“Culto é aquele que sabe onde encontrar aquilo que não sabe”. Georg Simmel
A
obra do sociólogo não é a do homem público, lembrava seu fundador Émile Durkheim. O que a
experiência do passado demonstra, antes de mais nada, é que os marcos do grupo
profissional devem guardar sempre uma relação com os marcos da vida econômica;
foi por ter faltado com essa condição que o regime corporativo desapareceu.
Portanto, já que o mercado, de municipal que era, tornou-se nacional e
internacional, a corporação deve adquirir a mesma extensão. Em vez de ser
limitada apenas aos artesãos de uma cidade, ela deve ampliar-se, de maneira a
compreender todo os membros da profissão, dispersos em toda a extensão do
território, porque, qualquer que seja a região em que se encontram, quer no
campo, todos são solidários uns com os outros e participam da vida comum. Tendo em vista que historicamente essa vida comum é, sob certos aspectos, independentemente de
qualquer determinação territorial, tem que ser criado um órgão apropriado, que
a exprima e regularize seu funcionamento. Por causa de suas dimensões, tal
órgão estaria necessariamente em contato relacional com o órgão central da vida
coletiva, pois os acontecimentos importantes o bastante para envolverem toda
uma categoria de empresas industriais num país tem necessariamente repercussões
bastante gerais, que o Estado não pode sentir, o que o leva a intervir. Não foi
sem fundamento que o poder real tendeu indistintamente a não deixar fora de sua
ação a grande indústria. Era impossível que ele se desinteressasse por uma
forma de atividade que por sua natureza, é capaz de afetar o conjunto da
sociedade. Essa organização unitária para o conjunto de um mesmo país não
exclui, de modo algum, a formação de órgãos secundários, que compreendam os
trabalhadores similares da mesma região ou localidade, e cujo papel social seria
especializar ainda mais a regulamentação segundo as necessidades
locais, regionais ou nacionais.
A vida econômica poderia ser regulada e determinada, sem nada perder de sua diversidade. Por isso mesmo, o regime corporativo seria protegido contra essa propensão ao imobilismo, que lhe foi frequente e justamente criticada no passado, porque é um defeito que resultava do caráter estreitamente comunal da corporação. Na síntese durkheimiana representada sobre o lugar de análise das corporações deve-se até supor que esteja destinada a se tornar a base, ou uma das bases essenciais de nossa organização política. Ela começa por ser exterior ao sistema social, tenderá a se empenhar de forma cada vez mais profunda nele, à medida que a vida econômica se desenvolve. Ela foi outrora a divisão elementar da organização comunal. Agora que a comuna, de organismo autônomo que era outrora, veio se perder no Estado, como o mercado municipal no mercado nacional, acaso não é legítimo pensar que a corporação também deveria sofrer uma transformação correspondente e tornar-se a divisão elementar do Estado, a unidade política fundamental? A sociedade, em vez de continuar sendo o que ainda é, um agregado de distritos territoriais justapostos, tornar-se-ia um vasto sistema de corporações nacionais. Mas essas divisões geográficas são, em sua maioria, artificiais e já não despertam em nós sentimentos profundos. O espírito provinciano desapareceu irremediavelmente: o patriotismo de paróquia tornou-se um arcaísmo que não se pode restaurar à vontade. Uma nação só se pode manter se, entre o Estado e os particulares, se intercalar uma série de grupos secundários próximos dos indivíduos para atraí-los fortemente em sua esfera de ação e arrastá-los, assim, na torrente geral da vida social.
Isso não quer dizer, porém, que a corporação seja uma espécie de panaceia capaz de servir a tudo. Será necessário que, em cada profissão, um corpo de regras se constitua, fixando a quantidade de trabalho, a justa remuneração dos diferentes funcionários, seu dever para com os demais e para com a comunidade, etc. Estaremos, pois, não menos que atualmente, em presença de uma tábula rasa. A vida social deriva inexoravelmente de uma dupla fonte: a similitude das consciências e a divisão do trabalho social. O indivíduo é socializado no primeiro caso, porque, não tendo individualidade própria, confunde-se como seus semelhantes, no seio de um mesmo tipo coletivo; no segundo, porque, tendo uma fisionomia e uma atividade pessoais que o distinguem dos outros, depende deles na mesma medida em que se distingue e, por conseguinte, da sociedade que resulta de sua união. Esta divisão dá origem às regras jurídicas que determinam as relações das funções divididas, mas cuja violação acarreta apenas medidas reparadoras sem caráter expiatório. De todos os elementos técnicos e sociais da civilização, a ciência nada mais é que a consciência levada a seu mais alto ponto de clareza. Nunca é demais repetir que para que as sociedades possam viver nas condições de existência que lhes são dadas, é necessário que o campo da consciência se estenda e se esclareça. Quanto mais obscura uma consciência, mais é refratária à mudança social, porque não vê depressa o que é necessário mudar. Nem em que sentido é preciso mudar. Uma consciência esclarecida sabe preparar de antemão a maneira de se adaptar a essa mudança risível. Eis porque é necessário que a inteligência guiada pela ciência adquira uma importância maior no curso da vida coletiva. Tais sentimentos são capazes de inspirar não apenas esses sacrifícios, mas também atos de renúncia completa e de abnegação exclusiva. A sociedade aprende a ver os membros que a compõem como cooperadores que ela não pode dispensar e para com os quais tem deveres sociais.
Integrando o arquipélago das Ilhas de Wadden, no limite oriental do Mar do Norte, que se estende desde o Noroeste da Holanda até à Dinamarca passando pela Alemanha, as Ilhas Frísias representam a pátria do povo frísio, cuja língua é falada até aos nossos dias. O mais antigo registo desta etnia é referido por Tácito, um dos grandes historiadores romanos, em De Origine et situ Germanorum, no século I, onde alude a um povo de marinheiros que povoaram as terras em torno do Mar do Norte e cujas colonizações terão deixado vestígios em Inglaterra, na Escócia, Dinamarca, Alemanha, Bélgica, França, Itália e nos Países Baixos. Em 12 a.C. terão sido conquistados pelo general romano Nero Cláudio Druso, juntando-se muito mais tarde, no século V, à emigração dos anglo-saxões, chegando até Bruges, já no século VII, e convertendo-se depois ao cristianismo sob influência do Reino Franco, também reconhecido como Francia, foi o território governado pelos francos na Alta Idade Média e na Antiguidade Tardia. Os francos eram uma tribo germânica que habitava o médio e baixo Rio Reno no século III d.C. O Reino Franco surgiu após a queda do Império Romano. Clóvis I foi o primeiro rei dos francos, coroado em 496. O Reino Franco foi governado por duas dinastias principais: os merovíngios e os carolíngios. A dinastia merovíngia foi estabelecida por Clóvis I, o primeiro rei dos Francos a unir as tribos francas sob um único governante, alterando a forma de liderança de chefes tribais para um governo de um único rei e assegurando que o reinado passasse aos seus herdeiros.
O Reino Franco se expandiu e incorporou características de outros povos, como os saxões, os romanos e os avaros. O Império Carolíngio foi sua maior extensão territorial geopolítica, alcançada durante o reinado de Carlos Magno. O Tratado de Verdun, em 843, dividiu o reino em três partes: os francos centrais, os francos ocidentais e os francos orientais. O Tratado de Meersen, em 870, readequou as fronteiras. Há aproximadamente 12 mil anos, aquando da última era do gelo, parte do que é atualmente o Mar do Norte constituía terra seca, já que o nível das águas se encontrava 60 metros abaixo do ponto atualmente, subindo depois em virtude do derretimento das calotas polares. Aquando do início do Holoceno, há sete mil anos, atingir-se-ia, então, a linha atualmente costeira, com a ação das marés a transportar quantidades significativas de areia que viriam assim a formar uma linha de dunas que, depois de o mar romper, se transformariam nas famosas Ilhas de Wadden. A construção de represas iniciar-se-ia por volta do ano 1000, com um papel preponderante a ser desempenhado pelos monges do Mosteiro de Aduard, sendo que no final da Idade Média as inundações haviam já diminuído francamente graças ao fortalecimento do sistema de diques, uma estrutura de contenção de água que serve para proteger pessoas, propriedades e infraestruturas de inundações. A recuperação de terra prosseguiria a partir do século XVII, atingindo o seu pico durante os séculos XIX e XX.
Como
aspecto absolutamente curioso, mas ilustrativo das condições naturais, é
evidente o lento, mas contínuo movimento das próprias ilhas, podendo-se
inclusivamente referir o termo migração quando a elas nos referimos, sendo
clara a deslocação de oeste para Leste, com a maioria daquelas que se localizam
no extremo ocidental a mergulhar lentamente e o surgimento de bancos mais
consistentes a Leste. Por consequência, também as aldeias se tornaram móveis ou
poderemos até dizer “migrantes”, a maioria encontrando-se agora no ponto Oeste
de cada ilha, tendo sido fundadas no centro e vendo-se, séculos depois, cada
vez mais próximas do seu extremo ocidental e, por consequência, do inevitável
afundamento. Formando uma entidade natural única e uma região holandesa
distinta, as ilhas de Texel, Vlieland, Terscheling, Ameland e Schiermonnikoog
formam uma barreira natural entre a costa frísia e o Mar do Norte, situando-se
nos lodaçais do Mar de Wadden, constituindo-se Patrimônio Mundial da Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) tem como
representação social uma agência especializada na esfera política da Organização
das Nações Unidas (ONU) que trabalha essencialmente para promover a paz e o
desenvolvimento sustentável desde 2009. Ali é possível realizar caminhadas extraordinárias
com guias profissionais e assistir geograficamente ao desfilar de aldeias, pólderes
e pântanos salgados que circundam as ilhas ao longo das suas margens à medida
que as faixas de praia e de dunas se entrelaçam com o vislumbrante mar.
Oferecendo uma enorme e maravilhosa diversidade paisagística que varia entre praias, dunas, florestas e pólderes, as ilhas em conjunto com os pântanos do Mar de Wadden representam uma reserva natural protegida e que reúne a cooperação entre os países que partilham aquela região, isto é, a Holanda, Alemanha e Dinamarca. Os terrenos pantanosos representam um verdadeiro paraíso para espécies aquáticas como caranguejos, mexilhões e ostras e atraem cerca de 12 milhões de aves, representando para 34 destas um ponto de paragem nas respectivas rotas de migração. Durante a maré baixa há áreas que se mantêm secas permitindo a passagem a pé desde o continente até às ilhas ou entre si. Os holandeses chamam wadlopen a esta prática, que deverá sempre ser realizada na companhia de um guia experiente, já que a qualquer momento nós podemos deparar com a subida da maré e ninguém desejará ser surpreendido com a chegada do mar a meio de semelhante caminhada. Outro aspecto muitíssimo curioso é a diferença que se nota entre a cultura e a língua do continente e as das ilhas, onde se fala frísio, uma língua germânica com forte semelhança com o inglês, comparativamente, e onde este terá também bebido influências culturais, aquando da invasão viquingue. Também encontramos pratos e bebidas ali existentes, como o queijo de algas, em Vlieland, os arandos de Terchelling, do antigo celta aran, “abrunho”, airela ou oxicoco do grego ὀξύς, ácido, e κόκκος, baga, pelo seu sabor ácido, representam um grupo de arbustos perenes ou videiras de arrasto do subgênero Oxycoccus do gênero Vaccinium, e a cerveja de Texel, que entretanto se tornou muito popular em toda a Holanda. Mas a cooperação também tem sua moralidade intrínseca.
Há apenas motivos para crer, que, em nossas sociedades, essa moralidade ainda não tem todo o desenvolvimento que lhes seria necessário. Daí resulta duas grandes correntes da vida social, que correspondem dois tipos de estrutura não menos diferentes. Dessas correntes, a que tem sua origem nas similitudes sociais ocorre quando um grupo é capaz de criar e reproduzir para si e para os outros a princípio só e sem rival. As mulheres representam algo mais do que uma categoria existente socialmente e compreendem pessoas do sexo feminino de diferentes idades, diferentes condições etárias familiares pertencentes a diferentes estratos, comunidades e classes sociais, nações e nacionalidades. Homens e mulheres envelhecem de formas diferentes, o que interfere nas respectivas configurações familiares. Suas vidas são ordenadas por diferentes regras sociais e costumes, em um meio de trabalho e sociabilidade no qual se configuram crenças e opiniões distintas decorrentes de estruturas de dominação secularizadas. Um aspecto da história social das mulheres que a distingue particularmente das outras diz respeito ao fato de ter sido uma história vinculada a um movimento social dentro e fora do trabalho. Por um longo período ela tem sido escrita a partir de convicções feministas, embora o conceito e o movimento decorram de meados do século XX. Certamente toda história social é herdeira de um contexto político, mas relativamente poucas histórias têm uma ligação tão forte com um programa de transformação e de ação como a história das mulheres. Quer as historiadoras tenham sido membros de organizações feministas ou de grupos de conscientização, quer elas se definissem como ativistas feministas, ou decerto fora deste movimento social urbano, seus trabalhos não foram menos marcadamente pelo movimento pragmático feminista hic et nunc europeu.
Um dos domínios sociais, per se simbólicos mais intrigantes na circunscrição das relações de gênero diz respeito às conexões entre corpo, de marca nome e renome. De acordo com a literatura antropológica disponível sobre o assunto, o processo de renomeação, quase sempre associado a situações rituais (cf. Gennep, 1978), é um dos marcadores sociais por excelência da aquisição de prestígio e de status nas sociedades não ocidentais. Essa conexão entre corpo, gênero e marca tem suscitado interpretações distintas a respeito dos significados envolvidos nos rituais que a enfeixam: ritos de passagem, na acepção sociológica de Van Gennep (1873-1957), ou de instituição, para Pierre Bourdieu (1930-2002), interpelados pela questão da exclusão e a chamada “violência simbólica”, eles visam a separar aqueles que já passaram por eles, daqueles que ainda não o fizeram e, assim, instituir uma diferença duradoura entre os que foram e os que ainda não foram afetados. No extraordinário ritual cabila de circuncisão, por exemplo, ele separa o rapaz das mulheres e do mundo feminino, ao mesmo tempo em que converte o mais efeminado dos homens num homem na plena acepção da condição de homem, separado por uma diferença de natureza, de essência, mesmo da mais masculina, da maior e da mais forte das mulheres. Os estudos etnográficos produzidos no âmbito da história socialmente das artes e da presente sociologia da cultura, ou como propugnamos, sociologia das emoções, têm trazido contribuições socioculturais fundamentais para repensarmos a equação parental histórica entre nome, status e posição de prestígio estamental e da articulação com o problema da autoria e da autoridade.
Manuais de retórica, assim como obras de fisiognomonia, livros de civilidade e artes de conversação lembram incansavelmente do século XVI ao XVIII que o rosto está no centro das percepções de si, da sensibilidade ao outro, dos rituais de sociabilidade da sociedade civil, das formas do político. Trata-se de um privilégio antigo que reveste, porém, uma nova tonalidade a partir do início daquele século. Todos esses textos dizem e repetem que o rosto fala. Ou, mais precisamente, que pelo rosto é o indivíduo que se exprime. Um laço se esboça historicamente e depois é traçado, segundo Courtine & Haroche, História do Rosto: Exprimir e Calar as emoções (Do século 16 ao começo do século 19) (2016: 10-11) mais nitidamente entre sujeito, linguagem e rosto, um laço crucialmente para a elucidação moderna. As percepções sociais do rosto são lentamente deslocadas, as sensibilidades à expressão se desenvolvem progressivamente. É um dos traços físicos essencialmente do avanço do individualismo nas mentalidades. Um “individualismo de costumes” que Philippe Ariès atribui a um processo social geral de privatização que vai transformar profundamente a identidade individual entre estes últimos séculos e reconfigurar de maneira paradoxal as relações entre comportamentos públicos e privados: o que vai, por um lado, afirmar a proeminência do indivíduo e incitar a expressão pessoal. O indivíduo é, em diante, indissociavelmente da expressão singular de seu rosto, com uma tradução corporal de seu eu como foro íntimo. Mas, por outro lado, esse mesmo movimento histórico e sexualmente que o incita a se exprimir leva-o ao mesmo tempo a se apagar, a mascarar o seu rosto, a encobrir sua expressão.
Guilherme I de Orange-Nassau (1533-1584), em neerlandês Willem van Oranje, também reconhecido como o Guilherme, o Taciturno (Willem de Zwijger), foi Príncipe de Orange, Conde de Nassau (Guilherme IX de Nassau), líder da Casa de Orange-Nassau e o grande impulsionador do movimento de Independência dos Países Baixos. Após um período como stadthouder (regente) das províncias da Holanda, Zelândia, Utrecht e Borgonha, ao serviço da Casa de Habsburgo, deu início à revolta que marcou o princípio da Guerra dos Oitenta Anos, sendo declarado como fora-da-lei por Filipe II de Espanha em 1567. Guilherme não assistiu ao sucesso da sua causa, que chegou apenas em 1648 com o fim do poderio espanhol na região, e morreu assassinado por Balthazar Gerardts em Delft. Nos Países Baixos, Guilherme, o Taciturno, é considerado como o fundador da nação e o hino nacional, Wilhelmus, foi uma canção popular da época escrita em seu apoio. A bandeira é uma adaptação da bandeira do Príncipe e a cor nacional dos Países Baixos, o laranja, tem como representação uma referência direta ao nome do principado de Orange (laranja). Existem várias explicações para o seu apelido de o Taciturno, uma tradução livre do neerlandês o Calado. Uma delas cita a falta de vontade que mostrou em discutir assuntos difíceis ou de estado em público; a explicação alternativa refere a relutância em informações obtidas enquanto pajem de confiança do Imperador Carlos V, mesmo quando se encontrava em guerra com o seu filho Filipe II.
Guilherme
nasceu no castelo de Dillenburg (moderna Alemanha), então sede da Casa de
Nassau, como filho mais velho do Conde Guilherme de Nassau e de sua mulher
Juliana de Stolberg-Werningerode. Os seus primeiros anos foram marcados por uma
educação luterana, inspirada pela mãe. Em 1544, com apenas onze anos, Guilherme
herdou o título e propriedades do primo Renato de Chalôn, Príncipe de Orange, e
tornou-se senhor de um vasto território nos modernos Países Baixos e Bélgica.
Dada a sua tenra idade e importância estratégica e política, Guilherme foi
chamado à corte do imperador Carlos V de Habsburgo, que se tornou regente do
Principado de Orange e terras associadas. Em Bruxelas, Guilherme estudou
línguas estrangeiras, diplomacia e estratégia militar sob a supervisão da
princesa Maria da Áustria, mulher do rei Luís II da Hungria e Baviera, e irmã
do imperador. Por insistência de Carlos V, Guilherme foi incentivado a esquecer
a sua educação protestante e a converter-se ao catolicismo. Durante este
período, Guilherme foi um dos pajens favoritos do imperador, que nunca
questionou a sua lealdade. Em 1551, Guilherme tornou-se Senhor de Egmond e
Conde de Buren, através do seu casamento com Ana de Egmond, uma herdeira que
lhe trouxe ainda mais interesses territoriais nos Países Baixos. Após servir como capitão de cavalaria, adquiriu o comando militar como general de um dos exércitos do imperador.
O
poder político depressa se seguiu, com a nomeação, em 1555, para o Conselho de
Regência dos Países Baixos. Quatro anos depois, sobe de estatuto e torna-se stadtholder
(Regência/governo regente) das províncias da Holanda, Zelândia, Utrecht e
Borgonha. Com estatuto político crescente, Guilherme casou com Ana da Saxónia
em 1561, o que lhe permitiu ampliar a sua base de apoio e rede de contactos na
Saxónia, Hesse e Palatinado. O casamento resultou em cinco filhos, incluindo
Maurício de Nassau, nascido em 1567, mas provou ser um desastre. Ana, de
temperamento instável e mal-humorado, tinha problemas psiquiátricos que levaram
à dissolução da união dez anos depois. Embora nunca se tenha oposto em aberto
ao rei de Espanha nesta fase da sua carreira, Guilherme tornou-se num dos
líderes da oposição na Raad van State, o parlamento neerlandês. Juntamente com
os Condes de Hoorn e Egmont, a sua facção procurava obter mais autonomia para
os Países Baixos e maior importância política e governativa para a aristocracia
local. Outra razão de descontentamento latente era o tratamento dado pela
Espanha católica à comunidade protestante local, então ainda em minoria. Tendo
sido educado como luterano e também católico, Guilherme era
profundamente devotado, mas defendia a liberdade religiosa, qualquer que fosse
a confissão. Neste contexto, as iniciativas da Inquisição nos Países
Baixos promovidas pela regente Margarida de Parma não caíram bem junto do seu
grupo político.
A
população depressa se organizou contra os atropelos à liberdade religiosa. Em
1566 foi formada uma comissão de nobres, entre os quais Luís de Nassau, um dos
irmãos de Guilherme, que entregou uma petição à Duquesa de Parma, exigindo o
fim das perseguições. Como seria de esperar, a ideia foi mal aceite pela
regente e a situação tornou-se instável. Em agosto do mesmo ano a violência
estalou e grupos de calvinistas atacaram igrejas e capelas católicas,
destruindo as imagens de santos, que consideravam ser uma ofensa ao segundo
mandamento. Os motins, reconhecidos como Beeldenstorm, prolongaram-se
até outubro e obrigaram Margarida de Parma a negociar. Ficou acordado que as
principais exigências de tolerância religiosa seriam atendidas se os nobres
envolvidos ajudassem a estabelecer a ordem. As promessas ficaram por cumprir e
o clima de tensão manteve-se. Descontente com a situação no terreno, Filipe II
de Espanha enviou Fernando Álvarez de Toledo y Pimentel, Duque de Alba,
conhecido como o Duque de Ferro, para pacificar a região. O anúncio da chegada
provocou o exílio de muitos luteranos, calvinistas e seus simpatizantes, com
medo de represálias. Guilherme, que prestara apoio financeiro aos amotinados,
seguiu o exemplo e retirou-se com a família para Nassau. Os receios provaram
estar corretos na sua chegada em 1567, o Duque de Alba criou um
tribunal especial para apurar responsabilidades na rebelião. Cerca de 10 000
pessoas foram convocadas para responder perante o Duque de Alba e muitas acabaram por ser aprisionadas. Guilherme foi também chamado para responder às
acusações, mas não compareceu. Em consequência, foi declarado inimigo público e
as suas propriedades nos Países Baixos confiscadas pela coroa.
Sem
nada já a perder, Guilherme tomou então a tarefa de organizar a resistência
armada ao regime do Duque de Alba. Financiado pelas suas propriedades alemãs,
recrutou um exército de mercenários e nomeou o irmão Luís de Nassau como
general. A região estava agora a um passo da guerra. O exército de Nassau
invadiu os Países Baixos pelo Norte na primavera de 1568 e a 23 de maio ocorreu
a Batalha de Heiligerlee, contra um contingente espanhol comandado por
João de Ligne, Duque de Aremberg e stadtholder das províncias do Norte.
O resultado foi uma vitória marcada de Luís de Nassau, o que custou a vida de
Aremberg e despoletou a ira do Duque de Alba. Como represália, Alba mandou
executar vários nobres que se encontravam presos, incluindo os Condes de Egmont
e Hoorn, e mobilizou o seu exército para Groningen. A 21 de julho, encontrou as
tropas de Nassau na Batalha de Jemmingen e obteve a sua vingança. O
exército recrutado por Guilherme foi aniquilado e o seu irmão Luís teve que
fugir para salvar a vida. Estas duas batalhas marcaram o início da Guerra
dos Oitenta Anos. A resposta surgiu pouco tempo depois, com uma invasão da
província de Brabante, no Sul, com o próprio Guilherme à cabeça de um grande
exército. O Duque de Alba não aceitou o desafio para batalha evitando o inimigo, na esperança que a ameaça desaparecesse sozinha. A
estratégia mostrou-se acertada quando os problemas financeiros o impediram de
pagar aos mercenários e provocaram a dissolução da sua força militar.
Guilherme
foi obrigado a retirar-se de novo para Nassau, mas não desistiu. Nos anos
seguintes, não lhe foi possível recrutar novo exército devido à falta de fundos
e, por isso, recorreu a outros métodos para minar o poderio espanhol. Assim, Guilherme iniciou uma campanha de
propaganda com distribuições de panfletos e inspirou diversas canções
populares, alusivas à causa rebelde. O moderno hino nacional dos Países Baixos,
Wilhelmus, foi uma destas canções de propaganda. Os motivos da
propaganda eram cimentar a sua já enorme popularidade e fazer passar as suas
ideias políticas. A principal, que viria a alterar-se nos anos seguintes, era a
de que Guilherme não estava contra a pessoa do rei de Espanha, senhor dos
Países Baixos, mas sim contra as políticas injustas implementadas pelos seus
regentes estrangeiros. A guerra mudou de curso a 1 de abril de 1572, quando um
grupo de corsários rebeldes (os Watergeuzen) atacou Brielle. Em vez de
retirar-se após o ataque principal, como era seu costume, os corsários ocuparam
a cidade, reclamando-a para a posse do Príncipe de Orange. O exemplo de Brielle
espalhou-se e nos meses seguintes a maioria das cidades das províncias da
Holanda e Zelândia declararam apoio a Guilherme. Amesterdão e Middelburg foram
as principais excepções. Pouco depois, as cidades rebeldes convocaram uma
reunião dos Staten Generaal (Estados Gerais) e nomearam Guilherme como stadtholder,
um cargo que já ocupara por nomeação espanhola. Guilherme aproveitou a
oportunidade e o seu exército rebelde invadiu de novo a região, capturando
cidades por todo o país, incluindo postos importantes como Leuven, Roermond e
Mons. O seu plano agressivo dependia da ajuda dos huguenotes franceses,
mas o Massacre da Noite de São Bartolomeu, ocorrido a 24 de agosto de
1572, custou a vida de muitos em França e cortou a fonte de
apoio.
Em
consequência, Guilherme foi obrigado a retirar-se mais uma vez. O lado espanhol
aproveitou então para contra-atacar e recapturar diversas cidades rebeldes,
massacrando as populações civis favoráveis a Guilherme. O contra-ataque foi
mais complicado na Holanda, onde conseguiram capturar Haarlem, mas à custa de
um cerco de sete meses e da perda de 8 mil soldados. Em 1573, o Duque de Alba
foi substituído por Dom Luís de Zuñiga y Requesens. Ao longo do ano seguinte,
Guilherme obteve diversas vitórias militares, principalmente em confrontos
navais, mas foi derrotado na Batalha de Mookerheyde (14 de abril), onde
perdeu dois irmãos: Luís e Adolfo de Nassau. Requesens tentou então tomar
Leiden, porém a população local organizou-se e resistiu ao longo cerco. O
exército espanhol foi obrigado a se retirar quando os rebeldes destruíram os
diques adjacentes e inundaram a área local. Guilherme ficou satisfeito com a
prova de fidelidade da cidade e fundou a Universidade de Leiden como gesto de
boa vontade. Após esta onda de vitórias, em 1576 Guilherme obteve outra de
âmbito diplomático, ao conseguir que as províncias assinassem a Pacificação
de Ghent, um conjunto de reivindicações e a promessa de lutar em conjunto
contra a invasão espanhola. Não foi, no entanto, conseguido acordo em matéria
religiosa e as cidades católicas continuavam a recusar reconhecer as
calvinistas, e vice-versa. A guerra virou a favor dos rebeldes, quando, no
mesmo ano, uma parte substancial do exército espanhol desertou por falta de
pagamento. Esta situação obrigou o novo regente, João da Áustria, a assinar o Édito
Perpétuo em fevereiro de 1577, onde prometia submeter-se às exigências da Pacificação
de Ghent. Apesar disso, João da Áustria invadiu e tomou a cidade rebelde de
Namur no mesmo ano, marcando o regresso ao conflito armado. Guilherme obteve
novas vitórias e em setembro fez uma entrada triunfal em Bruxelas. A 23 de
janeiro de 1580, foi dado um passo importante para a Independência dos Países
Baixos com a assinatura da União de Utrecht, um tratado retificado pelas
províncias do norte e pela maioria das cidades de Brabante e Flandres, que
consolidou a causa comum.
O próprio desenvolvimento do comércio e a ascensão dos negócios estavam entre as principais causas da Revolução Industrial, que marcou uma grande virada na história. Comparável apenas à adoção da agricultura pela humanidade no que diz respeito ao avanço material, a Revolução Industrial influenciou de alguma forma quase todos os aspectos da vida cotidiana. Em particular, a renda média e a população começaram a apresentar um crescimento sustentado sem precedentes. Alguns economistas disseram que o efeito mais importante da Revolução Industrial foi que o padrão de vida da população em geral no mundo ocidental começou a aumentar consistentemente pela primeira vez na história, embora outros autores tenham dito que não começou a melhorar significativamente até finais dos séculos XIX e XX. O Produto Interno Bruto per capita era amplamente estável antes da do surgimento da economia capitalista moderna, sendo que a Revolução Industrial iniciou um processo macrossociológico de desenvolvimento, chamado uma “Era de crescimento econômico per capita nas economias capitalistas” (cf. Hobsbawm, 1978). Os historiadores concordam que o início da Revolução Industrial é o evento mais importante na história social desde que biologicamene reconhecemos a domesticação de animais e plantas.
Sobre
a questão específica a respeito das chamadas Afinidade eletivas, lembra Michael
Löwy que são raros os pesquisadores especializados em sociologia das religiões
que, ao comentar os diversos escritos de Weber sobre o tema hic et nunc, em
particular A Ética Protestante, não constataram a utilização conceitual através
do termo “afinidade eletiva”. Isto porque, estranhamente, esse termo suscitou
poucos estudos, discussões ou debates e menos ainda uma análise mais
sistemática de seu significado metodológico. Existe o ensaio de Richard Howe
(1978) que contém informações úteis sobre as origens do termo, mas a definição
que ele propõe considerando a “afinidade eletiva”, como uma ideia no sentido de
emprego kantiano não é muito pertinente. Além disso, na interpretação
Löwyniana, o referido autor não distingue a “afinidade interna” da conceitual
afinidade eletiva, o que elimina o papel decisivo da eleição. Enfim, ele parece
querer reduzir a Wahlverwandtschaft a uma “afinidade entre palavras”, em função
da “interseção de significados”, o que limita seu considerável alcance. No
ensaio de J. J. R. Thomas (1985) depois de uma discussão não sem interesse,
chega a uma conclusão decepcionante: - “Tentando evitar o conceito de
ideologia, considerado por ele grosseiramente materialista, Weber criou um
conceito [afinidade eletiva] que não leva a lugar algum”. A contribuição é a do ensaista José María González Garcia que dedicou às afinidades
eletivas entre Max Weber e Johann Wolfgang von Goethe
(1992).
Uma
forma de atividade generalizada que tomou lugar na vida social não pode,
evidentemente, permanecer tão desregulamentada, em seu desempenho e atividade,
sem que disso resulte os impactos sociais sobre a divisão do trabalho e as mais
profundas perturbações. Mas sofrer no trabalho não é uma fatalidade. É, em
particular, como decorre e testemunhamos, uma fonte de desmoralização geral
real. Pois, precisamente porque as funções econômicas absorvem o maior número
de cidadãos, para o pleno desenvolvimento da vida social, há uma multidão de
indivíduos, como dizia Freud, cuja vida transcorre quase toda no meio
industrial e comercial; a decorrência disso é que, como tal meio é pouco
marcado pela moralidade, a maior parte da existência transcorre fora de toda e
qualquer ação moral. A tese funcionalista expressa na pena de Émile Durkheim,
como uma espécie de antídoto da civilização, e que o sentimento do dever
cumprido se fixe fortemente em nós, é preciso que as próprias circunstâncias em
que vivemos permanentemente desperto. A atividade de uma profissão só pode ser
regulamentada eficazmente por “um grupo próximo o bastante dessa mesma
profissão para conhecer bem seu funcionamento, para sentir todas as suas
necessidades e poder seguir todas as variações destas”. O único grupo que
corresponde a essas condições é o formado por todos os agentes de uma
mesma condição reunidos num mesmo corpo.
E
que a sociologia durkheimiana conceitua de corporação ou grupo profissional. É
na ordem econômica que o grupo profissional existe tanto quanto a moral
profissional. Desde que, não sem razão, com a supressão das antigas
corporações, não se fizeram mais do que tentativas fragmentárias e incompletas
para reconstituí-las em novas bases sociais.
Os únicos agrupamentos dotados de permanência são os que se chamam
sindicatos, seja de patrões, seja de operários. Historicamente, temos aí in
statu nascendi o começo e o princípio ético de uma organização profissional,
mas ainda de forma rudimentar. Isto porque, em primeiro lugar, um sindicato é
uma associação privada, sem autoridade legal, desprovida, por conseguinte, de
qualquer poder regulamentador. O número deles é teoricamente ilimitado, mesmo
no interior de uma categoria industrial; e, como cada um é independente dos
outros, se não se constituem em federação e se unificam, não há neles nada que
exprima a unidade da profissão em seu conjunto de práticas e saberes sociais.
Não só os sindicatos de patrões e de empregados são distintos uns dos outros, o
que é legítimo e necessário, como não há entre eles contatos regulares. Não
existe organização comum que os aproxime sem fazê-los perder sua
individualidade e na qual possam elaborar em comum uma regulamentação que,
estabelecendo suas relações mútuas, imponha-se a ambas as partes com a mesma
autoridade; por conseguinte, é sempre a “lei dos mais forte” que resolve os
conflitos, e o estado de guerra subiste inteiro. Salvo no caso comparativamente de seus atos
pertencentes à esfera moralmente comum estão na mesma situação, isto é de uma
forma social idênntica. A tese sociológica é a seguinte: para que uma moral e
um direito profissionais possam se estabelecer nas diferentes profissões, é
necessário, pois, que a corporação, em vez de permanecer um agregado confuso e
sem unidade, se torne, ou antes, volte a ser, um grupo definido, organizado,
uma instituição pública.
O termo Wahlverwandtschaft tem uma longa história, muito anterior aos escritos sobre religião de Max Weber. Foi na alquimia medieval que o termo “afinidade” começou a ser usado para explicar a atração e fusão dos corpos. Segundo Alberto Magno (1193/1206-1280), se o enxofre se une aos metais, é por causa da afinidade que ele tem com esses corpos: “propter affinitarem naturae metalla adurit”. Encontramos essa temática nos alquimistas dos séculos seguintes. Por exemplo, em seu livro Elementa Chimiane (1724), Hermannus Boerhaave (1668-1738) explica que “particulae solventes et solutae se affinitate suae naturae colligunt in corpora homogênea”. A afinidade é uma força em virtude da qual duas substâncias “procuram-se, unem-se e encontram-se” numa espécie de casamento, de bodas químicas, antes procedendo do amor que do ódio, “magis ex amore quam ex dio”. O termo attractio electiva aparece pela primeira vez nos escritos do químico sueco Torbern Olof Bergman. Seu livro, De attractionjibus electivis (Upsalla, 1775), foi traduzido para o francês com o título de Traité des affinités chimiques ou Attractions électives (1788). Na tradução alemã (Frankfurt, Tabor, 1782-1790), o termo “atração eletiva” foi exatamente traduzido por Wahlverwandtschaft, afinidade eletiva. Foi dessa versão alemã do livro oitocentista de Bergman que Goethe tirou o título de seu romance Wahlverwandtschaft (1809), no qual ele menciona um livro de química estudado “há cerca de dez anos” por um de seus personagens. O termo se torna uma extraordinária metáfora para designar o movimento passionalmente pelo qual um homem e uma mulher são atraídos um para o outro – correndo o risco de se separarem de seus antigos companheiros – a partir da afinidade íntima entre suas almas. Essa transposição de Wolfgang Goethe (1749-1832) faz do conceito químico para a o terreno social da espiritualidade e do amor foi facilitada pelo fato correntemente de que, em vários alquimistas, como compreendemos a Síndrome de Boerhaave, por exemplo, o termo já era fortemente carregado sui generis de metáforas sentimentais e eróticas.
Para Goethe, existe afinidade eletiva quando dois seres ou elementos “procuram-se um ao outro, atraem-se, apropriam-se um do outros e, em seguida ressurgem dessa união íntima numa forma renovada me imprevista”. A semelhança com a fórmula de Boerhaave – dois elementos “procuram-se, unem -se e encontram-se” – é impressionante, e não excluímos que Goethe conhecesse e tenha se inspirado na obra do alquimista holandês. Com o romance de Goethe, o termo ganhou direito de cidadania na cultura alemã como designação de um tipo de ligação particular entre duas almas. Foi na Alemanha que ele passou por sua terceira metamorfose, isto é, a transmutação, por obra desse grande alquimista e legítimo fundador da sociologia chamado Max Weber, em conceito de representação puramente de encarnação sociológico. Da acepção antiga, ele conserva as conotações de escolha recíproca, atração e combinação, mas a dimensão da novidade parece desaparecer. O conceito é um lugar importante em A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, precisamente por levar a cabo a análise da relação complexa e sutil entre essas duas formas de saber. Para o exegeta, trata-se de superar a abordagem tradicional em termos de causalidade e, assim, evitar o debate sobre a primazia do “material” ou do “espiritual”. São especificados ao mesmo tempo, na medida do possível, o modo e a direção geral em consequência de afinidades eletivas, não por acaso em seu conteúdo de sentido, o movimento religioso agiu sobre o desenvolvimento da cultura material.
A
“afinidade eletiva” é talvez um meio para uma busca causal “num segundo
momento”, mas isso não significa que ela própria seja uma relação causal. As
formulações de Max Weber são suficientemente flexíveis para podemos admitir
diferentes leituras de interpretação. Neste ano, Mills mencionou, numa carta a
um amigo, que os manuscritos incluíam “uma [versão] completamente reescrita e,
acredito de primeira linha, de um ensaio inédito Sobre o Artesanato
Intelectual” (“On Intellectual Craftsmanship”). A primeira versão do texto foi
escrita em abril de 1952, segundo anotação de Mills no manuscrito, e
distribuída para uso em sala de aula em 1955. O texto completo foi publicado em
Society, vol.17, n° 2, janeiro 1980, pp.63-70. O texto acabou sendo publicado
como apêndice de The Sociological Imagination e tornou-se a parte mais
universalmente conhecida e elogiada do livro. Metodologicamente é em torno da
ideia de “artesanato intelectual” que a coletânea de textos de Charles Wright Mills
foi organizada. Além do famoso Apêndice, foram reunidos quatro outros textos
curtos, representando um meio de
trabalho que nos ajudam a melhor a compreensão sociológica dessa ideia: um
trecho de White Collar que explica a utilidade de uso pragmaticamente do tipo
ideal abstrato weberiano do artesanato, algo que tornou-se um anacronismo na experiência
moderna do trabalho descrito no capítulo 2; uma palestra, inédita em português,
realizada por Mills numa convenção para designers, na qual defende o teor
abstrato do modelo artesanal como um valor central para seres humanos não
alienados, disposto no capítulo 3; a seção inicial de seu extraordinário livro: A Imaginação Sociológica,
na qual apresenta aquilo que ela pode nos oferecer, ao esclarecer a
inter-relação entre biografia e história no capítulo 4; e, per se um texto
sobre a posição do intelectual e de seu ofício diante das questões públicas no
capítulo 5.
Wright Mills faz, em “Sobre o artesanato intelectual”, um relato pessoal, dirigido aos que se iniciam ou dissociam nas Ciências Sociais, de como procede em seu ofício. A imagem de um “ofício” e a associação com as ideias de “artesanato” e “oficina” se contrapõe à divisão do trabalho do cientista social como alguém que testa hipóteses construídas a partir de leis gerais e aplicadas através de métodos controláveis. No trabalho do cientista social não haveria fórmulas, leis, receitas, e sim méthodos, no sentido originalmente grego da palavra: via, caminho, rota para se chegar a um fim. O “artesão intelectual” de que trata Mills deve ser visto como um “tipo ideal”, no sentido weberiano do termo – algo que não é encontrado em forma “pura” na realidade social, mas que, construído pelo pesquisador a partir do exagero de algumas propriedades de determinado fenômeno, nos ajuda a compreendê-lo. Nesse sentido, ver o trabalho de pesquisa como um ofício ressalta a importância da dimensão existencial na formação do pesquisador. Isso não quer dizer que se devam explicar os resultados do trabalho a partir da biografia, como ocorre em tolas reuniões científicas; não estamos falando de fenômenos psicanalíticos ou coisas do gênero. Como Charles Wright Mills (1916-1962) tende a enfatizar a indissociabilidade, para o “artesão intelectual”, entre sua vida e seu trabalho - ideia próxima à que um autor brilhante como o sociólogo e filósofo Georg Simmel (1858-1918) chamaria de “autocultivo” através da prática social de seu ofício.
Para nós, política tem como representação regulação da existência coletiva, poder decisório, luta entre interesses contraditórios, disputa por posições de mundo, confrontos mil entre forças sociais, violência em última análise. Só que a produção política, os processos políticos, se diferenciam radicalmente da produção econômica porque usa eventualmente suportes materiais, tais como armas, livros, processos, papéis onde se inscrevem as ordens, os atos de gestão, as sentenças ou as leis, mas não é uma produção material. Porque consiste em decisões imperativas. Assim, é também diferente da produção simbólica porque exercita-se sobre o interesse dos agentes sociais, quando não sobre o seu próprio corpo; corresponde a atos de vontade que regulam atividades coletivas; disciplina práticas sociais. O suplício repousa na arte quantitativa do sofrimento. O suplício faz correlacionar o tipo político de ferimento físico, a qualidade, a intensidade, o tempo social de suas vítimas. Além disso, o suplício faz parte de um ritual. É um elemento da liturgia punitiva, e que obedece a duas exigências. Em relação à vítima, ele deve ser marcante: destina-se, ou pela cicatriz que deixa no corpo, ou pela ostentação de que se acompanha, a tornar infame aquele que é sua vítima; o suplício, mesmo se tem como função “purgar” o crime, não reconcilia; traça em torno, ou melhor, sobre o próprio corpo do condenado sinais que não devem se apagar; a memória dos homens, em todo caso, guardará a lembrança da exposição, da roda, da tortura ou do sofrimento devidamente contatados. E pelo lado da justiça o suplício deve ser ostentoso, constatado por todos, processado como sendo seu triunfo.
Não
produz mensagens, discursos; produz obediências, obrigações, submissões,
direitos, deveres, controles. Poder é uma relação social: de mando e
obediência. As decisões tomadas politicamente se impõem a todos num dado
território ou numa dada unidade social. Convertem-se em atividades coercitivas
(esfera da segurança), administrativas (esfera da administração),
jurídico-judiciárias (esfera da justiça) e legislativas (esfera da
deliberação). O processo político diz respeito a pergunta: “Quem pode o quê sobre
quem?”. Eis a grande questão do processo político, do confronto entre forças
sociais, da sujeição de vontades a outras vontades. Fora da ideia de
nacionalismo, a partir da competição entre nações, foi o filósofo Simmel quem
chamou atenção para o fato de que, “a luta contra uma potência estrangeira dá
ao grupo um vivo sentimento de sua unidade”, e além disso, é “'um fato que se
verifica quase sem exceção. Não há, por assim dizer, grupo doméstico,
religioso, econômico ou político que possa passar sem esse cimento'”. Essa
atividade intelectual, porque psíquica e de preparação psicológica, quase
exclusivamente entre homens, pode representar com o homem diante da guerra um
crime contra a humanidade, individual ou coletivamente com o intuito de
destruir, total ou parcialmente, um grupo tipicamente nacional, étnico, racial,
militar, religioso.
Penny`s
Shadow é um filme holandês de Steven de Jong de 2011,
estrelado por Liza Sips, Levi van Kempen e Monic Hendrickx. A estrela do evento
Lisa (Liza Sips) saiu de férias para Ameland e o anfitrião Kai (Levi van
Kempen) se reuniu. Pier Gerlofs Donia é
o maior herói da Frísia, movido por vingança e pela busca por Independência ao
seu país. Como Servo, ele é de classificação A, estando a par de vários outros
heróis famosos ao decorrer do globo terrestre. Invocado como um Berserker
nesta manifestação, ele apresenta seus traços de quando perdeu a razão após
sofrer a perda realmente de sua esposa e propriedades, tornando-se um homem
áspero e odioso. A Cruz dos Holandeses age como se quisesse que a cruel dívida
que o mundo lhe impôs seja paga com a vida daqueles que entram em seu caminho.
Desde a invocação ele traja sua armadura e raramente a tira, então sua
aparência fisicamente é bem difícil de ser vista. Em suas grandes mãos é
empunhada a Zweihänder, uma espada pesada e usada por duas mãos, mas que este
homem, pela sua força e tamanho, usa com apenas uma delas. De fato,
sociologicamente, ele parece ser um gigante entre outros humanos. Mesmo com
insanidade tomando conta de si, a sua experiência como guerreiro parece ser uma
das poucas qualidades mentais que foi mantida na história social; pois mugindo
como um touro, ele segura a espada com tal habilidade que seria possível
decapitar cinco inimigos simultaneamente, fazendo suas cabeças rolarem pelo
chão ensanguentado.
Mesmo
ensandecido, este Berserker não tem sua experiência marcial prejudicada: o
autodeclarado Rei dos Frísios. À primeira vista, Berserker é um monstro
enjaulado nesta armadura, com fumaça negra de vários incêndios saindo do metal
e servindo como uma cortina que deixa sua identidade e seus parâmetros
obscuros, simplesmente tornando quaisquer formas de leitura de informação
inúteis, comparativamente, tal como a Clarividência oriunda de Mestres. Fora
esconder sua identidade e status, essa armadura, devido à fumaça, torna
a presença de Berserker sufocante e rarefeita, fazendo sua figura parecer uma
fotografia sem foco e que aleatoriamente duplica ou triplica sua imagem,
parecendo-se mais como uma alucinação. Mesmo se Grutte Pier retirar o capacete,
ninguém irá reconhecer seu rosto. Se a armadura canaliza a violência e
experiência do Bando Negro de Arum, a espada é a responsável por carregar todo
o ressentimento e ódio de Pier ao decorrer da lâmina. Por ser um Fantasma
Nobre, a espada torna-se complicadíssima de quebrar, fora os seus efeitos de
corromper aquilo que corta. A aura que transborda da espada é única
assustadora, induzindo medo e um impedimento mental para quem estiver olhando. Pier casou-se com Rintze Syrtsema e eles
tiveram dois filhos, um menino chamado Gerloff e uma garota chamada Wobble,
nascidos por volta de 1510.
Pier
morreu em 1520, e em 1525 sua mãe inseriu no testamento que Sybren, irmão de
Pier, seria o protetor dos filhos dele, que ainda eram menores de idade. Pier e
seu cunhado, Ane Pijbes (marido de Tijdt Gerlofs), eram parceiros na
propriedade rural de Meyllemastate, em Kimswerd. Pier era descendente direto do
chefe frísio Haring Harinxma (1323–1404), um Schieringer e Podestà de Westergo,
e terceiro primo de Jancko Douwama, nobre e rebelde da Frísia. Douwama e Grutte
Pier são considerados os maiores heróis da luta pela independência frísia.
Wijerd Jelckama, conhecido como Grutte Wierd, é comumente descrito por autores
dos séculos XVIII e XIX como sobrinho de Grutte Pier. Autores modernos como
Jacob Jetzes Kalma (1907-1991) duvidam dessa conexão, e Jelle Brouwer, na Encyclopedia
of Friesland, declara que Wierd não era sobrinho de Donia, mas seu
“tenente”. O regimento fora incumbido de reprimir a guerra civil entre os
Vetkopers, que se opunham aos Burgúndios e, consequentemente, à lei de
Habsburgo, e os Schieringers. O Batalhão Negro era reconhecido como uma
força militar violenta; quando o pagamento que recebiam era considerado
insuficiente ou em falta, eles extraíam pagamento dos aldeães e, em 29 de
janeiro de 1515, os integrantes da Mão Negra pilharam a aldeia de Donia,
supostamente estupraram e mataram sua esposa, Rintze Syrtsema (1483-1515), e queimaram
inteiramente a igreja do vilarejo e todo o patrimônio de Donia.
Querendo
vingança, Pier iniciou uma guerrilha contra os Habsburgos e aliou-se a Carlos
de Egmond, duque de Gueldres (1492–1538), o principal oponente dos Habsburgos. Pier batalhou os navios que viajavam o
Zuiderzee, especialmente em 1517, quando usou seus “navios sinalizadores” para
atacar outras embarcações na costa ocidental da Frísia, às quais ele
transportou forças da Guéldria, desembarcando em Medemblik. Pier desenvolveu
grande ódio por essa municipalidade e seus habitantes. Nos primeiros anos,
soldados de Medemblik cooperaram com o exército holandês comandado pelo duque
Carlos I de Espanha, futuro Imperador do Sacro Império Romano-Germânico. Foi em
Medemblik que, em março de 1498, representantes dos Schieringers
encontraram-se com o duque Alberto da Saxônia (1828-1902), que governava o
país, para requisitar proteção contra os Vetkopers — o que resultou na
ocupação saxã da Frísia. Em 24 de junho de 1517, Grutte Pier e seu Arumer
Zwarte Hoop, formado por aproximadamente 4 mil soldados da Frísia e
Guéldria, navegaram para a Frísia Ocidental e avançaram até Medemblik. Eles
rapidamente capturaram a cidade, matando muitos habitantes e tomando muitos
outros como prisioneiros. Alguns foram liberados mediante um alto pagamento
pelo resgate; outros fugiram e encontraram segurança no Castelo de Medemblik.
O senhor do castelo, Joost van Buren (1587-1679), foi bem-sucedido em manter os agressores fora dos limites das muralhas. Compreendendo que não poderia tomar o castelo, o chamado Bando Negro de Arum pilhou a cidade e a incendiou. Como a maioria das casas era feita de madeira, a cidade, incluindo a igreja, monastério e paço municipal, foi completamente arrasada pela violência do fogo. Com essa vitória parcial, Pier e seus homens invadiram os castelos de Alkmaar e Midelburgo, novamente pilhando, incendiando e deixando tudo em ruínas. Em 1517, o Bando Negro de Arum capturou a cidade de Asperen, matando praticamente todos seus habitantes. Eles então usaram a cidade altamente fortificada como base até serem expulsos pelo stadthouder holandês. Em resposta aos ataques em Medemblik e Alkmaar e à falha do Capitão Geral de Amstelland, Waterland e Gooiland em defender seus territórios, o stadthouder da Holanda concordou em providenciar uma esquadra de guerra em julho de 1517. A frota ficou sob comando supremo de Anthonius van den Houte, Lorde de Vleteren, intitulado “Almirante do Zuiderzee”. Em nome de Carlos I, van den Houte anunciou que libertaria a região da pirataria frísia e guéldria. Apesar do sucesso inicial da expedição, com algumas das embarcações frísias sendo queimadas perto de Bunschoten, Grutte Pier respondeu capturando onze dos navios holandeses em uma batalha ao largo da costa próxima a Hoorn, em 1518. Pouco após essa vitória, Pier derrotou 300 holandeses em Hindeloopen. De acordo com a lenda, Pier teria forçado seus cativos a repetir um xibolete, a fim de distinguir frísios de infiltrantes da Holanda e Baixa Alemanha.
Apesar de seu sucesso, Pier não pôde conter a ameaça da Borgonha e Habsburgo, e retirou-se, desiludido, em 1519. O sobrinho dele, Wijerd Jelckama, assumiu o comando dos rebeldes. Pier teve o privilégio ou sorte de morrer pacificamente na cama, na cidade de Sneek, Frísia, em 18 de outubro de 1520. Pier está enterrado em Sneek, na Martinikerk (igreja de Martinho), reconhecida naesfera religiosa no século XV como Groote Kerk (igreja de Grutte). Seu túmulo está localizado no lado Norte da igreja. O cavalo frísio é o único nativo dos Países Baixos que conseguiu sobreviver à passagem histórica e social do tempo. As suas origens remontam a milênios atrás. Sendo uma das mais antigas raças na Europa, esteve à beira da extinção várias vezes ao longo do último século. Graças à devoção de entusiastas, sobreviveu até ao presente, gozando de grande popularidade em todo o mundo. A sua origem se deu por volta do ano 500 a.C., quando o povo frísio se estabeleceu ao longo do mar do Norte trazendo os seus cavalos, descendentes diretos de Equus robustus. No ano 800, o mar do Norte era denominado mar Frísio, local onde se desenvolveu de forma notável a raça. Em torno de 150, historiadores romanos mencionaram a cavalaria frísia na Britânia, na fronteira entre a Escócia e a Inglaterra. A cavalaria era formada por soldados montando garanhões frísios. O escritor Anthony Dent remete também para o aparecimento de tropas independentes frísias em Carlisle, no século IV, igualmente formada por ginetes no lombo de cavalos Friesians. Ele também menciona a influência do cavalo Friesian na raiz do Shire e também nos pôneis Fell. Há inúmeras ilustrações de frísios em torneios e justas na Idade Média. A primeira data etnograficamente sobre o cavalo frísio remonta a 1544.
O pônei Fell é uma raça versátil de trabalho de pôneis de montanha e charneca originários das fazendas Cumberland e Westmorland do Noroeste da Inglaterra e é usado para montaria e condução. A raça é intimamente relacionada ao seu vizinho geográfico, o pônei Dales, mas é um pouco menor e mais parecido com um pônei na construção. O pônei Fell é reconhecido por sua robustez, agilidade, força e firmeza. Os pôneis Fell variam muito em peso e tamanho, então pôneis podem ser encontrados para carregar quase qualquer cavaleiro. A altura média da raça é de 13,2 mãos (54 polegadas, 137 cm), e o limite superior de altura para a raça é de 14 mãos (56 polegadas, 142 cm). A raça foi criada para o ambiente montanhoso implacável de Cumbria, no Noroeste da Inglaterra, onde são adaptáveis a qualquer clima temperado. As cores aceitas na raça são pretas, castanho escuro, baio, cinza e castanhos se ambos os pais forem registrados. Piebalds e skewbalds não são permitidos. Na realidade são termos britânicos para combinações específicas de cores na pelagem dos cavalos. Eles descrevem apenas a coloração e as marcas externas do cavalo, não sua raça ou composição genética. Além da coloração, as autoridades de registo também reconhecem padrões específicos de marcações. Uma estrela na cabeça e/ou uma pequena quantidade de branco no boleto traseiro ou abaixo dele é aceitável. No entanto, marcações brancas em excesso são desencorajadas.
O Fell Pony deve ser resistente e demonstrar boas características de pônei, incluindo a questão genética dos ossos fortes e planos. Ele deve exibir inteligência e autopreservação consideradas comuns às raças de pôneis britânicos de montanha e charneca e, ao mesmo tempo, ter uma atitude viva e alerta. A raça geralmente tem um temperamento estável. O pônei Fell tem andamentos regulares, é reconhecido por movimentos corretos e é considerado seguro em terrenos acidentados. Os pôneis Fell são saltadores confiáveis e ágeis, o que os torna úteis para cavalgadas cross-country ou caça. O Fell Pony compartilha suas origens com o extinto pônei Galloway, que também foi a raiz do Dales Pony. Acredita-se que ele tenha se originado na fronteira entre a Inglaterra e a Escócia, provavelmente anterior aos tempos de domínio romanos. Entretanto, a Fell Pony Society não faz nenhuma afirmação sobre qualquer contribuição de “garanhões de guerra romanos importados sendo cruzados com esses pôneis”. Nos primeiros livros genealógicos, 50% dos pôneis eram marrons, embora nas últimas décadas o preto tenha se tornado predominante, seguido pelo marrom, baio e cinza. Eles são principalmente uma raça de pôneis de trabalho com atividade, resistência, robustez e inteligência que lhes permite viver e prosperar em condições difíceis nas colinas do Lake District. O Fell Pony foi originalmente usado como um cavalo de carga, carregando ardósia e chumbo, cobre e minérios de ferro. Eles também eram usados para agricultura leve e transporte de produtos agrícolas volumosos, como lã. Com seus corpos robustos, pernas fortes e disposição uniforme, e sendo bons e rápidos caminhantes, eles viajavam até 240 mi (390 km) por semana. Eles eram favorecidos pelos vikings como cavalos de carga, bem como para arar, cavalgar e puxar trenós. Seu uso como pôneis de carga continuou no século XX, quando também eram usados em trens de pôneis de carga e pelos serviços postais.
Alguns Fells eram famosos no Norte como trotadores rápidos. Histórias são contadas sobre distâncias cobertas em grandes velocidades por esses pôneis. Durante as Cruzadas e até o fim da guerra dos oitenta anos, foi introduzido sangue de cavalos árabes. Ao longo do século XVII, os frísios compartilhavam pistas com cavalos de origem espanhola em várias escolas onde se pratica a Alta Escola de Equitação. No fim do século XIX, devido ao declínio da Europa feudal, a presença do cavalo frísio ficou reduzida à província da Frísia, onde se celebravam corridas de trote de frísios atrelados a carruagens. Essas corridas logo se tornaram culturalmente uma festa popular que ocorriam ao longo de toda a província. Em 1823, o rei Guilherme dos Países Baixos (1815-1840) entregou um “chicote de ouro” ao vencedor de uma grande corrida de trotadores. Na sequência, em 1° de maio de 1879, numa pequena aldeia chamada Roodahuizum, foi formado o Registro Genealógico de cavalo frísio (o FPS), e assim, dar o primeiro passo para a salvação da raça. Tal foi o desastre em 1913 que ficaram apenas três garanhões em serviço. Foi nessa conjuntura que uma centena de agricultores, preocupados com a situação agonizante da raça, se juntaram para criar uma parceria para a preservação do frísio. A eles, se deve a salvação da raça. O luxuoso cavalo passou a cavalo de trabalho nas fazendas, algo lógico quando se pretende competir com os pesados Bovenlander.
Ameland é um município dos Países Baixos, situado na província da Frísia. Uma província dos Países Baixos representa a divisão administrativa entre o governo nacional e as municipalidades locais, tendo a responsabilidade nos assuntos de importância regional ou subnacional. O Governo de cada província, é composto por três grandes partes: a Assembleia Legislativa da Província (Provinciale Staten), que é o parlamento provincial eleito de quatro em quatro anos pelos votos dos moradores das províncias que têm direito de voto. Lembrando-se que a idade mínima para votar nas eleições é 18 anos. A Provinciale Staten forma, através de eleição entre seus membros, a Deputação Provincial (Gedeputeerde Staten), um colégio encarregado das tarefas mais executivas, presidida pelo Commissaris van de Koning nomeado pela Coroa. Tem uma língua própria, o frísio, que apresenta considerável proximidade com o inglês: inclusive há um ditado que prega “como o leite é para o queijo, são os ingleses para os frísios”. Mas era um xibolete, uma peculiaridade de pronúncia para identificar um determinado grupo linguístico, funcionando como um tipo social de senha linguística, com utilidade de uso pelo herói frísio Pier Gerlofs Donia (1480-1520) para distinguir, entre seus prisioneiros, “quem era da Frísia e quem era alemão ou neerlandês”. Grutte Pier nasceu Pier Gerlofs Donia em 1480, em Kimswerd, perto da cidade de Harlingen, em Wonseradeel, na Frísia. Pier Gerlofs era uma das quatro crianças Gerloff Piers e Fokel Sybrants Bonga.
A mãe de Pier, Fokel, era filha do nobre Schieringer Sybrant Doytsesz. Ele casou-se com Rintze Syrtsema e eles tiveram dois filhos, um menino chamado Gerloff e uma garota chamada Wobble, nascidos por volta de 1510. Pier morreu em 1520, e em 1525 sua mãe inseriu no testamento que Sybren, irmão de Pier, seria o protetor dos filhos dele, que ainda eram menores de idade. Pier e seu cunhado, Ane Pijbes (marido de Tijdt Gerlofs), eram parceiros na propriedade rural de Meyllemastate, em Kimswerd. Aproximadamente 7 km a nordeste da vila de Donia de Kimswerd, na cidade de Franeker, o Batalhão Negro, um regimento Landsknecht a serviço de George, duque da Saxônia, foi aquartelado. O regimento foi encarregado de suprimir a guerra civil entre os Vetkopers, que se opunham à Borgonha e, posteriormente, ao domínio dos Habsburgos, e os Schieringers. O Batalhão Negro era reconhecido como uma força militar violenta; quando seu pagamento era insuficiente ou inexistente, eles extraíam pagamentos dos aldeões locais. Em 29 de janeiro de 1515, o Batalhão Negro saqueou a aldeia de Donia, então supostamente “estuprou e matou sua esposa, Rintze Syrtsema, queimando totalmente a igreja da aldeia e a propriedade de Donia”. Em busca de vingança, Pier iniciou uma campanha de guerra de guerrilha contra os Habsburgos e aliou-se a Carlos de Egmond, duque de Guelders, o principal oponente dos Habsburgos. Apesar de seu sucesso, do ponto de vista do espírito bélico, Pier não pôde conter a ameaça da Borgonha e Habsburgo, então retirou-se, desiludido, em 1519. O sobrinho dele, Wijerd Jelckama, assumiu o comando dos rebeldes. Alternativamente escrito Wierd e Wijard (1490-1523), apelidado groote Wierd, foi um guerreiro frísio, comandante militar e membro do “Bando Negro de Arum” (“Arumer Zwarte Hoop”). Era sobrinho de Pier Gerlofs Donia reconhecido como Grutte Pier e lutou bravamente ao seu lado contra os invasores saxões e holandeses.
Jelckama assumiu o posto do tio como combatente da liberdade após a morte dele, em 1520. O historiador Wopke Eekhoff (1809-1880) descreveu Jelckama como tão robusto quanto o gigante Donia, este com, supostamente, 2, 15 metros de altura, no mínimo, e forte o bastante para levantar um cavalo de 450 kg por sobre a cabeça. Grutte Pier e Wijerd lutaram contra os guerreiros da Baixa Saxônia que ocuparam a Frísia. Eles lideraram as forças que capturaram Medemblik e sitiaram o castelo de Midelburgo. Participou também de batalhas ao mar, inclusive uma na qual seu tio capturou 28 navios dos Países Baixos e ficou conhecido como “Cruz dos holandeses”. Além da porção de terra ocupada pelos saxões, partes da Frísia foram conquistadas pela Dinamarca, Holanda e ducados. O objetivo de Donia e Jelckama era livrar a Frísia da dominação estrangeira e conseguir a Independência. Eles obtiveram sucesso, mas perderam batalhas após a saúde de Donia ter piorado, em 1519. Com a morte, em 1520, Jelckama assumiu o comando dos rebeldes frísios e continuou a lutar, desta vez contra os Burgúndios. Foi menos bem-sucedido do que seu tio e acabou derrotado e posteriormente decapitado, em 1523, junto com as forças frísias e guéldrias remanescentes. A execução aconteceu publicamente em Leeuwarden e “exigiu quatro golpes do executor para remover a cabeça de Jelckama de seu pescoço extremamente grosso”. Pier morreu pacificamente na cama, na cidade de Sneek, Frísia, em 18 de outubro de 1520. Pier está enterrado em Sneek, na Martinikerk conhecida no século XV como Groote Kerk. Seu túmulo está localizado no lado Norte da igreja. Embora possa se comunicar e interagir com as outras pessoas, sua condição como Berserker não o permite fazê-lo por muito tempo. Pier Gerlofs Donia era um homem rude, mas bem-humorado. No entanto, ele, após ter sua esposa assassinada e propriedade destruída, foi tomado pelo ódio e buscou vingança, agora apresentando-se como um homem apenas bruto e violento — um touro raivoso. Com o Mestre, Pier parece ser um Servo consideravelmente calmo e quieto, mas que ainda psicologicamente se sente o ressentimento apenas pela presença. Em combate, tem sido considerado pela literatura “um monstro selvagem, bestial e perigos e mesmo que insano, suas habilidades com aquela gigantesca espada nunca o deixaram”.
Bibliografia
Geral Consultada.
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