período considerável de tempo. Temos aqui uma diferença sensível entre as duas espécies de ideias. Mas há uma outra diferença, não menos evidente, entre esses dois tipos de ideias. Embora nem as ideias da memória nem as da imaginação, nem as ideias vívidas nem as fracas possam surgir na mente antes que impressões correspondentes tenham vindo abrir-lhes o caminho, a imaginação não se restringe à mesma ordem na forma das impressões originais, ao passo que a memória está amarrada a esse aspecto, sem nenhum poder de variação.

É evidente que a memória preserva a forma original sob a qual seus objetos se apresentaram. A principal função da memória não é preservar as ideias simples, mas sua ordem e posição. Esse princípio se apoia em aspectos comuns e vulgares do dia a dia que podemos nos poupar o trabalho de continuar insistindo nele. Isto exige de nós que abandonemos nossa preocupação com a pretensão de objetividade e tornemo-nos satisfeitos com a intersubjetividade. São enormes as consequências no que diz respeito à problemática da verdade: por não ser rortyniana o conhecimento um “espelho da natureza”, mas algo que está fundamentalmente imbricado com a práxis dialogal e o contexto social, então a crítica das diferentes formas de práxis social é destituída de qualquer sentido, já que estamos presos pelos contextos simbólicos e qualquer tentativa de transcendência a eles significa um retorno à postura fundamentalista. Estabelecido que é impossível ir além do horizonte linguístico de opiniões justificadas, como se combina esta tese fundamental da reviravolta pragmática com a intuição de que sentenças verdadeiras levantam a pretensão de dar conta dos fatos do mundo. O desafio central do contextualismo historicamente está aqui: relacionar verdade e justificação. A reviravolta pragmática traz um modelo de conhecimento contraposto ao tradicional da representação, que é um modelo estático. Nossos conhecimentos constituem, na dimensão espacial, o resultado de trabalho sobre as decepções em nossa convivência inteligente com um mundo repleto de riscos, a partir da legitimação de soluções de problemas às objeções de outros, da prática na dimensão argumentativa e, na dimensão temporal, a partir de processos de aprendizagem alimentam a revisão dos próprios erros.

          No prefácio de Janet Morgan – Agatha Christie. Uma Biografia (2018) é revelador como a escritora valorizava sua privacidade. Ela raramente dava entrevistas e nunca se expunha dizendo: - Por que escritores deveriam falar sobre o que escrevem?”.  Ela acreditava que a reputação deveria ser boa ou ruim de acordo com sua obra, e esse desejo foi respeitado pela família, pelos amigos e conselheiros. Eles estavam prontos para analisar seriamente os textos dela, mas mantinham distância de quem procurava discutir a própria vida de Agatha. Mesmo assim, várias biografias foram publicadas, em diversos idiomas. Algumas não passavam de fantasias, enquanto outras se baseavam em fontes publicadas: matérias de jornal, resenhas, livros lançados por pessoas que a conheciam ou trabalhavam com ela, embora quanto mais eles a conhecessem, mais cautelosos eram em seus textos e se basearam nos livros, peças e poemas escritos por ela, especialmente as memórias da Síria em Come, Tell Me How You Live, na Autobiografia e, também, nas reflexões do segundo marido em Mallowan`s Memoirs. Neste aspecto afirma Morgan, “em 1980, parecia que me havia chegado a hora de um relato completo e detalhado sobre a vida de Agatha Christie, e sua filha me convidou a escrevê-lo. Segundo ela, não fazia sentido embarcar nesta aventura a menos que todos os papéis da mãe fossem abertos para mim, com liberdade total para usá-los como eu achasse melhor. Este livro se baseia nas cartas escritas e recebidas por Agatha Christie em suas fontes primárias: manuscritos, livros, álbuns de fotografias e recortes, diários, livros de endereços, recibos e contas, guardados desde antes do tempo de seus avós até os dias atuais. Todos os títulos dos meus capítulos são citações retiradas dessas fontes”.

           Agatha Christie só se tornou a líder reconhecida entre os escritores de romances de mistério no início dos anos 1970, quando os editores britânicos e americanos escolheram promover seus livros mais vagarosamente do que nunca. Ela mesma tinha conversado com Max, após a guerra, que deveria estar incluída entre os quatro autores eminentes de histórias de detetive no artigo que escreveu para a Rússia. Mesmo em 1961, contudo, os escritórios de Cork e Ober emitiram para a equipe uma lista de manuscritos de “Christie” que deveriam ser destruídos. Os admiradores de Agatha teriam considerado isso um sacrilégio. Esses admiradores ficavam numerosos a cada dia, bem como as exigências feitas por eles. Desde os anos 1940 ela era inundada com pedidos de fotografias, ajuda financeira, livros que aparentemente eram impossíveis de encontrar em Malta, Japão, Brasil, Tchecoslováquia e Surrey, entre outros lugares. Boa parte dessa correspondência era interceptada pelos agentes, embora Agatha sempre tivesse interesse no que os admiradores tinham a dizer, especialmente se pudesse indicar falhas ou omissões. Ela respondia pessoalmente a algumas cartas, incluindo as mais jocosas. Da Nova Zelândia chegou um pedido de uma fotografia para ser colocada em uma sala especial contendo 307 cópias de suas obras encadernadas em couro de bezerro.

           Ela recebia inúmeras perguntas, não só de aspirantes a biógrafos como de pessoas associadas a ela. – “Por que você escolheu uma velhinha encantadora como segunda detetive famosa?”, perguntou um admirador de Margaret Rutherford. – “Nenhum motivo em particular”, respondeu Agatha com firmeza, pois ela dava pouca atenção a essas perguntas. Um questionário especialmente imponente veio de uma revista italiana, interessada “no caráter fenomenológico e social”, além da natureza histórica e cultural “da participação da mulher na sociedade”. Perguntada sobre a causa do papel cada vez mais ativo das mulheres, Agatha atribuiu “à tolice das mulheres em abandonar a posição de privilégio obtida após muitos séculos de civilização. As mulheres primitivas trabalhavam incessantemente. Nós parecemos determinadas a voltar a esse estado voluntariamente – ou estamos dando ouvidos à persuasão e, consequentemente, deixando de lado as alegrias do lazer, do pensamento criativo e do aperfeiçoamento das condições domésticas”. Convidada a avaliar o quanto o progresso científico e tecnológico exigia a participação das mulheres, ela respondeu: “Devo dizer que consigo passar muito bem sem isso”, concluía o documento. Agatha escreveu uma frase curta e direta: “Provavelmente, não”. O volume de vendas e de correspondência, era outra medida de sucesso. Os números da Unesco, publicados em empresas de televisão e rádio, especialmente nos Estados Unidos, onde os números de audiência importavam muito, solicitavam incessantemente os direitos de exibir suas obras.   Enfim, Agatha utilizava vários conselheiros profissionais para cuidar de seus negócios: um advogado, um contador e Edmund Cork (1871-1936), que cuidava de contratos sociais e decidia quando era sensato transferir ganhos economicamente do exterior para a Grã-Bretanha após consultar o contador e Ober.

O maior volume de renda de Agatha nos anos 1930 provinha dos Estados Unidos da América. Por ser “uma autora estrangeira não residente”, parecia que ela não precisava pagar impostos norte-americanos sobre contratos negociados nos Estados Unidos. A interminável discussão com as autoridades tributárias era frustrante, porque Agatha gostava de tudo claramente indicado, organizado e simplificado. Mais problemática era outra consequência do sucesso em larga escala: a invasão de privacidade. Houve tentativas de tirar fotos aéreas de Greenway, além de constantes pedidos para visitar a casa e o jardim. Rosalind e Anthony ajudavam a recusar esses pedidos, pois se mudaram para Greenway um ano após o casamento de Mathew, quando ele, Ângela e a primeira bisneta de Agatha, Alexandra, ocupavam o Pwllyrach. Rosalind e Anthony viviam em Ferry Cottage, nos fundos do jardim, perto da água, mas passavam o dia na casa principal, com Anthony cuidando do imóvel e Rosalind gerenciando. Histórias idiotas na imprensa a magoavam, ainda mais quando estavam bizarramente em desacordo com os fatos. A revista Woman`s Own foi alvo de reclamações, sobre privacidade quando divulgou uma de suas matérias como “entrevista rara” com “a mulher mais misteriosa do mundo”.  

           Os períodos das histórias dos Estados Unidos entre 1918 e 1945 é marcado por um lastro de grande crescimento econômico. Porém, ao final da década de 1920, os Estados Unidos entrariam em um grande período de recessão econômica, marcado por altas taxas de desemprego, miséria e deflação, que se estenderia por toda a década de 1930, e cujos efeitos negativos abalaram diversos outros países ao redor do mundo. Em 1941, com o ataque japonês a Pearl Harbor, os Estados Unidos entrariam na Segunda Guerra Mundial, marcando assim o final da Grande Depressão. A guerra terminaria em 1945, e os Estados Unidos tornar-se-iam uma das duas grandes superpotências mundiais, sendo a outra a União Soviética. Conforme padronização da norma internacional para representação de data e hora da Organização Internacional de Padronização (ISO), a década de 1920, também referida como década de 20 ou ainda anos 20, compreende o período de tempo entre 1° de janeiro de 1920 e 31 de dezembro de 1929. Os Estados Unidos haviam se tornado uma das maiores potências do mundo - prosperidade essa que teve uma forte queda em 1929 com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque.

             Os períodos das histórias dos Estados Unidos entre 1918 e 1945 é marcado por um lastro de grande crescimento econômico. Porém, ao final da década de 1920, os Estados Unidos entrariam em um grande período de recessão econômica, marcado por altas taxas de desemprego, miséria e deflação, que se estenderia por toda a década de 1930, e cujos efeitos negativos abalaram diversos outros países ao redor do mundo. Em 1941, com o ataque japonês a Pearl Harbor, os Estados Unidos entrariam na Segunda Guerra Mundial, marcando assim o final da Grande Depressão. A guerra terminaria em 1945, e os Estados Unidos tornar-se-iam uma das duas grandes superpotências mundiais, sendo a outra a União Soviética. Conforme padronização da norma internacional para representação de data e hora da Organização Internacional de Padronização (ISO), a década de 1920, também referida como década de 20 ou ainda anos 20, compreende o período de tempo entre 1° de janeiro de 1920 e 31 de dezembro de 1929. Os Estados Unidos haviam se tornado uma das maiores potências do mundo - prosperidade essa que teve uma forte queda em 1929 com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque.

              Em setembro de 1929, o índice Dow Jones, que avalia o mercado de ações nas bolsas de valores, registrou o pico máximo e o mercado começava a sentir que uma queda no valor nominal das ações poderia se aproximar. Com isso, e devido a desconfiança do mercado, o volume dos negócios havia caído substancialmente, até a situação ficar insustentável. Inicia-se então a crise de 1929, que, em suma, traduziu-se em uma crise de credibilidade. Os acionistas colocavam suas ações a venda, em enormes volumes, e como havia poucos compradores, os preços das ações caíam. Deu-se início a uma espiral descendente: “Por falta de recursos, as empresas demitiam seus funcionários, que ficavam sem emprego e deixavam de consumir. Sem vender, as empresas ficavam sem recursos. Por falta de recursos”. A crise ocorreu, por causa da quebra da bolsa e também por outros dois motivos: Superprodução agrícola: Havia sido formado um excedente de produção agrícola nos Estados Unidos, porque não encontrava nenhum comprador, seja dentro ou fora do país; Diminuição do consumo: As indústrias cresciam, mas o poder aquisitivo da população não. Ou seja, aumentavam as ofertas e diminuíam os compradores, fazendo com que várias indústrias falissem. Pessoas reunidas na frente de um banco, durante o período da Grande Depressão. Esse período foi marcado por repentinas perdas de ações e houve casos de suicídio, após acionistas descobrirem que perderam tudo. No dia 24 de outubro de 1929, uma quinta-feira, que ficou reconhecida como Quinta-Feira Negra, ocorreu o crash (quebra) da bolsa de valores de Nova York. A bolsa perdeu 11% do seu valor em negociações muito fortes. 

            Vários líderes banqueiros da Wall Street se reuniram para encontrar uma solução para o pânico e caos no pregão. O encontro contou com Thomas Lamont, chefe interino do Morgan Bank, Albert Wiggin, chefe do Chase National Bank e Charles E. Mitchell, presidente do National City Bank of New York. Eles escolheram Richard Whitney, vice-presidente da Bolsa, para agir em seu nome. Com os banqueiros e seus recursos financeiros, Whitney colocou uma oferta de compra de um grande bloco de ações na U.S. Steel a um preço bem acima do mercado e muitos investidores de ações quiseram vender rapidamente suas ações, melhor dizendo, foram 6 091 870 de títulos financeiros foram rapidamente vendidos no mesmo dia, tornando-se o terceiro maior volume de negócios da história da bolsa. Esta quebra fez com que empresas e bancos fossem à falência e o valor das ações, nas bolsas de valores, caíssem muito de um dia para o outro. Essa quebra repercutiu na maior parte dos países capitalistas. Muitas pessoas perderam os seus empregos, havia pânico entre as pessoas, levando algumas ao suicídio, inclusive 11 grandes especuladores da bolsa. O desemprego aumentou, a produção industrial norte-americana ficou reduzida a 54%, num quadro de recessão e o mercado perdeu mais de 30 bilhões de dólares em dois dias, last but not least, na cultura e nos costumes, houve mais liberdade. Os filmes de Clara Bow e as comédias de Charles Chaplin (1889-1977), imperavam no cinema. Os efeitos de poder econômico da Grande Depressão foram sentidos quase simultaneamente no mundo inteiro. Estes efeitos, bem como sua intensidade, variaram de país a país, além dos Estados Unidos, que foram atingidos pela Grande Depressão foram a Alemanha, Países Baixos, Austrália, França, Itália, o Reino Unido e, especialmente, o Canadá. 

            Porém, em certos países pouco industrializados naquela época, como a Argentina e o Brasil (que não conseguiu vender o café que tinha para outros países), a Grande Depressão acelerou o processo de industrialização. Não houve quase nenhum abalo na União Soviética, pois, tratando-se de uma economia socialista, estava econômica e politicamente fechada para novas tecnologias. Entre 1929 e 1932, o PIB mundial caiu em cerca de 15%. Em comparação, o PIB mundial caiu em menos de 1% entre 2008 e 2009 durante a Grande Recessão. Os efeitos de poder negativos da Grande Depressão atingiram seu ápice nos Estados Unidos em 1933. Neste ano, o Presidente americano Franklin D. Roosevelt aprovou uma série de medidas reconhecidas como New Deal. Essas políticas econômicas, adotadas quase simultaneamente por Roosevelt nos Estados Unidos e por Hjalmar Schacht na Alemanha foram, três anos mais tarde, racionalizadas por John Maynard Keynes em sua obra clássica, em inglês: General Theory of Employment, Interest and Money. Estudiosos alegam que o New Deal, juntamente com programas de ajuda social realizados por todos os estados americanos, ajudou a minimizar os efeitos da Depressão a partir de 1933, enquanto outros pesquisadores discordem dessa visão. A maioria dos países atingidos pela Grande Depressão passaram a recuperar-se economicamente a partir de então. Em alguns países, a Grande Depressão foi um dos fatores primários que ajudaram a ascensão de regimes ditatoriais, como prevalentemente na Alemanha e Itália. O início da 2ª Guerra Mundial, em 1939, terminou com qualquer efeito remanescente da Grande Depressão, em 1945, nos principais países atingidos globalmente, embora muitos economistas neoclássicos discordem desta análise.

Sir Charles Spencer Chaplin, reconhecido como Charlie Chaplin (1889-1977), foi um ator, diretor, produtor, comediante, dançarino, roteirista e músico britânico. Chaplin foi um dos atores mais famosos da chamada “Era do Cinema Mudo”, notabilizado pelo uso de mímica e da “comédia pastelão”. Atuou, dirigiu, escreveu, produziu e financiou seus próprios filmes, sendo fortemente influenciado por um antecessor, o comediante francês Max Linder (1883-1925), a quem ele dedicou um de seus filmes. Sua carreira no ramo do entretenimento durou mais de 75 anos, desde suas primeiras atuações quando ainda era criança nos teatros do Reino Unido durante a Era Vitoriana quase até sua morte aos 88 anos de idade. Sua vida pública e privada abrangia adulação e controvérsia. Juntamente com Mary Pickford (1872-1979), Douglas Fairbanks (1833-1939) e D. W. Griffith (1875-1948), Chaplin fora cofundador da United Artists, uma companhia de cinema fundada em 5 de fevereiro de 1919. Seu principal personagem foi The Tramp, reconhecido internacionalmente como Charlot, na Europa, e igualmente reconhecido como Carlitos, ou “O Vagabundo”, em análise comparada no caso do brasileiro. Consiste em um andarilho pobretão que possui as maneiras refinadas e dignidade de gentleman, que fora consagrado na aurora do cinema: “um fraque preto esgarçado, calças e sapatos desgastados e mais largos que o seu número, um chapéu-coco ou cartola, uma bengala de bambu e a marca pessoal, um pequeno bigode-de-broxa”.

Foi também um talentoso jogador de xadrez e chegou a enfrentar o campeão americano Samuel Reshevsky. Em 2008, em uma resenha do livro Chaplin: A Life, Martin Sieff escreve: - “Chaplin não foi apenas ´grande`, ele foi gigantesco”. Em 1915, ele “estourou” um mundo dilacerado pela guerra trazendo o dom da comédia, risos e alívio enquanto ele próprio estava se dividindo ao meio pela Primeira grande Guerra. Durante os próximos 25 anos, através da Grande Depressão e da infeliz ascensão do pensamento totalitário alemão, ele permaneceu no emprego. Fora de dúvida, em seu tempo ele foi maior do que qualquer um. É duvidoso que algum outro indivíduo tenha dado mais entretenimento, prazer e alívio para tantos seres humanos quando eles mais precisavam. Ipso facto, o termo Sétima Arte, é usado na comunicação social para designar o cinema; foi estabelecido por Ricciotto Canudo (1877-1923) no “Manifesto das Sete Artes”, em 1911, embora tenha sido publicado apenas em 1923. Por sua inigualável contribuição ao desenvolvimento da Sétima Arte, Chaplin é o mais homenageado cineasta de todos os tempos, sendo ainda em vida condecorado pelo governo britânico: “Cavaleiro do Império Britânico”, pelo governo francês: “Légion d`Honneur”, pela Universidade de Oxford: Doutor Honoris Causa e pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos da América com o Óscar especial “pelo conjunto da obra”, em 1972.

Além de atuar em cena, Chaplin dirigiu, escreveu, produziu e eventualmente compôs a trilha sonora de seus próprios filmes, tornando-se uma das personalidades mais criativas, vocacionadas e influentes em sua progênie da Era do “cinema mudo”. Chaplin foi fortemente influenciado por um antecessor, como vimos o comediante francês Max Linder, a quem ele dedicou um de seus filmes. Era canhoto, nasceu no dia 16 de abril de 1889, na East Street, Walworth, Londres, Inglaterra. Seus pais eram artistas de music-hall. Seu pai, Charles Spencer Chaplin, era vocalista e ator, e sua mãe, Hannah Chaplin, era cantora e atriz. Chaplin aprendeu a cantar com seus pais, os quais se separaram antes dele completar três anos de idade. Após a separação, Chaplin foi deixado aos cuidados de sua mãe, que estava cada vez mais instável emocionalmente. O censo de 1891 demonstra que sua mãe morava com Charlie e seu “meio-irmão” mais velho Sydney na Barlow Street, Walworth. Um problema de laringe acabou com a carreira de cantora da mãe de Chaplin. A primeira crise de Hannah ocorreu em 1894 quando ela estava cantando no “The Canteen”, um teatro em Aldershot, geralmente frequentado por manifestantes e soldados. Além de “ser vaiada, Hannah foi gravemente ferida pelos objetos atirados pela plateia”. Nos bastidores, ela chorava e argumentava com o seu gerente. Enquanto isso, com apenas cinco anos de idade, o pequeno Chaplin subiu sozinho ao palco e cantou uma música popular da época, “Jack Jones” (cf. Chaplin, 1981). Seu pai, Charles Chaplin, “era alcoólatra e tinha pouco contato com seu filho”, apesar de Chaplin e seu meio-irmão morarem durante um curto período de tempo com seu pai e sua amante, Louise, na 287 Kennington Road, onde há uma placa em homenagem ao fato histórico e social.

Clara Gordon Bow (1905-1965) foi uma atriz de cinema norte-americana, que fez muito sucesso na Era do cinema mudo. Foi uma das poucas atrizes desta conjuntura estética e artística a continuar a carreira durante a Era do cinema falado, depois de 1927. Sua participação na comédia de 1927 It, a alçou ao sucesso e foi quando surgiu o apelido de it girl. Clara se tornou a personificação dos Roaring Twenties, época de grande otimismo e efervescência cultural nas grandes capitais do mundo ocidental e era tida como a principal sex Symbol. Clara estrelou 46 filmes mudos e 11 filmes falados, incluindo grandes sucessos como Mantrap (1926), It (1927) e Asas (1927). Sua presença em um filme era uma garantia de se conseguir investidores e público, tendo sido campeã de bilheteria em 1928. No auge da fama, Clara chegou a receber mais de 45 mil cartas em um único mês de janeiro de 1929. Houve também o surgimento do primeiro personagem de “desenho animado” popular ao ponto de, por si só, atrair o público: o Gato Félix. Também surgiram movimentos de arte como o dadaísmo, de Marcel Duchamp e o surrealismo, de Salvador Dalí. O cinema também passou por uma revolução técnica e social com os movimentos de vanguarda, na União Soviética, cineastas como Sergei Eisenstein de O Encouraçado Potemkin (1925) e Dziga Vertov, de O Homem com a Câmera (1929), refizeram o cinema. Na Espanha, tinham espaço os filmes surrealistas de Luís Buñuel. Na França, uma dançarina afro-americana, Josephine Baker (1906-1975), apresentava-se nos teatros da efervescente cidade de Paris, ditando a moda a todo o mundo, tendo divulgado os banhos de Sol. Na arquitetura destaca-se o Art Deco que perduraria nas duas décadas seguintes: anos 1930 e anos 1940, respectivamente.

O mundo também vivia a “Era do Jazz”, este ritmo musical havia se tornado amplamente popular ao longo da década. Um exemplo de uma música da época é Rhapsody in Blue do compositor George Gershwin (1898-1937). Outro ritmo muito popular era o Blues. Eddie Duggan discute as semelhanças e diferenças entre as duas formas relacionadas em seu artigo de 1999, sobre o escritor Pulp Cornell Woolrich (1903-1968). Em seu estudo completo sobre David Goodis (1917-1967), Jay A. Gertzman, professor Emeritus of English at Mansfield University observa: “A melhor definição de hard boil que conheço é a do crítico Eddie Duggan, profissionalmente um fotógrafo, cineasta, roteirista, autor e historiador acadêmico de jogos britânico. No noir, o escopo principal é o interior: “desequilíbrio psíquico”, também chamado de “desequilíbrio emocional”, é uma condição sócio-histórica que pode ser caracterizada por alterações de humor e reações desproporcionais a situações sociais negativas, que inconsequentemente, sem avaliar as consequências de ações ou palavras, leva ao ódio a si mesmo, à agressão, à sociopatia ou à compulsão de controlar aqueles com quem se compartilha experiências. Em contraste, hard boil “pinta um pano de fundo” de corrupção social institucionalizada.

Bibliografia Geral Consultada. 

BOUDON, Raymond, Effets Pervers et Ordre Social. Paris: Presses Universitaires de France, 1977; CHAPLIN, Charles, Mis Primeros Años. Buenos Aires: Emecé Editores, 1981; MATOS-CRUZ, José de, Charles Chaplin, A Vida, o Mito, os Filmes. 2ª edição. Belo Horizonte: Editora Vega, 1982; DAMATTA, Roberto, Carnivals, Rogues, and Heroes: An Interpretation of the Brazilian Dilemma. Notre Dame: University of Notre Dame Press, 1991; LINTON, Ralph, Cultura y Personalidad. México: Fondo de Cultura Económica, 1992; SIMMEL, Georg, Filosofia do Amor. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1993; GEERTZ, Clifford, Interpretación de las Culturas. Barcelona: Ediciones Gedisa, 1993; HEGEL, Friedrich, Fenomenologia do Espírito. 4ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2007; BUONANNO, Elda, La Frantumaglia: Elena Ferrante`s Fragmented Self. PhD Thesis. New York: City University of New York, 2011; FREUD, Sigmund, O Mal-estar na Civilização. 1ª edição. São Paulo: Editor Penguin Classics; Editor Companhia das Letras, 2011; MENEGHETI, Pollyanna Souza, De Holmes a Poirot: Relações entre Literatura e História na Narrativa Policial Britânica. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários. Faculdade de Ciências e Letras. Araraquara: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2014; FANTA, Daniel, A Neutralidade Valorativa: A Posição de Max Weber no Debate sobre os Juízos de Valor. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Sociologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2014; CHABAUD-RYCHTER, Danielle et alii (Org.), O Gênero nas Ciências Sociais: Releituras Críticas de Max Weber a Bruno Latour. São Paulo: Editora Universidade Estadual Paulista; Brasília: Editora Universidade de Brasília, pp. 493-509; 2014; ABRAMS, Meyer Howard, A Glossary of Literary Terms. Austrália: Editor Cengage Learning Group, 2015; COELHO, Maria Francisca Pinheiro; BANDEIRA, Lourdes Maria, “A Construção do Sujeito Feminino em Georg Simmel”. In: Soc. Estado, 38 (02) • May-Aug., 2023; AGUIAR, Gracielle Almeida, “Maternidade e Mercado de Trabalho: Significados, Sentimentos e Possibilidades”. In:  Revista Multidisciplinar do Nordeste Mineiro, Vol. 2, 2025; entre outros.  

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