segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Rain Man – Síndrome de Savant & Aspectos de Memória Fotográfica.

                               “O cinema não tem fronteiras nem limites. É um fluxo constante de sonho”. Orson Welles                          

Durante as experiências do “sonho acordado” aparecem frequentemente imagens de auréola. As personagens imaginadas, segundo Durand (1997: 151 e ss.), quando da sua ascensão imaginária, têm uma face que se transforma, se transfigura em “halo de luz imensa”, e, ao mesmo tempo, a impressão constantemente experimentada pelo paciente é a do olhar. Olhar que, segundo Robert Desoille, é justamente representativo dessa transcendência psicológica a que Freud chama superego: “olhar inquiridor da consciência moral”. Esta deslocação da luz do halo luminoso para o olhar surge-nos natural: é normal que o olho, órgão da visão, seja associado ao objeto dela, ou seja, à luz. Não nos parece útil separar, como faz Desoille, a imagem do olho do simbolismo do olhar. Segundo este autor, o olhar seria o símbolo do julgamento moral, da censura do superego, enquanto o olho não passaria de um símbolo enfraquecido, significativo de uma vulgar vigilância. Mas parece-nos que um olhar se imagina sempre mais ou menos sob a forma de olho, mesmo que fechado. Seja como for, olho e olhar estão sempre ligados à transcendência, como constatam a mitologia universal e a psicanálise. Um filósofo como Ferdinand Alquié (1906-1985) percebeu bem essa essência de transcendência que subentende a seguinte visão: “Tudo é visão, e quem não compreende que a visão só é possível à distância? A própria essência do olhar humano introduz no conhecimento visual alguma separação”. O superego, é antes de tudo, o olho do Pai e, mais tarde, o olho do rei, o olho de Deus, em virtude da ligação que a psicanálise estabelece como seu fundamento a relação entre o Pai, a autoridade política e o imperativo moral. A imaginação hugoliana, apesar de polarizações maternas e panteístas poderosas, volta sem cessar a concepção teológica paternalmente do Deus “testemunha”, simbolizado pelo olho que persegue o criminoso Caim.

Reciprocamente, o embusteiro, o mau o perjuro deve ser cego ou cegado, como testemunham os versos célebres de L`aigle du casque ou dos Châtimentes.  Mas sabemos que não há necessidade de fazer apelo ao arsenal edipiano para associar o olho e a visão ao esquema da elevação e aos ideais de transcendência: lembremos que é de modo completamente fisiológico que os reflexos de gravitação e o sentido da verticalidade associam os fatores quinésicos e cenestésicos aos fatores visuais da comunicação. Uma vez que a orientação é estabelecida em relação à gravitação, os signos visuais, por vicariância condicionalmente, podem ao mesmo tempo servir para determinar a posição no espaço e o equilíbrio normal. Neste ponto, como em tantos outros, as motivações edipianas vêm constelar com os engramas psicofisiológicos. Quer dizer, a mitologia confirma igualmente o isomorfismo do olho, da visão e da transcendência divina. Varuna, deus uraniano, é o sashasrâka, o que significa “com mil olhos”, e, tal como o deus hugoliano, é ao mesmo tempo aquele que “vê tudo” e o que é “cego”. Também Odin, o clarividente – que é igualmente zarolho, é o deus espião. O Javé dos Salmos é aquele a quem nada pode ser escondido: “Se eu subo aos céus, tu estás lá, se me deito no Schéol, lá estás. Os fueguinos, bushimanes, samoiedo e outros o sol é considerado o olho de deus. O sol Surya é o olho de Mitra e Varuna; nos persas é o olho de Ahura-Mazda; para os gregos e os hélios é o olho de Zeus, noutros lugares é o olho de Rá, o olho de Alá. Na Babilônia, Shamash é o grande juiz, para os Koriak e os japoneses céu é tanto o grande “vigilante” como a testemunha dos crimes mais secretos. 

As várias teorias do sonho se distinguirão por elevarem, como num voo de avião, uma ou outra característica onírica à categoria essencial, por tomarem-na como ponto de partida para explicações e relações. Uma teoria não precisará permitir a inferência de alguma função, isto é, de alguma utilidade ou algum resultado do sonho, mas nossa expectativa de “hábito teleológico”, dizia Freud (2017), acolherá melhor aquelas teorias que considerarem que ele tem uma função.  A crença dos antigos de que o sonho era enviado pelos deuses para guiar as ações humanas tinha como representação uma teoria do sonho completa, que dava informações sobre tudo o que é digno de se saber. Desde que o sonho se tornou um objeto abstrato da pesquisa biológica, conhecemos um número maior de teorias, embora haja entre elas também algumas teorias incompletas.  Se renunciarmos a uma enumeração exaustiva, como consta nos manuais positivistas de história e sociologia sobre qualquer coisa, poderemos tentar o seguinte modo de agrupamento de teorias conforme a hipótese básica sobre a proporção e o ideal típico de atividade psíquica no sonho. Teorias segundo as quais a totalidade da atividade psíquica da vigília prossegue no sonho, como a de Joseph Delbœuf (1831-1896), psicólogo experimental belga que estudou ilusões visuais, inclusive sobre a ilusão de Delboeuf.      

Ele estudou na universidade e ensinou filosofia, matemática e psicofísica. Ele também publicou inúmeros trabalhos diversificados de assuntos, incluindo os efeitos do hipnotismo. Para essas teorias, a psique não dorme, seu aparelho permanece intacto, mas ao ser submetida às condições do estado de sono, distintas da vigília, e sob funcionamento normal, ela deve produzir resultados diferentes daqueles da vigília. A ilusão de Delboeuf é uma ilusão de percepção de tamanho relativo: na versão mais reconhecida da ilusão, dois discos de tamanho idêntico foram colocados próximos um do outro e um deles é rodeado por um anel; o disco circundado então parece maior do que o disco não circundado se o anel estiver próximo, enquanto parece menor do que o disco não circundado se o anel estiver distante. Um estudo de 2005 sugere que é causada pelos mesmos processos visuais imaginários que correm a ilusão de Ebbinghaus. A pergunta que se faz quanto a essas teorias é se são capazes de derivar as diferenças entre o sonho e o pensamento de vigília integralmente das condições do estado de sono. Além disso, ao que parece elas não oferecem um acesso possível a uma função do sonho.

Não compreendemos para que sonhamos ou porque o complexo mecanismo do aparelho psíquico continua funcionando mesmo quando deslocado em circunstâncias para as quais não parece ter sido planejado. Dormir sem sonhos ou acordar quando ocorrem estímulos perturbadores seriam as únicas reações adequadas em vez da terceira, a de sonhar. Para o inventor da psicanálise, se for lícito recorrer a uma comparação com o material psiquiátrico, ele diria que as primeiras teorias constroem o sonho como paranoia e as segundas o transformam em modelo de debilidade mental ou de uma amência. Fora de dúvida, a teoria social de que na vida onírica ganha expressão apenas uma parcela da atividade psíquica, paralisada pelo sono, é de longe a preferida pelos autores médicos e pelo mundo científico em geral. Tanto quanto se pode pressupor um interesse mais geral pela expressão dos sonhos, podemos designá-la como a teoria dominante. Cabe destacar a desenvoltura com que precisamente essa teoria evita o mais terrível escolho a qualquer explicação dos sonhos, a saber, o “perigo de naufrágio” ao se chocar contra uma das exposições corporificadas pelo sonho. Visto que para ela o sonho tem como representação social o resultado de uma vigília parcial, ou “uma vigília gradativa, parcial e ao mesmo tempo muito anômala”, como nos diz sobre o sonho a Psicologia de Herbart (1776-1841), essa teoria é capaz, por meio de uma série de estados que vão de um despertar crescente ao estado de vigília plena, de dar conta do que vai do desempenho reduzido do sonho, que se revela pelo absurdo, até o desempenho intelectual plenamente concentrado. Provavelmente as obras de quase todos os fisiólogos e filósofos modernos encontraremos a concepção do sonhar como “uma vigília incompleta, parcial, ou traços da influência certamente desta concepção”.  

Não se consegue manter o sono a salvo dos estímulos; de toda parte, tal como no caso dos germes vitais de que Mefisto se queixa, provém estímulos que se acercam da pessoa que dorme: de fora, de dentro e mesmo daquelas regiões corporais com que nunca nos preocupamos quando acordados. Assim, o sono é perturbado, a psique é sacudida ora de um lado, ora de outro, e funciona por um momento com a parte desperta, contente de poder adormecer outra vez. O sonho seria a reação à perturbação do sono causada pelos estímulos; uma reação, aliás, inteiramente supérflua. No entanto, chamar o sonho de processo físico ainda em outro sentido, que em todo caso é um produto do órgão da psique, é negar ao sonho a particularidade de ser um processo psíquico. A imagem já antiga em sua aplicação ao sonho, dos “dez dedos de uma pessoa completamente ignorante em música que correm sobre as teclas de um instrumento”, talvez ilustrem da melhor maneira possível a apreciação que a atividade onírica recebeu em geral dos representantes das ditas ciências exatas. Nela o sonho, ao que parece, se torna impossível de interpretar; afinal, como os dez dedos do ignorante deveriam produzir uma peça musical? Cedo, não faltaram objeções à teoria da vigília parcial.

Num terceiro grupo podemos reunir aquelas teorias do sonho que atribuem à “psique sonhante” a capacidade e a inclinação para produções psíquicas especiais que ela de modo algum ou apenas de maneira imperfeita pode executar durante a vigília. Da atuação dessas capacidades resulta a maioria dos casos de uma função útil do sonho. As avaliações que o sonho recebeu dos psicólogos antigos entram quase todas nessa categoria. Em vez delas Freud se contenta em citar a afirmação de Friedrich Burdach (1776-1847) de que o sonho é a atividade natural da psique, atividade que não “é limitada pelo poder da individualidade, não é perturbada pela autoconsciência, não é orientada pela autodeterminação, mas é a vitalidade dos pontos sensíveis em livre jogo”. Esse deleite no livre uso das próprias forças é manifestamente imaginado por ele e outros autores como um estado em que a psique se revigora e acumula novas forças para o trabalho diurno, ou seja, como uma espécie de período de férias. Por isso, Burdach também cita e aceita as amáveis palavras com que o poeta reconhecido como Novalis enaltece do domínio dos sonhos: - o sonho é um baluarte contra a uniformidade e a trivialidade da vida, um livre recreio da fantasia agrilhoada em que mistura todas as imagens da vida e interrompe a constante sociedade do adulto uma alegre brincadeira infantil. Sem os sonhos envelheceríamos mais cedo, e, assim, ainda que não possamos considerar que o sonho “nos seja dado diretamente do alto”, podemos encará-lo como tarefa preciosa, um acompanhante amistoso na peregrinação ao túmulo. 

Kim Peek nasceu em Salt Lake City, em 11 de novembro de 1951 e faleceu em Murray, em 19 de dezembro de 2009. Foi um norte-americano portador da síndrome de Savant, possuidor de uma excepcional “memória fotográfica”. Ele foi a inspiração para o personagem Raymond Babbit, interpretado por Dustin Hoffman, no filme Rain Man. Kim Peek tinha síndrome de Savant, uma condição clínica em que os portadores desenvolvem tanto habilidades extraordinárias quanto graves limitações. Por certo tempo se acreditou que Kim tivesse autismo, o que, entretanto, não é verdade. Kim sofria da Síndrome FG ou de Opitz-Kaveggia. O norte-americano de 55 anos dominava pelo menos 15 campos de política, boxe e as estradas dos Estados Unidos da América. A sua facilidade decorativa era proporcional aos obstáculos da vida cotidiana. Sem muita coordenação motora, precisava de ajuda para se vestir, se barbear, etc. Também se irritava quando não tinha nada que fazer para abranger seu conhecimento. Peek retinha 100% da informação que lia/ouvia quando uma pessoa memoriza apenas 45 por cento. 

Com apenas dois anos de idade, já conseguia ler e memorizar simultaneamente livros. Ao longo da vida, memorizou 12 mil livros, entre os quais a Bíblia, o Alcorão e toda a obra de William Shakespeare - esta, com apenas 16 anos. Além do mais, era capaz de ler duas páginas de um livro ao mesmo tempo, uma com cada olho e depois mantinha um registro detalhado de tudo que lera. Peek estava sofrendo de infecção das vias respiratórias, segundo informou seu pai, Fran Peek, ao jornalismo. – “Ele era especial”, comentou o neuropsiquiatra Daniel Christensen, da Universidade de Utah. – “Sua memória e sabedoria eram simplesmente incríveis”. Depois de nascer, os médicos haviam diagnosticado que sofreria de um retardamento mental e aconselharam a seus pais que o confiassem a uma instituição especializada. Segundo pessoas próximas, Peek mantinha uma vida reclusa, devorando obras inteiras. Mas tudo mudou quando, em 1984, conheceu Barry Morrow. O roteirista, fascinado por sua história clínica, resolveu adaptar sua vida para o cinema. O drama Rain Man, baseado na biografia de Peek, foi lançado no mercado cinematográfico norte-americano em 1988. Após o grande sucesso do filme – o ator Dustin Hoffman ganhou o premiado Oscar e o Globo de Ouro de melhor ator – impulsionando a participação social de Kim Peek passou “a dar palestras e foi considerado um gênio em diversos temas, como história, literatura e matemática”.

Dustin Lee Hoffman nascido em Los Angeles, 8 de agosto de 1937 é um ator norte-americano de ascendência judaica. Ao longo de sua brilhante carreira, recebeu vários prêmios, incluindo dois Oscars, seis Golden Globe Awards (incluindo o Cecil B. DeMille Award), quatro British Academy Film Awards, três Drama Desk Awards e dois Emmy Awards. Hoffman recebeu o AFI Life Achievement Award em 1999 e o Prêmio Kennedy em 2012. Hoffman começou sua carreira de ator no teatro em A Cook for Mr. General, de 1961 como Ridzinski. Durante esse tempo, apareceu em vários papéis especiais na televisão em programas como Naked City e The Defenders. Ele então estrelou a peça da off-Broadway Eh? de 1966 onde sua atuação lhe rendeu o extraordinário Theatre World Award e o Drama Desk Award. Seu primeiro papel de destaque foi na interpretação de Benjamin Braddock no filme: A Primeira Noite de um Homem, de Mike Nichols (1967), pelo qual recebeu sua primeira indicação ao Oscar. Seu papel seguinte como “Ratso” Rizzo em Perdidos na Noite, de John Schlesinger (1969), no qual ele atuou ao lado de Jon Voight; ambos receberam indicações ao Oscar, e o longa-metragem acabou ganhando Oscar de melhor filme.  Obteve sucesso na década de 1970 interpretando papéis de sucesso: Pequeno Grande Homem (1971), Papillon (1973), Lenny (1975), Maratona da Morte ao lado de Laurence Olivier (1976), e como Carl Bernstein em Todos os Homens do Presidente (1976). Em 1979, protagonizou com Meryl Streep o filme Kramer vs. Kramer. Ambos receberam o Oscar por suas atuações.

Após uma pausa de três anos, Hoffman voltou na comédia Tootsie (1982) de Sydney Pollack, sobre um ator em dificuldades de trabalho que finge ser mulher para conseguir um papel em uma novela. Voltou aos palcos atuando em 1984 como Willy Loman em Death of a Salesman e reprisou o papel um ano depois em um telefilme que ganhou o Prêmio Emmy. Em 1987, estrelou ao lado de Warren Beatty a comédia Ishtar de Elaine May. Ele ganhou seu segundo Oscar de melhor ator por sua interpretação do autista Ray Babbitt no filme Rain Man de 1988, coestrelado por Tom Cruise. Em 1989, ele foi nomeado para um Tony Award e um Drama Desk Award por interpretar Shylock em uma performance teatral de O Mercador de Veneza. Na década de 1990, apareceu em Dick Tracy, de Warren Beatty, como o Capitão Hook em Hook - A Volta do Capitão Gancho (1991) de Steven Spielberg, Epidemia (1995), Sleepers - A Vingança Adormecida (1996) e a comédia satírica Mera Coincidência (1997) ao lado de Robert De Niro. Nos anos 2000, Hoffman apareceu nos filmes Em Busca da Terra do Nunca (2004), Huckabees - A Vida É uma Comédia (2004), Mais Estranho que a Ficção (2006), bem como Meet the Fockers (2004) e Entrando Numa Fria Maior Ainda com a Família (2010). Ele deu voz para o personagem Roscuro em O Corajoso Ratinho Despereaux (2008) e Mestre Shifu na série de filmes Kung Fu Panda (2008-2016). Em 2012, ele fez sua estreia na direção com O Quarteto estrelado por Maggie Smith e Tom Courtenay, no Festival Internacional de Cinema de Toronto. Em 2017, Hoffman estrelou o drama Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe, de Noah Baumbach.

A síndrome do sábio, síndrome do idiota-prodígio ou Savant, do francês savant, “sábio” é considerado “um distúrbio psíquico com o qual a pessoa possui uma grande habilidade intelectual aliada a um déficit de inteligência. Tais habilidades são sempre ligadas a uma memória extraordinária, porém com pouca compreensão do que está sendo descrito”.  Encontrada estatisticamente em mais ou menos uma em cada 10 pessoas com autismo e em, aproximadamente, uma em cada 2 mil com “danos cerebrais ou retardamento mental”, a síndrome do sábio é citada na literatura científica desde 1789, quando Benjamim Rush (1746-1813), o pai da psiquiatria norte-americana, descreveu a incrível habilidade de calcular de Thomas Fuller, que de matemática sabia pouco mais do que contar. Em 1887, no entanto, John Langdon Down (1828-1896), mais conhecido por ter identificado a síndrome de Down, descreveu 10 pessoas com a síndrome do sábio, com as quais manteve contato social por 30 anos como superintendente do Earlswood Asylum (Londres). Langdon usou o termo idiot savant (“idiota-prodígio”), para identificar a síndrome, na época “em que um idiota era alguém com QI inferior a 25”. A idiotia é a forma dos indivíduos que apresentam maior déficit mental. É representada nos casos de quociente intelectual abaixo de 25. O Q.I. entre 25 e 50 significa imbecilidade, e a debilidade mental própria está nos limites de 50 a 70.

Há ainda muito a ser esclarecido sobre a síndrome do sábio. Os avanços das técnicas de imageamento cerebral, entretanto, vêm permitindo uma visão mais detalhada da condição, embora nenhuma teoria possa descrever exatamente como e por que ocorre a genialidade no savantista. Há mais de um século, desde a descrição original de Down, especialistas vêm acumulando experimentos. Estudos realizados por Bernard Rimland, do Autism Research Institute, em San Diego, Califórnia, vêm corroborar a tese de que algum dano no hemisfério esquerdo do cérebro faz com que o direito compense a perda. Rimland possui o maior banco de dados sobre autistas do mundo, com informações sobre 34 mil indivíduos. Ele observa que as habilidades presentes em autistas-prodígio são mais frequentemente associadas às funções do hemisfério direito, incluem música, arte, matemática, formas de cálculos, entre outras aptidões sociais, e as habilidades mais deficientes estão aquelas relacionadas com as funções do hemisfério esquerdo, incluem linguagem e a especialização da fala. A síndrome do sábio afeta o sexo masculino com frequência quatro a seis vezes maior e pode ser congênita ou adquirida após uma doença (como a encefalite) ou algum dano cerebral. Ser autista não significa necessariamente “ser savant,” e “ser savant” também não significa necessariamente ser autista. Casos mais conhecidos. Uma relação de algumas pessoas aleatórias com a síndrome do sábio:

Leslie Lemke. Aos quatorze anos tocou, com perfeição, o Concerto nº 1 para piano de Tchaikovsky, depois de ouvi-lo pela primeira vez enquanto escutava um filme de televisão. Lemke jamais tinha tido aula de piano, é cego, mentalmente incapacitado e tem paralisia cerebral. Henrietta Fajcsák. Aos oito anos, apresentava um excelente nível de conhecimento e já conhecia o livro de poemas escrito por Attila József. Também já tocava melodias na flauta e aos dez anos tocava contrabaixo. Percebeu-se então que Henrietta levava consigo um notável potencial para a área de letras e das artes. Tony DeBlois. Savantista e cego, ele começou a tocar piano aos dois anos. Toca vinte instrumentos musicais e qualquer tipo de música e consegue guardar cerca de oito mil peças musicais em sua memória. Daniel Tammet. Tem a capacidade de dizer os primeiros 22 514 dígitos de Pi e aprender línguas rapidamente (fala onze línguas). Richard Wawro (Escócia). É reconhecido internacionalmente por seus trabalhos artísticos. Um professor de arte (Londres), quando Wawro era ainda criança, o descreveu como “incrível fenômeno, com a precisão de um mecânico e a visão de um poeta”. Wawro é autista. Kim Peek memorizou mais de doze mil livros. Descreveu os números de rodovias que vão para qualquer cidade, vilarejo ou condado dos Estados Unidos da América, códigos DDD, CEPs, estações de TV e as redes telefônicas que os servem. Identificava o dia da semana de uma determinada data em segundos. Era mentalmente incapacitado e dependia de seu pai para suas necessidades básicas. Peek serviu de inspiração para o personagem Raymond Babbit, que Dustin Hoffman representou em 1988 no filme Rain Man. Faleceu aos 58 anos no dia 19 de dezembro de 2009, de infarto, nos Estados Unidos da América. Alonzo Clemons. Pode criar réplicas de cera perfeitas de qualquer animal, não importa quão brevemente o veja. Suas estátuas de bronze são vendidas por uma galeria em Aspen, no estado do Colorado, e lhe deram reputação nacionalmente. Clemons é mentalmente incapacitado. Stephen Wiltshire, o “homem câmera”. Ele tornou-se um autista londrino famoso por sua memória fotográfica. Após sobrevoar uma cidade determinada, observa detalhes importantes e específicos, desenhando-a e pintando-a posteriormente, em seus mínimos detalhes.

Na trama cinematográfica o arrogante negociante de itens colecionáveis ​​Charlie Babbitt está no meio da importação de quatro Lamborghinis do mercado cinza para Los Angeles para venda. E uma fabricante italiana de automóveis desportivos de luxo e de alto desempenho criada originalmente para competir com a marca Ferrari com sede no município de Sant`Agata Bolognese. A companhia, que foi fundada em 1963 por Ferruccio Lamborghini (1916–1993), um industrial italiano, reconhecido principalmente por ter fundado uma marca de automóveis de grande luxo que carrega o seu nome. Filho de fazendeiros, fundou em 1948 a Lamborghini Trattori, que rapidamente se tornou uma importante fabricante de equipamentos agrícolas em meio da reforma econômica pós-guerra da Itália, como uma filial da sua bem-sucedida fábrica de tratores Lamborghini Trattori S.p.A., atualmente o grupo Volkswagen AG, a tem como subsidiaria da divisão Audi AG, onde intercambia tecnologias entre Audi R8 e os modelos mais recentes da Lamborghini. Ele precisa entregar os carros a compradores impacientes que já deram entrada para pagar o empréstimo que ele fez para comprá-los, mas a EPA está segurando os carros no porto porque eles falharam nos testes de envio. Charlie orienta um funcionário a mentir para os compradores enquanto ele envolve seu credor.

Quando Charlie descobre que seu pai socialmente distante Sanford Babbitt morreu, ele e sua namorada Susanna viajam para Cincinnati no estado americano do Ohio. É a sede do Condado de Hamilton no extremo Sudoeste do estado para resolver a herança. Ele herda apenas um grupo de roseiras e um clássico Buick Roadmaster conversível de 1949 sobre o que ele e Sanford entraram em conflito, enquanto o restante da herança de US$ 3 milhões vai para um administrador aparentemente não identificado. Ele descobre que o dinheiro está sendo direcionado para uma instituição hospitalar sobre saúde mental local, onde ele conhece seu irmão mais velho Raymond, de quem ele não tinha conhecimento anteriormente. Na representação Raymond é um “autista savant” que segue rotinas. Ele tem uma memória excelente, mas em contrapartida demonstra pouca expressão social e emocionalmente, exceto quando está em perigo. Charlie tira Raymond da instituição psiquiátrica e o leva para um hotel para passar a noite. Desanimada com a maneira como Charlie trata Raymond, Susanna o deixa. Charlie pede ao médico de Raymond, Dr. Gerald Bruner, metade da propriedade em troca do retorno de Raymond, mas Bruner se recusa. Charlie decide tentar obter a custódia do irmão para obter o controle do dinheiro.

Depois que Raymond se recusa a voar para Los Angeles, ele e Charlie voltaram a dirigir até lá. Eles fazem um progresso lento porque Raymond insiste em manter suas rotinas, que incluem assistir o programa The People`s Court na televisão todos os dias, ir para a cama às 23 horas e se recusar a viajar quando chove. Ele também se opõe a viajar na Interestadual depois que eles sofrem um acidente de carro. Durante o curso da jornada, Charlie aprende mais sobre Raymond, incluindo sua habilidade de executar cálculos complexos instantaneamente e contar centenas de objetos de uma vez, muito além do alcance normal das habilidades humanas. Ele também percebeu que Raymond viveu com a família quando criança e era o “Rain Man” (a pronúncia infantil de Charlie para “Raymond”), uma figura reconfortante que Charlie lembrava como um “amigo imaginário”. Raymond salvou um bebê Charlie de ser escaldado pela água quente do banho um dia, mas Sanford culpou Raymond por quase ferir Charlie, e o internou na instituição, pois ele não conseguiu falar por si mesmo e corrigir o mal-entendido.

O credor de Charlie retoma a posse dos Lamborghinis, forçando-o a reembolsar os pagamentos antecipados de seus compradores e deixando-o profundamente endividado. Tendo passado por Las Vegas, ele e Raymond retornam ao Caesars Palace e elabora um plano para ganhar o dinheiro necessário jogando blackjack contando cartas. Embora os chefes do cassino tenham obtido evidências em vídeo do esquema e peça que eles dizem, Charlie ganha com sucesso $ 86.000 para cobrir suas dívidas. Ele também se reconcilia com Susanna, que se juntou aos irmãos em Las Vegas. Voltando para Los Angeles, Charlie se encontra com Bruner, que lhe oferece US$ 250.000 para se salvar de Raymond. Charlie se recusa, dizendo que não está mais chateado por ter sido cortado do testamento de seu pai, mas quer ter um relacionamento com seu irmão. Em uma reunião com um psiquiatra nomeado pelo tribunal, Raymond provou ser incapacitado de decidir por si mesmo o que quer. Charlie interrompe o interrogatório e diz a Raymond que está feliz em tê-lo como irmão. Enquanto Raymond e Bruner embarcam em um trem para retornar à instituição, Charlie promete visitá-lo em duas semanas. Ao elaborar a história de Rain Man, Barry Morrow decidiu basear Raymond Babbitt em suas experiências com Kim Peek e Bill Sackter, dois homens que ganharam notoriedade e fama por suas “deficiências intelectuais” e, no caso de Peek, por “suas habilidades como um sábio que eram evidentes na leitura em alta velocidade e memória extremamente detalhada”. 

Antes da concepção de Rain Man, Morrow formou uma amizade com o “intelectualmente deficiente” Bill Sackter e, ao mesmo tempo, acabou pegando alguns aspectos situacionais de sua amizade e os usando para ajudar a criar o relacionamento entre Charlie e Raymond. Após o sucesso de Bill, o filme realizado para a TV que havia escrito sobre Sackter, Morrow conheceu Kim Peek e ficou extremamente intrigado com a interpretação de sua síndrome de savant. Indo para a criação do filme, Morrow ainda estava essencialmente inconsciente das complexidades da condição social, bem como do próprio autismo; em vez disso, decidiu afetivamente que “o filme era menos sobre a deficiência intelectual de Raymond e mais sobre o relacionamento formado entre Raymond e Charlie”. Roger Birnbaum foi o primeiro executivo de estúdio a dar luz verde ao filme; ele o fez imediatamente após Barry Morrow lançar a história. Birnbaum recebeu “agradecimentos especiais” nos créditos do filme. Os irmãos da vida real Dennise Randy Quaid foram considerados para os papéis de Raymond Babbitt e Charles Babbitt. Agentes da Creative Artists Agency enviaram o roteiro para Dustin Hoffman e Bill Murray, imaginando Murray no papel-título e Hoffman no papel eventualmente interpretado por Tom Cruise. Além disso, os famosos Martin Brest, Steven Spielberg e Sydney Pollack foram diretores também envolvidos no filme. Spielberg foi contratado para o filme por cinco meses, até que saiu para dirigir o filme Indiana Jones e a Última Cruzada (1989), e mais tarde se arrependeu da decisão. Mickey Rourke também recebeu uma oferta para o papel, mas ele decidiu. Mel Gibson também recebeu uma oferta para o papel de Raymond, mas ele escolheu.

Por um ano antes de Raymond Babbitt, Dustin Hoffman se preparou para retratar o autismo de interpretação de Raymond buscando e se educando sobre outras pessoas autistas, particularmente aquelas com chamada síndrome de savant. Hoffman teve alguma experiência com indivíduos deficientes antes das filmagens, tendo trabalhado no Instituto Psiquiátrico de Nova York quando era mais jovem. A inspiração para a representação dos maneirismos de Raymond Babbitt foi tirada de uma infinidade de fontes primárias, mas ele agradeceu a três homens em seu discurso de acessibilidade do Oscar. Um deles foi Peter Guthrie, o irmão autista de Kevin Guthrie, um jogador de futebol de Princeton com quem Hoffman esteve em contato na época. Outro foi o autista sábio Joseph Sullivan, que foi o tema de dois documentários e cuja mãe, Dra. Ruth Sullivan (1924-2021), foi presidente fundadora da Autism Society of America e atuou como consultora no filme. O terceiro foram as análises de Kim Peek, com quem Hoffman se encontrou como parte de sua pesquisa do papel, onde ele observava e imitava as ações de Peek, tentando dar um retrato preciso na histórica interpretação de como um indivíduo com síndrome de savant poderia agir. Sua representação cinematográfica da síndrome de savant de Peek foi considerada específica para o personagem de Hoffman, resultando na decisão de Hoffman de fazer de Babbitt não apenas um homem com síndrome de savant, mas analogamente também com autismo.

Em seu depoimento afirma: - Conheci a Dra. Sullivan muito bem ao longo dos anos. Ela se apresentou a mim na conferência da Autism Society of America de 1979, depois de ouvir que eu estava trabalhando com o Dr. Ivar Lovaas e o Dr. Rimland, e logo desenvolvemos uma amizade colegial que durou décadas. Há várias descrições publicadas dos primeiros esforços de advocacy do Dr. Sullivan e do Dr. Rimland nos Estados Unidos. Aqui está meu próprio relato, baseado em grande parte em minhas conversas com eles. Em 1959, o filho do Dr. Rimland, Mark, foi diagnosticado com autismo. Conduzindo uma busca incansável para descobrir como ajudar seu filho, o Dr. Rimland leu todos os artigos já escritos sobre autismo e até contratou intérpretes para traduzir artigos escritos em línguas estrangeiras. Rapidamente, ele percebeu que toda a comunidade profissional do autismo estava culpando os pais por causar autismo em seus filhos. Tendo acabado de receber um Ph.D. em psicologia experimental, o Dr. Rimland decidiu escrever um editorial sobre autismo, focando na alegação escandalosa de que ele era causado por pais emocionalmente negligentes. Ele discutiu as consistências na literatura descritiva, destacou a falta de evidências científicas para uma teoria psicogênica e argumentou convincentemente que o autismo é uma condição biológica. Ele teorizou, pela primeira vez na literatura, que o autismo era resultado da genética e/ou uma suscetibilidade genética a um ou mais insultos ambientais, levando, por sua vez, a alguma forma de comprometimento neurológico. Nos cinco anos seguintes, o artigo do Dr. Rimland cresceu bastante, em termos de acessibilidade na esfera da comunicação social e sua esposa sugeriu que ele considerasse escrever um livro. Assim, foi intitulado: Infantile Autism: The Syndrome and Its Implications for a Neural Theory of Behavior, foi publicado em 1964. Imediatamente, fez com que todo o campo do autismo começasse a se concentrar em causas e tratamentos biomédicos.

Em 1963, o filho do Dr. Sullivan, Joseph, foi diagnosticado com autismo aos três anos de idade. Joe era o quinto de sete filhos. Nessa época, antes da publicação do livro do Dr. Rimland, a Dra. Sullivan e milhares de outras mulheres eram chamadas de “mães de geladeira”, porque os psiquiatras alegavam que o autismo decorria da frieza materna e da falta de afeição. Em 1964, logo após a publicação de Infantile Autism, pais do mundo inteiro começaram a escrever para o Dr. Rimland. Essas cartas frequentemente continham longas descrições de seus filhos e solicitavam orientação. No ano seguinte, enquanto passava um ano de residência médica em um “think tank” patrocinado pela Universidade de Stanford, o Dr. Rimland percebeu que pesquisas futuras sobre autismo precisavam ser distribuídas aos pais para que pudessem ajudar seus filhos. Naquela época, a maioria dos pediatras estudiosos inicialmente do tema sabia muito pouco disciplinarmente sobre autismo, dada sua taxa de prevalência estatística relativamente baixa, cerca de 1 em 2.000, menor do que a prevalência hoje. O Dr. Rimland decidiu escrever para os pais com quem ele se correspondia regularmente e contar a eles sobre sua “ideia de formar uma rede de pais”. Na mesma época, o Dr. Sullivan escreveu para ele com uma ideia semelhante. O Dr. Rimland ligou para ela imediatamente, e eles logo começaram a planejar os detalhes da formação de um grupo de apoio nacional.

Os Drs. Rimland e Sullivan convocaram uma reunião em Teaneck, Nova Jersey, no final de 1965. O Dr. Rimland escreveu para pais que moravam em estados próximos, encorajando-os a comparecer. A reunião foi um grande sucesso, e muitos dos presentes concordaram em trabalhar juntos para estabelecer uma rede de capítulos regionais por todo o país. O grupo de apoio foi inicialmente intitulado National Society for Autistic Children (NSAC), depois foi alterado para Autism Society of America (ASA) e depois para Autism Society (AS). Conforme recomendado pelo Dr. Rimland, um dos principais objetivos do NSAC era “compartilhar as últimas descobertas de pesquisa com as famílias por meio de seus capítulos”. O Dr. Rimland também se comprometeu a estabelecer o primeiro capítulo em San Diego. O Autism Research Institute está atualmente localizado do outro lado da rua do primeiro capítulo do National Society for Autistic Children. Ele então escreveu progressivamente para os pais em todo o país e os encorajou a estabelecer capítulos particularmente em suas próprias comunidades regionais. O Royal Earlswood Hospital, anteriormente denominado The Asylum for Idiots e The Royal Earlswood Institution for Mental Defectives, em Redhill, Surrey, cidade no distrito de Reigate e Banstead, no condado de Surrey, na Inglaterra.

A cidade, que fica ao lado da cidade de Reigate a Oeste, fica ao Sul de Croydon, na Grande Londres, e faz parte do cinturão de passageiros trabalhadores de Londres. Foi o primeiro estabelecimento a atender especificamente pessoas portadoras de deficiências de desenvolvimento. Anteriormente, eles eram alojados em asilos para doentes mentais ou em casas de trabalho. O Royal Earlswood Museum estava localizado no Belfry Shopping Centre, nas proximidades de Redhill. Ele ilustrava a história social e o desenvolvimento do asilo e continha obras do ex-interno James Henry Pullen (1835-1916). O museu está fechado e em 2012 suas coleções e artefatos foram doados ao Langdon Down Museum of Learning Disability em Teddington, Richmond upon Thames. Os arquivos do museu estão localizados no Surrey History Centre em Woking. Em 1847, Ann Serena Plumbe interessou-se pela situação difícil daqueles pacientes portadores de deficiências neurodesenvolvimentais, ou apelidas vulgarmente de “idiotas”, como eram chamados na época, e começou a discutir o que poderia ser feito para ajudá-los. Em discussão com o Dr. John Conolly do Asilo Hanwell e o Reverendo Dr. Andrew Reed, um filantropo e fundador de vários orfanatos, eles decidiram educar essas pessoas. Reed viajou pela Europa para reunir informações etnológicas sobre instituições que servissem a esse propósito e, em outubro, o projeto social para fundar o “Asilo para Idiotas”, como era originalmente chamado, começou com a nomeação de um conselho de administração.

Uma propriedade conhecida como Park House em Highgate foi comprada em março de 1848 e os primeiros pacientes foram admitidos em abril de 1848, incluindo Andrew Reed Plumbe, de 13 anos. O edifício rapidamente se mostrou muito pequeno, então em 1850 um terreno de 155 acres foi comprado em Earlswood Common, perto de Redhill, e um apelo público foi lançado para arrecadar fundos para a construção de um modelo de “Asilo para Idiotas” para abrigar 400 residentes. A Rainha Vitória subscreveu 250 guinéus em nome do Príncipe de Gales, que se tornou um membro vitalício. O hospital foi projetado por William Bonython Moffat e construído por John Jay. O Príncipe Alberto teve um interesse especialmente desde o início. Sua futura esposa, a rainha Vitória, nasceu no mesmo ano com a ajuda da mesma parteira. Foi batizado na Igreja Luterana Evangélica no dia 19 de setembro de 1819 dentro do Salão Mármore de Rosenau “com água tirada do rio Itz”. Seus padrinhos foram sua avó paterna, a princesa Augusta Reuss-Ebersdorf, seu avô materno Augusto, Duque de Saxe-Gota-Altemburgo; o imperador Francisco I da Áustria, o príncipe Alberto Casimiro, Duque de Teschen e o conde Emmanuel von Mensdorff-Pouilly. Seu tio-avô, Frederico IV, Duque de Saxe-Gota-Altemburgo, morreu em 1825. A morte levou a um rearranjo dos ducados saxônicos e, no ano seguinte, seu pai tornou-se o duque de Saxe-Coburgo-Gota. Alberto e o seu irmão mais velho, Ernesto, passaram a criação em uma relação muito próxima marcada pelo turbulento casamento de seus pais e posterior separação e divórcio. 

Sua mãe se casou com Alexandre de Hanstein, Conde de Pölzig e Beiersdorf, depois de ser exilada da corte em 1824. Ela provavelmente nunca mais viu os filhos e morreu de câncer aos trinta anos de idade em 1831. Um ano depois seu pai se casou com a própria sobrinha, Maria de Württemberg, porém ela quase não teve impacto nas vidas de seus enteados. Os irmãos foram educados particularmente por Christoph Florschütz e depois estudaram na cidade de Bruxelas na Bélgica, com Adolphe Quételet sendo um dos tutores. Como muitos outros príncipes germânicos, Alberto estudou na Universidade de Bonn. Estudou direito, economia política, filosofia e história da arte. Ele tocava música e era bom ginasta, especialmente em esgrima e equitação. Alberto de Saxe-Coburgo-Gota (1819-1861) foi o marido da rainha Vitória e Príncipe Consorte do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda desde o casamento em 10 de fevereiro de 1840 até sua morte em 1861. Ele nasceu no ducado saxão de Saxe-Coburgo-Saalfeld em uma família com relações familiares com vários monarcas europeus. Aos vinte anos de idade, casou-se com sua prima direta Vitória, com quem teve nove filhos. No início de seu casamento, ele sentia-se restringido em sua posição de consorte, que não lhe dava nenhum poder ou função oficialmente. Com o passar do tempo o príncipe adotou várias causas sociais, como uma reforma educacional e a abolição mundial da escravatura, também assumindo as responsabilidades administrativas da criadagem, propriedades e escritório da rainha.

O Abolicionismo representou um movimento político que visava a abolição da escravatura e do comércio de africanos, desenvolvido durante o período do Iluminismo do século XVIII. Tornou-se uma das formas mais representativas de “ativismo político” do século XIX até a atualidade. O abolicionismo foi um movimento político autônomo e passou ao largo de ideologias políticas contemporâneas a ela na Europa como por exemplo o Iluminismo. Anota William Clarence-Smith que todas as grandes religiões balançaram entre o sancionamento e a condenação da escravatura, incluindo o catolicismo. Aceitou-se a escravatura durante séculos, apesar das dúvidas, críticas e, ocasionalmente, condenações absolutas. Em 13 de janeiro de 1435, através da bula Sicut Dudum, o papa Eugênio IV (1383-1447) mandou restituir à liberdade os cativos cristãos, ou em processo de conversão, das ilhas Canárias. As Canárias eram objeto de frequentes raides, talvez desde 1341, tanto por portugueses como espanhóis. Na esteira dos “Descobrimentos Portugueses”, o papa Nicolau V (1397-1455), pela sua Bula Dum Diversas, de 18 de junho de 1452, autorizou o rei português, D. Afonso V (1432-1481), e seu sucessores, a conquistar e subjugar as terras dos “infiéis”, pagãos e outros “inimigos de Cristo”, reduzi-los à escravatura perpétua, e tomar posse dos seus terrenos e bens. Em 1537, o papa Paulo III (1534-1549), através da bula Sublimus Deus (23 de maio) e da encíclica Veritas ipsa (2 de Junho), lembrou, aos cristãos, que os índios “das partes ocidentais, e os do meio-dia, e demais povos”, eram seres livres por natureza: “(...) os ditos índios e todos os outros povos que venham a ser descobertos pelos cristãos, não devem em absoluto ser privados de sua liberdade ou da posse de suas propriedades, ainda que sejam alheios à fé de Jesus Cristo (...)”. O Papa declarou excomunhão para quem não cumprisse a nova decisão.

A bula encontrou forte oposição da Coroa espanhola, que declarou violar seus direitos de patronato, e o Papa anulou as ordens no ano seguinte com o documento Non Indecens Videtur. Michael Stogre observa que Sublimis Deus não está presente em Denzinger, o compêndio oficial de ensinamentos católicos oficiais, e David Brion Davis afirma que foi anulado devido à disputa com a coroa espanhola. Contudo, a Bula original continuou a circular e foi citada por Bartolomeu de las Casas (1484-1566) e outros aos direitos dos ameríndios. Segundo James Falkowski, “a Sublimis Deus teve o efeito de revogar a Bula de Alexandre VI, Inter caetera, que pretendia dar à monarquia espanhola a posse das terras dos ameríndios, mas ainda continuando os colonizadores com o dever de converter o povo nativo à fé cristã”. Maxwell observa que a Bula não mudou o ensinamento tradicional de que a escravidão dos índios era permitida se fossem considerados “inimigos da cristandade”, pois isso seria considerado pela Igreja como uma “guerra justa”. Ele argumenta ainda que as nações ameríndias tinham todo o direito de se defender. Em 1591, o papa Gregório XIV dirigiu o breve Cum Sicuti ao Bispo de Manila onde ordenava, sob pena de excomunhão, a emancipação de todos os escravos índios detidos pelos Espanhóis nas Filipinas, e, nos séculos seguintes, se pronunciaram, também, os papas Urbano VIII (1623-1644), no breve apostólico de 1639 Commissum Nobis dirigido aos portugueses, proibindo a escravidão dos índios do Paraguai, Brasil e dos arredores do rio da Prata, bem como todo o comércio de escravos índios  e Bento XIV no breve apostólico Immensa Pastorum de 1741, dirigido aos bispos do Brasil e outros domínios sujeitos ao Rei D. João de Portugal nas Índias Ocidentais e América.

O Papa condena per se a escravidão “injusta dos índios, sejam cristãos ou não, bem como o seu tratamento desumano por parte dos cristãos portugueses, que afastam os índios da Fé cristã e lhes provoca o ódio”. John Maxwell observa que nenhum destes breves apostólicos faz qualquer referência à escravidão dos negros na África Ocidental nem ao comércio transatlântico de escravos negros. Só no século XIX, após a descrição do sofrimento dos escravos africanos se ter tornado amplamente conhecida, é que se retificou esta omissão. O Papa Pio VII concordou em apoiar os esforços dos advogados internacionais e estadistas no Congresso de Viena em 1815 que pretendiam a abolição do comércio internacional de escravos negros. No século XIX, no mesmo sentido, se pronunciou o papa Gregório XVI (1831-1846) ao publicar a bula In Supremo (1839). Em 1888, o Papa Leão XIII, na encíclica In Plurimis, dirigida aos bispos do Brasil, pediu-lhes apoio para o Imperador D. Pedro II (1825-1891) e a sua filha a princesa D. Isabel (1846-1921) que estavam a travar pela abolição definitiva da escravidão.

Alberto envolveu-se ativamente na organização da Grande Exposição de 1851 e ajudou no desenvolvimento da monarquia constitucional britânica ao persuadir sua esposa a demonstrar menos partidarismo nos assuntos do parlamento, isto é, mesmo discordando ativamente da política internacional intervencionista promovida por Henry Temple, 3º Visconde Palmerston (1784-1865), o secretário de assuntos estrangeiros. Ele lançou a pedra fundamental em junho de 1853 e inaugurou o asilo em junho de 1855. Em 1862, a Rainha Vitória conferiu uma carta régia ao asilo. Um interno notável nos primeiros anos do asilo foi o artista James Henry Pullen (1835–1916). John Langdon Down em homenagem a quem a síndrome de Down – reconhecida nos Estados Unidos da América como síndrome de Down – foi nomeada foi superintendente médico do hospital de 1855 a 1868. Nessa época, os pacientes dormiam em dormitórios de quinze leitos e havia um membro da equipe para cada sete pacientes. A tuberculose foi responsável pela maioria das mortes na instituição. Duas novas alas foram concluídas em 1873. Andrew permaneceu em Earlswood até sua morte em 1881, aos 45 anos. O asilo foi renomeado para The Royal Earlswood Institution for Mental Defectives em junho de 1926. Nerissa e Katherine Bowes-Lyon, que eram sobrinhas da Rainha Mãe e primas de primeiro grau da Rainha, foram internadas no hospital em 1941. O hospital se juntou ao Serviço Nacional de Saúde em 1948. Após a introdução do programa Care in the Community, o hospital entrou em declínio e fechou em março de 1997. O local foi remodelado para uso residencial e agora é reconhecido como Royal Earlswood Park. Vários edifícios listados incluem o edifício principal, a oficina e alojamentos do portão.

Bibliografia Geral Consultada.

HALBWACS, Maurice, La Mémoire Collective. 2ª Éditions. Paris: Presses Universitaires de France, 1968; MONTAGU, Ashley, A Natureza da Agressividade Humana. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1978; STERNBERG, Robert (Editor), Handbook of Intelligence. Cambridge: ‏Cambridge University Press, 2000; ELIAS, Norbert; SCOTSON, John, Os Estabelecidos e os Outsiders: Sociologia das Relações de Poder a Partir de Uma Pequena Comunidade. Rio de Janeiro: Editor Jorge Zahar, 2000; ABRÊU, João Azevêdo, A Questão Mente-corpo em “A Interpretação dos Sonhos” de Freud. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Filosofia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2003; MAIGRET, Eric; MACÉ, Eric (Org.), Penser les Médiacultures. Nouvelles Pratiques et Nouvelles Approches de la Represéntation du Monde. Paris: Armand Colin, 2005; FURTADO, Luis Achilles Rodrigues, Sua Majestade o Autista: Fascínio, Intolerância e Exclusão no Mundo Contemporâneo. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Educação Brasileira. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2011; MEDEIROS, Adriana Silva, Liderança Feminina nas Organizações: Discursos sobre a Trajetória de Vida e de Carreira de Executivos. Dissertação de Mestrado. Programa de Mestrado Profissional em Gestão e Negócios. Porto Alegre: Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2014; FREUD, Sigmund, A Interpretação dos Sonhos. Porto Alegre: L&PM Editor, 2017; ROMANETTO, Matheus Capovilla, Clínica e Política: Bases Subjetivas da Transformação Social em Eric Fromm. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Departamento de Sociologia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2021; SETH, Sanjay, Humanidades, Universalismo e Diferença Histórica. Vitória: Editor Milfontes, 2021; VIEIRA, William David, Sensibilidade Melancólica, Uma Epistemologia de Afronta. Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2024; entre outros. 

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