sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Praia de Boa Viagem – Dialética, Ambiente Social & Ataques de Tubarões.

                           A admiração começa onde acaba a compreensão”. Charles Baudelaire

            A Praia de Boa Viagem é a praia urbana mais famosa da cidade do Recife, capital do estado brasileiro de Pernambuco. Com aproximadamente 8 km de extensão, está situada no bairro homônimo, Zona Sul da capital pernambucana, delimitada pela Praia do Pina ao Norte e pela Praia de Piedade ao Sul. A maior parte da Praia de Boa Viagem é protegida por uma barreira de recifes naturais, que deu nome à cidade. No século XVII, originalmente a povoação da Boa Viagem servia de ponto parada (descanso) dos viajantes que transitavam vindos do Sul da Capitania de Pernambuco. A praia tornou-se depois um local de veraneio para os recifenses, até a chegada dos edifícios nas décadas de 1940 e 1950. Tais edifícios beira-mar criam sombras sobre a praia, o que levanta críticas. A orla dispõe de parque, jardim e espaços de prática desportiva. Na maré baixa formam-se várias piscinas naturais rasas, com águas mornas e transparentes, ao longo da praia. O banho é seguro nas muitas piscinas naturais que se formam ao longo da Praia de Boa Viagem durante a maré baixa, porém não é recomendado ultrapassar os recifes. Também durante a maré baixa é possível andar sobre os recifes, que são relativamente planos e largos, mas são escorregadios. Quando a maré sobe, os arrecifes ficam completamente cobertos pela água. Na Praia de Boa Viagem há comércio urbano bem ambientado em quiosques padronizados, ciclovia moderna e com faixa de segurança, pista de cooper, chuveiros públicos higiênicos, quadras de vôlei e quadras de tênis e equipamentos adequados para musculação.

       O surf no Brasil curiosamente no processo de globalização foi trazido por trabalhadores de companhias aéreas que entraram em contato com o esporte em outros países. O surfe chegou primeiro à praia de Santos, no estado de São Paulo, e depois se espalhou pelo litoral brasileiro. O surf é um esporte que consiste em deslizar sobre as ondas, podendo ser praticado em mares, rios ou piscinas. As primeiras evidências do surf remontam a povos polinésios, como os havaianos, samoanos e tahitianos, que possivelmente praticavam o esporte por volta de 1500 a.C. A palavra “surf” deriva da palavra indiana “sufe”, que significa litoral. Os navegadores portugueses começaram a usar a palavra em 1600 e, com o tempo, ela se transformou em “surf”. O surfe ganhou fama mundialmente em 1912, quando o havaiano Duke Paoa Kahanamoku conquistou a medalha de ouro de natação nas Olimpíadas de Estocolmo e revelou que treinava surfando. No Recife, a praia de Itapuama é um local com boas condições sociais e para a prática do surf. O ser humano não faz parte do cardápio dos tubarões, a maior parte dos ataques é por engano: quando a água está turva, o tubarão que está à caça por alimento não consegue perceber a diferença entre uma pessoa e um peixe grande.

Uma das praias mais perigosas do mundo, devido aos ataques de tubarões, Boa Viagem reúne condições ideais à presença do tubarão mais agressivo do planeta, o tubarão-touro (bull shark). Ser vivo com o maior índice de testosterona da Terra, o tubarão-touro tem preferência por áreas de estuários tropicais com águas quentes, sendo este o estudo de caso do Recife, Pernambuco. Outra espécie muito defensiva-agressiva mormente presente na Praia de Boa Viagem é o tubarão-tigre. Foram contabilizados 59 ataques de tubarão desde o ano de 1992, com 24 mortes, no trecho contínuo entre as praias do Carmo e do Paiva, no qual está inserida Boa Viagem. A última vítima fatal foi a estudante paulista Bruna Gobbi, mordida por um tubarão em julho de 2013 na Praia de Boa Viagem, ao ser arrastada pela correnteza e sofrer princípio de afogamento: apesar de a praia possuir 88 Placas de Advertência, alguns banhistas insistem em entrar no mar mesmo sob condições biológicas que favorecem os ataques, como maré alta, Lua cheia e a água turva devido às chuvas torrenciais com ocorrência no mês de julho. Recife torna o Brasil o quarto país do mundo em número de vítimas fatais por ataques de tubarão, atrás somente da Austrália, dos Estados Unidos da América e da África do Sul. Algumas espécies, como o tubarão-touro, gostam de água quente – então, passam mais tempo nas águas quentes do Sul, disse Robert Harcourt, pesquisador de ecologia de tubarões e diretor do grupo de pesquisa de predadores marinhos da Macquarie. Tecnologia moderna, assistência médica aprimorada e tempo de resposta de emergência mais rápidos significam que a taxa estatística de mortalidade dos ataques de tubarão caiu significativamente na década – razão pela qual o aumento deste ano é “uma verdadeira anomalia”.

O tubarão-mangona ou tubarão-touro (Carcharias taurus) é uma espécie de tubarão da família Odontaspididae, e o único membro do gênero Carcharias. A família Odontaspididae, anteriormente reconhecida como Carchariidae, faz parte da ordem dos Lamniformes. O grupo possui somente dois gêneros viventes, tendo como representante principal o tubarão-mangona. Eles são frequentemente encontrados em águas quentes ou temperadas em todos os oceanos do mundo. Têm uma tendência de migrar para habitats costeiros, e são frequentemente vistos nadando no fundo do oceano especificamente na zona de arrebentação; às vezes, o que não é incomum, chegam muito perto da costa. Os tubarões-mangona vivem em mares tropicais e temperados, podendo estar presente na plataforma continental desde a zona de arrebentação até uma profundidade de 232 metros. Está presente em todos os mares quentes do oceano Atlântico, parte do Pacífico e do Mediterrâneo. No Brasil, são mais comuns nas regiões Sudeste e Sul.  Eles podem atingir um máximo de 3 metros de comprimento e atingir 250 kg; apresentam dimorfismo sexual em relação ao tamanho corporal, onde os machos são menores que as fêmeas, com os machos tendo uma média de 1,9 metros de comprimento e as fêmeas uma média de 2,2 metros. Seu corpo é robusto, com o dorso de coloração marrom acinzentado com algumas manchas nas laterais e o ventre branco. Uma característica distintiva é que a barbatana anal e ambas as barbatanas dorsais são do mesmo tamanho. Apresenta focinho pontudo, dentes serrilhados e separados por dentículo intermediário.  

A família contém três espécies existentes, em dois gêneros, assim como muitas espécies extintas em vários gêneros. A análise recente do DNA mitocondrial dos membros existentes descobriu que os dois membros existentes não formam realmente um clado monofilético. Esta família é, portanto, polifilética e precisa de revisão. O corpo tende a ser marrom com marcas escuras na metade superior, que desaparecem à medida que amadurecem. Seus dentes em forma de agulha são altamente adaptados para empalar peixes, sua principal presa. Seus dentes são longos, estreitos e muito afiados com bordas lisas, com uma e ocasionalmente duas cúspides menores de cada lado. As aberturas branquiais todas na frente da nadadeira peitoral, relativamente grandes, mas não se estendendo até a superfície dorsal da cabeça; olhos relativamente pequenos e sem membrana nictitante; pedúnculo caudal sem quilha lateral; nadadeira caudal assimétrica com lobo ventral relativamente curto. Sem temor a erro, é possível afirmar que todas as espécies são ovovíparas, onde os embriões se alimentam de saco vitelino e outros óvulos produzidos pela mãe, exceto Carcharias taurus, que apresenta ovofagia, ou seja, o hábito de alimentar-se de óvulos, é uma prática que caracteriza alguns embriões que se alimentam de óvulos produzidos pelo ovário ainda dentro do útero materno.  

Acredita-se que esta prática ocorra em todos os tubarões da ordem Lamniformes e foi comprovada no tubarão-raposo (Alopias superciliosus), no tubarão-raposo pelágico (Alopias pelagicus), no tubarão-mako (Isurus oxyrinchus), no tubarão-sardo (Lamna nasus) e em outros. Este fenômeno biológico pode ser utilizado para adaptar embriões maiores e mais fortes ao seu papel social e genético como predadores. Existem também variantes da ovofagia entre os tubarões existentes. Por exemplo, sabe-se que o tubarão-touro (Carcharias taurus) pratica canibalismo intrauterino: dentro do útero o embrião dominante consome tanto os óvulos como outros embriões. Gollum attenuatus produz cápsulas contendo aproximadamente de 30 a 80 ovos, dos quais apenas um é destinado ao desenvolvimento e ingestão dos demais que estão contidos em um saco vitelino separado. O embrião consegue desenvolver-se completamente sem atacar os outros ovos férteis. Falando em ovofagia, por vezes também nos referimos ao comportamento mais geral das espécies que se alimentam de ovos, como as cobras, ou à ovofagia diferencial que é praticada pelas espécies de vespas polistes. O termo vespa do papel ou vespa-cabocla é a designação comum a diversas espécies grandes de vespas sociais do gênero polistes. Tais vespas, apenas para uma caracterização visualmente apresentam coloração avermelhada ou amarelada às riscas, corpo alongado e delgado. Entretanto, estas vespas são vistas como insetos sociais. Se incomodadas podem atacar com ferroada dolorosa.

        Recife representa um município brasileiro, capital do estado de Pernambuco, localizado na Região Nordeste do país. Com área territorial de aproximadamente 218 km², é formado por uma planície aluvial, tendo as ilhas, penínsulas e manguezais como suas principais características geográficas. Cidade nordestina com o melhor Índice de Desenvolvimento Humano, o Recife é a quarta capital na hierarquia da gestão federal, após Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, e possui o quinto aglomerado urbano mais populoso do Brasil, com 3,7 milhões de habitantes em 2022, superado apenas pelas concentrações urbanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília. A capital pernambucana tem, num raio de 300 km, três capitais estaduais sob sua influência direta: João Pessoa (122 km), Maceió (257 km) e Natal (286 km). É a metrópole mais rica do Norte-Nordeste e sétima do Brasil, articulando, em sua região geográfica intermediária, 71 cidades, que somam um PIB de 135 bilhões de reais. A cidade é a nona mais populosa do país, comparativamente, e sua região metropolitana é a sétima do Brasil em população, além de ser a terceira área metropolitana mais densamente habitada do país, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro. A capital pernambucana desempenha um forte papel centralizador em seu estado e região: abriga sedes de órgãos e instituições como a Sudene, a Eletrobras Chesf, o Comando Militar do Nordeste, o Cindacta III, o TRF da 5ª Região, dentre muitas outras, e o maior número de consulados estrangeiros fora do eixo Rio-São Paulo, sediando Consulados-Gerais de países como Estados Unidos, China, Alemanha, França e Reino Unido. O município foi eleito por pesquisa da MasterCard WorldWide (2013) uma das 65 cidades com economia mais desenvolvida do ponto de vista dos mercados de processo de trabalho emergentes no mundo técnico-científico globalizado: apenas cinco cidades entraram na lista, tendo o Recife recebido a quarta posição, após São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, e à frente de Curitiba.

Mais antiga entre as capitais estaduais brasileiras, Recife surgiu como “Ribeira de Mar dos Arrecifes dos Navios” no ano de 1537, na principal área portuária da Capitania de Pernambuco, a mais rica capitania do Brasil Colônia, conhecida em todo o mundo comercial da época graças à cultura da cana-de-açúcar e ao pau-brasil (ou pau-de-pernambuco). No século XVII, a cidade foi por vinte e quatro anos a sede da colônia de Nova Holanda, que teve como um dos administradores o conde Maurício de Nassau. Após a expulsão dos neerlandeses, feita na Insurreição Pernambucana, o Recife emerge como a cidade mais importante de Pernambuco, tendo uma grande vocação comercial influenciada principalmente pelos comerciantes portugueses, os chamados mascates. A atual área metropolitana do Recife foi palco de muitos dos primeiros fatos históricos do Novo Mundo: no Cabo de Santo Agostinho ocorreu o descobrimento do Brasil pelo navegador espanhol Vicente Pinzón no dia 26 de janeiro de 1500; na Ilha de Itamaracá estabeleceu-se, em 1516, o primeiro “Governador das Partes do Brasil”, Pero Capico, que construiu o primeiro engenho de açúcar que se tem notícia na América portuguesa. Dentre as muitas alcunhas atribuídas, “Veneza Brasileira” é a mais reconhecida. O romancista francês Albert Camus esteve no Recife em 1949 e comparou a capital pernambucana a outra cidade italiana ao descrevê-la, em seu livro Diário de Viagem, como a “Florença dos Trópicos”. O Centro Histórico em conjunto com os sítios de Olinda, Igarassu e dos Guararapes um dos mais valiosos patrimônios barrocos do Brasil.  Faz parte da Rede de Cidades Criativas da UNESCO como “Cidade da Música”.

Um problema particular surge quando a teoria deve desbravar um território onde não há mais discursos. A operação teorizante se encontra aí nos limites do território onde funciona normalmente. É um espaço delimitado na natureza humana por um grupo social ou indivíduo, animal ou humano. Território com o qual se identificam & via de regra são identificados. Onde encontram e ou produzem os meios materiais à sua existência. A interrogação teórica, não esquece, não pode esquecer, que além da relação desses discursos, uns com os outros, existe a sua relação comum com aquilo que eles tomaram cuidado para excluir de seu campo para constituí-lo. Uma reflexão teórica não escolhe manter as práticas à distância de seu lugar, de maneira que tenha de sair para analisa-las, mas basta-lhe invertê-las para se encontrar em casa. Os procedimentos sem discurso são coligidos e fixados e uma região que o passado organizou e que lhes dá o papel, determinante da teoria, de ser constituídos em “reservas” selvagens para o saber abstrato e policompetente da ciência esclarecido. À medida em que a razão que surgiu da Aufklärung ia determinando suas disciplinas, suas coerências e seus poderes sociais. 

Metodologicamente a distinção não se refere mais essencialmente ao binômio tradicional que divide o abstrato do concreto, especificado pela separação entre a especulação imaginária que decifra o livro do cosmos, e as aplicações concretas, mas visa duas operações diferentes, uma discursiva (na e pela linguagem) e a prática não discursiva. Desde o século XVI, a ideia de método abala progressivamente a relação prática entre o conhecer e o fazer, impõe-se o esquema fundamental de um discurso que organiza a maneira de pensar em maneira de fazer, em gestão racional de uma produção e em operação regulada sobre campos apropriados. Fato notável, desde o século XVIII e no decorrer do século XIX, os etnólogos ou os historiadores da ciência ou da técnica consideram as técnicas respeitáveis em si mesmas. Destacam par excellence aquilo que fazem. Não sentem necessidade exclusivamente como na filosofia da história de interpretar. Basta descrever. Enquistada per se na particularidade, desprovida das generalizações que fazem a competência exclusiva do discurso, a arte nem por isso deixa de formar um “sistema” e organizar-se por “fins” – dois postulados que permitem a uma ciência e a uma ética conservar em seu lugar o discurso “próprio” de que está privada, isto é, escrever-se no lugar e em nome dessas práticas. A arte constitui em relação à ciência um saber em si mesmo essencial, mas ilegível sem ela. Entre a ciência e a arte, considera-se não uma alternativa, mas a complementaridade e, se possível, a articulação.

Isto é, segundo sua concepção histórica filosófica que só deve ser justificada pela apresentação do próprio sistema, tudo decorre de entender e exprimir o verdadeiro não como substância, mas precisamente como sujeito. A substância viva é o ser, que na verdade é sujeito, ou que é na verdade efetivo, mas só na medida em que é o movimento do pôr-se-a-si-mesmo, ou a mediação consigo mesmo do tornar-se outro. Como sujeito, é a negatividade pura e simples, e justamente por isso é o fracionamento do simples ou a duplicação oponente, que é de novo a negação dessa diversidade indiferente e de seu oposto. Só essa igualdade se reinstaurando, ou só a reflexão em si mesmo no seu ser-Outro, é que são o verdadeiro; e não uma unidade originária enquanto tal, ou uma unidade imediata enquanto tal. O verdadeiro é o vir-a-ser de si mesmo, o círculo que pressupõe seu fim como sua meta, ipso facto sua antítese, que o tem como princípio, e é efetivo mediante sua atualização e seu fim. Friedrich Hegel era crítico das filosofias claras e distintas, uma vez que, para ele, o negativo é constitutivo da ontologia. Neste sentido, a clareza não seria adequada para conceituar o próprio objeto. Introduziu um sistema de pensamento para a história da filosofia e do mundo chamado geralmente dialética: uma progressão no âmbito da história e sociedade na qual cada movimento sucessivo surge, pois, como solução das contradições inerentes ao movimento anterior.

Assim, temos a passagem da representação abstrata, para o conceito claro e concreto através do acúmulo de determinações. Aquilo que por movimento dialético separa e distingue perenemente a identidade e a diferença, sujeito e objeto, finito e infinito, é a alma vivente de todas as coisas, a Ideia Absoluta que é a força geradora, a vida e o espírito eterno. Mas a Ideia Absoluta seria uma existência abstrata se a noção de que procede não fosse mais que uma unidade abstrata, e não o que é em realidade, isto é, a noção que, por um giro negativo sobre si mesma, revestiu-se novamente de forma subjetiva. Metodologicamente a determinação mais simples e primeira que o espírito pode estabelecer é o Eu, a faculdade de poder abstrair todas as coisas, como um próprio até sua própria vida. Chama-se idealidade precisamente esta supressão da exterioridade. Entretanto, o espírito não se detém na apropriação, transformação e dissolução da matéria em sua universalidade, mas, enquanto consciência religiosa, por sua faculdade representativa, penetra e se eleva através da aparência dos seres até esse poder divino, uno, infinito, que conjunta e anima interiormente todas as coisas, enquanto pensamento filosófico, como princípio universal, a ideia eterna que as engendra e nelas se manifesta. Isto quer dizer que o espírito finito se encontra inicialmente numa união imediata com a natureza, a seguir em oposição com esta e finalmente em identidade com esta, porque suprimiu a oposição e voltou a si mesmo e, consequentemente, o espírito finito é a ideia, mas ideia que girou sobre si mesma e que existe por si em sua própria realidade.

A Ideia absoluta que para realizar-se colocou como oposta a si, à natureza, produz-se através dela como espírito, que através da supressão de sua exterioridade entre inicialmente em relação simples com a natureza, e, depois, ao encontrar a si mesma nela, torna-se consciência de si, espírito que conhece a si mesmo, suprimindo assim a distinção entre sujeito e objeto, chegando assim à Ideia a ser por si e em si, tornando-se unidade perfeita de suas diferenças, sua absoluta verdade. Com o surgimento do espírito através da natureza abre-se a história da humanidade e a história humana é o processo que medeia entre isto e a realização do espírito consciente de si. A filosofia hegeliana centra sua atenção sobre esse processo e as contribuições mais expressivas de Hegel ocorrem precisamente nesta esfera, do espírito. Melhor dizendo, para Hegel, à existência na consciência, no espírito chama-se saber, conceito pensante. O espírito é também isto: trazer à existência, isto é, à consciência. Como consciência em geral tenho eu um objeto; uma vez que eu existo e ele está na minha frente. Mas enquanto o Eu é o objeto de pensar, e enquanto representação é o espírito precisamente isto: produzir-se, sair fora de si, saber o que ele é. Nisto consiste a grande diferença: o homem sabe o que ele é. Logo, em primeiro lugar, ele é real. Sem isto, a razão, a liberdade não são nada. O homem é essencialmente razão. O homem, a criança, o culto e o inculto. A possibilidade para isto, para ser razão, existe em cada um, é dada a cada um.

A razão não ajuda em nada a criança, o inculto. É somente uma possibilidade, embora não seja uma possibilidade vazia, mas possibilidade real e que se move em si. Assim, por exemplo, dizemos que o homem é racional, e distinguimos muito bem o homem que nasceu somente e aquele cuja razão educada está diante de nós. Isto pode ser expresso também assim: o que é em si, tem que se converter em objeto para o homem, chegar à consciência; assim chega para ele e para si mesmo. A história para Hegel, é o desenvolvimento do Espírito no tempo, assim como a Natureza é o desenvolvimento da ideia no espaço. Deste modo o homem se duplica. Uma vez, ele é razão, é pensar, mas em si: outra, ele pensa, converte este ser, seu em si, em objeto do pensar. Assim o próprio pensar é objeto, logo objeto de si mesmo, então o homem é por si. A racionalidade produz o racional, o pensar produz os pensamentos. O que o ser em si é se manifesta no ser por si. Todo conhecer, todo aprender, toda visão, toda ciência, inclusive toda atividade humana, não possui nenhum outro interesse além do aquilo que filosoficamente é em si, no interior, podendo manifestar-se desde si mesmo, produzir-se, transformar-se objetivamente. Nesta diferença se descobre toda a diferença na história do mundo. Os homens são todos racionais. O formal desta racionalidade é que o homem seja livre. Esta é a sua natureza. Isto pertence à essência do homem: a liberdade.

O europeu sabe de si, afirma Hegel, é objeto de si mesmo. A determinação que ele conhece é a liberdade. Ele se conhece a si mesmo como livre. O homem considera a liberdade como sua substância. Se os homens falam mal de conhecer é porque não sabem o que fazem. Conhecer-se, converter-se a si mesmo no objeto (do conhecer próprio) e o fazem relativamente poucos. Mas o homem é livre somente se sabe que o é. Pode-se também em geral falar mal do saber, como se quiser. Mas somente este saber libera o homem. O conhecer-se é no espírito a existência. Portanto isto é o segundo, esta é a única diferença da existência (Existenz) a diferença do separável. O Eu é livre em si, mas também por si mesmo é livre e eu sou livre somente enquanto existo como livre. A terceira determinação é que o que existe em si, e o que existe por si são somente uma e mesma coisa. Isto quer dizer precisamente evolução. O em si que já não fosse em si seria outra coisa. Por conseguinte, haveria ali uma variação, mudança socialmente. Na mudança existe algo que chega a ser outra coisa. Na evolução, em essência, podemos também falar da mudança, mas esta mudança deve ser tal que o outro, o que resulta, é ainda idêntico ao primeiro, de maneira que o simples, o ser em si não seja negado.

Para Friedrich Hegel a evolução não somente faz aparecer o interior originário, exterioriza o concreto contido já no em si, e este concreto chega a ser por si através dela, impulsiona-se a si mesmo a este ser por si. O espírito abstrato assim adquire o poder concreto da realização. O concreto é em si diferente, mas logo só em si, pela aptidão, pela potência, pela possibilidade. O diferente está posto ainda em unidade, ainda não como diferente. É em si distinto e, contudo, simples. É em si mesmo contraditório. Posto que é através desta contradição impulsionado da aptidão, deste este interior à qualidade, à diversidade; logo cancela a unidade e com isto faz justiça às diferenças. Também a unidade das diferenças ainda não postas como diferentes é impulsionada para a dissolução de si mesma. O distinto (ou diferente) vem assim a ser atualmente, na existência. Porém do mesmo modo que se faz justiça à unidade, pois o diferente que é posto como tal é anulado novamente. Tem que regressar à unidade; porque a unidade do diferente consiste em que o diferente seja um. E somente por este movimento é a unidade verdadeiramente concreta. É algo concreto, algo distinto. Entretanto contido na unidade, no em si primitivo. O gérmen se desenvolve assim, não muda. Se o gérmen fosse mudado desgastado, triturado, não poderia evoluir. Na alma, enquanto determinada como indivíduo, as diferenças estão enquanto mudanças na história da vida individual e coletivamernte que se dão no indivíduo, que é o sujeito uno que nelas persiste e, segundo Hegel, enquanto momentos do seu desenvolvimento.

Por serem elas diferenças, à uma, físicas e espirituais, seria preciso, para determinação ou descrição mais concreta, antecipar a noção do espírito cultivado. As diferenças são: 1) curso natural das idades da vida, desde a criança, desde a criança, o espírito envolvido em si mesmo – passando pela oposição desenvolvida, a tensão de uma universalidade ela mesma ainda subjetiva em contraste com a singularidade imediata, isto é, como o mundo presente, não conforme a tais ideais, e a situação que se encontra, em seu ser-aí para esse mundo, o indivíduo que, de outro lado, está ainda não-autônomo e em si mesmo não está pronto o jovem – para chegar à relação historicamente verdadeira, ao reconhecimento da necessidade e racionalidade objetivas do mundo já presente, acabado; em sua obra, que leva a cabo por si e para si, o indivíduo retira, por sua atividade, uma confirmação e uma parte, mediante a qual ele é algo, tem uma presença efetiva e um valor supremo objetivo (homem); até a plena realização da unidade com essa objetividade do conhecer: quer dizer, uma unidade que, enquanto real, vem dar na inatividade da rotina que tira o interesse, enquanto idealmente se liberta dos interesses mesquinhos é das complicações do presente exterior (o ancião).                

O espírito manifesta aqui sua independência da própria corporalidade, em poder desenvolver-se antes que nela torne. Com frequência, crianças têm demonstrado um desenvolvimento espiritual que vai muito mais rápido que sua formação corporal. Esse foi o caso histórico, sobretudo em talentos artísticos indiscutíveis, em particular nos gênios da música. Também em relação ao fácil apreender de variados conhecimentos, especialmente na disciplina matemática; e tal precocidade tem-se mostrado não raramente também em relação a um raciocínio de entendimento, e mesmo sobre objetos éticos e religiosos. O processo de desenvolvimento do indivíduo humano natural decompõe-se então em uma série de processos, cuja diversidade se baseia sobre a relação do indivíduo para com a relação estabelecida com o gênero, e funda a diferença da criança, do homem e do ancião. Essas diferenças são as apresentações das diferenças do conceito. A idade da infância é o tempo da harmonia natural, da paz do sujeito consigo mesmo e com o mundo. Um começo tão sem-oposição quanto analogamente a velhice é um fim sem-oposição. As oposições que surgem ficam sem interesse mais profundo. A criança vive na inocência, sem sofrimento durável; no amor aos seus pais, e no sentimento de ser amado solenemente na perenidade da vida por eles.

Na Roma antiga, o gênio representava o espírito ou guia de uma pessoa, ou mesmo de uma gens inteira. Um termo relacionado é “genius loci”, o espírito de um local específico. Por contraste a força interior que move todas as criaturas viventes é o animus. Um espírito específico ou daimon pode habitar uma imagem ou ícone, dando-lhe poderes sobrenaturais. Gênios são dotados de excepcional brilhantismo, mas frequentemente também são insensíveis às limitações da mediocridade bem como são emocionalmente muito sensíveis, algumas vezes ambas as coisas. O termo prodígio indica simplesmente a presença de talento ou “gênio excepcional” na primeira infância. Os termos prodígio e criança prodígio são sinônimos, sendo o último um pleonasmo. Deve-se ter em consideração que é perigoso tomar como referência as pontuações em testes aplicados de QI quando se deseja fazer um diagnóstico razoavelmente correto de genialidade. Há que se levar em consideração que em todos as pontuações, e em todas as medidas, existe uma incerteza inerente, bem como os resultados obtidos nos testes representam a performance alcançada por uma pessoa em determinadas condições, não refletindo necessariamente toda a capacidade da pessoa em condições ideais. A contribuição histórica e cultura dos filósofos pré-socráticos à matemática, enquanto ciência, não são discutíveis e em grande parte fruto de tradição bem documentada. As mais antigas evidências concretas sobre as atividades de um matemático propriamente dito referem-se a Hipócrates de Quios. Nossos conhecimentos adquiridos sobre Hipócrates de Quios e outros matemáticos baseiam-se essencialmente em fragmentos existentes de suas obras e em tradições conservadas nos séculos posteriores. 

O mais antigo tratado matemático que chegou até nós é o Da Esfera Móvel, um estudo a respeito do valor piramidal da esfera. Dos matemáticos posteriores restam-nos diversas obras de valor desigual, dentre as quais se destaca Os Elementos, de Euclides, cuja influência persiste analiticamente. O interesse pela história da Matemática iniciou, também, na Grécia Antiga. Eudemo de Rodes um dos discípulos de Aristóteles escreveu consecutivas histórias da aritmética, da geometria e da astronomia, mas que infelizmente não foram conservadas. Durante o período greco-romano o matemático Papo de Alexandria representa um relato etnográfico sistemático da obra de seus predecessores, desde Euclides até Esporo de Niceia. Há também extensas notas explicativas sobre vários temas matemáticos e valiosas introduções aos diversos livros, nas quais Papo de Alexandria resume o tema geral e os assuntos técnico-metodológicos a serem tratados. Notabilizou-se por ser pai da filosofa Hipátia e por produzir em 390 uma versão mais elaborada da obra Os Elementos de Euclides que sobreviveu. Dentre suas obras está uma particularmente que faz considerações sobre um eclipse solar em Alexandria. A mobilidade social trouxe a Atenas Hipócrates de Quios, no século V a. C., o primeiro autor de uma extraordinária compilação de Elementos, em que parecem já figurar investigações científicas ligadas à resolução do problema de Delos sobre a duplicação do cubo e à quadratura do círculo. Com a morte de Platão, seu discípulo, Têudio de Magnésia, escreveu nova compilação dos manuscritos Elementos.

Para que o gênio se manifeste num indivíduo, este indivíduo deve ter recebido como herança a soma de poder cognitivo que excede em muito o que é necessário para o serviço de uma vontade individual é este excedente que, tornado livre, serve para constituir um objeto liberto de vontade, um claro espelho do ser do mundo. A través disto se explica a vivacidade que os homens de gênio desenvolvem por vezes até a turbulência: o presente raramente lhes chega, visto que ele não enche, de modo nenhum, a sua consciência; daí a sua inquietude sem tréguas; daí a sua tendência para perseguir sem cessar objetos novos e dignos de estudo, para desejar enfim, quase sempre sem sucesso, seres que se lhes assemelham, que estejam à sua medida e que os possam compreender. O homem comum, plenamente farto e satisfeito com a rotina atual, aí se absorve; em todo lado encontra seus iguais; daí essa satisfação particular que experimenta no curso da vida e que o gênio não conhece. - Quis-se ver na imaginação filosófica um elemento essencial do gênio, o que é bastante legítimo; quis-se mesmo identificar os dois, mas isso é um erro. O fato dinâmico é que, seja em que medida for, o certo é o incerto e o incerto provavelmente é uma reta. O objeto ser/compreender do gênio, considerado como tal, são as ideias eternas, as formas persistentes e essenciais do mundo e de todos os seus fenômenos. Onde reina só a imaginação, ela empenha-se em construir castelos no ar a lisonjear o egoísmo e o capricho pessoal, a enganá-los momentaneamente e a diverti-los; mas neste caso, conhecemos sempre, para falar com propriedade, apenas as relações sociais objetivadas das quimeras assim combinadas.

Talvez ponha por escrito os sonhos da sua imaginação: é daí que nos vêm esses romances ordinários, de todos os gêneros, que fazem a alegria do grande público e das pessoas semelhantes aos seus atores, visto que o leitor sonha que está no lugar do herói, e acha tal representação bastante agradável.  A história da matemática é uma área de estudo dedicada à investigação sobre a origem das descobertas da matemática e, em uma menor extensão, à investigação dos métodos matemáticos e aos registros etnográficos ou notações matemáticas representativas do passado. A matemática islâmica, por sua vez, desenvolveu e expandiu a matemática conhecida destas civilizações. Muitos textos gregos e árabes sobre matemática foram então traduzidos ao Latim, o que contribuiu com o desenvolvimento da matemática na Europa medieval. Dos tempos antigos à Idade Média, a eclosão da criatividade matemática foi frequentemente por séculos de estagnação. Começando no Renascimento e a partir daí a revelação de novos talentos e progressos técnicos da matemática, interagindo com as descobertas científicas, realizados de forma crescente, continuando decerto sem paixão. Deve ser suprassumida como essa unidade imediata do indivíduo com seu gênero e com o mundo em geral; é preciso que o indivíduo progrida a ponto de se contrapor ao universal, como a Coisa assente-para-si, pronto e subsistente; e de apreender-se em sua esfera de autonomia. Essa autonomia, e na relação dialérica, essa oposição, primeiro se apresenta em uma figura tão unilateralmente quanto, na criança, a unidade do subjetivo e do objetivo.

O jovem desagrega a ideia efetivada no mundo, de modo a atribuir-se a si mesmo a determinação do substancial: o verdadeiro e o bem; e atribui ao mundo, pelo contrário, a determinação do contingente, do acidental. Não se pode ficar nessa oposição não-verdadeira: o jovem deve, antes, elevar-se acima da dela à inteligência de que, ao contrário, deve-se considerar o mundo como o substancial, e o indivíduo, inversamente, só como um acidente; e que, portanto, o homem só pode encontrar sua ativação e contentamento essenciais no mundo que se lhe contrapõe firmemente, que segue seu curso com autonomia; e que, por esse motivo, deve conseguir a aptidão necessária para a Coisa. Chagado a esse ponto de vista, o jovem tornou-se homem. Pronto em si mesmo, o homem considera também a ordem ética do mundo não como a ser produzida só por ele, mas como uma ordem pronta, no essencial. Assim ele é ativo pela Coisa, não contra ela; assim se mantém elevado, acima da subjetividade unilateral do jovem, no ponto de vista da espiritualidade objetiva. A velhice, ao contrário, é o retorno ao desinteresse pela Coisa; o ancião habituou-se a viver dentro da Coisa, e por causa dessa unidade (que faz perder a oposição em relação à Coisa) renuncia à atividade de interesse por ela. É bem verdade que a liberdade no pensamento tem somente o puro pensamento por sua verdade; e verdade sem a implementação da vida. Por isso, para Hegel, é ainda só o conceito da liberdade, não a própria liberdade viva. A essência é só o pensar em geral, a forma como tal, que afastando-se da independência das coisas retornou a si mesma.

Mas porque a individualidade, como individualidade atuante, deveria representar-se como viva; ou, como individualidade pensante, captar o mundo vivo como um sistema de pensamento; teria de encontrar-se no pensamento mesmo, para aquela expansão do agir, um conteúdo do que é bom, e para essa expansão do agir, um conteúdo do que é bom, e para essa expansão do pensamento, um conteúdo do que é verdadeiro. Com isso não haveria, absolutamente nenhum outro ingrediente, naquilo que é para a consciência, a não ser o conceito que é a essência. Porém, aqui o conceito enquanto abstração, separando-se da multiplicidade variada das coisas, não tem conteúdo nenhum em si mesmo, exceto um conteúdo que lhe é dado. A consciência, quando pensa o conteúdo, o destrói como um ser alheio; mas o conceito é conceito determinado e justamente essa determinidade é o alheio que o conceito possui nele. Esta unidade do existente, o que existe, e do que é em si é o essencial da evolução. É um conceito especulativo, esta unidade do diferente, do gérmen e do desenvolvido. Ambas estas coisas são duas e, no entanto, uma. É um conceito da razão. Por isso só todas as outras determinações são inteligíveis, mas o entendimento abstrato não pode conceber isto. O entendimento fica nas diferenças, só pode compreender abstrações, não o concreto, nem o conceito. Teremos uma única vida a qual está oculta. Mas depois entra na existência e separadamente, na multiplicidade das determinações, e que com graus distintos, são necessárias. E juntas de novo, constituem um sistema. Essa representação é uma imagem da história da filosofia. O primeiro momento era o em si da realização, e em si do gérmen etc. O segundo é a existência, aquilo que resulta. O terceiro é a identidade, precisamente agora o fruto da evolução, o resultado de todo este movimento.

E a isto Hegel chama “o ser por si”. É o “por si” do homem, do espírito mesmo. Somente o espírito chega a ser verdadeiro por si, idêntico consigo. O que o espírito produz, seu objeto de pensamento, é na realidade ele mesmo. Ele é um desembocar em seu outro. O desenvolvimento do espírito é um desprendimento, um desdobrar-se, e por isso, ao mesmo tempo, um desafogo. No que toca mais precisamente a um dos lados da educação, melhor dizendo, à disciplina, não se há de permitir ao adolescente abandonar-se a seu próprio bel-prazer; ele deve obedecer para aprender a mandar.  A obediência é o começo de toda a sabedoria; pois, por ela, a vontade que ainda não conhece o verdadeiro, o objetivo, e não faz deles o seu fim, pelo que ainda não é verdadeiramente autônoma e livre, mas, antes, uma vontade despreparada, faz que em si vigore a vontade racional que lhe vem de fora, e que pouco a pouco esta se torne a sua vontade. O capricho deve ser quebrado pela disciplina; por ela deve ser aniquilado esse gérmen do mal. No começo, a passagem de sua vida ideal à sociedade civil pode parecer ao jovem como uma dolorosa passagem à vida de filisteu. Até então preocupado apenas com objetos universais, e trabalhando só para si mesmo, o jovem que se torna homem deve, ao entrar na vida prática, ser ativo para os outros e ocupar-se com singularidades, pois concretamente se se deve agir, tem-se de avançar em direção ao singular. Nessa conservadora produção e desenvolvimento do mundo consiste o trabalho. Podemos, pois, de um lado dizer que o homem só produz o que de fato é já existente. É necessário que um progresso individual cotidianamente seja efetuado. Mas o progredir no mundo só ocorrer nas massas, e só se faz notar de forma evidente em uma grande soma de coisas produzidas. Ipso facto, a consciência moral não pode renunciar à felicidade. 

O lugar que lhe foi atribuído é relativo ao trabalho que, ao longo do século XIX, de um lado isolou da arte as suas técnicas e, de outro, “geometrizou” e matematizou essas técnicas. No saber-fazer se conseguiu aos poucos isolar tecnicamente aquilo que poderia ser destacado da performance individual e isto se “aperfeiçoou” em máquinas que constituem combinações controláveis de formas materiais e forças. Esses “órgãos técnicos” são retirados da competência manual e colocados num espaço próprio. Passam a subordinar-se ao domínio de uma tecnologia. E agora o saber-fazer se acha lentamente privado daquilo que o articulava objetivamente num fazer. Aos poucos essas técnicas lhe são tiradas para serem transformadas em máquinas, e então o saber-fazer parece retirar-se para um saber no plano subjetivo, separado através da divisão do trabalho social e da particularidade da linguagem de seus procedimentos científicos. A otimização técnica do século XIX, indo inspirar-se no tesouro das artes e ofícios para criar os modelos, pretextos ou regras obrigatórias para suas invenções mecânicas, deixa às práticas cotidianas apenas um solo privado de meios ou de produtos próprios. Ela o constitui em região folclórica ou em uma terra duplamente silenciosa, sem discurso verbal como outrora e agora sem linguagem manual. O “retorno” dessas práticas na narração da linguagem, segundo Michel de Certeau, está ligado a um fenômeno amplo, e histórico menos determinado, que se poderia designar como “estetização do saber” implícito no saber-fazer.

Separado de seus procedimentos, este saber é considerado um “gosto” ou um “tato”, quem sabe mesmo per se “genialidade”. A ele se emprestam os caracteres sociais de uma intuição ora artística, ora reflexiva. Trata-se, como se costuma dizer, de “um conhecimento que não se conhece”. Este “fazer cognitivo” não viria acompanhado de uma autoconsciência que lhe desse um domínio por meio de uma reduplicação ou “reflexão” interna. Entre a prática e a teoria, esse conhecimento ocupa ainda uma “terceira” posição, não discursiva, mas primitiva. Acha-se recolhido, originário, como uma “fonte” daquilo que se diferencia e se elucida mais tarde. Trata-se de um saber não sabido. Há, nas práticas, um estatuto análogo aquele que se atribui às fábulas ou aos mitos, como os dizeres de conhecimentos que não se conhecem em si mesmos. Tanto num caso como no outro, trata-se de um saber sobre os quais os sujeitos não refletem. Dele dão testemunho sem poderem apropriar-se dele. São afinal locatários e não os proprietários do seu próprio saber-fazer. A respeito deles não se pergunta se há saber, mas é sabido por outros e não seus portadores. Tal como o dos poetas ou pintores, o saber-fazer das práticas cotidianas não seria reconhecido senão pelo intérprete que o esclarece no seu espelho discursivo, mas que não o possui tampouco. Não pertence a ninguém. Fica circulando entre a inconsciência dos praticantes e a reflexão dos não praticantes. É um saber anônimo referencialmente, uma condição de possibilidade das práticas técnicas ou eruditas.

            A maior parte litorânea da praia de Boa Viagem é protegida por uma barreira de recifes naturais, e as autoridades não recomendam o banho além dos recifes, para evitar ataques de tubarões. O surfe atualmente é proibido, embora o antigo governador do estado tenha autorizado, no início do ano de 2006, a instalação de uma rede de proteção contra os tubarões. Em 2007, o Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões iniciou o processo de trabalho de instalação, nos tubarões capturados, de sensores que possibilitam a monitoração via satélite, visando identificar o momento de aproximação dos animais da costa, numa área que compreende a Praia do Paiva até o Pina, para então retirar os tubarões da localização de risco. Hoje em dia os ataques são mais raros, porém as restrições permanecem. Segundo especialistas, os ataques de tubarão no litoral recifense são resultado do impacto ambiental provocado pela construção do Porto de Suape, que exigiu o aterramento de dois estuários onde os tubarões-tigre davam à luz. Outros fatos contribuem para o aparecimento de tubarões na área da Praia de Boa Viagem: as correntes marinhas direcionam os animais para esse trecho de 20 km; e nesse ponto os animais encontram dois canais de águas profundas, e quando o tubarão se desvia da rota migratória comum e entra nesses canais, há grande risco de contato com pessoas.

            O Complexo Industrial Portuário Governador Eraldo Gueiros, mais reconhecido como Porto de Suape, é um porto brasileiro localizado no estado de Pernambuco, entre os municípios do Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife. É o maior porto público da Região Nordeste e ocupa a quinta posição no ranking nacional. A data marco do Porto de Suape é 7 de novembro de 1978, dia em que foi sancionada a Lei Estadual nº 7.763 que criou a empresa SUAPE (Suape Complexo Industrial Portuário) vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de Pernambuco que administra o porto. Destaca-se como sendo o maior porto do Norte/Nordeste brasileiro, com projeto de tornar-se o segundo maior do país. Sua área de influência abrange toda a área dos estados de Pernambuco, Alagoas e da Paraíba, além de parte do Rio Grande do Norte, Ceará e interior do Maranhão. Na década de 1950 o padre francês Louis Joseph Lebret (1897-1966) se reuniu com técnicos do Condepe-Fidem e deram início aos estudos de viabilidade técnica para construir um porto industrial baseado em modelos de portos industriais como os situados em Marselha (França) e Kadoma (Japão). No ano de 1974, houve o lançamento da pedra fundamental pelo governador Eraldo Gueiros (1912-1983), determinando essa área para a construção do porto industrial. Em 7 de novembro de 1978, foi criada a empresa Suape - Complexo Industrial Portuário Governador Eraldo Gueiros, pelo então governador Moura Cavalcanti. Seu projeto foi baseado na integração porto-indústria tendo como exemplo portos bem-sucedidos da França e Japão.  

Em 2017 Suape apresentou lucro de R$ 11,2 milhões. Além de distrito industrial e porto marítimo o complexo também abriga uma reserva ambiental cerca de 59% de seu território é considerado área preservada, como também a Refinaria Abreu e Lima e o estaleiro Atlântico Sul. Essa região era habitada pela tribo Caetés e por conta da sua constituição geomorfológica a batizaram de Suape. Esta é uma palavra de origem tupi-guarani a qual significa “caminhos sinuosos”. Suape localiza-se no litoral sul do estado de Pernambuco nos municípios de Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, a 40 km ao Sul da cidade do Recife, entre a foz dos rios Ipojuca e Massangana. O acesso ao porto externo por mar tem profundidade mínima de 16,5 m e o calado máximo permitido de 14,5 m na preamar. O acesso terrestre pode ser feito pelas rodovias federais BR-101 e BR-232, pelas rodovias estaduais PE-060 e PE-028, bem como pela ferrovia EF–101, gerido pela Transnordestina Logística. Por vias o acesso é feito principalmente através do Aeroporto Internacional do Recife. Além destes, o porto conta com a infraestrutura do modal dutoviário, ficando o transporte de líquidos e inflamáveis feitos diretamente da indústria ao terminal portuário responsável. A região do porto de Suape apresenta clima tropical úmido. A temperatura é elevada, com média anual dos 25 °C. A média de precipitação é superior a 2000 mm nos meses de abril e julho. Os ventos predominantes tem direção entre Leste e Sudeste, com alguns vindos da direção Nordeste       

Bibliografia Geral Consultada.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro, O Bagaço da Cana: Um Estudo de Ideologia na Região do Açúcar. Dissertação de Mestrado. Programa de Mestrado em Sociologia. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 1976; MAIGRET, Eric; MACÉ, Eric (Org.), Penser les Médiacultures. Nouvelles Pratiques et Nouvelles Approches de la Represéntation du Monde. Paris: Editeur Armand Colin, 2005; HEGEL, Friedrich, Fenomenologia do Espírito. 4ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2007; ELIAS, Norbert, Escritos & Ensaios (1): Estado, Processo, Opinião Pública. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006; pp. 69-113; LATOUR, Bruno, Reensamblar lo Social: Una Introduction a la Teoría del Actor-red. Buenos Aires: Ediciones Manantial, 2008; GOFFMAN, Erving, Estigma: La Identidad Deteriorada. 2ª edición. Madrid: Amorrortu Editores, 2009; ROSA, Hartmut, Accélération. Une Critique Sociale du Temps. Paris: La Découverte, 2010; GUIMARÃES, Rui Enes, Estilo de Vida, Saúde e Surf: Análise do Contributo do Surf para o Estilo de Vida dos seus Praticantes. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Desporto. Porto: Universidade do Porto, 2011; POSTONE, Moishe, Tempo, Trabalho e Dominação Social. São Paulo: Boitempo Editorial. 2015; GALVÃO, Pedro Alegre Pina, A Ética Negativa: Ensaio sobre o Homem sem Qualidades. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciência da Literatura. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de janeiro, 2015; SCHWAB, Klaus, A Quarta Revolução Industrial. São Paulo: Editora Edipro, 2016; MARCHI, Kátia Bortolotti, Do Surf ao Tow-in: Do Processo Civilizador à Sociedade de Risco. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação Física. Setor de Ciências Biológicas. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2017; SILVA, Paulo Roberto Pinheiro da, O Paradoxo do Conhecimento Imediato ou o Desespero da Consciência Natural. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2017; LE BRETON, David, Antropologia das Emoções. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2019; SANTOS, Milton, Por Uma Outra Globalização: Do Pensamento Único à Consciência Universal. 32ª edição. Rio de Janeiro: Editora Record, 2021; SILVA, Licene Maria Batista Garcia da, Da Solidão ao Exílio: O Amor como Laço. Dissertação de Mestrado. Instituto de Psicologia. Centro de Educação e Humanidades. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2024; entre outros.

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