“O cinema não tem fronteiras nem limites. É um fluxo constante de sonho”. Orson Welles
Durante
as experiências do “sonho acordado” aparecem frequentemente imagens de auréola.
As personagens imaginadas, segundo Durand (1997: 151 e ss.), quando da sua
ascensão imaginária, têm uma face que se transforma, se transfigura em “halo de
luz imensa”, e, ao mesmo tempo, a impressão constantemente experimentada pelo
paciente é a do olhar. Olhar que, segundo Robert
Desoille, é justamente representativo dessa transcendência psicológica a que
Freud chama superego: “olhar inquiridor da consciência moral”.
Esta deslocação da luz do halo luminoso para o olhar surge-nos natural: é normal que o olho, órgão da visão, seja associado ao objeto dela, ou
seja, à luz. Não nos parece útil separar, como faz Desoille, a imagem do olho
do simbolismo do olhar. Segundo este autor, o olhar seria o símbolo do
julgamento moral, da censura do superego, enquanto o olho não passaria de um
símbolo enfraquecido, significativo de uma vulgar vigilância. Mas parece-nos
que um olhar se imagina sempre mais ou menos sob a forma de olho, mesmo que
fechado. Seja como for, olho e olhar estão sempre ligados à transcendência,
como constatam a mitologia universal e a psicanálise. Um filósofo como
Ferdinand Alquié (1906-1985) percebeu bem essa essência de transcendência que
subentende a seguinte visão: “Tudo é visão, e quem não compreende que a visão
só é possível à distância? A própria essência do olhar humano introduz no
conhecimento visual alguma separação”. O superego, é antes de tudo, o olho do
Pai e, mais tarde, o olho do rei, o olho de Deus, em virtude da ligação que a psicanálise estabelece como seu fundamento a relação entre o Pai, a
autoridade política e o imperativo moral. A imaginação hugoliana,
apesar de polarizações maternas e panteístas poderosas, volta sem cessar a concepção teológica paternalmente do Deus “testemunha”, simbolizado pelo olho que
persegue o criminoso Caim.
Reciprocamente,
o embusteiro, o mau o perjuro deve ser cego ou cegado, como testemunham os
versos célebres de L`aigle du casque ou dos Châtimentes. Mas sabemos que não há necessidade de fazer
apelo ao arsenal edipiano para associar o olho e a visão ao esquema da elevação
e aos ideais de transcendência: lembremos que é de modo completamente
fisiológico que os reflexos de gravitação e o sentido da verticalidade associam
os fatores quinésicos e cenestésicos aos fatores visuais da comunicação. Uma
vez que a orientação é estabelecida em relação à gravitação, os signos visuais,
por vicariância condicionalmente, podem ao mesmo tempo servir para determinar a
posição no espaço e o equilíbrio normal. Neste ponto, como em tantos outros, as
motivações edipianas vêm constelar com os engramas psicofisiológicos. Quer
dizer, a mitologia confirma igualmente o isomorfismo do olho, da visão e da
transcendência divina. Varuna, deus uraniano, é o sashasrâka, o que
significa “com mil olhos”, e, tal como o deus hugoliano, é ao mesmo tempo
aquele que “vê tudo” e o que é “cego”. Também Odin, o clarividente – que é
igualmente zarolho, é o deus espião. O Javé dos Salmos é aquele a quem nada
pode ser escondido: “Se eu subo aos céus, tu estás lá, se me deito no Schéol,
lá estás. Os fueguinos, bushimanes, samoiedo e outros o sol é considerado o
olho de deus. O sol Surya é o olho de Mitra e Varuna; nos persas é o olho de
Ahura-Mazda; para os gregos e os hélios é o olho de Zeus, noutros lugares é o
olho de Rá, o olho de Alá. Na Babilônia, Shamash é o grande juiz, para
os Koriak e os japoneses céu é tanto o grande “vigilante” como a testemunha
dos crimes mais secretos.
As várias teorias do sonho se distinguirão por elevarem, como num voo de avião, uma ou outra característica onírica à categoria essencial, por tomarem-na como ponto de partida para explicações e relações. Uma teoria não precisará permitir a inferência de alguma função, isto é, de alguma utilidade ou algum resultado do sonho, mas nossa expectativa de “hábito teleológico”, dizia Freud (2017), acolherá melhor aquelas teorias que considerarem que ele tem uma função. A crença dos antigos de que o sonho era enviado pelos deuses para guiar as ações humanas tinha como representação uma teoria do sonho completa, que dava informações sobre tudo o que é digno de se saber. Desde que o sonho se tornou um objeto abstrato da pesquisa biológica, conhecemos um número maior de teorias, embora haja entre elas também algumas teorias incompletas. Se renunciarmos a uma enumeração exaustiva, como consta nos manuais positivistas de história e sociologia sobre qualquer coisa, poderemos tentar o seguinte modo de agrupamento de teorias conforme a hipótese básica sobre a proporção e o ideal típico de atividade psíquica no sonho. Teorias segundo as quais a totalidade da atividade psíquica da vigília prossegue no sonho, como a de Joseph Delbœuf (1831-1896), psicólogo experimental belga que estudou ilusões visuais, inclusive sobre a ilusão de Delboeuf.
Ele
estudou na universidade e ensinou filosofia, matemática e psicofísica. Ele
também publicou inúmeros trabalhos diversificados de assuntos, incluindo os
efeitos do hipnotismo. Para essas teorias, a psique não dorme, seu aparelho
permanece intacto, mas ao ser submetida às condições do estado de sono,
distintas da vigília, e sob funcionamento normal, ela deve produzir resultados
diferentes daqueles da vigília. A ilusão de Delboeuf é uma ilusão de
percepção de tamanho relativo: na versão mais reconhecida da ilusão, dois
discos de tamanho idêntico foram colocados próximos um do outro e um deles é
rodeado por um anel; o disco circundado então parece maior do que o disco não
circundado se o anel estiver próximo, enquanto parece menor do que o disco não
circundado se o anel estiver distante. Um estudo de 2005 sugere que é causada
pelos mesmos processos visuais imaginários que correm a ilusão de Ebbinghaus. A
pergunta que se faz quanto a essas teorias é se são capazes de derivar as
diferenças entre o sonho e o pensamento de vigília integralmente das condições
do estado de sono. Além disso, ao que parece elas não oferecem um acesso
possível a uma função do sonho.
Não compreendemos para que sonhamos ou porque o complexo mecanismo do aparelho psíquico continua funcionando mesmo quando deslocado em circunstâncias para as quais não parece ter sido planejado. Dormir sem sonhos ou acordar quando ocorrem estímulos perturbadores seriam as únicas reações adequadas em vez da terceira, a de sonhar. Para o inventor da psicanálise, se for lícito recorrer a uma comparação com o material psiquiátrico, ele diria que as primeiras teorias constroem o sonho como paranoia e as segundas o transformam em modelo de debilidade mental ou de uma amência. Fora de dúvida, a teoria social de que na vida onírica ganha expressão apenas uma parcela da atividade psíquica, paralisada pelo sono, é de longe a preferida pelos autores médicos e pelo mundo científico em geral. Tanto quanto se pode pressupor um interesse mais geral pela expressão dos sonhos, podemos designá-la como a teoria dominante. Cabe destacar a desenvoltura com que precisamente essa teoria evita o mais terrível escolho a qualquer explicação dos sonhos, a saber, o “perigo de naufrágio” ao se chocar contra uma das exposições corporificadas pelo sonho. Visto que para ela o sonho tem como representação social o resultado de uma vigília parcial, ou “uma vigília gradativa, parcial e ao mesmo tempo muito anômala”, como nos diz sobre o sonho a Psicologia de Herbart (1776-1841), essa teoria é capaz, por meio de uma série de estados que vão de um despertar crescente ao estado de vigília plena, de dar conta do que vai do desempenho reduzido do sonho, que se revela pelo absurdo, até o desempenho intelectual plenamente concentrado. Provavelmente as obras de quase todos os fisiólogos e filósofos modernos encontraremos a concepção do sonhar como “uma vigília incompleta, parcial, ou traços da influência certamente desta concepção”.
Não se consegue manter o sono a salvo dos estímulos; de toda parte, tal como no caso dos germes vitais de que Mefisto se queixa, provém estímulos que se acercam da pessoa que dorme: de fora, de dentro e mesmo daquelas regiões corporais com que nunca nos preocupamos quando acordados. Assim, o sono é perturbado, a psique é sacudida ora de um lado, ora de outro, e funciona por um momento com a parte desperta, contente de poder adormecer outra vez. O sonho seria a reação à perturbação do sono causada pelos estímulos; uma reação, aliás, inteiramente supérflua. No entanto, chamar o sonho de processo físico ainda em outro sentido, que em todo caso é um produto do órgão da psique, é negar ao sonho a particularidade de ser um processo psíquico. A imagem já antiga em sua aplicação ao sonho, dos “dez dedos de uma pessoa completamente ignorante em música que correm sobre as teclas de um instrumento”, talvez ilustrem da melhor maneira possível a apreciação que a atividade onírica recebeu em geral dos representantes das ditas ciências exatas. Nela o sonho, ao que parece, se torna impossível de interpretar; afinal, como os dez dedos do ignorante deveriam produzir uma peça musical? Cedo, não faltaram objeções à teoria da vigília parcial.
Num
terceiro grupo podemos reunir aquelas teorias do sonho que atribuem à “psique
sonhante” a capacidade e a inclinação para produções psíquicas especiais que
ela de modo algum ou apenas de maneira imperfeita pode executar durante a
vigília. Da atuação dessas capacidades resulta a maioria dos casos de uma
função útil do sonho. As avaliações que o sonho recebeu dos psicólogos antigos
entram quase todas nessa categoria. Em vez delas Freud se contenta em citar a
afirmação de Friedrich Burdach (1776-1847) de que o sonho é a atividade natural
da psique, atividade que não “é limitada pelo poder da individualidade, não é
perturbada pela autoconsciência, não é orientada pela autodeterminação, mas é a
vitalidade dos pontos sensíveis em livre jogo”. Esse deleite no livre uso das
próprias forças é manifestamente imaginado por ele e outros autores como um estado
em que a psique se revigora e acumula novas forças para o trabalho diurno, ou
seja, como uma espécie de período de férias. Por isso, Burdach também cita e
aceita as amáveis palavras com que o poeta reconhecido como Novalis enaltece do
domínio dos sonhos: - o sonho é um baluarte contra a uniformidade e a
trivialidade da vida, um livre recreio da fantasia agrilhoada em que mistura
todas as imagens da vida e interrompe a constante sociedade do adulto uma
alegre brincadeira infantil. Sem os sonhos envelheceríamos mais cedo, e, assim,
ainda que não possamos considerar que o sonho “nos seja dado diretamente do
alto”, podemos encará-lo como tarefa preciosa, um acompanhante amistoso na
peregrinação ao túmulo.
Kim
Peek nasceu em Salt Lake City, em 11 de novembro de 1951 e faleceu em Murray, em
19 de dezembro de 2009. Foi um norte-americano portador da síndrome de Savant,
possuidor de uma excepcional “memória fotográfica”. Ele foi a inspiração para o
personagem Raymond Babbit, interpretado por Dustin Hoffman, no filme Rain
Man. Kim Peek tinha síndrome de Savant, uma condição clínica em que os
portadores desenvolvem tanto habilidades extraordinárias quanto graves
limitações. Por certo tempo se acreditou que Kim tivesse autismo, o que,
entretanto, não é verdade. Kim sofria da Síndrome FG ou de Opitz-Kaveggia.
O norte-americano de 55 anos dominava pelo menos 15 campos de política, boxe e
as estradas dos Estados Unidos da América. A sua facilidade decorativa era
proporcional aos obstáculos da vida cotidiana. Sem muita coordenação motora,
precisava de ajuda para se vestir, se barbear, etc. Também se irritava quando
não tinha nada que fazer para abranger seu conhecimento. Peek retinha 100% da informação que lia/ouvia quando uma pessoa memoriza apenas
45 por cento.
Com apenas dois anos de idade, já conseguia ler e memorizar simultaneamente livros. Ao longo da vida,
memorizou 12 mil livros, entre os quais a Bíblia, o Alcorão e
toda a obra de William Shakespeare - esta, com apenas 16 anos. Além do mais,
era capaz de ler duas páginas de um livro ao mesmo tempo, uma com cada olho e
depois mantinha um registro detalhado de tudo que lera. Peek estava sofrendo de
infecção das vias respiratórias, segundo informou seu pai, Fran Peek, ao jornalismo.
– “Ele era especial”, comentou o neuropsiquiatra Daniel Christensen, da
Universidade de Utah. – “Sua memória e sabedoria eram simplesmente incríveis”. Depois
de nascer, os médicos haviam diagnosticado que sofreria de um retardamento
mental e aconselharam a seus pais que o confiassem a uma instituição
especializada. Segundo pessoas próximas, Peek mantinha uma vida reclusa,
devorando obras inteiras. Mas tudo mudou quando, em 1984, conheceu Barry
Morrow. O roteirista, fascinado por sua história clínica, resolveu adaptar sua
vida para o cinema. O drama Rain Man, baseado na biografia de Peek, foi
lançado no mercado cinematográfico norte-americano em 1988. Após o grande
sucesso do filme – o ator Dustin Hoffman ganhou o premiado Oscar e o Globo
de Ouro de melhor ator – impulsionando a participação social de Kim Peek passou “a dar palestras e foi considerado
um gênio em diversos temas, como história, literatura e matemática”.
Dustin Lee Hoffman nascido em Los Angeles, 8 de agosto de 1937 é um ator norte-americano de ascendência judaica. Ao longo de sua brilhante carreira, recebeu vários prêmios, incluindo dois Oscars, seis Golden Globe Awards (incluindo o Cecil B. DeMille Award), quatro British Academy Film Awards, três Drama Desk Awards e dois Emmy Awards. Hoffman recebeu o AFI Life Achievement Award em 1999 e o Prêmio Kennedy em 2012. Hoffman começou sua carreira de ator no teatro em A Cook for Mr. General, de 1961 como Ridzinski. Durante esse tempo, apareceu em vários papéis especiais na televisão em programas como Naked City e The Defenders. Ele então estrelou a peça da off-Broadway Eh? de 1966 onde sua atuação lhe rendeu o extraordinário Theatre World Award e o Drama Desk Award. Seu primeiro papel de destaque foi na interpretação de Benjamin Braddock no filme: A Primeira Noite de um Homem, de Mike Nichols (1967), pelo qual recebeu sua primeira indicação ao Oscar. Seu papel seguinte como “Ratso” Rizzo em Perdidos na Noite, de John Schlesinger (1969), no qual ele atuou ao lado de Jon Voight; ambos receberam indicações ao Oscar, e o longa-metragem acabou ganhando Oscar de melhor filme. Obteve sucesso na década de 1970 interpretando papéis de sucesso: Pequeno Grande Homem (1971), Papillon (1973), Lenny (1975), Maratona da Morte ao lado de Laurence Olivier (1976), e como Carl Bernstein em Todos os Homens do Presidente (1976). Em 1979, protagonizou com Meryl Streep o filme Kramer vs. Kramer. Ambos receberam o Oscar por suas atuações.
Após uma pausa de três anos, Hoffman voltou na comédia Tootsie (1982) de Sydney Pollack, sobre um ator em dificuldades de trabalho que finge ser mulher para conseguir um papel em uma novela. Voltou aos palcos atuando em 1984 como Willy Loman em Death of a Salesman e reprisou o papel um ano depois em um telefilme que ganhou o Prêmio Emmy. Em 1987, estrelou ao lado de Warren Beatty a comédia Ishtar de Elaine May. Ele ganhou seu segundo Oscar de melhor ator por sua interpretação do autista Ray Babbitt no filme Rain Man de 1988, coestrelado por Tom Cruise. Em 1989, ele foi nomeado para um Tony Award e um Drama Desk Award por interpretar Shylock em uma performance teatral de O Mercador de Veneza. Na década de 1990, apareceu em Dick Tracy, de Warren Beatty, como o Capitão Hook em Hook - A Volta do Capitão Gancho (1991) de Steven Spielberg, Epidemia (1995), Sleepers - A Vingança Adormecida (1996) e a comédia satírica Mera Coincidência (1997) ao lado de Robert De Niro. Nos anos 2000, Hoffman apareceu nos filmes Em Busca da Terra do Nunca (2004), Huckabees - A Vida É uma Comédia (2004), Mais Estranho que a Ficção (2006), bem como Meet the Fockers (2004) e Entrando Numa Fria Maior Ainda com a Família (2010). Ele deu voz para o personagem Roscuro em O Corajoso Ratinho Despereaux (2008) e Mestre Shifu na série de filmes Kung Fu Panda (2008-2016). Em 2012, ele fez sua estreia na direção com O Quarteto estrelado por Maggie Smith e Tom Courtenay, no Festival Internacional de Cinema de Toronto. Em 2017, Hoffman estrelou o drama Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe, de Noah Baumbach.
A
síndrome do sábio, síndrome do idiota-prodígio ou Savant, do francês savant,
“sábio” é considerado “um distúrbio psíquico com o qual a pessoa possui uma
grande habilidade intelectual aliada a um déficit de inteligência. Tais
habilidades são sempre ligadas a uma memória extraordinária, porém com pouca
compreensão do que está sendo descrito”.
Encontrada estatisticamente em mais ou menos uma em cada 10 pessoas com autismo
e em, aproximadamente, uma em cada 2 mil com “danos cerebrais ou
retardamento mental”, a síndrome do sábio é citada na literatura científica
desde 1789, quando Benjamim Rush (1746-1813), o pai da psiquiatria norte-americana,
descreveu a incrível habilidade de calcular de Thomas Fuller, que de matemática
sabia pouco mais do que contar. Em 1887, no entanto, John Langdon Down (1828-1896),
mais conhecido por ter identificado a síndrome de Down, descreveu 10 pessoas
com a síndrome do sábio, com as quais manteve contato social por 30 anos como
superintendente do Earlswood Asylum (Londres). Langdon usou o termo idiot
savant (“idiota-prodígio”), para identificar a síndrome, na época “em que
um idiota era alguém com QI inferior a 25”. A idiotia é a forma dos indivíduos
que apresentam maior déficit mental. É representada nos casos de
quociente intelectual abaixo de 25. O Q.I. entre 25 e 50 significa
imbecilidade, e a debilidade mental própria está nos limites de 50 a
70.
Há
ainda muito a ser esclarecido sobre a síndrome do sábio. Os avanços das
técnicas de imageamento cerebral, entretanto, vêm permitindo uma visão mais
detalhada da condição, embora nenhuma teoria possa descrever exatamente como e
por que ocorre a genialidade no savantista. Há mais de um século, desde
a descrição original de Down, especialistas vêm acumulando experimentos.
Estudos realizados por Bernard Rimland, do Autism Research Institute, em
San Diego, Califórnia, vêm corroborar a tese de que algum dano no hemisfério
esquerdo do cérebro faz com que o direito compense a perda. Rimland possui o
maior banco de dados sobre autistas do mundo, com informações sobre 34 mil
indivíduos. Ele observa que as habilidades presentes em autistas-prodígio são
mais frequentemente associadas às funções do hemisfério direito, incluem
música, arte, matemática, formas de cálculos, entre outras aptidões sociais, e
as habilidades mais deficientes estão aquelas relacionadas com as funções do
hemisfério esquerdo, incluem linguagem e a especialização da fala. A síndrome
do sábio afeta o sexo masculino com frequência quatro a seis vezes maior e pode
ser congênita ou adquirida após uma doença (como a encefalite) ou algum dano
cerebral. Ser autista não significa necessariamente “ser savant,” e “ser savant”
também não significa necessariamente ser autista. Casos mais conhecidos. Uma relação de algumas pessoas aleatórias com a síndrome do sábio:
Leslie Lemke. Aos quatorze anos tocou, com perfeição, o Concerto nº 1 para piano de Tchaikovsky, depois de ouvi-lo pela primeira vez enquanto escutava um filme de televisão. Lemke jamais tinha tido aula de piano, é cego, mentalmente incapacitado e tem paralisia cerebral. Henrietta Fajcsák. Aos oito anos, apresentava um excelente nível de conhecimento e já conhecia o livro de poemas escrito por Attila József. Também já tocava melodias na flauta e aos dez anos tocava contrabaixo. Percebeu-se então que Henrietta levava consigo um notável potencial para a área de letras e das artes. Tony DeBlois. Savantista e cego, ele começou a tocar piano aos dois anos. Toca vinte instrumentos musicais e qualquer tipo de música e consegue guardar cerca de oito mil peças musicais em sua memória. Daniel Tammet. Tem a capacidade de dizer os primeiros 22 514 dígitos de Pi e aprender línguas rapidamente (fala onze línguas). Richard Wawro (Escócia). É reconhecido internacionalmente por seus trabalhos artísticos. Um professor de arte (Londres), quando Wawro era ainda criança, o descreveu como “incrível fenômeno, com a precisão de um mecânico e a visão de um poeta”. Wawro é autista. Kim Peek memorizou mais de doze mil livros. Descreveu os números de rodovias que vão para qualquer cidade, vilarejo ou condado dos Estados Unidos da América, códigos DDD, CEPs, estações de TV e as redes telefônicas que os servem. Identificava o dia da semana de uma determinada data em segundos. Era mentalmente incapacitado e dependia de seu pai para suas necessidades básicas. Peek serviu de inspiração para o personagem Raymond Babbit, que Dustin Hoffman representou em 1988 no filme Rain Man. Faleceu aos 58 anos no dia 19 de dezembro de 2009, de infarto, nos Estados Unidos da América. Alonzo Clemons. Pode criar réplicas de cera perfeitas de qualquer animal, não importa quão brevemente o veja. Suas estátuas de bronze são vendidas por uma galeria em Aspen, no estado do Colorado, e lhe deram reputação nacionalmente. Clemons é mentalmente incapacitado. Stephen Wiltshire, o “homem câmera”. Ele tornou-se um autista londrino famoso por sua memória fotográfica. Após sobrevoar uma cidade determinada, observa detalhes importantes e específicos, desenhando-a e pintando-a posteriormente, em seus mínimos detalhes.
Na trama cinematográfica o arrogante negociante de itens colecionáveis Charlie Babbitt está no meio da importação de quatro Lamborghinis do mercado cinza para Los Angeles para venda. E uma fabricante italiana de automóveis desportivos de luxo e de alto desempenho criada originalmente para competir com a marca Ferrari com sede no município de Sant`Agata Bolognese. A companhia, que foi fundada em 1963 por Ferruccio Lamborghini (1916–1993), um industrial italiano, reconhecido principalmente por ter fundado uma marca de automóveis de grande luxo que carrega o seu nome. Filho de fazendeiros, fundou em 1948 a Lamborghini Trattori, que rapidamente se tornou uma importante fabricante de equipamentos agrícolas em meio da reforma econômica pós-guerra da Itália, como uma filial da sua bem-sucedida fábrica de tratores Lamborghini Trattori S.p.A., atualmente o grupo Volkswagen AG, a tem como subsidiaria da divisão Audi AG, onde intercambia tecnologias entre Audi R8 e os modelos mais recentes da Lamborghini. Ele precisa entregar os carros a compradores impacientes que já deram entrada para pagar o empréstimo que ele fez para comprá-los, mas a EPA está segurando os carros no porto porque eles falharam nos testes de envio. Charlie orienta um funcionário a mentir para os compradores enquanto ele envolve seu credor.
Quando
Charlie descobre que seu pai socialmente distante Sanford Babbitt morreu, ele e sua
namorada Susanna viajam para Cincinnati no estado americano do Ohio. É a sede
do Condado de Hamilton no extremo Sudoeste do estado para resolver a herança.
Ele herda apenas um grupo de roseiras e um clássico Buick Roadmaster conversível
de 1949 sobre o que ele e Sanford entraram em conflito, enquanto o restante da
herança de US$ 3 milhões vai para um administrador aparentemente não
identificado. Ele descobre que o dinheiro está sendo direcionado para uma instituição
hospitalar sobre saúde mental local, onde ele conhece seu irmão mais velho
Raymond, de quem ele não tinha conhecimento anteriormente. Na representação Raymond
é um “autista savant” que segue rotinas. Ele tem uma memória excelente, mas em
contrapartida demonstra pouca expressão social e emocionalmente, exceto quando
está em perigo. Charlie tira Raymond da instituição psiquiátrica e o leva para
um hotel para passar a noite. Desanimada com a maneira como Charlie trata
Raymond, Susanna o deixa. Charlie pede ao médico de Raymond, Dr. Gerald Bruner,
metade da propriedade em troca do retorno de Raymond, mas Bruner se recusa.
Charlie decide tentar obter a custódia do irmão para obter o controle do
dinheiro.
Depois
que Raymond se recusa a voar para Los Angeles, ele e Charlie voltaram a dirigir
até lá. Eles fazem um progresso lento porque Raymond insiste em manter suas
rotinas, que incluem assistir o programa The People`s Court na televisão
todos os dias, ir para a cama às 23 horas e se recusar a viajar quando chove.
Ele também se opõe a viajar na Interestadual depois que eles sofrem um acidente
de carro. Durante o curso da jornada, Charlie aprende mais sobre Raymond,
incluindo sua habilidade de executar cálculos complexos instantaneamente e contar
centenas de objetos de uma vez, muito além do alcance normal das habilidades
humanas. Ele também percebeu que Raymond viveu com a família quando criança e
era o “Rain Man” (a pronúncia infantil de Charlie para “Raymond”), uma figura
reconfortante que Charlie lembrava como um “amigo imaginário”. Raymond salvou
um bebê Charlie de ser escaldado pela água quente do banho um dia, mas Sanford
culpou Raymond por quase ferir Charlie, e o internou na instituição, pois ele
não conseguiu falar por si mesmo e corrigir o mal-entendido.
O credor de Charlie retoma a posse dos Lamborghinis, forçando-o a reembolsar os pagamentos antecipados de seus compradores e deixando-o profundamente endividado. Tendo passado por Las Vegas, ele e Raymond retornam ao Caesars Palace e elabora um plano para ganhar o dinheiro necessário jogando blackjack contando cartas. Embora os chefes do cassino tenham obtido evidências em vídeo do esquema e peça que eles dizem, Charlie ganha com sucesso $ 86.000 para cobrir suas dívidas. Ele também se reconcilia com Susanna, que se juntou aos irmãos em Las Vegas. Voltando para Los Angeles, Charlie se encontra com Bruner, que lhe oferece US$ 250.000 para se salvar de Raymond. Charlie se recusa, dizendo que não está mais chateado por ter sido cortado do testamento de seu pai, mas quer ter um relacionamento com seu irmão. Em uma reunião com um psiquiatra nomeado pelo tribunal, Raymond provou ser incapacitado de decidir por si mesmo o que quer. Charlie interrompe o interrogatório e diz a Raymond que está feliz em tê-lo como irmão. Enquanto Raymond e Bruner embarcam em um trem para retornar à instituição, Charlie promete visitá-lo em duas semanas. Ao elaborar a história de Rain Man, Barry Morrow decidiu basear Raymond Babbitt em suas experiências com Kim Peek e Bill Sackter, dois homens que ganharam notoriedade e fama por suas “deficiências intelectuais” e, no caso de Peek, por “suas habilidades como um sábio que eram evidentes na leitura em alta velocidade e memória extremamente detalhada”.
Antes
da concepção de Rain Man, Morrow formou uma amizade com o “intelectualmente
deficiente” Bill Sackter e, ao mesmo tempo, acabou pegando alguns aspectos
situacionais de sua amizade e os usando para ajudar a criar o relacionamento
entre Charlie e Raymond. Após o sucesso de Bill, o filme realizado para a TV
que havia escrito sobre Sackter, Morrow conheceu Kim Peek e ficou extremamente
intrigado com a interpretação de sua síndrome de savant. Indo para a criação do
filme, Morrow ainda estava essencialmente inconsciente das complexidades da
condição social, bem como do próprio autismo; em vez disso, decidiu afetivamente
que “o filme era menos sobre a deficiência intelectual de Raymond e mais sobre
o relacionamento formado entre Raymond e Charlie”. Roger Birnbaum foi o
primeiro executivo de estúdio a dar luz verde ao filme; ele o fez imediatamente
após Barry Morrow lançar a história. Birnbaum recebeu “agradecimentos especiais”
nos créditos do filme. Os irmãos da vida real Dennise Randy Quaid foram
considerados para os papéis de Raymond Babbitt e Charles Babbitt. Agentes da Creative
Artists Agency enviaram o roteiro para Dustin Hoffman e Bill Murray, imaginando
Murray no papel-título e Hoffman no papel eventualmente interpretado por Tom
Cruise. Além disso, os famosos Martin Brest, Steven Spielberg e Sydney Pollack foram diretores também
envolvidos no filme. Spielberg foi contratado para o filme por cinco meses, até
que saiu para dirigir o filme Indiana Jones e a Última Cruzada (1989), e
mais tarde se arrependeu da decisão. Mickey Rourke também recebeu uma oferta
para o papel, mas ele decidiu. Mel Gibson também recebeu uma oferta para o
papel de Raymond, mas ele escolheu.
Por
um ano antes de Raymond Babbitt, Dustin Hoffman se preparou para retratar o
autismo de interpretação de Raymond buscando e se educando sobre outras pessoas
autistas, particularmente aquelas com chamada síndrome de savant. Hoffman teve
alguma experiência com indivíduos deficientes antes das filmagens, tendo
trabalhado no Instituto Psiquiátrico de Nova York quando era mais jovem. A
inspiração para a representação dos maneirismos de Raymond Babbitt foi
tirada de uma infinidade de fontes primárias, mas ele agradeceu a três homens
em seu discurso de acessibilidade do Oscar. Um deles foi Peter Guthrie, o irmão
autista de Kevin Guthrie, um jogador de futebol de Princeton com quem Hoffman
esteve em contato na época. Outro foi o autista sábio Joseph Sullivan, que foi
o tema de dois documentários e cuja mãe, Dra. Ruth Sullivan (1924-2021), foi
presidente fundadora da Autism Society of America e atuou como consultora
no filme. O terceiro foram as análises de Kim Peek, com quem Hoffman se
encontrou como parte de sua pesquisa do papel, onde ele observava e imitava as
ações de Peek, tentando dar um retrato preciso na histórica interpretação de como um indivíduo com
síndrome de savant poderia agir. Sua representação cinematográfica da síndrome
de savant de Peek foi considerada específica para o personagem de Hoffman,
resultando na decisão de Hoffman de fazer de Babbitt não apenas um homem com
síndrome de savant, mas analogamente também com autismo.
Em seu depoimento afirma: - Conheci a Dra. Sullivan muito bem ao longo dos anos. Ela se apresentou a mim na conferência da Autism Society of America de 1979, depois de ouvir que eu estava trabalhando com o Dr. Ivar Lovaas e o Dr. Rimland, e logo desenvolvemos uma amizade colegial que durou décadas. Há várias descrições publicadas dos primeiros esforços de advocacy do Dr. Sullivan e do Dr. Rimland nos Estados Unidos. Aqui está meu próprio relato, baseado em grande parte em minhas conversas com eles. Em 1959, o filho do Dr. Rimland, Mark, foi diagnosticado com autismo. Conduzindo uma busca incansável para descobrir como ajudar seu filho, o Dr. Rimland leu todos os artigos já escritos sobre autismo e até contratou intérpretes para traduzir artigos escritos em línguas estrangeiras. Rapidamente, ele percebeu que toda a comunidade profissional do autismo estava culpando os pais por causar autismo em seus filhos. Tendo acabado de receber um Ph.D. em psicologia experimental, o Dr. Rimland decidiu escrever um editorial sobre autismo, focando na alegação escandalosa de que ele era causado por pais emocionalmente negligentes. Ele discutiu as consistências na literatura descritiva, destacou a falta de evidências científicas para uma teoria psicogênica e argumentou convincentemente que o autismo é uma condição biológica. Ele teorizou, pela primeira vez na literatura, que o autismo era resultado da genética e/ou uma suscetibilidade genética a um ou mais insultos ambientais, levando, por sua vez, a alguma forma de comprometimento neurológico. Nos cinco anos seguintes, o artigo do Dr. Rimland cresceu bastante, em termos de acessibilidade na esfera da comunicação social e sua esposa sugeriu que ele considerasse escrever um livro. Assim, foi intitulado: Infantile Autism: The Syndrome and Its Implications for a Neural Theory of Behavior, foi publicado em 1964. Imediatamente, fez com que todo o campo do autismo começasse a se concentrar em causas e tratamentos biomédicos.
Em
1963, o filho do Dr. Sullivan, Joseph, foi diagnosticado com autismo aos três
anos de idade. Joe era o quinto de sete filhos. Nessa época, antes da
publicação do livro do Dr. Rimland, a Dra. Sullivan e milhares de outras
mulheres eram chamadas de “mães de geladeira”, porque os psiquiatras alegavam
que o autismo decorria da frieza materna e da falta de afeição. Em 1964, logo
após a publicação de Infantile Autism, pais do mundo inteiro começaram a
escrever para o Dr. Rimland. Essas cartas frequentemente continham longas
descrições de seus filhos e solicitavam orientação. No ano seguinte, enquanto
passava um ano de residência médica em um “think tank” patrocinado pela
Universidade de Stanford, o Dr. Rimland percebeu que pesquisas futuras sobre
autismo precisavam ser distribuídas aos pais para que pudessem ajudar seus
filhos. Naquela época, a maioria dos pediatras estudiosos inicialmente do tema sabia muito pouco disciplinarmente
sobre autismo, dada sua taxa de prevalência estatística relativamente baixa, cerca de 1 em
2.000, menor do que a prevalência hoje. O Dr. Rimland decidiu escrever para os
pais com quem ele se correspondia regularmente e contar a eles sobre sua “ideia
de formar uma rede de pais”. Na mesma época, o Dr. Sullivan escreveu para ele
com uma ideia semelhante. O Dr. Rimland ligou para ela imediatamente, e eles
logo começaram a planejar os detalhes da formação de um grupo de apoio
nacional.
Os
Drs. Rimland e Sullivan convocaram uma reunião em Teaneck, Nova Jersey, no
final de 1965. O Dr. Rimland escreveu para pais que moravam em estados
próximos, encorajando-os a comparecer. A reunião foi um grande sucesso, e
muitos dos presentes concordaram em trabalhar juntos para estabelecer uma rede
de capítulos regionais por todo o país. O grupo de apoio foi inicialmente
intitulado National Society for Autistic Children (NSAC), depois foi
alterado para Autism Society of America (ASA) e depois para Autism
Society (AS). Conforme recomendado pelo Dr. Rimland, um dos principais
objetivos do NSAC era “compartilhar as últimas descobertas de pesquisa com as
famílias por meio de seus capítulos”. O Dr. Rimland também se comprometeu a
estabelecer o primeiro capítulo em San Diego. O Autism Research Institute está
atualmente localizado do outro lado da rua do primeiro capítulo do National
Society for Autistic Children. Ele então escreveu progressivamente para os pais em todo o país e
os encorajou a estabelecer capítulos particularmente em suas próprias comunidades regionais. O Royal
Earlswood Hospital, anteriormente denominado The Asylum for Idiots e
The Royal Earlswood Institution for Mental Defectives, em Redhill,
Surrey, cidade no distrito de Reigate e Banstead, no condado de Surrey, na
Inglaterra.
A
cidade, que fica ao lado da cidade de Reigate a Oeste, fica ao Sul de Croydon,
na Grande Londres, e faz parte do cinturão de passageiros trabalhadores de
Londres. Foi o primeiro estabelecimento a atender especificamente pessoas portadoras
de deficiências de desenvolvimento. Anteriormente, eles eram alojados em asilos
para doentes mentais ou em casas de trabalho. O Royal Earlswood Museum estava
localizado no Belfry Shopping Centre, nas proximidades de Redhill. Ele
ilustrava a história social e o desenvolvimento do asilo e continha obras do
ex-interno James Henry Pullen (1835-1916). O museu está fechado e em 2012 suas
coleções e artefatos foram doados ao Langdon Down Museum of Learning
Disability em Teddington, Richmond upon Thames. Os arquivos do museu estão
localizados no Surrey History Centre em Woking. Em 1847, Ann Serena Plumbe
interessou-se pela situação difícil daqueles pacientes portadores de
deficiências neurodesenvolvimentais, ou apelidas vulgarmente de “idiotas”, como
eram chamados na época, e começou a discutir o que poderia ser feito para
ajudá-los. Em discussão com o Dr. John Conolly do Asilo Hanwell e o Reverendo
Dr. Andrew Reed, um filantropo e fundador de vários orfanatos, eles decidiram
educar essas pessoas. Reed viajou pela Europa para reunir informações etnológicas
sobre instituições que servissem a esse propósito e, em outubro, o projeto social
para fundar o “Asilo para Idiotas”, como era originalmente chamado, começou com
a nomeação de um conselho de administração.
Uma propriedade conhecida como Park House em Highgate foi comprada em março de 1848 e os primeiros pacientes foram admitidos em abril de 1848, incluindo Andrew Reed Plumbe, de 13 anos. O edifício rapidamente se mostrou muito pequeno, então em 1850 um terreno de 155 acres foi comprado em Earlswood Common, perto de Redhill, e um apelo público foi lançado para arrecadar fundos para a construção de um modelo de “Asilo para Idiotas” para abrigar 400 residentes. A Rainha Vitória subscreveu 250 guinéus em nome do Príncipe de Gales, que se tornou um membro vitalício. O hospital foi projetado por William Bonython Moffat e construído por John Jay. O Príncipe Alberto teve um interesse especialmente desde o início. Sua futura esposa, a rainha Vitória, nasceu no mesmo ano com a ajuda da mesma parteira. Foi batizado na Igreja Luterana Evangélica no dia 19 de setembro de 1819 dentro do Salão Mármore de Rosenau “com água tirada do rio Itz”. Seus padrinhos foram sua avó paterna, a princesa Augusta Reuss-Ebersdorf, seu avô materno Augusto, Duque de Saxe-Gota-Altemburgo; o imperador Francisco I da Áustria, o príncipe Alberto Casimiro, Duque de Teschen e o conde Emmanuel von Mensdorff-Pouilly. Seu tio-avô, Frederico IV, Duque de Saxe-Gota-Altemburgo, morreu em 1825. A morte levou a um rearranjo dos ducados saxônicos e, no ano seguinte, seu pai tornou-se o duque de Saxe-Coburgo-Gota. Alberto e o seu irmão mais velho, Ernesto, passaram a criação em uma relação muito próxima marcada pelo turbulento casamento de seus pais e posterior separação e divórcio.
Sua mãe se casou com Alexandre de Hanstein, Conde de Pölzig e Beiersdorf, depois de ser exilada da corte em 1824. Ela provavelmente nunca mais viu os filhos e morreu de câncer aos trinta anos de idade em 1831. Um ano depois seu pai se casou com a própria sobrinha, Maria de Württemberg, porém ela quase não teve impacto nas vidas de seus enteados. Os irmãos foram educados particularmente por Christoph Florschütz e depois estudaram na cidade de Bruxelas na Bélgica, com Adolphe Quételet sendo um dos tutores. Como muitos outros príncipes germânicos, Alberto estudou na Universidade de Bonn. Estudou direito, economia política, filosofia e história da arte. Ele tocava música e era bom ginasta, especialmente em esgrima e equitação. Alberto de Saxe-Coburgo-Gota (1819-1861) foi o marido da rainha Vitória e Príncipe Consorte do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda desde o casamento em 10 de fevereiro de 1840 até sua morte em 1861. Ele nasceu no ducado saxão de Saxe-Coburgo-Saalfeld em uma família com relações familiares com vários monarcas europeus. Aos vinte anos de idade, casou-se com sua prima direta Vitória, com quem teve nove filhos. No início de seu casamento, ele sentia-se restringido em sua posição de consorte, que não lhe dava nenhum poder ou função oficialmente. Com o passar do tempo o príncipe adotou várias causas sociais, como uma reforma educacional e a abolição mundial da escravatura, também assumindo as responsabilidades administrativas da criadagem, propriedades e escritório da rainha.
O Abolicionismo representou um movimento político que visava a abolição da escravatura e
do comércio de africanos, desenvolvido durante o período do Iluminismo do
século XVIII. Tornou-se uma das formas mais representativas de “ativismo
político” do século XIX até a atualidade. O abolicionismo foi um movimento
político autônomo e passou ao largo de ideologias políticas contemporâneas a
ela na Europa como por exemplo o Iluminismo. Anota William Clarence-Smith que
todas as grandes religiões balançaram entre o sancionamento e a condenação da
escravatura, incluindo o catolicismo. Aceitou-se a escravatura durante séculos,
apesar das dúvidas, críticas e, ocasionalmente, condenações absolutas. Em 13 de
janeiro de 1435, através da bula Sicut Dudum, o papa Eugênio IV (1383-1447)
mandou restituir à liberdade os cativos cristãos, ou em processo de conversão,
das ilhas Canárias. As Canárias eram objeto de frequentes raides, talvez desde
1341, tanto por portugueses como espanhóis. Na esteira dos “Descobrimentos
Portugueses”, o papa Nicolau V (1397-1455), pela sua Bula Dum Diversas,
de 18 de junho de 1452, autorizou o rei português, D. Afonso V (1432-1481), e
seu sucessores, a conquistar e subjugar as terras dos “infiéis”, pagãos e
outros “inimigos de Cristo”, reduzi-los à escravatura perpétua, e tomar posse
dos seus terrenos e bens. Em 1537, o papa Paulo III (1534-1549), através da
bula Sublimus Deus (23 de maio) e da encíclica Veritas ipsa (2 de
Junho), lembrou, aos cristãos, que os índios “das partes ocidentais, e os do
meio-dia, e demais povos”, eram seres livres por natureza: “(...) os ditos
índios e todos os outros povos que venham a ser descobertos pelos cristãos, não
devem em absoluto ser privados de sua liberdade ou da posse de suas
propriedades, ainda que sejam alheios à fé de Jesus Cristo (...)”. O Papa
declarou excomunhão para quem não cumprisse a nova decisão.
A bula encontrou forte oposição da Coroa espanhola, que declarou
violar seus direitos de patronato, e o Papa anulou as ordens no ano seguinte
com o documento Non Indecens Videtur. Michael Stogre observa que
Sublimis Deus não está presente em Denzinger, o compêndio oficial de
ensinamentos católicos oficiais, e David Brion Davis afirma que foi anulado
devido à disputa com a coroa espanhola. Contudo, a Bula original continuou a
circular e foi citada por Bartolomeu de las Casas (1484-1566) e outros aos
direitos dos ameríndios. Segundo James Falkowski, “a Sublimis Deus teve o
efeito de revogar a Bula de Alexandre VI, Inter caetera, que pretendia
dar à monarquia espanhola a posse das terras dos ameríndios, mas ainda
continuando os colonizadores com o dever de converter o povo nativo à fé cristã”.
Maxwell observa que a Bula não mudou o ensinamento tradicional de que a
escravidão dos índios era permitida se fossem considerados “inimigos da
cristandade”, pois isso seria considerado pela Igreja como uma “guerra justa”.
Ele argumenta ainda que as nações ameríndias tinham todo o direito de se
defender. Em 1591, o papa Gregório XIV dirigiu o breve Cum Sicuti
ao Bispo de Manila onde ordenava, sob pena de excomunhão, a emancipação de
todos os escravos índios detidos pelos Espanhóis nas Filipinas, e, nos séculos
seguintes, se pronunciaram, também, os papas Urbano VIII (1623-1644), no breve
apostólico de 1639 Commissum Nobis dirigido aos portugueses, proibindo a
escravidão dos índios do Paraguai, Brasil e dos arredores do rio da Prata, bem
como todo o comércio de escravos índios e Bento XIV no breve apostólico Immensa
Pastorum de 1741, dirigido aos bispos do Brasil e outros domínios sujeitos
ao Rei D. João de Portugal nas Índias Ocidentais e América.
O Papa condena per se a escravidão “injusta dos índios, sejam cristãos ou não, bem
como o seu tratamento desumano por parte dos cristãos portugueses, que afastam
os índios da Fé cristã e lhes provoca o ódio”. John Maxwell observa que nenhum
destes breves apostólicos faz qualquer referência à escravidão dos negros na
África Ocidental nem ao comércio transatlântico de escravos negros. Só no
século XIX, após a descrição do sofrimento dos escravos africanos se ter
tornado amplamente conhecida, é que se retificou esta omissão. O Papa Pio VII
concordou em apoiar os esforços dos advogados internacionais e estadistas no
Congresso de Viena em 1815 que pretendiam a abolição do comércio internacional
de escravos negros. No século XIX, no mesmo sentido, se pronunciou o papa
Gregório XVI (1831-1846) ao publicar a bula In Supremo (1839). Em 1888, o Papa
Leão XIII, na encíclica In Plurimis, dirigida aos bispos do Brasil,
pediu-lhes apoio para o Imperador D. Pedro II (1825-1891) e a sua filha a
princesa D. Isabel (1846-1921) que estavam a travar pela abolição
definitiva da escravidão.
Alberto
envolveu-se ativamente na organização da Grande Exposição de 1851 e
ajudou no desenvolvimento da monarquia constitucional britânica ao persuadir
sua esposa a demonstrar menos partidarismo nos assuntos do parlamento, isto é,
mesmo discordando ativamente da política internacional intervencionista
promovida por Henry Temple, 3º Visconde Palmerston (1784-1865), o secretário de
assuntos estrangeiros. Ele lançou a pedra fundamental em junho de 1853 e
inaugurou o asilo em junho de 1855. Em 1862, a Rainha Vitória conferiu uma
carta régia ao asilo. Um interno notável nos primeiros anos do asilo foi o
artista James Henry Pullen (1835–1916). John Langdon Down em homenagem a quem a
síndrome de Down – reconhecida nos Estados Unidos da América como síndrome de
Down – foi nomeada foi superintendente médico do hospital de 1855 a 1868. Nessa
época, os pacientes dormiam em dormitórios de quinze leitos e havia um membro
da equipe para cada sete pacientes. A tuberculose foi responsável pela maioria
das mortes na instituição. Duas novas alas foram concluídas em 1873. Andrew
permaneceu em Earlswood até sua morte em 1881, aos 45 anos. O asilo foi
renomeado para The Royal Earlswood Institution for Mental Defectives em junho
de 1926. Nerissa e Katherine Bowes-Lyon, que eram sobrinhas da Rainha Mãe e
primas de primeiro grau da Rainha, foram internadas no hospital em 1941. O
hospital se juntou ao Serviço Nacional de Saúde em 1948. Após a introdução do
programa Care in the Community, o hospital entrou em declínio e fechou
em março de 1997. O local foi remodelado para uso residencial e agora é reconhecido
como Royal Earlswood Park. Vários edifícios listados incluem o
edifício principal, a oficina e alojamentos do portão.
Bibliografia
Geral Consultada.
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