“Mais vale compreender pouco do que compreender mal”. Anatole France
Uma característica da compreensão moderna do mundo é a secularização. É um processo através do qual a religião perde a sua influência sobre as variadas esferas da vida social. Essa perda de influência repercute-se na diminuição do número de membros das religiões e de suas práticas sociais. Na perda do prestígio das igrejas e organizações religiosas. Na influência na sociedade, na cultura, na diminuição das riquezas das instituições religiosas, e, last but not least, na desvalorização das crenças e dos valores a elas associados. A partir do século XIX, houve um progressivo declínio da influência das instituições religiosas tradicionais. Este declínio verificou-se tanto na liturgia dos fiéis, como na dificuldade crescente em recrutar clero para o desenvolvimento e manutenção historicamente da instituição. A maior parte dos estudos acadêmicos versou a tentativa de compreensão deste âmbito do chamado “desencantamento do mundo”. A investigação sociológica já não se centra tanto nas causas e nas razões da secularização, mas nas relações de consequência da modernidade com o religioso, ou seja, que papel joga a religião na manutenção do status quo e, inversamente. Mas não é a consciência necessariamente do próprio sujeito que condiciona a vida, mas neste caso, a mediação complexa, que incorporando o sentido social do pessimismo weberiano passam a atribuir significado à relação social espacial em torno do tempo no qual está inserido.
Metodologicamente os valores não são dados nem no plano sensível nem no plano transcendente; são criados pelas condições humanas, que diferem dos atos pelos quais o espírito percebe o real e elabora a verdade. Pode ser que a própria verdade seja um valor. Mas no caso do sociólogo alemão, porém, há uma diferença fundamental entre a ordem da ciência e a ordem dos valores. A essência da primeira é a sujeição da consciência aos fatos e às provas; a essência da segunda é o livre arbítrio e a livre afirmação. Ninguém pode ser obrigado, por uma demonstração, a reconhecer um valor ao qual não adere. Max Weber teria respondido a Émile Durkheim que as sociedades são efetivamente o ambiente onde os valores são criados, mas que as sociedades reais são compostas de homens, isto é, por nós mesmos e pelos outros, e que em consequência não é a sociedade concreta, como tal, que nós adoramos ou devemos adorar. Se é verdade que cada sociedade nos sugere ou nos impõe um sistema de valores, isto não prova que a sociedade em que vivemos seja melhor do que a de nossos antepassados ou da que nós mesmos queremos construir. Nunca é demais repetir: a criação de valores é social, mas também histórica. Dentro de cada sociedade surgem conflitos entre grupos, partidos e indivíduos. O universo de valores a que cada um de nós acaba aderindo é uma criação ao mesmo tempo individual e coletiva. Resulta da resposta da nossa consciência a um meio, ou a uma situação. Portanto, não tem cabimento transfigurar o sistema social existente e atribuir a ele um valor superior ao da nossa própria escolha. Este último é, criador do futuro, enquanto que o sistema é uma herança do passado.
A antinomia fundamental da ação, de acordo com Max Weber, é a da moral da responsabilidade e da moral da convicção; Maquiavel de um lado, Kant de outro. A ética da responsabilidade (Verantwortungsethik) é aquela que o homem de ação não pode deixar de adotar; ela ordena a se situar numa situação, a prever as consequências das suas possíveis decisões e a procurar introduzir na trama dos acontecimentos um ato que atingirá certos resultados ou determinará certas consequências que desejamos. A ética da responsabilidade interpreta a ação em termos de meios-fins. Se é preciso convencer os oficiais de um exército a aceitar uma política que não apreciam, ela será apresentada em linguagem tal que eles não a compreenderão, ou com fórmulas que tolerem interpretação estritamente contrária à intenção real do ator, ou o objetivo procurado. É que num momento dado haja uma tensão entre o homem de ação e os executantes, estes talvez tenham a sensação de que foram enganados, mas, se este era o único meio de atingir o objetivo pretendido, quem terá o direito de condenar os que enganaram pelo bem do Estado? Max Weber gostava de tomar como símbolo da ética da responsabilidade o cidadão de Florença que (segundo Maquiavel) preferiu a grandeza do Estado à salvação da sua alma. O homem de Estado emprega meios reprovados pela ética vulgar para realizar um objetivo supraindividual, que é o bem da coletividade. Analogamente Weber não elogia o maquiavelismo, e uma ética da responsabilidade não é necessariamente maquiavélica, no sentido comum generalista do termo. Para sermos breves, a ética da responsabilidade, sociologicamente, é simplesmente a que se preocupa com a eficácia simbólica, e se define pela escolha consciente dos meios de trabalho e pensamento ajustados ao fim.
Introdutoriamente para a análise do filme Secretária (2002), que
se trata de um tema recorrente no chamado “mundo do trabalho”, no caso
norte-americano desde meados da II Guerra Mundial (1939-1945), pois as ciências
da cultura são compreensivas e causais. A relação de causalidade é, segundo o
caso, histórica ou sociológica. O historiador visa pesar a eficácia causal dos
diferentes antecedentes numa única conjuntura; o sociólogo procura estabelecer
relações de sucessão que se repetiram ou que são suscetíveis de repetição. O
instrumento principal da compreensão é o tipo ideal, nas suas diversas
variedades, cujo traço comum é a tendência para a racionalização, ou
então a percepção da lógica implícita ou explícita de um tipo de conduta ou de
um fenômeno histórico singular. Em todos os casos, o tipo ideal é sempre um
meio, não um fim; o objetivo das ciências da cultura é compreender os sentidos
subjetivos, isto é, em última análise, a significação que os homens atribuem à
sua existência. Mas esta ideia de que a ciência da cultura busca compreender o
sentido subjetivo das condutas não é evidente. Alguns sociólogos abandonaram e
consideram que o objetivo científico autêntico é a lógica inconsciente das
sociedades ou das existências. Para Max Weber o objetivo consiste em
compreender a existência vivida. Nesta orientação de curiosidade científica
está vinculada à relação que se estabelece, na sua teoria epistemológica entre
o conhecimento e a ação social. A filosofia dos valores tem uma relação
estreita. A singularidade de Max Weber é que ele pertence ao grupo dos sociólogos “frustrados da política”,
cuja aspiração não satisfeita pela ação social é um dos móbeis do esforço científico. É uma filosofia que propõe, como ponto de partida, a distinção
radical entre os fatos e valores sociais.
Estrelando Maggie Gyllenhaal e James Spader, o filme explora o intenso relacionamento disciplinar de trabalho entre um “advogado dominante” e a sua “secretária submissa”, os quais praticam vários tipos de atividades BDSM (Bondage, Disciplina, Sadismo, Masoquismo) é a sigla que denomina um conjunto de práticas de estimulação sexual consensuais, envolvendo bondage, disciplina, dominação, submissão, sadomasoquismo e outros tipos de comportamento sexual humano relacionados à esta subcultura. Dada a ampla gama de práticas, muitas delas acabam sendo realizadas por pessoas que não se consideram praticantes assumidos de BDSM (ou fetiches), tais como “spanking” e “omorashi”. Esse subgrupo representa na sociedade contemporânea um conjunto de comportamentos, costumes e rituais onde um indivíduo cede o controle sobre ele a outro indivíduo em um contexto ou estilo de vida erótico, portanto, a pessoa que exerce o papel dominante recebe poder e autoridade sobre a pessoa que exerce o papel submisso. A dominação e submissão não requer contato físico e pode explorar somente elementos psicológicos. Mas na maioria dos casos ela é intensamente física e pode estar envolvida com subgrupos do sadomasoquismo, o bondage ou a disciplina. No primeiro caso, na cultura popular norte-americana, é reconhecida como equivalente da Universidade Harvard, mas localizada fora do Nordeste do país.
É uma das universidades mais prestigiosas no mundo,
sendo classificada pelo Times Higher Education a 20ª melhor universidade
do mundo. Nos Estados Unidos, é atualmente considerada a 5ª melhor do país pelo
jornal americano Wall Street Journal/Times Higher Education,
ultrapassando a maioria das universidades da Ivy League, um grupo esportivo com
frequência associado a qualidade acadêmica, em termos de prestígio e qualidade.
Suas admissões para graduação estão entre as mais competitivas do mundo contemporâneo,
com uma taxa de aceitação geral de apenas 4% para a Classe de 2025, admitindo
somente cerca de 1600 estudantes ao ano. Os estudantes admitidos vêm de mais de
100 países no mundo, e normalmente estão entre os mais promissores jovens de
seus países — com históricos escolares que proporcionam ranking entre os 2–3
melhores de suas escolas de Ensino Médio, e notas no top 1% de todos os
estudantes que anualmente fazem as provas do SAT, considerado o ENEM americano.
Entre os ex-alunos de Duke, destacam-se o CEO da Apple Tim Cook; o
ex-presidente Richard Nixon (1913-1994); a filantropa Melinda Gates, ex-funcionária
da Microsoft, cofundadora e também vice-presidente da Fundação Bill e Melinda
Gates; Jonathan Browning, o CEO da Volkswagen America; Edmund T. Pratt Jr.,
ex-CEO da Pfizer; o embaixador dos Estados Unidos da América no Brasil, Todd Chapman; o neurocientista
brasileiro Miguel Nicolelis; o cientista econômico-comportamental Dan Ariely; a
empreendedora e vice-presidente da NASCAR Lesa Kennedy, que ocupa o posto de
mulher mais influente no mundo esportivo;
8 membros atualmente do Congresso nacional dos Estados Unidos da América; 5 ganhadores do Prêmio Nobel;
o ex-presidente do Chile Ricardo Lagos; dentre outros.
Na Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, foi fundada em
1891, sendo uma extensão da Universidade da Califórnia (UC). Está localizada em
Goleta (Califórnia), no estado da Califórnia, Estados Unidos. é uma instituição
de ensino superior dos Estados Unidos mantida pelo Estado da Califórnia. Apesar
da designação, a UC não é na realidade uma universidade singela, mas sim uma
organização de cúpula que agrupa diversas universidades semiautônomas
espalhadas pelo território do Estado, constituindo um dos três sistemas
públicos estaduais de ensino superior da Califórnia (os outros dois são a
Universidade do Estado da Califórnia e o Sistema de Colégios Comunitários da
Califórnia). Cada uma das universidades constituintes é referida como um “campus
da UC”. Entre os seus campi incluem-se os de Los Angeles (UCLA), Berkeley (UC
Berkeley), San Diego (UCSD), Davis, Irvine, Merced, Riverside, São Francisco,
Santa Cruz e Santa Bárbara. Possui um total de 10 campi. Emprega mais
vencedores de Prêmio Nobel do que qualquer outra instituição de Ensino Superior
no mundo. Os Regentes da Universidade da Califórnia compõem o conselho de
administração da Universidade da Califórnia. Como todos
os sistemas públicos em todo os Estados Unidos, o Conselho de Regentes é
“tratado como o verdadeiro partido em interesse para todos os efeitos sob a lei
da Califórnia”.
Todas as ações da universidade são feitas em seu nome, todos os graus acadêmicos são conferidos em seu nome, todas as propriedades da UC são mantidas em seu nome (e é marcada por sinais indicando “Propriedade dos Regentes da Universidade da Califórnia”), todas as contas bancárias são mantidas em seu nome (e todos os cheques devem ser escritos como a pagar a “UC Regents”), e todos os processos judiciais envolvendo a Universidade sempre se referem especificamente aos Regentes. O Conselho tem 26 membros completos eleitos por votação. A maioria (18 Regentes) é nomeada através de nomeação pelo governador da Califórnia, e confirmação pelo Senado Estadual da Califórnia, para um acordo de 12 anos. Os restantes 7 Regentes são membros ex-officio. Eles são o governador, vice-governador, presidente da Assembleia Estadual, Superintendente Estadual da Instrução Pública, presidente e vice-presidente das associações de alunos da UC, e presidente da Universidade da Califórnia. O Conselho também tem dois representantes do corpo docente sem direito a voto. A entrada Student Regent serve como um Regente não-votante indigitado a partir da data de seleção (entre julho e outubro) até o começo de seu mandato formal, o seguinte 1º de julho. A grande maioria dos regentes nomeados pelo Governador historicamente consiste de advogados, políticos e executivos. Ao longo das últimas duas décadas, tem sido comum que Regentes nomeados da UC doem somas relativamente grandes de dinheiro, quer diretamente para as campanhas eleitorais do governador ou indiretamente a grupos eleitorais do partido.
Na esfera cinematográfica, Erin Cressida Wilson roteirizou as obras Fur: An Imaginary Portrait of Diane Arbus (2006) é um filme do gênero drama romântico. Escrito por Erin Cressida Wilson e Patrícia Bosworth, foi dirigido por Steven Shainberg. É estrelado por Nicole Kidman, a icônica fotógrafa americana Diane Arbus, reconhecida por suas imagens visuais estranhas e perturbadoras. Robert Downey Jr. e Ty Burrell completam o “triângulo amoroso” em que se baseia a trama. Como o título indica, a história é em grande parte ficcional. Chloe, um filme franco-canado-estadunidense de 2009, dos gêneros suspense e drama, dirigido por Atom Egoyan. É estrelado por Julianne Moore como Catherine que, após suspeitar que seu marido (Liam Neeson) a trai, decide contratar Chloe (Amanda Seyfried), uma prostituta de luxo. Trata-se de uma refilmagem de Nathalie..., de Anne Fontaine. O roteiro foi escrito por Erin Cressida Wilson, baseado no original de Anne Fontaine. Foi gravado em 37 dias na cidade de Toronto entre fevereiro e março de 2009. Vários pontos de referência podem ser vistos, o Allan Gardens, Café Diplomático, The Rivoli, Windsor Arms Hotel, Royal York Hotel, Royal Ontario Museum, CN Tower, Art Gallery of Ontario e o Ontario College of Art.
Call Me Crazy: A Five Film é um telefilme americano de 2013, do gênero drama, dirigido por Laura Dern, Bryce Dallas Howard, Bonnie Hunt, Ashley Judd e Sharon Maguire para a Echo Films. O longa-metragem é dividido em cinco segmentos, em que alguns personagens se conectam no percurso das histórias. Isto é, cinco contos curtas-metragens que exploram o impacto e a luta de pessoas que apresentam doenças mentais. Segmento de Lucy. Dirigido por Bryce Dallas Howard e escrito por Deirdre O'Connor. O segmento Lucy segue a trajetória de Lucy, uma estudante de direito que se encontra em meio ao terror da esquizofrenia, em um hospital psiquiátrico onde, por meio do apoio de um novo amigo, de sua psicoterapeuta e tomando as medicações corretas, ela começa o seu caminho para a cura, podendo assim continuar sua vida de onde havia parado. Dirigido por Laura Dern e escrito por Howard J. Morris. Grace explora o mundo do transtorno bipolar através da experiência de uma filha adolescente cuja mãe lida com a condição. Men, é um filme de terror folclórico britânico-estadunidense escrito e dirigido por Alex Garland. O filme é estrelado por Jessie Buckley e Rory Kinnear. Foi lançado nos Estados Unidos em 20 de maio de 2022, pela A24, e no Reino Unido em 1 de junho de 2022, pela Entertainment Film Distributors. O filme recebeu críticas geralmente positivas dos críticos, com elogios direcionados às performances dos protagonistas, embora a história e os temas tenham recebido algumas críticas. Uma jovem sai de férias para o interior da Inglaterra após a morte de seu ex-marido. Após a tragédia, Harper Marlowe (Jessie Buckley) se retira sozinha para um belo campo inglês, na esperança de encontrar um lugar para se curar. No entanto, alguém ou algo da floresta ao redor parece estar perseguindo-a. O que começa como um “pavor latente”, logo se torna um pesadelo totalmente formado, e também logo habitado por suas memórias e medos mais sombrios.
Men, Women & Children é um filme de comédia dramática estadunidense dirigido por Jason Reitman coescrito com Erin Cressida Wilson, baseado no romance de mesmo nome escrito por Chad Kultgen. O longa é estrelado por Adam Sandler, Rosemarie DeWitt, Emma Thompson (narradora) e Jennifer Garner. Está programado para ser exibido na seção de apresentações especiais de 2014 no Festival Internacional de Toronto. O filme recebeu um lançamento limitado em 3 de outubro de 2014, antes de um lançamento amplo que ocorreu no dia 17 de outubro de 2014. De acordo com a sinopse oficial divulgado pela distribuidora, o filme “segue a história de um grupo de adolescentes do ensino médio e seus pais” enquanto eles percebem o quanto internet, rede mundial de computadores “mudou seus relacionamentos, sua comunicação, sua autoimagem e suas vidas amorosas”. Também é descrito que o filme vai tocar em temas como a cultura dos video games, anorexia, infidelidade, a busca por fama e a proliferação de material ilícito na rede. E, finalmente, o extraordinário The Girl on the Train, um filme estado-unidense de 2016, dos géneros drama romântico, mistério e suspense, realizado por Tate Taylor e escrito por Erin Cressida Wilson, com base no romance de estreia homónimo de Paula Hawkins. Foi protagonizado por Emily Blunt, Rebecca Ferguson, Haley Bennett, Justin Theroux, Luke Evans, Édgar Ramírez, Allison Janney e Lisa Kudrow. As filmagens foram realizadas em Nova Iorque no dia 4 de novembro de 2015. O filme foi produzido por Marc Platt e DreamWorks Pictures e será distribuído pela Universal Pictures, como parte do novo acordo de distribuição da DreamWorks. Estreou-se em Portugal a 5 de outubro, nos Estados Unidos a 7 de outubro, comparativamente, e no Brasil a 27 de outubro de 2016. Arrasada por seu recente divórcio, Rachel Watson vive “fantasiando” sobre um casal aparentemente perfeito que mora em uma casa pela qual seu trem passa todos os dias. Certo dia, ela presencia algo estranho e começa sua própria investigação.
Enfim,
como vimos, uma característica essencialmente da compreensão moderna do mundo é
a secularização. É um processo através do qual a religião perde a sua
influência sobre as variadas esferas da vida social. Essa perda de influência
repercute-se na diminuição do número de membros participantes no conjunto das
religiões mundiais e de suas práticas.
Na perda do prestígio desproporcional das igrejas, congregações e
organizações religiosas. Na influência na sociedade, na cultura, na diminuição
das riquezas das instituições religiosas, e, last but not least, na
desvalorização das crenças e dos valores a elas associados. A partir do século XIX,
houve um progressivo declínio da influência das instituições religiosas
tradicionais. Este declínio verificou-se tanto na prática dos fiéis, como na
dificuldade crescente em recrutar clero para o desenvolvimento e manutenção da
instituição. A maior parte dos estudos acadêmicos versou a tentativa de
compreensão deste âmbito. A investigação já não se centra tanto nas causas e
nas razões da secularização, mas nas possibilidades da relação da modernidade
com o religioso. Mas não é a consciência do próprio sujeito que neste sentido
passa a atribuir significado ao espaço/tempo no qual está inserido. A vida
ganha uma dimensão de responsabilidade para com a condução do destino da
espécie humana, bem como com relação ao domínio da natureza em suas várias
formas de manifestação. O ser humano cria instituições a partir das quais vai
gerenciar a vida em sociedade e tais instituições passam a ter a legitimidade
de sua atuação amparada em argumentos e motivos típicos racionalmente válidos.
Paternidade é um conceito que vem do latim “paternĭtas” e que diz respeito à condição de ser pai. Isto significa que o homem que tenha tido um ou mais filhos acede à paternidade. É importante destacar que a paternidade transcende o biológico. A filiação pode acontecer através da adoção, convertendo a pessoa em pai do seu filho mesmo que este não seja seu descendente de sangue. Num sentido semelhante, o homem que doa sêmen para que uma mulher se insemine não se transforma no pai da futura criança. A paternidade, por outro lado, pode ser tanto espiritual quanto simbólica. No âmbito da religião, ou de uma congregação religiosa, é considerado líder o guia de uma congregação que é tido como o “pai” dos fiéis. Neste sentido, o papa da Igreja católica apostólica romana tende a designar-se ardorosamente como Santo Pai. Do ponto de vista teórico “povo” do latim “populus” e do etrusco “pupluna”, teve acepções bem diferentes na história social e política. Para os gregos e romanos, na esfera política, o povo que tinha a capacidade de decidir sobre os assuntos do Estado, era composto apenas pelos cidadãos com disponibilidade de tempo e recursos para isso. Na esfera da religião, na Bíblia, por exemplo, o “povo de Deus”, é hebreu e, a partir do Concílio Ecuménico Vaticano II, passou a referir-se aos seguidores da Igreja Cristã. Na Idade Média, o povo no “Terceiro Estado”: a plebe, sem direitos de cidadão, considerado como a massa de cidadãos sem capacidade psicológica para participar na gestão do Estado.
No final da Idade Média, com as invasões e massacres dos “descobrimentos” europeus e a colonização e recolonização, como ocorreu no caso brasileiro quando se submeteram outros povos, com a visão colonialista inventaram-se os “povos naturais”, “povos primitivos” ou “povos indígenas” que, na segunda metade do século XX, são designados pela antropologia colonialista por etnias. Os conceitos de massa, que diferem do conceito relacionado à “matéria”, sempre se mostram de alguma forma associados ao conceito de inércia. Entretanto, apesar de muito bem definida dentro de cada nível de análise comparativo onde aparece, explicar a massa sociologicamente, não é uma representação simples, nem na religião e muito menos na política, mas existem teorias que tentam elucidar nas origens o que é massa. A afirmativa de Freud, na introdução de seu artigo sobre as massas, de que a psicologia individual é ao mesmo tempo psicologia social, certamente ele não as considerava como entidades separadas, mas sim como algo que naturalmente constituía um nexo único. Pois, mesmo sozinho, ou seja, fora do nível de análise de algum grupo, no indivíduo há sempre a presença do outro, pondo o social em questão na esfera clínica psicanalítica. Na esfera política alguns pensadores discutiram que a legitimidade de Estados modernos deve ser baseada em uma noção de direitos políticos para sujeitos individuais autônomos. De acordo com este ponto de vista, o Estado não pode reconhecer a identidade étnica, nacional ou racial e deve, preferivelmente, reforçar a igualdade política e legal de todos os indivíduos. Tal como os conceitos de raça e nação, o de etnicidade desenvolveu-se na expansão colonial, quando o mercantilismo e o capitalismo promoviam movimentações de populações ao mesmo tempo em que as fronteiras dos Estados eram definidas mais claramente.
O
colonialismo moderno começou com a chamada Era dos Descobrimentos. Portugal e
Espanha descobriram novas terras do outro lado do oceano e construíram
feitorias. Para algumas pessoas, é esta construção de colônias em outro
continente que diferencia o colonialismo de outros tipos de expansionismo.
Essas novas terras foram divididas entre o Império Português e o Império
Espanhol, primeiro pela bula papal Inter Coetera e depois pelo Tratado
de Tordesilhas (1494) e o Tratado de Saragoça (1529). Este período
também é associado com a Revolução Comercial. O final da Idade Média viu
reformas na contabilidade e sistema bancário na Itália e no Mediterrâneo
oriental. Essas ideias foram adotadas e adaptadas na Europa Ocidental para os
altos riscos e benefícios associados aos empreendimentos coloniais. No século
XVII, ocorreu a criação do império colonial francês e do Império Colonial
Neerlandês, bem como do Império Colonial do Reino de Inglaterra, que mais tarde
tornou-se o Império Britânico. Também ocorreu a criação de algumas colônias
suecas e um império colonial dinamarquês. A disseminação dos impérios coloniais
foi reduzida no final do século XVIII e início do século XIX pela Guerra
Revolucionária Americana e a independência da América Espanhola. No entanto,
muitas novas colônias foram estabelecidas após esse tempo, inclusive para o
império colonial alemão e o império belga. No final do século XIX, muitas
potências europeias estavam envolvidas na partilha da África.
O Império Russo, Império Otomano e o Império Austríaco existiam ao mesmo tempo, como os impérios historicamente constituídos, mas não expandiram exatamente sobre os oceanos. Em vez disso, esses impérios expandiram através da rota comercial imperialista mais tradicional de conquista de territórios vizinhos. Havia, porém, alguma colonização russa das Américas através do Estreito de Bering. O Império do Japão modelou-se nos impérios coloniais europeus. Os Estados Unidos da América em territórios ultramarinos após a Guerra Hispano-Americana e o termo “Império americano” foi cunhado. A palavra etnia é derivada do grego ethnos, significando povo que tem o mesmo ethos, costume, incluindo língua, raça, religião etc. Esse termo era tipicamente utilizado para se referir a povos não gregos, então também tinha conotação de estrangeiro. No posterior uso cultural católico-romano, havia a conotação adicional de gentio. A palavra deixou de ser relacionada com o paganismo em princípios do século XVIII. O uso do sentido moderno, mais próximo do original grego, começou a ocorrer na metade do século XX, tendo se intensificado desde então. Assiná-la, ainda que as etnias se distingam das nações por intermédio da intensidade de seus vínculos afetivos, visto que a solidariedade assim constituída subsiste para além da dissolução do grupo que a produziu como entidade sociopolítica, e permanece como identidade e fator de distinção de outros grupos sociais. No século XIX, os Estados modernos, em geral no âmbito ocidental do processo de colonização, procuravam reclamando a representação constitucional e conceitual de “nações”. Nos Estados-nação incluem, mormente, “populações” indígenas que foram excluídas do projeto político de construção da nação, ou recrutam trabalhadores do exterior como massa de mão-de-obra das suas fronteiras.
Estas
pessoas constituem, tipicamente, grupos étnicos. Consequentemente, os membros
de grupos étnicos costumam conceber a sua identidade como algo que está fora da
história nativa do Estado-nação, quer como alternativa histórica quer em termos
não históricos, quer em termos de uma religação ao Estado-nação. Esta
identidade se expressa através de tradições e motivações variadas que embora
sejam frequentemente invenções recentes, apelam certamente para a sua
constituição à memória e a noção de passado. Por se tratar de um fenômeno
universal, não raro presente em toda a história da humanidade, desde as tribos
nômades, índios e povos africanos, para não falarmos na sobrevivência de povos latino-americanos,
conflitos étnicos têm uma justificativa na retomada de valores e ideias que
sendo societário não podem ter sido esquecidos. No estudo comparativo das
religiões e etnias, fundamentalismo pode se referir a movimentos
antimodernistas nas várias religiões. Por extensão de sentido o termo
fundamentalismo passou a ser usado por outras ciências para significar uma
crença irracional e exagerada, uma posição dogmática ou até certo fanatismo em
relação a determinadas opiniões, como no mercado econômico ocorre com o
“fundamentalismo de livre mercado”. O fundamentalismo étnico, essencialmente,
pode referir-se a movimentos sociais antimodernistas decorrentes de várias
etnias, com a manutenção de ideias separatistas, representando um conjunto
estipulado de características tradicionais do grupo que se mescla a um grupo
maior determinado pela diversidade cultural, social, política e econômica.
Enquanto
o grupamento social é absorvido no processo político de globalização, e
destinam-se prevalentemente a compartilhar as mesmas ideias separatistas, com
ou sem o propósito da organização armada, podendo chegar aos congressos
nacionais, assembleias legislativas, ou em apoiar partidos políticos, que podem
eventualmente pela via política chegar ao poder. O fundamentalismo está
alimentando intolerância crescente em todo o mundo, o que representa uma grave
ameaça a direitos como liberdade de reunião pacífica e associação, disse o
especialista da Organização das Nações Unidas sobre o tema, Maina Kiai (cf. EcoDebate,
08/07/2016), ao Conselho de Direitos Humanos, durante apresentação de seu
recente relatório sobre fundamentalismo de livre mercado, político, religioso,
nacionalista ou cultural. - “O conceito de fundamentalismo não pode ser
limitado à religião. Ele pode e deve ser definido de forma mais ampla, para
incluir todos os movimentos e não somente aqueles religiosos que defendem a
adesão estrita e literal a um conjunto de crenças ou princípios básicos”, disse
Kiai. “Na essência, este relatório é sobre a luta entre tolerância e
intolerância”. Para o especialista em direitos humanos, embora as pessoas em
todo o mundo falem cerca de 7 mil línguas, pratiquem 270 religiões,
vivam em 193 Estados-membros das Nações Unidas e pertençam a milhares de
culturas, “todos compartilham um único planeta, e a tolerância para com as
diferenças é a única maneira de evitar a violência, a opressão e o conflito”.
Vale
lembrar que entre os filósofos da existência, o único pensador que aceita o
termo “existencialismo” para designar a sua filosofia é Jean-Paul Sartre. Com
uma particularidade expressiva, tendo em vista que Sartre reconhece que existem
dois tipos de pensadores existencialistas, aqueles de confissão católica, que
entre eles incluem Gabriel Marcel e Karl Jaspers e os existencialistas ateus. A
filosofia da existência constitui, segundo Jaspers, o âmbito no qual se dá todo
o saber e todo o descobrimento possível. Em estabelecer as relações entre
existência e razão; em profundidade o conceito de verdade. Mas ela não pode ser
entendida como característica de nenhum enunciado particular. É antes uma
espécie de ambiente que envolve o conhecimento. A existência, em qualquer de
seus aspetos, é precisamente o contrário de um objeto em geral, pois pode ser
definida de acordo com a proposição segundo a qual representa “o que é para si
encaminhada”. O problema central é como pensar a existência sem torná-la
objeto. Ipso facto, metodologicamente a existência é entendida como intimamente
vinculada à historicidade e à noção de situação-limite: o existir é um
transcender na liberdade, que abre o caminho em meio a um conjunto de situações
históricas concretas. A especificidade do pensamento jasperiano, que o
diferencia pensadores existencialistas encontra-se, na convicção de
que a existência não apresenta apenas um caráter inconcluso e indeterminado,
mas, uma significação além da “orientação no mundo”.
Por
acreditar que as questões práticas eram a sua verdadeira tarefa e a forma mais
imediata de tratar a existência humana, inicia os seus estudos na
jurisprudência. Porém, como explica: “o que vi nela foi apenas um complicado
jogo intelectual com ficções que não tinham nenhum interesse para mim”. Diante
desse descontentamento, abandona o curso de Direito e inicia o estudo de
Medicina. Segundo ele, o estudo da medicina oferecia as melhores possibilidades
para conhecer a natureza e os homens. Com esse objetivo prático, se dedica,
portanto, à medicina, mas com a intenção de terminar a Universidade seguindo
uma carreira científica, não na filosofia, como salienta, mas na psicologia ou
psiquiatria. Desses estudos posteriores, surgem suas investigações psicopatológicas,
que constituem a obra Psicopatologia geral. Karl Jaspers afirma em “Balance y
Perspectiva” (1953), que sua psicologia já tratava de questões filosóficas,
como por exemplo, a busca pelo “esclarecimento da existência”. Isso demonstra que seus estudos
psicopatológicos se estabelecem de certa forma, como ponto de partida para a
estruturação de seu pensamento filosófico. Porém, cabe salientar que somente
com o advento da 1ª grande guerra (1914-1918), se estabelece uma ruptura na
vida de Jaspers, ao se deparar com a sua realidade e com a complexidade da
Europa dilacerada pela guerra, a filosofia se faz mais preeminente na sua vida,
principalmente na forma de reconhecimento do significado da verdade da condição
humana tendo uma aproximação metodológica em torno da perspectiva política de
Hannah Arendt e vice-versa.
Como pensador da existência, Jaspers não poderia se deter somente no horizonte dos condicionamentos objetivos. Pois sua intenção é compreender, as situações-limites do horizonte existencial do homem. E isso implica o esclarecimento da existência humana, não somente enquanto realidade empírica, mas também como “existência possível”. Na sua concepção somente a partir de uma reflexão da existência sobre a sua condição no mundo, chega-se ao reconhecimento de seu próprio modo de presença no mundo. Quando isso ocorre, se estabelece outro horizonte de relação com o mundo quando ele passa a significar a sua existência. O “salto” (“Sprung”), significando a “possibilidade de superação”, desde Hegel, expresso no pensamento jasperiano, se efetiva quando o existente confronta a si mesmo e as suas limitações. Nesse confronto, passa a atribuir um significado e conteúdo de sentido ao seu próprio modo de “presença no mundo”, o que possibilita a abertura para as diversas possibilidades de ser. Mas não se trata apenas da apropriação da dimensão objetiva à dimensão subjetiva respectivamente nos planos de análise e realidade. Com efeito, a reflexão subjetiva e comprometida, faz com que o homem adquira consciência da sua situação no mundo. Somente no momento em que se vê em condições de significar essas situações poderá realizar o “salto” para a existência possível. Isto é decisivo para Jaspers que é pontual ao afirmar que a existência se apresenta sob duas óticas distintas, mas interligadas: enquanto existência empírica e enquanto existência possível.
No primeiro caso, pode-se estabelecer um conhecimento objetivo, já que se refere aquele nível de realização que é acessível às diversas investigações. Porém, salienta que só é possível falar de existência enquanto possibilidade de forma indireta, pois não temos um “objeto fixo” e determinado e, assim, passível de investigação. A meditação sobre a verdade se dá em torno a um conceito central de sua filosofia, o “englobante”. Tudo o que aparece na consciência humana provém, para o filósofo, de um “fundo obscuro do ser”, de um englobante que não é o sujeito que pensa nem o objeto pensado, mas base para o fato de pensar. Esse conceito nos revela a impossibilidade de um discurso definitivo sobre a verdade filosófica, pois o ser nunca se converte em objeto, embora Jaspers admita “verdades parciais” no campo da ciência e das relações pessoais, limitadas pelo método e pela história. As informações sobre o homem que a ciência nos traz são sempre parciais, sendo que parte importante da humanidade do homem vem de sua liberdade. A noção de transcendência percorre toda a obra. Ela é importante na descoberta do outro, no contato com o englobante e na compreensão da vida como projeto. Esses são os aspectos centrais de sua meditação. Um dos conceitos mais característicos da filosofia de Karl Jaspers é “situação-limite” e por diferentes razões. Demonstram-se seus condicionamentos sociais, sobretudo, no contexto histórico da sua filosofia da existência. Isso porque somente a partir do embate com as “situações limite”, filosoficamente falando, o existente se coloca em condição de abertura para a experiência da transcendência.
Com
isso, pode-se observar que o termo “situação”, utilizado de forma pontual pela
ciência para indicar os “fatos e as redes de determinações objetivas que agem
sobre o indivíduo”, se estabelece, na filosofia jasperiana, de maneira
distinta. O termo encontra-se vinculado unicamente à existência humana e, nesse
caso, não é a situação que determina o comportamento humano, mas ao contrário,
a existência que transforma os fatos e/ou os acontecimentos em “situação”,
dando-lhes conteúdo e significação. Tais situações passam, então, a integrar a
vida do existente. Como se refere Jaspers: “estas situações que sentimos,
experimentamos e pensamos sempre nos limites de nossa existência, se chamam
situações-limite”. Contudo, deve-se ter
em vista que as situações-limite correspondem a um modo de situação humana que,
diferentemente das situações no mundo, não podemos alterar. São elas: a morte,
o sofrimento, a culpa. O aspecto determinante desse tipo de situação, o que a
torna “limite”, é o seu caráter imutável e irredutível. A título de exemplo,
podemos citar a situação-limite da morte que, no entender de Jaspers, coloca o
existente diante da fragilidade do seu ser justamente por constituir uma
situação intransponível e limitante. Logo, a reação imediata nesta situação é
puramente negativa, pois a morte é algo irrepresentável, algo propriamente
impensável. O que nós representamos e pensamos dela são somente negações e
somente fenômenos acidentais. Na qualidade de “desejo existencial”, a culpa se
traduz como a “insatisfação estrutural” do existente, limitado a sua
facticidade. Pode-se entrever que, no
âmbito da existência, a “culpa” traz consigo um aspecto negativo porque nasce
da impossibilidade do existente realizar-se plenamente.
As experiências da culpa e da morte, configuradas de forma negativa, têm como componente essencial o que Jaspers chama de “naufrágio ou fracasso”. Um limite definitivo, implicando aquilo que impede de alcançar, tal é o fracasso em Jaspers. Como ele mesmo diz: “fracasso é o lugar de um malogro”. Fracassa aí a existência. Somos no mundo e somos sempre “em situação”. Quando estou “em situação” posso agir calculadamente, mesmo perante dificuldades. Não apenas numa realidade natural, mas uma realidade referida a um sentido. Sermos sempre em situação implica compreender que a existência empírica é um “ser em situação”, ou seja, implica dizer que não posso nunca sair de uma situação sem entrar imediatamente em outra. Pois, sempre posso mudara a situação, mas não posso mudar o fato de que sou um “ser-em- situação”, ou seja, implica dizer que não posso nunca sair de uma situação sem entrar imediatamente em outra. Melhor dizendo, sempre posso mudar a situação, mas não posso mudar o fato de que estou sempre em situação, de que sou um ser-em-situação. Trata-se de uma estrutura essencial na filosofia da existência. O conceito de situação não encerra apenas elementos espaciais, como lugar, posição, mas se refere ao sentido de uma relação de ligação, pois podemos indicar a estreita conexão entre situação e sentido.
Mas
situação não são fatos ou acontecimentos, não é simplesmente dada. Pode-se
dizer que são os fatos sociais à luz do valor reconhecido pelo homem. Se não se
pode pensar em uma existência sem valores, todavia, não se propõe a definição
de uma essência de homem. Estar em situação, perguntar e reconhecer sentido e
valor corresponde mais a uma descrição das estruturas existenciais, modos de
manifestação do ser. Somos capazes intelectualmente de explicar nossos sistemas
de valores, mas para que os sistemas de valores operem em minha vida, é preciso
que eu os adote, que a escolha e os integre em meu modo de referir-me às
coisas. Ser-em-situação é de fato escolher, reconhecer valor, avaliar, e disso
não nos equivocamos e nem podemos delegar. Vivemos em situação, estamos em
apoio-no-finito, orientados por nossas hierarquias constituídas através de
valores, imagens compreendidas de um mundo e atitudes, referidos a um
determinado conteúdo de sentido. No cotidiano, vivemos protegidos pelos apoios.
Abstratamente é um véu que encobre as situações-limite. Enquanto estes são
ocultos, nos sentimos seguros, a salvo, e as dificuldades e conflitos são
superáveis e suportáveis. Quando estou “em situação” (não no limite) posso agir
calculadamente, mesmo perante dificuldades. Lutamos por isso tudo em vista a
estrutura antinômica que nos envolve. Mas
há outro tipo social de luta que podemos travar e pelo qual estávamos pelejando
tanto, na qual nos valemos de outro tipo de apoio. São as situações limites.
O pensamento crítico de Karl Jaspers se envolve constantemente tendo como
referência o tema dos limites. Esse envolvimento leva o pensador a enfrentar
filosoficamente essas situações que experimentamos, sentimos e pensamos nos
limites da existência nomeando-as Grenzsituationen, as
situações-limite. Estou em situação, e posso sempre mudar minha situação, mas nunca posso mudar as situações-limites.
Não
se apreende racionalmente as situações-limite, tampouco se escapa delas por
qualquer plano lógico ou racional do cálculo. Se não as ignoramos, nenhuma
conquista cultural ou científica poderá me orientar. Na verdade, as
situações-limite revelam, justamente, a situação original, a precariedade dos
apoios, inclusive daqueles que envolviam construções racionais muito bem
elaboradas. Para sua compreensão podemos também esclarecer o que entendemos que
elas não são. Não se trata de uma circunstância momentaneamente difícil, de uma
situação de difícil solução. Não podemos identifica-la, tampouco, como uma
crise, um momento de dificuldade que pode ser superado. As situações-limite não
são meramente resistência do mundo. Essas podem representar, certamente,
desgraça e sofrimento para o homem. As resistências às minhas vontades e
pretensões são superáveis, e sendo assim elas mesmas funcionam como termo de
apoio. Exemplo disso são os obstáculos que enfrentamos ao longo do processo da
vida nas condições que consideramos impedimentos ao nosso desempenho. À
concretização de nossa felicidade, de nosso prazer, mas que ao mesmo tempo,
delimitam nosso agir. Elas não dão parâmetros, demarcam a relação no espaço em
que acreditamos dever ficar. A experiência consciente das situações-limite, que
anteriormente estavam recobertas pelo abrigo das formas de vida e imagens do
mundo, permite o começo de um processo que faz desparecer o abrigo
anteriormente evidente. Se a vida prossegue, o que se vê é que a dissolução dos
antigos abrigos vem acompanhada evidentemente de novos abrigos. Esse é o que
denominamos “processo vital” para a interpretação de Jaspers. Viver representa
a dissolução e a formação de novos abrigos. O homem não suporta viver na
indefinição. Ele busca os limites, algo definitivo, verdadeiro, uma imagem de
mundo, fórmulas gerais.
Bibliografia
Geral Consultada.
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